Cátedra Unesco de Comunicação e Desenvolvimento/Universidade Metodista de São Paulo
VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesial, São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2013
Deus no Laboratório: Sobre a Fé como Objeto Científico na Pauta de Revistas de
Variedades1 2
Leandro de Paula SANTOS3
RESUMO
Neste artigo, exploramos a presença do fenômeno religioso nas pautas de revistas de
variedades de circulação nacional a partir de um recorte específico: a crescente midiatização
da espiritualidade como objeto de interesse científico. Para tanto, tematizamos a chamada
Neuroteologia, ramo de estudos dedicado ao mapeamento dos mecanismos cerebrais
acionados pelas práticas de fé, como preces, meditações e transes. Enfocamos, assim, a
instância enunciativa dos mass media para debater a emergência da Neuroteologia como
campo discursivo, bem como a repercussão de ideias que imputam ao corpo – em especial, ao
cérebro – o papel de mobilizador das mais distintas expressões da experiência humana. Para
examinar as transações históricas, continuidades e rupturas que configuram tal tendência,
efetuamos um recuo analítico e retomamos eventos filosóficos que constrangeram a
centralidade das ideias de Deus e da experiência da fé no período moderno, buscando
compreender as razões que recolocam esses temas em registro biologicista no espaço público
contemporâneo.
PALAVRAS-CHAVE: neurociências; divulgação científica; biopoder; religião; mídia
*
Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como
fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu
a esponja para apagar o horizonte? (...) Como nos consolar, a nós, assassinos
entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então
possuíra sangrou inteiro sob nossos punhais – quem nos limpará este
sangue? (NIETZSCHE, 2001, p. 147-8)
Publicado em 1882, A Gaia Ciência apresentou ao horizonte filosófico do século XIX
uma das mais concisas traduções da experiência moderna como um processo voluntário de
secularização do ambiente social. “Deus está morto!”, a frase que sintetiza essa proposição,
tornou-se uma espécie de epígrafe para uma formação histórica na qual a noção de Deus como
princípio norteador da vida humana estaria irremediavelmente superada.
A disseminação dessa máxima, contudo, nem sempre foi acompanhada da
1
O texto deriva da pesquisa Neuroteologia: o improvável retorno de Deus, em desenvolvimento na Escola de Comunicação
da UFRJ sob orientação da Profa. Ieda Tucherman, com apoio do CNPq.
2
Trabalho apresentado na VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesical (Eclesiocom), realizada em São Bernardo
do Campo, SP, 22/8/2013.
3
Doutorando em Comunicação e Cultura pela ECO | Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ). Mestre em Comunicação
Social pela PUC-Rio. Email: [email protected]
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contextualização de tão trágico anúncio. Com o diagnóstico da morte de Deus, Nietzsche não
procura construir uma tese sobre o fim de uma deidade em particular, mas sim comunicar um
fato cultural pelo qual toda a sociedade moderna deveria se saber responsável. Ao associar a
morte de Deus a um acontecimento que não se restringe aos limites de uma religião
específica, essa proposição vai além de uma leitura crítica sobre o legado da moral judaicocristã na cultura ocidental para realçar uma transição histórica de ainda imponderáveis
consequências para os indivíduos modernos. O que se colocava então em jogo não era a
dissolução de uma ideia de Deus, mas a própria retirada de sua possibilidade do pensamento
que aquele contexto inaugurava.
A ruína da “hipótese extrema” de uma divindade se revelava maior que um mero abalo
para o discurso teológico ou a prática religiosa. Com a noção de Deus, parecem morrer
também as condições para a crença em uma ordem objetiva da realidade que pudesse ser
consentida como tal. Na imagem desse Deus que morre estão identificadas as premissas de
uma metafísica que construíra no Ocidente a pretensão ao absoluto e a negação da vida em
nome de uma essência imutável e transcendente à qual estaríamos subordinados.
O eco dessas ideias logo se faria notar em outro anúncio igualmente conhecido: a
afirmação de Martin Heidegger sobre o fim da metafísica, apresentada com a publicação de
Ser e Tempo em 1927. Nessa obra, Heidegger expressa o esgotamento do modo de pensar da
tradição metafísica, que consistia, em linhas gerais, na crença em um fundamento da realidade
que pudesse ser apreendido como uma estrutura objetiva, capaz de adequar nossas descrições
da experiência e escolhas morais.
