UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - PMGPP RELAÇÕES DE PODER E DIVERSIDADE DAS ELITES NO GT-PROJARAGUÁ ALESSANDRO HANSEN VARGAS Orientador: Prof. Dr. Flávio Ramos Itajaí (SC) - 2007 1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - PMGPP RELAÇÕES DE PODER E DIVERSIDADE DAS ELITES NO GT-PROJARAGUÁ ALESSANDRO HANSEN VARGAS Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, sob a orientação do Professor Doutor Flávio Ramos, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas/ Profissionalizante. Itajaí (SC) – 2007 2 Esta Dissertação foi julgada ______________ para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas / Profissionalizante e aprovada, em sua forma final pela Coordenação do Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas – PMGPP/UNIVALI. PROFESSOR FLÁVIO RAMOS, DR (UNIVALI) Orientador Apresentada perante a Banca Examinadora composta pelos Professores PROFESSOR FLÁVIO RAMOS, DR (UNIVALI) Presidente PROFESSOR CARLOS EDUARDO SELL, DR (UFSC) PROFESSOR PAULO ROBERTO NEVES COSTA, DR (UFPR) Itajaí (SC), de 2007. 3 DEDICATÓRIA ÀGDGADU Às minhas meninas... 4 AGRADECIMENTOS Às minhas amadas meninas, poço de paciência e compreensão. Aos professores, tão amigos, colegas e companheiros. Aos amigos Flávio Ramos e Sérgio Saturnino Januário, preciosos mestres. Aos coordenadores, Julian Borba, o empreendedor; Carlos Sell, o sábio; Adriana Rossetto, a incansável. À turma do PMGPP, o farol aceso. Ao dom da vida... 5 “O tempo é um jovem que brinca” Heráclito "Prefiro a liberdade perigosa à tranqüila servidão" Rousseau “Tola pretensão e presunçoso exagero” Robert Michels 6 DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito e sob as penas da lei, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas – PMGPP, a Banca Examinadora, o Professor Orientador, bem como o Co-orientador, de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Por ser verdade, firmo a presente. Itajaí (SC), de 2007. ALESSANDRO HANSEN VARGAS Mestrando PMGPP - UNIVALI 7 SUMÁRIO LISTA DE QUADROS................................................................................... ABREVIATURAS UTILIZADAS.................................................................... RESUMO....................................................................................................... ABSTRACT................................................................................................... INTRODUÇÃO.............................................................................................. CAPÍTULO I – CONHECENDO A TEORIA ELITES.................................... 1.1 INTRODUÇÃO À PERSPECTIVA ELITISTA......................................... 1.1.1 A CONSTRUÇÃO DA TEORIA DAS ELITES..................................... 1.1.2 O ELITISMO DEMOCRÁTICO NA EUROPA...................................... 1.1.3 GENEALOGIA DA TEORIA DAS ELITES........................................... 8 9 10 11 12 15 15 16 26 28 CAPÍTULO II – RELAÇÕES DE PODER E INFLUÊNICA........................... 30 CAPÍTULO III – INSTITUIÇÕES E SOCIEDADE......................................... 3.1 A PERSPECTIVA INSTITUCIONAL....................................................... 3.2 CAPITAL SOCIAL E DESEMPENHO INSTITUCIONAL........................ 3.3 EMPREENDEDORISMO COMPETITIVO............................................... 33 33 36 39 CAPÍTULO IV – METODOLOGIA................................................................ 42 CAPÍTULO V – OBSERVANDO AS ELITES DO GT-PROJARAGUÁ........ 5.1 O AMBIENTE PRECURSOR.................................................................. 5.2 NASCE O GT-PROJARAGUÁ............................................................... 5.3 O GT-PROJARAGUÁ E A INSTALAÇÃO DO FÓRUM......................... 45 45 47 53 CAPÍTULO VI – ANÁLISE DO GT-PROJARAGUÁ..................................... 6.1 AS ELITES DO GT-PROJARAGUA E SUAS INTERAÇÕES SOCIAIS 6.2 O PADRÃO DE AÇÃO DAS ELITES DO GT-PROJARAGUÁ.............. 55 56 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 60 REFERÊNCIAS............................................................................................. ANEXOS........................................................................................................ 62 66 8 LISTA DE QUADROS QUADRO 001 – GENEALOGIA DA TEORIA DAS ELITES......................... QUADRO 002 – ENTIDADES DO GT-PROJARAGUÁ................................ QUADRO 003 – ESTRUTURA DO PROJARAGUÁ..................................... QUADRO 004 – COMPONENTES DO GT- PROJARAGUÁ....................... 28 48 51 55 9 ABREVIATURAS UTILIZADAS ACIJS – Associação Empresarial de Jaraguá do Sul ACIM – Associação Comercial e Empresarial de Maringá ACREVI – Agência de microcrédito do vale do Itapocu AMVALI – Associação dos Municípios do Vale do Itapocu APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais APEVI – Associação das Micro e Pequenas Empresas do Vale do Itapocu CEJAS – Centro Empresarial de Jaraguá do Sul CDL – Câmara dos dirigentes lojistas de Jaraguá do Sul CPL – Centro integrado dos profissionais liberais de Jaraguá do Sul CMJS – Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul FATEJ – Faculdade de Tecnologia de Jaraguá do Sul GAPLAN – Gabinete de Planejamento da Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul GT – Abreviatura do GT-PROJARAGUÁ GT-MACROINDICADORES – Grupo de Trabalho Macroindicadores do PROJARAGUÁ GT-PROJARAGUÁ – Grupo de Trabalho PROJARAGUÁ IES – Instituições de ensino superior de Jaraguá do Sul PMJS – Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul PROJARAGUÁ – Fórum Permanente de Desenvolvimento de Jaraguá do Sul (SC) UJAM – União jaraguaense de associações de moradores UNERJ – Centro Universitário de Jaraguá do Sul SEDEC – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico SEURB – Secretaria Municipal de Urbanismo 10 RESUMO Com muita freqüência, observa-se o entrelaçamento de atores do Estado com grupos econômicos e sociais. A intenção desta pesquisa foi analisar a diversidade, representações e as relações de poder das elites que compõe o grupo de trabalho de implementação do PROJARAGUÁ - Fórum Permanente de Desenvolvimento de Jaraguá do Sul (SC). Pretendeu-se ainda, obter, a partir de análise sociológica suas percepções frente ao objetivo específico do grupo de trabalho: Conceber e implementar o PROJARAGUÁ. 11 ABSTRACT Often, an interlinking is observed between State actors and economic and social groups. The intention of this research was to analyze the diversity, representations and the relationships of power among the elite groups that make up the working group of the implementation of the PROJARAGUÁ - Permanent Development Forum of Jaraguá of Sul (SC). It also sought to obtain, based on sociological analysis the views of the members of such group of the specific objective of the working group: was still intended, to get, from sociological analysis its perceptions front to the To conceive and implement the PROJARAGUÁ. 12 INTRODUÇÃO O estudo de grupos políticos, empresariais e sociais, assume significativa importância na atualidade, principalmente quando as relações1 entre a esfera privada e o Estado são abordadas. Há pesquisas que abordam sistematicamente aspectos específicos de processos de gestão e aspectos técnicos envolvendo a busca de resultados utilitaristas. No presente estudo, nossa intenção é perceber os diversos agentes sociais2 e compreender suas relações de poder ao longo da construção da proposta para o modelo do PROJARAGUÁ. As ações das elites, não seriam estruturadas a partir de uma dinâmica de mercado, atendendo a objetivos bem definidos, mas construídas socialmente e sofrendo a influência de inúmeras variáveis. A pesquisa pretende analisar quais as representações das elites do GTPROJARAGUÁ, suas percepções acerca das instituições políticas, do mercado e da sociedade civil, bem como a relação dos interesses estabelecidos entre a esfera pública e a esfera privada. Portanto, buscaremos desenvolver uma análise sociológica dos atores locais e identificar a importância das mediações sociais no interior de nosso objeto de estudo. As Ciências Sociais vivenciam ainda o eterno debate objetivo/subjetivo ou coletivo/individual. Essa perspectiva dicotômica entre ação/estrutura poderia nos conduzir a equívocos analíticos na interpretação do comportamento do GT- 1 Relações de caráter dialógico, no qual é “impossível chegar-se a uma unificação primeira ou última, a um princípio único, a uma solução monista. Aplicar esse princípio significa articular, mantendo a dualidade no seio da unidade, sem pretender realizar uma síntese, como acontece na dialética. Simplificando o pensamento dialético (...) tendo-se uma tese (...) e uma antítese (...) teria-se como síntese (algo que) teoricamente contém (tese e antítese). Entretanto, essa síntese dialética não (preservaria a tese e a antítese, pois) desaparecem na (síntese) (...). A dialógica (“e – e”) é capaz de unir conceitos que tradicionalmente se opõem, considerados racionalmente antagônicos, e que até então encontravam-se em compartimentos fechados” (VASCONCELLOS, 2003, p. 113-114). 2 A noção de agente social consiste em que o agente apresenta reflexividade em termos de interiorização do exterior (o agente é agido, do interior) e de exteriorização do interior (o agente age, para o exterior). Tal concepção é associada ao conceito de habitus, “um sistema de disposições duradouras adquirido pelo indivíduo durante o processo de socialização. As disposições são atitudes, inclinações para perceber, sentir, fazer e pensar, interiorizadas pelo indivíduo em razão de suas condições objetivas de existência, e que funcionam então como princípios inconscientes de ação, percepção e reflexão. A interiorização constitui um mecanismo essencial da socialização, na medida em que os comportamentos e valores aprendidos são considerados como óbvios, como naturais, como quase intuitivos; a interiorização permite agir sem ser obrigado a lembrar-se explicitamente das regras que é preciso observar para agir” (BONNEWITZ, 2003, p. 77). 13 PROJARAGUÁ frente às representações dos mesmos acerca das organizações da sociedade civil organizada. Poderíamos nos ver induzidos a projetar universos conceituais a partir do pressuposto básico do pesquisador, admitindo o espaço social como um espetáculo oferecido aos nossos olhos que nos permitiria assumir um determinado ponto de vista sobre nosso objeto de pesquisa, no caso sua ação local (CORCUFF, 2001). Ou seja, um olhar externo às ações, ao comportamento das elites. Poderíamos ainda, centrar nossa abordagem no subjetivismo, que nos conduziria a um ator autônomo observando o comportamento do grupo como algo independente, relegando fatores outros como o ambiente ou a cultura dos mesmos, desconectando a influência sofrida a partir da estrutura social, num sentido oposto ao da sociologia de Durkheim, que imaginava a consciência coletiva que vem de fora dos indivíduos (RAMOS; HANSEN-VARGAS, 2006). No entanto, a ênfase excessiva no coletivo, em detrimento do individual, faz com que as motivações dos indivíduos passem a ser consideradas, analisando-se os comportamentos individuais influenciados por essas múltiplas motivações, como contraponto à perspectiva estruturalista (CORCUFF, 2001), Weber entendia que tudo o que existe na sociedade são produtos da vontade e das ações dos homens e a análise sociológica teria como pressuposto básico a ação de indivíduos (SELL, 2001, p. 108), diametralmente ao oposto de Marx, para quem os homens agem, ou estabelecem relações determinadas por outras instâncias, independentes de suas respectivas vontades (CORCUFF, 2001)3. Nesta dissertação, estaremos adotando uma perspectiva construtivista, rompendo, portanto, com essa dicotomia em que “as realidades sociais são aprendidas como construções históricas e cotidianas dos atores individuais e coletivos” (CORCUFF, 2001, p. 26). Observando Giddens (1998), percebemos que este busca uma dupla sociologia das estruturas sociais, combinando ação e estrutura, a partir do conceito de estruturação, tenta superar os dualismos das Ciências Sociais, afirmando que os sistemas sociais são condições e resultados das atividades dos agentes que participam desses mesmos sistemas (COHEN, 1999 apud CORCUFF, 2001). 3 A referência à obra de Karl Marx, por parte do autor (CORCUFF, 2001, p. 13), está relacionada ao prefácio da “Crítica da Economia Política”, concluída em 1859. 14 Ação e estrutura entrelaçadas, ou seja, reconciliando ação e coletividades (GIDDENS, 1998), sem perder de vista a compreensão de que “as relações sociais devem sempre envolver diferenciações de identidade e prática entre os agentes individuais, assim como entre vários grupos” (COHEN, 1999, p. 438), compreensão essa essencial para percebermos as especificidades do comportamento da sociedade civil4, sistematizando uma abordagem construtivista dos mesmos. A partir disso, nosso trabalho procurará analisar como e porque o GTPROJARAGUÁ se constituiu enquanto grupo explícito, com denominação, portavozes e representações de valores, constituindo identidades próprias. A abordagem construtivista, portanto, nos permitirá analisar as elites de Jaraguá do Sul (SC) em suas representações sobre as políticas públicas como um fluxo de ações que constroem a realidade a qual estão inseridos, sem considerar essa mesma realidade como algo dado ou consolidado, não considerando as ações do empresariado como o reflexo de uma racionalidade abstrata (RAMOS; HANSENVARGAS, 2006). O neo-institucionalismo, fortemente influenciado pelo construtivismo social, entende que as organizações, a partir das iniciativas de seus agentes sociais, adotam práticas de gestão não apenas para viabilizar resultados, mas também para buscar legitimidade social, rompendo com a dicotomia que opõe instituições e cultura (HALL; TAYLOR, 1996). James G. March já alertava para o fato de que as pessoas, num ambiente organizacional institucionalizado, não compreendem bem o que está acontecendo e as decisões, em boa parte das situações, podem não ter relações com os processos que, em princípio, as geraram, externando certos limites cognitivos.5 Os atores empresariais, grande maioria do GT-PROJARAGUÁ, nessa linha de reflexão, ignoram princípios de uma suposta racionalidade gerencial, seguem opiniões de outros atores ou são influenciados por tradições, tornando a organização uma coalizão política de interesses e objetivos múltiplos e em constante mudança 4 Segundo Bobbio (2004, p. 1210), “entende-se por sociedade civil a esfera das relações entre indivíduos, entre grupos, entre classes sociais, que se desenvolvem à margem das relações de poder que caracterizam as instituições estatais”. Acrescendo o conceito de Weber, “a sociedade civil é o espaço das relações do poder de fato e o Estado é o espaço das relações do poder legítimo” (Ibidem, 2004, p. 1210). 