Comunidades de Prática Como Ferramentas de Inovação Autoria: Tania Pereira Christopoulos, Eduardo Henrique Diniz Resumo: O conceito de Comunidades de Prática nas organizações tem sido bastante explorado, como ferramenta de competitividade, uma vez que pode contribuir para desenvolver novas competências, que tendem a gerar oportunidades estratégicas. Como resultado, evidencia-se uma preocupação crescente em determinar e direcionar as competências que devem ser desenvolvidas nessas comunidades. O objetivo deste artigo é delinear um processo, por meio do qual uma organização possa identificar e desenvolver competências e habilidades, potenciais ou manifestas, em Comunidades de Prática, que possam gerar inovações. A fim de que possamos compreender como uma estrutura informalmente construída e livremente desenvolvida pode contribuir para o surgimento de competências e inovações, analisamos o caso de uma Comunidade de Prática em uma organização, durante todo o seu ciclo de vida, destacando as estratégias utilizadas para transpor as diversas fases desse ciclo. O resultado é o desenvolvimento de um processo que permite a gestores de organizações acompanharem a evolução das Comunidades de Prática para melhor desenvolver as competências potenciais ou existentes nas mesmas, como um recurso para estimular a geração de novas idéias e a inovação. 1 Introdução As Comunidades de Prática (CoPs) têm sido definidas como pessoas unidas por relacionamentos informais, que compartilham uma prática comum (BROWN; DUGUID, 1991; LAVE; WENGER, 1991; WENGER, 1990). O termo “comunidade” refere-se à informalidade presente em muitas CoPs e também sugere que as suas fronteiras não são funcionais ou geográficas, pois não se tratam de unidades de negócios, mas de redes baseadas na prática e no relacionamento pessoal. O termo “prática” indica que as CoPs estão centradas em uma prática, que pode ou não corresponder a uma competência ou função dentro de uma organização e que os praticantes identificam-se com seu trabalho (ARGYRIS; PUTNAM; SMITH, 1987; LEONARD-BARTON, 1995; SCHON, 1987). Um outro aspecto relevante da prática é sua conotação de “conhecimento em ação” (SCHON, 1987), e isso implica que prática relaciona-se tanto como o aprendizado quanto com a execução. Em resumo, CoPs consistem-se de pessoas que são unidas informalmente e contextualmente por um interesse compartilhado em aprender e em aplicar uma prática comum. Segundo Saint-Onge e Wallace (2003), as CoPs podem ser informais, semiestruturadas ou estruturadas. As informais são estruturas pouco organizadas e formadas por pessoas que têm a necessidade comum de discutir tópicos relacionados ao trabalho. As semiestruturadas contam com fomento em algum nível dentro da organização e um foco mais direcionado para desenvolver conhecimentos que contribuam para sua capacidade dentro da prática. As estruturadas tendem a ser altamente motivadas e alinhadas com imperativos estratégicos que significativamente contribuem para o desempenho da organização. Ainda uma outra classificação interessante para este trabalho é a de Brown e Duguid (1991), para quem as CoPs podem ser inter ou intra-organizações, compostas por membros de uma única organização ou de várias. O conceito de CoPs nas organizações tem sido explorado como ferramenta de competitividade, uma vez que pode contribuir para desenvolver novas competências, que tendem a gerar oportunidades estratégicas por meio de inovações (PROBST; RAUB; 1 RMHARDT, 2002). Como resultado, evidencia-se uma preocupação crescente em determinar e direcionar as competências que devem ser desenvolvidas nessas comunidades. Entretanto, apesar de haver pesquisas descrevendo o relacionamento entre competência organizacional e performance das organizações, segundo Snyder (1997), não há explicações suficientes em relação a como as competências se desenvolvem e se renovam. O autor afirma que os estudos relativos à competência e a performance organizacional parecem caminhar em paralelo, apesar dos aparentes benefícios da convergência. Reforçando essa afirmação, encontram-se na literatura exemplos diversos de modelos relacionando a competência e a performance organizacional, sem abordar o aspecto relativo ao desenvolvimento e à renovação dessas competências. Um exemplo é a matriz de competências (PROBST; RAUB; RMHARDT, 2002) que prevê estratégias de gestão para cada tipo de competência que a empresa tiver, mas não prevê como renová-las. Por exemplo, para o tipo de competências de alavancagem, o modelo prevê que as mesmas devem ser utilizadas, caso seja uma vantagem competitiva para a organização, mas não prevê como renová-las. Modelos como os citados são limitados para as necessidades das organizações porque quando falamos em construção de competências estamos nos referindo a habilidades estratégicas, operacionais e normativas, que são construídas com base no aprendizado. E, quando tratamos de aprendizado no trabalho, verificamos que ocorre em sua maior parte, de maneira informal, no convívio diário. Brown; Duguid (1991) sugerem que a prática é central para se compreender o trabalho, ao contrário do que o design da educação, o treinamento e as tecnologias tradicionais enfatizam (representações abstratas, sem relação com a prática, com base em manuais e descrições formais de trabalho). A fim de preencher essas lacunas, cumpre-nos compreender formas espontâneas e informais do aprendizado, da criação e desenvolvimento da inovação e das competências nas organizações. As CoPs são expressões dessas formas espontâneas de aprendizado, que geram conhecimento e alavancam competências. São indivíduos que se reúnem, normalmente voluntariamente, em busca da troca de conhecimento em uma dinâmica que se desenvolve com base em estruturas diferentes das tradicionais e com motivações outras, que não somente a remuneração (LAVE; WENGER, 1991). Para tanto, este trabalho tem como objetivo, delinear um processo, por meio do qual uma organização possa identificar e desenvolver competências e habilidades, potenciais ou manifestas, em Comunidades de Prática, que possam gerar inovações. 