“Enquanto representou a crença em uma ordem ideal do mundo, em um
reino de essências que vão além da realidade empírica, e enquanto permitiu o
conhecimento e até a crítica dos limites desta realidade, a metafísica pôde
perdurar. Através, porém, de uma série de acontecimentos relativos ao
desenvolvimento das ciências modernas, nas quais a verdade, que antes era
parte das ideias platônicas, se transformou, sempre mais, em objetividade
das proposições da física, a metafísica passou a desmentir a si própria e se
revelou uma crença não mais aceitável (e, tampouco, eficaz), porque a
ordem ideal à qual esteve sempre referida se tornou, pelo menos em linha de
máxima, a ordem real do mundo racionalizado da moderna sociedade
tecnológica.” (VATTIMO, 2004, p. 22-23)
O lugar de fala assumido pela tecnociência moderna propicia, assim, a equiparação
entre a ordem ideal e a ordem real do mundo, denunciando o fim da metafísica como sistema
de representação do além do sensível, ou da essência mesma das coisas. Para Heidegger, o
pensamento é então convidado a uma outra tarefa: beneficiar a interpretação dos objetos da
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experiência como horizontes abertos de um acontecimento, e não como metáforas de
estruturas imutáveis e gerais.
É na medida em que o fim da metafísica se traduz como a inviabilidade teórica de um
fundamento último do ser que podemos enxergar a afinidade entre a proposição de Heidegger
e a morte do Deus moral afirmada por Nietzsche. São dois anúncios que parecem condensar
um mesmo princípio: a impossibilidade da crença em um elemento ordenador da realidade, ou
de uma diretiva única do pensamento capaz de unificar um mundo que se complexificara.
No desenrolar do último século, a explosão de imagens do mundo que derivou da
especialização da técnica e da ciência, das reivindicações multiculturais do pós-colonialismo e
do surgimento de eixos identitários não mais vinculados à tradição desestabilizaria de vez
centros e hierarquias sobre os quais o Ocidente organizara sua própria história. Não por acaso,
a chegada da pós-modernidade é caracterizada pela desconfiança quanto às metanarrativas,
na incontornável definição dada por Jean-François Lyotard a fim de sugerir o declínio das
construções discursivas que pretenderam ordenar, significar e encaminhar a história visando à
unidade e à universalidade da experiência humana.
O conjunto heterogêneo de postulados convocados até aqui é um ponto de partida que
remete a guinadas do pensamento ocorridas nos últimos dois séculos. Mesmo que não se deva
arbitrariamente justapô-los, sob o risco da simplificação, parece razoável, dentro dos objetivos
deste artigo, considerar a existência de zonas de contato entre os anúncios da morte do Deus
moral, do fim da metafísica e do descrédito das metanarrativas. De forma generalizada, as
ideias elencadas denotam perspectivas da experiência moderna como ruptura, e também
apontam para o itinerário dessas transformações no contexto pós-moderno ou contemporâneo.
Interessa destacar dentro deste amplo cenário a ligação entre a crise de representação que
impede a elaboração de “máximas humanas” e a repercussão, dentro do debate filosófico
moderno, do abalo da noção do transcendente: com a ideia de Deus posta filosoficamente em
xeque, pluralizam-se acepções e discursos a respeito da condição humana.
Tal desconfiança que caracterizou o âmbito intelectual do último século encontraria
ainda nas ideias de Sigmund Freud um produto e, ao mesmo tempo, um de seus mais
autorizados fundamentos. Em trabalhos como “O futuro de uma ilusão”, publicado em 1927,
Freud faz uma crítica frontal à validade da experiência religiosa, posicionando a fé e a
delegação das energias individuais às expectativas de um “outro mundo” como estágios a
serem superados em nome do avanço da civilização.
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*
“O sofrimento psíquico provocado pela morte de Deus, somado à decepção
com as promessas não cumpridas pela ciência, ajuda a entender por que
quase dois séculos de destruição sistemática dos pilares religiosos do
Ocidente ainda não produziram uma maioria generalizada de não-crentes.
(…) Em outras palavras, se Deus morreu, sua sombra se recusa a deixar o
mundo.”- Revista Veja4
O texto acima, retirado de uma reportagem de capa da revista Veja intitulada “A
sobrevivência da fé”, procura dar conta da renovação do interesse pela religião: “as pesquisas
sobre crença e religiosidade apontam números impressionantes. Estados Unidos e Brasil têm
um forte traço em comum: cerca de 90% da população declara acreditar em Deus”.
Realmente, segundo os dados5 do Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, o
número de brasileiros que se dizem ateus ou sem religião é de apenas 8,03%, revelando a
permanência de certas heranças culturais e a abundância das crenças no país: “em lugar da
anunciada secularização da sociedade moderna, o panorama religioso atual mostra que os
deuses não foram apagados” (PIERUCCI, 1998). Não parece arriscado, então, afirmar que
aquele impasse conceitual que foi anunciado por algumas das principais artérias da filosofia
moderna não se traduziu em realidade dentro das práticas sociais.