5 James J. March e Herbert Simon comungam do conceito de “racionalidade limitada” para o universo das organizações. 15 CAPÍTULO I – CONHECENDO A TEORIA DAS ELITES 1.1 INTRODUÇÃO À PERSPECTIVA ELITISTA Segundo Mills (1981), nas sociedades modernas existe uma clara tendência de circulação das elites pelas esferas institucionais na estrutura do poder. Estas, seriam responsáveis pelas transformações de ordem estrutural na mesma, uma vez que os atores deslocam-se facilmente através da cúpula das principais ordens. “Muitos deles eram homens de múltiplas facetas, que podiam assumir o papel do legislador e do comerciante, do pioneiro e do soldado, do erudito e do organizador” (Ibidem, 1981, p. 320). Partindo da observação dos escritos de Mosca, Pareto e Michels6, percebemos um caráter de inspiração realista destes, uma vez que tratam de descrever como a circulação das elites garante e assegura o equilíbrio e longevidade das sociedades modernas (GRYNSZPAN, 1996). A suposta circulação de elites encontra fundamentação na teoria homônima ou elitismo (Bobbio, 1986), consagrada nas Ciências Sociais e, se estendendo do século XIX até a década de 1980, envolvendo grande número de autores e comentadores de várias origens e correntes de pensamento em suas análises e discussões (GRYNSZPAN, 1996). O termo “elite”, cunhado por Pareto em “Systemes Socialistes” (1902), remonta acerca da existência de uma suposta classe “superior” no seio das sociedades, que detém o “poder”, seja ele político, econômico, militar, à qual classificou como “aristocracia” ou elite (Bobbio, 1986), porém alguns autores e comentadores referem-se ao termo em sentido classificatório e não somente valorativo como se induz num primeiro momento (GRYNSZPAN, 1996). Para Bobbio, existem duas classes de pessoas: a dos governantes e a dos governados. A primeira, que é sempre menos numerosa, cumpre todas as funções públicas, monopoliza o poder e goza as vantagens que a ela estão anexas; 6 Os italianos Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto e o alemão Robert Michels, são tidos, pela Sociologia e Antropologia, como os “Pais Fundadores” do que viria a ser conhecido como “Teoria das Elites” (GRYNSZPAN, 1996). 16 enquanto que a segunda, mais numerosa, é dirigida e regulada pela primeira, de modo mais ou menos legal ou de modo mais ou menos arbitrário e violento, fornecendo a ela, ao menos aparentemente, os meios materiais de subsistência e os que são necessários à vitalidade do organismo político (BOBBIO, 1986, p. 385). Mas foi com sua chegada aos Estados Unidos da América em meados do século XX que a teoria das elites se desenvolveu e passou a figurar como objeto de estudo privilegiado nos meios intelectuais (GRYNSZPAN, 1996). “A teoria das elites conquistou verdadeira cidadania na Ciência Política contemporânea, renascida e renovada nos Estados Unidos” (BOBBIO, 1986, p. 387). Em “The power elite” (A elite do poder, 1956), Mills defende que, “o poder na América era monopolizado por uma elite unificada, que se impunha, e as suas decisões, ao restante da sociedade” (GRYNSZPAN, 1996, p. 49). Os indivíduos que a compunham, circulavam entre as elites por constituírem-se um “tipo social semelhante”, unificado psicologicamente, onde se reconhecia e encontrava-se nos círculos dos negócios, das famílias e da sociedade. Entre outras, a razão fundamental desse fenômeno, se dava em função dos critérios de seleção e admissão na elite, todos extremamente rígidos e restritos a indivíduos do mesmo meio, o qual tratava de uniformizar “naturalmente” os indivíduos que a ela chegavam (Ibidem, 1996, p. 49-50). Portanto, a tendência que leva a circulação das elites é inerente ao caráter de grupo psicologicamente unificado dos “homens de poder”. 1.1.1 A CONSTRUÇÃO DA TEORIA DAS ELITES A teoria das elites apresenta, no âmbito das Ciências Sociais, consenso acerca dos principais autores que compõe seu referencial teórico, sendo os italianos Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto, juntamente com o alemão Robert Michels, igualmente reconhecidos como os fundadores, tanto para a Sociologia, como para a Antropologia (Grynspan, 1996, p.35). A cunhagem do termo elite, como mencionado anteriormente, é atribuída a Pareto, proposto no Systèmes Socialistes (1902) e consolidado no Traité de 17 Sociologie Générale (1916), na qual destaca que em todas esferas da atuação humana, figuram indivíduos que se sobressaem pelos seus dons e qualidades, os quais constituem uma minoria distinta da população, que veio a ser conhecida como elite. Quando da publicação dos Systèmes socialistes, em 1902, Vilfredo Pareto propõe o termo e o conceito de elite (escrito assim, mas entendido no plural), ele não tem a intenção de limitar os elementos que constituem sua elaboração doutrinária, (...) ao quadro político e estatal. Mas dos Systèmes socialistes ao Trattato di sociologia (1916), a obra de Pareto tende a elaborar o conceito de elite em termos essencialmente sociais (ALBERTONI, 1985, p.148). Pareto destaca ainda que as elites se renovam através do que classificou como “circulação das elites”, que seria a maneira pela qual as aristocracias asseguravam o equilíbrio e a longevidade do corpo social que a sustenta. Neste caso, a história seria “um cemitério de aristocracias (...) da mesma forma que as células humanas mortas, elas seriam substituídas por outras, em um processo contínuo que o autor chama de circulação das elites” (GRYNSZPAN, 1996, p. 36). Uma vez esse processo cessando, ou tornando-se demasiadamente lento, possibilitaria a ascensão e a concentração de elementos de qualidade inferior no interior da elite, ao passo que concentraria indivíduos de “traço superior” nas camadas inferiores da sociedade, gerando um quadro de desestabilização, propiciando a substituição da elite, até mesmo pelo uso da força, no que Pareto classificou de “degeneração das elites”. Cabe destacar que não se trata de uma luta de classes, mas sim de uma luta de elites. Pareto inclusive registrou que não existe nenhuma possibilidade de haver um governo legítimo das massas, uma vez que mesmo através de uma revolução socialista, nada mais seria do que a substituição de uma elite burguesa capitalista por uma elite socialista, portanto, longe de se apresentar como igualitária. Nessa ótica, todo governo seria uma minoria, mesmo ungida através do sufrágio universal. Uma vez instalado no poder, utilizariam-se os ideais democráticos para a legitimação de uma nova minoria, ou seja, da nova “elite” (GRYNSZPAN, 1996, pp. 36-37). “A retórica democrática se constituía em um valioso instrumento, em uma poderosa arma para os grupos que buscavam alcançar o poder, mas que, para tanto, precisavam do apoio das massas” (GRYNSZPAN, 1996, p. 37). 18 Outro italiano, Gaetano Mosca, reconhecido como um dos fundadores do elitismo, tangenciava por uma linha próxima em The Ruling Class, onde o aspecto de maior obviedade nos organismos políticos era de que “havia sempre duas classes de pessoas, uma mais e outra menos numerosa, sendo a primeira dirigida e a segunda dirigente”, certamente a primeira mais e segunda menos numerosa. Mosca destacava que mesmo nas sociedades democráticas, as classes dirigentes tendiam a tornarem-se hereditárias, no que ele identificava como reflexo de uma convivência próxima com as funções de poder, o que viria a conferir aos descendentes uma aptidão maior para exercê-las. Mosca destacava duas tendências de estruturação da classe dirigente, sendo a democrática e a aristocrática. A primeira identificava-se como uma forma de renovação das elites, essencial para o progresso das sociedades, uma vez que impedia sua “ossificação”, prevenindo a exaustão da classe dirigente. A segunda, de cunho aristocrático, apresentava-se como o oposto da primeira, uma vez que existia a partir de um grupo fechado, restrito no controle do acesso aos quadros. Podia ser melhor percebida, segundo o autor, no interior do sistema socialista, no qual, O governo e a economia eram delegados às mesmas pessoas que, dessa forma, acumulavam um enorme poder, tornando-se imunes a qualquer tipo de controle. Assim, por detrás de uma retórica igualitária, democrática, o que se assistia era à constituição de uma oligarquia mais poderosa e totalitária que jamais se havia tido notícia (MOSCA apud GRYNSZPAN, 1996, p. 38). O sociólogo alemão Robert Michels em Sociologia dos Partidos Políticos, cunhou a expressão conhecida como “a lei de ferro da oligarquia” na qual as organizações seriam “onde nasce a dominação dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatários sobre os mandados, dos delegados sobre os que delegam”, acrescentando ainda que “quem diz organização, diz oligarquia”. O autor analisa como se exerce a democracia no interior dos partidos políticos, numa crítica a atuação do partido social-democrata alemão, no qual Michels identificava uma “cristalização de líderes, uma oligarquização”. Michels advogava que as elites supostamente operavam sob certa influência das multidões, através da retórica demagógica. Essas multidões, reunidas em assembléias se mostravam apáticas e pouco dispostas a discussões sérias e refletidas, na qual percebiam-se como sendo incompetentes, necessitando de 19 líderes a quem delegavam suas funções. Tendiam assim a personificação de celebridades, as quais “falavam em seu nome”, no que o autor classificou de “patologia das massas”. A própria sobrevivência das organizações (partidárias nesse caso específico) estaria condicionada ao papel desempenhado pelos seus delegados e membros da sua burocracia. A representação de interesses e os assuntos administrativos da organização, estariam depositados nas mãos dos poucos, na expressão do sociólogo “seus patrões”, estando a massa, “reduzida a contentar-se com prestações de contas sumaríssimas”. Michels se mostrava cético quanto a democracia partidária, uma vez que percebia um padrão de atuação bastante previsível no interior das organizações, nas quais os novos aspirantes as chefias buscavam incessantemente a derrubada de seus superiores, denunciando supostos abusos, defendendo direitos violados das massas, direitos estes, que não hesitariam em violar quando da assunção ao poder. “Os revolucionários de hoje, são os reacionários de amanhã” (MICHELS, 1982 pp. 93 e 103 apud GRYNSZPAN, 1996 p. 39). Os dirigentes das organizações, os eleitos pela vontade da maioria, certamente não o pretendiam ser no início. Porém, experimentando a ascensão, dificilmente desejarão retornar à obscuridade e, uma vez eleitos, tudo farão para a reeleição, pois o status, o prestígio e as honrarias dão aos dirigentes não apenas a idéia de poder, como também alimentam a vaidade de se julgarem grandes personalidades. É o narcisismo sendo apresentado em suas veleidades, as quais o sujeito abomina no discurso, mas das quais orgulha-se no que não diz. Os dirigentes agarram-se na onipotência de suas presenças, fazendo do cargo sua propriedade e, assim, intitulam-se perante os dirigidos que, por desconhecerem a natureza das coisas, crêem no título, que é o símbolo da prepotência e da superioridade (FARIA, 2004, pp. 83-84). “Os autores elitistas estavam na contra-mão da história, uma vez que eram interpretados na contra-corrente democrática e dos movimentos sociais, negando-os através de pesada crítica” (MAYER, 1987 pp. 14-15 apud GRYNSZPAN, 1996, p. 40). A soberania das multidões havia adquirido hegemonia, tornando-se um dogma inatacável, por conseguinte, os “pais fundadores”, Pareto, Mosca e Michels, convalesceram de uma leitura na qual foram classificados como inimigos da democracia, do liberalismo e do sistema representativo (GRYNSZPAN, 1996, pp.4344). 