2 Fundamentação Teórica 2.1 Comunidades de Prática, geração de competências, aprendizagem e inovação Para este estudo será utilizada a definição de competência organizacional como uma série de habilidades e tecnologias (PRAHALAD; HAMEL, 1990) ou, mais especificamente, como a habilidade de integrar um conjunto de conhecimentos explícitos (informações e rotinas) com um conjunto de conhecimentos tácitos (valores e experiências) dentro do contexto específico da organização a fim de corresponder às necessidades das tarefas (SNYDER, 1996). É necessário diferenciar competência de capacidades. Capacidade consiste de um conjunto de competências coordenadas (MERINO, 1996; STALK; EVANS; SHULMAN, 1992), que são aplicadas em um processo de negócios como produção ou distribuição. A Teoria das CoPs argumenta que as competências organizacionais são habilidades sociais dinâmicas (não estáticas ou abstratas), que são geralmente distribuídas entre os membros da comunidade, sendo que cada um provê contribuições únicas. CoPs são a incorporação da competência na organização (WENGER, 1990). Por exemplo, a competência para avaliar a viabilidade de um investimento em um Banco de Investimentos depende de habilidades específicas, como rotinas e valores pessoais que se distribuem entre os que fazem o trabalho de avaliação de investimentos. Conseqüentemente, as CoPs consistem de pessoas e 2 de artefatos relacionados, que juntos formam competências específicas que trabalham para um específico domínio de competência (o trabalho de avaliação de investimentos, por exemplo). A literatura das CoPs fornece ainda outro conceito para explicar como as competências são combinadas para gerar capacidades organizacionais e inovações, que é o conceito de “Constelações de CoPs”. Brown e Duguid (1991) e Wenger (1990) argumentam que constelações de comunidades que interagem e se justapõem coordenam-se reciprocamente para formar capacidades que dependem de múltiplas competências técnicas ou não. As CoPs não formam somente um ambiente onde se desenvolvem as competências organizacionais, mas também onde se desenvolve a aprendizagem (WENGER, 1990). No ambiente organizacional, as competências não são estáticas e CoPs de alta performance engajam-se continuamente em atividades de aprendizagem para assegurar que as competências sejam construídas, compartilhadas e aplicadas efetivamente. Um exemplo é uma CoP de desenvolvedores de software com código aberto (OSS)1 na Universidade de São Paulo, que utilizam comunicação informal por meio de forums e chats para ampliarem seu conhecimento e esclarecerem dúvidas sobre problemas específicos (REINHARD, 2004). Segundo Snyder (1997), a ênfase na aprendizagem mostra-se relacionada à competência e as CoPs devem focar em ambas porque: 1) em ambientes em que há grande dinamicidade na execução de tarefas é difícil separar aprendizado e competência porque muito da competência consiste na habilidade de aprender on-line (SNYDER, 1996) e 2) o aprendizado está profundamente envolvido com a competência organizacional porque parte da competência é formada por conhecimento tácito (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Snyder (1997) argumenta, ainda, que a forma mais efetiva de administrar a competência tácita não é codificá-la, mas engajar os membros em um contínuo processo de aprendizado informal que fornece os componentes da competência à medida que são necessários, por meio de mecanismos como contar histórias e compartilhar práticas (NONAKA; TAKEUCHI, 1995; WENGER, 1990). Wenger (1990) afirma que o conhecimento tácito e as atividades de aprendizagem informal são as características que marcam as CoPs. Outros teóricos das CoPs têm enfatizado que o aprendizado e a construção de competências ocorrem nas CoPs, mas com a condição de que haja confiança entre os membros (ADAMS; FREEMAN, 2000; KUAN, 2003; WENGER; MCDERMOTT; SNYDER, 2000; HERNANDES; FRESNEDA, 2002). Ainda, segundo Lesser e Storck (2001),os membros de uma CoP elevam a cooperação quando a confiança é estabelecida e, com isso, a curva de aprendizado é reduzida e as organizações ganham em performance pois tendem a reduzir o custo e a resolver problemas de forma mais rápida, dispensando a hierarquia formal. Nesse sentido, a confiança não é somente a chave do aprendizado, mas também da inovação nas CoPs, pois grupos em que há compartilhamento diário das experiências e cujos membros são interdependentes desenvolvem habilidades que só podem ser explicadas em termos das interações do grupo, sendo que alguns tipos de inovações não podem ser atingidos pelo indivíduo, mas somente pela equipe (PROBST; RAUB; RMHARDT, 2002). Algumas organizações têm adotado o método de trabalho coletivo, no intuito de gerar inovações, aproveitando-se da competência formada pelas habilidades dos indivíduos que se reúnem. Esse é o caso da DuPont, que adotou uma estrutura de inovação estimulando o relacionamento entre funcionários, por meio do rodízio em diferentes funções dentro da companhia. Com isso, formam-se grupos de habilidades específicas, contribuindo para a formação e desenvolvimento de competências e de inovações (KANTER, KAO; WIERSEMA, 1997). 2.2 As competências como fator de difusão da inovação nas CoPs As CoPs constituem-se em condições organizacionais para o desenvolvimento das competências e da inovação pois criam ferramentas, procedimentos para desenvolvimento de habilidades, motivação, confiança e políticas e condições estruturais que influenciam o 3 aprendizado. Além disso, criam facilidades e utilizam tecnologias que influenciam a comunicação e a coordenação (SNYDER, 1997). Rogers e Shoemaker (1971) definem inovação como “uma idéia, uma prática ou um objeto percebido como novo pelo indivíduo”. Na prática, muitas inovações são frutos da experimentação prática ou da simples combinação de tecnologias existentes. As CoPs são o ambiente ideal para as inovações ocorrerem pois segundo Tigre (2006), a inovação ocorre com a efetiva aplicação prática de uma invenção. O conceito de inovação para Hargadon e Sutton (1997) é combinar tecnologias de forma a criar novas idéias e novos produtos. O desenvolvimento de novos produtos é função do compartilhamento de informações entre indústrias. Assim, membros das CoPs interorganizacionais poderiam ser os elementos chave para transferência de tecnologias. Um conceito importante para que se compreenda o fluxo de inovação dentro de ambientes dinâmicos como as CoPs é seu processo de difusão, “...pelo qual uma inovação é comunicada através de certos canais, através do tempo, entre os membros de um sistema social” (ROGERS; SCHOEMAKER, 1971). A difusão de um produto ou processo no mercado revela problemas que podem ser corrigidos. Assim a difusão alimenta e direciona a trajetória de inovação. Para Tigre (2006), as capacidades para aperfeiçoar e adaptar um novo produto ou processo às condições específicas de um setor é fundamental para o sucesso da difusão tecnológica. Como o desenvolvimento de capacidades depende do desenvolvimento de competências específicas e coordenadas (MERINO, 1996; STALK; EVANS; SHULMAN, 1992), as CoPs seriam um ambiente ideal para a realização da difusão tecnológica. Hippel (2005) reforça o argumento de que as CoPs seriam o ambiente ideal para a difusão tecnológica pois mostra-nos que a inovação pode ser centrada em