Para além do esquadrinhamento da religião empreendido pela pesquisa de diapasão
sociológico, que vem analisando na realidade brasileira fenômenos como a celebrização de
padres cantores, o avanço das igrejas evangélicas, o sucesso comercial de filmes espíritas ou a
moda da Cabala, cabe pensar o que foi feito daquele apaixonado debate sobre o sentido e a
autenticidade da experiência religiosa que tanto ocupou alguns dos maiores pensadores da
modernidade. Se é verdade que a religião insiste em continuar a ser uma realidade
amplamente aceita, formulando imagens e promessas que se colocam para fora dos limites do
sensível, em que campo ela se verifica como problema teórico para um tempo caracterizado
pela hegemonia tecnocientífica?
*
4
5
“A sobrevivência da fé”, reportagem de capa da Revista Veja publicada em 25 de dezembro de 2002.
IBGE, Censo Demográfico 2010 - Características Gerais da População: Resultados da Amostra. Disponível em
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/tab1_4.pdf Acesso
em 13 de agosto de 2012.
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Partimos aqui da hipótese de que se assiste hoje à transformação de enunciados,
espaços e agentes de enunciação do tema da experiência da fé, e que discursos, estéticas e
saberes em ascensão propõem nova agenda para um aspecto da existência com o qual as
sociedades pós-modernas reaprendem a lidar. Há um recorte específico por meio do qual se
pretende compreender a atualização do sentido de tal experiência: as neurociências.
“A partir dos anos 1980, o perímetro de ação das neurociências se estendeu
às emoções, aos comportamentos sociais e aos sentimentos morais. Graças à
imageria cerebral e às novas técnicas de biologia molecular que permitem
'ver o cérebro em ação', poder-se-ia não somente esperar progressos no
tratamento das patologias mentais, mas, ainda, anunciar o surgimento de
uma biologia da consciência ou do espírito. Saídas do gueto da especulação
metafísica, estas noções são doravante objeto de numerosas experiências de
laboratório. (…) Nas revistas científicas de mais prestígio e na mídia, são
anunciados regularmente resultados sobre os circuitos neuronais da simpatia
e do luto, da decisão de compra, da crença em Deus, da violência, do amor
etc.” (EHRENBERG, 2004) (grifo meu)
Se é possível pressupor a articulação entre esses dois temas – religião e neurociência –
, isso se deve à credibilidade de que essa última tem desfrutado, em especial a partir da década
de 1990, no mercado das pesquisas científicas, no espaço midiático e no imaginário social.
Esse prestígio foi profetizado em julho de 1989, com um anúncio feito por George Bush no
Congresso norte-americano: o então presidente asseverava que o governo dos EUA faria os
dez anos seguintes entrarem para a história como a “década do cérebro”. Aos volumosos
incentivos públicos que fomentaram as pesquisas nessa área se somaram os interesses da
indústria dos fármacos, que, a cada novo mecanismo e função cerebrais descobertos, passou a
investir pesadamente em respostas comerciais para distúrbios a eles associados.
(TUCHERMAN, 2010)
Foi o surgimento de dispositivos de escaneamento cerebral, como as tomografias por
emissão de prótons (PET, em inglês) e as imagens por ressonância magnética, que viabilizou
o conhecimento a respeito da “última fronteira da biologia”. Desde então, o cérebro “não pode
ser mais considerado somente como um objeto científico e médico, ele foi promovido também
a ator social” (EHRENBERG, 2004).
