Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Farmácia
Boletim Atrás da Estante
Um projeto do CEMED
Centro de Estudos de Medicamentos da UFMG
Volume 7, nº2
30/07/2011
Parkinsonismo secundário: fármacos AIDS – 30 Anos Após a Descoberta do Vírus
como indutores do quadro patológico
Descoberta há 30 anos antirretroviral entre homosexuais
A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa, crônica e
progressiva caracterizada
por tremores, perda de
equilíbrio, rigidez e lentidão dos movimentos voluntários. Esse conjunto de
sinais e sintomas neurológicos é conhecido por parkinsonismo ou síndrome
parkinsoniana. De acordo
com a Academia Brasileira
de Neurologia uma síndrome parkinsoniana é causada em 70% dos casos pela
doença de Parkinson. A
etiologia dos demais casos,
no entanto, relaciona-se a
diversos fatores, entre os
quais, destaca-se a utilização de alguns medicamentos.
O artigo DrugInduced
Parkinsonism1,
publicado pela Worst Pills
Best Pills Newsletter, lista
49 medicamentos2 apontados como potenciais causadores do chamado parkinsonismo secundário. O texto baseou-se em estudos
como o realizado pela Clinical Neurology and Neurosurgery. Nesse estudo,
1.528 pessoas com parkinsonismo foram examinadas, sendo que 7,9% (120
pessoas) apresentavam o
tipo secundário, induzido
por algum fármaco, observando-se melhora clínica
cerca de 6 meses após interrupção do uso do medicamento. A lista traz diver-
sos fármacos, distribuídos
em 16 classes farmacológicas. No entanto, é expressiva a presença de antidepressivos, antipsicóticos e
anti-hipertensivos.
No Brasil, estudos
também alertam sobre o
parkinsonismo
induzido
por fármacos. O artigo Flunarizina Induzindo Parkinsonismo3, aborda o uso de
flunarizina e cinarizina,
ambos utilizados no tratamento de tonturas, como
indutores de parkinsonismo
em alguns pacientes.
Felizmente, a síndrome parkinsoniana secundária pode ser diferenciada daquela causada pela
doença de Parkinson por
apresentar, dentre outros
fatores4, sintomas simétricos e por ter um início subagudo após o começo do
tratamento com o fármaco
indutor. Logo, cuidado no
diagnóstico é crucial. Aspectos como o histórico do
paciente e evolução do
quadro clínico devem ser
analisados de forma minuciosa para que se evitem
erros na identificação da
origem dos sintomas, impedindo que um novo tratamento medicamentoso ineficaz seja iniciado.
(William Pereira Alves)
em americanos homossexuais em
uma época em que a homossexualidade era ilegal na maioria das
cidades dos EUA, a doença viral
que afeta linfócitos T-CD4 e
debilita o sistema imunológico
foi batizada com o nome de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA). Responsável por
cerca de 30 milhões de mortes,
ela mobilizou o mundo e transformou as relações sociais e econômicas entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos de maneira que nenhuma outra doença
foi capaz. Para que se alcance o
Objetivo de Desenvolvimento do
Milênio (ODM) de deter e
inverter a propagação da SIDA
até 2015, em junho de 2011 a
comunidade
internacional
debateu os avanços e desafios
globais de sua prevenção e
tratamento. Atualmente, para
cada duas pessoas que iniciam o
tratamento antirretroviral, outras
cinco são infectadas. Com 7 mil
pessoas sendo infectadas por dia
no mundo, 2.6 milhões por ano,
está muito claro que prevenção e
tratamento
são
partes
importantes de uma estratégia
combinada e multifacetada
para evitar novos ciclos.
A trajetória da terapêutica da AIDS iniciou-se com a
monoterapia (zidovudina - AZT)
em 1987. No final dos anos 90,
ocorreu a inauguração da terapia
combinada, a chamada terapia
antirretroviral
(TAR).
