Rafaela Oliveira Barcelos Ocorrência de endoparasitoses, com potencial zoonótico em cães (Canis familiaris) domiciliados, nos Municípios de Niterói e São Gonçalo, RJ. Análise comparativa Rio de Janeiro/RJ 2013 Rafaela Oliveira Barcelos Ocorrência de endoparasitoses, com potencial zoonótico em cães (Canis familiaris) domiciliados, nos Municípios de Niterói e São Gonçalo, RJ. Análise comparativa Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de pós graduação, especialização de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais do CESMAC - Fundação Educacional Jayme de Altavila, orientada pela Profa. Doutora Namir Santos Moreira. Rio de Janeiro/RJ 2013 Rafaela Oliveira Barcelos Ocorrência de endoparasitoses, com potencial zoonótico em cães (Canis familiaris) domiciliados, nos Municípios de Niterói e São Gonçalo, RJ. Análise comparativa Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de pós graduação, especialização de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais do CESMAC - Fundação Educacional Jayme de Altavila, orientada pela Profa. Doutora Namir Santos Moreira. . Rio de Janeiro/RJ, _______ de __________________ de 20___ – Orientador – Rio de Janeiro/RJ 2013 Agradecimento A Deus, por estar à frente da minha vida, me capacitando a cada dia em prol de um sonho; Aos meus pais Dinei e Vilma, por acreditarem em mim, e por isso, não mediram esforços para que eu chegasse até aqui. Tudo que sou, agradeço a vocês; A minha irmã Renata pela sua amizade e incentivo; Ao meu avô, Genário Barcelos (in memória) pelo seu exemplo de honestidade; A minha orientadora Namir Santos Moreira, pela paciência, confiança e amizade; Aos mestres pelos seus ensinamentos; A todos que direta ou indiretamente, colaboraram para a realização deste trabalho. A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original. Albert Einstein. Resumo As parasitoses gastrointestinais estão entre as doenças mais importantes dos cães, principalmente os jovens e neonatos. Além disso, o cão assume o papel de hospedeiro definitivo de várias parasitoses com potencial zoónotico, o que tem sido largamente estudado e reconhecido como um importante problema de saúde pública. O presente estudo teve como objetivo avaliar a incidência de endoparasitoses gastrointestinais de cães (Canis familiaris) através da análise de fezes recebidas pelo PCA- Centro de Diagnóstico Veterinário, de cães domiciliados nos Municípios de Niterói e São Gonçalo, pelas técnicas de Willis, Hoffman e Faust, realizadas no Laboratório de Doenças Parasitárias e Parasitologia do Centro Universitário Plínio Leite – Campus Itaboraí, como também o teste ELISA, que consiste em um teste imunoensaio enzimático rápido para detecção de antígeno de Giardia sp. em cães e gatos. Com sensibilidade e especificidade de 99,9%. Os resultados demonstraram 57,1 % dos cães domiciliados positivos para uma ou mais endoparasitoses. Palavras-chave: Endoparasitoses, cães, zoonose, Saúde Pública. Listas de Ilustrações, Quadros e Gráficos Lista de Ilustrações: Figura 1: Aparelho bucal, extremidade anterior- Ancylostoma caninum ................... 05 Figura 2: Larva de Ancylosma caninun........................................................................ 05 Figura 3: ovo típico de Ancylostoma caninum............................................................. 05 Figura 4: Ciclo biológico do Ancylostoma sp. no cão.................................................. 07 Figura 5: Ciclo biológico do Ancylostoma sp. no homem .......................................... 08 Figura 6: Bicho geográfico (A. braziliense). ............................................................... 10 Figura 7: Ovo de Toxora canis. .................................................................................. 14 Figura 8: Tocorara canis no intestino delgado de cão. ............................................... 14 Figura 9: Lesão ocular em criança causada por larva de Toxocara sp........................ 18 Figura 10: Ovo de Trichuris vulpis.............................................................................. 21 Figura 11: Trichuris vulpis adulto no ceco de cão....................................................... 21 Figura 12: Ciclo Evolutivo Trichuris trichiura. .......................................................... 22 Figura 13: Criança com prolapso retal por Trichuris trichiuria.................................. . Figura 14: Morfologia da Giardia lamblia.................................................................. 24 Figura 15: Formas evolutivas e transmissão de Giardia sp........................................ 29 27 Figura 16: Materiais utilizados na técnica de Willis ................................................... 34 Figura 17: Método de Faust ....................................................................................... 36 Figura 18: Centrífuga para realização da técnica de Faust ........................................ 36 Figura 19: Materiais utilizados na técnica de Hoffman .............................................. 37 Figura 20: Kit ELISA................................................................................................... 38 Figura 21: 1ª Etapa do Teste ELISA............................................................................ 39 Figura 22: 2ª Etapa do Teste ELISA. .......................................................................... 39 Figura 23: 3ª Etapa do Teste ELISA .......................................................................... 40 Figura 24: 4ª Etapa do Teste ELISA ........................................................................... 40 Figura 25: 5ª Etapa do Teste ELISA............................................................................ 41 Figura 26: Oocisto de Eimeria sp. .............................................................................. . Figura 27: Oocisto de Isospora sp .............................................................................. 43 43 Figura 28: Ovo de Toxocara sp.................................................................................... 43 Figura 29: Ovos de Ancylostoma sp ............................................................................ 43 Figura 30: Ovos de Trichuris vulpis .......................................................................... 43 Listas de Gráficos Quadro 1: Porcentagem de endoparasitos nas amostras de fezes de cães analisadas.................................................................................................................... 44 Quadro 2: Porcentagem de endoparasitos gastrointestinais em cães nos Municípios de Niterói e São Gonçalo........................................................................ 46 Quadro 3: Ocorrência (%) de endoparasitoses mistas................................................ 47 Quadro 4: Porcentagem de infecção por endoparasitas em cães domiciliados em apartamentos e casas, nos Municípios de Niterói e São Gonçalo............................. 48 Quadro 5: Número de amostras positivas por diferentes técnicas parasitológicas . 49 Quadro 6: Parasitismo por Giardia sp. em função da faixa etária............................. 50 Gráfico 1: Amostras de fezes de cães avaliadas para a presença de endoparasitoses.......................................................................................................... 42 Gráfico 2: Frequência de parasitos encontrados nas amostras fecais de cães provenientes do Município de Niterói......................................................... 45 Gráfico 3: Frequência de parasitos encontrados nas amostras fecais de cães provenientes do Município de São Gonçalo.................................................. 46 Gráfico 4: Número de amostras analisadas em função do tipo de domicílio e o Município que reside.................................................................................................. 49 Gráfico 5: Número de amostras analisadas em função do tipo de domicílio e o Município que reside............................................................................................ 50 Gráfico 6: Porcentagem de infecções por parasitose intestinais, segundo a faixa etária.................................................................................................................. 51 Lista de Abreviaturas: siglas, símbolos e acrônimos OMS: Organização Mundial de Saúde cm: Centímetros µm: micrometro L1: larva de primeiro estágio L2: larva de segundo estágio L3: larva de terceiro estágio IgE: Imunoglobulina E IgG: Imunoglobulina G LMV: Larva Migrans Visceral LMC: Larva Migrans Cutânea %: Porcentagem PCR: polimerase chain reaction g: Grama NaCl: Cloreto de sódio ≤: menor ou igual SP: São Paulo SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO............................................................................................. 01-02 2 – REVISÃO DA LITERATURA..................................................................... 03-32 3 – MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 33-41 4- RESULTADOS............................................................................................... 42-51 5-DISCUSSÃO.................................................................................................... 52-55 6- CONCLUSÃO................................................................................................. 56 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 57-60 1) INTRODUÇÃO As doenças mais importantes afetando os cães são as parasitoses gastrointestinais, os mais acometidos são os jovens e recém-natos. Além disso, atuam como animais sentinelas, pois são hospedeiros definitivos de várias parasitoses com potencial zoónotico, ocasionando risco para saúde pública. A crescente aquisição de cães como animais de companhia tem aumentado o número de pessoas expostas ao risco de contrair infecções por parasitos zoonóticos. (ibib.). Dentre eles destacam-se as formas larvares de Ancylostoma spp.