“Comunicar com o Bebé antes de Ele Nascer através da Haptonomia” Autores: PASTRANA, Mª Margarida Enfermeira no Bloco de Partos do CHBA Fevereiro, 2013 Resumo Quando uma vida se desenvolve no ventre de uma mulher, inicia-se a comunicação. O bebé não vive isolado num ventre hermético. Protegido no seu seguro mundo, sente as mensagens que a mãe lhe transmite. Durante a gravidez, o bebé está ligado a tudo o que a mãe pensa, sente e fala. Eles estão em comunicação directa e permanente. A comunicação intra-uterina ocorre através da troca de estímulos entre o meio exterior e o meio intra-uterino, e uma das formas de ser feita é através do toque – Haptonomia. A Haptonomia é uma ciência baseada na comunicação através do toque e do contacto afectivo, muito utilizada na estimulação intra-uterina, trazendo inúmeros benefícios para a tríade. Neste sentido torna-se importante abordar a Haptonomia como forma de comunicar com o bebé in utero. Com este artigo procura-se reforçar a actuação do enfermeiro ESMO (Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia) no acompanhamento do casal/grávida, e a importância de consciencializar os pais das competências do bebé in utero, de forma a que interiorizem as vantagens de uma relação precoce no desenvolvimento físico e psicológico do bebé. Para isto, o enfermeiro ESMO deve oferecer ao casal as ferramentas necessárias para estabelecerem uma comunicação intra-uterina eficaz, e ajudá-los a desenvolverem essa comunicação através da Haptonomia. Palavras-chave: Enfermeiro ESMO; Haptonomia; Feto; Comunicação intra-uterina. Abstract When a life is created inside a woman, communication starts. The baby doesn’t live in an airtight environment. He is protected in his own world, but receives messages which are sent to him by his mother. During pregnancy, the baby is linked to the mother’s thoughts, feelings and speech. They are in permanent and direct communication. Intrauterine communication happens through external and intra-uterine methods, and one of these methods is through touch – “Haptonomia”. “Haptonomia” is a science based on communication through touch and effective contact, which is used in intra-uterine stimulation, which brings a lot of benefits to the triad. In this case, it becomes vitally important to use “Haptonomia” as a way to communicate with a baby in utero. The aim of this article is to strengthen the importance of the midwife’s role in caring for a pregnant couple, the importance of making them aware of a baby’s ability in utero, and the advantages of establishing an early relationship with the baby and their physical and psychological development. Therefore the Midwife should provide the couple with the knowledge necessary to establish an effective intra-uterine communication, and help them to develop this communication through “Haptonomia”. Key-words: Midwife, Haptonomia, Baby, Intrauterine Communication. A História de vida do Bebé começa antes do Nascimento... O ambiente intra-uterino é o primeiro universo que o ser humano conhece e onde se originam as primeiras percepções que irão determinar o modo como ele se relacionará com o mundo. Ao longo dos tempos muitas são as questões que se têm levantado relativamente ao que se passa durante os 9 meses que o bebé permanece no ventre materno. Afinal o que acontece no seu interior? Como é que ele ocupa o seu tempo? Será que ouve sons? Que sente as carícias? NUNES (2009) citando POCINHAS (1999) reporta-se ao período dos anos 40-50 como “rico em descobertas acerca do desenvolvimento emocional do feto, até aí julgado inexistente. O feto começa a ser olhado como um ser dotado de memória, sensibilidade e inteligência”. A palavra “feto” é o termo que abrange o período desde a 8ª semana de gestação até ao nascimento, contudo mesmo antes do nascimento as mães dão existência aos seus filhos. Para DELASSUS (2002) “O feto vive, o feto existe, o feto é uma pessoa, desde logo pelo facto de a mãe o poder sentir a viver no seu