Produção Piloto de Concentrados de Proteínas de Leite Bovino: Composição e Valor Nutritivo Pilot Scale Production of Protein Concentrates from Cows Milk: Composition and Nutritive Value AUTORES AUTHORS Patricia Ferreira Zinsly BORGES Ex-estagiária Mestrado da UNICAMP/FEA Ciência da Nutrição ✉ Valdemiro Carlos SGARBIERI Pesquisador Científico do Centro de Química de Alimentos e Nutrição Aplicada Instituto de Tecnologia de Alimentos Av. Brasil, 2880, 13073-001 Campinas - SP e-mail: [email protected] Nádia Fátima Gibrim Pereira DIAS Estagiária Doutorado da UNICAMP/FEA - Ciência da Nutrição, Instituto de Tecnologia de Alimentos Centro de Química de Alimentos e Nutrição Aplicada Av. Brasil, 2880, 13073-001 Campinas - SP Helaine Beatriz JACOBUCCI Estagiária Doutorado da UNICAMP/FEA - Ciência da Nutrição, Instituto de Tecnologia de Alimentos Centro de Química de Alimentos e Nutrição Aplicada Av. Brasil, 2880, 13073-001 Campinas - SP Maria Tereza Bertoldo PACHECO RESUMO Os objetivos do presente trabalho foram: estabelecer metodologia adequada para a produção piloto, de concentrados de caseínas e de proteínas de soro de leite bovino, preservando ao máximo suas propriedades estruturais e funcionais; caracterizar os concentrados protéicos quanto à composição centesimal e perfil de aminoácidos essenciais; determinar o valor nutritivo da proteína dos vários concentrados. Para obtenção do caseinato de sódio (CNa) e do concentrado protéico de soro ácido (CSA), empregou-se a precipitação da caseína no pH isoelétrico (pH 4,6, 20ºC). O soro ácido obtido foi concentrado por ultrafiltração/diafiltração e liofilização para obtenção do concentrado protéico de soro ácido (CSA). O caseinato foi obtido por neutralização da caseína isoelétrica (NaOH pH 7-7,5) e desidratado em spray dryer. A obtenção do coágulo de caseína (CoC) e do concentrado protéico de soro doce (CSD) processouse pela coagulação do leite desnatado e pasteurizado (quimosina, 34ºC, 45min). O coágulo de caseína foi lavado, neutralizado e seco em spray. O soro doce foi concentrado e desidratado pelo mesmo processo do soro ácido, obtendo-se o CSD desidratado. O emprego da tecnologia de membranas (ultrafiltração/diafiltração) permitiu a obtenção de concentrados protéicos de soro de leite com mais de 80% de proteína, sem o perigo de desnaturação das proteínas mais termolábeis. O poder de promover crescimento em ratos, das caseínas e dos concentrados de soro foi semelhante, porém o escore químico (EQ) e a digestibilidade corrigida pelo escore químico (PDCAAS) foram superiores para o CSD, comparados com as caseínas. Pesquisadora convidada - Pós-Doutorado, UNICAMP Instituto de Tecnologia de Alimentos Centro de Química de Alimentos e Nutrição Aplicada Av. Brasil, 2880, 13073-001 Campinas - SP Vera Lúcia Signoreli BALDINI Pesquisadora do Centro de Química de Alimentos e Nutrição Aplicada, Instituto de Tecnologia de Alimentos, Av. Brasil, 2880, 13073-001 Campinas - SP e-mail: [email protected] PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS SUMMARY The objectives of the present work were: to establish adequate methodology, at pilot level, for bovine casein and whey protein concentrate production, preserving their structural and functional properties to a maximum; characterize the concentrates as to their proximate percent composition and essential amino acid profiles; determine the protein nutritive values of the various concentrates. For the production of sodium caseinate (NaC) and acid whey protein concentrate (A-WPC), casein was precipitated at the isoelectric pH (pH 4.6, 20ºC). The whey was concentrated by ultrafiltration/diafiltration and lyophylized to obtain the dehydrated A-WPC. The sodium caseinate was obtained by neutralization (NaOH, pH 7-7.5), and spray dried. Casein coagulum (C-Co) and sweet whey were processed after coagulation of defatted and pasteurized milk (chymosin, 34ºC, 45min). The coagulum was separated from the whey, washed, ground in a colloidal mill and spray dried. The sweet whey was concentrated and lyophylized in the same way as the acid whey to obtain the dehydrated sweet whey protein concentrate (S-WPC). The use of membrane technology (ultrafiltration/diafiltration) permitted the production of milk whey protein concentrates with more than 80% protein, without denaturation of the most heat labile components. The caseins and S-WPC promoted equal growth of the