FUNDAMENTOS DE SOCIOLOGIA E
ANTROPOLOGIA
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO NO BRASIL
• A sociologia da religião no Brasil começou a se desenvolver a
partir dos anos setenta do século passado.
• Até então temos diversos estudos que se restringiam aos
aspectos históricos do catolicismo ou do protestantismo e
alguns estudos de características antropológicas.
• O primeiro estudo a partir de dados empíricos de sociologia
da religião publicado no Brasil foi a obra do professor Cândido
Procópio Ferreira de Camargo intitulado Católicos,
Protestantes, Espíritas.
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SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO NO BRASIL
• A preocupação de Cândido Procópio foi pelas religiosidades
instituídas.
• Mas no Brasil a religiosidade é diversa e plural nas suas
múltiplas formas.
• O mesmo campo religioso detém diversas manifestações.
• Os estudos de Carlos Rodrigues Brandão inauguram uma nova
perspectiva de análise da religiosidade introduzindo como
objeto de estudo a religiosidade popular.
• Brandão analisa a religiosidade do povo em sua obra Os
deuses do povo, partindo da idéia de contra-hegemonia.
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SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO NO BRASIL
• Não poderíamos deixar de mencionar o trabalho inaugural de
Roger Bastide (1898-1974).
• Bastide era francês e veio para o Brasil em 1938 para assumir
a cátedra de sociologia no departamento de Ciências Sociais
da Universidade de São Paulo.
• Em 1954 ele retornou para a França e lecionou na École des
Hautes Études en Sciences Socielies e no Institut des Hautes
Études de l 'Amérique Latine.
• Na década de 40 do século vinte Bastide iniciou os seus
estudos sobre a religiosidade afro-brasileira e se tornou
referência nos estudos sobre este tema.
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1. Os estudos sobre Católicos, Protestantes e
Espíritas realizados por Procópio Ferreira
• O livro de Cândido Procópio Ferreira de Camargo Católicos,
Protestantes, Espírita foi o primeiro a trazer reflexões sobre as
mudanças que estavam ocorrendo no panorama religioso
brasileiro.
• As transformações que ocorreram no Brasil com a
industrialização e a urbanização de certa forma quebraram a
hegemonia católica e começou a mostrar a diversidade da
religiosidade brasileira com o crescimento dos protestantes e
dos espíritas.
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• Partindo de uma perspectiva weberiana Procópio Ferreira
analisou a relação entre modernidade e religião no Brasil.
• O livro influenciou toda uma geração de pesquisadores e
produziu vasta descendência intelectual nos estudos da
sociologia da religião.
• O seu objetivo com a obra era entender o que representava a
vida religiosa para a sociedade brasileira.
• O foco da análise é a interpretação da vida religiosa como
ideologia correlacionando com as situações existenciais de
segmentos da população, e cada religião foi estudada como
alternativa ideológica competitiva.
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• O Brasil da década de 70 do século passado tinha 91,8% de
católicos, já no censo de 2000 havia caído para 73,8%.
• O catolicismo no Brasil vem perdendo participação relativa na
religiosidade do povo brasileiro.
• Procópio Ferreira percebeu essa mudança que já estava
acontecendo de forma mais discreta e procurou analisar o
fenômeno a partir das mudanças que estavam ocorrendo no
Brasil e o impacto sobre a religiosidade católica.
• Para estudar o catolicismo e as outras religiosidades ele vai
construir uma tipologia.
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• A tipologia do catolicismo no Brasil contempla o catolicismo
tradicional rural, catolicismo tradicional urbano, catolicismo
internalizado rural e catolicismo internalizado urbano.
• Para formular a tipologia Procópio Ferreira levou em consideração
dois conceitos: o de tradição e o de internalização.
• Tradicional é o comportamento social fundado nos costumes, não
há nesse caso consciência plena dos valores religiosos que inspiram
normas e papéis sociais, a tradição é quem legitima essas normas e
papéis sociais.
• Já a internalização se caracteriza pelo fato do indivíduo perceber os
valores reliosos. Nesse caso pode ocorrer tensão entre os valores
tradicionais e os aceitos pelo indivíduo consciente dos elementos
constituintes da sua religiosidade.
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• A tipologia construída para analisar o protestantismo foi
constituída por dois pólos: protestantismo de imigração e de
conversão.
• Partindo dessa classificação ele analisa o processo de
formação da Igreja Luterana que encontra expressão
principalmente no sul do Brasil entre imigrantes alemães.
Nesse caso os luteranos ligados as colônias são descritos
como núcleo fechado, cultural e linguisticamente.
• Observa também uma tendência a abandonar os padrões de
auto-preservação e que se encontrariam em fase inicial de
assimilação à cultura brasileira.
