Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 ANÁLISE ESTRUTURAL E POLIMORFISMO MOLECULAR Lóide O. Sallum (UNUCET)*, Maurício S. Oliveira (UNUCET)** e Hamilton B. Napolitano (UNUCET) *Bolsista CAPES ([email protected]) **Bolsista PIBITI/CNPq INTRODUÇÃO As chalconas constituem um importante grupo de produtos naturais considerados compostos intermediários essenciais nas plantas. As chalconas possuem um esqueleto comum de 1,3 diaril-2-propen-1-ona o qual é caracterizado por uma cadeia aberta insaturada com dois anéis aromáticos ligados à essa cadeia insaturada (PÉREZ et al., 2005; WU et al., 2011). As chalconas têm recebido grande atenção pelo fato de possuírem uma estrutura simples e com grande variedade de atividades farmacológicas reportadas como, por exemplo, ação anti-inflamatória, antibacteriana, diuréticas, antimalarial e antifúngica (SREEDHAR et al., 2010). As chalconas e seus análogos são usados como potenciais agentes terapêuticos em doenças do sistema cardiovascular e podem exibir atividades gastro protetoras, entre outras propriedades biológicas (VANCHINATHAN et al., 2011). Dentre as chalconas naturais e seus análogos sintéticos muitos compostos mostram citotoxicidade para cultura de células tumorais (ROZMER et al., 2006; RAO, et al., 2009). Polimorfismo molecular é a existência de mais de uma forma cristalina de uma mesma substância química. O polimorfo é uma fase cristalina sólida de um dado composto, resultado a partir da possibilidade de pelo menos dois diferentes arranjos de moléculas no estado sólido. Os polimorfos possuem a mesma composição, mas diferentes estruturas e propriedades. Essas formas diferem em suas dimensões de cela unitária e arranjo atômico (NAPOLITANO et al., 2005). No mundo das moléculas bioativas, função e estrutura estão inter-relacionadas. O conhecimento da configuração absoluta e as conformações dessas moléculas são úteis para o entendimento das propriedades químicas, físico-químicas e biológicas dos compostos (GLUSKER et al., 2010). Diferentes polimorfos de um dado composto têm diferentes propriedades físicoquímicas: ponto de fusão, ponto de ebulição, condutividade, volume, densidade, cor, morfologia, higroscopicidade, solubilidade, dissolução, estabilidade química. Um composto orgânico, incluindo a maioria dos fármacos, está inclinado a formar muitos polimorfos no estado sólido (BRANDÃO, 2006; MATTEI et al., 2011). O fenômeno do polimorfismo representa um desafio para a indústria farmacêutica que pretende desenvolver drogas de qualidade consistente. O polimorfismo influencia a biodisponibilidade, estabilidade e exibe diferentes solubilidades de um fármaco. Para conseguir o efeito terapêutico é necessário que o fármaco esteja bio disponível, ou seja, esteja disponível no sítio de ação. A propriedade física, no estado sólido, dos fármacos pode afetar diretamente a estabilidade físico-química do produto acabado (BLAGDEN et al., 2007; LI et al., 2011). A descoberta de um novo polimorfo, mesmo que seja metaestável, mas que possa ser produzido de forma controlada por uma empresa farmacêutica concorrente, é uma ameaça à patente de uma empresa sobre o seu princípio ativo (LARIUCCI et al., 2008). A Cristalografia é um método que fornece o conhecimento da disposição 1 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 tridimensional dos átomos da estrutura molecular para compostos no estado cristalino quando expostos a radiação X, não necessitando nenhum conhecimento a respeito do composto a priori (GIACOVAZZO et al., 2002). A estrutura de um cristal pela difração de raios-X permite detalhes do conteúdo do cristal a nível atômico (GLUSKER et al., 2010). A técnica de difração de raios-X permite obter detalhamento de toda a característica molecular, isto é, distâncias interatômicas, ângulos de valência, conformação molecular e empacotamento cristalino (NAPOLITANO et al., 2005). A configuração absoluta e os parâmetros de estrutura são pré-requisitos para o desenho de drogas e o estudo funcional baseado na estrutura. Avanços no desenvolvimento de programas computacionais têm reduzido o tempo