rat, however the chemical score (CS) and the digestibility corrected amino acid scoring (PDCAAS) were superior for the S-WPC, compared to the caseins. Leite; Caseína; Proteínas de soro; Ultrafiltração; Diafiltração / Milk; Casein; Whey proteins; Ultrafiltration; Diafiltration. Braz. J. Food Technol., 4:1-8, 2001 1 Recebido / Received: 17/07/2000. Aprovado / Approved: 24/11/2000. P. F. Z. BORGES et al. 1. INTRODUÇÃO O leite pode ser considerado o alimento mais completo da natureza e o único que satisfaz as necessidades dos recémnascidos de sua espécie, nos primeiros meses de vida. O leite da maioria das espécies de mamíferos difere do leite humano sob vários aspectos, inclusive por apresentar maior concentração de proteína total, maior concentração de caseínas e menor concentração de proteínas de soro, portanto, o leite humano apresenta a maior relação proteínas de soro/caseínas (BOUNOUS et al., 1988). A baixa concentração de proteína total e a elevada proporção de proteínas de soro, no leite humano, são características que estão associadas ao crescimento lento e à dilatada longevidade da espécie humana. O leite de algumas espécies, particularmente a bovina, contém 80% de suas proteínas como caseínas e os 20% restantes são representados pelas proteínas do soro, ao contrário do leite humano no qual essa proporção se inverte; 80% das proteínas aparecem no soro e apenas 20% como caseínas (SGARBIERI, 1996). As caseínas podem ser obtidas a partir do leite desnatado por dois processos principais: a) pela precipitação ácida no pH isoelétrico (pH 4,6, 20ºC); b) pela coagulação enzimática (34ºC, 40-60min) pela ação da enzima quimosina (renina), como é usada no processo industrial de fabricação de queijos (WONG et al., 1996; SMITHERS et al., 1996). O soro obtido pela precipitação ácida das caseínas denomina-se soro ácido enquanto o obtido pela coagulação enzimática das caseínas é tradicionalmente conhecido como soro doce. MORR, HÁ (1993) estimaram que a produção mundial de soro proveniente da fabricação de queijos e de caseína era da ordem de 86 bilhões de kg, correspondente a 0,5 bilhão de kg de proteínas de soro. Para cada kg de queijo produzido geram-se cerca de 9kg de soro. O soro contém 93,6% de água e 6,4% de sólidos. Desidratado, o soro contém 12% de proteínas, 3% de gordura, 10% de minerais e 75% de lactose (WONG et al., 1996). Devido ao elevado teor de água, ao redor de 93% e reduzido teor de proteína de 0,6 a 0,9%, o uso de soro lácteo em produtos alimentícios convencionais tem sido bastante limitado, principalmente pelo custo de secagem. Segundo BIRD (1996), 45% do soro produzido na Europa, em 1991/92, foram utilizados na alimentação animal, 40% na fabricação de soro em pó, 12% na fabricação de concentrado protéico de soro (CPS) e 3% na produção de lactose. O soro não utilizado, quando descartado no meio ambiente, constitui-se em sério problema de poluição ambiental, pela elevada demanda de O2 (BOD) deste material, de 30 a 60g de O2/litro de soro (HOLDER, SEWARDS, 1976). Com o advento de novas tecnologias, particularmente as tecnologias de membranas (SMITHERS et al., 1996) e com as novas descobertas da importância das proteínas do leite em ciência e tecnologia de alimentos e na nutrição, tem havido um forte incremento das pesquisas procurando intensificar o uso dessas proteínas (WONG et al., 1996, SMITHERS et al., 1996, BRINK, 1996, BOUNOUS, 1997). Braz. J. Food Technol., 4:1-8, 2001 Produção Piloto de Concentrados de Proteínas de Leite Bovino: Composição e Valor Nutritivo Nossa pesquisa tem como objetivo a utilização do leite bovino, como matéria-prima para a obtenção de ingredientes funcionais e nutritivos, de importância tanto tecnológica como fisiológica, visando a utilização desses componentes em formulações de produtos para fins específicos. Neste artigo são descritos os métodos de obtenção, em nível piloto, e a caracterização física, química e nutricional de várias frações protéicas do leite bovino. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Matéria-prima Leite tipo B desnatado e pasteurizado (73ºC, 15 seg) foi obtido da Cooperativa dos Produtores de Leite de Campinas, com sede no município de Campinas (SP). Todo o processamento foi realizado na planta piloto do Centro de Tecnologia de L aticínios (TECNOL AT), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). 