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• Já o protestantismo de conversão é analisado a partir da idéia
de grupo minoritário e por isso com tendência a um modo
mais intenso de vivência e sentimentos religiosos.
• Assim o protestantismo é visto como uma comunidade que
mantém uma dissemelhança ao mundo religioso brasileiro
marcado pelo catolicismo e tendendo ao isolamento social.
• Quando analisado a partir das classes sociais o protestantismo
de conversão é ligado a pequena burguesia, o proletariado
urbano e a aristocracia rural decadente.
• A função principal ligada a conversão ao protestantismo
estaria a de mudança social e com isso um estabelecimento
de um novo padrão de comportamento inspirado na ética
puritana.
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• Já o pentecostalismo atingiu as classes mais pobres e com
mudança de conduta de natureza sacral.
• O agrupamento recrutado pelas igrejas pentecostais são
determinados setores da população urbana e suburbana do
Brasil com características de desorganização social diante do
aparecimento de novas formas de produção.
• Como se encontram despreparado para participar de modo
efetivo na sociedade urbano-industrial a função do
pentecostalismo será de dois tipos: as que levam à integração
social e as de natureza terapêutica.
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• Já as religiões mediúnicas no Brasil são analisadas a partir de
duas vertentes: o Espiritismo Kardecista e a Umbanda.
• O Espiritismo Kardecista é analisado a partir da perspectiva de
uma compreensão sacral do mundo, como uma religião que
dá significado ao fiel em termos de orientação de vida.
• O estilo racional da doutrina Kardecista atinge uma minoria
intelectual que busca formas de inovação face aos quadros
ideológicos predominantes no Brasil.
• Ele preenche certas expectativas de pensamento racional com
a vantagem de não se encontrar comprometido com a
dessacralização e a neutralidade axiológica que são
pressupostos da filosofia da ciência.
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• A Umbanda é analisada como religião sincrética que reúne
elementos das religiões africanas, traços religiosos indígenas e
influências católicas e espíritas. É uma religião de massa que
apresenta soluções sacrais as problemáticas específicas da
população pobre urbana do Brasil.
• A hipótese construída por Procópio Ferreira é que existe a
formação de um gradiente Kardecismo-umbandista que se
caracteriza pelo fenômeno da mediunidade.
• No pólo Kardecista predomina a corrente favorável a
“mediunidade consciente”, no qual o médium preserva a
consciência durante o transe. Por sua vez, na Umbanda
prevalece a “mediunidade inconsciente” em que o médium
atuaria sob o total domínio do espírito.
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2. A religiosidade popular na obra de Carlos Rodrigues
Brandão.
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A obra Deuses do Povo foi a tese de doutorado de Carlos Rodrigues
Brandão na Universidade de São Paulo na qual defende que a
melhor forma de compreender a cultura popular é estudando a
religião.
A religião tem a característica de dar nome as coisas e tornar o
incrível possível. No caso da cultura popular a religião é a forma de
explicação mais usual da realidade.
Brandão focou os seus estudos sobre a religião popular e sobre os
seus agentes: o rezador, o capelão, o chefe de grupo ritual de
camponeses ou de negros, o pai-de-santo, o feiticeiro de esquina, o
presbítero de pequena seita, o curador e a benzedeira.
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A sua pesquisa de campo foi em Itapira interior de São Paulo,
como Procópio Ferreira ele identificou a presença das três
áreas confessionais predominantes no país (católicos,
protestantes, espíritas).
Mas além dos templos tradicionais e de seus funcionários
havia também uma série de sacerdotes iniciantes e
invenções confessionais em teste.
Brandão percebeu que entre os produtores da religião
popular havia uma vocação para a resistência, para a
recuperação de modos tradicionais de crença ou a criação de
novas formas religiosas novas.
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O agente religioso é analisado da perspectiva da sua origem, enquanto o
sacerdote ou profeta são oriundos de fora da cidade, os rezadores são
sujeitos de sua própria comunidade, os senhores do mistério –
curandeiros, mães-de-santo, feiticeiros, mesmo quando naturais
aprenderam fora as artes do ofício e retornaram especialistas nas artes
do ofício.
Com relação a preparação dos agentes religiosos ele identifica os
especialistas que passaram por um programa regular de formação
religiosa equivalente à de nível superior (no caso de Itapira os padres da
paróquia e o pastor presbiteriano).
No nível intermediário os agentes religiosos passavam por uma formação
religiosa rápida, ou estudaram por correspondência, a ênfase era a
formação na prática (pastores da Assembléia de Deus, anciãos da
Congregação Cristã no Brasil, Adventistas e Kardecistas).
Já os agentes religiosos populares são os mais irregulares na sua
trajetória de especialização e prática religiosa
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• Com relação aos usuários dos serviços religiosos
Brandão faz a distinção entre leigos, fiéis e clientes.