20 As instituições parlamentares de sua época não correspondiam (...) e Mosca elabora então uma severa crítica antiparlamentarista (sobretudo durante seus anos de juventude e na Teorica) que – a posteriori – foi uma fonte de equívocos a seu respeito (ALBERTONI, 1985, p.155). O florescimento da teoria das elites, a despeito de seu surgimento e primeiros passos na Europa - mais precisamente na Itália de Pareto e Mosca - obteve, nas palavras de Norberto Bobbio (1991 apud Grynszpan, 1996, p.44), sua “cidadania política nos Estados Unidos da América”, principalmente através de dois professores universitários nova-iorquinos, James Burnham (The Managerial Revolution, 1941) e Charles Wright Mills (The Power Elite, 1956). Burnham, destacava em sua obra que o poder era formalmente exercido por um grupo de pessoas que não necessariamente detinha a propriedade dos meios de produção, mas sim o controle sobre os mesmos, neste caso os Managers. A sociedade capitalista vinha, pois, cedendo lugar a uma outra que, entretanto, não seria socialista. Não seria o proletariado, ou as massas desprovidas, até por incompetência sua, que se afirmariam como a nova classe dirigente. Esta classe seria formada pelos managers que, efetivamente, controlavam os meios de produção, mesmo não sendo seus proprietários (BURNHAM, s/d, p. 59 apud GRYNSZPAN, 1996, p. 45). Para o autor, o socialismo, o nazi-fascismo e o new deal, tinham fortes semelhanças, uma vez que assistia a imposição de uma nova classe dirigente, a classe dos managers. Sua tese apoiava-se noutros autores, Thorstein Veblen (A Teoria da Classe Ociosa, 1899) onde este demonstrava uma tendência ao ócio por parte da alta burguesia, ou seja, dos detentores do capital. Na obra intitulada A Propriedade Privada na Economia Mundial (1933) de Adolf Berle e Gardiner Means, Burnham buscou mais subsídios para The Managerial Revolution, onde Berle e Means verificaram forte tendência para a separação entre a propriedade e a administração das grandes empresas americanas, que apresentavam gradual transferência das decisões técnicas dos detentores do capital para os especialistas. (idem, p.46). A mesma tendência fora verificada e igualmente incorporada por Burnham, em Hugo Urbahns, que versava sobre o modelo de capitalismo de Estado de Hitler e o italiano Bruno Rizzi, onde este, na obra La Bureaucratisation du Monde, demonstrava que o coletivismo soviético representava uma nova forma de 21 dominação de classe, constituindo-se a própria, na nova classe dominante do regime. Neste momento Burnham (idem, p.48), recebe fortes críticas dos socialistas, mais por questões políticas do que teóricas propriamente ditas. Leon Blum e George Lukacs classificaram Burnham como o ideólogo do capitalismo monopolista, de aversão as massas, numa clara alusão de qualificá-lo como maniqueísta por ter ousado expor as semelhanças do socialismo soviético e do nazi-fascismo alemão. James Burnham, em 1943, publicou The Machiavellians, onde apresentava a primeira re-leitura positiva e liberal dos “pais fundadores” da teoria das elites, classificando-os não como autoritários e antidemocráticos, mas tão somente como realistas. Burnham fez questão de destacar sua visão de que a tese elitista deveria ser tomada pela vertente democrática, pois ao oposto da tendência aristocrática que bloqueava o acesso de elementos dos extratos inferiores da sociedade; a tendência democrática garantia a livre ascensão, baseada em critérios meritocráticos, garantindo assim, o poder da elite governante (GRYNSZPAN, 1996, pp. 47-49). O segundo professor nova-iorquino adepto das teses elitistas, Charles Wright Mills que, publicou em 1956 The Power Elite, a qual constituiu-se numa primeira tentativa de análise pormenorizada da sociedade americana e o poder exercido pela elite. “Mills chegou à conclusão de que o poder na América era monopolizado por uma elite unificada, que se impunha, e as suas decisões, ao restante da sociedade” (GRYNSZPAN, 1996, p.49). A elite do poder para Mills, constituía-se num tipo social semelhante, unificado psicologicamente, que se reconhecia e se encontrava nos círculos de negócios, na sociedade e nas famílias. Apresentava os mesmos critérios de seleção, admissão e honorabilidade, impondo certa uniformização aos neófitos, “formavam uma minoria definida, constituindo um grupo coeso, ligado por vínculos diversos como interesses, pessoalidade, hábitos e até coerção” (GRYNSZPAN, 1996, p.50). Segundo Mills, era formada basicamente por três setores específicos: o Estado, as empresas e as forças armadas. Mills fez largo uso de estudo de Floyd Hunter, elaborado em 1953 Community Power Structure, onde este havia verificado no interior da sociedade de Atlanta, o mesmo padrão de unificação da elite que Mills percebeu a nível nacional. A partir de então, ambos os autores passaram a ser relacionados como expoentes da tese do 22 “monismo elitista”. Nas palavras de Bobbio, Mills rompera a imagem idílica da América como “paraíso do homem comum” (Ibidem, 1996, p.50). Mills recebeu severas críticas, tanto da esquerda marxista, quanto da direita (pluralismo). Paul Sweezy, Leo Huberman e Eugene Schneider, encarregaram-se da crítica esquerdista, quando ao longo dos anos de 1950 e 1960, publicaram diversos artigos contestando a posição de Mills por excluir de sua análise uma ‘teoria de classes’, onde, ao invés da suposta ‘elite do poder’, o que de fato existiria na América, a partir da ótica marxista, era uma ‘classe dirigente’. Com isso Mills monopolizou a representação intelectual do descontentamento político americano e, contribuiu para o silenciamento e isolamento da esquerda, vocalizando desta, o ‘radicalismo’, tomando seu espaço e caracterizando um quadro de concorrência desequilibrada pela ‘paranóia’ anti-comunista da época. (GRYNSZPAN, 1996, p.51). A crítica liberal-pluralista a Mills, passou a ser conhecida como ‘elitismo democrático’, o qual apontava os limites da tese democrática embasada na democracia do povo, pelo povo e para o povo, uma vez que nas experiências totalitárias recentes uma ampla base de apoio popular não garantira a perenidade da democracia. Outro ponto da crítica pluralista, dava conta de que na democracia, ao oposto do autoritarismo, as elites apresentavam critério de seleção aberto, ou seja, não seria composta de um circulo fechado, restrito a um grupo exclusivamente. Neste momento, seria levada a cabo uma releitura dos ‘pais fundadores’ da teoria das elites, quando até meados da década de 1940, Mosca, Pareto e Michels foram vistos como autores antidemocráticos e, a partir do ‘elitismo democrático’, passaram a serem reconhecidos, no caso de Mosca, como “um pensador democrataparlamentar”, Pareto, como um “ultraliberal pluralista” e Michels um “anti-oligarca contumaz” (GRYNSZPAN, 1996, p.51). Walter Lippmann e Joseph Schumpeter destacaram-se no elitismo democrático, apesar do primeiro não possuir de todo um argumento pluralista, uma vez que centrava sua análise na necessidade de um poder executivo forte como pressuposto à sobrevivência da democracia; Schumpeter, defendia a democracia como ‘marco institucional’ para alcançar o bem comum. Sua argumentação enfatizava a democracia como um governo dos políticos, escolhidos a partir de um 23 conjunto de candidatos previamente apresentados aos eleitores, sem porém, estes terem acesso à definição dos mesmos. (GRYNSZPAN, 1996, pp.51-54). Ele (Schumpeter) representa o sistema democrático como um universo de procedimentos e de garantias capazes de assegurar a renovação dos grupos dirigentes políticos através da competição pública e aberta, mas incontestavelmente dominada por quem está decidido e determinado a impor-se e a afirmar-se na competição (ALBERTONI, 1985, p.161). Nota minha. Harold Lasswell, autor elitista adepto de padrões valorativos, em sua obra Power and Society de 1950, escrito em parceria com Abraham Kaplan, argumenta que todos (incluindo as massas) teriam parcela de participação no processo decisório no âmbito da sociedade, porém, em ‘gradações’ distintas, onde a elite, pelo pretenso maior grau de organização em relação a massa, exerceria ampliado poder relativo nas decisões coletivas. Lasswell e Kaplan, rompem, neste momento, a imagem dicotomizada ‘elite/massa’, admitindo uma ‘semi-elite’, que ostentaria graus intermediários de organização e conseqüentemente de poder. (GRYNSZPAN, 1996, p.55). A concepção diferenciada de poder, diretamente relacionado a níveis organizativos distintos entre grupos no interior do sistema social, serviu para “reconciliar a noção de elite com a operação de instituições democráticas. A simples presença de uma elite, assim, não é suficiente para desqualificar uma estrutura como democrática” (GRYNSZPAN, 1996, p.55). O que se faz importante observar, são os padrões de recrutamento da elite, esta, uma vez democrática, teria obrigatoriamente um caráter ‘aberto’, abarcando a sociedade como um todo, eliminando processos coercitivos, os quais competem para a limitação do poder, portanto, pondo-o a serviço da sociedade (Ibidem, 1996, p.51). Wright Mills teve grande parte de suas discussões com os autores pluralistas, desencadeada pela crítica ao ‘pluralismo romântico’ de David Riesman, que em A Multidão Solitária de 1950, discorria acerca dos ‘grupos de veto’. A crítica fundavase numa pretensa perda de espaço por parte da classe governante americana para os grupos de pressão caracterizados pelos lobbies. Seu padrão de ação não se resumia as intervenções ordenadas a interesses específicos, mas caracterizava-se em exercer poder de veto a interesses concorrentes de grupos adversos, competindo à monopolização do poder político. A ação contrabalançada dos demais 24 grupos competia para a estruturação ‘amorfa’, em que não se distinguiam governantes de governados, gerando uma noção de desresponsabilização pelos atos de governo, motivado pela falta de equilíbrio regular de forças (GRYNSZPAN, 1996, p.56). A maior atração do pluralismo romântico para as pessoas de tendência conservadora é tornar desnecessária qualquer justificativa explícita dos homens encarregados ostensivamente dos assuntos públicos. Pois se estão todos equilibrados, cada um deles é realmente impotente, e nenhum círculo superior, nem qualquer disposição institucional, pode ser responsabilizado pelos acontecimentos e decisões de nossa época. Portanto, todo esforço político sério é realmente uma ilusão que os homens sensatos podem observar com interesse, mas pelo qual certamente não se deixarão envolver moralmente (MILLS, 1981, p.392). David Truman, atento a algumas das preocupações de Mills, partindo de um ponto próximo ao de Riesman, em The American System in Crisis de 1959, buscou apontar responsabilizações quanto aos desacertos da política americana. Notadamente quanto a perda da liderança da corrida espacial frente a então União Soviética e pelos efeitos da revolução chinesa, a qual representava o surgimento de mais um triunfo do sistema comunista. Truman identifica uma estrutura intermediária no seio da sociedade americana, constituída por grupos de interesse (associações, igrejas, etc), os quais, assumiam um papel de mediação política entre o Estado e o cidadão. Para o autor, os líderes desses grupos de interesse constituíam-se em uma ‘elite técnica’, porém não unificada (Mills), autoconsciente, pois seus membros não contavam com origem social comum. Aqueles que ocupavam posições de liderança dentro desses grupos constituiriam uma elite em um sentido puramente técnico, neutro. Eles seriam, é certo, influentes e privilegiados, mas, por isso mesmo, estariam interessados, e atuariam no sentido da manutenção do sistema do qual provinham seus privilégios. Não chegariam eles, contudo, (...) a conformar uma elite no sentido de uma classe governante unificada, autoconsciente, até mesmo porque não tinham origens sociais e geográficas comuns (GRYNSPAN, 1996, pp 56-57). Na mesma linha de defesa da estrutura política intermediária para a democracia, outro autor pluralista americano, William Kornhauser, (The politics of mass society, 1959), defendia que, apenas um quadro de concorrência às elites, pautado no livre acesso e renovação das mesmas, tornariam-nas mais sensíveis aos apelos e reivindicações das não-elites. Kornhauser destacava ainda a importância 25 da estrutura intermediária entre elites e não-elites, uma vez que na ausência da mesma, os opostos estariam diretamente em contato, podendo vir a gerar tensões. Seymour Lipset e Suzanne Keller, autores de renome na linha elitista democrática, citavam ‘Michels’ como grande contribuidor para a demonstração de que a ‘oligarquia’ não era um defeito da democracia, mas uma característica geral do sistema, o oposto do conceito de Rousseau de ‘democracia direta’, até então a base das teorias democráticas e também do socialismo. Lipset, defendia que, o que diferenciava a democracia de outros sistemas era a livre concorrência entre os variados atores acrescida do acesso dos dirigidos aos dirigentes (GRYNSPAN, 1996). Keller, cunhou o termo ‘elites estratégicas’, a qual para a autora, consistia da diversidade de grupos que se destacavam nos diversos setores da sociedade, com base na motivação, capacidade e meritocracia, cuja missão seria servir a coletividade. “Poderia haver tantas elites estratégicas, quantos segmentos e atividades sociais existissem” (GRYNZPAN, 1996, p.59). Mas talvez o autor de maior envergadura à figurar na vertente pluralista das teses elitistas seja o professor americano Robert Dahl que nas palavras de Bobbio (1991 apud GRYNZPAN, 1996, p.60) seria, “(...) o mais autorizado e influente crítico de Mills”, A critique of the Ruling Elite Model (1958), artigo referido a Mills e Hunter, na qual Dahl questionava fortemente as bases do monismo, ou seja, da suposta unidade dos Grupos de elite. Dahl analisa em Who Governs? (1964), trabalho analítico desenvolvido a partir da cidade americana de New Haven, onde chegou a algumas importantes conclusões acerca do processo de transição de uma oligarquia para o pluralismo. O autor verificou que apenas uma parcela da população envolvia-se nas decisões políticas e suas respectivas ações. Essa parcela, Dahl classificara como “estrato político”, em oposição ao apolítico (notadamente superior do ponto de vista quantitativo) (DAHL, 1988, p. 102). 