2.2 Processamento Obtenção de concentrados protéicos de soro e caseínas. O fluxograma geral de processamento para obtenção de concentrado protéico de soro doce (CSD), coágulo de caseína (CoC), concentrado protéico de soro ácido (CSA) e caseinato de sódio (CNa) é apresentado na Figura 1. No processo de obtenção de CSA e CNa o leite, que é recebido refrigerado (~10ºC) é aquecido com vapor, em tanque de inox encamisado até 20ºC e, em seguida, tratado sob agitação branda com ácido lático comercial (grau alimentício, 85% v/v) até atingir pH 4,6 (pI das caseínas) onde ocorre a precipitação das mesmas. A mistura é mantida em repouso, a 20ºC, por aproximadamente 40min, para que a precipitação se complete e ocorra a separação de fases; a caseína formando uma camada é separada do soro, depositando no fundo do tanque. A recuperação do soro da camada superior é feita por sifonação e o soro misturado com a caseína é obtido por centrifugação. Utilizou-se para tal uma centrífuga de cesto da marca Gedr Heind modelo 2250, a 3500rpm. A caseína isoelétrica, após lavagem com água em pH 4,6, foi ressuspendida em solução de NaOH e ajustada a pH 7-7,5. Essa solução foi pré-aquecida, ~40ºC e seca em spray dryer (Niro Atomizer CB3 104 D) com temperatura de entrada de 180º C e de saída 95ºC, obtendo-se o caseinato de sódio (CNa) desidratado. No mesmo processo, o soro ácido foi submetido à concentração por ultrafiltração em membranas (WGM Kock membrane systems) com porosidade de corte para PM de 10kDa. Utilizou-se um sistema tubular de filtração tangencial sob pressão com superfície de filtração de 12m2, pressão de entrada de 6kgf/cm2 e de saída 3,2kgf/cm2. Nestas condições, produz-se um concentrado (retentado) que contém todas as proteínas do soro e um 2 P. F. Z. BORGES et al. ultrafiltrado (permeado) formado da maior parte da água, originalmente encontrada no soro, contendo ainda grande parte da lactose, minerais, vitaminas e outros constituintes do leite, de baixo peso molecular. Para promover uma maior concentração das proteínas, combina-se a ultrafiltração com a diafiltração, que consiste em se fazer passar, após ter atingido a concentração desejada, um elevado volume de água desionizada através do concentrado para se retirar o máximo de lactose e outros compostos de baixo peso molecular, ao mesmo tempo concentrando e purificando ainda mais as proteínas. Em nosso processo, utiliza-se um fator de concentração de 12, associando-se 15 ciclos de diafiltração, sendo que 1 ciclo de diafiltração equivale a passar pelo concentrado igual volume de água desionizada, mantendo-se constante o volume de retentado. Terminada a ultrafiltração e a diafiltração, o retentado é coletado em bandejas e congelado (-25ºC), para posterior liofilização, obtendo-se assim o CSA desidratado. Cumpre enfatizar que todo o processo é feito em temperaturas mantidas abaixo de 40ºC, para preservar a integridade estrutural e funcional das proteínas, evitando-se a desnaturação. Para a produção do CSD, o processo é muito semelhante ao do CSA, exceto que a separação da caseína é feita por coagulação enzimática e não por precipitação ácida. LEITE DESNATADO (PASTEURIZADO A 73oC POR 15 seg) Quimosina (38oC) CaCl2 Coágulo de caseína Spray dryer CoC desidratado Soro Doce Ultrafiltração Diafiltração CSD Liofilização Ácido lático (pH 4,6) Caseína isoelétrica Soro Ácido Ressuspensão em NaOH (pH 7,5) Secagem CNa Ultrafiltração Diafiltração CSA Produção Piloto de Concentrados de Proteínas de Leite Bovino: Composição e Valor Nutritivo Utiliza-se solução de CaCl2 a 50% (25mL/100L de leite) e coágulo comercial líquido (300mL/100L de leite) contendo pepsina e quimosina. A coagulação se completa após 40-60min de repouso a 34ºC. O soro doce é separado do coágulo por decantação seguida de sifonação e filtração. O coágulo, após lavagem exaustiva com água é triturado e moído em moinho coloidal, em solução de NaOH, para resultar em suspensão de pH entre 6,5-7,5, que é préaquecido (~40ºC) e desidratado em spray, da mesma forma que o CNa, obtendo-se o CoC desidratado. O soro doce foi submetido aos mesmos processos do soro ácido: ultrafiltração, diafiltração, congelação e liofilização, para a obtenção do CSD desidratado. 