(larva migrans cutânea) e de Toxocara canis (larva migrans visceral) (LABRUNA et al., 2006). A presença de infecções por esses parasitos podem também, ser responsáveis por diarréia, caquexia, anemia (Ancylostoma sp.), convulsões e obstruções intestinais (Toxocara canis) em cães (VELHO et al., 2007). Larvas migrans viscerais de Trichuris vulpis, outro parasita de cães, já foi reportadas também em seres humanos. (LEITE et al.,2004). Silva et al. (2008) em seu estudo constatou alta prevalência de protozoários em cães jovens, sendo que nestes animais o gênero Giardia sp. foi encontrado em 38,6% das amostras fecais. Este é o parasita mais comum encontrado afetando seres humanos no mundo. E, estudos demonstram que algumas espécies ou genótipos desses protozoários podem ser compartilhados entre humanos e cães, especialmente em áreas urbanas (VELHO et al., 2007). A doença, Giardíase, nas diferentes espécies é caracterizada por determinar fezes pálidas e de odor forte, esteatorréia (BECK et al.,2005). Para Vasconcellos et al. (2006), o estudo do parasitismo em animais de estimação vem despertando grande interesse, frente à associação restrita entre o homem e os animais e sua conseqüência para a saúde pública. Dado ao estreito convívio dos cães com o homem torna-se fundamental controle adequado das endoparasitoses canina, com o objetivo de diminuir a contaminação do meio ambiente pelas formas infectantes destes parasitos e, consequentemente, minimizar os riscos de infecção humana e canina (ROBERTSON et al., 2000). Um ponto importante em um programa de controle de verminoses nos centros urbanos é com os cães errantes. Eles estão geralmente excluídos de qualquer programa, embora assumam grande importância na manutenção e disseminação destas parasitoses no meio urbano. Por outro lado, cães domiciliados também devem assumir importância na contaminação de locais públicos, uma vez que estes locais também são intensamente visitados por estes animais, ao passearem com seus proprietários (LABRUNA et al., 2006). Considerando que o conhecimento sobre zoonose é essencial sob o ponto de vista da saúde pública, o presente trabalho objetivou avaliar a ocorrência de endoparasitoses com potencial zoonótico, em cães domiciliados, nos Municípios de Niterói e São Gonçalo, utilizando diferentes métodos de diagnóstico parasitológico. 2) REVISÃO DE LITERATURA 2.1.) Parasitoses intestinais de cães Os estudos sobre verminoses intestinais em cães vêm despertando expressivo interesse devido ao convívio restrito entre homem e animais e sua conseqüência na saúde coletiva (FERREIRA et al., 2006). Embora as zoonoses parasitárias não sejam causa freqüente de óbitos em humanos, causam alergias, diarréias, anemias, despesas com diagnóstico, tratamento e perdas econômicas, como a redução da produtividade (CORRÊA et al.,1998; BLAZIUS et al., 2005). Como exemplo de zoonoses de importância em saúde pública, podemos citar a toxocaríase ou Larva Migrans Visceral (LMV), que se caracterizam pela migração do estágio larval de Toxocara canis ou T. cati pelas vísceras humanas e a Larva Migrans Cutânea (LMC), responsável pela migração de larvas de nematóides pelo tecido epitelial provocando dermatite, sendo que no Brasil, Ancylostoma braziliense e A. caninum, constituem os principais agentes envolvidos (GUIMARÃES et al. , 2005). A G.lamblia, parasito cosmopolita, tem como reservatório além do homem, diversas espécies de animais silvestres e domésticos, sendo considerada pela OMS (organização mundial de saúde) uma zoonose (COURA, 2008). 2.1.1.) Ancylostomíase 2.1.1.1) A Doença A ancilostomíase é descrita como uma infecção intestinal causada por um nematóide, o Ancylostoma sp., que leva a anemia, fraqueza e crescimento prejudicado (FOREYT, 2005). Pode apresentar-se assintomática, quando as infecções são leves, porém, em crianças com parasitismo intenso pode se manifestar com hipoproteinemia e baixo desenvolvimento físico e mental. Freqüentemente, acarreta anemia ferropriva, dependo da severidade da infecção. Dentre as complicações estão: anemia, hipoproteinemia, podendo ocorrer insuficiência cardíaca e anasarca. Pode, ainda, causar hemorragia e pneumonite, quando há migração das larvas através dos pulmões (COURA, 2008). Urquhart (1998) relatava em razão das suas atividades hematófagas no intestino, que o Ancylostoma sp era responsável por ampla morbidade em animais. Ancylostoma caninum e braziliense, parasitos do cão e gato, podem infectar o homem por via cutânea produzindo a larva migrans cutânea, parasitismo vicariante ou incompleto. (COURA, 2008). 2.1.1.2) Agentes Etiológicos 2.1.1.2.1) Classificação Filo Nemathelminthes (Schneider, 1873) Classe Nematoda (Rudolphi, 1808) Ordem Strongylida Molin, 1861 Superfamília Ancylostomatoidea (Chabaud, 1965) Família Ancylostomatidae (Looss, 1905) Subfamília Ancylostomatinae (Looss, 1905) Gênero Ancylostoma (Dubini, 1843) Ancylostoma braziliense Faria, 1910 Ancylostoma caninum (Ercolani, 1859) 2.1.1.3) Identificação São facilmente identificados pelo seu tamanho (1 a 2 cm), sendo bem menores que os nematóides ascarídeos comuns que também são encontrados no intestino delgado e pela postura característica “em gancho”. A cápsula bucal é grande com dentes marginais, havendo três pares (URQUHART, 1998). Os ovos possuem dimensões de 60 x 40 µm (FOREYT, 2005). Características Morfológicas do Ancylostoma sp. Figura 1: Aparelho bucal, extremidade Figura 2: Larva de Ancylosma caninun anterior- Ancylostoma caninum Fonte: www.catnmore.com Fonte: www.catnmore.com Figura 3: ovo típico de Ancylostoma caninum Fonte: www.akiraso.home.mindspring.com 2.1.1.4) Epidemiologia e Distribuição Esta parasitose é de distribuição universal. No Brasil, predomina nas áreas rurais, estando muito associada a áreas sem saneamento e cujas populações têm como hábito andar descalças (OLIVEIRA E SEQUEIRA, 2002). Nas áreas endêmicas, a doença é mais comum nos cães com menos de um ano de idade. Nos animais mais velhos, o desenvolvimento gradual de resistência etária torna menos provável à doença clínica, particularmente em cães criados em áreas endêmicas cuja resistência etária é reforçada pela imunidade adquirida (URQUHART, 1998). A epidemiologia está, sobretudo, associada com as duas principais fontes de infecção, a transmamária em filhotes lactantes e a percutânea ou oral a partir do ambiente (URQUHART, 1998). Segundo Velho et al. (2005), pode ser encontrada em animais de diferentes faixas etárias. 2.1.1.5) Ciclo Evolutivo O ciclo evolutivo é direto. A infecção dar-se por penetração percutânea ou por ingestão oral de ovos, ambos os métodos sendo igualmente bem sucedidos. Na infecção percutânea, as larvas migram via circulação sanguínea para os pulmões, onde se transformam em L4 nos brônquios e na traquéia, e em seguida são deglutidas e vão para o intestino delgado, onde ocorre a muda final. Se a infecção for por ingestão, as larvas podem ou não penetrar na mucosa bucal e sofrer migração pulmonar já descrita ou ir diretamente para o intestino e tornar-se patente. Qualquer que seja a via adotada, o período pré-patente é de 14 a 2 dias (URQUHART et al., 1998). Figura 4: Ciclo biológico do Ancylostoma sp. no cão. Fonte: www.akiraso.home.mindspring.com Acesso 29 de março, 2009. Figura 5: Ciclo biológico do Ancylostoma sp. no homem Fonte: www. atlas.or.kr -Acesso 29 de março de 2009 Os ovos embrionados, quando eliminados com as fezes no solo, as larvas de L1 eclodem em 24-48 horas, evoluem para L2 e em quatro a cinco dias transformam-se em larvas filarióides (L3) infectantes. Ao penetrarem na pele as larvas filarióides mortas provocam uma dermatite pruriginosa (COURA, 2008). 2.1.1.6) Transmissão Ocorre através da penetração cutânea de larvas ou pela ingestão de ovos, além deste, a infecção transmamária também é possível, quando a larva passa do leite materno para os filhotes (URQUHART et al., 1998). Segundo Fortes (2004), a via mais comum de infecção nos cães é a via oral (infecção passiva), que se dá em conseqüência dos hábitos alimentares destes animais. O contato com solo contaminado por fezes de cães ou com as próprias fezes contendo o parasito pode ser responsável pelo aparecimento de casos de larva migrans cutânea. Isso é particularmente comum em áreas com alta umidade, especialmente entre banhistas que passeiam em areia molhada contaminada por larvas deste parasito (FILHO et al., 2008). Não há transmissão de pessoa a pessoa, entretanto, o homem pode contaminarse através do contato direto com o cão, água ou alimentos contendo ovos de parasitas, ou por penetração ativa das larvas de Ancylostoma sp. na pele. São descritas, afecções entéricas provocadas por formas adultas de Ancylostoma caninum como também a pela ingestão acidental de ovos larvados destes parasitas presentes no solo (geofagia), em fômites ou nas mãos (LEITE et al., 2004). 2.1.1.7) Sintomas Nas infecções agudas, há anemia, e ocasionalmente dificuldade respiratória. Nos cães lactentes, anemia pode ser grave e acompanhada de diarréia, com presença ou não de sangue e muco (URQUHART, 1998). A sintomatologia respiratória pode ser oriunda da lesão larval nos pulmões ou dos defeitos anóxicos da anemia (FORTES, 2004). Nas infecções crônicas, segundo Urquhart (1998), o animal está usualmente com peso abaixo do normal, a pelagem é escassa, há perda de apetite e pode haver pica. Há sinais de dificuldade respiratória, lesões cutâneas e claudicação. Em humanos, o Ancylostoma caninum é responsável por casos de enterite eosinofílica e dor abdominal inexplicada com eosinofilia periférica (GUIMARÃES et al.,2005). 