ISSN 1982 - 0283 PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS: A ESCOLA NA REDE DE CUIDADOS Ano XXIII - Boletim 23 - NOVEMBRO 2013 Prevenção ao uso de drogas: a escola na rede de cuidados SUMÁRIO Apresentação........................................................................................................................... 3 Rosa Helena Mendonça Introdução............................................................................................................................... 4 Carla Dalbosco Ana Luzia Dias Pereira Texto 1: O professor e a prevenção do uso de drogas: em busca de caminhos....................... 10 Helena Maria Becker Albertani Texto 2: As situações-problema relacionadas ao uso de álcool e outras drogas presentes na escola............................................................................................................ 18 Carla Dalbosco Texto 3: Prevenção do uso de drogas: a construção de uma política pública a partir da formação de educadores.......................................................................................................25 Profa. Dra. Maria Fátima Olivier Sudbrack Profa. Dra. Maria Aparecida Gussi Prevenção ao uso de drogas: a escola na rede de cuidados Apresentação A publicação Salto para o Futuro comple- A edição 23 de 2013 traz como tema Preven- menta as edições televisivas do programa ção ao uso de drogas: a escola na rede de de mesmo nome da TV Escola (MEC). Este cuidados e conta com a consultoria de Carla aspecto não significa, no entanto, uma sim- Dalbosco, psicóloga, mestre e doutora em ples dependência entre as duas versões. Ao Psicologia Clínica e Cultura pela Universida- contrário, os leitores e os telespectadores de de Brasília – UnB. Os textos que integram – professores e gestores da Educação Bási- essa publicação são: ca, em sua maioria, além de estudantes de cursos de formação de professores, de Fa- 1. O professor e a prevenção do uso de dro- culdades de Pedagogia e de diferentes licen- gas: em busca de caminhos ciaturas – poderão perceber que existe uma interlocução entre textos e programas, pre- 2. As situações-problema relacionadas ao uso servadas as especificidades dessas formas de álcool e outras drogas presentes na escola distintas de apresentar e debater temáticas variadas no campo da educação. Na página 3. Prevenção do uso de drogas: a constru- eletrônica do programa, encontrarão ainda ção de uma política pública a partir da outras funcionalidades que compõem uma formação de educadores rede de conhecimentos e significados que se efetiva nos diversos usos desses recursos nas escolas e nas instituições de formação. Os textos que integram cada edição temática, Boa leitura! além de constituírem material de pesquisa e estudo para professores, servem também de Rosa Helena Mendonça1 base para a produção dos programas. 1 Supervisora Pedagógica do programa Salto para o Futuro (TV Escola/MEC). 3 Introdução PROPOSTA PEDAGÓGICA Carla Dalbosco1 Ana Luzia Dias Pereira2 Falar sobre drogas é sempre delica- Nas últimas décadas, a preocupação do. Geralmente as discussões são infladas com o consumo dessas substâncias vem au- por juízos de valor, pré-julgamentos ou pre- mentando, principalmente quando se pensa conceitos que nos levam a perceber a pro- em crianças e adolescentes, e a discussão blemática sem, no entanto, conseguirmos sobre estratégias possíveis para o enfren- dominá-la eficientemente. E essa temática tamento dos problemas decorrentes deste deve ser adequadamente debatida e traba- uso, aliadas a ações preventivas, têm sido lhada no ambiente escolar, para que tenha- fomentada no âmbito do governo e da so- mos condições de enfrentar este problema ciedade. Mas este não é um debate simples. 4 de modo a preveni-lo, promovendo a saúde de todos os sujeitos que vivenciam o dia a dia escolar, sejam educadores, colaborado- pergunta: quem está apto a fazer preven- res, alunos ou familiares. ção? É preciso pensar se há algum campo de Iniciamos esta proposta com uma atuação que possua a prerrogativa de liderar O uso de drogas psicotrópicas é en- estas ações: profissionais de saúde, assistên- contrado em diferentes civilizações e, desde cia social, lideranças comunitárias, educado- a história antiga, há relatos de consumo em res... Afinal, quem é o principal responsável? contextos religiosos, rituais, festas ou cele- Ou será que todos estes atores possuem sua brações. Podemos, sem sombra de dúvida, parcela de contribuição, além, é claro, de ou- dizer que drogas e cultura sempre andaram tros segmentos e membros da sociedade? juntas. O que muda, ao longo dos diversos momentos históricos, são as questões con- ceituais entre, por exemplo, o que é lícito e do tema drogas foi considerada tabu nas es- o que é ilícito, quais drogas serão toleráveis colas brasileiras. As poucas ações existentes Durante muito tempo, a abordagem socialmente e quais não. 1 Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília – UnB. Consultora desta Edição Temática. 2 Doutora em Lingüística pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC eram focadas no modelo do amedrontamento em uma escola saudável é dialogar com todos e havia a crença de que somente especialistas os atores que fazem parte de seu contexto de na área poderiam propor estratégias preventi- inserção, valorizando os recursos disponíveis vas para este contexto. Todavia, a medida que e as parcerias possíveis com os diversos pon- as políticas públicas iam avançando e sendo tos da rede social e comunitária. consolidadas no país, inúmeras mudanças na visão sobre o consumo e os usuários de álcool O programa Uso de drogas no ambien- e outras drogas foram introduzidas. te escolar: ações integradas para prevenção apresentará o tema em suas diferentes face- Nos últimos anos, foi inaugurado tas. Por um lado, teremos um olhar voltado um debate mais pragmático sobre a temá- para dentro dos muros da escola, valorizan- tica, pautando-a como uma questão social do ações possíveis, educadores capacitados complexa que demanda intervenções, não e engajados em projetos, além do protago- apenas de segurança pública, mas também nismo dos próprios alunos, sejam crianças preventivas e de cuidado com o usuário, a ou adolescentes, na proposição de ações. No partir da perspectiva da intersetorialidade. segundo foco proposto, o programa deixará Passou-se de um modelo focado unicamen- evidente um olhar que precisa voltar-se para te na repressão do uso para um modelo que fora da escola, para o território, para a co- privilegia ações de saúde e educacionais pre- munidade que a cerca, para a relação com as ventivas em geral. Assim, a escola passou a famílias, para as boas práticas identificadas ser considerada um espaço fecundo para a e para a rede de proteção a ser construída e realização de atividades de prevenção do fortalecida, tanto no âmbito governamental uso de drogas e de promoção à saúde arti- quanto não-governamental. culadas, pois está inserida em contextos e comunidades específicos, que possuem suas É preciso pensar em ações de caráter peculiaridades históricas, culturais, muni- preventivo universal, mas também não pode- cipais e regionais. O espaço escolar não é mos esquecer de falar daquelas escolas reais isolado do conjunto maior da sociedade e que, muitas vezes, já enfrentam problemas é preciso construir pontes que aproximem, muito concretos de consumo ou tráfico nas ainda mais, a escola e sua rede. suas imediações ou, até mesmo, dentro da própria escola, e trabalham com adolescen- Além do mais, a prevenção não é uma tes que já se encontram em situação de risco prerrogativa apenas dos especialistas, pois e vulnerabilidade social. Transitar entre es- todos nós, cidadãos, somos aptos a realizar ses