interior. O feto é objecto de uma intensa comunicação que não necessita de palavras”. O feto não vive isolado numa silenciosa bola de cristal, nem é um ser isolado socialmente. É sim um ser receptivo, que vê, ouve, toca, saboreia e brinca. Dentro do quente ventre materno, adquire incríveis habilidades. Ele flutua numa banheira de líquido amniótico onde interage com a mãe, visto que os órgãos sensoriais se desenvolvem precocemente durante a gravidez, por intervenção da estimulação. O feto evidencia um conjunto de competências, designadas de competências fetais. Sabe-se desde o início do século, que é ainda dentro do útero materno que o bebé começa a desenvolver as capacidades sensoriais como a audição, a visão, o gosto e o tacto. Vários estudos, como os de WILHEIM (1997) mostram que o bebé antes de nascer aprende a reconhecer a voz da mãe, reage à luz projectada directamente sobre o ventre materno (o que sugere a existência de aptidões visuais), aos toques efectuados sobre o abdómen da mãe, os quais desencadeiam movimentos fetais (o que remete para uma sensibilidade táctil) e ingere o dobro das quantidades habituais de líquido amniótico no qual é injectada sacarina (o que evidencia aptidões gustativas). Para além destas competências sensoriais, ele também tem competências interactivas, como reagir à vida emocional da mãe. SÁ (2001) afirma que “(...) a ansiedade maternal na gravidez, pode suscitar ansiedade neonatal”. No seu entender, o feto tem uma realidade mental que “se afirma autonomamente a partir do 5.º mês de gestação”. Sendo assim, o feto tem vida emocional. SÁ (2001) adianta ainda que a partir do 4º mês de gravidez, “o feto emociona-se, angustia-se, constrange-se com as expressões mais rígidas da personalidade da mãe, alegra-se e aviva os seus ritmos, deprime-se, a ponto de inibir o seu crescimento”. 1 RICO (sd) citado por NUNES (2009) refere que “Tudo o que acontece in utero é esquecido ao nascer, porém fica registado no inconsciente. Ao vivenciar situações semelhantes, a criança actuará segundo os mesmos padrões de comportamento adquiridos na vida gestacional”. Sendo assim, torna-se fulcral que o bebé in utero tenha uma vida saudável. A história de vida do bebé começa, portanto, antes do seu nascimento e pode ser estruturada de forma mais saudável e harmoniosa, se desde a concepção o bebé for entendido como um ser em formação, com sentimentos e emoções, e que sabe expressar as suas necessidades se houver alguém que possa e consiga captar-lhes o sentido para satisfazê-las. Daqui surge o conceito de comunicação intra-uterina. Comunicar com o Bebé In Utero A definição de comunicação é complexa. Charles Cooley, foi um dos primeiros autores que se dedicou ao estudo desta temática, tendo concluído que a comunicação é “o mecanismo através do qual existem e se desenvolvem as relações humanas”. A palavra comunicação deriva do latim, do termo “communicare”, que significa partilhar, estabelecer laços, entrar em relação, sendo fundamental para o homem enquanto ser social. Intimamente ligado ao conceito de comunicação encontramos o conceito de interacção, importante para a relação entre os pais e o bebé, na medida em que quando existe interacção, existe também intencionalidade na comunicação feita com, e para o bebé. Quando se fala em comunicação intra-uterina, percebe-se que consiste num fenómeno complexo, em que existe uma partilha entre o feto e as pessoas que interagem com ele. A partir do momento em que iniciam o projecto de ter um filho, e ao longo da gravidez, os pais vão estabelecendo laços de afecto com o bebé enquanto ele coabita no ventre materno, dando-se então início à comunicação intra-uterina. A comunicação intra-uterina relaciona-se com o desenvolvimento sensório-motor do feto e com a evolução na capacidade de comunicação que vai sendo manifestada por ele a partir das 22 semanas de gestação (SILVA e LOPES, 2008). O meio intra-uterino não é inócuo a sons e ao toque, ou seja, o feto está a ser submetido