Atualmente, pesquisadores se
dedicam a diversas estratégias no
controle do HIV, como o
imediato uso da TAR após o
diagnóstico, a prevenção da
transmissão vertical (mãe-feto)
do HIV, a disponibilização de
novas opções terapêuticas para a
terapia antirretroviral, a infusão
de citocinas como coadjuvante
no tratamento, e a profilaxia
e outras populações de risco para
a infecção pelo vírus. Em 2010
um microbicida vaginal/retal préexposição (PrEP) ou "camisinha
química" foi formulado, sendo
capaz de reduzir 39% o risco de
infecção. Já em janeiro de 2011
foi desenvolvido pela VIRO
Pharmaceuticals o VIR-576,
medicamento
que
promete
reduzir a carga viral em até 95%.
Com menores efeitos colaterias,
aguarda a liberação pelas
autoridades sanitárias. Até lá,
frente à tendência de diminuição
da eficácia dos antirretrovirais,
cientistas buscam por vacinas e
medicamentos
capazes
de
promover a tão almejada cura da
infecção. Em março de 2011 a
OMS divulgou um conjunto de
políticas
em
prol
da
flexibilização na fabricação,
importação e exportação de
medicamentos genéricos, de
forma que o Objetivo de
Desenvolvimento do Milênio
seja cumprido. De acordo com a
OMS, em países de baixa e
média renda, pelo menos 9
milhões de infectados não
recebem tratamento.
Continuam
sendo
grandes entraves mundiais para o
controle da SIDA a pobreza e
disparidade
econômica,
a
instabilidade
política
e
institucional, a lacuna na saúde
sexual e reprodutiva, além de
fraudes milionárias envolvendo
desvio de medicamentos que
deveriam chegar à Africa. É
primordial que se assuma a
responsabilidade partilhada no
financiamento para AIDS, para
que assim ocorra a diminuição da
interseção entre a exclusão social
e desigualdade, raízes sociais do
risco e vulnerabilidade ao HIV.
(Vivian Thaíse da Silveira
Anício)
Boletim Atrás da Estante
Genérico para o mal de Alzheimer é produzido no Brasil
Por meio de parcerias
firmadas pelo Ministério da
Saúde, o Instituto Vital Brazil e
a Laborvida desenvolveram o
genérico da Rivastigmina, que
será produzido para o governo
federal e distribuído pelo Sistema Único de Saúde. Segundo
estimativas do próprio Instituto,
em cinco anos, serão produzidos aproximadamente 27,5
milhões de cápsulas e 80 mil
frascos da solução do medicamento.
A produção nacional
do genérico da Rivastigmina,
que atualmente é ofertada pelo
SUS por meio do Programa de
Medicamentos Excepcionais,
representará uma economia de
94 milhões de reais em cinco
anos segundo dados do Ministério da Saúde.
A doença de Alzheimer é uma afecção neurodegenerativa progressiva e irreversível, que acarreta perda da memória e diversos distúrbios
cognitivos. O tratamento tem
como objetivos permitir melho-
ras na saúde do paciente, retardar o
declínio cognitivo causado pela
doença e controlar as alterações de
comportamento que acompanham a
evolução do quadro clínico.
No Brasil existem cerca
de 15 milhões de pessoas com mais
de 60 anos de idade, sendo que 6%
sofrem da doença, segundo dados
da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).
(Raissa Carolina Fonseca Cândido)
Vacina contra Influenza: mitos e verdades (II)
“O que sabemos é uma
gota e o que ignoramos
é um oceano”.
(Isaac Newton)
Em abril de 2009
presenciamos o surgimento de uma linhagem do
vírus da influenza, o vírus
da influenza A (H1N1),
popularmente conhecido
como gripe suína. O aparecimento dessa estirpe
viral foi acompanhado do
medo de se tratar de um
vírus tão virulento e letal
como aquele causador da
pandemia de influenza de
1918. Considerando o
risco iminente, e o perfil de
casos nos diversos países, a
Organização Mundial de
Saúde classificou a influenza H1N1 como uma pandemia com grau de alerta máximo. Apesar da influenza
H1N1 ter demonstrado um
perfil de morbi-mortalidade
diferenciado (mais letal
entre crianças, adultos jovens e grávidas) o vírus se
comportou como um vírus
de influenza sazonal já ten-
Você sabia?
do, inclusive, sofrido novas recombinações com
os vírus comumente prevalentes. Assim, o nível
pandêmico, bem como a
temida virulência e letalidade, não se confirmaram
e o alerta pandêmico está
atualmente suspenso.