usuários, tendendo a se distribuir por redes de usuários. Esse tipo de cooperação, nomeado como “comunidades de inovação”, pode acelerar a difusão da inovação e promover a sua efetiva democratização, desde que sejam institucionalizadas rotinas de colaboração com base em projetos que não estejam limitados por constrangimentos rígidos. Mitchell (2002) refere-se a essas comunidades como creative communities no âmbito das quais a experimentação de novas idéias é particularmente importante.De fato, essas comunidades podem ser denominadas CoPs pois apresentam a dinâmica de inovação e as características das mesmas. Analisar o potencial das CoPs sugere, portanto, políticas ativas de aprendizagem, assim como ambientes que facilitem o acesso ao conhecimento e o desenvolvimento continuado de novas competências. Sabemos que a inovação é sensível a circunstâncias físicas e sociais pois o sucesso da sua aplicação requer o desenvolvimento de um conjunto de competências. Com base nos argumentos expostos, é possível a identificação de fatores que influenciam o desenvolvimento de novas competências em uma CoP, contribuindo para impulsionar ou restringir a difusão de uma inovação no mercado. Entre esses fatores certamente podem ser considerados aqueles que Saint-Onge e Wallace (2003) e Lesser e Storck (2001) relacionam como fundamentais para a criação e o desenvolvimento das CoPs nas organizações, quais sejam: 1) o fomento da organização na qual a CoP está inserida, 2) fatores de mercado, como a competição e demandas pelo conhecimento desenvolvido na CoP, e 3) aplicações relacionadas à tecnologia de informação, utilizadas para melhorar a comunicação e para a elaboração da prática. Fomento das CoPs, estímulo ao desenvolvimento de competências e inovação Fomentar a difusão da inovação nas CoPs implica não somente fornecer recursos financeiros para que as competências que abrigam sejam desenvolvidas, mas também fornecer suporte organizacional para que se estruturem em todas as etapas de seu ciclo de vida. Nesse sentido, é necessário que a organização estimule o desenvolvimento dos relacionamentos, auxilie os 4 membros a imaginarem como podem obter valor participando da comunidade, ampliando a rede e trocando conhecimento. Com isso, há o desenvolvimento da confiança do grupo e a identificação de interesses comuns. O estímulo deve ser constante durante o ciclo de vida das CoPs, evitando redução do ritmo da troca de conhecimentos e da capacitação para a inovação (WENGER; MCDERMOTT; SNYDER, 2000). Uma forma de suporte organizacional ao desenvolvimento de competências é apoiar a coordenação da CoP para solucionar problemas e estimular participação dos membros. Entretanto, a intervenção na CoP deve ser comedida, a fim de não inibir a participação voluntária e informal dos seus membros (SMITH; MCKEEN, 2002). Mercado e o estímulo ao desenvolvimento de competências e à inovação É necessário encontrar um assunto (o domínio da comunidade) , que ao mesmo tempo em que gere interesse para os membros, seja relevante para o desenvolvimento de alguma competência organizacional que contribua para a competitividade da organização e para atender aos interesses do mercado. Para tanto, é necessário que a organização identifique quais são as competências estratégicas (PRAHALAD; HAMEL, 1990) presentes na sua organização e fomente a criação e o desenvolvimento de CoPs focadas nessas competências. Um exemplo é a DuPont, que criou uma comunidade de ciência e prática para solucionar problemas específicos de clientes. Tecnologia e inovação nas CoPs Não há dúvidas quanto à importância do papel da tecnologia de informação no processo de desenvolvimento de novas competências e inovações nas CoPs. A tecnologia participa tanto do processo de criação de novos conhecimentos e habilidades, quanto da transferência desse conhecimento aos membros de uma comunidade ou inter comunidades. A tecnologia define como e se as pessoas participam de questionamentos produtivos pois interfere na velocidade e na qualidade do conhecimento que é trocado. Nesse sentido, a tecnologia adotada pelas CoPs deve facilitar conversações, encorajar participação por meio de funcionalidades intuitivas e fornecer flexibilidade de estrutura a fim de que as CoPs possam acomodar alterações e necessidades de evolução (SAINT-ONGE; WALLACE, 2003) 2.3 O processo de difusão de inovação nas diversas fases do Ciclo de vida das CoPs Segundo Tigre (2006), O processo de difusão tecnológica é usualmente analisado a partir de quatro dimensões básicas: (a) direção ou trajetória tecnológica, (b) ritmo ou velocidade de difusão, (c) fatores condicionantes, tanto positivos quanto negativos e (d) implicações econômicas e sociais. Cada uma dessas dimensões interfere de formas diferentes em cada fase do ciclo de vida das CoPs, que está apresentado na figura abaixo. 5 Figura 1: Estágios de desenvolvimento das Comunidades de Prática – adaptado de Wenger, McDermott e Snyder (2000) Este artigo restringir-se-á à análise das dimensões direção, ritmo e condicionantes pois as implicações, devido a sua complexidade, mereceriam um tratamento à parte. Para cada uma dessas dimensões, são analisados, abaixo, os três fatores que se relacionam com a difusão de uma inovação nas CoPs: fomento à difusão da inovação, mercado e tecnologia. Em cada um dos fatores são destacados, em negrito, aspectos que serão tratados no tópico “Análise de resultados”. a) A direção assumida por uma tecnologia refere-se às opções técnicas adotadas ao longo de uma trajetória evolutiva, que incluem decisões quanto aos materiais utilizados, processos de fabricação, sistemas operacionais e outras decisões para viabilizar uma nova tecnologia e adaptá-la às necessidades da demanda. • Fomento: A análise da direção que as inovações tomam dentro das CoPs é fortemente influenciada pelos seus usuários (HIPPEL, 2005). Eles decidem muitos dos parâmetros de funcionamento das CoPs. As CoPs de Software Livre, por exemplo, definem os seus próprios líderes, suas regras, o processo de aprovação e as ferramentas de colaboração mais apropriadas Mesmo assim, a organização atua sobre a direção das CoPs, principalmente em suas fases iniciais, provendo estrutura de liderança e motivação, que serão aspectos tratados na “Análise de resultados”. • Mercado: o mercado interfere na decisão dos membros da CoP em relação à competência a investir esforços, pois as que geram produtos mais inovadores e procurados pelo mercado também geram melhor reputação para aqueles que desenvolvem esses produtos. Nas CoPs de software livre, por exemplo, a motivação é maior para o desenvolvimento de softwares reconhecidos como inovações (TAURION, 2004) Assim, os aspectos tratados na análise de resultados