constantemente a estímulos auditivos e tácteis provenientes do corpo da mãe e do ambiente em redor, desta forma, a comunicação intra-uterina é de extrema importância para que os pais se disponibilizem mentalmente para a concretização das técnicas que levam ao aprofundamento da sua relação afectiva com o bebé. Montagner (1993) citado por NUNES (2009) afirma que “a mãe e o bebé começam a conhecer os respectivos ritmos e reacções ainda antes do nascimento”. Ao comunicarem um com o outro, para além do fortalecimento do vínculo afectivo, o bebé irá desenvolver-se de forma mais saudável. O toque pode ser um dos meios mais 2 importantes da comunicação e um verdadeiro instrumento de amor. Segundo PACHECO et al (2007) “o toque é uma das primeiras terapias descobertas pelo ser humano, e a estimulação pelo toque é necessária para o bem-estar físico e emocional”. Ainda segundo os mesmos autores “toda a vivência humana está associada ao toque como forma de comunicação”. Uma das formas de comunicar com o bebé durante a gravidez é através da Haptonomia, que se dá por meio do toque. Não é um simples toque, mas um toque dirigido intencionalmente ao bebé, no ventre da mãe. Um dos objectivos da Haptonomia é de convidar os pais a comunicar com o seu bebé in utero, já que ele é considerado como uma pessoa que, ouve, responde aos estímulos, e é sensível ao toque e às emoções. Haptonomia: “A Ciência da Afectividade” A Haptonomia nasceu em meados do século XX. Esta palavra foi utilizada pela primeira vez há mais de 50 anos por Frans Veldman, para definir o que ele chama de “Ciência da Afectividade” ou “Ciência das Interacções e das Relações Afectivas Humanas”. Frans Veldman constatou a importância das emoções nas relações humanas durante os eventos dramáticos da 2ª Guerra Mundial. Quando a paz voltou, ele debruçou-se sobre o fenómeno da vida e a importância das interacções humanas emocionais. Praticada legalmente em países como a Holanda, a Haptonomia confirma que a presença afectiva e o toque ajudam no desenvolvimento de um estado de segurança, e que o ser humano tem o direito primordial de confirmação da afectividade desde o momento da sua concepção. Marie Panier, de origem Canadiana e osteopata diz que ”a base da Haptonomia é transmitir a presença através do toque, um toque afectivo que vai ao encontro do outro naquilo que ele tem de melhor”. O toque da Haptonomia é um toque comunicativo. A aprendizagem e uso deste toque durante a gravidez, pode ser muito benéfica para os novos pais que nunca tiveram a experiência de tocar em recém nascidos antes do nascimento do seu próprio filho. Assim, ainda in utero, estes pais preparam-se para o nascimento do seu filho, criando um vínculo afectivo e simultaneamente transmitindo ternura e segurança ao bebé. A Haptonomia é usada no acompanhamento pré-natal, favorecendo o desenvolvimento dos laços afectivos da tríade (mãe, pai, bebé) e ajuda-os a estabelecer uma comunicação amorosa desde o período uterino. Este laço ajuda a melhorar a qualidade do acolhimento do casal ao seu recém-nascido, no parto e no período pósnatal. O contacto afectivo constitui uma comunicação que permite aos pais confirmar ao bebé a sua existência enquanto pessoa. Tocar no bebé através da barriga da mãe ajuda a confortá-lo. Ele ganha uma segurança de base que irá alimentar a sua comunicação, autonomia e confiança, proporcionando um maior equilíbrio emocional ao nascer. Por sua vez, a mãe, a partir destes contactos, melhora a relação com o bebé, podendo mesmo ajudá-la em 3 processos psicológicos (por exemplo, pedindo ao bebé para se posicionar de forma diferente no útero). Quanto ao pai, algumas vezes excluído da relação psicológica mãe-feto, ele encontra um meio excepcional de entrar em contacto com o filho antes do nascimento. Segundo MARIE PANIER (2008), a Haptonomia permite reduzir a diferença entre a vivência do pai em relação àquela que a mãe possui com o bebé. Aliás, as sessões de Haptonomia deverão ser sempre