26 1.1.2 O ELITISMO DEMOCRÁTICO NA EUROPA Ademais a teoria das elites ter se desenvolvido de forma mais destacada nos Estados Unidos da América, ela também conheceu excelentes formuladores em autores europeus, tendo, além dos “pais fundadores” Mosca, Pareto e Michels, trabalhos importantíssimos para a consolidação da mesma. Ortega e Gasset, Raymond Aron, Karl Mannheim, poderiam ser incluídos na categoria de influentes europeus do elitismo democrático. O primeiro deles, destacou-se por suas relevantes observações acerca do tema em “A revolução das massas” de 1920, onde, apesar de ter seu objeto de estudo direcionado a natureza do que ele convencionou de “massas”, o autor destacava as “minorias excelentes” (GRYNZPAN, 1996 pp. 60-61). Para Mannheim (1933), apesar de escrever a partir da Alemanha Nazista, defendia uma tendência inexorável à democratização, porém, destacava que, embora básico, o princípio da igualdade não implicava o nivelamento mecânico dos homens, defendendo uma competição justa pela composição da elite. O autor chamava a atenção para o risco da adoção da coerção das massas por slogans, quando da não renovação da elite, desembocando no totalitarismo. Para ele, “uma ditadura só poderia surgir de uma democracia, que teria conferido maior fluidez à vida política” (GRYNZPAN, 1996 p. 62), porém eliminando a renovação da elite, esta poderia fortalecer-se demasiadamente. “A ditadura poderia ser vista como uma das formas de a sociedade democrática procurar resolver seus problemas” (MANNHEIM, 1957, p. 244 apud GRYNZPAN, 1996, p.62). Para Raymond Aron, a pluralidade das elites seria uma marca da sociedade ocidental, ao passo que no modelo soviético elas estariam unificadas. O autor exclui o termo “classe dirigente”, adotando “categoria dirigente”, defendendo também a percepção de que todas as organizações partidárias estariam fortemente apoiadas em “oligarquias”. “O povo nunca havia governado nem jamais governaria. Todo governo seria oligárquico, marcado pelo domínio de uma minoria” (GRYNZPAN, 1996, p.63). Para Giovani Sartori, a tese da ‘elite aberta e pluralista’ seria a ‘forma básica demarcadora da democracia’, o autor não enxergava as minorias como ‘oligarquias’, 27 mas como ‘grupos cumprindo certas funções’, em um processo de livre movimentação vertical, que garantiria a concorrência entre ‘elites múltiplas’. A existência de organizações e grupos minoritários diversos, mesmo que alguns fossem oligárquicos, reforçariam a democracia, forçando-os na busca do aval da maioria. Richard Merelman cunhou a expressão ‘Neo-elistismo’, onde combatia a tese do ‘elitismo democrático’, buscando sua desqualificação e ilegitimação científica, bem como ‘política’. Acusavam o elitismo democrático de tese conservadora, excludente e parcial, da dominação de poucos sobre muitos. Adotou-se um discurso desqualificativo e de estigmatização do termo ‘elite’, atribuindo-lhe caráter exclusivamente valorativo. (GRYNZPAN, 1996). O ‘neo-elitismo’, representa um marco a partir do qual o debate sobre a teoria das elites começa a refluir nos USA, representando uma das últimas ramificações significativas da teoria, remetendo de certa forma a teoria das elites ao ponto de partida inicial. (Ibidem, 1996, p.66). 28 1.1.3 GENEALOGIA DA TEORIA DAS ELITES QUADRO 001 – GENEALOGIA DA TEORIA DAS ELITES SURGIMENTO DA TEORIA DAS ELITES Pais Fundadores: Mosca Pareto (1916) – Surge o termo “Elite” Michels (1911) Antropologia e Sociologia Influência Iluminista, 1ª Guerra Mundial, teses democratizantes 1ª Leitura dos pais fundadores – Anti-democrática (Mayer, Hirschman, Le Bon, Bobbio, Botomore) – Anti-Liberais Anti-parlamentares TEORIA DAS ELITES NOS USA Burnham (1941) (Veblen, Berle, Means , Urbahns, Rizzi) Revolução dos Managers Mills (1956) (Hunter) Monismo Elitista – Estado, Empresários, Militares 29 2ª LEITURA DOS PAIS FUNDADORES – PENSADORES REALISTAS (Burnham) PLURALISMO E ELITISMO DEMOCRÁTICO Europa Ortega y Gasset, Aron, Mannheim Duvenger, Sartori USA Lipmann, Schumpeter, Lasswell, Kaplan, Lerner, Riesman, Truman, Kornhauser, Lipset, Keller, Dahl PLURALISMO E ELITISMO DEMOCRÁTICO 3ª Leitura dos pais fundadores Mosca – democrata-parlamentar Pareto – ultraliberal-pluralista Michels – Anti-oligarca Crítica Neo-Elitista Merelman, Walker, Bachrach Fonte: O próprio autor, baseado em ALBERTONI, 1990; BOBBIO, 1986 e GRYNZPAN, 1996. 30 CAPÍTULO II – RELAÇÕES DE PODER E INFLUÊNCIA Segundo Dahl (1988), uma relação política implica de algum modo a percepção de relações de influência, autoridade e poder. Apoiado em Weber (1864 1920) Dahl caracteriza uma associação, como uma entidade política, na medida em que sua ordem é levada a cabo continuamente mediante o uso da força, por parte de seus administradores. O autor entende, que a diversidade de associações existentes constituem-se em associações “políticas”, pois possuem sistemas políticos em pleno funcionamento. Portanto para Dahl (1988, p.13), “todas as associações humanas tem um aspecto político”. As pessoas mantêm muitas relações, de poder de autoridade relacionadas, com o amor, o respeito e a dedicação. Segundo Dahl (1988), pode-se entender influência como o equivalente de poder, onde ambos os termos referem-se a relações entre seres humanos. O domínio da influência de um ator consiste no conjunto dos outros atores que recebem sua influência. O escopo da sua influência se refere aos assuntos em que tal influência se faz sentir. Assim, ao exercer influência, um ator influencia um certo domínio, composto de outras pessoas, com respeito a um escopo definido de ações ou predisposições. (DAHL, 1988, p. 38) Uma das características mais comuns dos sistemas políticos atuais, é a desigualdade na distribuição da influência, uma vez que o modo como ela se distribuí ao longo dos diversos membros de determinado sistema político, varia e muito. Diversos são os meios que influenciam nessa desigualdade, dinheiro, informação, uso da força, um emprego, relações de amizade e status social, influenciam diretamente na distribuição dos recursos políticos. Para Dahl (1988), uma das principais variações na maneira em que os atores sociais utilizam-se de seus recursos políticos, têm relação direta entre as diversas condições de oportunidade e incentivos para aprender e praticar métodos de ação política. 31 A influência que prevê sua efetividade diretamente relacionada ao uso de sanções e perspectivas de punição para determinada ação, pode ser classificada como “poder”. Portanto, quem detém a faculdade de impor penalidades desta natureza certamente deverá ser importante. Paralelo pode-se estabelecer com a noção de poder do Estado, uma vez que este “distingue-se de outros sistemas políticos na medida em que tem êxito na sua reivindicação do direito exclusivo de determinar as condições em que penalidades severas podem ser empregadas legitimamente” (DAHL, 1988, p. 52). A partir do momento que determinado agente social percebe somente alternativas de ação insatisfatórias, ou seja, uma vez sendo influenciado a fazer o que não deseja, nitidamente perceber-se que o mesmo esta sofrendo uma “coerção”. Assim como o poder é uma forma de influência, a coerção é uma forma de poder. Nem todo poder é estritamente coercitivo, no sentido definido. Se há induções positivas combinadas com sanções severas, para assegurar a conduta desejada, a relação existente é de poder (DAHL, 1988, p. 53). Alguns membros do sistema político buscam incessantemente acumulação e o crescimento que sua influência sobre determinadas políticas, e decisões governamentais. Utilizam-se largamente de seus recursos de poder. “O fato de que algumas pessoas têm mais recursos do que outras para influenciar o governo, facilitam seu objetivo de conseguir tal influência” (DAHL, 1988, p. 60), sendo que quanto maior sua influência maior serão os recursos obtidos. O processo de acumulação de poder pelos líderes políticos, nos quais, estes, procuram assegurar que suas decisões sejam efetivadas e legitimadas perante a sociedade, não só pelo medo explicito da coerção, mas também motivados pela esperança de que tais ações são justas e perfeitas, é reconhecida como “autoridade”. Portanto, constitui-se a autoridade como sendo de uma natureza especial de influência, ou seja, a influência legítima (DAHL, 1988). Não há como dissociar o poder, do desejo de exercê-lo, uma vez que segundo Faria (2004, p. 141) “provém da própria natureza ou condição humana”. Onde, poder, pode ser entendido como uma capacidade de realização de interesses, através da transformação da ação social. 32 Em regimes pluralistas existe uma tendência acentuada à utilização de processos persuativos em detrimento da coerção, as quais em grande parte são excluídas ou minimizadas. Portanto, nas democracias, se faz difícil exercer o uso de processos coercitivos sem criar tensões sociais severas. Em todas as sociedades as elites detêm condições diferenciadas na obtenção de informação conhecimento, ou seja, aculturação. A estrutura social moderna impõe um elevado poder de influência às elites. “Quer exerçam ou não seu poder, a experiência técnica ou política que dele têm, transcende, de muito, a da massa da população” (MILLS, 1981, p. 11). A natureza do poder da elite dificilmente é conhecida e reconhecida, uma vez que dificilmente é revelada. O caminho para compreensão que emana da elite, exige acurada análise sócio-histórico-cultural. As hierarquias estatais, bem como, as organizações privadas constituem os meios pelo qual transita os fluxos de relações de poder que desembocam nos principais pontos de comando da sociedade. (MILLS, 1981; DAHL, 1988). Já há algum tempo, a base do poder, encontra-se situada nas elites econômicas e políticas da sociedade brasileira. Na cúpula de cada um desses domínios coexistem novas e tradicionais elementos da elite. “Entendemos como poderosos naturalmente os que podem realizar sua vontade, mesmo com a resistência de outros” (MILLS, 1981, p. 18). Portanto, somente aqueles realmente possuidores do poder, da riqueza e da celebridade, podem ser considerados poderosos, uma vez que ocupam ou detêm os postos de comando da sociedade. 33 CAPÍTULO III – INTITUIÇÕES E SOCIEDADE 3.1 A PERSPECTIVA INSTITUCIONAL Do ponto de vista da abordagem neo-institucionalista, esta, encara as instituições de forma central nas análises, as quais, apresentam amplo enfoque de aplicabilidade analítica, desde ações estatais e de formulação de políticas públicas, até a formação das classes sociais, constituindo-se desta maneira, numa teoria de médio alcance pautada em comprovação histórico-empírica (MARQUES, 1997, p.75). A aparente ligação de continuidade entre o antigo institucionalismo da Ciência Política e o neo-institucionalismo, não apresenta legitimação teórica, uma vez que o primeiro trata da análise estática das estruturas jurídico-institucionais, ao passo que o segundo, utiliza uma abordagem dinâmica (MARQUES, 1997, p.77). Admite-se de forma consensual a existência de distintos métodos analíticos no interior do neo-institucionalismo, o que explica em parte a diversidade de análise que essa teoria proporciona. Autores diferem na quantidade de métodos que reivindicam a denominação de “neo-intitucionalistas”, porém parecem convergir em torno de dois7: (i) neo-institucionalismo da escolha racional e (ii) neo- institucionalismo histórico, sendo, ainda admitidos, como já mencionado, o (iii) neoinstitucionalismo sociológico e, no interior deste, o neo-institucionalismo em economia ou econômico (HALL; TAYLOR, 2003). Contemplaremos os dois primeiros, ou seja, aqueles concensuados8, antes porém, cabe-nos, para melhor entendimento conceitual, apresentar a proposição de Douglass North (1990), citado por Eduardo C. Marques (1997), que discorre acerca da distinção entre instituições e organizações, destacando-se que as primeiras 7 Para uma visão ampliada dos tipos de neo-institucionalismo ver: MARQUES, E. C. Notas críticas à literatura sobre Estado, políticas estatais e atores políticos. In: BIB, Rio de Janeiro, n.º 43, 1.º semestre de 1997, pp.67-102 e HALL, P. A.; TAYLOR, R. C. R. As três versões do neoinstitucionalismo. In: Lua Nova, São Paulo, n.º 58, 2003, pp.193-223. 8 Neo-institucionalismo da escolha racional e neo-institucionalismo histórico. 34 compõem-se de “[...] quaisquer formas de constrangimento que moldam as interações humanas” e as segundas contemplam, Corpos políticos (partidos políticos, o senado, uma prefeitura, uma agência regulatória), corpos econômicos (firmas, sindicatos, fazendas familiares, cooperativas), corpos sociais (igrejas, clubes, associações atléticas) e corpos educacionais (escolas, universidades, centros de treinamento vocacional) (NORTH, apud MARQUES, 1997, p.76). Como podemos perceber, elas ostentam uma distinção tênue, a qual pretende-se explicitar melhor ao longo do texto. O neo-institucionalismo da escolha racional nasceu no interior do congresso norte-americano, em estudos acerca dos comportamentos das bancadas parlamentares na formação de maiorias estáveis para a aprovação das matérias legislativas (HALL; TAYLOR, 2003, pp.202-207). Contrariando a lógica do senso comum, verificou-se que não correspondia na prática a premissa de que a pluralidade da natureza dos assuntos da pauta de discussões, deveria “gerar ciclos nos quais cada nova maioria invalidaria as leis propostas pela maioria precedente” (Ibidem, p.203), comprovou-se o oposto, ou seja, uma notável estabilidade nas decisões, denotando o papel normativo da instituição, fornecendo possibilidade de sanções e inequívoco constrangimento a uma escolha coerente com as ações prévias, alterando o padrão comportamental - no caso o voto do parlamentar explicitando uma lógica “racional calculadora” (MARQUES, 1997, pp.77-79). A perspectiva do método do neo-institucionalismo histórico apresenta uma forte influência do funcional-estruturalismo, ou seja, admite que as instituições estruturam as situações dos agentes sociais, podendo alterar suas estratégias, porém rejeita veemente que sejam “egoístas de preferências, como considera a escolha racional”. As instituições não são reduzidas a uma variável calculista escolha racional - mas principalmente dão ênfase a suas metas, “seguindo regras e normas sociais sem pensar sobre o seu próprio interesse” (MARQUES, 1997, pp.7778). As instituições são percebidas como parte da composição e do desenvolvimento histórico, ou seja, de forma relativamente permanente na paisagem social (HALL; TAYLOR, 2003, p. 200). As diferentes escolas do pensamento neo-institucionalista, contribuem para a desmistificação dos padrões institucionais, revelando importantes aspectos do efeito 35 destas no comportamento coletivo e individual. Portanto, cabe-nos optar por um pluralismo metodológico para a melhor compreensão e aplicabilidade desses padrões, uma vez que: [...] se tornarmos mais flexíveis os postulados das teorias próprias a cada escola, podemos encontrar um terreno teórico comum, a partir do qual as instituições de cada um desses enfoques poderiam ser utilizadas para completar ou reforçar aquelas das outras (HALL; TAYLOR, 2003, p. 220). Em suma, podemos perceber que as instituições respondem de forma intensa pelos processos de mediação