“Suas recordações de 1995 e seus planos para 1996, seus pensamentos mais
lógicos e seus sonhos mais absurdos, seu talento para certas coisas e sua total
inabilidade para outras, suas paixões, até seu jeito de falar e caminhar, tudo é
pura química. São apenas substâncias diferentes que saltam de uma célula
cerebral para outra, provocando correntes de eletricidade. Agora os cientistas
começam a entender como essas mensageiras nervosas moldam a
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personalidade.” Revista Super Interessante 6
A reportagem de capa da revista SuperInteressante, publicada em janeiro de 1996 com
o título “Seu cérebro: eis o que você é”, expressa caricaturalmente como, já a dezesseis anos
atrás, punha-se em cena uma nova elaboração social a respeito deste órgão do corpo humano e
de suas atribuições na construção do mundo psíquico. O fragmento também ilustra o
estabelecimento de uma parceria entre as neurociências e diferentes meios de visibilidade que
lhe conferiram poder de fala para além dos laboratórios e dos círculos acadêmicos. Nesse
entrelaçamento dos achados científicos com a repercussão midiática, assiste-se ao nascimento
de
“uma categoria antropológica que tem se tornado hegemônica na definição
das relações entre corpo, cérebro e subjetividade. Essa figura já foi batizada
como 'sujeito cerebral'. (...) Nessa concepção, a estrutura cerebral é
equiparada à arquitetura do psiquismo e até mesmo ao conjunto da
subjetividade, de modo que a 'identidade' de cada indivíduo seria redutível a
esse órgão do corpo humano, pois nele se hospedaria a essência do que cada
um é. (…) Essa crença, tão fortalecida pelos avanços das pesquisas
neurocientíficas e por sua intensa divulgação midiática, faz parte de duas
tendências mais amplas porém igualmente em ascensão na cultura
contemporânea: o biologicismo e a medicalização. (...) Esses processos
assinalam uma redefinição do âmago da subjetividade, cujos eixos se
deslocam das misteriosas essências da alma em direção às células, aos
hormônios e às enzimas, aos genes e aos circuitos cerebrais.” (SIBILIA,
2008)
Não é exagerado afirmar que as neurociências, em associação à biogenética e às novas
ciências da vida, têm gozado hoje de autoridade para discursar sobre o humano. Rastreado em
trabalhos como os de Ehrenberg (2004), Ortega (2009a, 2009b), Sibilia (2008) e Tucherman
(2009), esse fenômeno sugere que o lugar social ocupado pelas neurociências hoje não deriva
apenas de suas importantes descobertas, mas de um ethos que as reinterpreta como postulados
morais.
Na cultura somática de nosso tempo, o modelo de subjetivação moderno, pautado pela
interiorização psicológica, começa a ceder frente a novos roteiros para as práticas
subjetivantes. É nesse cenário que a ideia de uma essência profunda e inalienável a cada
pessoa perde força, e o corpo humano emerge como núcleo dos agenciamentos identitários,
local em que se imprimem os investimentos que garantam bem-estar, fitness, desempenho.
Nessa transição de modelos de subjetivação, nota-se que o corpo é feito o principal
6
Seu cérebro, eis o que você é, reportagem de capa da revista SuperInteressante publicada em janeiro de 1996.
6
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dispositivo para a construção de uma noção de si, passando a contar com o auxílio das
biotecnologias para o aprimoramento de suas capacidades e de sua performance.
É por isso, então, que para cada nova descoberta das neurociências parece
corresponder a produção de um discurso de conteúdo moral: já não se trata apenas de uma
contribuição à evitação de doenças e outros males, mas sim à administração da vida no que
ela passou a ter de mais vital.
“O espetacular progresso das tecnologias neurocientíficas, o intenso
processo de popularização, pela mídia, de imagens e informações que
associam a atividade cerebral a praticamente todos os aspectos da vida, e
certas características estruturais da sociedade atual vêm produzindo, no
imaginário social, uma crescente percepção do cérebro como detentor das
propriedades e autor das ações que definem o que é ser alguém.” (ORTEGA,
2009, p. 249)
Em síntese, ao criarem um circuito de enunciados e formatarem sensibilidades em
parceria com os media, as neurociências se investiram de aura e, sem maiores
constrangimentos, podem colocar hoje em questão temas que já foram exclusividade da
teologia e da metafísica, como “o sentido da vida”.
*
“Pense no deprimente contraste entre a inteligência radiante de uma criança
sadia e os débeis poderes intelectuais do adulto médio. Não podemos estar
inteiramente certos de que é exatamente a educação religiosa que tem grande
parte da culpa por essa relativa atrofia?” (FREUD, 2006, p. 55) (grifo meu)
“A busca de explicações sobrenaturais pode ser considerada natural. Mas por
que ela desembocou na fé e no surgimento das religiões? Cientistas de
diferentes áreas se debruçaram sobre a questão nos últimos anos e chegaram
a conclusões surpreendentes. Não só a fé parece estar programada em nosso
cérebro, como teria benefícios para a saúde. (…) Andrew Newberg, que
estuda as manifestações cerebrais da fé há pelo menos 15 anos, descobriu
que as práticas religiosas acionam, entre outras regiões do cérebro, os lobos
frontais, responsáveis pela capacidade de concentração, e os parietais, que
nos dão a consciência de nós mesmos e do mundo. Em seu novo livro,
“Como Deus pode mudar sua mente”, que será lançado nesta semana,
Newberg explora os efeitos da fé sobre o cérebro e a vida das pessoas.” 7 –
Revista Época
7
A fé que faz bem à saúde - Novos estudos mostram que o cérebro é “programado” para acreditar em Deus – e que isso
nos ajuda a viver mais e melhor, reportagem da revista Época, publicada na edição de 20 de março de 2009.
