RESUMO Projecto de Pesquisa – Comerciantes do Deserto do Namibe (Angola) – Dinâmicas Recentes O deserto do Namibe em Angola, situa-se no litoral Sul numa faixa de cerca de 300 km na sua largura máxima (E/W)e 500 km no sentido N/S. De condições climáticas extremas o território é habitado por diferentes populações, a maior parte pertencentes ao grupo étnico Herero, (Kuvale, Himba, Hakaona, Tjimba), além dos grupos étnicos designados como pré-bantu, (Kuroka, Kwepe, Kwisi e Thwa) e ainda representantes das restantes etnias existentes em Angola. A economia destas comunidades varia desde a de caçadores-recolectores (Kwisi e Thwa) à de criadores de gado bovino, caprino e ovino, os restantes grupos, havendo indivíduos detentores de centenas senão milhares de cabeças de gado bovino. Desde tempos ancestrais, comerciantes provenientes das áreas urbanas e semi-urbanas, deslocam-se a pé, fazendo-se acompanhar de burros para transporte das mercadorias, por esta região árida, permutando os escassos bens que transportam, principalmente por algumas cabras e ovelhas e mais raramente por um boi ou vaca. A maior parte dos valores envolvidos é pequena para um esforço tão grande, no entanto este ciclo repete-se ao longo do tempo, fazendo antever a importância desta função no contexto daquelas sociedades. O que transportam, o que trocam, a forma como são esperados nas áreas de destino, leva a crer que a sua importância excede largamente os escassos bens de que são portadores. Conhecer estes trajectos, os valores em causa, as motivações dos mercadores e em que medida satisfazem as necessidades das populações desta região desértica e semi-desértica é o primeiro objectivo desta pesquisa. Saber até actividade e onde pode ser potencializada esta encontrar formas de incorporar os comerciantes do deserto nos projectos de desenvolvimento, como agentes endógenos e consequentemente privilegiados do desenvolvimento, uma hipótese a construir. O comerciante do deserto como elemento integrado na dinâmica social das comunidades por onde circula e às quais pertence, especializou-se ao longo dos tempos nos produtos que hoje comercializa, desenvolveu capacidades comerciais ligadas à negociação e assim é detentor de um conhecimento profundo sobre as necessidades das populações com quem estabeleceu relações comerciais, estando, portanto, em condições privilegiadas para se constituir num agente do desenvolvimento Para que tal aconteça é necessário que sejam criadas condições para que a sua actividade ultrapasse as limitações da fraca capacidade económica que detém e os constrangimentos causados pela necessidade de se deslocar a pé ou de burro. De igual modo, devem ser valorizados e utilizados os seus conhecimentos sobre as necessidades da população em termos de bens e de contacto com o mundo “exterior”, complementando-os com a transmissão de informação sobre cuidados de saúde, higiene e até de alimentação. Após o fim da guerra em 2003, embora na região não se verificassem confrontos desde 1983, surgiram inúmeros comerciantes, ainda informais, mas que transportam as suas mercadorias em camiões de até 20 toneladas, geralmente de aluguer, obtendo por isso um maior número de animais em troca, incluindo vários bois e vacas. Este novo tipo de comerciantes são funcionários públicos, homens e mulheres de todo o País, sem outra ocupação e que tentam a sorte, enviando depois para Luanda os animais obtidos. Alguns homens de poder locais, também enveredaram por este tipo de negócio, principalmente com vista a adquirir viaturas, mulheres ou mesmo mais gado bovino. O projecto continua o seu desenvolvimento, havendo ainda muita informação para recolher. Samuel Aço