2.3. Caracterização física dos concentrados protéicos Como método simples de monitoração do estado de desnaturação das proteínas, nos concentrados protéicos, adotaram-se alguns testes de solubilidade. A solubilidade do CNa e do CoC foi determinada em suspensões a 1% (p/v) de proteína em água destilada, seguido de ajuste do pH com soluções de NaOH 0,1 N ou HCl 0,1 N, até estabilização em pH 7,0, agitação à temperatura do ambiente por 1 hora e centrifugação em centrífuga Beckman modelo Avanti TM J-25 (13000rpm, 30min). Aferido o volume do sobrenadante, alíquotas foram tomadas para determinação do nitrogênio solúvel, expresso em porcentagem em relação ao nitrogênio total da amostra (MORR et al., 1985). Para a determinação da solubilidade das proteínas de soro (CSD e CSA), seguiram-se as recomendações de BOUNOUS, GOLD (1991) em que a proteína (suspensão a 1% p/v) foi dissolvida em solução tampão fosfato-citrato 0,01M pH 4,6. Após agitação e centrifugação (como no procedimento anterior), alíquotas do sobrenadante foram tomadas para determinação do nitrogênio solúvel pelo micro-Kjeldhal. Os resultados foram expressos como porcentagem de proteína solúvel em relação à proteína total na amostra. A caracterização da homogeneidade das preparações de CSD e CSA foi feita pela eletroforese em gel de poliacrilamida, em presença de dodecil sulfato de sódio (PAGE-SDS), segundo método descrito por LAEMMLI (1970). Utilizou-se tampão trisHCl, pH 8,2, na presença de SDS e mercaptoetanol. Essa modalidade de eletroforese é utilizada para determinação do número e peso molecular das unidades estruturais das proteínas. Liofilização 2.4 Caracterização química dos concentrados protéicos CSD Desidratado CSA Desidratado FIGURA 1. Processo de obtenção do coágulo de caseína desidratado (CoC), concentrado protéico de soro doce (CSD) e concentrado protéico de soro ácido (CSA). Braz. J. Food Technol., 4:1-8, 2001 Composição centesimal. Teor de umidade, proteína bruta (N x 6,38) e cinza foram determinados pelos procedimentos descritos no manual da AOAC (AOAC, 1990). Lipídios totais foram determinados pelo método de BLIGH, DYER (1959). Lactose, pelo método de ACTON (1977). Composição de aminoácidos. Foi determinada após hidrólise ácida (HCl 6N, 110ºC, 22h) em analisador de 3 Produção Piloto de Concentrados de Proteínas de Leite Bovino: Composição e Valor Nutritivo P. F. Z. BORGES et al. aminoácidos (Dionex Dx 300), por separação em coluna (HPLC) de troca catiônica, seguida de reação colorimétrica pós-coluna, com ninidrina. A quantificação de cada aminoácido foi feita com base em uma mistura-padrão de aminoácidos marca Pierce. 2.5 Controle microbiológico Para cada lote de leite processado foram feitas tomadas de amostras do leite pasteurizado, do soro e do produto desidratado, para controle de eventuais pontos de contaminação. A metodologia utilizada para a contagem de microrganismos foi a descrita por VANDERVANT, SPLIPPSPOESSER (1992). 2.6. Ensaios com ratos Composição e preparo das dietas. Todas as dietas foram preparadas segundo as especificações da AIN-93G (REEVES et al., 1993), exceto pela concentração de proteína usada que foi 10% da dieta ao invés dos 17% recomendados, isto por que se convencionou em 10% a concentração de proteína em dietas experimentais para a determinação do valor nutritivo de proteínas. As misturas de sais contendo os elementos minerais (AIN-93G-MX) e mistura vitamínica (AIN93-VX), também recomendadas pelo American Institute of Nutrition (AIN) e descritas por REEVES et al. (1993) foram as usadas no preparo das dietas. No preparo das dietas foram levados em consideração, além das proteínas, os lipídios e os carboidratos dos concentrados protéicos, para que as dietas fossem mantidas isocalóricas e isoprotéicas. Animais de experimentação e execução dos ensaios. Foram utilizados 40 ratos machos da linhagem Wistar livres de patógenos específicos (SPF), recém-desmamados, provenientes do Centro de Bioterismo (CEMIB) da Universidade Estadual de Campinas. Os animais foram distribuídos em 5 grupos experimentais, em blocos casualizados de 8 ratos, sendo que o peso inicial de cada rato foi em média 67,4 ± 12,8g. Cada grupo de 8 ratos recebeu, durante 28 dias (4 semanas), um dos seguintes tratamentos: CSD, dieta com 10% de proteína fornecida pelo concentrado de soro doce; CoC, dieta com 10% de proteína fornecida pelo coágulo de caseína; CNa, dieta com 10% de proteína proveniente do caseinato de sódio; C, dieta com 10% de caseína comercial; AP, dieta sem proteína (aprotéica). A dieta AP foi introduzida no experimento para o cálculo do nitrogênio de origem endógena excretado nas fezes, utilizado na