serão reconhecimento pelos pares e relacionamento com clientes. • Tecnologia: O interesse da organização e dos usuários define o tipo de tecnologia a adotar. Os padrões impostos pela organização podem ser alterados pelos membros das CoPs, caso a tecnologia utilizada para desenvolver produtos e serviços permita e os usuários concordem. Assim, o aspecto tratado na análise de resultados será flexibilidade da tecnologia. b) O ritmo de difusão de uma tecnologia refere-se à velocidade de sua adoção pela sociedade, medida pela evolução do número de adotantes ao longo do tempo. • Fomento: Em cada fase os usuários decidem em qual competência investir ou de qual desistir, dependendo dos projetos propostos pela empresa e do quanto a empresa os estimula e fomenta o desenvolvimento da confiança. O estímulo à elevação da confiança e à cooperação dos membros pode ser decisivo para a continuidade da CoP (SAINT-ONGE; WALLACE 2003). Assim, o aspecto tratado na análise de resultados será o aumento da confiança. • Mercado: As CoPs atuam na difusão de inovações, atraindo membros de outras comunidades com competências desenvolvidas e que podem se mover de uma para outra CoP que utilize tecnologias similares, como as tecnologias de Software Livre (TUOMI, 2001). O ritmo de desenvolvimento das competências e inovações e a sobrevivência das CoPs são influenciados pela atratividade das inovações geradas por elas. Quanto menos comuns as práticas, mais atratividade terão para membros que são estimulados pelo desafio (TAURION, 2004). Assim, o aspecto tratado na análise de resultados será a descentralização de recursos. • Tecnologia: As tecnologias que estimulam a colaboração elevam o ritmo de difusão de novas tecnologias inter e intra-CoPs. Assim, o aspecto analisado será o das tecnologias de colaboração. 6 c) Fatores condicionantes: A difusão de novas tecnologias depende de fatores condicionantes que atuam positivamente, estimulando-a ou negativamente, restringindo seu uso. Esses podem ser de natureza técnica, econômica ou institucional, segundo Tigre (2006). Condicionantes econômicos:do ponto de vista econômico, o ritmo de difusão depende dos custos de aquisição e de implantação de novas tecnologias, assim como das expectativas de retorno do investimento. • Fomento: Os condicionantes econômicos tendem a ser favoráveis à inovação nas CoPs porque seus custos para o desenvolvimento de inovações com base em competências e habilidades de membros voluntários, que exigem como remuneração apenas reconhecimento e reputação (BENKLER, 2004), são mais baixos em relação a estruturas funcionais ou de projetos. Assim, o aspecto tratado na análise de resultados será a racionalização do trabalho. • Mercado: Além dos ganhos dentro das CoPs, há também os ganhos das relações entre as CoPs pela realização de “parcerias para a inovação” entre diferentes indústrias, facilitando a competitividade das empresas. Assim, o aspecto tratado na análise de resultados será a descentralização de recursos para gerar inovação. Condicionantes institucionais • Fomento:A cultura da organização onde a CoP se insere também pode ser um forte condicionante pois pode impedir a empresa de apoiar o desenvolvimento de competências dentro das CoPs, por não acreditar que essa seja uma estrutura eficiente. Assim, o aspecto tratado na análise de resultados será o apoio da organização. • Mercado:Um dos principais fatores institucionais que condicionam o processo de difusão tecnológica nas CoPs é o sistema de propriedade intelectual. Isso porque normalmente tratase de criação e propriedade coletiva. Assim, o aspecto analisado será a propriedade intelectual. Condicionantes técnicos: Em relação aos condicionantes técnicos, a difusão pode ser condicionada pelo grau de dificuldade de aprendizado e de utilização percebida. Quanto mais complexa a tecnologia, maior a necessidade de suporte técnico para a solução de problemas. • Tecnologia: O caráter informal do aprendizado nas CoPs tende a estimular e facilitar a aplicação do conhecimento mesmo com muitas incertezas e com insuficiências de informações, pois a necessidade de suporte é suprida pelos próprios membros, cujo objetivo é desenvolver a prática e aplicá-la, de forma independente. Se a comunidade tiver o apoio da empresa onde está inserida, os condicionantes técnicos tendem a se reduzir, principalmente nas primeiras fases de seu ciclo de vida, quando ainda estão se estruturando. O aspecto tratado na análise de resultados será a alteração das competências profissionais. 3 O Caso estudado: Zope.org - Um estudo de Comunidade de Prática virtual, atuando para o desenvolvimento de software livre. O caso apresentado trata de 15 de comunidades da Ásia, Europa e América, que foram aglutinadas sob um único portal (zope.org), que representa uma comunidade maior de desenvolvedores de sistemas de informação e de usuários desses sistemas. Essas comunidades têm como foco a construção de softwares de gestão de conteúdo e a base de seu desenvolvimento é um servidor de aplicações com código aberto. Patrocínio: O portal zope.org é mantido pela Zope Corporation como um serviço para a comunidade mundial da Zope. A Zope Corporation também oferece um servidor de aplicações e um sistema de desenvolvimento com código totalmente aberto para que desenvolvedores voluntários possam utilizá-lo para desenvolver softwares e compartilhá-los com a comunidade. O trabalho é feito virtualmente e depende das CoPs virtuais para ter 7 continuidade. Cada comunidade compartilha conhecimentos, experiências e informações internamente, entre seus membros, ou, externamente, com as outras comunidades Zope. Origem: A história da Zope tem como referência o objetivo de mudar seu foco, de uma empresa de produto, para uma empresa de consultoria. Em 1998, decidiu abrir totalmente o código de suas aplicações. A estratégia de abrir o código, visava a maior divulgação do nome Zope, pois dessa forma seria mais fácil atuar como empresa de consultoria. A iniciativa de patrocinar uma comunidade traria benefícios como a divulgação do nome da corporação através de seus membros, que se tornariam mensageiros da marca Zope. Além disso, seriam esses os desenvolvedores e colaboradores para o fortalecimento do produto. Atualmente, a Zope Corporation vende produtos de gerenciamento de conteúdo para segmentos específicos, como por exemplo, o Zope4Edu para o segmento de educação. Caso os clientes queiram adaptar o produto as suas necessidades específicas, podem utilizar a comunidade aberta de desenvolvedores ou cadastrar-se como um desenvolvedor, construindo seu próprio produto. Assim, tornam-se possíveis relacionamentos das comunidades de clientes, usuários, com comunidades de desenvolvedores. Relação com outras comunidades: A relação da Zope com as comunidades está na base de sua própria formação. O servidor de aplicação utilizado pela Zope é elaborado com base na linguagem Phyton, gerada pela comunidade da phyton.org. Além disso, o gerenciador de conteúdo que a Zope utiliza e oferece a sua comunidade também é proveniente de uma outra comunidade de desenvolvedores, a plone.org. A Zope, Phyton e Plone são empresas que desenvolvem produtos, continuamente, através de suas comunidades e trabalham com código totalmente aberto para novos desenvolvimentos. 