2.1.1.8) Larva Migrans Cutânea As Ancilostomíases são estudadas com grande interesse em saúde pública, visto que suas larvas são responsáveis em causar a larva migrans cutânea (LMC) ou dermatite pruriginosa, também conhecida como “bicho geográfico” (COURA, 2008). Segundo Leite et al. (2006), após contato direto com a pele de seres humanos, a LMC geralmente desencadeia dermatite acompanhada de prurido e erupções. Conhecida como “dermatite linear serpiginosa” ou “bicho geográfico”. Localiza-se frequentemente nos membros inferiores, pés, nádegas, mãos e em menor intensidade na face e couro cabeludo. Para Neves (2005), o gênero Ancylostoma braziliense é a espécie mais comumente envolvida, podendo acidentalmente ou experimentalmente envolver A. caninum, Uncinaria stenocephla, Bunostomum phlebotomum, Strongyloides stercoralis e Gnathostoma spp.; larvas de moscas do gênero Gasterophilus e Hypoderma, assim como formigas da espécie Solenopis germinata, também podem provocar esta síndrome. Coura (2008), completa que a infecção pode também ocorrer devido a uma resposta hiperalérgica do hospedeiro as larvas, que podem eventualmente penetrar em vasos sanguíneos e linfáticos, alcançando o pulmão produzindo infiltrados (síndrome de Loffler). Rey (2001) descreveu que os nematóides que penetram através da pele, por vezes não conseguem encontrar seu caminho, sendo assim permanecem vagando entre a epiderme e a derme. Enquanto avança, a lesão vai ficando para trás como um cordão eritematoso, saliente, irregular e pruriginoso, recoberto por vezes de vesículas. Com o passar do tempo, em questão de dias, a parte mais antiga do trajeto tende a desinflamar, deixando em seu lugar apenas uma faixa hiperpigmentada, que desaparecerá mais tarde. Podendo curar-se espontaneamente ao fim de poucos dias ou persistir por semanas e meses (REY, 2001). Figura 6: Bicho geográfico (A. braziliense) Fonte: www. atlas.or.kr -Acesso 29 de março de 2009 2.1.1.9) Diagnóstico 2.1.1.9.1) Em humanos Em geral, o diagnóstico em humanos é clínico devido ao prurido característico. O diagnóstico diferencial se faz com alergias ou outras dermatopatias específicas, aliado a uma boa anamnese (FERREIRA et al.,2006). Porém, Rey (2001), afirmava que a suspeita clínica deve ser confirmada através de recursos laboratoriais, através da demonstração de ovos de Ancilostomídeos nas fezes (REY, 2001). Coura (2008) completa que a lesão típica na pele, pode ser confirmada pela biópsia e histopatologia, mas que na maioria das vezes não se faz necessária. 2.1.1.9.2) Em animais Depende da sintomatologia e história clínica, complementadas por exames hematológicos e parasitológico de fezes (URQUHART, 1998). O diagnóstico laboratorial é realizado pelo achado de ovos no exame parasitológico de fezes, através dos métodos de Lutz, Willis-Mollay ou Faust, realizando-se, também, a contagem de ovos (FOREYT, 2005). 2.1.1.10) Importância A infecção por A. caninum possui aspectos importantes. Em cadelas susceptíveis a infecções, uma proporção das larvas L3 que atingem os pulmões migra para os músculos esqueléticos, onde permanece latente até a cadela ficar prenhe. São então reativadas e ainda como L3 são eliminadas no leite da cadela durante três semanas após o parto. Esta infecção transmamária é responsável por anemia grave em ninhadas na segunda ou terceira semana de vida. Estresse, doença grave ou grandes doses repetidas de corticosteróides podem precipitar migrações de L3 latentes nos músculos meses ou anos mais tarde, amadurecendo no intestino tanto de cães quanto de cadelas (URQUHART, 1998). 2.1.1.11) Controle Profilático Deve-se adotar uma terapia anti-helmíntica e higiene regular. Os cães desmamados e os adultos devem ser tratados a cada três meses. Além disso, os pisos dos canis não devem ter frestas, devem ser secos e as camas devem ser descartadas diariamente (URQUHART, 1998). Em humanos, devem-se desenvolver atividades de educação em saúde pública, especialmente no que diz respeito a hábitos de higiene, como lavar as mãos antes das refeições. Uso de calçados, e tratamento de pessoas doentes e dos animais para evitar a contaminação do solo (CORRÊA et al., 1998; COURA, 2008). 2.1.2) Toxocaríase 2.1.2.1) Descrição da Doença A toxocaríase é uma zoonose causada por nematóides intestinais de cães e gatos, sendo importante para saúde pública de países desenvolvidos como daqueles em desenvolvimento. A Toxocaríase se caracteriza pela migração do estágio larval de Toxocara canis ou T. cati pelas vísceras humanas, causando processos patológicos hipereosinofílicos crônicos, que podem ser acompanhados por leucocitose e lesões granulomatosas (GUIMARÃES et al., 2005).A infecção humana ocorre pela ingestão acidental de ovos infectivos, geralmente de Toxocara canis, presente no solo, nos vegetais ou de outras superfícies contaminadas. As crianças são o grupo mais suscetível, devido ao contato como a forma infectante do parasito ao brincar no solo contaminado. As manifestações clínicas da toxocaríase podem variar de uma infecção assintomática até a mais severa, a larva migrans visceral (LABRUNA, et al., 2006), causada pela resposta inflamatória à migração das larvas através dos órgãos e dos diferentes tecidos vitais do corpo, incluindo o sistema nervoso central (CAPUANO e ROCHA, 2006). 2.1.2.2) Agentes Etiológicos 2.1.2.2.1) Classificação Filo Nemathelminthes Schneider, 1873 Classe Nematoda (Rudolphi, 1808) Ordem Ascaridida Skrjabin & Shulz, 1940 Superfamília Ascaridoidea ( Railliet & Henry, 1915) Família Ascarididae (Baird, 1853) Subfamília Toxocarinae (Hartwich, 1954) Gênero Toxocara (Stiles, 1905) Toxocara canis (Werner, 1782) Toxocara mystax (Zeder, 1800) Toxocara vitulorum (Goeze, 1782 , Hartwitch, 1975) 2.1.2.3) Identificação As diferentes espécies de Toxocara são grandes vermes brancos e podem ser confundidos entre si. A diferenciação de Toxoascaris leonina e T.canis são difíceis, pois a única característica útil é a presença de um pequeno processo digitiforme na cauda do T.canis macho (URQUHART, 1998). Segundo Fortes (2004), o corpo é robusto e esbranquiçado. A expansão cervical é estreita e proeminente, de aspecto lanceolado, e estende-se até a extremidade posterior do esôfago. O macho com 20 a 30 papilas pré-cloacais e cinco pós-cloacais; apêndice digitiforme posterior presente. Os ovos são de casca espessa, finamente corrugada, e medem de 85 a 90 µm por 75 µm. O comprimento dos machos varia de 4 a 10 cm e o das fêmeas de 9 a 18 cm. Características Morfológicas do Toxocara sp. Figura 7: ovo de Toxora canis Figura 8: Tocorara canis no intestino delgado de cão Fonte:www.workforce.up.edu Fonte:www.workforce.up.edu Acesso em 29 de março, 2009. Acesso em 29 de março, 2009. 2.1.2.4) Epidemiologia e Distribuição Foram efetuados levantamentos de T. canis em muitos países que demonstraram ampla variação de taxas de infecção, de 5% a mais de 80%. As prevalências mais altas foram registradas em cães com menos de seis meses de idade, com as menores quantidades de vermes nos animais adultos (URQUHART, 1998). Rey (2001), já afirmava que a larva migrans visceral se tratava de um problema de âmbito mundial. Essa ampla distribuição, segundo Urquhart (1998), é atribuída a três fatores: as fêmeas são extremamente fecundas, a resistência dos ovos a extremos climáticos e a um reservatório constante de infecção nos tecidos somáticos das cadelas. 2.1.2.5) Ciclo Evolutivo Os ovos de Toxocara canis são eliminados, não segmentados, com as fezes do cão. No exterior, em condições favoráveis de oxigênio, temperatura e umidade, evoluem, surgindo à larva infectante (FORTES, 2004). Após ingestão e eclosão no intestino delgado, as L2 seguem pela circulação sanguínea via fígado para os pulmões, onde tem lugar à segunda muda, e as L3 retornam via traquéia ao intestino delgado, onde se dão as duas mudas finais. Esta forma de infecção ocorre regularmente apenas em cães de até três meses de idade. (URQUHART, 1998). Em filhotes com mais de três meses de idade ocorre o ciclo evolutivo clássico, com ciclo pulmonar, mas algumas larvas não chegam à faringe via pulmonar, mas alcançam as veias pulmonares, e o coração são distribuídas a diferentes órgãos pela grande circulação (FORTES, 2004), incluindo fígado, pulmões, cérebro, coração, musculatura esquelética e paredes do trato digestivo. Na cadela prenha ocorre infecção pré-natal, em que as larvas se movem cerca de três semanas antes do parto e migrando para os pulmões do feto, onde mudam para L 3. Após o parto, o ciclo no filhote completa-se, quando as larvas seguem para o intestino, ocorrendo às mudas finais (URQUHART, 1998). Tornando-se adultos maduros ao final da terceira semana de vida dos filhotes (FORTES, 2004). Rey em 2001 já afirmava que essa infecção pré-natal é a forma habitual de propagação do parasitismo entre os cães. O filhote lactante também pode infectar-se por ingestão de L3 no leite durante as três primeiras semanas de lactação. Não existe migração do mesmo, após infecção por esta via (URQUHART, 1998). Os hospedeiros paratênicos, como roedores ou aves, podem ingerir os ovos infectantes, e as L2 seguem para seus tecidos, onde permanecem até ser ingeridas por um cão, quando o desenvolvimento subseqüente se restringe ao trato gastrointestinal. (ibid.) 2.1.2.6) Transmissão A infecção por T. canis pode ser adquirida pelo homem através de vários mecanismos. Todavia, o principal mecanismo é a ingestão de ovos larvados, cães infectados por T. canis eliminam os ovos do parasito nas fezes que, em condições apropriadas tornam-se infectantes e podem permanecer viáveis por longo período no ambiente (CASTRO et al., 2005). Os cães e gatos podem infectar-se ao ingerirem ovos infectantes ou larvas presentes em tecidos de hospedeiros paratênicos, pela ingestão de larvas de último estágio ou adultos imaturos eliminados nas fezes ou vômitos de outros animais infectados (SANTOS et al., 2007). Sales e Menezes (2008) completaram afirmando que a infecção poderia se dar através das mães, tanto pela placenta quanto pelo do leite. 