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Figuras 1 e 2: Capa e ilustração interna da edição de 20 de março de 2009 da revista Época
Figura 3: Capa da revista Galileu de abril de 2009.
.
A Neuroteologia é um ramo das neurociências que busca compreender a relação entre
as práticas religiosas e os estados cerebrais, com pesquisas em desenvolvimento no meio
acadêmico norte-americano e que já repercutem na realidade brasileira por meio de trabalhos
como o do neurocirurgião e professor da USP Raul Marino Júnior. A premiação da John
Templeton Foundation, por exemplo, é anualmente concedida a cientistas que reúnam em seus
trabalhos “consistentes” especulações filosóficas e teológicas com o intuito de “cruzar as
fronteiras disciplinares e responder às Grandes Questões”8. As festas de entrega do prêmio
acontecem em espaços como a sede da ONU, em Nova York, ou o Palácio de Buckingham,
em Londres, sendo apresentadas por autoridades como o Príncipe Philip e causando,
naturalmente, frisson midiático 9.
Como mostra a reportagem “A fé que faz bem à saúde”, capa da revista Época em
2009, embora amparada por farto patrocínio nos campi dos EUA, a pesquisa neuroteológica
também tem sido alvo de interesse crescente no Brasil: “'As evidências da influência da fé na
saúde são promissoras e mais que justificam o investimento em outros estudos', afirma o
8 “We are especially interested in bold ideas that cross disciplinary boundaries to engage the Big Questions.” Site oficial da
John Templeton Foundation. Disponível em: [http://www.templeton.org/what-we-fund/our-philosophy-grantmaking].
Acesso em 14 de agosto de 2012.
9 Cf., por exemplo, Philosopher Wins Templeton Prize for Spiritual Matters, matéria do jornal The New York Times publicada
em 14 de março de 2007. Disponível em: [http://www.nytimes.com/2007/03/14/science/15prize.html]. Acesso em 14 de
agosto de 2012.
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neurologista brasileiro Jorge Moll, diretor do Centro de Neurociência da Rede Labs-D’Or, no
Rio de Janeiro”10. As pistas dão a ver o espaço que os estudos neuroteológicos ganharam em
pouco tempo, ao aproximarem em uma equação cientificamente comprovada dois temas
aparentemente inconciliáveis:
“Religião e ciência costumam trafegar em faixa própria – e a maioria dos
cientistas e dos religiosos acredita que a distância é conveniente para ambas.
No momento, essa fronteira está sendo posta abaixo por uma farta
quantidade de estudos em laboratório cujo objetivo é usar as ferramentas da
ciência tradicional para explicar mistérios religiosos ou procurar por Deus
dentro do cérebro humano. São desse último tipo as pesquisas realizadas em
cerca de trinta faculdades de medicina dos Estados Unidos, entre elas as de
universidades famosas como Columbia, Duke, Harvard e Georgetown.”Revista Veja11
De que tratam essas pesquisas? Embora com diferentes abordagens, muitas delas
aceitam a premissa do “cérebro trino”, desenvolvida pelo neurocientista Paul MacLean em
The Triune Brain in evolution: role in paleocerebral functions, uma das mais importantes
obras para os estudos do cérebro publicadas na década de 1990. Em linhas gerais, MacLean
propunha um enfoque evolucionário para a compreensão dos mecanismos e funções do
sistema nervoso, segundo o qual teríamos desenvolvido, ao longo de nossa história como
espécie, três diferentes e cumulativos estágios: o cérebro reptiliano, relacionado aos instintos
mais básicos de sobrevivência; o cérebro intermediário (ou dos mamíferos inferiores),
integrado pelo sistema límbico e responsável por reações emocionais; e o neocórtex, a mais
sofisticada camada do cérebro, na qual se processam percepção, linguagem, cognição e
demais características essencialmente humanas.
Os neuroteólogos buscam compreender em que áreas do neocórtex e com que
articulações ao sistema límbico se registra a experiência da transcendência, chegando a
afirmar que a adoção das práticas religiosas nos mais diferentes contextos culturais deriva de
um processo adaptativo de nossa espécie: sua sugestão é que fomos biologicamente
predispostos a crer. Os estudos têm examinado, por meio de ressonâncias magnéticas e PETscanners, o comportamento cerebral de grupos de voluntários em diferentes momentos
envolvendo as práticas religiosas, desde os transes até as orações silenciosas.