4 Metodologia Optou-se por estudar uma CoP com intensiva atividade, na fase de maturidade, a fim de capturar informações do maior número possível de membros e com memória recente sobre os fatores que interferem na formação da competência e na inovação nas Comunidades. Em relação à prática, optou-se por uma CoP que lida com o desenvolvimento de Software Livre porque essa é uma atividade que promove a inovação de forma intensiva pela participação de seus membros, conforme Taurion (2004) e Tuomi (2001). Além disso, a comunidade apresenta várias das características de uma CoP pois não há centralização do planejamento e execução de tarefas, a liderança emerge naturalmente, os códigos fonte desenvolvidos são revisados pelos pares, o ritmo é dado pela disponibilidade de tempo e motivação e a decisão de liberar o código é consenso do grupo. Para tratar das fases iniciais da CoP Zope, optou-se pela pesquisa de documentos históricos. Para tratar do estágio de maturidade, optou-se pelo questionário, uma vez que a comunidade encontra-se neste estágio e pode emitir seu depoimento com memória mais recente sobre os fatos. Alguns elementos do estágio de maturidade também foram pesquisados no site da zope.org (comunidade Zope mundial) ou da zope.org.br (comunidade Zope brasileira), a fim de complementar as informações necessárias para a análise dos dados. Os estágios posteriores do ciclo de vida da comunidade (dispersão e transformação) foram analisados com base no referencial teórico, que se mostra capaz de suprir elementos para que seja elaborada uma previsão dos resultados. A variedade de métodos de coleta de dados (documentos, sites e questionário) encontra justificativa teórica em Straub et al (2004), que justifica a seleção do método de coleta em função de características esperadas dos dados. A utilização de questionários e de entrevistas no mesmo estudo encontra precedente no estudo de Sutton e Rafaeli (1988). Para tratar dos aspectos na fase de maturidade, foi utilizado o método quantitativo e o survey como estratégia de pesquisa porque o survey pode prover uma descrição quantitativa sobre opiniões de uma população, a partir de uma amostra da mesma (CRESWELL, 2003). 8 Os dados foram coletados por meio de questionários enviados on-line, aos membros da comunidade zope.org, que aglutina membros de comunidades de todos os países que participam. O procedimento é respaldado por se tratar de uma pesquisa com indivíduos que utilizam a Internet como meio de comunicação. Percebendo a maior adesão dos brasileiros, optamos por enviar o questionário, especificamente para a comunidade brasileira da Zope (zope.org.br), composta por 1,2 mil membros e da qual obtivemos 30 respostas. Durante esse período, recebemos 3 respostas da comunidade Zope da Índia, o que totalizou 33 respostas. A amostra utilizada foi, portanto, a por conveniência, definida como aquela em que o pesquisador seleciona membros da população mais acessíveis (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). O perfil dos respondentes revelou que mais de 60% deles trabalham em consultorias que foram contratadas para implantar Zope. Em torno de 25% são voluntários, que trabalham com empresas que estão implantando softwares baseados em Zope. No questionário foi apresentada uma escala Likert, de 1 a 5, para que os entrevistados avaliassem as diversas afirmações, sendo que 1 era a menor nota e 5 a maior. A partir dos resultados dos questionários, calculou-se uma média, para cada uma das variáveis apresentadas e efetuou-se a análise, com base na teoria apresentada anteriormente. O conteúdo dos questionários foi baseado no estudo de Diniz, Wilner e Christopoulos (2005). 5 Análise dos resultados Para analisar os resultados relativos às fases iniciais da CoP, foram utilizados documentos históricos e informações disponíveis no site da Zope brasileira (tchezope.org.br) e da Zope mundial (zope.org), a fim de averiguar como ocorre a interferência dos fatores de inovação, fomento, mercado e tecnologia em relação às dimensões de direção e ritmo, que são as mais relevantes para a consolidação das comunidades em suas fases iniciais. Direção nas fases potencial e de coalizão da Comunidade de Prática Zope Fomento: O objetivo de atuar como uma empresa de consultoria e de divulgar o nome Zope levou a empresa a abrir o código fonte de seus produtos para o mercado. Essa estratégia direcionou o desenvolvimento e a adoção do produto Zope através de novos membros que aderiram ao desenvolvimento do produto, estimulados pelo novo mercado, por reputação junto aos seus pares e por maior empregabilidade. Assim, foi encontrado um objetivo comum entre organização e membros da comunidade. Mercado: O produto foi divulgado e a Zope passou a atuar comercializando produtos em distintos segmentos. Com essa direção a Zope passou pela fase de coalisão e chegou a sua maturidade. Além disso, utilizou para seu produto o tipo de licença ZPL (Zope Public Licence) que permite uso comercial e não comercial do software, sob determinadas condições que pretendem proteger o padrão de qualidade do software. Tecnologia: A estabilidade das versões desenvolvidas determinou a sobrevivência da Zope nas suas fases iniciais. Essa estabilidade deveu-se ao fato do produto Zope ser derivado do Bobo, já estável no lançamento da comunidade (verificar “Origem da Comunidade” acima). Ritmo nas fases potencial e de coalizão da Comunidade de Prática Zope Fomento: Divulgar todos os projetos da Zope no seu portal promoveu maior interação entre os membros e maior estímulo para participarem. Além disso, a maior visibilidade dos projetos elevou a velocidade de alocação dos membros aos projetos com os quais se identificavam e para os quais sabiam que tinham habilidade. Mercado: O crescimento do mercado da adesão ao Zope levou ao desenvolvimento paralelo de produtos que são a base de sua infra-estrutura como a linguagem Phyton para desenvolvimento do software e as ferramentas de gerenciamento de e-mails e de gestão de conteúdo, atraindo muitos outros membros para a comunidade mas também diluindo o risco 9 de desenvolvimento do produto. Isso gerou aproveitamento das competências