2.1.2.7) Sintomas Nas infecções maciças, a fase pulmonar de migração larval está associada à pneumonia, que às vezes é acompanhada por edema pulmonar; os vermes adultos causam enterite mucóide, pode haver oclusão parcial ou completa do intestino (URQUHART, 1998). O quadro clínico é observado em crianças, com maior freqüência e varia desde, uma simples e persistente eosinofilia, nas infecções leves, até quadros graves como febre, hipereosinofilia, hepatomegalia, manifestações pulmonares ou cardíacas, nefrose e sinais de lesões cerebrais (REY, 2001). Em filhotes de cães ocorre proeminência do abdômen, perda de apetite, diarréia, pneumonia e presença de vermes imaturos em vômito (FORTES, 2004). Segundo Coura (2008), no homem, a ingestão de ovos embrionados do Toxocara sp. liberam as larvas L3 que penetram no intestino e através da corrente sanguínea ou linfática migram para o fígado, pulmões, sistema nervoso central (SNC), globo ocular ou linfonodos, onde ficam aprisionados, formando um granuloma hiperérgico com intensa reação inflamatória eosinofílica e secreção de IgE. O quadro clínico depende do número de larvas infectantes e da resposta do hospedeiro, variando de assintomático a casos agudos em crianças que apresentam febre, hepatomegalia e eosinofilia. 2.1.2.8) Diagnóstico 2.1.2.8.1) Em humanos O diagnóstico é fundamentado em dados clínicos, hematológicos, radiológicos e na biópsia de fígado, que permite ver as larvas e os granulomas eosinofílicos. Porém, não é recomendada por muitos autores, pelos riscos do procedimento. (REY, 2001). O exame de fezes é sempre negativo, pois este nematóide não completa sua evolução no homem. Os métodos imunológicos são bastante sensíveis e específicos, devendo ser utilizados para se conseguir um diagnóstico correto, como a prova de imunofluorescência. A técnica de ELISA vem sendo empregada com êxito no diagnóstico de Toxocaríase, procedimento este que representa a melhor relação especificidade e sensibilidade. O Diagnóstico diferencial da toxocaríase deve ser feito com síndromes alérgicas, asma, filariose, leucemia eosinofílica e qualquer outra causa de hipereosinofilia (COURA, 2008). 2.1.2.8.2) Em animais O diagnóstico se dá pela constatação e identificação microscópica de ovos em exame de fezes, pelo método de flutuação. (FORTES, 2004; FOREYT, 2005). Segundo Urquhart (1998), os ovos são subglobulares, com cascas espessas, escavadas, o que facilita sua identificação. E não há necessidade de utilizar métodos de flutuação, pois os ovos são facilmente encontrados em simples esfregaços de fezes aos quais se adiciona uma gota de água. Além disso, podem ser usadas várias provas imunobiológicas, tais como hemaglutinação, precipitação em ágar-gel, imunofluorescência e hipersensibilidade cutânea. Estas provas são de certa utilidade, mas nenhuma é inteiramente satisfatória, devido à falta de especificidade e a freqüência de reações cruzadas com outras helmintíases (FILHO et al., 2007). 2.1.2.9) Larva Migrans Visceral A toxocaríase ou “larva migrans visceral” (LMV) se caracteriza pela migração do estágio larval de Toxocara canis ou T. cati pelas vísceras humanas causando processos patológicos hipereosinofílicos crônicos, que podem ser acompanhados por leucocitose e lesões granulomatosas (GUIMARÃES et al., 2005). Embora este termo originalmente fosse aplicado à invasão dos tecidos viscerais de um animal por parasitas cujos hospedeiros naturais fossem outros animais, atualmente, em uso generalizado, ele representa este tipo de invasão apenas no homem e, em particular, pelas larvas do Toxocara canis (URQUHART, 1998). Segundo Rey (2001), estas larvas estão condenadas a morrer depois de longa permanência nas vísceras, sem poder chegar ao estágio adulto, essa impossibilidade é a razão da demora dos parasitos nos tecidos, e, portanto, das gravidades das lesões produzidas. Em muitos casos, a invasão larval limita-se ao fígado podendo originar hepatomegalia e eosinofilia, mas em algumas ocasiões uma larva escapa para a circulação geral e atinge outro órgão, sendo o olho o mais freqüentemente observado. Formando um granuloma ao redor da larva na retina. Em casos raros o granuloma envolve o disco óptico, com perda total de visão, e muitos dos relatos são de diminuição parcial da visão com endoftalmia ou retinite granulosa. Estima-se que por ano, mais de 700 pessoas apresentam perda parcial da visão (XAVIER, 2009). Alguns autores acreditam que a forma ocular ocorre quando o número de ovos ingeridos é reduzido (menos de 100). No caso de infecções maiores, o aumento de eosinófilos sanguíneos e teciduais, assim como a ação de anticorpos e de elementos do sistema fagocitário mononuclear reteria as larvas no nível do fígado e dos pulmões (NEVES, 2005). Figura 9: Lesão ocular provocada pela larva de Toxocara sp., determinando a formação de granuloma ao redor do disco óptico. Fonte: www.policlinicaveterinaria.com.br Acesso em 29 de março de 2009. 2.1.2.10) Importância Possui grande importância em medicina humana, quando os ovos infectantes são ingeridos pelo homem. Ocorre migração pela via linfática ou circulação sanguínea. As L2 limitam comumente sua migração para o fígado, sendo responsável por granuloma eosinófilico. Entretanto, ocasionalmente podem atingir o globo ocular, provocando deslocamento de retina. Estas larvas não estão em seu hospedeiro adequado e por isso não conseguem terminar seu ciclo evolutivo são denominadas de larva migrans visceral (LMV) (FORTES, 2004). 2.1.2.11) Controle Profilático Tratamento anti-helmíntico de cães e gatos e deve ser realizado periodicamente para reduzir consideravelmente as fontes de parasitismo e a contaminação do solo com ovos de Toxocara (REY, 2001). Fêmeas prenhes devem ser tratadas com anti-helmítico para evitar infecção dos filhotes e, também, logo após o parto. Para prevenir reinfecção os cães, devem ser medicados antes de completarem três semanas de vida, com a finalidade de evitar que as formas adultas do Toxocara realizem ovopostura. Além disso, a higiene e limpeza dos canis, pisos, pátios, pistas de treinamento, etc. são as medidas mais importantes para o controle da toxocaríase dos cães (FORTES, 2004). Para Rey (2001), a redução da população de cães e gatos errantes também se fazia importante, visto que estes são os que apresentam maiores taxas de prevalência e mais altas cargas parasitárias. 2.1.3) Tricuríase 2.1.3.1)) Descrição da Doença Trichuris sp. são parasitas muito raros em gatos, porém encontrados comumente em cães, tanto em filhotes quanto em adultos, sendo o T.vulpis o mais frequente. Este verme habita o intestino grosso, especialmente o ceco dos hospedeiros definitivos e causa anemia, diarréia e desidratação, podendo levar a morte de filhotes em casos severos (VASCONCELLOS et al., 2005). Tricuríase ou tricocefalíase é a infecção causada por T. trichura que infecta o homem através da ingestão de ovos embrionados do parasito veiculados por água alimentos contaminados (verduras) e pela própria poeira do solo (COURA, 2008). 2.1.3.2) Agente Etiológico 2.1.3.2.1)Classificação Filo Nemathelminthes (Schneider, 1873) Classe Nematoda (Rudolphi, 1808) Subclasse Adenophorea (Chitwood, 1958) Ordem Enoplida ( Schuurmans, Stekhoven & Deconing, 1933) Superfamília Trichinelloidea (Railliet, 1916) Família Trichuridae (Ransom, 1911) Subfamília Trichurinae (Ransom, 1911) Gênero Trichuris (Roederer, 1761) Trichuris vulpis (Froelich, 1789) em cães. T. trichiura (Linnaeus, 1771) em humanos 2.1.3.3) Identificação Os adultos têm 4 a 6cm de comprimento, com extremidade posterior espessa afilando-se rapidamente numa longa extremidade anterior filamentosa, que fica caracteristicamente encravada na mucosa. Por causa do seu aspecto são chamados “vermes chicotes” (URQUHART, 1998). O ovo tem forma de limão, lateralmente convexo, biperculado, de casca espessa e de intensa cor castanha, medindo 80X70 µm. (FOREYT, 2005; FORTES, 2004). A fêmea do T. trichiuria produz em média de 5 a 10 mil ovos por dia, os quais medem entre 50-55X22-23µm (COURA 2008). Características Morfológicas de Tricuris vulpis Figura 10 : Ovo de Trichuris vulpis Figura 11 : Trichuris vulpis adulto no ceco de cão. Fonte: www.commons.wikmimedia.org Fonte: www.cal.vet.uppen.edu Acesso em 29 de março de 2009 2.1.3.4) Epidemiologia e Distribuição É de distribuição mundial (URQUHART, 1998), sendo o parasito do gênero Trichuris encontrado, principalmente, nos trópicos e subtrópicos, onde a falta de medidas sanitárias e o clima quente e úmido criam as condições necessárias para que os ovos encubem na terra (FERREIRA et al., 2006). Os geohelmintos, Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura e aqueles cujo aparelho bucal contém dentes como Ancylostoma são os mais prevalentes e difundidos. No Brasil, é estimado que 2.9 a 4.3 milhões de pessoas sofram de infecções múltiplas causadas por geohelmintos (BLAUZIUS et al., 2005). Além disso, o Trichuris vulpis parasito de cães já foi registrado com sendo causador aparente de infecção entérica no homem (COURA, 2008). 2.1.3.5) Ciclo Evolutivo O estágio infectante é a L1, no ovo, que se desenvolve em um ou dois meses, após sua eliminação nas fezes, dependendo da temperatura. Em condições ideais podem sobreviver por vários anos. Após ingestão os opérculos são digeridos e as L1 livres penetram nas glândulas da mucosa cecal. As quatro mudas ocorrem nessas glândulas, os adultos emergindo e ficando na superfície mucosa com a extremidade anterior encravada na mucosa. O período pré-patente varia de seis a doze semanas, dependendo da espécie (URQUHART, 1998). Figura 12: Ciclo Evolutivo Trichuris trichiura Fonte: WWW.randolphanimal.com Acesso em 29 de março de 2009 2.1.3.6) Transmissão A infecção é transmitida pela ingestão dos ovos embrionados do parasito, veiculados por água, alimentos contaminados e pela própria poeira do solo (COURA, 2008). Esta infecção também pode ser transmitida de hospedeiro para hospedeiro obrigatoriamente passando pelo solo. Os ovos transmitidos através das fezes tornam-se embrionados somente no solo em condições que incluem temperatura em torno de 22ºC, umidade e oxigenação adequada (COURA, 2008). 