de resolver e refinar a estrutura de dias para semanas a horas. Estudos pela difração de raios-X provê informações na conectividade química, configuração absoluta e interações de biomoléculas (DESCHAMPS, 2010). Conhecendo as atividades biológicas inerentes às chalconas fornecemos dados da característica estrutural do composto molecular (E)-3-(4-hidroxi3,5-dimetoxifenil)-1-p-toluilprop-2-en-1-ona (C18H18O4). METODOLOGIA CRISTALOGRÁFICA O composto cristalizou através do sistema de simples evaporação (CUNHA, 2008). Esse mostrou formação de cristais incolores e hábito bem definidos. A estrutura do monocristal foi determinada pela difração de raios-X. Os dados foram obtidos a partir do difratômetro KappaCCD com radiação monocromática MoK . A estrutura cristalina foi resolvida por Métodos Diretos, através do programa SHELXS-97, e refinada pelo método dos Mínimos Quadrados, através do programa SHELXL-97, utilizando o pacote de programas WinGX (FARRUGIA, 1999; SLUIS et al., 1990). Os átomos de hidrogênios foram colocados calculadas as posições. Estrutura cristalina do (E)-3-(4-hidroxi-3,5-dimetoxifenil)-1-p-toluilprop-2-en-1-ona apresentou como índices finais: R1 = 0.064 e wR2 = 0.1932 para 445 parâmetros refinados. Os parâmetros cristalográficos para o composto C19H22O5 são: peso molecular = 330.38, triclínico, grupo espacial P , Z = 4, a = 8.6510 , b = 12.0150 , c = 17.7860 , V = 1762.9, 8707 reflexões medidas (Rint = 0.0579). RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 A análise estrutural revelou duas moléculas do composto na unidade assimétrica, coordenadas com duas moléculas de solvente através de ligações de hidrogênio. A estrutura consiste de uma cadeia insaturada de três membros de um grupo propanona ligado ao anel fenil e à hidroxila, e ainda um anel toluil ligado por um carbono através de uma simples ligação. A estrutura é estabilizada por interações intermoleculares entre um átomo de oxigênio da molécula de solvente e o átomo de hidrogênio da hidroxila da molécula C18H18O4 mais próxima, como também entre o átomo de hidrogênio do solvente e o oxigênio do metoxil da molécula C18H18O4 vizinha e a interação entre o hidrogênio do solvente e átomo de oxigênio da cetona da molécula C18H18O4. A existência dos polimorfos freqüentemente apresenta um sério problema na indústria farmacêutica, desde propriedades físicas do cristal que são freqüentemente 1 Bolsista CAPES PIBITI/CNPq 2 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 usadas como critério para controle de qualidade e, portanto para a efetividade de uma dada preparação. Polimorfos são freqüentemente obtidos quando cristais crescem sob condições diferentes. É conhecido que a formação de estruturas cristalinas distintas de uma mesma molécula é influenciada pelos fatores cinéticos e termodinâmicos, incluindo tipos de solventes e uso de aditivos (MATTEI et al., 2011). Uma conformação molecular estável corresponde a um mínimo no gráfico de energia potencial versus aqueles parâmetros moleculares representando aquela conformação. Moléculas flexíveis com simples ligações podem interconverter em diferentes conformeros, provido de energia suficiente (BUTTAR et al., 1998; GLUSKER et al., 2010). As chalconas têm conduzido a um interesse químico e bioquímico pelo fato dessas substâncias mostrarem atividades farmacológicas potentes e relevantes. As informações cristalográficas, em níveis atômicos, são fundamentais no entendimento da relação entre estrutura e atividade para o composto C18H18O4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLAGDEN, N.; de MATAS, M.; GAVAN, P.T.; YORK, P. Crystal engineering of active pharmaceutical ingredients to improve solubility and dissolution rates. Advanced Drug Delivery Reviews, v. 59, p. 617 - 630, abr./maio 2007. BRANDÃO, A. L. Influência do polimorfismo na farmacotécnica de cápsulas no setor magistral. Revista Racine, v. 91, p. 01 - 28, mar./abr. 2006. BUTTAR, D.; CHARLTON, M. H.; DOCHERTY, R.; STARBUCK, J. Theoretical investigations of conformational aspects of polymorphism. 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