por outras comunidades e conseqüente aperfeiçoamento e inovações. Tecnologia: Conforme a comunidade foi sendo divulgada, a Zope aperfeiçoou seu portal, abrigando comunidades do mundo todo. Os membros se organizaram e criaram seus portais por região, cujos links estão acessíveis no portal Zope.org. Os portais cresceram de acordo com as necessidades locais, obedecendo às necessidades dos projetos regionais. Outro fato que contribuiu para elevar o entusiasmo dos voluntários e o ritmo de adoção foi a utilização de uma linguagem popular, a Phyton, para escrever o código fonte do software da Zope. Fase de Maturidade: Na fase de maturidade, a análise dos resultados utilizou-se das respostas obtidas nos questionários para verificar como aspectos que interferem nos fatores de inovação das CoPs (mencionados na parte teórica) interagem com as dimensões de direção, ritmo e condicionantes. Essa análise está a seguir, com as médias obtidas a partir das respostas dos entrevistados: 1. Fator Fomento, dimensão direção. Aspectos analisados: motivação e liderança. Motivação e Liderança:“Fez aumentar o interesse dos membros da comunidade em participar da mesma”, A média de 4,00 para este item permite inferir que os líderes da comunidade Zope.org estão próximos de facilitadores ou guias para o processo de aprendizagem individual, pois motivam, auxiliando nos processos de pesquisa, na seleção e organização da informação, além de integrar e formar grupos para discussão tarefas, contribuindo para a direção da mesma. 2. Fator mercado, dimensão direção. Aspectos analisados: o relacionamento com clientes e o reconhecimento dos pares. Relacionamento com clientes: “Melhorou o relacionamento com cliente”: A média de 3,70 é razoável e explica-se porque os membros compartilham os problemas dos clientes e encontram soluções de forma mais rápida que seriam capazes de obter com soluções individuais. O feedback mais rápido do cliente atua como um fator de mercado que tende a alterar a direção dos membros em direção a competências mais valorizadas pelos clientes. Reconhecimento dos pares: “Meus colegas de empresa reconheceram que a comunidade ajudou meu conhecimento”: O alto reconhecimento por parte dos colegas (média de 3,91) do valor participação na comunidade indica que valorizam a prática e isso reforça o investimento de esforços em competências específicas. 3. Fator tecnologia, dimensão direção. Aspecto analisado: compatibilidade de interesses dos usuários com a tecnologia utilizada pela comunidade. “O compartilhamento de conhecimento me ajudou no desenvolvimento de novas idéias para melhores produtos, serviços, etc, sem ter que reinventar a roda”: A alta nota média de 4,30 explica-se porque seus membros não questionam a efetividade da tecnologia utilizada para desenvolvimento do software, que é a linguagem Phyton, demonstrando que, de fato há compatibilidade de expectativas não somente entre os membros, mas também em relação ao objetivo estratégico da Zope de promover a empresa através do uso de tecnologias populares. 4. Fator fomento, dimensão ritmo. Aspectos analisados: o aumento de confiança e o reconhecimento da organização. Aumento da Confiança: “Houve aumento de confiança entre os participantes com o passar do tempo”: Apesar de mantida por uma iniciativa formal da Zope Corporation, a CoP zope.org desenvolveu-se a partir de iniciativas de voluntários, que se candidatam freqüentemente para fazer parte da comunidade e que colaboram com base na confiança mútua, garantindo a evolução da CoP, o que gerou uma média de 4,30 para esse item. Reconhecimento da organização: “Minha participação foi compensada pela minha empresa” (promoção, aumento de salário, etc.): A nota média de 3,80 mostra que muitas das 10 empresas materializam o reconhecimento da participação de seus funcionários, estimulando a continuidade e o incremento de sua contribuição para as comunidades da Zope.org, mas há ainda um potencial para maior reconhecimento, o que pode elevar o ritmo das inovações. 5. Fator mercado, dimensão ritmo. Aspectos analisados: a descentralização de recursos e as necessidades comuns de conhecimento. Descentralização de recursos: “Permitiu a utilização de recursos descentralizados (em diferentes cidades, estados, paises, etc)”: A nota média de 4,20 revela que a CoP é percebida como uma forma de trabalhar e de otimizar suas habilidades, de forma descentralizada. Revela também a possibilidade de participação em outras comunidades e da migração para essas comunidades, caso demonstrem grande atratividade. Necessidades comuns de conhecimento: “Estimulou a aprendizagem”: 4,10 de média refere-se ao elevado nível de aprendizagem, o que contribui para o desenvolvimento de competências e de inovações que podem migrar de uma comunidade para outra, acelerando o ritmo de difusão das inovações. 6. Fator tecnologia, dimensão ritmo. Aspectos analisados: tecnologias que estimulam a colaboração. Ferramentas Mensagens Bate Papos Nota média 4,60 3,80 A nota média de 4,60 para as Mensagens demonstra que esse é um item muito valorizado. Quando se comparam as médias para as ferramentas Mensagens e para a ferramenta de Bate Papos (3,80), verifica-se que a colaboração síncrona não é tão valorizada como a assíncrona. Com isso, a tecnologia interfere no ritmo de adoção de inovações, pois métodos assíncronos de comunicação tendem a ser mais lentos que os síncronos. 7. Fator fomento, dimensão condicionantes econômicos e institucionais. Aspectos analisados: racionalização de trabalho e o apoio da organização. Racionalização do trabalho: “Racionalizou o trabalho (redução de custos), aumento de produtividade do(s) projeto(s)”: A média de 4,10 revela que os membros têm consciência sobre o impacto dos benefícios que a comunidade traz para a qualidade e para o custo dos produtos e serviços que oferecem. Apoio da organização: “O apoio é suficiente” obteve média elevada de 4,09. Parece, portanto, que as empresas, para as quais os membros da comunidade trabalham, apóiam-nos a participar e que podem já ter assimilado que a participação na comunidade é parte de seu trabalho. 8. Fator mercado, dimensão condicionantes econômicos. Aspecto analisado: descentralização de recursos. “Permitiu a utilização de recursos descentralizados (em diferentes cidades, estados, paises, etc)”: A nota média de 4,20 revela que a comunidade percebe que há descentralização de recursos, mas também permite-nos inferir a possibilidade dessa descentralização gerar parcerias para inovação entre empresas distintas. Isso porque a Zope Corporation vende produtos para várias empresas clientes que utilizam os membros da comunidade para solucionar dúvidas ou gerar novas idéias para melhorar o produto. 