diferentes olhares tem como objetivo fo- ações preventivas em algum âmbito. Pensar mentar um espaço para reflexão e revisão de 5 práticas, para que os educadores sintam-se é tarefa simples, dada a própria complexi- fortalecidos para enfrentar este assunto que, dade que envolve o fenômeno. Em primeiro muitas vezes, é gerador de medos, preconcei- lugar, é preciso levar em consideração a trí- tos e dificuldades para abordar o tema junto ade “substância, indivíduo e meio ambien- aos jovens, nosso principal público-alvo. te”, pois, embora problemas como o abuso de drogas sejam pessoais por natureza, eles TEMAS GERADORES não podem ser entendidos sem consideração ao contexto interpessoal dentro do qual Com base nestas reflexões, iniciamos ocorrem. É preciso também avaliar os fato- a problematização de algumas questões sobre res de risco presentes na vida do adolescente a escola e os educadores. Para tal, formulamos que podem aumentar a probabilidade dele perguntas que podem nos ajudar a refletir: vir a consumir drogas. - Que problemas reais relacionados ao consu- OBJETIVOS DO PROGRAMA mo de drogas são enfrentados no cotidiano escolar e quais estratégias e encaminhamentos geralmente são utilizados para sua resolução? tencialidades existentes na própria escola e Com o objetivo de valorizar as po- na comunidade que a cerca, são enfocados - Que conhecimentos os educadores consi- três principais eixos para debate: deram importantes para um bom desfecho de situações-problema? A escola como espaço para sensibi- lização e construção de potenciais preven- Com que parcerias na rede interna e exter- tivos, a partir de capacitações específicas na da escola os educadores podem contar? e disseminação de projetos de prevenção e promoção da saúde, tornando os educado- - Os educadores se sentem preparados res e os alunos os protagonistas das ações para lidar com o tema drogas e realizar de caráter coletivo. ações de prevenção? A escola como espaço de educadores - Qual é a visão que predomina nas escolas preparados para lidar com diferentes situa- em relação aos modelos de prevenção exis- ções de risco identificadas e como um espa- tentes? O que falta? ço de acolhimento e não de exclusão. Além do mais, responder à pergunta “o que leva os jovens a usarem drogas?” não Articulação com as diferentes re- des e atores para corretos encaminhamen- 6 tos quando necessário e enfrentamento O texto aborda diferentes posturas de desafios de forma conjunta: saúde, se- diante do uso de drogas, fatores pessoais e gurança, educação, assistência social, ju- sociais que favorecem a vulnerabilidade, a ventude, garantia de direitos, conselhos importância de conhecer as drogas que es- municipais, famílias, os próprios alunos, tão mais presentes na vida dos alunos e as educadores, funcionários da escola, gesto- diferentes formas como a escola pode se or- res, técnicos, as lideranças comunitárias, ganizar para enfrentar os desafios. lideranças religiosas, conselheiros municipais, entre tantos outros. Texto 2 – As situações-problema relacionadas ao uso de álcool e outras drogas presen- TEXTOS DO PROGRAMA tes na escola Os textos que acompanham este programa foram elaborados de forma complementar panorama sobre as diferentes situações- e pretendem ajudar na reflexão sobre os te- -problema que afetam o contexto escolar mas e projetos já existentes em âmbito go- e que envolvem o consumo de drogas ou o vernamental e não governamental. tráfico de substâncias ilícitas, bem como as O objetivo do texto é apresentar um estratégias adotadas pelos educadores para Texto 1 - O professor e a prevenção do uso enfrentamento destas circunstâncias dentro de drogas: em busca de caminhos do ambiente da escola. O texto traz reflexões sobre o papel da Para tal, aborda aspectos sobre o educação frente ao tema e as diferentes ma- papel do educador e o quanto sua visão de neiras como os educadores podem contribuir mundo e as representações sociais sobre o para ações de prevenção do uso de drogas tema serão determinantes para que se atin- voltadas ao contexto escolar, a partir de uma jam resoluções das situações-problema con- abordagem realista e despida de preconceitos. sideradas “boas” ou “más”. Diante de uma questão tão complexa O protagonismo do educador é fun- historicamente, se torna necessário compre- damental para que se tenha sucesso nesse ender que o objetivo não é atingirmos o ideal enfrentamento, ajudando a escola na arti- de uma sociedade totalmente livre de drogas, culação com as diversas redes de apoio e a mas é preciso valorizar o papel protagonista apostar na reinserção dos alunos usuários. do educador para auxiliar os estudantes a fa- Ações e projetos preventivos na escola preci- zerem escolhas saudáveis em suas vidas. sam agregar uma visão mais realista do con- 7 texto escolar brasileiro, que leve em conta Esperamos, com esse Programa, os fatores de risco já presentes em seu coti- colaborar para que nós, educadores, consi- diano, mas sem descuidar da valorização de gamos encontrar a melhor forma possível fatores de proteção envolvidos e do protago- de lidar com o tema “Drogas” no ambiente nismo dos próprios jovens. escolar, respeitando divergências, desmitificando pré-conceitos e promovendo a ação Texto 3 – Prevenção do uso de drogas: a intersetorial integradora. É importante ja- construção de uma política pública a partir mais esquecermos que a ação conjunta fun- da formação de educadores damenta a vida em sociedade, principalmente o cotidiano escolar. Sem trabalharmos em O texto que encerra esta edição conjunto, a escola não consegue se alicerçar. aborda a experiência de uma política go- O conhecimento é construído e transmitido vernamental centrada na capacitação de em rede. E essa temática, por mais delicada educadores, o “Curso de Prevenção do Uso e problemática que possa ser, também deve de Drogas para Educadores de Escolas Pú- ser conhecida e trabalhada por todos e em blicas”, promovido pela Secretaria Nacional todos os nós que constituemos esta rede. de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação e realizado pela Universidade de Brasília. Por meio do exemplo deste curso a distância, as autoras abordam a importância de preparar os profissionais das escolas públicas para uma atuação coletiva nas ações preventivas e de promoção da saúde no contexto escolar. É apresentada também a proposta político-pedagógica e o histórico da consolidação do curso como uma política pública, que visa, acima de tudo, subsidiar a escola para a elaboração e desenvolvimento de projetos de prevenção do uso de drogas em articulação com a rede da escola. 8 LINKS NA INTERNET Site do programa governamental “Crack, é possível vencer”: www.brasil.gov.br/crackepossivelvencer Portal do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas – OBID: www.obid.senad.gov.br 9 texto 1 O professor e a prevenção do uso de drogas: em busca de caminhos Helena Maria Becker Albertani1 O papel de educador envolve muitas dimensões. Somos chamados a ensinar um POSTURAS DIANTE DO USO DE DROGAS conteúdo programático, a estabelecer boas relações com os alunos, a auxiliá-los a de- senvolver habilidades e atitudes e a prepará- multidisciplinar e envolve ações de prevenção, -los para continuar a aprender, construindo tratamento, inserção social, redução de da- conhecimentos com autonomia e seriedade nos, estudos científicos, pesquisas, repressão para ampliar sua visão crítica do mundo e se ao tráfico. O pano de fundo são as políticas comprometer com ele. públicas sobre o assunto. O papel da educa- A abordagem da questão das drogas é ção refere-se à prevenção do seu uso indevido. Não é nada fácil. Muitas vezes nos sentimos impotentes diante de tantos desa- fios, numa sociedade plural, universalmente tam quando se trata de organizar ações pre- permeada pela comunicação instantânea. ventivas: a guerra às drogas e a diminuição Ainda assim, conscientes de nosso papel, de riscos e danos, diante do consumo. Duas posturas básicas se apresen- buscamos dar conta do trabalho educacional que envolve, não apenas o crescimento intelectual dos educandos, mas seu desen- tas pessoas, instituições e países, preconiza volvimento pessoal e social na construção e defende a erradicação do uso de drogas e de um projeto de vida. a adoção do consumo zero. Mesmo com sua A guerra às drogas, adotada por mui- pretensa intenção de favorecer uma vida mais Dentro deste contexto, um dos te- mas com os quais somos chamados a traba- saudável às pessoas, esta concepção é, ao mesmo tempo, irreal, injusta e preconceituosa. lhar é o uso de drogas. 