2.1.3.7) Sintomatologia As infecções, em sua maioria, são leves e assintomáticas. Quando em grandes quantidades, causam inflamação diftérica da mucosa cecal. (URQUHART, 1998). Sendo responsáveis por infecções bacterianas ao facilitarem a passagem de bactérias do intestino. A anemia é conseqüência da secreção de substâncias hemolíticas. (FORTES, 2004). 2.1.3.8) Tricuríase Humana A tricuríase humana é uma verminose causada pelo nematódeo Trichuris trichiura (COURA, 2008) são parasitas de intestino grosso, e em infecções leves ou moderadas, estes vermes habitam principalmente, o ceco e cólon ascendente do hospedeiro (NEVES, 2005). Esta infecção tem distribuição geográfica cosmopolita. A prevalência oscila entre 30 e 80% da população geral, incidindo principalmente em crianças (REY, 2001). Segundo Coura (2008), no Brasil, estima-se que aproximadamente 30% da população esteja infectada, principalmente, crianças as quais infecção tem maior prevalência, maior carga parasitária e gravidade. Contudo, a transmissão pode ocorrer também pela ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos do parasito. (FERREIRA et al., 2006) O quadro clínico na maioria dos pacientes adultos ou crianças maiores é assintomático, porém crianças menores de cinco anos podem apresentar formas graves com necrose de coagulação do tecido que circunda o verme e através da ação de substâncias líticas a mucos pode ficar friável, amolecida, propiciando o prolapso retal e sangramentos. Nas infecções com pequeno número de vermes pode haver perda de apetite, emagrecimento, tenesmo e dor abdominal baixa. (COURA, 2008). Figura 13: Criança com prolapso retal por Trichuris trichiuria. Fonte: original do Prof. Carlos Sckettino, in Camilo-Coura et al. 2005. 2.1.3.9) Diagnóstico Como os sinais clínicos não são patognomônicos, o diagnóstico pode depender do achado da quantidade de ovos de Trichuris nas fezes (URQUHART, 1998). Através da pesquisa de ovos pelo Método de Flutuação ou comprovação de indivíduos por ocasião da necropsia. (FOREYT, 2005; FORTES, 2004). 2.1.3.10) Importância O aspecto mais importante é a longevidade dos ovos, que depois de três ou quatro anos ainda podem sobreviver como reservatórios de infecção em pocilgas e canis (URQUHART, 1998). O ovo infectante é muito resistente e assim, os cães vivendo em ambientes contaminados tendem a se tornar reinfectados, após o tratamento (TRILLOALTAMIRO et al., 2003). 2.1.3.11) Controle Profilático O controle está relacionado à implatação de medidas higiênico- sanitárias. Como , defecar em locais próprios (banheiro), lavar as mãos após a utilização dos mesmos, e após as refeições é fundamental. Os alimentos devem ser lavados com água filtrada ou fervida, ficando protegidos de poeira, moscas, baratas e outros contaminantes (NEVES, 2005). A área onde os animais ficam devem ser totalmente limpa e desinfetada ou esterilizada por calor úmido ou seco (URQUHART, 1998). 2.1.4) Giardíase 2.1.4.1) Descrição da Doença É uma infecção causada pelo protozoário flagelado Giardia lamblia, também denominado G. intestinalis ou duodenalis (COURA, 2008). Fortes (2004), afirmou que existem várias espécies de Giárdia, como a G. lamblia do homem; G. canis do cão e G. duodenalis do coelho registradas em nosso país, além das espécies G. bovis, dos bovinos, G. cati, dos gatos, G.caprae de caprinos e G. equi dos eqüinos. Dentre os protozoários freqüentemente encontrados parasitando animais domésticos, Giardia sp. têm aumentado o interesse pelos pesquisadores, por causar doença intestinal nesses animais e pelo possível potencial zoonótico. Entre os mamíferos, os cães são comumente parasitados e sua prevalência em diferentes regiões do mundo é variável, dependendo, em sua maior parte da localização geográfica, do método de detecção utilizado e da população estudada (MUNDIM et al., 2003). 2.1.4.2) Agente Etiológico 2.1.4.2.1) Classificação Reino Protista Sub-reino Protozoa Filo Sarcomastigophora (Honiberg & Balamuth, 1963) Subfilo Mastigophora (Diesing, 1866) Classe Zoomastigophorea (Calkins, 1909) Ordem Diplomonadida (Wenyon, 1926 emend. Brugerolle, 1975) Subordem Diplomonadina (Wenyon, 1926 emend. Brugerolle, 1975) Família Hexamatidae,( Kent, 1980) Subfamília Giardiinae Gênero Giardia Espécie: Giardia canis ou G. lamblia ou G. intestinalis 2.1.4.3) Identificação Este microorganismo é bilateralmente simétrico como Hexamita e também possui oito flagelos, seis dos quais emergem como flagelos livres em intervalos em volta do corpo. É singular, pelo fato de possuir um grande disco adesivo na superfície ventral achatada do corpo, o que facilita a fixação às células epiteliais da mucosa intestinal (URQUHART, 1998). Morfologicamente, o protozoário, apresenta duas formas distintas: o cisto que é a forma infectante e o trofozoíto (MUNDIM et al., 2003). Segundo NEVES (2005), o trofozoíto tem forma de pêra, com simetria bilateral e mede 20 µm de comprimento por 10 µm de largura. Já o cisto, é oval ou elipsóide, medindo cerca de 12 µm de comprimento por 8 µm de largura. Giardia lamblia Figura 14 : A) cisto tetranucleado; B) trozoíto (face vental); C) trofozoíto (face lateral) Fonte: Coura , Síntese das Doenças Infecciosas e Parasitárias. 2.1.4.4) Epidemiologia e Distribuição A giardíase é uma doença cosmopolita, sendo principalmente encontradas em zonas tropicais e temperadas (MUDIM et al., 2003). Giardia lamblia é um protozoário que acomete mais comumente animais jovens e que convivem em grupos. Apesar da alta prevalência, nem todos os animais apresentam a forma clínica da doença (BECK et al., 2005). Silva et al. (2008) em seu estudo constatou que a prevalência de protozoários em cães jovens foi de 89,1%, sendo que nestes animais o gênero Giardia sp. foi encontrado em 38,6% amostras fecais. Em humanos, acomete igualmente ambos os sexos e com maior prevalência em crianças menores de 10 anos de idade (COURA, 2008). A prevalência e a incidência da infecção variam de acordo com o clima, com as condições de saneamento e suprimento de água, com aglomerações das populações, com a educação, hábitos de vida e com as condições socioeconômicas das comunidades (ibid.) 2.1.4.5) Ciclo Evolutivo 1) Os cistos são resistentes e podem sobreviver por vários meses na água fria. A Infecção ocorre pela ingestão de cistos em águas e alimentos contaminados, ou por transmissão feco-oral (mãos ou fômites. 2) No intestino delgado cada cisto produz dois trofozoítas. 3) Trofozoítas multiplicam-se por divisão binária longitudinal, permanecendo no lúmen intestinal, onde ficam livres ou se fixam à mucosa através de seu disco suctório. 4) “Encistação” ocorre assim que o parasita transita em direção ao cólon. O cisto é o estágio mais comumente encontrado em fezes não diarréicas. 5) Os cistos infectivos permitem transmissão de pessoa a pessoa. Pelos animais serem infectados por Giardia, a importância destes como reservatório ainda não está elucidada. (CDC, 2001-Versão http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/HTML/Giardiasis.htm) online: CICLO BIOLÓGICO Figura 15: Formas evolutivas e transmissão de Giardia sp. Adaptado de: www.dpdc.cdc.gov/dpdx Acesso em 29 de março de 2009. 2.1.4.5) Transmissão Segundo Fortes (2004), vetores não são importantes na transmissão da infecção. A transmissão do protozoário ocorre através da ingestão de alimentos ou água contendo cistos. Porém, a transmissão direta também é possível, especialmente em áreas em que os animais se encontram aglomerados, como em canis e gatis (BECK et al.,2005). Segundo Neves (2005); (Coura, 2008), são consideradas fontes de infecção os manipuladores de alimentos, pessoas que lidam com crianças em creches e orfanatos ou em asilos de idosos, pelo contato direto. Além disso, moscas e baratas podem funcionar como veículos da infecção transportando passivamente o parasito de um alimento contaminado para outro. A transmissão também é possível, através de contatos homossexuais e por contato com animais domésticos infectados com Giardia de morfologia semelhante à humana. 2.1.4.6) Sintomatologia Segundo Capuano e Rocha (2006), mesmo os cães podendo estar parasitados por cepas de Giardia potencialmente infectantes para o homem, a giardíase nos cães geralmente é assintomática, o que dificulta o estabelecimento do diagnóstico desta parasitose nos animais, que passam a ser uma importante fonte de eliminação de cistos no meio ambiente, podendo contaminar o homem e outros animais. Nos sintomáticos, os aspectos específicos da giardíase, quando ocorrem, incluem aqueles atribuídos à má digestão dos nutrientes: fezes pálidas e fétidas, esteatorréia, diarréia crônica, perda de peso ou pequeno ganho de peso, apesar do apetite apresentarse normal. Estes sinais podem ser constantes ou intermitentes, podendo desaparecer durante a administração de antidiarréicos, retornando, porém, após sua retirada. Diarréias hemorrágicas, febre e vômitos são improváveis de serem unicamente devidas à giardíase (LEIB e ZAJAC, 1999). Em humanos, o quadro clínico da Giardíase varia muito, desde formas assintomáticas, até pacientes sintomáticos que podem apresentar um quadro de diarréia aguda e autolimitante, ou um quadro de diarréia persistente, com evidência de máabsorção e perda de peso. Segundo Coura (2008), a esteatorréia crônica pode levar à desnutrição, principalmente em crianças, pela deficiência e perda das vitaminas lipossolúveis, vitamina B12 e ácido fólico, ácidos graxos e proteínas. Os sinais clínicos não são patognomônicos e os testes laboratoriais: hematológico, bioquímica do sangue, radiologia e ultrassonografia apesar de não serem específicos, podem auxiliar no diagnóstico (BARR et al.,1992; BARTMANN et al., 2004). 