9. Fator tecnologia, dimensão condicionantes técnicos. Aspecto analisado: a alteração de competências profissionais. “A participação enriqueceu minha vida profissional”: a pesquisa indicou que os membros acreditam que a participação enriqueceu muito sua vida profissional, atribuindo a média de 4,50, o que permite inferir que as inovações contribuem para que desenvolvam novas competências dos profissionais. 11 Fases de dispersão e de transformação da Comunidade Zope Nas fases de dispersão e de transformação da Comunidade Zope os condicionantes econômicos, institucionais e técnicos tenderão a definir o rumo da comunidade. São eles: Econômicos Baixo custo: de implantação do produto Zope, ocasionado por ausência de custo de licenças e baixo custo de manutenção e treinamento, que são supridos pela própria comunidade são condicionantes para que a Zope seja competitiva em relação à indústria de Software proprietário, que cobra pelas licenças. Mercado: barreiras de entrada e reação da concorrência (indústria de software proprietário): O software livre tem condições de lançar o produto no mercado com menos funcionalidades que o similar proprietário e ainda assim ser absorvido. Isso ocorre porque muitas vezes as versões oficiais trazem funcionalidades que nem sempre são utilizadas. Vide projetos desenvolvidos no portal da Zope.org Institucionais: Políticas regulatórias do governo: apesar de já adotado por mais de 70 sites no Brasil, o produto Zope depende da adoção em grande escala de políticas regulatórias. A propriedade intelectual: a definição de modelos de licenças para a adoção interfere na adoção. A Zope adota a ZPL que é um modelo de licença que permite comercializar o software dentro de certas regras. Tecnicos: credibilidade na tecnologia: a indústria de software livre ainda busca credibilidade para seus produtos. Uma das formas adotadas é a parceria com distribuidores que estabelecem contratos de manutenção do software com o cliente. Fomento Tecnologia Mercado Fomento 5.1 Estratégias recomendadas Com base na teoria e nos resultados apresentados, foi elaborada uma síntese de estratégias recomendadas para que se possa identificar e desenvolver competências e habilidades, potenciais ou manifestas em CoPs, que possam contribuir para a geração e para a difusão de inovações durante o seu ciclo de vida, considerando os fatores tecnologia, mercado e fomento e as dimensões direção, ritmo e condicionantes, conforme abaixo: Estratégias recomendadas para as fases Potencial e de Coalisão Direção: encontrar um tema que seja, ao mesmo tempo, importante para organização e para os seus membros; Ritmo: divulgação dos projetos elaborados na CoP; criação de atividades que permitam aos membros construir confiança e visão de interesses comuns. Direção: divulgação da prática da CoP para o mercado externo. Ritmo: estimular a participação dos membros em mais que uma CoP relacionada ao tema a fim de que absorvam novas idéias. Direção: buscar estabilidade da tecnologia empregada na elaboração da prática. Ritmo:oferecer infra-estrutura global, estimulando o crescimento da rede; oferecer treinamento on-line e gerenciamento eficaz de problemas relacionados à tecnologia. Estratégias recomendadas para a fase de Maturidade Direção: liderar motivando os membros e dando-lhes autonomia para que indiquem qual a melhor tecnologia e para que selecionem para quem enviar seus trabalhos para avaliação. Ritmo: estimular a confiança por meio de conversação. Os membros devem ser encorajados a dar opiniões, resolver problemas simulados, explorar novas idéias e inovar, sem medo de errar. Condicionantes: estimular a racionalização do trabalho e a elevação da aprendizagem por meio de um plano para promover as habilidades que são estratégicas para a organização. 12 Mercado Condicionantes: Verificar quais sãos as vantagens das inovações originárias das CoPs em relação à flexibilidade e à adequação às necessidades do mercado. Muitas vezes essas inovações são construídas na medida exata das necessidades do mercado porque tem a participação dos usuários das CoPs, que muitas vezes também os clientes. Tecnologia Mercado Fomento Direção: Promover a troca de conhecimento com outras áreas da organização e com CoPs externas. Lançar projetos para os membros aperfeiçoarem as habilidades relacionadas à competência chave da CoP. Divulgar as tendências e resultados do mercado para a CoP. Ritmo: Dar autonomia aos membros para que tomem decisões e se aloquem às tarefas para as quais se julgarem habilitados; valorizar as sugestões; suportar a aprendizagem por meio da troca de conhecimentos,solucionando dúvidas e provendo informações. Condicionantes: A troca de informações deve ocorrer em todos os níveis da Comunidade e fora dela, com a observância de regras de conduta. Direção: Estimular a adoção de tecnologias pelos membros que estejam de acordo com seus interesses, mas ao mesmo tempo, que sejam coerentes com os interesses da organização. Ritmo Adotar plataforma tecnológica que permita conversações síncronas ou assíncronas. Condicionantes: Avaliar se a tecnologia utilizada para colaboração está permitindo questionamentos produtivos, conversações e o gerenciamento e a troca do conhecimento. Estratégias recomendadas para as fases de dispersão e transformação Condicionantes: Estimular a formação de competências diversas, por meio do lançamento de novos projetos, mantendo os membros capacitados para prover manutenção da prática na qual atuam. Tecno logia Condicionantes: A fim de elevar a credibilidade em relação às inovações geradas pela CoP, é necessário que a organização que abriga a CoP divulgue-a e apóie-a internamente e externamente, frente aos outros gestores e frente a outras empresas Tabela 1: Estratégias recomendadas para as organizações lidarem com as competências e a inovação durante o ciclo de vida das CoPs 6 Considerações finais A teoria e o caso utilizados demonstraram que vários aspectos de desempenho das organizações são influenciados pelas CoPs: As CoPs evitam o sentimento de isolamento pois permitem que os membros tenham oportunidades de trabalhar em equipe; geram a inovação; elevam a velocidade de entrega de soluções e capacitam a organização a trabalhar em redes de profissionais que geram valores pessoais e organizacionais. Em relação à inovação, esta advém da habilidade da organização de aprender em CoPs e do estabelecimento de plataformas que permitam a resolução colaborativa de problemas. A velocidade na entrega de soluções eleva-se em função da facilidade na consulta aos pares quanto às formas de solucionar problemas e o trabalho em equipe eleva a confiança, o que contribui para aumento da freqüência de contribuições para a execução dos trabalhos. A