1 Orientadora Educacional, Licenciada em Filosofia. Coordenadora-Geral de Prevenção da Secretaria Drogas - SENAD - (Brasília, 2003-2005). Mestre em Nacional Educação pela PUC SP. de Políticas sobre 10 Sabemos que nem todos os usos de o álcool, o tabaco e os remédios) ou ilegais, drogas são prejudiciais, embora possam acar- embora não mais difíceis de serem adquiridas. retar riscos. Quando se pretende “eliminar E, nesta realidade, saber como e por que fazer qualquer uso”, estamos ignorando os usos escolhas que impliquem no menor risco possí- médicos, rituais e sociais. vel de danos à saúde, à convivência social e à integridade das pessoas. A humanidade sempre fez uso de substâncias que alteram a consciência, em busca de prazer ou de diminuição do sofrimento. A missão da educação, ao invés de negar a realidade, é procurar compreendê-la e formar pessoas que saibam conviver com ela de forma crítica, A missão da educação, ao invés de negar a realidade, é procurar compreendê-la e formar pessoas que saibam conviver com ela de forma crítica, fazendo escolhas conscientes e autônomas. Na postura de redução de riscos e danos, o objetivo do trabalho de prevenção do uso de drogas não é direcionar autoritariamente os comportamentos mas, basicamente, auxiliar as pessoas a desenvolverem sua capacidade de decisão para fazerem fazendo escolhas cons- escolhas que favoreçam cientes e autônomas. o exercício da liberdade com responsabilidade para uma vida realiza- O proibicionismo e as metodologias dora, saudável, segura e feliz. Como uma al- de caráter autoritário e moralista trabalham ternativa à guerra às drogas, procura reduzir contra as possibilidades de opção. Além de as vulnerabilidades de cada pessoa aos proble- serem opostos aos direitos humanos que mas decorrentes do uso indevido de drogas. proclamam a livre construção da vida pesso- Neste sentido, configura-se como uma ação al como inerente ao ser humano, são bastan- mais pragmática para evitar prejuízos à saúde te ineficazes como princípios educacionais. individual e coletiva. Ao deixarem de ser controlados pelos adultos, os jovens que não desenvolveram sua Cabe, contudo, mencionar que a me- autonomia tenderão a agir com critérios me- lhoria da qualidade dos professores resultan- nos claros e menos fundamentados e, mui- te de um nível mais alto na formação, está tas vezes, bem mais arriscados. também condicionada, entre outros fatores, à qualidade na oferta dos cursos e às condições É preciso aprender a conviver com a existência de drogas, sejam elas legais (como dadas aos estudantes que os frequentam. 11 FATORES PESSOAIS E SOCIAIS QUE FAVORECEM A VULNERABILIDADE Outros fatores de ordem social são também importantes na experimentação e na manutenção do uso de drogas. Entre eles O fato de uma droga ser proibida, estão a publicidade, direta ou velada, e a dis- permitida, ou até ter seu uso estimulado torção de dados sobre o consumo entre a po- em uma sociedade, não é, na maioria das pulação, banalizando a informação, como se vezes, fruto da percepção dos benefícios, o uso de algumas drogas fosse um compor- riscos ou prejuízos que seu consumo traz tamento adotado pela maioria das pessoas. consigo. Fatores econômicos, culturais, sociais ou políticos costumam prevalecer so- Na propaganda, o álcool é associado bre os de bem-estar social. à juventude, à beleza, ao prazer, à sexualidade, ao bom desempenho esportivo e ao Os adolescentes que frequentam as prestígio social. São apelos que sensibilizam nossas escolas são também participantes o adolescente. Na ficção, os personagens be- de uma sociedade que preconiza o sucesso, bem, invariavelmente, quando estão estres- alimenta a competição, favorece a cultura sados, preocupados, com raiva. E também do prazer e encoraja a busca de vivências quando estão felizes, descontraídos, nas desafiadoras e arriscadas. Tudo isso sem a ocasiões festivas e nas comemorações. conscientização da correspondente noção da responsabilidade pessoal e social pelas Ao tratar do uso de drogas nos seus consequências das decisões e ações. noticiários, no entanto, a mídia não parece muito crítica diante da constante presença Neste contexto, torna-se mais difícil do álcool na telinha, na telona ou na impren- o desenvolvimento do controle dos impul- sa. A abordagem sobre o assunto se centra sos, da tolerância à frustração e mais fácil prioritariamente nas drogas ilícitas e, hoje a inserção em ações desconhecidas ou in- em dia, especialmente no crack. Sem mini- seguras. As crianças e adolescentes se acos- mizar os efeitos prejudiciais que esta droga tumam à recompensa imediata para suas pode acarretar do ponto de vista pessoal e ações e à necessidade de supressão da dor social, é preciso saber onde estão os maiores física ou mental. Os adultos, muitas vezes, riscos para o envolvimento de nossos alunos se sentem responsáveis por “retirar” o so- em problemas relacionados ao uso de dro- frimento da criança, mesmo que de forma gas. No trabalho de prevenção com crianças provisória ou fictícia, pelo uso de paliativos, e adolescentes deve-se considerar o uso das de medicamentos, de álcool ou outra droga. substâncias que estão mais próximas e que são as mais consumidas por eles e pelas pessoas com quem convivem. 12 “A mídia peca, e muito, ao insistir em um moralismo exagerado na discus- dos os estados brasileiros e no DF, mostra são do tema, denunciando o usuário que 60,5% dos estudantes desses níveis de de drogas ilícitas como o responsável ensino já haviam experimentado bebidas al- pela maioria das dificuldades existen- coólicas e 16,9% já haviam fumado ao me- tes nas mais diversas sociedades des- nos um cigarro de tabaco. Os solventes e te mundo globalizado, e incentivando inalantes ocupam o terceiro lugar entre as exageradamente o consumo de outras drogas usadas pelos alunos, com 8,7% de substâncias, como o álcool. (...) Muito experimentadores, seguidos pela maconha, mais importante do que denunciar ou que já foi usada, pelo menos uma vez, por simplesmente criticar o abuso de subs- 5,7% deles. Os remédios mais consumidos tâncias psicoativas, é buscar soluções (sem receita médica) foram os ansiolíticos práticas através de novas abordagens (5,3%) e os anfetamínicos (2,2%). Entre os e propostas, como, por exemplo, a re- estudantes pesquisados, 2,5% já haviam ex- dução dos danos associados ao uso e perimentado cocaína e 0,6% o crack (Carlini/ abuso de drogas”. (Gorgulho, 2006) Cebrid/Senad, 2010). A ação preventiva na escola deve ser A pesquisa, feita nas capitais de to- Estes dados, atuais e preocupantes, realizada com esta perspectiva. Para isso é nos apontam que a maior preocupação ao preciso levar em conta os fatores que tornam fazer um trabalho preventivo nas escolas os alunos mais vulneráveis ao uso de drogas deve se referir às drogas lícitas, especial- e que dizem respeito ao próprio indivíduo e à mente o álcool. sociedade, incluindo as políticas