2.1.4.7) Diagnóstico Para o diagnóstico laboratorial, a identificação de cistos e trofozoítos da Giardia em amostras fecais é o método mais simples e barato para diagnóstico da infecção (BARR et al.,1992). As técnicas de enriquecimento, por centrífugo flutuação dos cistos em solução saturada de sulfato de zinco, são as mais adequadas para encontrar estas formas do parasito (REY, 2001). Os parasitos podem ser vistos também no conteúdo duodenal aspirado por meio de sonda, onde se encontram as formas vegetativas (REY, 2001). Com objetivo de simplificar e aumentar a sensibilidade do diagnóstico da infecção por Giardia sp., vários métodos imunológicos tem sido propostos. Isto foi possível através do desenvolvimento de culturas axênicas (culturas puras) de Giardia sp., que possibilitado a obtenção de antígenos puros. Os métodos imunológicos mais empregados são a imunofluorescência indireta e o método de ELISA. A detecção de anticorpos anti- Giardia no soro tem apresentado problemas relacionados com a ocorrência de falso-positivos e baixa sensibilidade e especificidade. Nessas reações os anticorpos IgG permanecem elevados por um longo período, o que impede a distinção entre infecções passadas e recentes. Por isso, o diagnóstico sorológico pode auxiliar nos levantamentos epidemiológicos, contudo não demonstra sensibilidade e especificidade adequadas para o diagnóstico individual. A detecção de antígenos nas fezes (coproantígeno) empregando a técnica de ELISA tem demonstrado resultados satisfatórios, apresentando sensibilidade de 85% a 95% e especificidade de 90% a 100% (NEVES, 2005). Técnicas baseadas no reconhecimento do DNA de Giardia, como, por exemplo, PCR ( polimerase chain reaction), estão sendo padronizadas para a detecção deste parasita nas fezes. São técnicas muito específicas e foram inicialmente desenvolvidas para detecção de cistos em amostras de água (ibid.) O método imunoenzimático (ELISA) também é utilizado, é muito simples de ser realizado. A conveniência é dada pela rapidez e objetividade dada sua simplicidade, podendo ser diagnosticadas várias amostras em um curto espaço de tempo. Sendo uma segunda opção uma vez que o método de flutuação, primeira opção, é mais econômico. (VIDAL e CAPATANI, 2005). Snap de Giárdia é um teste rápido que se baseia na detecção de antígenos específicos produzidos pela multiplicação intestinal da Giárdia, ou seja, não depende da presença de cistos ou trofozoítas na amostra e, esta, pode ser fresca, refrigerada ou até mesmo congelada onde, neste último caso pode ser utilizada após seis meses da sua obtenção (SALLES e MENEZES, 2008). 2.1.4.8) Importância A Giardíase possui grande importância epidemiológica pelo seu elevado potencial zoonótico (BECK et al.,2005). Estudos têm demonstrado que algumas cepas provenientes do homem e animais têm propriedades antigênicas, genéticas e bioquímicas similares, enquanto outras não apresentam estas propriedades (LEIB e ZAJAC, 1999; BECK, et al.,2005). Deste modo, medidas preventivas devem ser adotadas pelo homem quando em contato com fezes ou animais infectados. Bartmann et al. (2004), afirmavam que, ela pode ser classificada como zoonose pelo fato da espécie possuir uma baixa especificidade de hospedeiro. Porém, Monis e Thompson (2003), defendiam que a evidência da giardíase ser uma zoonose ainda era limitada. Apesar de não haver dúvidas quanto ao potencial zoonótico do único genótipo isolado em humanos e em animais, a prevalência desse grupo não é conhecida. 2.1.4.9) Controle Profilático Implantação de medidas higiênicas recomendadas para controlar a propagação de agentes infecciosos e parasitários disseminados com as fezes e mãos sujas (REY, 2001). Desta forma, são recomendadas medidas de higiene pessoal, destino correto das fezes (fossas, redes de esgoto), proteção dos alimentos e tratamento da água (NEVES, 2005). É importante proceder à desinfecção das fezes dos cães positivos para prevenir a disseminação dos cistos de Giardia, e realizar o tratamento dos cães parasitados (FORTES, 2004). 3) MATERIAL E MÉTODOS No presente estudo, foram analisadas amostras aleatórias enviadas ao PCACentro de Diagnóstico Veterinário (Rua Sete de setembro, 254, Icaraí- Niterói- RJ), de fezes caninas de diferentes idades, raças e sexo, oriundas dos Municípios de Niterói e São Gonçalo. O período compreendido pela pesquisa foi entre os meses de março e abril de 2009. Foram utilizadas 32 amostras de Niterói e 38 amostras de São Gonçalo, perfazendo um total de 70 amostras submetidas a exames parasitológicos, realizadas no laboratório de doenças parasitárias da Universidade Plínio Leite e no PCA- Centro de Diagnóstico Veterinário. As amostras foram depositadas em “potes” coletores universais (MIF ou a fresco) e identificadas individualmente. Inicialmente, as amostras foram submetidas ao Giardia Antigen Test Kit®, no PCA - Centro de Diagnóstico Veterinário, para a detecção do antígeno da Giárdia nas fezes caninas. Da mesma forma, as 70 amostras foram acondicionadas em caixas de isopor contendo gelo reciclável, para serem transportadas ao Laboratório de Doenças Parasitárias e Parasitologia do departamento de Medicina Veterinária do Centro Universitário Plínio Leite- Campus Itaboraí-RJ. Sendo mantidas sob refrigeração até a realização do exame. As amostras foram analisadas no período de no máximo 24 horas após coleta. Essas análises eram feitas individualmente pelas técnicas de Willis e Mollay (1921), centrífugo-flutuação em sulfato de zinco. A cada grupo de 10 amostras, retirou-se aleatoriamente uma amostra para a realização da técnica Hoffman, Pons e Janes (1934), totalizando sete amostras analisadas por esta técnica e o Método Imunoenzimático (ELISA) para diagnóstico de Giardia sp Todas as amostras examinadas foram observadas ao microscópio óptico com objetivas de 10x, com confirmação na objetiva de 40x. Por se tratarem de métodos qualitativos, os resultados foram expressos em positivo ou negativo. Sendo considerado positivo o resultado, quando visualizado pelo menos um ovo de nematoda ou oocisto de coccídeo. Os gêneros de nematodas foram identificados de acordo com os caracteres morfológicos de seus ovos. 3.1-Técnica de Willis e Molay (1921) (NEVES, 2005) 3.1.1- Colocar 10g de fezes em um frasco Borrel (pode ser usado o próprio frasco no qual as fezes foram enviadas). 3.1.2- Diluir as mesmas em solução saturada de açúcar ou sal (NaCl). 3.1.3- Completar o volume até a borda do frasco. 3.1.4- Colocar na boca do frasco uma lâmina, que deve estar em contato com o líquido. 3.1.5- Deixar em repouso por cinco minutos. 3.1.6- Findo esse tempo, retirar rapidamente a lâmina, voltando a parte molhada para cima 3.1.7- Levar ao microscópio e examinar com objetiva de 10x e/ou de lamínula é facultativo. Figura 16: Materiais utilizados na Técnica de Willis. Fonte: Autoria própria, 2009. 3.2- Método de centrifugo-flutução no sulfato de zinco (REY, 2001) É uma das técnicas mais utilizadas para pesquisa de cistos nas fezes. Preparar solução de sulfato de zinco a 33% e densidade 1,180. Proceder como segue: 3.2.1- Desmanchar a amostra fecal em água, na proporção de 1 para 10 partes, aproximadamente, utilizando-se água filtrada para evitar contaminação co protozoários de vida livre. 3.2.2- Filtrar, através de gaze dobrada em quatro, para um tubo de centrifuga a 2.500 rotações por minuto, durante um minuto. 3.2.3- Decantar o sobrenadante, ressuspender o sedimento em água e centrifugar novamente. Repetir esta operação até que o sobrenadante fique relativamente claro. Em geral, bastam três lavagens. 3.2.4- Decantar a água da última lavagem e ressuspender o sedimento na solução de sulfato de zinco. Centrifugar. Nesta operação, dada à densidade do meio, os cistos de protozoários e algumas espécies de ovos de helmintos passam a flutuar e algumas espécies de ovos de helmintos passam a flutuar e concentram-se numa película fina, situada na superfície do líquido sobrenadante. 3.2.5- Com uma alça de platina, tocar levemente a superfície do líquido para que a película, aderindo à alça, possa ser removida e transportada para uma lâmina de microscopia. Repetir este procedimento umas quatro ou cinco vezes. 3.2.6- Adicionar à preparação uma gota de lugol a fim de tornar os cistos suas estruturas internas mais visíveis, cobrir com uma lamínula e examinar ao microscópio (aumento médio ou grande, a seco). Figura 17: Método de Faust. Fonte: Autoria própria, 2009. Figura 18: Centrífuga para realização da Técnica Faust. Fonte: Autoria própria, 2009. 3.3- Método de sedimentação espontânea, (REY, 2001). Também conhecido como método de Lutz, ou método de Hoffman, Pons & Janer, autores que descreveram e divulgaram a técnica. 3.3.1- Tomar 2 a 4 gramas de fezes, colocá-los em um frasco de Borrel e desmanchálos em água, com um bastão de vidro ou plástico. 3.3.2- Coar a emulsão através de gaze ou uma tela (de plástico ou de metal, absolutamente limpa) para dentro de um cálice cônico. 3.3.3- Completar o volume do cálice juntando mais água e misturando bem seu conteúdo. 3.3.4- Deixar sedimentar por meia hora ou mais; derramar o líquido sobrenadante e substituí-lo por água limpa, ressuspendendo o sedimento. 3.3.5- Repetir a operação duas a três vezes, até que o sobrenadante fique relativamente claro. 3.3.6- Com uma pipeta Pasteur, retira pequena amostra de sedimento do vértice do cálice, colocá-la sobre uma lâmina de microscopia e cobrir com lamínula. Não é necessário corar os ovos, mas se houver interesse em reconhecer também oocistos de protozoários, juntar um pouco de lugol. Figura 19: Materiais utilizados na técnica de Hoffmam. Fonte: Autoria própria, 2009. 3.4- Teste Elisa1 3.4.1- O tubo que recobre o bastonete deve ser removido do dispositivo de conjugado/bastonete. Deve-se envolver toda a superfície da ponta do bastonete com uma camada fina de material fecal, então reposiciona-se o frasco sobre o bastonete. 