natureza estratégica das CoPs revela-se à medida que podem ser utilizadas como ferramentas para o alinhamento da organização, promovendo um fórum comum para a resolução de problemas para membros atuando em funções semelhantes, mas em distintas áreas geográficas e promovendo um centro para criação de conhecimento na organização. Nesse sentido, as CoPs podem ser um veículo para elevar capacidades individuais e organizacionais, quando se estabelece um comportamento consistente que direciona a organização para o conhecimento e quando se forma uma organização pronta para participar de redes geradoras de valor. Para que as competências organizacionais estratégicas se estabeleçam da forma mencionada acima é necessário adotar um processo de avaliação das principais estratégias para formação de competências e da geração e difusão da inovação em cada uma das fases do ciclo de vida das CoPs. Na fase inicial (Potencial), há a preparação para a implementação da Comunidade, quando existe apenas um embrião, um grupo unido por uma paixão. Deve-se, 13 então definir o projeto da comunidade. Os elementos da CoP são levantados e o contexto é definido. O lançamento on-line ocorre por meio de uma aplicação Web. Na fase de coalisão, a CoP torna-se a direcionadora de seus processos, atrai novos membros e constrói grande parte da confiança que os une. Na fase de maturidade, o senso de comunidade é desenvolvido por atividades de troca e de criação de conhecimento; a CoP precisa consolidar seu foco, seu papel e suas fronteiras e o conhecimento deve ser identificado e organizado. Na fase de dispersão, os líderes devem atuar para manter a relevância do tema da comunidade, valorizar os intentos alcançados para que a comunidade tenha continuidade. Na fase final ou de transformação, os líderes e a organização preocupam-se em administrar o conflito entre o senso de propriedade dos membros e a possibilidade de se abrirem a novas idéias. Há, ainda a preocupação em redirecionar as competências para outra comunidade em atividade, a fim de que não se percam os esforços já despendidos para a geração de inovação para a organização. Para que as CoPs possam transformar-se em ferramentas de inovação é, portanto, necessário considerar as características de seu ciclo de vida. Considerando-se essas características, deve-se então analisar quais são os principais fatores que interferem na difusão da inovação inter e intra-CoPs. A importância de se analisar a difusão está no fato de que a inovação depende da difusão da tecnologia e muitas vezes da co-evolução de um conjunto relacionado de inovações pois, na medida em que uma tecnologia se difunde, surge a necessidade de desenvolvimento de um conjunto de outras tecnologias complementares para apoiá-la. As CoPs são os ambientes propícios para a difusão das inovações pois aumentam o valor das inovações à medida que mais usuários as adotam. Quanto mais uma tecnologia é adotada mais ela é utilizada, mais se aprende sobre ela e mais ela é desenvolvida e melhorada. Além disso, as CoPs possibilitam que a prática inovadora seja rapidamente conhecida e adquirida por outras comunidades e empresas. A capacitação técnica e a experimentação são fundamentais para transformar informação em conhecimento. A informação em si, especialmente a não-proprietária, é altamente transferível, mas requer conhecimentos tácitos, convertidos em conhecimento explícito por meio da prática exercida nas CoPs, para que se tornem ferramentas úteis à inovação. A capacidade e a flexibilidade da organização para criar, transferir e absorver novos conhecimentos constituem elementos críticos para a difusão de novas tecnologias e dependem de haver uma estrutura operacional e gerencial, rotinas, procedimentos e cultura organizacional. Portanto, o sucesso na introdução de novas tecnologias depende de fatores relacionados ao fomento que fornecem as estruturas que promovem a inovação; de variáveis de mercado que interferem na competitividade da organização e de fatores relacionados à tecnologia. E, na análise de cada um desses fatores deve-se considerar qual a sua influência sobre a direção da inovação, o ritmo de adoção e as condicionantes técnicas, institucionais e econômicas que interferem na atuação desses fatores. O fomento da organização pode se dar na forma de motivação e reconhecimento do trabalho nas CoPs. Quando a empresa reconhece a participação, reforça a conduta adotada e as competências aplicadas. Estimulando maior colaboração entre os membros, eleva-se a confiança entre eles pelo compartilhamento de objetivos semelhantes (ADAMS; FREEMAN, 2000). Conseqüentemente o ritmo de difusão das inovações se eleva. Além disso, o fomento das organizações é importante para prover às CoPs, líderes que saibam motivá-las de forma que seus membros se identifiquem com ela e participem, indicando a direção das evoluções. Entretanto, o simples fato de uma organização fomentar as CoPs para que desenvolvam competências e inovações não é suficiente, pois existem condicionantes favoráveis ou desfavoráveis às inovações que devem ser consideradas nas decisões de cada organização. São condicionantes de natureza econômica, técnica e institucional que afetam as inovações 14 que se desenvolvem nas CoPs. Além disso, aspectos de mercado como demanda e outras tecnologias que estão sendo desenvolvidas por outras CoPs, externas à organização, devem ser consideradas nas decisões como fatores que interferem na difusão das inovações. Entre as condicionantes econômicas está a redução dos custos (advinda de fatores como auto-gestão, trabalho voluntário dos membros, troca de conhecimento espontânea e diluição do risco do investimento inicial entre organizações diversas) que atua favoravelmente à evolução das inovações para as organizações. As condicionantes técnicas também atuam favoravelmente à difusão das competências e da inovação, pois as necessidades de suporte técnico e de desenvolvimento de tecnologias podem ser providas pelos próprios membros das comunidades. As condicionantes institucionais, entretanto, tendem a limitar a evolução das CoPs, dependendo das regulações que são impostas e da cultura da organização. Considerando-se os fatores e dimensões apresentadas em cada fase do ciclo de vida das CoPs é possível, para as organizações, adotar um processo, que apresente estratégias capazes de transformar as CoPs em verdadeiras ferramentas de inovação. 7 Notas 1. Software aberto: é baseado no princípio que programas de computador devem ser compartilhados livremente entre usuários, com a possibilidade de introduzir novas características e alterações (REINHARD, 2004). 8 Referências Bibliográficas ADAMS, E.; FREEMAN, C. 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