públicas. QUE DROGAS ESTÃO MAIS PRÓXIMAS DE NOSSOS ALUNOS? Não se trata, portanto, de fazer uma “guerra”, procurando afastar os alunos de qualquer contato com as drogas. Elas estão aí, fazem parte da nossa vida. O objetivo é Os dados estatísticos sobre o uso fazer com que cada pessoa seja capaz de de drogas por estudantes de ensino funda- conviver com esta realidade e fazer escolhas mental e médio de escolas públicas e pri- adequadas para sua vida. vadas do país (Carlini/Cebrid/Senad, 2010) constituem uma base importante para A prevenção do uso indevido de dro- nosso ponto de partida. Eles revelam que gas deveria estar “direcionada em promover, as drogas lícitas, como o álcool e o tabaco, nas pessoas, uma formação que possibili- são as mais usadas pelos alunos. tasse maior conhecimento dela mesma, de sua vida e dos problemas do mundo, priori- 13 zando, em última análise, uma redução de ESTRUTURA DA ESCOLA vulnerabilidade em relação ao uso nocivo de drogas” (Sodelli, 2010). Estudos revelam que a forma como a escola se organiza pode favorecer a diminui- TRÊS FOCOS DE PREVENÇÃO NA ESCOLA ção da vulnerabilidade das crianças e ado- Mesmo acreditando na necessidade lescentes para o uso de drogas (Kraus, 2000). Entre as características da escola facili- de incluir a prevenção no trabalho educacio- tadoras do desenvolvimento de posturas mais nal da escola, não é fácil conceber um pro- autônomas e responsáveis pelos alunos, e que jeto atualizado, eficiente e viável, dentro do ajudam a prevenir o uso de drogas, estão: currículo escolar. Este processo, no entanto, está presente na vida escolar, tenhamos Clima acolhedor e afetivo – ambiente em que consciência disso ou não. os alunos se sentem reconhecidos como pessoas e no qual os vínculos são favorecidos; Cada escola, inclusive aquelas inseri- das em sistemas públicos, tem sua concep- Participação, envolvimento e responsabilida- ção de educação, seus princípios, sua me- de dos alunos nas tarefas e decisões da escola; todologia e sua organização institucional. Estas configurações, ainda que não expli- Parâmetros de comportamento claros e citamente, constituem seu projeto político consistentes – regras definidas, preferen- pedagógico. É com base nisto que acontece cialmente com a participação de todos, e a educação escolar e é concretizada a in- cobradas com coerência; fluência que ela exerce na construção da vida de cada aluno. “É inerente ao processo Altas expectativas pelos educadores – valo- educativo, portanto, o desenvolvimento de rização dos alunos e de sua cultura e crença atitudes em diferentes áreas da vida, entre nas suas possibilidades de crescimento e su- as quais as relacionadas ao uso de drogas. peração de dificuldades; Tomando-se como objetivo do trabalho preventivo a adoção de comportamentos livremente assumidos e com menores probabilidades de riscos e danos, as ações da escola são realizadas por meio de três focos: A estrutura da escola; ações implícitas; ações explícitas” (Albertani, 2011). Desenvolvimento de uma educação de qualidade, tanto do ponto de vista dos conteúdos de ensino como da formação pessoal e social dos estudantes. 14 AÇÕES IMPLÍCITAS sequências possíveis de suas ações. Para isso são necessárias habilidades e informações O desenvolvimento de habilidades específicas sobre as drogas, seus efeitos e pessoais e sociais para manejar situações e riscos, fundamentados em conhecimentos desafios cotidianos é um fator importante científicos, atualizados e sem preconceitos. no desenvolvimento de pessoas autônomas que possam fazer escolhas responsáveis em Este terceiro foco do trabalho pre- qualquer âmbito da vida. Neste foco de ação ventivo pode incluir: não se está falando no uso de drogas, mas favorecendo o fortalecimento de comporta- Reflexão sobre as diferentes possibilidades mentos conscientes e a possibilidade de que de relação com as drogas; eles sejam assumidos livremente. Desmistificação do uso e dos usuários de drogas; Informações sobre os tipos de drogas e seus Entre estas habilidades e posturas, efeitos; que podem ser trabalhadas pelo conjunto Divulgação de padrões de consumo baseada dos educadores, podemos citar: em dados estatísticos atualizados e confiáveis; Reflexão sobre formas de reduzir riscos e da- Desenvolvimento e manutenção de víncu- nos associados ao consumo de drogas; los interpessoais; Conhecimento da legislação e das políticas Fortalecimento da autoestima; sobre drogas no país e no mundo; Capacidade de manejar emoções; Reflexão sobre as relações entre a sexualida- Desenvolvimento da capacidade de reflexão; de e o uso de drogas; Desenvolvimento de uma visão crítica da Pesquisa sobre os recursos da comunidade realidade; relacionados à prevenção, tratamento e inser- Capacidade de tomar decisões; ção social; Habilidade de resolver problemas; Informações sobre como agir nas emergências Construção de um projeto de vida. relacionadas ao uso ou abuso de drogas. AÇÕES EXPLÍCITAS O trabalho de prevenção na escola terá mais possibilidades de eficácia se for Para que os estudantes tomem de- construído e realizado de forma coletiva, in- cisões livres e responsáveis sobre o uso de serido no currículo e desenvolvido ao longo drogas, em qualquer momento de suas vi- da escolaridade, não apenas de forma pon- das, é necessário que tenham dados de ava- tual em momentos específicos. liação suficientes para compreender as con- 15 Com a integração dos três focos de prevenção, a metodologia deve ter como fundamentos: a participação ativa dos educandos, a promoção da reflexão e do diálogo, a facilitação do autoconhecimento e a construção de conhecimentos e de posturas favoráveis a uma vida autônoma e responsável. O trabalho de prevenção baseado na perspectiva de redução de riscos e danos é uma consequência natural e legítima de um processo educacional lúcido e competente do qual se beneficiam alunos, professores, funcionários, famílias e escolas, na construção de uma sociedade mais crítica, saudável, responsável e feliz.Com a integração dos três focos de prevenção, a metodologia deve ter como fundamentos: a participação ativa dos educandos, a promoção da reflexão e do diálogo, a facilitação do autoconhecimento e a construção de conhecimentos e de posturas favoráveis a uma vida autônoma e responsável. O trabalho de prevenção baseado na perspectiva de redução de riscos e danos é uma consequência natural e legítima de um processo educacional lúcido e competente do qual se beneficiam alunos, professores, funcionários, famílias e escolas, na construção de uma sociedade mais crítica, saudável, responsável e feliz. 16 REFERÊNCIAS ALBERTANI, H. M. B. Prevenção na escola: um novo olhar, uma nova prática. In Silva, E.A. e De Micheli, D. (Orgs.) Adolescência, uso e abuso de drogas: uma visão integrativa. São Paulo: FapUnifesp, 2011. CARLINI, E. L. et al. CEBRID. VI Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes de Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras. São Paulo: UNIFESP. 2010 GORGULGO, M.. A influência da mídia na realidade brasileira do fenômeno das substâncias psicoativas. In: Silveira, D.X. e Moreira, F.G. Panorama atual das drogas e dependências. São Paulo: Atheneu, 2006. KRAUS, D. Best practices in substance abuse prevention. New Orleans: Xerox, 2000. SCHINKE, S; BOTVIN, G.J.; ORLANDI, M.A.. Substance abuse in children and adolescents - evaluation and intervention. Newbury Park: SAGE, 1991. 