Newberg e D'Aquilli (2002) pesquisaram como eram ativados os circuitos neuronais
10 A fé que faz bem à saúde - Novos estudos mostram que o cérebro é “programado” para acreditar em Deus – e que isso
nos ajuda a viver mais e melhor, reportagem da revista Época, publicada na edição de 20 de março de 2009.
11 Em busca de Deus – Patrocínio farto dá impulso a pesquisas para explicar em laboratório os mistérios da fé, reportagem
da revista Veja publicada na edição de 6 de junho de 2001.
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de freiras franciscanas rezando fervorosamente e de monges budistas absortos em meditação.
Durante as experiências de mais profunda imersão, as quais os fiéis relatam como sendo seu
contato com o divino ou o acesso ao transcendente, observaram que a atividade do lobo
parietal superior, zona que se localiza na parte superior do crânio e é responsável pelo senso
de orientação no espaço, era praticamente suprimida. Isso explicaria, por exemplo, o
sentimento de “unicidade com o cosmos” que os religiosos declaram ter em suas experiências
espirituais mais significativas: é que o “o cérebro fica impossibilitado de traçar fronteiras e
percebe o 'eu' como um ente expandido, ilimitado e unido a todas as coisas” 12, diz a matéria
“Programado para a fé” da revista SuperInteressante. Como colocou o neurocientista Michael
Persinger, “a previsão de nossa morte é o preço que pagamos por termos um lobo frontal
altamente desenvolvido... em muitos aspectos, a experiência com Deus é uma adaptação
brilhante. Uma paz embutida”. (BEAUREGARD, 2010, p. 109)
A série de documentários científicos Through the Wormhole, exibida nos EUA pelo
canal Science Channel (CSI) e, no Brasil, pelo Discovery Channel com o título Grandes
mistérios do universo, não hesitou ao escolher o tema do programa de estreia, em junho de
2010: “Existe um criador?”. Apresentada pelo ator Morgan Freeman, que interpretou o
próprio Deus no longa-metragem Todo Poderoso de Tom Shadyac, a série visitou a Laurentian
University, no Canadá, para onde uma invenção do Dr. Michael Persinger também levou
diversas outras fontes de atenção.
“Muitos jornalistas científicos viram a tese de Persinger não só como
correta, mas também inevitável. A CNN, a BBC, o Discovery Channel, a
imprensa escrita da ciência popular – todos fizeram a excursão do 'capacete
de Deus'”. (BEAUREGARD, 2010, p. 109)
O “capacete de Deus” é um artefato criado na década de 1980 a partir da hipótese de
que as experiências de transcendência são resultado de uma estimulação dos lobos temporais
e que, se o cérebro humano for exposto a campos eletromagnéticos específicos por pelo
menos 40 minutos, pode-se atingir uma sensação que a maioria dos voluntários define como
de “um outro eu”, o que Persinger chamou de “consciência parasitária”. O capacete de Deus
ganhou tanta repercussão que em 2003 o programa Horizon da rede BBC promoveu um
“teste” ao convidar o evolucionista e arauto da ateísmo Richard Dawkins a se submeter a uma
sessão com a criação de Persinger. Após ter o hemisfério direito do cérebro magnetizado,
contudo, o evolucionista confessou não ter sentido nada de incomum, nem vislumbrado
12 “Programado para a fé”, matéria da revista SuperInteressante publicada na edição de agosto de 2002.
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qualquer pista do divino. A resposta da BBC à expectativa do público não poderia ser mais
científica: segundo Persinger, a experiência fracassara porque Dawkins possuía níveis muito
baixos de “sensibilidade lobo-temporal”.
Há ainda outros exemplos da presença desse campo de estudos no imaginário da
época. A banda de eletrometal Screaming Mechanical Boner se pergunta, em uma canção
chamada Neurotheology, lançada em 2005: “Hard wired heads plugged into a higher power /
Unified deity flowing from the poppy flower / Fuels of creation of answers to the desperate /
Questions raised since the dawn of man / Who are we and why are we here?”. Segundo o
discurso neuroteológico, se ainda não há resposta definitiva para essas questões, já é possível
presumir que a maneira como projetamos nossa deidade particular estipula padrões para os
circuitos cerebrais.
“A personalidade que uma pessoa determina para Deus apresenta padrões
neurais distintos que se correlacionam com seu próprio estilo de
comportamento. A maioria daqueles que adotam um Deus autoritário têm as
áreas límbicas do cérebro, que geram medo e raiva, ativadas. Eles tendem a
ser favoráveis à pena de morte, desejam que o governo invista mais em
forças armadas. (…) Entretanto, quando enxergamos Deus como uma força
benevolente, ocorre um estímulo em uma área diferente do córtex préfrontal: o cingulado anterior. Essa área suprime o impulso de raiva e medo”.