correção da digestibilidade aparente para digestibilidade verdadeira (Dv) e para o cálculo do índice NPR (quociente de utilização líquida da proteína). Os ratos de todos os tratamentos foram mantidos em gaiolas, individualmente, tendo livre acesso à água e à dieta durante os 28 dias do experimento. As condições do laboratório de ensaios foram mantidas a 21 ± 2ºC, períodos alternados de claro-escuro de 12 horas, ventilação e renovação do ar por exaustão. O consumo de dieta foi determinado para cada rato Braz. J. Food Technol., 4:1-8, 2001 e para cada grupo, a cada dois dias. Durante a segunda semana foram coletadas as fezes de cada grupo, para determinação de nitrogênio e cálculo da excreção fecal. O consumo de dieta e a excreção de nitrogênio correspondente à segunda semana foram usados para o cálculo da digestibilidade verdadeira da proteína (Dv %), dada pelo quociente do nitrogênio absorvido (NA) pelo nitrogênio ingerido. Para que a digestibilidade seja verdadeira, o nitrogênio determinado nas fezes do grupo em dieta aprotéica (AP), deve ser subtraído do nitrogênio das fezes dos grupos que receberam proteína nas dietas (SGARBIERI, 1996). Os dados de ganho de peso (grupos que receberam proteínas nas várias fontes) somados à perda de peso (grupo em dieta aprotéica) coletados no final da terceira semana divididos pelo consumo de proteína, foram utilizados para o cálculo do NPR (quociente de utilização líquida da proteína). Os dados de ganho de peso (GP) divididos pelos de consumo de proteína (CP), no final do experimento (28 dias), foram utilizados para o cálculo do PER (quociente de eficiência protéica). Finalmente, os escores químicos de aminoácidos essenciais (EQ), multiplicados pelas digestibilidades verdadeiras da proteína, permitiram o cálculo dos índices de digestibilidade protéica corrigida pelos escores de aminoácidos (PDCAAS), que poderão ser iguais ou inferiores a 1 ou 100% (HENLEY, KUSTER, 1994). 2.7. Análise estatística Análises estatísticas foram realizadas usando o programa Statistica: Basic Statistics and Tables, aplicando a análise de variância e comparação de médias pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (GOMES, 1982). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A composição centesimal aproximada dos quatro concentrados protéicos obtidos em planta piloto é mostrada na Tabela 1. TABEL A 1. Composição centesimal em base seca de concentrados protéicos de leite bovino. Componente (% b.s.)1 Proteína (N x 6,38) CSD CoC CSA CNa 83,84 80,78 81,77 80,88 Lactose 8,88 12,51 14,50 9,40 Cinza 2,77 5,08 1,11 9,01 Lipídios totais 4,48 1,61 2,60 1,66 Determinações feitas em duplicata; CSD, concentrado protéico de soro doce; CoC, coágulo de caseína; CSA, concentrado protéico de soro ácido; CNa, caseinato de sódio. 1 4 P. F. Z. BORGES et al. Todos os produtos apresentaram concentração de proteína acima de 80%. Quanto à lactose, o mais alto teor (14,5%) foi determinado no concentrado protéico de soro ácido (CSA), seguido do CNa e do coágulo de caseína (CoC) sendo que o mais baixo teor (8,88%) foi encontrado no concentrado protéico de soro doce (CSD). Os mais baixos teores de cinza foram encontrados nos concentrados protéicos de soro (CSA e CSD), o mais elevado no CNa (9,0%), seguido do CoC (5,0%). Quanto aos lipídios totais, as mais baixas concentrações aparecem no CoC e no CNa, seguido do CSA (2,6%) e o mais alto foi o do CSD (4,48%). Os teores de lactose no CNa e no CoC poderão ser reduzidos por meio de processos mais exaustivos de lavagem dos precipitados. No caso dos concentrados protéicos de soro (CSA e CSD), redução maior de lactose poderá ser conseguida aumentando-se o número de ciclos de diafiltração. À medida que se aumenta o número de ciclos de diafiltração, as concentrações de lactose e cinza diminuem e a de proteína aumenta, no concentrado. O elevado teor de minerais no CNa se deve, em boa parte, ao sódio adicionado, na forma de NaOH, para a neutralização da caseína isoelétrica. O teor relativamente elevado de minerais no CoC poderá ter como causa a coprecipitação de sais de cálcio, juntamente com o coágulo. Os lipídios totais aparecem mais elevados no CSD, que nos demais concentrados. O teor final de lipídios nos concentrados irá depender, em parte da eficiência do desnate da matéria-prima. Exceto pelas concentrações de lactose, que ainda se encontra um pouco elevada em nossos produtos, a composição