17 SODELLI, M. Uso de Drogas e Prevenção. São Paulo: Iglu, 2010. texto 2 As situações-problema relacionadas ao uso de álcool e outras drogas presentes na escola Carla Dalbosco1 Entre as diferentes áreas que pos- Percebe-se que a escola não se sente prepa- suem afinidade com a prevenção do uso rada para lidar com o fato da socialização de de álcool e outras drogas, o contexto edu- uma parcela da juventude brasileira passar cacional tem merecido destaque pela inter- pela experimentação, ou mesmo pelo abuso face cada vez mais próxima entre os temas de álcool e outras drogas. Este fato gera a saúde e educação. Nas últimas décadas, a paralisação dos educadores, que não sabem escola tornou-se um locus importante para como agir frente a esta problemática, prin- a realização de ações de foco preventivo e cipalmente quando as situações-problema os educadores adquiriram papel fundamen- estão presentes no próprio contexto escolar. tal na formação integral de seus educandos, ajudando-os a estabelecer ações de autocui- Diante deste quadro, podemos pen- dado e a optarem por escolhas saudáveis. sar que, além da prevenção, os educadores devem estar preparados para lidar com Todavia, pensar apenas pelo viés pre- diferentes situações-problema concretas ventivo, ou mesmo de promoção da saúde, relacionadas ao consumo de drogas, bem é insuficiente para dar conta da complexi- como para a realização de encaminhamen- dade da questão. Em muitas escolas brasi- tos quando necessário. Os desafios para a leiras há relatos de circunstâncias que já construção de políticas e programas de pre- envolvem o consumo ou mesmo o tráfico venção são muitos. de drogas, com a presença de adolescentes em situação de vulnerabilidade social, expostos a riscos em função de seu padrão de consumo ou mesmo de casos de violência. 1 Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília – UnB. Consultora desta Edição Temática. 18 CONTEXTOS DE RISCO SOCIAL E USO tificação de situações-problema relacionadas DE DROGAS EM ESCOLAS BRASILEIRAS ao tema drogas , contou com a participação de mais de 2 mil educadores em todo o Brasil Adotar o conceito de situação- (DALBOSCO, 2011). Por meio da aplicação de -problema é integrador para referenciar um questionário online que identificou situa- as ocorrências relacionadas à questão das ções-problema vivenciadas pelos educadores, drogas no cotidiano escolar. Considera-se buscou-se também conhecer o potencial pre- aqui o emprego deste termo para aquelas ventivo existente nas escolas, as estratégias vivências relacionadas ao uso ou tráfico de adotadas e as parcerias acionadas para a re- drogas lícitas ou ilícitas na escola, nas quais solução das questões, além das concepções o educador, ou seus alunos, são afetados di- dos educadores sobre a temática. retamente, seja como protagonistas ou testemunhas (Marques, 2011). Os resultados foram bastante revela- dores em relação a diferentes aspectos que Autores como Santos, Sudbrack e são motivo de preocupação para os educa- Almeida (2010), entendem que alguns fato- dores quando se fala em drogas e que preci- res presentes no ambiente escolar podem sam estar presentes na formulação de ações aumentar o risco da ocorrência de situa- voltadas para este contexto. Destacaremos, a ções-problema, entre eles: falta de normas, seguir, alguns desses achados. regras e limites claros; relações desrespeitosas; falta de responsabilidade dos agentes ESCOLA DESPROTEGIDA educativos (professores, diretores, servidores); ausência de relação entre a família e O primeiro ponto a ser evidenciado a escola; ausência de expectativas positivas é que, na visão dos educadores brasileiros, em relação ao desempenho dos alunos; falta nenhum contexto está livre de riscos e as de atividades que estimulem a participação escolas não se sentem protegidas. Há uma juvenil; relações preconceituosas para com diversidade de questões relacionadas às os alunos; falta de afetividade nas relações; drogas com as quais o educador deve estar autoritarismo ou permissividade. É preciso preparado para lidar: o consumo de drogas destacar também, a questão da acessibilida- pode ocorrer na família ou na comunidade de a drogas lícitas na escola e nas redonde- em que o adolescente vive; nos arredores da zas, como o álcool e o tabaco. escola; no interior da escola ou mesmo dentro da sala de aula; situações de violência, Uma pesquisa qualitativa realizada medo e ameaças pela presença do tráfico de com o objetivo de conhecer a realidade de drogas; falta de apoio interno e da rede de escolas públicas brasileiras, a partir da iden- serviços; dificuldade de aproximação com 19 os adolescentes e falta de articulação com a por exemplo. Nesses casos, a escola recorre rede familiar. Na visão dos educadores, a es- mais à rede externa, com destaque para a cola não consegue proteger o aluno e pode segurança pública, além do encaminhamen- acabar se tornando mais um espaço “des- to do aluno para o conselho tutelar, equipa- truído pela droga”. A situação de risco, dessa mentos de saúde e de assistência social. forma, se sobrepõe à própria instituição e a qualquer ação proposta. EXCLUSÃO X INCLUSÃO DROGAS LÍCITAS Outro ponto que merece destaque é a ambiguidade em relação ao que é con Quando se trata de situações rela- siderada uma “boa resolução” da situação- cionadas a drogas lícitas, há uma visão mais -problema. A exclusão/expulsão do aluno da tolerante. O álcool não é visto como uma escola é vista como um fracasso por alguns droga tão prejudicial, muito em função do educadores e como um alívio/solução por fato de apresentar inserção cultural e social outros. Por isso, a visão de mundo do edu- evidentes, não apenas entre os brasileiros cador e dos gestores da escola será determi- mas também, em outras sociedades. Nes- nante para a escolha do encaminhamento ses casos, quando surgem problemas re- adequado: “o maior desafio é encarar o pro- lacionados ao uso ou abuso de álcool no blema e tentar ajudar, porém, é muito mais ambiente escolar, as situações-problema prático excluir o aluno”. são resolvidas, na maioria das vezes, com acionamento de recursos da rede interna da Alguns educadores acham que é fun- escola, sem que se recorra a parceiros ex- damental pensar na reinserção do usuário, ternos: o próprio educador, a direção e, no sua inclusão na escola, ao invés da exclusão máximo, a família do adolescente. pura e arbitrária, na qual “a escola abandona o jovem”, “repassa responsabilidades” para DROGAS ILÍCITAS outras instituições sem formar parcerias reais, gerando falta de compromisso de seus Nas situações-problema que envol- profissionais com a resolução da situação. vem o consumo de drogas ilícitas, há um Há um desejo de livrar-se rapidamente do temor maior por parte do educador, seja problema ou mesmo de ignorá-lo: “sabemos pela saúde do adolescente, alterações de que existe, mas não queremos ver”. Percebe- comportamento, ou, ainda, pela associação -se uma contradição, pois, ao mesmo tempo direta com a violência em suas diversas in- em que há o anseio por ações preventivas e terfaces e os riscos associados ao contexto um olhar acolhedor sobre o usuário de dro- do tráfico de drogas, como assassinatos, gas, muitos educadores apresentam com- 20 portamentos preconceituosos, excludentes ação no contexto escolar tenha sucesso, seja dos alunos usuários, colocando-os como pela capacidade de dialogar ou pela articula- bodes expiatórios de todo o mal da escola, ção com a rede: que devem ser “extirpados” e afastados sem “O mais desafiador é despir-se dos pre- segunda chance. conceitos, dos julgamentos e assumir Por outro lado, apesar de a sensação em um primeiro momento parecer de alívio, o afastamento do aluno pode gerar um incômodo no educador, que fica com a sensação de que houve falha em algum ponto: seja dele individualmente como a postura de educador O educador precisa desenvolver competências para as ações de educação para a saúde, por exemplo, e ter acesso a conteúdo técnico qualificado sobre o tema (no sentido mais amplo da palavra) e não simplesmente de professor (conteúdo, currículo...). Assumir