entre os agentes sociais, ancorando suas estratégias, comportamentos e ações, junto à estrutura; necessitamos ainda, discorrer acerca dos processos endógenos e exógenos que tangem a criação e transformação institucional. Segundo Marques (1997), existem três tipos de mecanismos associados à estabilidade institucional, sendo: (i) normas, (ii) coerção e (iii) coação, onde, nos dois primeiros, supostamente, “aumentariam os custos da desobediência às instituições” (Ibidem, p.79), mais precisamente no risco de sanções e possível uso da força. O terceiro mecanismo, procura fortalecer os vínculos à adesão voluntária, visivelmente na agregação de benefícios aos adesistas. Marques (1997) apresenta o conceito do “consenso contingente”, apropriado junto à autora neo-institucionalista Margareth Levy (1991), onde os autores o entendem como a existência de (i) um conjunto de normas de caráter moral inquestionáveis e outras (ii) normas de caráter relacional, tendo-se na adesão das segundas, a pré-condição para a percepção, por parte dos atores, de que “os arranjos institucionais em vigor são justos e que os demais indivíduos estão seguindo as regras” (MARQUES, 1997, p.79), percebe-se o consenso contingente como o condicionante para que se operem transformações significativas no âmbito institucional, mais precisamente, quando o consenso contingente se extingue. Os indivíduos aceitam as instituições através deste conceito, uma vez que estabelecida uma norma de equanimidade em torno das mesmas, o que nada mais é do que o consenso contingente. Quando a reciprocidade das normas sofre interrupção, os agentes sociais encontram a oportunidade de agir contra elas. “Dependendo da capacidade de resistência à mudança das forças políticas 36 dominantes (...), as instituições podem sofrer uma transformação” (MARQUES, 1997, p.79). De acordo com Rocha (2005), a abordagem neo-institucionalista oportuniza uma teoria de médio alcance, voltada e vocacionada aos estudos empíricos institucionais e organizacionais. Nossa pesquisa requer a adoção deste referencial teórico para dar conta da dispersão de nossa realidade empírica, objeto da mesma. 3.2 CAPITAL SOCIAL E DESEMPENHO INSTITUCIONAL “Teu milho está maduro hoje; o meu estará amanhã. É vantajoso para nós dois que eu te ajude a colhê-lo hoje e que tu me ajudes amanhã. Não tenho amizade por ti e sei que também não tens por mim. Portanto não farei nenhum esforço em teu favor; e sei que se eu te ajudar, esperando alguma retribuição, certamente me decepcionarei, pois não poderei contar com tua gratidão. Então, deixo de ajudar-te; e tu me pagas na mesma moeda. As estações mudam; e nós dois perdemos nossas colheitas por falta de confiança mútua”. Parábola do filósofo escocês 9 David Hume (século XVIII). As instituições permitem-nos compreender um pouco da dinâmica e da legitimação dos padrões de ação no âmbito da sociedade civil, seus limites restritivos no contexto social e suas potencialidades no plano estratégico-político para a consecução de reformas estruturantes. Putnam (2002) em seu estudo acerca do desempenho das instituições italianas - particularmente das novas instituições dos governos regionais - a partir da década de 1970, aponta alguns dilemas da ação coletiva, notadamente aquelas relacionadas aos estoques de capital social10 junto à sociedade civil daquele país, a qual o autor distingue em comunidades cívicas e não-cívicas. Os círculos virtuosos redundam em equilíbrios sociais com elevados níveis de cooperação, confiança, reciprocidade, civismo e bem-estar coletivo (...), que definem a comunidade cívica. Por outro lado, a inexistência dessas características na comunidade não-cívica também é algo que tende a autoreforçar-se. A deserção, a desconfiança, a omissão, a exploração, o 9 HUME apud PUTNAM, 2002, P.173. Robert D. Putnam entende o capital social como um conjunto de valores coletivos como confiança, normas e sistemas participativos, que por serem cumulativos, auto-reforçam-se mutuamente (PUTNAM, 2002, p.186). 10 37 isolamento, a desordem e a estagnação intensificam-se reciprocamente num miasma sufocante de círculos viciosos (PUTNAM, 2002, p.187). Putnam (2002) utilizou-se, entre outras, da ferramenta da “teoria dos jogos” na busca da compreensão da razão dos desvios nos índices históricos de capital social e no desenvolvimento em distintas regiões da península itálica, notadamente com o norte, mais desenvolvido e o sul, demasiadamente deficitário do ponto de vista social e institucional em relação às regiões do norte. Os resultados alcançados demonstraram claramente a influência dos padrões relacionais das comunidades, onde as do norte apresentam claras demonstrações de reciprocidade nas ações coletivas, ao passo que as comunidades localizadas na região sul da península, demonstram padrão comportamental distinto, pautado em valores estamentais como o patrimonialismo e o clientelismo endêmicos. Como Putnam (2002) bem observa, não se trata de “malevolência ou misantropia”, uma vez que mesmo que os indivíduos do sul se dispusessem a cooperar pontualmente, o imaginário coletivo tenderia a apontar a inexistência de garantias contra as supostas transgressões, salvo compromissos formais passíveis de exigibilidade. O autor registra ainda que grande parte do atraso econômico e social está relacionado com o déficit de confiança recíproca, explícita na citação abaixo que retrata o padrão de desconfiança na sociedade napolitana desde o século XVIII, registrada por Antonio Genovesi em Lezioni di economia civile (1803): Não havendo confiança (...), não pode haver certeza quanto aos contratos nem, portanto, vigência das leis, e uma sociedade nestas condições vê-se efetivamente reduzida a um estado de semibarbárie. (...) as apólices e até mesmo o dinheiro, já que havia tanta falsificação, deixaram de ser livremente aceitos, e os napolitanos viram-se (...) só dando com a mão direita se ao mesmo tempo recebessem com a esquerda (PAGDEN apud PUTNAM, 2002, p.180), grifos meus. Para que se possa evoluir para um padrão cooperativo se faz necessário, não só a confiança no semelhante, mas principalmente perceber-se como confiável no seio de toda sociedade, bem como esta também o ser. O principal motivo que incentiva o padrão de transgressão, de acordo com Putnam (2002), diz respeito à 38 inexistência de elementos fiscalizadores e coercitivos. Comunidades onde imperam valores estamentais, se mostram claramente destituídas de cidadania. Temos o oposto em sociedades participativas, no caso a porção norte da península itálica, onde a população usufrui mecanismos institucionais normativos e coercitivos inseridos no imaginário coletivo, tornando o risco potencial de transgressão um preço não-atrativo. Mas então como operar uma evolução institucional perene em comunidades pouco cívicas? A resposta, segundo Putnam (2002) estaria no fortalecimento das próprias instituições, aumentando o poder normativo e coercitivo, disseminando a cultura fiscalizatória e ao mesmo tempo incentivando a coação dos atores para a ação coletiva, fortalecendo assim o capital social local. O nível do capital social estaria, segundo o mesmo autor, relacionado com o padrão da herança do mesmo, uma comunidade que tenha regras de reciprocidade e participação cívica históricas, percebe uma maior cooperação voluntária. O aumento na eficiência do uso do capital social, facilita a obtenção de objetivos não só no plano coletivo, mas principalmente no plano individual, uma vez que existe uma relação direta entre a maximização do uso do capital social e minimização da utilização do capital físico Assim como outras formas de capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de certos objetivos que seriam inalcançáveis se ele não existisse (...). Por exemplo, um grupo cujos membros demonstrem confiabilidade e que depositem ampla confiança uns nos outros é capaz de realizar muito mais do que outro grupo que careça de confiabilidade e confiança (...). Numa comunidade rural (...) onde o agricultor ajuda o outro a enfardar o seu feno e onde implementos agrícolas são reciprocamente emprestados, o capital social permite a cada agricultor realizar o seu trabalho com menos capital físico (COLEMAN apud PUTNAM, 2002, p.177), grifos meus. Putnam (2002) nos aponta a constatação de que no capital social, a exemplo do capital convencional, existe uma tendência à maximização, podendo vir a gerar uma complexificação dos mecanismos institucionais, habilitando-se então no equacionamento de situações de maior monta. Sinaliza ainda a existência de um tipo distinto de capital, o “capital institucional”, o qual na visão do autor, ainda carece de enfatização strictu sensu, pelas teorias sobre a ação coletiva. 39 O estudo de Putnam (2002) acerca das novas institucionalidades regionais da Itália demonstra o potencial dessas reformas estruturais como estratégia de mudanças nas políticas de desenvolvimento, sendo fator primordial – e responsável pelas diferenças verificadas entre norte-sul – os níveis de capital social nas distintas regiões, servindo este, como fator potencial ou restritivo, neste caso respectivamente, do norte e do sul da península itálica. 3.3 O EMPREENDEDORISMO COMPETITIVO A descentralização das ações do Estado brasileiro, a partir da carta de 1988, não se mostrou por si só capaz de equacionar os limites de atuação do mesmo frente às demandas sociais, passando a ostentar visível declínio nos indicadores de pobreza e de desenvolvimento em diversas regiões (ARRETCHE, 2004). O desequilíbrio na partilha de recursos, aliada a persistente crise fiscal, bem como a supostos déficits de eficácia nas instituições políticas, levaram a sociedade civil a inteirar-se dessas demandas e auxiliar no equacionamento das mesmas (NOGUEIRA, 2004). Os governos locais respondem de forma crescente por diversas dessas demandas, as quais passaram a contar com a coordenação de setores da sociedade civil organizada, notadamente as organizações do “terceiro setor”. Como já vimos anteriormente, os padrões de atuação da “comunidade cívica” (PUTNAM, 2002), dependem do nível de desenvolvimento institucional, aliado ao nível de capital social. Com a evolução e o advento das novas realidades, as velhas instituições são desafiadas, quebrando-se a equanimidade, propiciando sua transformação e renovação (MARQUES, 1997). Os governos locais de distintos países em ambos os hemisférios passaram, a partir de meados da década de 1980, a adotar mudanças no padrão de ação, catalisando a consolidação das novas institucionalidades (OSBORNE; GAEBLER, 1994), surge então o “empreendedorismo competitivo”, a partir de uma redefinição do papel governamental, focado em maior “eficiência na gestão urbana, visando à integração competitiva no mercado global” (MOURA, 1997, p.42). 40 O papel da gestão pública a partir de então passou a ser de mobilizador dos recursos sociais, onde o conjunto de instituições passaria a compor um processo dinâmico na prospecção e exploração de novas potencialidades, visando uma cidade empreendedora, beneficiando positivamente o desenvolvimento econômico, não só no contexto local, mas também regional (MOURA, 1997, p. 42). A partir desse padrão de atuação, a competitividade da cidade no plano institucional, necessita ser promovida a outras regiões e países, numa perspectiva de construção ou reforço das vantagens comparativas, num plano de marketing urbano integrado (MOURA, 1997, p.45). Percebe-se, uma forte tendência de separação entre as funções diretivas no plano da cidade, das funções executivas. Osborne & Gaebler (1994) apoiados na visão de Peter Drucker, criaram a metáfora do “navegador e do remador”, onde defendem que a distinção entre os “navegadores” – responsáveis pela orientação do barco, previsão do tempo e condições da maré – ou seja, o cuidado com o universo temático e a pluralidade das demandas, cumprindo um papel estratégico; ao passo que os “remadores” – responsáveis pela impulsão e força – estariam executando os direcionamentos do navegador, focados e concentrados na exclusividade de sua missão (OSBORNE; GAEBLER, 1994, pp.35-37). Admite-se uma multiplicidade de agentes sociais em ambas as tarefas (navegar e remar), separações claras entre o público e privado, se fazem impossíveis e desaconselháveis, uma vez que a sociedade civil permeia ambos os espaços. Porém, é possível perceber algumas tendências concretas de que os governos têm encontrado dificuldades em produzir planejamentos perenes, sendo “[...] forçados a criar novas agências para executar seu papel de orientador da comunidade a que servem” (OSBORNE; GAEBLER, 1994, p.42). Essas agências de orientação estabelecem as políticas a serem seguidas, fornecem recursos para os órgãos operacionais (...) e avaliam seu rendimento; (...) ultrapassam as fronteiras burocráticas tradicionais; com efeito, é freqüente que seus membros pertençam ao setor público quanto ao privado (OSBORNE; GAEBLER, 1994, p.42). A distinção, proposta pelo modelo burocrático, entre o público e o privado, ainda habita o imaginário do senso comum na atualidade, porém ganhou força 41 recentemente, a concepção de um terceiro setor, nem público, nem privado, denominado “público-não estatal”. Disseminou-se a partir de então o modelo “híbrido”, numa nova esfera de atuação da sociedade, a qual passou a compor o arcabouço institucional das “agências de orientação”. 