ASSOCIAÇÃO DO POLIMORFISMO DA REGIÃO -1082 DO GENE IL10 EM MULHERES COM LESÕES INTRAEPITELIAIS CERVICAIS RELACIONADAS À INFECÇÃO PELO HPV Ana Flávia Carneiro de Albuquerque Crispino1, Renata Tavares Burlamaqui Proa1,Tamires dos Santos Silva1, Mayara Costa Mansur Fernandes1,Sérgio Ferreira de Lima Júnior1, Athayde Leite de Sá Filho2, Sandra Heráclio3, Paulo Roberto Eleutério de Souza4, Maria de Mascena Diniz Maia5 Introdução A infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) é uma das doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) de maior incidência e prevalência no mundo. [1]. Estudos epidemiológicos no Brasil têm mostrado que, apesar da infecção pelo papilomavírus ser muito comum (estima-se que cerca de 25% das mulheres brasileiras estejam infectadas pelo vírus), somente uma pequena fração das mulheres infectadas com um tipo de papilomavírus oncogênico eventualmente desenvolverá câncer do colo do útero. Mas, somente a infecção por HPV não é o suficiente para a evolução do câncer, sabe-se que outros fatores também podem estar relacionados. Por exemplo, a imunodeficiência está associada com uma rápida progressão do câncer cervical. Mesmo que ainda não se saiba a verdadeira relação entre a infecção por HPV e o desencadeamento do câncer de colo de útero, estudos sugerem que células mediadoras de imunidade são importantes no controle da infecção por HPV e no controle de neoplasmas associados a esta infecção [2]. As células mediadoras de imunidade são reguladas por citocinas que são moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes. Estas citocinas são secretadas, em parte, pelas células T auxiliares (Th). De acordo com o seu padrão de produção, as citocinas são divididas em dois grupos: Th1 e Th2. As células Th2 produzem a IL-10 e algumas outras citocinas que favorecem a imunidade humoral contra patógenos extracelulares e respostas alérgicas [3]. Diversas alterações na resposta imune celular tem sido relatadas em pacientes com lesões (pré) neoplásicas cervicais. [4] Este trabalho tem como objetivo relacionar a presença de lesões intraepiteliais cervicais, sendo causadas pela infecção por HPV, com o polimorfismo do gene IL-10 (-1082). Material e métodos A. Amostras clínicas Foram utilizadas 36 amostras de secreção vaginal de mulheres que apresentam lesões intraepiteliais cervicais. Estas amostras foram divididas em dois grupos de acordo com a presença ou não da infecção por HPV. B. Extração de DNA das amostras Procedeu-se a extração de DNA a partir de 500µl de secreção vaginal utilizando o kit de extração “Wizard Genomic DNA Purification kit” (PROMEGA). Após a extração as amostras foram tratadas com RNAse e posteriormente mantidas a uma temperatura de -20ºC. C. PCR para identificação do polimorfismo da IL-10 (1082) Para a reação de PCR foi utilizado um protocolo com volume final de 10 μl contendo: ~ 200 ng de DNA; de tampão 1X da enzima Taq Platinum (invitrogen Life Technologies); deoxinucleotídeo trifosfato (dNTP) 0,2mM, MgCl2 2,5 mM, 0,03U de Taq Platinum DNA polimerase (Invitrogen, Life Technologies); e 0,5 pmol/ul de cada um dos primers. Foram realizadas 2 reações para cada amostra porque utilizamos 2 primers alelos específicos (A ou G) e um primer reverso comum para as duas reações (C) para, assim, podermos genotipar cada amostra. O protocolo de amplificação utilizado foi o seguinte: desnaturação a 95 ° C por 5 min, seguido de 35 ciclos de desnaturação a 95 ° C por 45 segundos, anelamento a 62 ° C por 45 segundos e extensão final a 72 ° C por ________________ 1. Aluno de graduação do curso de bacharelado em ciências biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n - CEP: 52171900 – Recife/PE 2. Aluno de mestrado da Universidade de Pernambuco 3.Médica do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira. Rua dos Coelhos, 300 Boa Vista - Recife - PE - Brasil CEP 50070-550 4. Professor adjunto do departamento de biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n - CEP: 52171900 – Recife/PE 5. Professora associada, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n - CEP: 52171900 – Recife/PE Apoio financeiro: CNPq. 8min. A reação foi mantida em temperatura de 4 °C. A separação do produto da amplificação foi realizada pela eletroforese em gel de agarose 1,5%, corado com Sybr Green e visualizado em luz ultravioleta. O tamanho dos fragmentos obtidos