a postura do colega que acolhe, entende e procura ajudar”. Para atingir estes objetivos, há também a profissional, ou da es- necessidade de se cria- cola como instituição. rem formas de aprendizagem que valorizem a Entende-se que o esperado não deve- produção de sentidos. Isto depende, em par- ria ser afastar o aluno da escola, mas sim, a te, da revisão de parâmetros curriculares e construção do caminho inverso, que logras- de modelos de ensino-aprendizagem que fa- se trazê-lo para perto da escola e ajudá-lo na zem parte da instituição escolar. O educador construção de seu projeto de vida. Portanto, precisa desenvolver competências para as de forma pragmática, lidar com a situação- ações de educação para a saúde, por exem- -problema pode vir a ser uma oportunidade plo, e ter acesso a conteúdo técnico qualifi- de compreender o papel sistêmico da escola cado sobre o tema: “enfrentar o preconceito e desta instituição apropriar-se de seu papel sobre usuários e a falta de conhecimento espe- enquanto matriz formadora social. cífico sobre as drogas”. Uma das razões que levam ao insucesso das ações de prevenção O PAPEL DO EDUCADOR é enfocar os problemas associados ao uso de drogas a partir de uma única perspecti- Constata-se que o papel ativo do va, sem levar em conta a dinâmica comple- professor no enfrentamento da situação- xa que os envolve. A experiência de vida e -problema é fundamental para que qualquer a maturidade para lidar com as situações- 21 -problema enfrentadas também despontam Como vimos, o preconceito e a estig- como competências necessárias a um bom matização dos usuários apenas dificultam a encaminhamento da questão e para ajudar abordagem do tema. Nery Filho (2010) pro- a “formar os jovens para a vida”. põe uma ruptura com o discurso reducionista da relação humana com as drogas, ao A prevenção deve ser pensada a par- dizer que, fundamentalmente, os humanos tir da formação do educador, da mudança de usam drogas porque se tornaram humanos. paradigma e de suas representações estereo- Em suas palavras: tipadas sobre o adolescente. É preciso construir conhecimento a partir da experiência Não são as drogas que fazem os hu- concreta, da prática, formulando uma pro- manos (...), mas são os humanos que posta de prevenção mais realista. Parece que fazem as drogas, ou, se dissermos de é necessário mais preparo que conteúdo, e outro modo, em função dos buracos/ uma resposta, acima de tudo, “humana”. faltas que constituem a estrutura de nossas histórias. Alguns de nossos fi- ALGUMAS REFLEXÕES lhos terão pequenos espaços para as drogas em suas vidas; outros filhos A escola, sozinha, não “dá conta” de nossos encontrarão mais facilmente tudo isso e precisa contar com diversas re- nas drogas a possibilidade de suportar des, sendo necessário que “saia do casulo”. o horror da exclusão pelo nascimento. Ao mesmo tempo em que as dificuldades Entre uma história e outra, há todas as ficam evidentes, a pesquisa demonstrou possibilidades - a vida é mobile. (Nery também que já existem experiências no Filho, 2010, p. 16). país inclusivas e articuladas, de aproximação com as famílias e de busca de soluções Percebe-se assim que a preocupação social conjuntas. Este é um caminho para que necessita ir além do controle da oferta das a escola torne-se um ambiente atrativo, drogas em si, devendo abordar a relação hu- juntamente com as garantias asseguradas mana estabelecida com essas substâncias. pelas políticas públicas voltadas para a ju- As concepções dos educadores sobre este ventude e para suas famílias: proteção à tema delicado serão determinantes para infância, melhoria da qualidade de vida, uma boa abordagem do assunto no contexto educação para a saúde, prevenção, cidada- escolar, no encaminhamento de situações- nia, apoio das redes da justiça, saúde, de- -problema enfrentadas e na visão dos alunos senvolvimento social e segurança pública. como sujeitos socioculturais singulares. Esses parecem ser os elementos que ajudarão a escola no enfrentamento da questão. Enquanto o educador apresentar apenas sentimentos negativos em relação às 22 drogas, será quase impossível que consiga se comprometer com o trabalho preventivo, pois outras dimensões da relação humana com as drogas, como a dimensão da busca pelo prazer, por exemplo, ficam alheias às ações preventivas e educacionais propostas. Além do mais, as demandas emer- gentes para ações preventivas na escola vão muito além da prevenção em nível universal, ou seja, àquelas voltadas para a população em geral, que não está exposta a riscos diretos. As situações-problema relatadas, ao indicarem a existência de problemas relacionados diretamente ao consumo de drogas por alunos, dão um indicativo da necessidade da formatação de ações preventivas no nível seletivo, uma vez que, os fatores de risco já se encontram instalados no ambiente escolar e a instituição deve estar preparada para enfrentar situações em que já existam riscos para o consumo e o tráfico. É importante termos em mente que o Brasil precisa amadurecer cada vez mais esse debate, tão precioso ao desenvolvimento humano e social nas nossas escolas. Só assim construiremos políticas educacionais permanentes, para além da transitoriedade dos governos, que efetivamente colaborem para a prevenção do uso de drogas e a promoção da saúde no âmbito escolar. 23 REFERÊNCIAS DALBOSCO, C. Representações sociais de educadores de escolas públicas sobre situações- -problema relacionadas ao uso de álcool e outras drogas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura. Brasília: Universidade de Brasília, DF, 2011 MARQUES, R. H. B. Situações-problema relacionadas ao uso de álcool e outras drogas no contexto escolar:narrativas de educadores do ensino público da Região Centro-Oeste. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura. Brasília: Universidade de Brasília, DF, 2011. NERY FILHO, A. Por que os Humanos Usam Drogas? In: NERY FILHO, A.; VALÉRIO RI- BEIRO, A. L. (Orgs.). Módulo para capacitação dos profissionais do projeto consultório de rua. (pp. 11-16). Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010. SANTOS, J. B., SUDBRACK, M. F. O. & ALMEIDA, M. M. Situações de Risco e Situações de Proteção nas Redes Sociais de Adolescentes. In: Brasil, Presidência da República. Curso de prevenção do uso de drogas para educadores de escolas públicas. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, DF, 2010. 24 texto 3 Prevenção do uso de drogas: a construção de uma política pública a partir da formação de educadores Profa. Dra. Maria Fátima Olivier Sudbrack1 Profa. Dra. Maria Aparecida Gussi2 CONTEXTUALIZAÇÃO, HISTÓRICO E RELEVÂNCIA DO CURSO DE PREVENÇÃO DO USO DE DROGAS PARA EDUCADORES DE ESCOLAS PÚBLICAS A parceria manteve continuidade em cinco edições do curso e, com a perspectiva de realização da sexta edição (2013/2014), este projeto completará uma história de 10 anos, consolidando-se como uma das ações priori- Com o objetivo de capacitar profis- tárias na atual política de prevenção do uso sionais de escolas públicas para trabalharem de drogas no país. Dessa maneira, visa con- coletivamente na prevenção do uso abusivo tribuir para o fortalecimento da comunidade de drogas, por meio do fortalecimento da es- escolar, por meio do aperfeiçoamento e im- cola na promoção da saúde e da educação plementação dos projetos de prevenção cons- integral, foi iniciada em 2004 uma parceria truídos coletivamente e coordenados pelos entre os segmentos responsáveis pela pre- educadores-cursistas. Na edição de 2010/2011, venção do uso de drogas do Governo Federal foi integrada à proposta pedagógica um mó- (Secretaria Nacional de Políticas sobre Dro- dulo dedicado a subsidiar a implementação gas-SENAD/MJ e Secretaria de Educação Bá- de ações preventivas, resultando em um cur- sica – SEB/MEC) e a Universidade de Brasília so de aperfeiçoamento (180 horas). O curso (Programa de Estudos e Atenção às Depen- também representa um espaço para a rea- dências Químicas/ PRODEQUI/PCL/IP/UnB e lização de pesquisas que retroalimentam a Centro de Educação a Distância/CEAD/UnB), prática preventiva, num processo dialético de para oferta de uma capacitação de extensão construção do conhecimento no contexto de universitária na modalidade de educação a formação-intervenção. Diferentes pesquisas distância. A equipe do PRODEQUI é a respon- e produções científicas, entre elas, disserta- sável técnica pela elaboração da proposta ções de mestrado e teses de doutorado, são pedagógica do curso e sua execução. realizadas durante a oferta do curso. 