42 CAPÍTULO IV – METODOLOGIA Como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas / Profissionalizante, do Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas – PMGPP, figura como obrigatoriedade, a apresentação e defesa, perante banca examinadora, de dissertação proveniente de pesquisa empírica que ofereça contribuição científica. Para tal, busca-se relacionar o tema da pesquisa proposta, com uma situação de ordem prática dentro do universo teórico adotado. Identifica-se dentro do escopo da pesquisa, o caso relacionado à formulação e implementação, de um fórum de desenvolvimento específico para tratar das políticas públicas de desenvolvimento do Município de Jaraguá do Sul, o qual dispõe de um parque industrial e de serviços de envergadura. Adotamos uma linha discursiva histórico-descritiva, que foi construída através das leituras relacionadas à temática e a percepção objetiva e subjetiva do pesquisador, seja como membro do grupo de trabalho encarregado do projeto, ou por experiência prática junto às entidades empresariais do município11, bem como por ter respondido, no passado, pela Secretaria Municipal de Produção12. Utilizou-se, juntamente com as leituras específicas, o recurso metodológico das “entrevistas em profundidade”, uma vez que, com elas, pretendemos enriquecer e validar nossas hipóteses, complementar nosso entendimento a partir das leituras, bem como, complexificar nossa visão da realidade. As entrevistas (...) têm, portanto, como função principal revelar determinados aspectos do fenômeno estudado em que o investigador não teria espontaneamente pensado por si mesmo e, assim, completar as pistas de trabalho sugeridas pelas suas leituras (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998, p. 69). 11 Associação Comercial e Industrial de Jaraguá do Sul - ACIJS e Associação das Micro e Pequenas Empresas do Vale do Itapocu - APEVI, respectivamente nos cargos de vice-presidente para os núcleos setoriais e diretor para assuntos da indústria. 12 A Secretaria Municipal de Produção de Jaraguá do Sul foi a pasta responsável pela formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas à agricultura, indústria, comércio, serviços e turismo, no âmbito municipal, de janeiro de 2001 a dezembro de 2004. 43 Revelaram-se a fase mais agradável da investigação pelo elevado grau de descobertas e o afloramento de idéias, surgidas através de contatos pessoais muito ricos para o pesquisador (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998, p. 70). Optamos por investigar, através das entrevistas, a categoria de interlocutores composta das “testemunhas privilegiadas”, as quais compõem-se dos indivíduos que estiveram em posições chave na estrutura do poder de Jaraguá do Sul, seja na esfera pública, na privada ou em ambas, todos envolvidos diretamente nos trabalhos do fórum permanente de desenvolvimento (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998, pp. 7071). Ouvimos primeiramente o Prefeito Municipal de Jaraguá do Sul (SC), agente chave para a decisão de implementação do fórum de desenvolvimento; em seguida, o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Município, empresário, administrador de formação. Optamos ainda, por buscar as observações daquele que viria a ser seu sucessor na pasta do desenvolvimento econômico, também empresário, que à época, ocupava a presidência da Associação das Micro e Pequenas Empresas do Vale do Itapocu – APEVI. Na segunda etapa das entrevistas, buscamos as representações do engenheiro mecânico e empresário do ramo imobiliário, atuando de forma continuada em diversas associações beneficentes, comunitárias e de classe, que a época, participou do GT-PROJARAGUÁ representando o Centro Integrado dos Profissionais Liberais de Jaraguá do Sul (SC) – CPL. Cabe ressaltar que, este agente social, viria a ser eleito o primeiro Presidente do fórum. Ato contínuo, buscamos as representações de outro agente chave no GT-PROJARAGUÁ, executivo de uma grande empresa de confecções de Jaraguá do Sul (SC), teve atuação destacada frente a institucionalização do GT-PROJARAGUÁ, uma vez fora eleito pelos seus pares, relator do projeto de implementação do PROJARAGUÁ. Buscamos ainda, as representações do empresário e cineasta, ex-presidente da ACIJS e ex-secretário do desenvolvimento econômico de Jaraguá do Sul, além de dois ex-prefeitos e dois vereadores, todos jaraguaenses, intensamente partícipes da vida social e econômica do Município. Por questões logísticas, não foi possível ouvir a totalidade dos membros do GT-PROJARAGUÁ isoladamente, porém, para suprir, em parte, tal deficiência, 44 buscamos aprofundar nossa visão acerca das representações e conseqüentes relações de poder do GT, utilizando-se da “observação ostensiva” para realizar uma análise não só dos conceitos socializados, mas também das reações e representações dos atores envolvidos. Adotamos a postura de intensa interação com o grupo durante determinado período, seguido de outro de mínima intervenção, de afastamento, para preservar a capacidade de auto-organização, bem como do grupo estabelecer uma dinâmica própria. Fizemos questão de respeitar o rigor metodológico, lançando mão deste instrumento que oportunizou o levantamento dos dados necessários a uma interpretação a luz da literatura da disciplina. Procuramos, com a aplicação das entrevistas e da observação ostensiva, identificar a dinâmica de interação dos agentes envolvidos no GT-PROJARAGUÁ, aos quais coube a relevante missão de formular e acompanhar a implementação do PROJARAGUÁ – Fórum Permanente de Desenvolvimento. 45 CAPÍTULO V – OBSERVANDO AS ELITES DO GT-PROJARAGUÁ 5.1 O AMBIENTE PRECURSOR Jaraguá do Sul13 dispõe, hoje, do terceiro parque industrial catarinense, constituindo-se no quarto maior arrecadador de ICMS do Estado14. De expressiva colonização européia15, têm, no imaginário coletivo da população, os valores éticos e morais do protestantismo16, apesar da cidade ostentar paridade religiosa com os católicos. A partir da década de 1960, experimentou forte expansão econômica, notadamente no setor metal-mecânico, têxtil, de confecções e alimentício, o que aprofundou o imaginário voltado ao mercado17. À medida que a economia prosperava a sociedade apresentava forte mobilização social, em torno de entidades civis e de classe, na qual as elites empresariais tiveram papel destacado, envolvendo-se decisivamente na vida social, dirigindo partidos políticos, sindicatos, associações, bem como chefiando, desde a polícia local, até a Câmara e o Governo do Município18. Neste período, compreendido pela década de 1960 até o final da década de 1990, as elites jaraguaenses foram gradativamente deixando os postos chave do Município e, encorajando a ocupação destes pelos seus representantes diretos, pessoas em geral, de elevada capacidade administrativa, comprovadamente “testadas” junto a cargos-chave nas principais empresas e entidades do Município, invariavelmente, com décadas de serviços prestados com distinção. 13 Localizado na região nordeste do Estado de Santa Catarina, distante 185 Km de Florianópolis, encravada no “Vale do Rio Itapocu”, possui uma população de 131.786 habitantes (estimativa IBGE-2006) e renda per capita de R$ 28.445,00 (AMVALI-2006), IDH 0,850 (PNUD-2000). Ostenta o terceiro parque industrial do Estado, sendo o quinto maior município exportador de Santa Catarina, registra 8.669 empresas (PMJS- divisão de tributação2005), destacando-se os ramos metal-mecânico, têxtil e confecções, alimentício e mobiliário. Para maiores informações ver: www.jaraguadosul.com.br 14 Ver: ALBERT, 2006. 15 O Brasão do Município ostenta a águia de duas cabeças, extraída das armas da Prússia. Ver Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo. 17 O Brasão do Município, instituído pela Lei nº. 203 de 29 de novembro de 1968, ostenta o lema: “Grandeza pelo Trabalho”. 18 Podemos perceber mais destacadamente na trajetória de vida do senhor Waldemar Grubba, o qual foi presidente da ACIJS, juiz de paz, delegado de polícia, vereador, Prefeito e deputado estadual. 16 46 Porém, nitidamente se faz perceptível que a partir de meados da década de 1990 essa dinâmica de eficiência apresentou-se dual, uma vez que enquanto na iniciativa privada e nas entidades civis, a inspiração pela excelência empresarial era dominante e passava por vasta modernização administrativa a luz do paradigma liberal, nas instituições públicas governamentais, não se verificou tal tendência de fato, apesar dela ser afirmada com todas as letras nos discursos19. Apesar de admitirem simpatia pela prática neoliberal, focada nos valores da eficiência gerencial nos serviços públicos20, a elite política não obteve êxito em implementá-las nas instituições públicas locais. Ao oposto disso, estas continuam a apresentar características burocráticas e estamentais21. Exatamente há uma década, Jaraguá do Sul (SC) assistiu a assunção ao poder de um Prefeito que era a personificação da classe empresarial, membro do quadro societário da maior empresa do município. Antes, fora Vereador e Deputado Estadual, emanava respeitável poder simbólico, não só junto à burocracia estatal, mas principalmente junto à população. Ostentava forte liderança e um perfil centralizador, implementou grandes reformas estruturais na burocracia municipal. Este período foi pautado pela ênfase na parceria preferencial com o segmento empresarial, encaminhando pleitos de interesse e prospectando novos investidores para o município. Veio a falecer no dia 09 de fevereiro de 1999, em pleno exercício do cargo. Seu sucessor direto, apesar de também empresário, possuía formação de farmacêutico e bioquímico e ostentava postura inversa do antecessor. Na prática, reafirmou as linhas gerais do antecessor, porém, alinhou suas ações às fileiras classistas e burocráticas. Seu intenso trabalho e certa dose da herança do antecessor garantiram-lhe a renovação do mandato, no qual manteve a tradição de estreita ligação, por parte dos chefes de governo, com as elites empresariais de Jaraguá do Sul (SC). 19 Ver RAMOS e HANSEN-VARGAS, 2006. Ver o conceito do new public management de Luis Carlos Bresser-Pereira. 21 “Não impera a burocracia, a camada profissional que assegura o funcionamento do governo e da administração (...), mas o estamento político. (...) Não se converte o estamento político, entretanto, em governo da soberania popular, ajustando-se, no máximo, à autocracia com técnicas democráticas. Na cúpula, graças ao equilíbrio ou à impotência de classes e interesses de empolgar o comando, o governo arma, sobre o equilíbrio das bases, o papel de árbitro, sem que se possa expandir na tirania aberta ou no despotismo sem medida e sem controle” (FAORO, 2001, p.825). 20 47 5.2 NASCE O GT-PROJARAGUÁ Para o período subseqüente de governo (2005-2008), a população jaraguaense elegeria como Prefeito o então Vice-prefeito do Município. O novo titular, médico pediatra de formação, destaca-se pela propensão ao consenso22. Admirador da postura empresarial, porém, sendo um profissional da medicina durante toda sua trajetória, desde a vereança até ao cargo de alcaide, saiu à busca de mecanismos institucionais que permitissem uma maior interação do poder público com a comunidade, não só a empresarial, mas também dos demais segmentos23 representativos da sociedade civil. Para tanto, sua primeira ação neste sentido fora estabelecer contatos sistemáticos com a elite empresarial, notadamente no âmbito do Centro Empresarial de Jaraguá do Sul - CEJAS24, deliberando temas pontuais com suas diretorias. Destes encontros sistemáticos, o Prefeito Municipal sensibilizou o Diretor-Secretário da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (SC) – ACIJS, à investidura no cargo de Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, tendo como principal atribuição a implementação de um “conselho consultivo”25, para aconselhamento por parte da chefia do executivo do Município. O novo Secretário, utilizando-se de sua capacidade aglutinadora e articuladora, prontamente iniciou os trabalhos de sensibilização das lideranças locais, bem como dos demais colegas Secretários do Município. Desta sensibilização, surgiu a primeira missão técnica, composta por um grupo eclético de lideranças comunitárias, que, nos dias 29 e 30 de março de 2006, visitaram o Município de Maringá (PR) a fim de conhecer o modelo de planejamento estratégico daquela cidade, o qual foi desenvolvido por um extrato da sociedade civil local em parceria com o poder público e liderado pela Associação Comercial e Empresarial de Maringá – ACIM. Daquela visita, consensuou-se naquele grupo de lideranças, tendo à frente o Secretário de Desenvolvimento Econômico e o Presidente da ACIJS, a necessidade 22 Propenso a decisões colegiadas e negociadas. Motivação que viria a transformar-se no PROJARAGUÁ. 24 O Centro Empresarial de Jaraguá do Sul – CEJAS é um condomínio de entidades empresarias composto por seis sindicatos patronais, ACIJS, APEVI e CDL. 25 Idéia básica do que viria a transformar-se no PROJARAGUÁ. 23 48 de que Jaraguá do Sul (SC) trilhasse caminho semelhante, através da formalização de um protocolo de intenções, no qual as entidades signatárias comprometeriam-se a indicar representantes oriundos de seus respectivos quadros para representá-las na formulação e implementação de um conselho, que após a missão a Maringá (PR), já estava consensuado que não seria mais somente “consultivo”, mas também “deliberativo” e trataria de questões relativas ao “planejamento” de médio e longo prazos de Jaraguá do Sul (SC), uma vez que, a exemplo de Maringá (PR), o poder público local, supostamente, perdera a capacidade de “planejar estrategicamente”. No dia 08 de maio de 2006, em reunião plenária da ACIJS, reuniram-se os representantes das entidades que viriam a ser as “patrocinadoras”26 do então denominado: “Conselho de Desenvolvimento de Jaraguá do Sul”27. As entidades oficializaram um “protocolo de intenções”, que formalizava um “grupo de trabalho”, encarregado de prospectar informações e material orientativo para a formulação de um “conselho” do gênero, promovendo intercâmbios e estabelecendo um processo “participativo”, visando a máxima cooperação técnica entre as entidades participantes. As entidades nomearam um número variado de membros, chegando a um número final de treze membros assim distribuídos: QUADRO 002 – ENTIDADES DO GT-PROJARAGUÁ 26 ENTIDADES NÚMERO DE PARTICIPANTES PMJS 2 ACIJS 3 APEVI 2 CDL 2 CMJS 1 AMVALI 1 UNERJ 1 CPL 1 TOTAL 1328 PMJS; ACIJS; APEVI; CDL; CMJS; AMVALI; UNERJ; CPL Ver anexo 1 . 