da PCR foram comparados com o marcador de peso molecular ladder (Promega). D. PCR para detecção do HPV A amplificação para o sistema MY09/11 foi realizada para um volume final de 15µl contendo 1x de tampão da PCR, 100µM de cada dNTP (dATP, dGTP, dCTP, dTTP), 1,5mM de MgCl2, 1pmol/µl de cada primer específico (MY09 e MY11), 0,2 U de Taq DNA polimerase e 200ng de DNA. Para essa reação foi utilizado o kit “GoTaq® Hot Start Polymerase” (PROMEGA). O seguinte protocolo de amplificação foi utilizado: 94ºC por 4 minutos, seguidos de 40 ciclos de desnaturação à 94ºC por 30 segundos, anelamento à 55ºC por 30 segundos e extensão à 72ºC por 30 segundos, seguidos de uma extensão adicional à 72ºC por 8 minutos. O tamanho do fragmento esperado para essa reação é de 450pb. Como controle da qualidade da amostra utilizou-se um sistema de primers específicos para β-globina humana. As condições utilizadas para essa reação foi a mesma do sistema de primers MY09/11. O tamanho do fragmento esperado para essa reação é de 268pb. E. Análise estatística dos resultados: A comparação dos resultados entre os dois grupos foi realizada usando o contingency 2x2 (c2/a two-tailed Fisher Exact Probability Test) e foi calculada usando o web site Vassarstats para o cálculo estatístico. Resultados Das 36 amostras de secreção vaginal analisadas, 12 foram positivas para HPV e 24 foram negativas. Estas amostras foram então divididas em dois grupos para a análise do polimorfismo na região promotora do gene IL10 (Tabela 1). Desta forma, a frequência dos genótipos foram determinadas no grupo HPV posisitivo 16%GG, 49%AG e 35%AA e no grupo HPV negativo 33%GG, 49%AG e 18% AA. Estes resultados mostram que as freqüências genotípicas são significantemente diferentes p= 0,03364 (95% IC 0.28-0.95, OR 0,5860962) entre os grupos analisados, mostrando que existe correlação entre o polimorfismos do gene IL-10 e a susceptibilidade a infecção pelo HPV. Além disso, as freqüências alélicas também são significantemente diferentes em HPV positivo se comparado ao grupo negativo (p=0,003794). Discussão O papel do polimorfismo do gene IL-10 (-1082) na suscetibilidade de várias doenças infecciosas tem sido bastante estudado, mas, por outro lado, o significado funcional de vários polimorfismos ainda é incerto. Nossa pesquisa confirmou a associação entre a presença da mutação (-1082) no alelo A do gene IL-10 e a infecção pelo HPV em mulheres com lesões intraepiteliais. Estes resultados são discordantes daqueles obtidos por Govan et al. [5] que não verificaram associação do polimorfismo do gene IL-10 e a infecção por HPV em duas populações: africana e italiana. Por outro lado, outros estudos investigaram um possível papel deste polimorfismo na prevalência do câncer cervical induzido por HPV [6,7]. Desta forma, este resultado vem reforçar o possível papel deste polimorfismo na infecção pelo HPV na população brasileira. Referências [1] HOSSNE RS. Prevalência de papiloma vírus (HPV) perianal assintomático em pacientes portadores de HPV genital tratados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu. Rev bras Coloproct, 2008;28(2): 223-226. [2] Wu TC. Immunology of the human papilloma virus in relation to cancer. Curr Opin Immunol 1994; 6:74654 [3]Scott P. IL-12 Initiation citokyne for cell mediated immunity. Sciences 1993; 260:496-7 [4]Levy S, kopersztych S, Musatti CC, Souen JS, Salvatore CA, Mendes NF. Cellular immunity in squamous cell carcinoma of the uterine cervix. Am J Obstet Gynecol 1978; 130:160-4 [5] Vandana A Govan1, Henri RO Carrara2, Johnny A Sachs3, Margaret Hoffman2, Grazyna A Stanczuk4,5 and Anna-Lise Williamson*1,6. Ethnic differences in allelic distribution of IFN-g in South African women but no link with cervical cancer. Journal of Carcinogenesis 2003, 2:3 [6] Stanczuk GA, Sibanda EN, Perrey C, Chirara M, Pravica V, Hutchinson IV and Tswana SA: Cancer of the uterine cervix may be significantly associated with a gene polymorphism coding for increased IL-10 production Int J Cancer 2001, 94:792-794. [7] Ghaderi M, Nikitina L, Peacock CS, Hjelmstrom P, Hallmans G, Wiklund F, Lenner P, Blackwell JM, Dillner J and Sanjeevi CB: Tumor necrosis factor a-11 and DR15-DQ6 (B*0602) haplotype increase the risk for cervical intraepithelial neoplasia in human papillomavirus 16 seropositive women in Northern Sweden Epidemiol Biomarkers Prev 2000, 9:10671070.