• Os leigos são aqueles que se tornam membros
através de ritos já previamente determinados, a sua
participação acontece através de rotinas pré
estabelecidas de caráter sacramental além de um
envolvimento nas atividades do grupo confessional
que podem ser grupos internos de organização,
trabalhos regulares de docência como a catequese
ou escola dominical, a representação ativa do grupo
e trabalhos de assistência social.
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• Por sua vez os fiéis são os sujeitos de vida religiosa
rotineira, nesse caso a diferença com o leigo é que os
fiéis não são elementos produtores do trabalho
religioso, são consumidores. Eles se caracterizam por
serem consumidores exclusivos mas controlam a
freqüência e a sua qualidade de participação na vida
religiosa em um engajamento inferior ao do leigo.
• Na posição contrária ao leigo temos o cliente que é o
sujeito religioso não-afiliado exclusivo. Estes
procuram os serviços religiosos de forma esporádica
e ditada por necessidades pessoais.
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• Para Brandão o grande antagonismo de classes não acontece
entre as religiosidades oficiais, mas dentro do próprio campo
religioso em que o erudito é antagônico ao popular, são
domínios opostos.
• A dominação secular é revestida pela religião erudita que
dialeticamente sofre a resistência da religiosidade popular.
• A hostilidade no campo religioso segue uma lógica de
proximidade, o espírita Kardecista pode ser muito mais
rigoroso com a prática do umbandista, o pastor protestante
com a igreja pentecostal independente e o padre católico com
as manifestações populares dentro da paróquia.
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• As religiões Afrobrasileiras na perspectiva de
Roger Bastide.
• Os estudos sobre a religiosidade afro-brasileira sofreram a
forte influência do professor Roger Bastide. Os seus estudos
analisam o Candomblé como forma de preservação do
patrimônio étnico dos antigos escravos.
• As mudanças ocorridas desde a sua morte em que o
Candomblé especificamente tornou-se uma religião posta no
mercado não foram objeto de sua análise.
• Esse fato é importante, pois o Candomblé analisado por
Bastide mantinha as características próximas do seu contexto
de formação.
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• A grande característica dos estudos de Bastide sobre
as religiosidades africanas foi encará-las como algo
normal incorporado na cultura e que o estudo
deveria procurar entender a lógica dos praticantes.
• A sua primeira constatação nos estudos do
candomblé foi verificar que ele estava tratando de
uma religião complexa e hierarquizada.
• A mística africana deve ser diferenciada da mística
cristã e deve ser entendida como um mundo místico
autônomo.
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• Uma das primeiras coisas que devemos observar na questão
da religiosidade dos negros é que a escravidão destruiu as
estruturas sociais africanas, mas os valores foram
conservados.
• Para esses valores poderem subsistir eles tiveram que forma
novos quadros sociais. Isso significa que tiveram que produzir
uma sociedade e isso ocorreu em um movimento de cima
para baixo em que os valores dessas representações coletivas
reestruturaram as instituições e os grupos.
• Outro importante fator considerado por Bastide foi que as
religiões africanas eram mais fiéis, mais puras e mais ricas nas
Cidades onde os fatores negativos da escravidão foram mais
amenos
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• A manutenção das religiões africanas deve ser vista na
perspectiva de um dualismo entre classes opostas.
• O negro não podia se defender materialmente contra um
branco que detinha todos os direitos, assim ele se refugiou
nos valores místicos, os únicos que o homem branco não
podia lhe arrebatar.
• Nesse sentido a aculturação do negro não deve ser entendida
como desaparecimento total das civilizações nativas.
• No Brasil rural temos a desafricanização do negro ao mesmo
tempo em que temos a africanização do branco, com a
formação de uma cultura mestiça.
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• O mundo do candomblé é composto por mitos, ritos
e divindades que organizam a realidade através de
posições religiosas bem definidas.
• Assim o mundo religioso determina o status do
indivíduo através de obrigações e encargos, e quanto
mais ele carrega consigo menos liberdade e mais
tabus lhe são impostos.
• O sistema ético do candomblé é marcado pela
solidariedade e reciprocidade como uma exigência
das divindades.
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• Um dos conceitos mai importante elaborado por
Bastide foi o de “sagrado selvagem” que parte da
recorrência do sagrado no candomblé da Bahia.
• Para ele o homem é uma máquina de fazer deuses e
que na medida em que o sagrado vai esfriando nas
diversas religiosidades ele recria o sagrado “quente”
que é o “sagrado selvagem” que ainda não foi
domesticado pelas instituições religiosas.
• A domesticação do sagrado é visto de forma positiva
no sentido da permanência do mesmo em forma de
comemoração e liturgia.
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