apresentada na Tabela 1 assemelha-se bastante à da literatura, para os mesmos tipos de produtos (JOST, 1993). Nos Estados Unidos da América, a indústria produz derivados protéicos de soro abrangendo uma faixa de concentração de proteína de 35 a 90% (USDEC, 1997). Os perfis eletroforéticos qualitativos do CSD e do CSA são ilustrados na Figura 2, comparativamente ao perfil do produto Immunocal. Os CSD e CSA apresentam quatro bandas de proteínas, três de elevado peso molecular (> 66 kDa) e outra de peso molecular intermediário (~30 kDa), que não aparecem no Immunocal. O Immunocal é um produto desenvolvido e patenteado no Canadá (BOUNOUS, 1997) e que está utilizado em nossas pesquisas como protótipo, para comparação. Por não se dispor de todos os padrões correspondentes a todas as proteínas do soro de leite, apenas duas proteínas, a soralbumina (66 kDa) e a α-lactalbumina (14,2 kDa) puderam ser identificadas. Inferências a dados da literatura (BASCH et al., 1985) permitem especular que a banda revelada antes de α-lactalbumina, peso molecular de aproximadamente 18,4 kDa poderia ser o monômero da β-lactoglobulina. As bandas de pesos moleculares aproximadamente 25 kDa e 55 kDa, poderiam corresponder, respectivamente, às cadeias leves (IgL) e pesadas (IgP) das imunoglobulinas. Da mesma forma, a banda que antecede a soralbumina, de peso molecular superior a 66 kDa, poderia ser a lactoferrina ou lactoperoxidase. Braz. J. Food Technol., 4:1-8, 2001 Produção Piloto de Concentrados de Proteínas de Leite Bovino: Composição e Valor Nutritivo (-) 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 (+) a b c d e f g FIGURA 2. Perfis eletroforéticos em PAGE-SDS. Padrões coluna a: 4) Albumina de Soro Bovino (66 KDa), 6) Ovoalbumina (45 KDa), 7) Giceraldeído 3P-Desidrogenase (36 KDa), 8) Anidrase Carbônica (29. KDa), 9) Tripsinogênio (24 KDa), 10) Inibidor Tripsina (20 KDa), 11) α-Lactoalbumina (14,2 KDa), 12) Aprotinina (6,5 KDa); colunas b,c: Immunocal TM; colunas d e e: concentrado protéico de soro doce; colunas f e g: concentrado protéico de soro ácido. Os perfis de aminoácidos essenciais para os quatro concentrados protéicos produzidos em planta piloto, comparados com uma caseína comercial e com o padrão teórico da FAO/WHO (1990) são mostrados na Tabela 2. TABELA 2. Perfil de aminoácidos essenciais de concentrados protéicos obtidos do leite bovino. Aminoácido Treonina Metionina Cisteína + CSD CoC CSA CNa C FAO/WHO 7,6 3,7 5,8 4,7 4,1 3,4 5,4 3,7 5,3 3,9 2,2* 2,5 Valina 5,0 6,3 5,2 6,9 6,2 3,5 Leucina 11,7 9,8 12,5 10,4 8,8 6,6 Isoleucina 6,3 4,6 5,4 5,2 4,6 2,8 Fenilalanina + Tirosina 7,2 11,4 7,6 11,5 9,9 6,3 Lisina 11,0 6,9 9,7 6,6 7,6 5,8 Histidina 6,1 6,4 7,0 7,7 2,8 1,9 Triptofano 1,10 0,87* 1,90 0,92* 1,4 1,1 Escore Químico (EQ) 1,00 0,79* 1,00 0,84* 0,88 - *Limitante em relação ao padrão da FAO/WHO (1990); CSD, concentrado de soro doce; CoC, coágulo de caseína; CSA, concentrado de soro ácido; CNa, caseinato de sódio (CNa); C, caseína comercial e referência padrão da FAO/WHO. 5 Produção Piloto de Concentrados de Proteínas de Leite Bovino: Composição e Valor Nutritivo P. F. Z. BORGES et al. As proteínas do soro de leite diferem das caseínas por apresentar teores mais elevados dos aminoácidos treonina, aminoácidos sulfurados (metionina + cistina), leucina, isoleucina, lisina e triptofano, e teores mais baixos dos aminoácidos de cadeias aromáticas (fenilalanina + tirosina). inferior para o coágulo de caseína e superior para as demais proteínas, que não diferiram entre si. O PDCAAS (EQ x Dv), segundo HENLEY, KUSTER (1994) foi superior para o CSD, seguido da C, CNa e CoC, com valores variando na faixa de 94,9 a 72,4%. Em relação ao padrão da FAO/WHO (1990), as caseínas podem apresentar deficiências em aminoácidos sulfurados (metionina + cistina) e/ou triptofano. Essa situação é refletida nos escores químicos (EQ), também mostrados na Tabela 2, e que se apresentam iguais ou superiores a 1,0 para os concentrados de proteínas de soro e inferiores a 1,0 para as caseínas. TABELA 4. Valores de quociente de utilização líquida da proteína (NPR), digestibilidade verdadeira da proteína (Dv) e escore de aminoácido corrigido pela digestibilidade verdadeira (PDCAAS)1 para as seguintes fontes de proteína: concentrado de soro doce (CSD); coágulo de caseína (CoC); caseinato de sódio (CNa) e caseína comercial (C). As proteínas de soro de leite apresentam