XII Salão de
Iniciação Científica
PUCRS
Quando o discurso vai além do reconhecimento formal. O
caso do município de São Borja e a representação de Terra
dos Presidentes
Xana Mendes dos Santos1 Rodrigo F. Maurer (orientador)2
Universidade da Região da Campanha – URCAMP – Campus de São Borja-RS
Resumo
Esse estudo tem como objeto principal de investigação contrapor as possibilidades discursivas
que envolvem o município de São Borja – RS no presente século. Para isso, buscamos
categorizar dois dos principais discursos desta localidade: o primeiro é o de Terra dos
Presidentes; resultado de uma ação política/partidária que busca a identificação com o berço
trabalhista. Destacando-se duas realizações recentes: o Memorial João Goulart (2009) e o
Mausoléu Getúlio Vargas (2004). O segundo é o de Cidade História – reconhecimento
alcançado via decreto estadual de 1994 – o qual é deixado de lado pelos representantes do
poder político com a intenção de justificar o primeiro discurso e torná-lo assim uma
identidade autêntica no município.
Introdução
A iniciativa de analisar a utilização dos discursos e suas aplicações na cidade de São Borja
surgiu com a intenção de explicar o cotidiano que envolve o cidadão samborjense, pois apesar
do discurso de Terra dos Presidentes ser usado como a identidade do município, ele não
possui ampla aceitação, pois como referiu Bauman (2005), a identidade – não tem solidez de
uma rocha, podendo ser perfeitamente negociável e revogável. Sendo que a identidade de
Terra dos presidentes se encaixa no que Bloom (1989) se referiu como “culturas criadas” ou
no que é caracterizado por Castells (1999), como uma identidade de projeto. Colvero &
Maurer (2009) caracterizam que a comunidade em tese deveria ter o direito de escolher os
monumentos que lhe representam, no entanto a impressão que fica é que a mesma é induzida
a representar a contemplação que é conveniente a certos grupos políticos. Esta observação
1
Acadêmica do VI semestre do curso de História da Universidade da Região da Campanha – URCAMP
– Campus de São Borja.
2
Mestre em História Regional pela Universidade de Passo Fundo – UPF. Professor titular do curso de
História da Universidade da Região da Campanha – URCAMP – Campus de São Borja.
XII Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 03 a 07 de outubro de 2011
reflete no discurso de Certeau (2001), quando definiu que o espaço de produção é
caracterizado pelo percurso, sendo ele criado pelo discurso de quem o quer desenvolver.
Sendo que se nem toda a população se identifica, caracteriza o que Elias (1994) descreveu
como a sociedade dos indivíduos, quando existe uma regra geral de cultura, contudo a mesma
não precisa necessariamente ser acompanhada. Onde a tentativa de implementação do
discurso trabalhista conclui – se no que Le Goff (2003) chamou de “memória em série”.
O discurso enquanto centro formador de opiniões atua no sentido de estruturar uma
cultura de massas, para Morin (1990), a cultura de massas constrói tradições e modelos a
serem seguidos a partir de acontecimentos passados. Na cidade de São Borja a representação
matriz do povo é missioneira/fronteiriça, suas raízes estão estabelecidas num contexto que
Maurer (2011) atribuiu como o centro conversor, ou seja, quando ainda a na condição de
redução, São Borja, correspondia a uma continuidade política e cultural dos chamados povos
ocidentais do rio Uruguai - Yapeyu, La Cruz e principalmente de Santo Thomé – fronteira e
redução matriz de São Borja. Nessa linha, dentro de uma análise contemporânea de fronteira,
Pinto (2010) afirma que o cenário em tela (São Borja - Santo Thomé), sempre foi de grande
interesse geopolítico, pois esta no epicentro do Cone Sul.
No sentido patrimonial por estudo do Iphan, ficou registrado em 2006, São Borja
como um dos municípios de maior potencial turístico e patrimonial da região das Missões.
Todo esse atributo histórico motivou o ex- Governador do Estado do Rio Grande do Sul,
Alceu Collares a reconhecer via decreto oficial no dia 10 de outubro de 1994, São Borja como
Cidade Histórica. As narrativas de São Borja tem demonstrado que o princípio da organização
autêntica se faz por conta de um esquecimento voluntário das demais referências históricas,
encaixadas dentro de um universo coletivo de representação que Santos (2004) conceituou
como espaços criados.
Metodologia
A pesquisa foi feita a partir da aplicação de um questionário com a população,
formulado com situações históricas e culturais que o município comporta além dos discursos
de Terra dos Presidentes ou de berço trabalhista. Nesse caso sobressaíram-se lembranças
como o passado missioneiro, o contexto da Guerra do Paraguai, a Moção Plebiscitária (1887),
as festas populares, dentre outros.
Resultados e Conclusão
XII Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 03 a 07 de outubro de 2011
Pelo questionário ficou constatado que o cidadão são-borjense desconhece a existência
do decreto estadual que tombou o município como Cidade Histórica. No caso de São Borja,
esta condição foi registrada e provou ainda que o discurso quando bem trabalhado pode
ultrapassar as condições do registro formal – no caso, o decreto estadual – atingindo assim, a
condição de interpretação coletiva. Provando duas realidades destoantes: a primeira que o
povo são-borjense é conduzido por setores e representantes do poder político a interpretar e
reconhecer a cidade como Terra dos Presidentes. Constatando que o universo político conduz
as representações no sentido de categorizá-las como um discurso autêntico, desfazendo-se
assim das demais, observa-se na condição de Cidade Histórica várias possibilidades de
interpretação e não apenas uma realidade única de representação como se faz registrar pelo
discurso trabalhista.
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vechi. Tradução de Carlos Alberto de Medeiros. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005.
BLOOM, Allan. O declínio da cultura ocidental. 3ª ed. SP: Best Seller, 1989.
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Tradução Klauss Brandini Gerhardt. São Paulo: Paz e Terra,
1999.
CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano.1. A arte de fazer. 6ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
COLVERO, Ronaldo & MAURER, Rodrigo. Legados jesuíticos em São Borja: um patrimônio que sofre na
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ELIAS, Norbert. A sociedade dos indíviduos. Rio de Janeiro: Zahar ed., 1994.
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MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: o espirito do tempo: tradução de Maura Ribeiro Sardinha.
8ª ed. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1990.
MAURER, Rodrigo F. Do um que não é sete: o caso da antiga redução de San Francisco de Borja e a
dinâmica da diferença. Passo Fundo, Rio Grande do Sul: UPF, Universidade de Passo Fundo, 2011.
(Dissertação de Mestrado).
PINTO, Muriel. As fronteiras pós-modernas e suas contribuições para a atratividade turística e cultural:
estudando a fronteira Brasil-Argentina. In: Obervatório de inovação turística – Revista Acadêmica.Volume V
– nº 2 – junho de 2010.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Universidade de
São Paulo, 2004.
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