(NEWBERG, 2009, p. 160)
Articula-se, assim, uma nova rede de sentidos em torno da experiência religiosa.
Nessas pesquisas, não se vê atribuído juízo de valor entre as diferentes expressões culturais da
fé, mas procura-se compreendê-la através dos estados cerebrais análogos e, mais além, dos
benefícios à saúde causados por práticas como preces e meditação.
“Este é o exato objetivo do novo campo da neuroteologia: compreender a
relação entre função cerebral e todos os importantes aspectos da religião.
Para explicar melhor a fascinante conexão entre mente, cérebro e fé,
devemos entender como a neuroteologia pode, na verdade, se tornar uma
metateologia e uma megateologia. Esses termos complicados exprimem um
sentido bem simples. Metateologia é uma forma de descrever como os
princípios teológicos específicos de uma dada religião provavelmente
surgiram. Megateologia é uma forma de abordar a religião que privilegia os
elementos universais que todas as religiões parecem compartilhar. Os
elementos de uma megateologia poderiam ser teoricamente incorporados a
um sistema de crença específico. É importante ressaltar que, como esses
elementos devem incluir uma compreensão da experiência mística, eles
devem também se direcionar aos aspectos mais comuns do comportamento
religioso, como as ideias sobre comunidade e família, moralidade, amor,
devoção, perdão, senso de pertencimento, e o sentimento de ser parte de algo
maior que o self. A neutoteologia oferece a melhor fonte para o
desenvolvimento satisfatório de meta e megateologias. Uma abordagem
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neuroteológica, por sua própria natureza, é universal. Todos os seres
humanos possuem um cérebro, e todos esses cérebros funcionam de uma
forma muito parecida.” (NEWBERG & D'AQUILLI, 2002, p. 175-176)
(tradução e grifo meus)13
Da busca por Deus até sua “revelação”, a cartografia cerebral proposta pela
Neuroteologia ilustra admiráveis contradições da condição pós-moderna. Em um tempo
caracterizado pelo ocaso das narrativas que pretenderam ordenar a experiência humana a
partir de referências universais, não deixa de ser surpreendente o aparecimento de uma
formação discursiva que, apoiada na paridade biológica, veja-se autorizada a construir, em
pleno século XXI, meta e megateologias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre a renovada atenção dada à religião no contexto das práticas sociais (PIERUCCI,
1998; SANCHIS, 1997) e a problematização dessa experiência pode-se observar um hiato,
propiciado pela ausência do tema da transcendência no horizonte filosófico e do restrito
alcance da fala teológica no espaço de visibilidade – inclusive e sobretudo acadêmico – de
nossa época. Essa lacuna tem fomentado a abertura de novas arenas discursivas, que acolhem
o fenômeno religioso em sua positividade, a fim de explicitar suas condições de persistência e
suas novas conjugações conceituais.
A ascensão da Neuroteologia como ramo de pesquisa e a simultânea inclusão de suas
máximas dentre as pautas dos media demonstram que o ressurgimento da ideia de Deus como
tema de interesse em nossa época acontece sob as graças da hegemonia tecnocientífica: o
elogio da experiência com o divino aparece dissociado do referencial transcendente ao qual as
tradições religiosas o vinculam, tornando-se mensurável nos termos da atividade cerebral e
adequando-se como técnica de aprimoramento do capital biológico de cada indivíduo. Como
resume uma reportagem da revista Época, “não importa qual a religião, o importante é
13 Do original: “This is precisely the goal of the emerging field of neurotheology, to understand the link between brain
function and all important aspects of religion. To better explore the fascinating connnection between mind, brain and
faith, we might consider how neurotheology can actually become a 'metatheology' and 'megatheology'. These are
intimidating phrases, but their meaning is quite simple. A metatheology is a way to describe how the specific theological
principles of any given religion may have arisen. A megatheology is a way of approaching religion that focuses on the
universal elements that all religions seem to share. The elements of a megatheology theoretically could be integrated into
specific belief system. Importantly, while these elements must include an understanding of mystical experience, they
must also address the more common aspects of religious behavior, including ideas about community and family, morality,
love, devotion, forgiveness, a sense of belonging, and a sense of being a part of something greater than the self. We
believe neurotheology provides the best source for developing satisfying meta and megatheologies. A neurotheological
approach, by its very nature, is universal. All human beings have a brain, and all of these brains work in a very similar
fashion.”
