JÚNIA FERREIRA FURTADO
na hora do acerto de suas contas com o grande comerciante português pediu
“mais a comissão de 10% da cobrança que vim fazer às Minas por sua conta”48.
Manoel Pereira Pinto, caixeiro de uma loja em Santa Luzia da Roça Grande,
Comarca de Sabará, testemunhou nas Devassas Eclesiásticas de 1748, e disse
que sabia de várias coisas quando ia às Macaúbas fazer cobranças49.
A divisão destes comerciantes entre varejistas e atacadistas parece também
ter sido muito tênue. Muitos proprietários de lojas, que vendiam a retalho,
enviavam carregações para o sertão, ou financiavam pequenos comerciantes
fixos ou volantes, tornando complexas as linhas que se teciam entre estes
comerciantes. Domingos Gonçalves Cruz era proprietário de uma loja de tecidos em Vila Rica, possuía uma balança com marcos, sinal de que vendia diretamente ao público, mas também adiantava para uma pessoa trazer carregações
do litoral50.
5. COMERCIANTES VOLANTES
Os comerciantes volantes – viandantes, comboieiros, condutores, tratantes e
mascates – eram essenciais como intermediários do comércio entre as Minas e o
litoral e entre as vilas mineradores e o interior da capitania. Percebe-se que entre
os volantes havia pouca especialização nos estoques carregados51 e muitos não
se dedicaram exclusivamente à atividade comercial, mas aproveitavam-se de viagens ao litoral, para na volta trazer alguma mercadoria e dessa forma também
desfrutarem do lucrativo comércio na área mineradora. Eles carregavam todo
tipo de cargas, entre secos, molhados, cavalos, gado, escravos, couro e fumo.
Lucas Pereira do Lago, natural da Bahia, declarou em seu testamento que estava
“para seguir viagem para as Minas e levo em minha companhia escravos, cavalos e os mais produtos necessários para o caminho e negócio”52 Muitos comerciantes volantes passavam a maior parte do tempo nos trajetos ao longo do próprio caminho, sendo que alguns deles chegavam a não ter residência fixa. Apesar
da diversidade dos estoques carregados, percebe-se entre os volantes a preocupação desses homens de se identificarem a partir de um dos ramos em que o
comércio se dividia, apontando para uma especialização das funções, ou mesmo
para as hierarquias que esse ramo comercial se estruturava, apesar da diversidade
dos estoques que carregavam apontarem para a não especialização do setor.
Luís Miguel Correia afirmou que “homens do caminho”, ou viandantes
eram como se chamavam nas Minas “os que vão comprar e vender mantimentos”53. Três comerciantes se designaram viandantes no caminho para as Minas.
Um foi Rafael Monteiro Heires54, outro foi Jerônimo da Costa Valle, natural de
Barcelos, que possuía seis cavalos com cargas. Quando fez seu testamento,
levava para as Minas trinta e dois escravos entre ladinos e novos e declarou que
tinha dois devedores por empréstimos a juros de 6 e ?% e 1% ao mês55. Joam
Pereira de Alvoredo Montalvão se disse “homem viandante na Barra do Rio das
Velhas, a conduzir cargas”. Deixou dois escravos, malotagem (provisões de
256
Download

na hora do acerto de suas contas com o grande comerciante