1 Doutora em Psicologia (Université de Paris XIII Villetaneuse, 1987). Professora Adjunta do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Professora Titular no Curso de Graduação em Psicologia e no Curso de Pós- Graduação em Psicologia Clínica e Cultura/PPGPsiCC. Coordenadora do laboratório PRODEQUI-Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas. 2 Mestre em Enfermagem Psiquiátrica pela USP. Doutora em Ciencias da Saúde pela Universidade de Brasília. Professora Adjunta na Universidade de Brasília. Integrante da equipe do Hospital Universitário de Brasília - Programa de Atendimento ao Alcoolismo. 25 A partir da sua quinta edição prevenção deve fazer parte do currículo e es- (2012/2013), o curso passou a atender os ob- tar presente nas diferentes séries da carreira jetivos estabelecidos no eixo PREVENÇÃO do escolar, contemplando o desenvolvimento Programa Federal “Crack, é possível vencer”. da cidadania responsável, integrando o pro- No âmbito do Ministério da Educação, aten- jeto de educação para a saúde e envolvendo de metas de implementação das políticas a rede social da qual a escola é parte inte- intersetoriais de educação para a saúde do grante. A complexidade implicada nas ações Programa Saúde na Escola/PSE, articulando- de prevenção do uso de drogas no paradig- -se com outros programas da SEB, como o ma sistêmico da prática de redes, direcio- Mais Educação e o Escola Aberta. na uma política intersetorial com práticas territorializadas de promoção de saúde, de A inclusão da temática da drogadi- defesa dos direitos humanos e da cidada- ção na formação continuada de educadores nia. Com estas referências, a formação de justifica-se pelo crescimento do consumo educadores implica responsabilidade social de drogas entre crianças e adolescentes. na disseminação de conhecimentos atuali- As pesquisas revelam uma precocidade na zados e isentos de preconceitos, formas de idade da primeira experimentação, o que abordagem e de estratégias de trabalho pe- aumenta, consideravelmente, os riscos do dagógico, para subsidiar os educadores no uso abusivo com os consequentes danos à cotidiano da prática educativa. saúde de crianças e adolescentes, problemas de relacionamento e de violência, queda no Nas cinco edições realizadas, entre rendimento escolar e evasão escolar, entre 2004 e 2013, o curso obteve importante re- outros. Os estudos epidemiológicos sobre a ceptividade por parte dos educadores, tor- realidade do uso de drogas pela população nando-se necessária a organização de um brasileira apontam para a necessidade de processo seletivo, mesmo com a ampliação ações de prevenção e promoção da saúde no significativa do número de vagas: a primeira âmbito da comunidade escolar. edição (2004) foi realizada para 5 mil educadores; a segunda (2006/2007) teve oferta A realização de ações para minimizar de 20 mil vagas; a terceira (2009) e a quarta os fatores de risco, centradas no desenvolvi- edições (2010/2011) contaram com a partici- mento da autonomia responsável, é tarefa a pação de 25 mil educadores em cada uma ser desempenhada por diferentes instâncias delas; e a quinta edição (2012/2013) teve o da sociedade, destacando-se a escola, reco- quantitativo de vagas ampliado para 70 mil nhecida enquanto contexto de socialização em todo o Brasil. complementar à família na formação de valores das crianças, adolescentes e jovens educandos. Neste sentido, a prevenção não é trabalho de um educador isoladamente. A 26 PROPOSTA POLÍTICO-PEDAGÓGICA DO CURSO nhecimento. Ela é, em toda sua plenitude, formadora de opinião, de valores, atitudes e capaz de instigar a noção de pertencimento - Desconstruções para um novo paradigma a um território dado. Para o alcance dessas na prevenção metas, é necessário ressignificar o papel do educador, incluindo em seu cotidiano novos No processo de desenvolvimento do conhecimentos que, resultando em novas conteúdo do curso, são abordados temas práticas providas de sentido na missão de- acompanhados de exercícios, com ferramen- senhada pela escola, sejam incorporadas ao tas que subsidiam a construção e a implemen- seu projeto político-pedagógico. tação de projeto de intervenção pelo grupo de cursistas/educadores de cada escola. Estes - Parcerias e intersetorialidade projetos podem ser estruturados em referência a 5 eixos metodológicos principais, a saber: A materialização de ações de promo- ção de saúde firma-se nos princípios da inter a) participação juvenil e a formação de multiplicadores; setorialidade, em especial, entre segmentos da educação e da saúde, como também, na articulação da rede de apoio interna e exter- b) integração de ações pautadas na prevenção no projeto político-pedagógico; na à escola e na compreensão das relações de complementaridade, à luz da teoria sistêmica e do pensamento complexo. Nesta direção, a c) resgate da autoridade na família e na escola; drogadição é concebida como um sintoma sócio-relacional com olhar amiúde nos fatores de risco e proteção que permeiam as d) fortalecimento da escola na comu- nidade e como comunidade; instituições e as pessoas envolvidas, as vulnerabilidades sociais e pessoais, peculiares a estas mesmas instituições e pessoas. e) acolhimento de adolescentes em situação de risco. Há de se considerar que as ações pre- ventivas propostas para minimizar os comPara que estes eixos sejam contem- portamentos de risco ao envolvimento com plados, busca-se uma mudança de paradig- drogas estão fundamentadas no desenvolver ma no que diz respeito a espaços que, por da autonomia responsável dos educandos, sua natureza de inserção na sociedade, são crianças e adolescentes, sendo esta uma ta- potencialmente estratégicos na incorpora- refa a ser assumida e desempenhada por ção da promoção da saúde. A escola em si diferentes instâncias da sociedade, entre as mesma é concebida e valorizada como um quais, a escola, que neste contexto, ocupa lu- espaço que vai além da transmissão de co- gar privilegiado. 