perfil de aminoácidos que as recomendam para a formulação de vários produtos especiais, tais como: fórmulas infantis; pela relação ideal cisteína/metionina praticamente igual a 1,0, baixos teores de aminoácidos aromáticos que favorecem crianças com fenilcetonúria (HAMBRAEUS, 1982), desempenho de esportistas; pelos elevados teores de aminoácidos essenciais de cadeias ramificadas como leucina e isoleucina, considerados importantes para o desempenho de esportistas (STEELE, HARPER, 1990); na recuperação de traumas múltiplos (BRENAN et al., 1986) e de queimaduras (ALEXANDER, GOTTSCHLISH, 1990). As Tabelas 3 e 4 descrevem alguns parâmetros que caracterizam o valor nutritivo das proteínas do CSD, CoC, CNa e caseína comercial (C). Na Tabela 3 são dados de consumo de dieta, consumo de proteína, ganho de peso e ganho de peso por unidade de proteína ingerida, para ratos recémdesmamados, mantidos durante 28 dias em dietas contendo 10% de proteína de várias fontes. TABELA 3. Valores médios 1 de consumo de dieta (CD), consumo de proteína (CP), ganho de peso (GP) e quociente de eficiência protéica (PER), para ratos mantidos por 28 dias em dietas com 10% de proteína provenientes das seguintes fontes: concentrado de soro doce (CSD); coágulo de caseína (CoC); caseinato de sódio (CNa) e caseína comercial (C). Fonte de proteína CD (g) CP (g) GP (g) PER CSD 209,8 ± 32,6a 35,7 ± 6,4a 88,4 ± 15,0a 3,44 ± 0,31ab CoC 236,5 ± 26,1a 40,8 ± 11,6a 80,0 ± 11,6a 3,65 ± 0,40a CNa 208,4 ± 28,9 a 35,3 ± 4,4 81,6 ± 11,9 3,15 ± 0,38b C 233,4 ± 21,7a 40,0 ± 4,6a 85,6 ± 7,5a 3,42 ± 0,25ab a a Valores são médias de 8 ratos por tratamento ± desvios-padrão Letras diferentes (coluna) indicam valores estatisticamente diferentes (p < 0,05). 1 a, b Não houve diferença estatística (p < 0,05) para consumo de dieta e ganho de peso para as quatro fontes protéicas (Tabela 3). O CNa apresentou o menor PER e o CoC o mais alto PER. Os PERs dos grupos nos tratamentos CSD, CoC e C foram iguais entre si e superiores ao valor de PER do grupo em CNa (p < 0,05). Na Tabela 4 são mostrados os valores de NPR, que não diferiram, estatisticamente, para os quatro tratamentos, enquanto a digestibilidade verdadeira da proteína (Dv) foi Braz. J. Food Technol., 4:1-8, 2001 Fontes de proteína NPR Dv (%) CSD 3,82 ± 0,15a 94,92 ± 1,25a 94,92 CoC 3,63 ± 0,12 b 91,70 ± 1,44 72,44 CNa 3,78 ± 0,34a 94,81 ± 1,37a 79,64 C 3,78 ± 0,15a 93,57 ± 0,97a 82,34 1 a PDCAAS (%) HENLEY, KUSTER (1994) O índice PDCAAS descrito por HENLEY, KUSTER (1994) já havia sido adotado pela FAO/WHO (1989), por ser um índice que melhor descreve as necessidades nutricionais de proteínas da espécie humana. Os índices baseados no crescimento, em ratos (PER, NPR) em geral tendem a subestimar o valor nutritivo das proteínas para a espécie humana por ter um crescimento mais lento e necessidade comparativamente menor de aminoácidos essenciais, particularmente aminoácidos sulfurados. Esse índice também foi adotado pela FDA (FDA, 1990) como método de referência para efeitos de rotulação de alimentos nos Estados Unidos da América, em substituição ao PER. Como se pode deduzir, as caseínas e as proteínas do soro de leite bovino, embora apresentem propriedades físicoquímicas e composição de aminoácidos bastante diferentes, não apresentam diferenças muito notáveis quanto ao poder de promover crescimento em animais experimentais. Também do ponto de vista das propriedades funcionais tecnológicas, caseínas e proteínas de soro apresentam muitas semelhanças (JOST, 1993, FOX, MULVIHILL, 1982, LEE et al., 1992). É, contudo, nas propriedades funcionais fisiológicas que as proteínas do soro de leite diferem fundamentalmente das caseínas (BOIRIE et al., 1997, FRÜHBECK, 1998, SGARBIERI, 1999). Várias dessas propriedades diferenciais entre caseínas e proteínas de soro estão sendo objeto de investigação em nosso laboratório. A preparação de concentrados protéicos de proteínas do leite, por processos que usam membranas tem despertado grande interesse em anos recentes (NOVAK, 1992). Os termos concentrado de proteína de leite (CPL) e proteína de leite (PL) têm sido usados para produtos contendo 50-85% e mais que 85% de proteína, respectivamente (NOVAK, 1992). 