feitas na presença do pai, de forma a fortalecer esse vínculo. A relação afectiva estabelecida durante este acompanhamento promove o desenvolvimento do conceito de parentalidade e da responsabilidade que os pais têm em relação à individualidade do seu filho enquanto ser humano. Como Praticar Haptonomia Segundo LIMA (2012) “é possível iniciar as sessões a partir do 4º mês da gravidez até, o mais tardar, ao 6º mês. Quanto mais precoce, melhor”. A partir dos 4 meses de gravidez, o bebé é suficientemente desenvolvido para perceber um toque afectivo e reagir. O acompanhamento Haptonómico, geralmente, tem início quando surgem os primeiros movimentos do bebé perceptíveis pela mãe. Este tipo de comunicação com o bebé realiza-se através da aplicação das mãos na barriga da mãe. A abordagem implica uma grande proximidade e intimidade. O pai ocupa um papel activo neste processo, e através do toque e do contacto irá vincular-se ao mesmo tempo ao bebé e à mãe. A mãe deverá estar deitada numa posição confortável, e é convidada a estar presente para o seu bebé. O pai posiciona-se também de forma confortável, e coloca as suas mãos à volta da barriga da grávida, expressando ternura, presença e contacto afectivo. “Quando o contacto está estabelecido entre os três, os pais são convidados progressivamente a partilhar com o bebé toques: intencionais, doces, lentos e globais. O tom é de partilha: os pais “brincam” com o seu bebé e este responde” (LIMA, 2012). Progressivamente ao longo das sessões, os pais sentem que o bebé responde ao contacto afectivo, apercebendose que têm competências para criar laços com o bebé e que ele por sua vez sabe comunicar. A cada encontro com o profissional de saúde, os pais descobrem como interagir com o bebé através do toque afectivo com uma intenção amorosa. O profissional que os acompanha irá estimulá-los a, através do pensamento e do toque, convidar amorosamente o bebé a realizar determinados movimentos e a observarem as suas respostas. Conforme se vai aprofundando a sintonia entre os pais e o bebé, assim o vínculo afectivo se torna mais forte, tal como a percepção da existência do bebé, e da sua sensibilidade. Mais do que pensar no diálogo com o bebé neste momento, o que importa é sentir que a comunicação efectivamente se estabelece. 4 O papel do enfermeiro ESMO Em Portugal a Haptonomia não é muito utilizada devido à escassez de profissionais de saúde com formação nesta área, contudo já se começa a ouvir falar desta técnica principalmente na área de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia pelos seus benefícios a nível da integração da tríade mãe, pai, bebé. Esta mudança está a acontecer porque alguns teóricos, como DELASSUS (2002), defendem que “as vivências in utero são marcantes no desenvolvimento do bebé, e que ficam registadas no inconsciente e isso condicionará o padrão comportamental da criança”. Desta forma, a actuação do enfermeiro ESMO terá como objectivo primordial a promoção da saúde na gravidez, tornando-a um momento único, onde se iniciará o processo de vinculação da tríade. Em nome da saúde dos bebés, é fundamental, que o enfermeiro ESMO olhe para a gravidez muito para além das consultas de rotina que a prudência clínica recomenda, ou seja, o acompanhamento ao longo da gravidez não deve ser baseado exclusivamente na avaliação clínica da grávida e feto. Segundo o regulamento da Ordem dos Enfermeiros, uma das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia consiste em “Cuidar da mulher inserida na família e comunidade durante o período pré-natal”. Com isto o enfermeiro ESMO deve promover a saúde da mulher durante o período pré-natal, facultando informação à grávida sobre recursos disponíveis na comunidade, e implementando programas de preparação para o nascimento e parentalidade responsável. Os cuidados do Enfermeiro ESMO são o contributo fundamental para a saúde materna e neonatal, assim como para uma boa comunicação pré-natal da tríade pois, tal como referem