(Luana Faria da Cruz &
Daniela Rezende Garcia
Junqueira)
EQUIPE:
A APS é a ‘ideia força’ do pensamento em saúde em nossa época: a ideia de acesso, de superação do cartesianismo, da ação multiprofissional e do amálgama entre pensamento complexo em saúde e a ação mais simples em termos de tecnologia industrial. Mas
ela está de luto! Em 09 de junho morreu Barbara Starfield, autora do livro Atenção Primária – equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia, e que melhor refletiu a
APS: sua história, seu teor, a força de sua filosofia e seu papel na organização moderna da
atenção em saúde.. Ela será eterna no pensamento dos imbuídos de desejos mais humanos
quando pensam a atenção à saúde e daqueles que acreditam na formação de seus profissionais.
- Luana Faria da Cruz1
- Raissa Carolina Fonseca Cândido2
- Vivian Thaíse da Silveira Anício1
- William Pereira Alves2
- Farmacêutica Alba Valéria S. Melo Moraes
- Professora Cristiane Menezes
- Doutoranda Daniela Rezende Garcia
Junqueira
- Professor Edson Perini
¹ Alunas do 3º período de Farmácia/UFMG
² Alunos do 4º período de Farmácia/UFMG
Realização:
Apoio:
Os textos assinados são endossados por toda a equipe.
Maiores informações e o material que serviu de fonte para o boletim estão disponíveis sob solicitação através do email:
[email protected]
“Parkinsonismo secundário: fármacos como indutores do quadro patológico ”
ReferÊncias:
Worst Pills Best Pills Newsletter. Drug-Induced Parkinsonism. Acesso em julho de 2011: http://www.worstpills.org/
info/page.cfm?pageid=89
Boletín Fármacos. Parkinsonismo inducido por fármacos. Acesso em julho de 2011: http://www.saludyfarmacos.org/
wp-content/files/feb2011.pdf
Paulo Cesar Trevisol Bittencourt (Centro de Estudos - Hospital Universitário – UFSC.). Flunarizina Induzindo Parkinsonismo. Acesso em julho de 2011:
http://www.neurologia.ufsc.br/index.php/artigos-cientificos/60-flunarizinainduzindo-parkinsonismo
Boletín Fármacos. Parkinsonismo inducido por fármacos. Acesso e julho de 2011: http://www.saludyfarmacos.org/wpcontent/files/feb2011.pdf
“AIDS – 30 Anos Após a Descoberta do Vírus”
Referências
Unaids. AIDS at 30 Nations at the crossroads. Acessado em julho de 2011: http://www.unaids.org/unaids_resources/
aidsat30/aids-at-30.pdf
Medicine and Public Issues – Annals of Internal Medicine. Thirty Years of HIV and AIDS: Future Challenges and Opportunities: http://www.annals.org/content/early/2011/05/27/0003-4819-154-11-201106070-00345.full.pdf
DW-WORD.DE.Deutsche welle. Nova droga mostra eficácia e poucos efeitos colaterais no combate à AIDS. Acessado
em julho de 2011: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,14780402,00.html?maca=bra-uol-all-1387-xml-uol
“Vacina contra influenza - mitos e verdades (II)”
ReferÊncias:
- World Health Organization (WHO). Global Alert and Response. Accessed 04 August 2011. Available: http://
www.who.int/csr/disease/swineflu/frequently_asked_questions/levels_pandemic_alale/en/index.html
- U.S. Department of Health & Human Services. H1N1 Influenza: The Year in Review. Available: http://flu.gov/firstyear/
index.html
- World Health Organization (WHO). H1N1 in post-pandemic period. Accessed: 04 August 2011. Available: http://
www.who.int/mediacentre/news/statements/2010/h1n1_vpc_20100810/en/index.hhtm
- Science-Based Medicine. WHO, H1N1, and Conflicts of Interest. Accessed 04 August 2011.
Available: http://www.sciencebasedmedicine.org/index.php/who-h1n1-and-conflicts-of-interest/
“Você sabia?”
Livro disponível: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000039.pdf
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