28 Percebe-se que a maioria dos componentes do GT-PROJARAGUÁ (54%) provinha de associações empresariais, frente a 23% provenientes do poder público, 15% de entidades civis e 8% de 27 49 Após a assinatura do protocolo de intenções, com ampla cobertura da mídia local e regional29, o grupo de trabalho continuou a reunir-se de forma sistemática30. Na reunião imediatamente subseqüente a instalação oficial do grupo de trabalho (1705-2006), este já tinha apresentado uma proposta de fundamentação teórica baseada no modelo de planejamento estratégico de cidade (PEC) de Barcelona – Espanha, através de pesquisa referenciada, principalmente, na tese de doutoramento da Professora Maria Suzana de Souza Moura (UFBA), “Cidades Empreendedoras, Cidades Democráticas e Redes Públicas: Tendências à Renovação na Gestão Local” (1997), bem como em bibliografia do gênero. Nesta reunião fora eleito o relator do projeto do conselho de desenvolvimento, o qual foi aclamado por seus pares. Representando a ACIJS, possuía perfil técnicogerencial, bem como advinha de família tradicional de industriais jaraguaenses. Dez dias após, o grupo de trabalho viria a reunir-se em seminário de imersão, num local de difícil acesso, localizado numa estância no interior de Jaraguá do Sul (SC), na qual o grupo permaneceu durante doze horas ininterruptas de trabalho que tinha por objetivo inicial, discutir o nome oficial do conselho de desenvolvimento31, na seqüência, quais seriam os objetivos do conselho de desenvolvimento Municipal? Qual seria sua missão? Como seria organizado? Qual seria o papel do governo municipal e qual a participação efetiva dos empresários?32 No decorrer dos trabalhos os membros do grupo, liderados pelo Secretário de Desenvolvimento Econômico, deliberaram longamente, imersos num ambiente desconectado do exterior e propositadamente discensual, no qual percebeu-se grande florescimento de idéias, bem como, ficou explícito, as diferentes representações por parte das elites envolvidas, suas distintas visões de mundo, concepções e valores acerca da sociedade civil local, regional e mundial. profissionais liberais. Cabe ressaltar a mobilidade de diversos dos agentes sociais envolvidos no GT, uma vez que vários deles tiveram passagem por pelo menos duas das entidades do GT, conforme quadro 004. 29 Ver anexo 2 30 O grupo de trabalho havia, antes da formalização através do protocolo de intenções, se reunido em outras ocasiões, a fim de formular o próprio protocolo, bem como iniciar os trabalhos de prospecção de informações e da definição das regras de procedimento que pautariam o trabalho do grupo. 31 Existia forte receio por parte de alguns membros do grupo de trabalho quanto a possível institucionalização de uma “denominação” diferente da concensuada, normalmente, ao final dos trabalhos. Por isso, logo no início do processo, buscou-se um nome “definitivo” para o conselho. 32 Desde o início deu-se grande relevância à participação do empresariado, por isso a preocupação explícita quanto a sua participação e seu papel junto ao futuro conselho de desenvolvimento do Município. 50 As discussões em torno da denominação do conselho de desenvolvimento foram acaloradas e discensuais, portanto foram transferidas na ordem da pauta para o final dos trabalhos. Como resultados colhidos, o grupo consensuou que as forças motivadoras para o processo de formulação do conselho de desenvolvimento seriam (i) a elevada convergência entre entidades patrocinadoras para a necessidade de pensar estrategicamente o futuro do Município, bem como da região do vale do rio Itapocu; (ii) a necessidade contar com um fórum dinâmico de planejamento, que funcionaria de forma continuada para auxiliar no monitoramento das políticas de desenvolvimento estabelecidas. Cabe explicitar que todo o referencial instrumental-metodológico adotado no seminário de imersão, foi disponibilizado por um grupo de consultores externos, os quais promoveram a inserção de ferramental organizacional para planejamento estratégico. Dentre este ferramental, constava a necessidade de estabelecer a “missão” da organização a ser analisada. Portanto, o grupo trabalhou a fim de consensuar a missão do conselho de desenvolvimento: “Conceber, deliberar e monitorar de forma dinâmica as diretrizes de desenvolvimento sustentável de Jaraguá do Sul, por meio de um fórum permanente de entidades representativas, visando a qualidade de vida”. É desejável que a missão da organização reflita explícita ou implicitamente os objetivos a que a organização deverá atender, os quais seriam: (i) assegurar a qualidade de vida; (ii) promover o desenvolvimento sustentável e (iii) estimular a vocação empreendedora. A estrutura do conselho também foi alvo de calorosas discussões, uma vez que as diferentes correntes ideológicas, bem como de distintas concepções e visões de mundo fatalmente criaram um ambiente de discenso, chegando invariavelmente a impasses, os quais eram relevados por conta de oportunos intervalos para o café. Nestes, as discussões continuavam, porém, entre grupos menores de “iguais”, no qual cabe destacar, invariavelmente o único aspirante à cientista social33 encontrava-se “isolado” conceitualmente, até o momento em que o representante dos profissionais liberais, compreendeu a proposta, que de início sofreu a maior parte das retaliações, a qual consistia em imprimir um modelo mais propenso ao accontability, que apesar de ostentar um estrutura que inicialmente pode remeter a uma organização de cunho vertical-centralizador. 33 O próprio autor. 51 Abaixo, segue modelo da estrutura: QUADRO 003 – ESTRUTURA DO PROJARAGUÁ PLENÁRIO PROJARAGUÁ SECRETARIA CONSELHO FISCAL CONSELHO CONSULTIVO SECRETARIA EXECUTIVA FUNDO DE DESENVOLVIMENTO CÂMARAS TEMÁTICAS INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO OSCIP • PLENÁRIO PROJARAGUÁ34 Fórum das entidades civis representativas, devidamente reconhecidas por estatuto próprio e com foro em Jaraguá do Sul. Reúne-se, de acordo com a proposta preliminar de regimento interno, semestralmente, quando os conselheiros titulares ou seus respectivos suplentes, podem apresentar propostas para discussão que, se aprovadas pelo plenário, serão encaminhadas ao conselho consultivo a fim de proceder-se a análise. Após esta etapa, caso o conselho consultivo julgue a proposta viável, esta será alvo de estudos por parte de uma câmara temática pré-existente, ou criada especialmente para tal. No caso do conselho consultivo julgar inviável a proposta, esta será arquivada pelo mesmo. 34 Em março de 2007, congregava 77 (setenta e sete) entidades. 52 • CONSELHO CONSULTIVO Composto por onze entidades, sendo nove fixas e duas eleitas pelo plenário. As entidades com cadeira fixa são: o ACIJS; o APEVI; o CDL; o CPL; o PMJS; o CMJS; o IES; o UJAM; o Sindicatos laborais; o Dois eleitos pelo plenário35. • CÂMARAS TEMÁTICAS Grupos técnicos – permanentes ou temporários – que conduzem os projetos demandados pelo conselho consultivo. • INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO OSCIP Entidade responsável pela produção de indicadores e estudos de ordem técnica, responsável pelo levantamento dos indicadores utilizados pelo conselho consultivo. • FUNDO DE DESENVOLVIMENTO Instrumento de fomento e provedor de recursos. Inicialmente ventilou-se a possibilidade de contar com um montante de recursos fixo por lei, o que foi descartado posteriormente por consenso dos membros do GT- PROJARAGUÁ. 35 Cabe destacar que a ordem adotada para expor as entidades que compõem o conselho consultivo, foi a mesma adotada pelos membros do GT-PROJARAGUÁ no decorrer dos trabalhos. Estes, ainda que inconscientemente, adotaram um grau de importância decrescente a partir das entidades empresariais, deslocando a PMJS do topo da lista para o quinto lugar. 53 A última discussão do dia foi justamente a do ponto de partida pela manhã, a qual havia sido postergada por absoluta falta de inspiração inicial. Após nova rodada de discussões, ficou finalmente consensuada a denominação definitiva, apresentada pelo representante do CPL, do conselho de desenvolvimento: PROJARAGUÁ – Fórum Permanente de Desenvolvimento, do qual, por conseqüência, o grupo de trabalho, constituído para tal finalidade, naturalmente foi rebatizado de GTPROJARAGUÁ – Grupo de Trabalho PROJARAGUÁ. 5.3 O GT-PROJARAGUÁ E A INSTALAÇÃO DO FÓRUM No dia 07 de junho de 2006 nas dependências do CEJAS, reuniram-se os membros do GT-PROJARAGUÁ para dar seqüência aos encaminhamentos relativos ao Seminário de Imersão de dez dias atrás. O relator abriu os trabalhos e encaminhou as discussões referentes ao modelo de gestão a ser utilizado no PROJARAGUÁ. Neste momento explicitaram-se as diferentes concepções de mundo dos atores do grupo, claramente pode-se observar a prevalência dos conceitos de gestão empresarial. Os membros do poder público ponderaram ser interessante dar uma importância maior aos técnicos uma vez que estes, supostamente, encontrar-se-iam em melhores condições para lidar com a diversidade de idéias que possivelmente seriam emanadas por parte do plenário do fórum. As discussões prosseguiram sem sinal aparente de consenso no qual o relator convocou os diferentes grupos envolvidos a reunirem-se em três subgrupos sendo, o primeiro deles encarregado de estudos relativos ao modelo de gestão, o qual foi formado pelo representante do CPL, um da ACIJS e um da APEVI. Outro subgrupo ficaria encarregado das discussões acerca da Lei Municipal que criaria o Fundo de Desenvolvimento e finalmente o terceiro teria sob seus auspícios promover o estudo relativo ao estatuto e ao regimento interno. Na reunião subseqüente do GT-PROJARAGUÁ, foram então finalmente discutidas e concensuadas as matérias sob a responsabilidade dos subgrupos. Cabe destacar que curiosamente não houve maiores discussões acerca dos temas, sendo procedida a aprovação por aclamação. 54 O GT-PROJARAGUÁ iniciaria a partir de 28 de junho de 2006 um ciclo de apresentações à comunidade jaraguaense, iniciando-se pela reunião mensal da CDL. Os lojistas receberam de forma bastante reservada o modelo do PROJARAGUÁ, no que parece todos muitos receosos em expressarem quaisquer representações acerca da matéria apresentada. Alguns profissionais da imprensa fizeram questionamentos isolados. Os membros do GT-PROJARAGUÁ presentes, comemoraram a receptividade do modelo e mostraram-se motivados para continuar a disseminação às demais entidades da sociedade civil organizada. Seguiram-se apresentações aos vereadores do Município e, aos empresários da ACIJS e da APEVI na mesma noite do dia 10 de julho de 2006. No dia 28 de agosto de 2006, por solicitação do Secretário de Desenvolvimento Econômico, foi procedida apresentação para o colegiado de secretários municipais, curiosamente, nesta ocasião, reunidos no CEJAS, onde não emitiram observações a respeito. Ao longo dos meses de setembro, outubro e novembro o GT-PROJARAGUÁ desenvolveu trabalhos em conjunto com o segundo grupo de trabalho36, criado para desenvolver estudos relativos a construção de macro indicadores de Jaraguá do Sul, através da concepção de uma metodologia específica, os quais seriam de suma importância para as futuras deliberações por parte do PROJARAGUÁ. O GT-MACROINDICADORES definiu seis ambientes distintos a serem estudados, sendo: (I) Econômico; (II) Social; (III) Cultural; (IV) Político Institucional; (V) Organização Físico-Territorial e (VI) Ambiental. Cabe ressaltar, que neste período, o GT-PROJARAGUÁ ainda colheu outros êxitos, como a aprovação por unanimidade, por parte dos vereadores, em dois turnos da alteração na Lei Orgânica do Município que passou a reconhecer o PROJARAGUÁ como Conselho Consultivo do Chefe do Poder Executivo. 36 O grupo de trabalho – macro indicadores foi composto por profissionais da PMJS, oriundos do GAPLAN e da SEDEC, e das entidades, ACIJS, AMVALI, FATEJ e UNERJ. 55 CAPÍTULO VI – ANÁLISE DO GT-PROJARAGUÁ Entidades/ Agentes Newton Elizeu Burdzaki PMJS Afonso Piazera Neto SecretárioSEDEC (20052006) Prefeito Interino (2000) SecretárioSEURB (2006-); secretárioobras (19881999); secretário habitação (20002004) Giorgio Rodrigo Donini Alessandro Hansen Vargas Secretário de Produção (2004) CMJS ACIJS APEVI Diretorsecretário (2004-) Diretor 1º secretário (2002-2004) Maria Tereza de Amorim Nora Secretário Desenvolvimento econômico (2007-) Vicepresidente para Indústria (2006-) Vicepresidente para Núcleos Setoriais (20062007) Vicepresidente para Micro e Pequenas Empresas (2006) Advogada (19921993) UNERJ Diretor para Indústria (2005) Secretário executivo (2007-) Conselheiro (2005-); Professor convidado (2002-) Diretor (20002002) Diretor 2º secretário (20022004); Vicepresidente (20042006); Presidente (2006) Professor Titular; Coordenador (2003-2005); Conselheiro (2004-) Secretária Executiva (19962006) Waldemar Schroeder (João Vieira) Anselmo Luiz Jorge Ramos Nelson Luiz Pereira Ivani Bersch Froeder Beatriz Zimmermann CPL Diretor (1989-1992) Diretor para Núcleos Setoriais (2006-) da CDL Vereador (1988-); Presidente da CMJS (2000) Edson Roberto Schmidt Márcio Manoel Silveira AMVALI Vicepresidente (2005); Presidente (2006-) Diretorsecretário Vicepresidente engenheiros Professor Servidora pública Secretária Executiva (2001-) QUADRO 004 – COMPONENTES DO PROJARAGUÁ Fonte: O autor; os grifos demonstram a entidade representada por cada um dos membros no GTPROJARAGUÁ. 