3.4.2- O apêndice da válvula plástica é quebrado dentro do bulbo do reagente ao entornar o conjunto e então dobra-se novamente na direção oposta. Ao segurar o dispositivo com a ponta do bastonete virada para baixo, deve-se pressionar e soltar o bulbo por três vezes para transferir a solução de conjugado no bulbo através da ponta do bastonete. 3.4.3- Coloca-se o dispositivo do SNAP em uma superfície plana. Ao usar o bastonete como pipeta, aplica-se cinco gotas da solução da amostra na cavidade do dispositivo SNAP. Após o preenchimento da amostra no círculo de ativação, deve-se pressionar o ativador com firmeza próximo ao corpo do dispositivo. 3.4.4- Espera-se oito minutos, para então ler os resultados. Figura 20: Snap -IDEXX Fonte: Autoria própria, 2009. 1- IDEXX - Laboratories Figura 21: Remoção do tubo que recobre o bastonete. Fonte: autoria própria, 2009. Figura 22: Envolver toda superfície da ponta do bastonete com uma camada fina de material fecal. Fonte: autoria própria, 2009. Figura 23: O apêndice da válvula plástica é quebrado dentro do bulbo. Fonte: autoria própria, 2009. Figura 24: Transferência da solução de conjugado no bulbo através da ponta do bastonete. Fonte: Autoria própria, 2009. Teste ELISA negativo Figura 25: Resultado, após 8 (oito) minutos. Fonte: Autoria própria, 2009. Teste ELISA positivo 4-RESULTADOS 4.1-Resultados pelo número total de animais examinados Das 70 amostras de fezes examinadas, 40 (57,1%) apresentaram resultado positivo, para diferentes endoparasitoses, sendo 30 (42,9%) o número de amostras consideradas negativas, como demonstrado no gráfico abaixo: Gráfico1-Amostras de fezes de cães avaliadas para a presença de ovos de endoparasitas n=70 0 0 42,90% Amostras Positivas n=40 57,10% Amostras Negativas n=30 As amostras foram positivas para ovos de helmintos do gênero Ancylostoma sp.,Toxocara sp., Trichuris sp.,para o protozoário Giardia sp., Isospora sp.e oocistos de Eimeria. Como demonstra as figuras a baixo: Figura 26: Oocisto de Eimeria sp Figura 27: Oocisto de Isospora sp. Fonte:www.ufrgs.br Figura 28: Ovo de Toxocara sp. Fonte:www.ufrgs.br Figura 29: Ovos de Ancylostoma sp. Fonte: Autoria própria, 2009. própria, 2009. Figura 30: Ovo de Trichuris vulpis Fonte: www.commons.wikmimedia.org Acesso, 29 de março de 2009. Fonte: Autoria O quadro a seguir, demonstra o percentual de ocorrência dessas endoparasitoses. Quadro 1: Percentual da ocorrência de parasitos gastrointestinais nas amostras de fezes de cães dos Municípios de Niterói e São Gonçalo. Amostras Positivas % Positivas Ancylostoma sp. 27 (40/70) 67,5 Toxocara sp. 12 (40/70) 30 Trichuris sp. 2 (40/70) 5 Giardia sp. 17 (40/70) 42,5 Oocistos de Eimeria sp. 2 (40/70) 5 Isospora sp. 1 (40/70) 2.5 Parasitas Intestinais 4.2- Resultados por procedência Sendo 32 amostras provenientes do Município de Niterói, destas 13 (40,6%) apresentaram resultado positivo para uma ou mais endoparasittoses, sendo 19 (59,4%) consideradas negativas. Enquanto que, 38 amostras eram provenientes do Município de São Gonçalo, nas quais 27 (71,1%) eram positivas e 11 (28,9%) eram negativas. Resultados, demonstrados nos gráficos seguintes: Gráfico 2- Frequência de ovos e oocistos de parasitos encontrados nas amostras fecais de cães provenientes do Município de Niterói. 50,00% 46,20% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% 46,20% 23,10% 15,40% 7,70% Gráfico 3- Frequência de ovos e oocistos de parasitos encontrados nas amostras fecais de cães provenientes do Município de São Gonçalo. 90,00% 77,80% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 37,04% 40,00% 33,30% 30,00% 20,00% 7,40% 10,00% 0,00% Ancylostoma Toxocara sp. Trichuris sp. Giardia sp. sp. O quadro a seguir descreve a incidência de infecção pelos gêneros de helmintos e protozoários encontrados nas amostras de fezes de cães de cada Município. Quadro 2: Ocorrência (%) de endoparasitos gastrointestinais em cães nos Municípios de Niterói e São Gonçalo. Parasitas Intestinais % amostras parasitadas de % amostras parasitadas de Niterói São Gonçalo Ancylostoma sp. 46,2 77,8 Toxocara sp. 23,1 33,3 Trichuris sp. 0 7,4 Giardia sp. 46,2 37,04 Oocistos de Eimeria sp. 15,4 0 Cystoisospora sp. 7,7 0 Total 40,6 71,1 4.3- Resultados das infecções mistas Endoparasitoses múltiplas ocorreram em 40% (16/40) das amostras pesquisadas, sendo a combinação Ancylostoma sp./ Toxocara sp. a mais freqüente (12,5%), seguida de Ancylostoma sp./ Giardia sp.(7,5%). Infecções múltiplas em menor porcentagem também foram detectadas. (Quadro 3). Quadro 3: Ocorrência (%) de endoparasitoses mistas. Parasitas Intestinais N° positivos % positivos Ancylsotoma sp./Toxocara sp. 5 31,3 Ancylostoma sp./ Giardia sp. 3 18,8 sp./ 2 12,5 2 12,5 Toxocara sp./ Giardia sp. 2 12,5 Toxocara sp./ Oocisto Eimeria sp. 1 6,3 Isospora sp./ Giardia sp./ Oocisto 1 6,3 Ancylostoma sp/ Giardia Toxocara sp. Ancylostoma sp./ Toxocara sp./Trichuris sp. Eimeria sp. Total 16 40 Nº=número de amostras fecais positivas. 4.4- Resultados por domicílio Foram descritas as amostras fecais de animais que vivem em apartamento e os que vivem em casa, correspondendo a 29 e 41 animais, respectivamente. Das 29 amostras provenientes de apartamento, 6 (20,7) apresentaram resultado positivo, 23 (79,3) foram consideradas negativas. Das 6 amostras positivas analisadas, todas (100%) apresentavam presença de Ancylostoma sp. ,2/6 foram positivas para o gênero Toxocara sp.,1/6 era parasitada por Giardia sp. Enquanto que, das 41 amostras de cães que residem em casa 34 (82,9%) foram positivas e 7 (17,1%) foram consideradas negativas. Destas, 22 foram positivas para Ancylostoma sp., 10 para o gênero Toxocara sp., 2 eram parasitadas por Trichuris sp., 14 para Giardia sp. e apenas uma amostra por Isospora sp. (Quadro 4). Quadro 4: Prevalência (%) de infecção por endoparasitas em cães domiciliados em apartamentos e casas, nos Municípios de Niterói e São Gonçalo. Nº Ancylostom Toxocar Trichuris Giardia Isospora Oocisto de a a sp. sp. Eimeria sp. sp. sp. sp. Apartamento 20,7 100 (6/6) 33,3 0 (0/6) 16,6 (29/70) (6/29) Casa (41/70) 82,9 64,7 2,9 5,9 41,2 (34/41 (22/34) (1/34) (2/34) (14/34) 0 (0/6) 0 (0/6) 2,9 (1/34) 5,9(2/34) (1/6) (2/6) ) Nº: porcentagem total de amostras positivas Das 32 amostras provenientes do Município de Niterói, 22 viviam em apartamentos e 10 em casas. Enquanto que, das 38 amostras de São Gonçalo, apenas 7 delas eram provenientes de cães que moram em apartamentos e 31 amostras de animais que vivem em casas.(Gráfico 4). Gráfico 4: Número de amostras analisadas em função do tipo de domicílio e o Município que reside. 35 31 30 25 22 20 15 Apartamento Casa 10 10 7 5 0 Niterói São Gonçalo 4.5- Resultados de acordo com as técnicas utilizadas As amostras foram analisadas por diferentes técnicas coproparasitológicas. As técnicas de Willis, Faust e Teste ELISA, foram realizadas nas 70 amostras de fezes caninas, enquanto que, o Método de Hoffman, foi feito uma amostra para um grupo de 10 amostras fecais, totalizando 7 amostras analisadas por este método. Sendo os resultados, descritos no quadro 5. Quadro 5: nº de amostras positivas por diferentes técnicas parasitológicas. Parasitoses Técnica de Willis Método de Hoffman Técnica de Faust Ancylostoma sp. 25 2 12 Toxocara sp. 11 0 0 Giardia sp. 0 0 0 Trichuris vulpis 5 0 0 Oocistos de Eimeria 1 0 2 0 1 Intestinais sp. Isospora sp. 0 A Técnica de ELISA foi realizada nas 70 amostras de fezes caninas, com o objetivo de detectar infecção por Giardia sp. Destas 17 eram positivas, enquanto que, 53 foram consideradas negativas. Como ilustrado no gráfico a seguir: Gráfico5-Ocorrência de infecção por Giardia sp. pela Técnica de ELISA 00 24,30% Amostras Positivas Amostras Negativas 75,70% 4.6- Resultados da infecção por Giardia sp. de acordo com a faixa etária A infecção por Giardia sp. pode ser avaliada em função da faixa etária das amostras de fezes de cães positivas. Onde se obteve maior positividade os cães com idade inferior a 1 ano. (Quadro 6). Quadro 6: Parasitismo por Giardia sp. em função da faixa etária. Faixa Etária % Positivos % Negativos Filhotes (< 1 ano) 82,4 (14/17) 17,6 (3/17) Adultos ((≥1 ano) 17,6 (3/17) 82,4(3/17) Total 42,5 42,5 4.7- Resultado das Endoparasitoses por faixa etária As amostras também foram analisadas segundo a faixa etária, onde foi possível observar, como mostra no Gráfico 9, a maior incidência na faixa etária ≤ 1 (com 66,6% de amostras positivas e 33,3% de amostras negativas), que corresponde a amostras de fezes de cães a partir de 45 dias de vida até 1 ano de idade. Seguido das amostras de animais acima de 1 ano até os três anos (50% de amostras positivas e 50% de amostras negativas), e das amostras de cães acima de 3 anos (33% de amostras positivas e 66,6% de amostras consideradas negativas). Gráfico 6: Prevalência (%) de infecções por parasitose intestinais, segundo a faixa etária, dos cães dos Municípios de Niterói e São Gonçalo. 100,00% 90,00% 33,30% 80,00% 50% 70,00% 66,60% 60,00% Colunas1 50,00% Negativos 40,00% 66,60% 30,00% 50% 20,00% 33,30% 10,00% 0,00% ≤ 1 ano > 1 -3 anos > 3 anos 5- DISCUSSÃO O nematóide mais freqüentemente encontrado neste estudo foi o Ancylostoma sp. (67,5%), resultado semelhante ao obtido por Leite et al.