LOWDERMILK e PERRY (2008) um dos objectivos das consultas pré-natais é “Promover a educação para a saúde integrando o aconselhamento e o apoio psicossocial ao longo da vigilância periódica da gravidez”. Relativamente ao apoio psicossocial, os autores supracitados dizem que o profissional de saúde para perspectivar a sua intervenção deverá: “incluir os factores sociais e culturais na intervenção, envolver todos os membros da família na vigilância pré-natal, promover a ligação pré-natal da família com o feto, e, facilitar/encaminhar o atendimento de cada mulher”. Atendendo a que “o feto nasce num plano mental muito antes de nascer no plano obstétrico” SÁ (2001), o enfermeiro ESMO deve orientar os pais para que o bebé seja "trabalhado" na cabeça e na relação dos pais, explicando que do sucesso desta intervenção dependerá o equilíbrio emocional do bebé. Quando, em determinados casos, este acompanhamento não se realiza ou não tem êxito, o bebé nasce doente. Segundo SÁ (2001), “são estes bebés que surgem na literatura com atrasos de desenvolvimento, com intolerância inata à frustração, com maior ou menor resiliência”. 5 Como refere DELASSUS (2002), “ Os sistemas sensoriais podem funcionar muito antes de terem atingido a sua maturidade estrutural, algo que só acontece depois do nascimento”. Neste sentido, o enfermeiro ESMO deve implementar ao longo da gravidez, consultas em que sejam focadas as competências do feto, de modo a que os pais compreendam a importância de comunicarem com ele. Esta sensibilização poderá ser feita durante as consultas de vigilância pré-natal, ou nos cursos de preparação para o nascimento, já que são momentos únicos de transmissão de informação. Assim sendo, tal como referem SILVA e LOPES (2008) os cursos de preparação para o nascimento, assim como a consulta de enfermagem prénatal revestem-se de uma “singularidade própria, em consonância com a fase do ciclo de vida da mulher/casal/família, e com os profissionais que nela desenvolvem as suas actividades”, englobando aqui a educação para a saúde. A Haptonomia fornece um "modo de vida" que deverá penetrar na prática de cada profissional, considerando a pessoa como um todo e, neste contexto, integra a parte emocional como forma de promover a continuidade de uma gravidez saudável, e o nascimento de um bebé saudável não só a nível físico, como também a nível psicológico. A Haptonomia vista como uma forma de comunicação intra-uterina deve ser realizada num momento de tranquilidade propício à convivência da família, para que mãe, pai e bebé desfrutem da troca de sentimentos positivos e para que estes laços se perpetuem após o nascimento. Por sua vez, o bebé vai reconhecer estes momentos de serenidade e reproduzir o seu comportamento de acalmia nos primeiros meses de vida. Muitos pais podem sentir-se excluídos da relação existente entre mãe-bebé. Neste ponto, cabe ao profissional de saúde, explicar ao pai, que fisiologicamente poderá haver uma separação, dada a impossibilidade do homem engravidar, contudo emocionalmente o pai poderá estar tão ligado ao bebé como a figura materna. A comunicação in utero, baseada na Haptonomia, consegue essa ligação. É de extrema importância que adquiram esta compreensão muito cedo, para que a relação familiar possa se desenvolver com maior harmonia e união. A Haptonomia necessita de um equilíbrio delicado entre a “intuição” e a “técnica. A aprendizagem da Haptonomia exige conhecimentos teóricos e práticos, e dá particular ênfase ao desenvolvimento pessoal, à forma de estar na relação e ao toque afectivo. De acordo com LIMA (2012) “O acompanhamento pela Haptonomia não é possível em grupo. A gravidez e o nascimento são considerados como acontecimentos de grande importância na vida de uma criança e dos seus pais. O espaço para a expressão dos afectos exige um grande respeito da privacidade e da intimidade. O acompanhamento da vida afectiva implica uma presença consciente, uma atitude de solicitude e de profunda