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praticá-la”14.
É possível perceber pelos exemplos apresentados aqui que, na divulgação de achados
científicos sobre o tema, não se coloca em jogo o arriscado terreno das ideologias e verdades
religiosas, mas sim a promoção dos comportamentos que garantam o melhor funcionamento
do cérebro, visando ao ideal do bem-estar. Assim, tem-se insinuado nas pesquisas das
neurociências e nas capas de revista de variedades uma curiosa releitura da autenticidade da
fé. Nessas formações discursivas, aquela crença em um ente além do homem parece se
reconfigurar como crença no que se apresenta ante o homem – o corpo. Uma sinuosa
operação histórica que a revista SuperInteressante traduz para o grande público ao afirmar:
“Deus é coisa da sua cabeça” 15.
A transformação da noção de Deus expressa em um enunciado como esse aponta para
a biologização e a privatização da experiência religiosa. Como proposto por Eliade (2010), o
sagrado consiste, para o indivíduo, na experiência que excede a realidade natural e sensível,
sendo a religião o sistema de racionalidade que atribui simbolismo sociocultural e autoridade
moral à fonte dessa transcendência. Se a ideia de Deus passa a ser, literalmente, coisa da
nossa cabeça, o sentido da experiência religiosa parece querer se encaminhar para os
domínios da imanência a partir de um vocabulário que relê o sagrado como possibilidade de
exploração dos recursos cerebrais.
É nessa perspectiva que se pode eleger a Neuroteologia como objeto de estudo de um
contexto em que “o impacto social das neurociências propicia a aparição de práticas de si
cerebrais, as neuroasceses, isto é, discursos e práticas referentes a modos de agir sobre o
cérebro para maximizar sua performance” (ORTEGA, 2009, p. 622). No âmbito da produção
discursiva dos media, vê-se que esse movimento se manifesta pela obliteração do custo que é
inerente às noções filosófica e teológica de ascese: o sacrifício visando à conquista das
maiores virtudes morais ou espirituais converte-se em técnica para se alcançarem índices
otimizados de desempenho biológico.
Tal processo se inscreve em um interessante ponto de interseção. Em primeiro lugar,
as exigências impostas pelo multiculturalismo pós-moderno fizeram do relativismo uma
bandeira inegociável. Esse fato submeteu os sistemas de representação simbólica – como os
religiosos – ao lema da diversidade, o que impossibilita a consideração de um mesmo
14 Não importa qual a religião, o importante é praticá-la, reportagem de Época publicada em 23 de março de 2009.
15 Deus é coisa da sua cabeça, reportagem de SuperInteressante publicada em fevereiro de 2006.
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desígnio para a pluralidade dos modos de ser e, nos discursos dos media, esvazia essa nova fé
de um princípio transcendente. Por outro lado, “o sucesso popular das neurociências está
menos relacionado a seus resultados científicos e práticos do que ao estilo de resposta dada
para os problemas formulados pelo nosso ideal de autonomia individual generalizada”
(EHRENBERG, 2004). O regime de poder que derivou do declínio das sociedades de
disciplina (FOUCAULT, 2008) parece exigir a criação de sujeitos que encontrem em seu
capital pessoal uma alternativa de modelagem identitária.
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2010.
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__________,______. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
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FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas. Vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
NEWBERG, Andrew. Como Deus pode mudar sua mente?. São Paulo: Prumo, 2009.
NEWBERG, Andrew; D'AQUILLI, Eugene. Why God won't go away. New York: Ballatine
Books, 2002.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
ORTEGA, Francisco. Neurociências, neurocultura e autoajuda cerebral. Interface:
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Sociais. São Paulo, n. 37, jun. 1998.
SANCHIS, Pierre. A profecia desmentida. Folha de S. Paulo, 20/4/1997, caderno Mais!, p.
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SIBILIA, Paula. Clique aqui para apagar más lembranças: a digitalização do “sujeito
cerebral” na busca da felicidade. In: FREIRE FILHO, João; PAIVA, Raquel; COUTINHO,
Eduardo (Orgs). Mídia e poder: Discurso, ideologia e subjetividade. Rio de Janeiro: Ed.
Mauad X, 2008 (p. 157-185)
TUCHERMAN, Ieda. Biopolítica, mídia e autoajuda: segredo ou sintoma? Revista Galáxia,
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TUCHERMAN, Ieda; SAINT CLAIR, Ericson. Turbinando cérebros, construindo corpos:
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VATTIMO, Gianni. Depois da Cristandade. Rio de Janeiro: Record, 2004.
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Deus no Laboratório: Sobre a Fé como Objeto Científico na Pauta