(2004) (29,17%); Blauzius et al. (2005) (70,9%); Capuano e Rocha (2006) ( 41,7%); Labruna et al. (2006) (73,7%). Este resultado é esperado, pois a ancilostomíase tem distribuição universal, podendo ser encontrada em animais de todas as faixas etárias (VELHO et al., 2007). Além disso, os cães podem ser parasitados por ancilostomídeos por toda a vida, enquanto desenvolve na maturidade imunidade contra ascarídeos (URQUHART, 1998; CAPUANO e ROCHA, 2006). Autores como Blauzius et al. (2005); Labruna et al. (2006), tiveram como segunda maior prevalência, o gênero Toxocara sp. . Ao contrário destes, o presente estudo teve como segunda maior prevalência a Giardia sp. (42,5%), enquanto que o gênero Toxocara sp. apresentou um índice de infecção, correspondente a 30% (12/40) das as amostras analisadas. A maior taxa de ocorrência de Toxocara sp. em cães domiciliados foi relatada na cidade de São Paulo, observando 8,5% ou 30 em 353 animais. (GENNARI et al.,1999 apud. SANTOS et al., 2007), e no Peru, onde 19,75% ou 32 em 162 cães.(TRILLOALTAMIRO et al.,2003). Segundo Sakano, 1980; Dunn, 2002, apud. Capuano e Rocha (2006), o encontro de larvas de Ancylostoma sp. e de ovos embrionados de T. canis, tem uma importância epidemiológica significante, indicando a existência de condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento destes parasitas, o que representa um risco para a saúde pública, devido a possibilidade da ocorrência da Larva migrans cutânea (LMC) e da Larva migrans visceral (LMV). Guimarães et al. (2005), avaliou 48 amostras de solo e de areia do Município de Lavras, MG e obteve maior nível de contaminação por ovos de Toxocara sp. e ovos ou larvas de Ancylostoma sp. em praças públicas (69,6%). O diagnóstico de Giardia sp. foi obtido somente pelo Teste ELISA, que tem a finalidade de detectar antígenos nas fezes (copro-antígeno) de cães e gatos (NEVES, 2005). Para Barr et al. (1992) apud. Beck et al. (2005), o diagnóstico de cistos de Giardia sp. através do Método de Faust e cols. é o mais prático e efetivo, no entanto, o sucesso do diagnóstico é baixo em cães, devido a liberação intermitente dos cistos. A ausência de resultado positivo para Giardia sp., através da técnica de Faust e cols., Willis e Hoffmam pode ser justificado, pelo fato de ter sido colhida apenas uma amostra de material fecal de cada animal. Pois segundo Bartmanm et al. (2004) para detecção desse protozoário devem ser analisados no mínimo 3 amostras de fezes, devido a liberação intermitente de cistos. Porém Salles e Menezes (2008), mesmo analisando uma só amostra de cada animal, encontraram 42% de positividade através da técnica de centrífugo- flutuação em solução saturada de açúcar (Técnica de Willis). Em 2005, BECK et al., das 332 amostras do Município de Canoas, RS analisadas pelo Método de Faust e cols., 34, 04% estavam positivas para Giardia sp. Segundo Bartmann et al.(2004), quando a amostra fecal foi analisada uma vez a positividade foi de 25%, aumentando este índice em 12% quando analisada duas vezes e em 17% quando analisada três vezes. Através do teste ELISA, foram diagnosticadas 17/70 amostras positivas para o gênero Giardia sp., segundo Vidal e Capatani (2005), o teste é positivo mesmo quando uma significante proporção das correspondentes amostras examinadas por microscopia ainda é negativa. A infecção por Giardia sp. pode também ser avaliada em função da faixa etária dos cães. Das 17 amostras positivas, 14 (82, 4%) eram de animais com menos de 1 ano de vida, e apenas 3 (17,6%) das amostras correspondiam aos animais acima de 1ano de idade. Concordando com Beck et al. (2005), que em seus estudos determinou que 26 a 50% dos cães até um ano e meio de idade apresentavam-se infectados, e em canis, a porcentagem chegou a 100%. Kirkpatrick (1988) apud. Salles e Menezes (2008), afirmavam que a infecção por Giardia sp. é mais freqüente em animais jovens, uma vez que a imunidade específica ao parasito se desenvolve com a idade. Portanto, cães com menos de 3 anos de idade, especialmente aqueles com menos de 1 ano, são mais susceptível à infecção do que os animais mais velhos. Segundo Robertson et al. (2000); Blauzius et al. (2005) o gênero Isospora sp. é um protozoário patogênico que pode ser transmitido dos animais domésticos para o homem, através da água e alimentos contaminados com os oocistos, a forma infectante do parasita, causando desconforto gastrointestinal e diarréia crônica. Neste estudo, o parasita foi observado em uma frequência de 2,5% (1/40), um pouco menor do que a observada por Capuano e Rocha (2006), onde se teve uma incidência de 3,3%. O que não foi encontrado por outros autores com trabalhos semelhantes. (CASTRO et al., 2005). Porém, segundo Bartmann et al. (2004) e Beck et al. (2005), através de levantamentos baseados nos exames coprológicos de cães realizados em diversos municípios do Brasil, revelaram prevalências de isosporíase entre 0,38% a 8,5% e de giardíase entre 7,7% a 38%, indicando que estes protozoários são freqüentes nos cães. O percentual encontrado de Tichuris sp., nos Municípios de Niterói e São Gonçalo foi de 5% (2/40). Enquanto que Santos et al. (2007), em Londrina-Paraná, analisando amostras de cães com diarréia aguda obteve como menor taxa de ocorrência de infecção o Trichuris sp. Em 2008, Silva et al., analisando a incidência de Toxocara canis em fezes caninas das vias públicas da cidade de São Paulo, encontrou 0,6% (1/153) de ovos de Trichuris vulpis. Que segundo ele, mesmo a freqüência de fezes contaminadas serem pequena, o risco potencial de contaminação da população humana não deve ser desprezado. Segundo Freitas (1997) apud. Labruna et al. (2006), altas freqüências de Trichuris sp. estão relacionadas aos cães errantes, que passam a ser importantes fontes de infecção para os cães domiciliados, uma vez que os ovos de Trichuris sp. podem se manter infectantes por vários meses no ambiente. Há relatos de sobrevivência desses ovos por até seis anos no ambiente, sob condições favoráveis de temperatura e umidade. Capuano e Rocha (2006), afirmaram que os ovos das espécies T. vulpis e T. trichiura são morfologicamente parecidos e apesar da sua especificidade para hospedeiros, já ocorreram casos de infecção entérica e de larva migrans visceral humanas pela espécie canina. Neste estudo oocistos de Eimeria sp. foram encontrados em 15,4% das amostras de fezes positivas caninas e somente das provenientes do município de Niterói. Foi avaliada a prevalência de endoparasitoses, nos Municípios de Niterói e São Gonçalo, segundo seu habitat. Das 70 amostras analisadas 29 eram de apartamento, destas apenas 6 (20,7%) foram positivas. E 100% destas amostras apresentavam ovos do gênero Ancylostoma sp. Apesar das amostras de apartamento ter menor incidência de parasitos, estes animais são os que mais freqüentam as ruas, principalmente, para fazerem suas necessidades fisiológicas, fatores que contribuem para a contaminação do ambiente. E Corrêa, et al. (1996), relatou nos seus estudos em Santa Maria - RS, que 93,3% das 30 praças públicas foram encontrados ovos de Ancylostoma sp. Das 41 amostras provenientes de casa, 34 (82,9%) eram positivas para endoparasitoses, sendo que o maior percentual obtido também foi de ovos de Ancylostoma sp. , correspondendo a 64,7% das amostras. Segundo Salles e Menezes (2008) a alta prevalência de infecção de ancilostomídeos em seu trabalho teve associação significativa com a higiene ruim do ambiente, com essas condições, a contaminação por fezes no quintal provavelmente propiciou a disseminação de formas infectantes de ancilostomídeos. Para Labruna et al. (2006), cães domiciliados devem assumir importância na contaminação de locais públicos, uma vez que estes locais também são intensamente visitados por estes animais, ao passearem com seus proprietários. O índice de positividade em animais adultos foi menor que o encontrado em animais jovens (≤ 1 ano), ao contrário de Ferreira et al. (2006), onde os animais adultos foram os mais parasitados e apresentaram uma freqüência de 42,9%. Para Robertson et al. (2000), animais mais velhos, geralmente são resistentes à doença clínica, porém podem apresentar infecções esporádicas não aparentes, sendo no geral fontes de infecção para animais jovens. Quanto à distribuição dos resultados dos exames de fezes dos cães, em relação às técnicas utilizadas para detecção de endoparasitos, pode-se afirmar que a técnica de Willis demonstrou sua eficiência sobre as demais técnicas para o diagnóstico de ovos de helmintos. Resultado semelhante ao encontrado por Ferreira et al.(2006), em que analisou 22 amostras de fezes caninas e encontraram 11 amostras positivas. Oliveira-Sequeira et al.(2002) examinando 271 amostras de fezes de cães em Botucatu, SP, constataram maior eficácia do método de centrífugo-flutuação em relação aos métodos de sedimentação e de flotação simples, na detecção de Giardia sp. e Isospora sp. Neste estudo, em relação aos coccídeos, Isospora sp. foi encontrado somente pela técnica de centrífugo –flutuação em sulfato de zinco. 6- CONCLUSÃO Após realizar as análises dos resultados obtidos neste estudo, concluiu-se que a freqüência de infecção por endoparasitos em cães domiciliados, nos Municípios de Niterói e São Gonçalo foi expressiva. E a maior incidência foi em animais na faixa etária de 45 dias a 1 ano, e provenientes de casa. Por isso, o ambiente é considerado uma importante fonte de infecção, principalmente, aqueles que têm maior umidade, a partir daí, é indispensável à higiene do mesmo, evitando que o animal tratado se reinfecte. Contudo, apesar do índice de positividade das amostras de animais de apartamento ter sido menor, o seu índice foi representativo. Assumindo também, um papel epidemiológico na disseminação dos estágios infectantes dos parasitos. Embora as amostras analisadas sejam de animais clinicamente sadios um número considerável estava infectado por endoparasitos. Por isso, é necessário tanto a nível da clínica veterinária como da saúde pública, a realização de estudos de prevalência desses parasitos, pra se estabelecer medidas de controle e profilaxia, reduzindo os riscos de exposição a parasitos intestinais, potencialmente causadores de zoonoses. 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARR, S. C.; BOWMAN, D. D. Giardiais in dogs and cats. 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