6 P. F. Z. BORGES et al. Pelo uso de diferentes membranas de ultrafiltração, a combinação da ultrafiltração, microfiltração e diafiltração, assim como a combinação correta das condições de pH e temperatura, as propriedades físico-químicas e funcionais dos concentrados protéicos de leite (CPL) e das proteínas de leite (PL) podem ser dirigidas para diferentes aplicações. Mudanças na composição, características reológicas e estabilidade térmica, que estão associadas com a produção dos CPL, apresentam grande importância prática em função da influência dessas propriedades nas características dos produtos em que esses ingredientes forem incorporados (JOST, 1993). Uma das primeiras aplicações de sistemas de membranas na indústria de produtos lácteos foi na produção de concentrados protéicos de soro (CPS). A ultrafiltração (UF) e a osmose reversa (OR) têm sido extensivamente usadas para a concentração das proteínas do soro, permitindo o desenvolvimento de um grande leque de concentrados protéicos (SIENKIEWICZ, RIEDEL, 1990, PEARCE, 1992, ROSENBERG, 1995). Entre as aplicações mais promissoras da tecnologia de membranas no processamento do soro de leite estão o preparo de concentrados de elevada concentração protéica, o fracionamento de proteínas do soro e a preparação de frações protéicas ou proteínas isoladas do soro, com propriedades funcionais específicas (JOST, 1993, ROSENBERG, 1995). O processamento do leite desnatado por microfiltração (diâmetro de membrana 0,2µm) permite fracioná-lo em um permeado que contém a maioria das proteínas do soro, livres de substâncias lipídicas e macropeptídios da caseína e, em um retentado, consistindo em caseína nativa em forma micelar. Tratamento posterior do retentado por diafiltração resultará em preparado de caseína com mais de 90% de pureza, podendo substituir, com vantagens, o caseinato de sódio em suas aplicações (MAUBOIS, OLIVIER, 1992). O presente trabalho faz parte de um projeto maior em desenvolvimento, o qual tem por objetivo o aproveitamento dos componentes do leite bovino, na forma de ingredientes nutritivos e funcionais e que serão utilizados na formulação de produtos com propriedades especiais. Dentre os ingredientes que poderão ser produzidos a partir do leite estão: a gordura, obtida no processo de pasteurização e desnate; preparados de caseínas com propriedades diferenciadas (coágulo, caseinatos, caseína micelar); concentrados de proteínas de soro (CSD e CSA); proteínas específicas de elevado valor agregado; lactose; mistura contendo vitaminas, elementos minerais e componentes do leite de baixo peso molecular. 4. CONCLUSÕES Os resultados obtidos e apresentados neste trabalho permitem concluir: a) desenvolveram-se processos para obtenção de concentrados protéicos derivados do leite, com o mínimo de tratamento térmico e com excelentes propriedades nutritivas; b) o emprego da tecnologia de membranas (ultrafiltração/diafiltração) permitiu a obtenção de concentrados Braz. J. Food Technol., 4:1-8, 2001 Produção Piloto de Concentrados de Proteínas de Leite Bovino: Composição e Valor Nutritivo protéicos de soro de leite com mais de 80% de proteína, sem o perigo de desnaturação das proteínas mais termolábeis; c) o perfil aminoacídico das proteínas de soro foi superior ao das caseínas, o que resultou em escore químico de aminoácidos e digestibilidade das proteínas corrigida pelo escore químico (PDCAA S) superior ao concentrado protéico de soro, comparados com os preparados de caseína; d) o perfil de aminoácidos essenciais e o perfil eletroforético (PAGE-SDS) para o CSD e CSA foram similares. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pelo suporte financeiro ao projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACTON, G.H. The determination of lactose in cheese. Australian Journal of Dairy Technology, 32(3):111-114, 1977. ALEXANDER, J.W.; GOTTSCHLISH, M.M. Nutritional immunomodulation in burned patients. Critical Care in Medicine, 18(2):S149-153, 1990. AOAC Association of Official Analytical Chemists, Official Methods of Analysis, W. Horwitz (ed.), 15th edition, 1990, Washington, D.C., USA. BASCH, J.J., DOUGLAS, F.W., PROCINO, L.G., HALSINGER, V.H., FARREL, H.M. Quantification of caseins and whey proteins of processed milks and whey protein concentrates, application of gel electrophoresis and comparison with Harland-Ashworth procedure. Journal of Dairy Science, 68:23-31, 1985. BIRD, J. The application of membrane systems in the dairy industry. Journal of the Society of Dairy Technology, 49(1):16-23, 1996. BLIGH, E.G., DYER, W.J. 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