27 adequadas sobre as drogas; está insatisfeita com É necessário levar em conta também que sua qualidade de vida; é pouco integrada na faeste não é um trabalho isolado. A promoção à mília e na sociedade e tem fácil acesso às drogas. saúde e a prevenção do uso de drogas são temáticas transversais que devem ser integradas ao cur- Metodologia do curso rículo no conjunto de disciplinas, como também devem estar presentes nas diferentes séries da Durante todo o processo de aprendizacarreira escolar, contemplando o desenvolvimengem o educador-cursista é to da cidadania responsável, instigado a realizar “atividaintegrando o projeto de edu“A promoção à saúde e des colaborativas de aprencação para a saúde e envola prevenção do uso de dizagem”, como estratégia vendo a rede social da qual drogas são temáticas para facilitar a elaboração ela é parte integrante. Para transversais que devem do projeto de intervenção. que esta consigna tenha o alser integradas ao Esta ação tem como objeticance almejado, duas ações currículo no conjunto vo a construção do projeto a devem caminhar par e passo: de disciplinas, como ser desenvolvido na escola. enquanto o currículo integra também devem estar A proposta político-pedaos conteúdos, a escola dá presentes nas diferentes gógica coloca-se rumo ao movimento a estes conteúséries da carreira que, na perspectiva da psidos integrando as pessoas. escolar, contemplando cossociologia, denomina-se o desenvolvimento da A escolha da metoprocesso de formação-intercidadania responsável (...)” dologia de trabalho tem seu venção. As atividades pedasustentáculo em estudos gógicas integrantes do curso epidemiológicos sobre a realidade do uso de drosão tanto de natureza individual, como coletiva, gas pela população brasileira e, em especial, pedestacando-se os fóruns de conteúdo sobre situalos estudantes das escolas públicas. E vêm conções-problema e as atividades avaliativas colabofirmar, portanto, a importância da prevenção na rativas que resultam na elaboração processual do escola. De acordo com a Organização Mundial projeto de prevenção do uso de drogas da escola, de Saúde (OMS), uma pessoa está mais vulneránum processo dialético de integração entre teoria vel a usar drogas quando: não tem informações e prática, conforme ilustrado na figura abaixo: 28 O primeiro passo deste percurso cas e ações de proteção como o Estatuto da metodológico instiga o educador-cursista a Criança e Adolescente (ECA) e de educação evidenciar o cenário onde acontece seu coti- para a saúde. diano e que vai ser palco do projeto de intervenção. É orientado a efetuar uma espécie - A escola como contexto de promoção de saúde de diagnóstico da situação e, a partir deste desenho, dar os primeiros passos na propo- sição de uma intervenção preventiva execu- sas concepções, a escola é posta como con- tável e calcada nas demandas da escola e, texto de promoção de saúde com potencia- em especial, dos estudantes. lidades que precisam ser fortalecidas. Como No processo para solidificação des- possibilidade concreta que leve ao alcance O processo teórico-reflexivo tem desta meta, a integração de temas sociais seu marco na busca do reconhecimento do que promovam o desenvolvimento do aluno educando como sujeito em desenvolvimen- no planejamento das atividades escolares, to, com pertencimento na família e na es- a inserção das ações de prevenção do uso cola e protegido por políticas públicas. Para de drogas no projeto político-pedagógico da que esta concepção possa ser consolidada, escola e o trabalho em rede são essenciais é fundamental ressignificar a escola para na condução de um processo cujo ápice é o educador-cursista, intermediar processos a conquista de outro lugar para a escola. para que se possam reconhecer as potencia- Neste processo reflexivo são apontadas pos- lidades da escola e seus atores, identificá-la sibilidades concretas para a mudança do como contexto de promoção da saúde e in- paradigma vigente, com a utilização de ins- tegrar temas sociais que favoreçam o desen- trumentais conceituais e metodológicos que volvimento do aluno no planejamento das permitam o mapeamento das redes sociais atividades escolares. da escola, mobilização de parcerias diversas na consecução do projeto de prevenção Ressignificada a escola, busca-se avi- var uma proximidade das representações do - A gestão da tutoria educador-cursista com o adolescente como sujeito transformador, protagonista e cida- dão no contexto sócio-familiar e os papéis titativo de oferta de vagas, como pela na- da escola e família enquanto formadores de tureza do conteúdo e objetivos do projeto, valores. Nesta linha de pensamento, é ine- representa especial desafio à equipe de exe- xorável trazer à tona as concepções de ris- cução. No decorrer da experiência e graças co e proteção, em especial em situação de aos avanços das tecnologias de EAD, a equi- risco pelo envolvimento com drogas e no pe do PRODEQUI desenvolveu uma metodo- que diz respeito ao papel da escola como co- logia de gestão de tutoria que vem se mos- -responsável nas ações protetivas e as políti- trando efetiva, na medida em que permite um A gestão da tutoria, tanto pelo quan- 29 acompanhamento sistemático dos tutores, organizados em grupos de supervisão e integrados a coordenações regionais. Na quinta edição, o projeto teve foi marcada por de uma organização complexa e por uma dinâmica de integração dos diferentes atores, envolvidos no acompanhamento do processo de formação dos educadores-cursistas, o que se denominou Sistema de Apoio à Aprendizagem-SISAP, cuja composição inclui as cinco coordenações regionais (CRT), seus respectivos grupos de supervisão de tutoria (GSTs) e as coordenações técnicas específicas que atuam nesse sistema, como apresentamos no gráfico a seguir: Considerações finais: conquistas e desafios na consolidação da política de prevenção do uso de drogas junto às escolas Um curso de tamanha magnitude, tendo conseguido se manter em continuidade por meio de profícuas trocas entre a academia e os principais órgãos de implementação de políticas públicas do Governo Federal, já deixa suas marcas no que, sem dúvida, podemos chamar de implementação de uma política de prevenção do uso de drogas, através da formação de educadores de escolas públicas. Dentre as principais conquistas, destacamos a própria continuidade e os avanços na proposta político-pedagógica. A crescente demanda pelo curso testemunha uma conquista na mobilização dos educadores como atores conscientes de seu protagonismo na implementação da política de prevenção do uso de drogas na escola. A qualidade da participação dos educadores-cursistas concluintes, que investem e se comprometem com o curso, apesar das tantas dificuldades de toda a ordem que permeiam o sistema escolar, é o maior estímulo para a equipe do PRODEQUI aceitar o desafio de novas edições. O grande desafio que temos pela frente e que estamos propondo a prosseguir desbravando juntos, sempre em complementaridade entre UnB, MEC e SENAD, é, sem dúvida, o da territorialização, tanto da formação dos educadores, através de universidades parceiras em diferentes estados do Brasil, como do processo de ampliação das atividades preventivas de promoção de saúde para a escola, no seu sentido mais amplo de território educativo aberto. Este processo deve ocorrer em constante parceria com a comunidade e com a cidade, em busca do fortalecimento de uma política de promoção de saúde e de cidadania. Entendemos que a territorialização da promoção de saúde na escola – meta fantástica do PSE onde se inserem as ações preventivas do abuso de drogas - prima por ações políticas de mobilização nas instituições locais na esfera da gestão estadual, municipal e direção das escolas contempladas pelo curso, para que assumam o apoio à implementação do projeto de prevenção da escola. Temos assim, mais um motivo para prosseguirmos, além de um compromisso de superarmos juntos todos os desafios que esta parceria representa, em si mesma. 30 REFERÊNCIAS BRASIL. Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, Ministério da Educação. 5 ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012. 31 Presidência da República Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Supervisão Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento pedagógico Luís Paulo Borges Coordenação de Utilização e Avaliação Mônica Mufarrej Fernanda Braga Copidesque e Revisão Milena Campos Eich Diagramação e Editoração Bruno Nin Valeska Mendes Consultora especialmente convidada Carla Dalbosco E-mail: [email protected] Home page: www.tvbrasil.org.br/salto Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro. CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ) NOVEMBRO 2013 32