56 6.1 AS ELITES DO GT-PROJARAGUÁ E SUAS INTERAÇÕES SOCIAIS Como vimos anteriormente, 54% dos componentes do GT-PROJARAGUÁ representavam entidades empresariais na composição oficial. Porém se faz necessário destacar que este número sobe para 77%, se considerarmos que dois dos representantes da esfera pública, compunham no passado a diretoria de entidades empresariais (ACIJS e CPL37) e o representante dos profissionais liberais, havia, anteriormente respondido por uma diretoria da ACIJS. Cabe ressaltar que o oposto também se verifica, porém em menor escala, quando verificamos no quadro acima que além dos 23% de representantes do poder público, agrega-se a estes, igual número de agentes sociais que em algum momento de sua história ostentaram ligação com o mesmo. Ainda com relação à tabela acima, se faz necessário destacar que esta encontra-se atualizada até o mês de maio de 2007, ao passo que os membros que constam no protocolo de intenções assinado (exatamente um ano antes), sofreram alguma mobilidade, curiosamente dentre as mesmas entidades-membro do GTPROJARAGUÁ. Cabe aqui uma citação bastante pertinente e que dispensa maiores comentários adicionais: Os indivíduos que a compunham (classe dirigente) circulavam entre as elites por constituírem-se um “tipo social semelhante”, unificado psicologicamente, onde se reconhecia e encontrava-se nos círculos dos negócios, das famílias e da sociedade. Entre outras, a razão fundamental desse fenômeno, se dava em função dos critérios de seleção e admissão na elite, todos extremamente rígidos e restritos a indivíduos do mesmo meio, o qual tratava de uniformizar “naturalmente” os indivíduos que a ela chegavam (GRYNSZPAN, 1996, p. 49-50). Nota minha. O Secretário de Desenvolvimento Econômico de Jaraguá do Sul foi, a pedido pessoal, exonerado do cargo, retomando suas atividades na iniciativa privada, mantendo inclusive sua cadeira de Diretor-Secretário da ACIJS. Para o seu lugar, foi escalado o então Presidente da APEVI e também Vice-presidente da ACIJS (pasta de micro e pequenas empresas), que optou pela desincompatibilização de suas 37 Segundo depoimento de membros do CPL, esta entidade tradicionalmente tem uma atuação pautada pela visão empresarial, sendo suas ações e opiniões, perfeitamente identificadas com o discurso dos empresários. 57 atividades junto as entidades empresariais. Outra alteração se deu com o desligamento, também a pedido pessoal, de um dos representantes da ACIJS no GT, precisamente do Vice-presidente (pasta de núcleos setoriais), que por sua vez, assumiu a Secretaria Executiva da AMVALI38. O GT-PROJARAGUÁ de certa forma refletia muito da diversidade da vida social de Jaraguá do Sul, uma vez que 100% dos membros mantinham outras atividades voluntárias na comunidade, desde associações comunitárias, de etnias (principalmente do circulo italiano com 23% dos membros) e de clubes de serviço, destacando-se o Rotary clube e o Lions (também com 23% dos membros). Necessário destacar a participação da maçonaria jaraguaense na implementação do PROJARAGUÁ, atuando diretamente através de seus membros, desde a sensibilização e motivação das entidades da sociedade civil, até a composição do GT-PROJARAGUÁ39. O Presidente de um dos grupos de maçons confidenciou algumas informações, A maçonaria no mundo inteiro participa de ações comunitárias, principalmente aquelas que têm grande impacto na localidade. Faz parte de nossa filosofia, nossa formação, pautada em compromissos éticos e morais, alicerçados na verdade e na hombridade. Nossos irmãos participam de tudo que existe na comunidade, mas é claro, com toda a discrição possível, pois nós não buscamos os holofotes, não queremos o crédito de nada. Nossa ordem tem por objetivo tornar feliz a humanidade através dos bons costumes, do amor e da fraternidade e nesse ponto, nossa participação no PROJARAGUÁ atende a esses objetivos. (Entrevistado 08). Ainda com relação aos membros do GT-PROJARAGUÁ, se faz necessário registrar que no processo de seleção daqueles que viriam a compor o mesmo, não houve qualquer tipo de seleção participativa dentre os quadros das entidades, invariavelmente foi arbitrado pelas diretorias, quem deveria participar. 38 A Secretária Executiva da AMVALI até então, desligou-se da entidade por opção pessoal após treze anos de serviços prestados, passando a integrar a diretoria executiva da ACREVI, mantendo sua participação em extensa rede de entidades sociais, destacando-se a Presidência da APAE de Jaraguá do Sul, além de contribuir através de seu voluntariado nas seguintes atividades: Conselho Estadual de Meio Ambiente; Conselho da UNERJ; Conselho da APAE estadual; Conselho da ACREVI; Coordenação da Escola de Governo e Cidadania desde 2002 e atualmente pela presidência; Presidência do Conselho Municipal do Idoso;Coordenação geral da Festa das Etnias do Vale do Itapocu. 39 A Sociedade Beneficente Humanitas e a Sociedade Beneficente Obreiros de Jaraguá do Sul, ambas mantenedoras de Lojas Maçônicas de Jaraguá do Sul, compõem o Plenário de entidades que formam o PROJARAGUÁ. 58 Segundo um dos Presidentes de entidade participante, “não se justificava fazer uma seleção democrática, pois o que buscávamos era competência e disponibilidade de tempo para participar, principalmente competência” (Entrevistado 07). Tal ação não deixou de suscitar dúvidas com relação à legitimidade do processo, principalmente no interior da CMJS, quando um dos vereadores afirma, Esta Casa não adota uma atitude democrática, é só balela, pois quando surge alguma coisa que você pode aparecer para a comunidade, fica com a meia dúzia de figurões, aqueles que tão toda a vida aí, só esperando uma oportunidade de aparecer. (...) achei isso o fim, por isso que nós vereadores não estávamos gostando muito dessa idéia (do PROJARAGUÁ) (Entrevistado 09) destaque meu. Com relação ao poder público municipal, desde o início, o projeto havia nascido no interior da SEDEC, portanto, seria natural supor que o representante da PMJS no GT fosse o titular da pasta. O Secretário convidou também a coordenadora de projetos de desenvolvimento econômico para secretariar as reuniões do GT, ao lado de sua outra secretária, a da ACIJS, uma vez que o Secretário acumulava a Diretoria da entidade empresarial. Com isso, os trabalhos de confecção das atas, transcrição de depoimentos e envio de correspondências transcorreram com regularidade e pontualidade quanto aos prazos. Ambas as secretárias, adotaram uma sistemática de trabalho que, por razões de segurança, previa o armazenamento dos dados em dois locais distintos, sendo na PMJS e no CEJAS, respectivamente. 6.2 O PADRÃO DE AÇÃO DAS ELITES DO PROJARAGUÁ As elites de Jaraguá do Sul, a exemplo dos grupos empresariais pesquisados40 possuem forte propensão a decisões colegiadas e consensuais, representando interesses comuns, As elites empresariais de Jaraguá do Sul (SC) promovem não só a representação dos seus interesses, (...) suas principais entidades representativas ocupam uma mesma sede, constituindo uma figura jurídica comum na administração física. É perceptível o padrão de ação pautado em estratégia comum, destacando-se a continuidade nas ações reivindicativas e promocionais, em que se percebe uma construção das ações de forma sedimentar. O empresariado de Jaraguá do Sul (SC), apresenta alguma propensão ao consenso em suas decisões, sendo elas 40 Ver Diniz e Boschi, 2004; Costa, 2005a; 2005b; Ramos e Hansen-Vargas, 2006. 59 fruto de reuniões e ações pragmáticas (RAMOS; JANUÁRIO; HANSENVARGAS, 2006). Ramos, Januário e Hansen-Vargas (2006) constataram em sua pesquisa, que “um crescente ceticismo quanto à eficiência do poder executivo, principalmente nas esferas municipal e federal” (p.17), permeava o imaginário dos empresários jaraguaenses, corroborando os resultados auferidos por COSTA, 2005b, quando de sua pesquisa junto ao empresariado paulista, para o qual, (...) a visão gerencial, administrativa e normativa da política e do processo decisório, (...) a crítica ao peso do executivo, (...) ao peso da burocracia no processo decisório, embora esta crítica convivesse com a defesa da importância do chefe do executivo e a visão gerencial da política (COSTA, 2005 b, p. 447). Contribuíam para uma percepção semelhante, no qual as elites empresariais adotavam visões comuns, semelhantes, pautadas num imaginário permeado pelos membros de sua classe, como pessoas que formavam um mesmo grupo, nas palavras de MILLS (1981), “o poder (...) monopolizado por uma elite unificada, que se impunha, e as suas decisões, ao restante da sociedade” (p.49). Neste ponto, compete para tal, como já vimos anteriormente, o fato de que em Jaraguá do Sul, a cultura para o labor permeia a população como um todo, as elites empresariais são percebidas como exemplos à serem seguidos (e perseguidos), onde os principais líderes da classe, são cultuados como mecenas, figuras de elevado status social41. Portanto, a decisão de apoiar a proposta do executivo jaraguaense para a formulação e implementação de um fórum permanente de desenvolvimento, encontrou terreno fértil e tramitou de forma rápida. Os principais líderes empresariais, propiciaram que a diretoria executiva da ACIJS encampasse a proposta, convidando para tanto, as demais entidades congêneres do CEJAS, além de outras da sociedade civil organizada para imprimir certo caráter participativo, frente à opinião pública. 41 Baseamos nossa compreensão de status social em Boudon e Bourricaud, 2004, pp. 543-547. 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como pudemos perceber ao longo desta dissertação, as elites do GTPROJARAGUÁ ostentam grande capacidade cooperativa voluntária, as quais podemos creditar, em parte, aos traços históricos de herança cultural, através de regras de reciprocidade e participação cívica de seus antepassados, uma vez que constituíram “um grupo cujos membros demonstram confiabilidade e (...) depositam ampla confiança uns nos outros (...) capaz de realizar muito mais” (PUTNAM, 2002, p.177). Uma das questões mais esclarecedoras, talvez seja a verificação no quadro 004 na qual se percebe, através da circulação das elites envolvidas no GTPROJARAGUÁ dentre as entidades componentes do mesmo, o grau de confiabilidade por parte da sociedade civil local nos agentes sociais participantes. As elites empresariais de Jaraguá do Sul (SC), maioria dos participantes no GT-PROJARAGUÁ, demonstrou claramente, ao longo das discussões e consessuamento dos principais temas do estudo, uma notável estabilidade em suas decisões. As instituições tiveram grande influência na resolução dos principais impasses vivenciados pelo grupo, no qual as regras e normas, aliadas a coação por parte de alguns agentes envolvidos, forneceram os vínculos, necessários, à adesão voluntária às propostas apresentadas. “Os interesses do empresariado (...) não podem ser tomados a priori, a partir de sua “mentalidade”, mas a partir de uma caracterização do comportamento deste grupo social e de sua relação com a sociedade e o Estado”. (COSTA, 2005b, p. 426). Em nossa busca pela compreensão das motivações que levaram a implementação, não só do GT-PROJARAGUÁ, mas também do próprio fórum permanente de desenvolvimento, talvez o maior aporte teórico identificado, esteja depositado nas linhas do elitismo de Mosca, Michels e Pareto, bem como de Mills, quando da descrição de como a circulação das elites garante e assegura o equilíbrio e longevidade das sociedades modernas. O critério de seleção das elites de Jaraguá do Sul (SC) pode ser identificado por um padrão aberto (MILLS, 1981), no qual, novos membros são selecionados e aceitos pela elite do poder, de acordo com seus traços sociais, morais e ideológicos. 61 A sociedade local possui forte identificação com a atividade empresarial, pautada no ideário liberal e econômico, ideários estes que utilizam largamente os instrumentos de gestão pautados no planejamento de ações, pontuais e estratégicas. Portanto, compreensível à percepção das elites jaraguaenses à “necessidade” da busca constante pela eficiência dos procedimentos administrativos públicos, o que influenciou diretamente na decisão de buscar, através da implementação de uma “agência de orientação” (OSBORNE; GAEBLER, 1994), ”recursos para os órgãos operacionais” (Ibidem, 1994), neste caso a própria PMJS, para que a mesma possa dispor de referencial à busca de orientações de médio e longo prazo, na formulação, implementação e avaliação de políticas públicas locais. Neste ínterim, chama a atenção o poder institucional ostentado pela elite do poder jaraguaense, a qual viabilizou a formulação e implementação de uma política pública de caráter meta-organizativo, implementando um empoderamento da sociedade civil organizada local, tendo como base, “as elites econômicas e políticas”, corroborando Dahl (1988). A natureza do poder da elite dificilmente é conhecida e reconhecida, uma vez que dificilmente é revelada. O caminho para a compreensão que emana da elite, exige acurada análise sócio-histórico-cultural. As hierarquias estatais, bem como, as organizações privadas, constituem os meios pelo qual transitam os fluxos de relações de poder que desembocam nos principais pontos de comando da sociedade (MILLS, 1981; DAHL, 1988). As elites do GT-PROJARAGUÁ, dedicaram-se de forma intensa na formulação e implementação do fórum permanente de desenvolvimento, revelando o suporte prestado não só pelas entidades patrocinadoras (uma vez que todo o trabalho se desenvolveu de forma voluntária), mas também pela capacidade de suporte econômico dos próprios agentes. Cabe destacar que grande parte dos trabalhos foi desenvolvido em turnos noturnos, ou nos finais de semana, com a costumeira efetividade. Ao final dos trabalhos, os membros do GT-PROJARAGUÁ não perceberam qualquer reconhecimento especial, porém nenhum deles parece ter contribuído com este intuito, mas certamente todos mantêm-se perfeitamente motivados e, podemos afirmar com certeza, ansiosos por um novo desafio do gênero. 62 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Entre Deus e o diabo. Mercados e interação humana nas ciências sociais. In: Tempo Social. Revista de Sociologia / Universidade de São Paulo. – v.16, n.2 (2004). São Paulo: USP, FFLCH, 2004. P. 35-64. ALBERTONI, Ettore A. Doutrina da classe política e teoria das elites. Rio de Janeiro: Imago, 1990. BLAIKE, N. Designing Social Research. The logic of anticipation. Londres: Polity Press, 2000. BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. 5.a ed. Brasília: Ed. UNB, 2000. BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 2. ed. Brasília: Ed. UNB, 1986. BOSCHI, Renato Raul. Elites industriais e democracia. Tradução Patrick Burglin. Rio de Janeiro: Graal, 1979. 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