disponibilidade”. Contudo, o enfermeiro ESMO poderá realizar uma sessão de educação para a saúde em grupo, sensibilizando o casal, e dando todas as orientações necessárias. Em todas as abordagens que o enfermeiro ESMO faz, é necessário ter em conta a bagagem psicológica e cultural 6 de cada casal. Se for necessário deverão ser desmistificados medos, dúvidas e tabus que surgem durante a gravidez, visto que se constituem como momentos privilegiados de actuação do enfermeiro ESMO junto dos mesmos. Segundo PACHECO et al (2007) “o toque faz parte de todas as culturas, embora cada uma o entenda de forma diferente havendo costumes e tabus à sua volta”. Como a Haptonomia baseia-se no toque, é fundamental que o profissional de saúde tenha sempre em conta o contexto sócio-cultural, já que cada pessoa pode entender o toque de formas diferentes. Como tal, é importante que o profissional de saúde desenvolva a capacidade de escuta activa, e descubra as convicções sobre a saúde daquele casal de forma a criar uma relação terapêutica, ajudando o casal a desenvolver as suas próprias capacidades de comunicação. Conclusão Atingindo este ponto, nada impede de se proclamar que durante o período pré-natal, a intervenção do enfermeiro ESMO deverá ser dirigida não só à vigilância da mulher grávida, mas também ao bebé in utero olhando para ele como um ser dotado de sentimentos e de consciência, e ao pai, como figura capaz de integrar o lugar a que tem direito durante a gravidez. A comunicação entre a mãe e o bebé perdura durante todo o período gravídico. O pai não é excluído desta relação, podendo interagir de várias formas, nomeadamente através da Haptonomia. Desta forma, este trabalho procura chamar a atenção da importância da Haptonomia como forma de comunicação intra-uterina, e do papel do enfermeiro ESMO. Esta ciência do toque e do reconforto emocional, constitui-se como uma forma de comunicar com o bebé, e traz benefícios para a tríade, já que ajuda os pais a prepararem-se emocionalmente para a sua chegada, e oferece também uma preparação para o parto que visa desenvolver a confiança da mãe, aumentando a sua segurança e o seu potencial para colocar o bebé no mundo. Esta preparação também permite que o pai se envolva activamente durante a gravidez e parto, sentindo-se mais incluído em todo o processo. Através do toque, os laços entre o bebé e os pais vão-se intensificar, e o vínculo estabelecido durante a gravidez vai permitir que após o nascimento esse elo seja mais forte. A Haptonomia ao ser realizada em momentos de tranquilidade estimula o bebé a desenvolver comportamentos de serenidade no meio intra-uterino que se poderão prolongar após o nascimento. Neste sentido, é importante que os pais entendam, que dentro do ventre materno existe um ser em formação e que necessita desta comunicação para se sentir amado, desejado, compreendido e respeitado. O enfermeiro ESMO deverá estimular os pais, para que através do pensamento, da fala e do toque convidem amorosamente o 7 bebé a realizar determinados movimentos e a observarem a sua resposta. A intervenção do enfermeiro ESMO centra-se no informar e orientar no período pré-natal, respeitando as objecções do casal, tal como as razões profissionais, religiosas ou culturais pelas quais se regem. O papel deste profissional de saúde prende-se principalmente com a promoção da saúde. A Haptonomia vista como forma de potenciar a relação da tríade e o desenvolvimento do bebé in utero, deve ser incluída com mais frequência nos conteúdos dos cursos de preparação para o nascimento. A Haptonomia pode fazer com que o bebé chegue mais feliz a este mundo. Falar com o bebé, tocar-lhe e transmitir-lhe amor... Ele vai agradecer para toda a vida. Referências Bibliográficas BOBAK, I. M.; LOWDERMILK, D. L.; JENSEN, M. D. (1999) - Enfermagem na Maternidade, 4ª Ed., Editora Lusociência, Loures BURROUGHS, Arlene (1995) – Uma introdução à Enfermagem Materna, 6ª Ed., Artes Médicas, Porto Alegre CANAVARRO, Mª. C. (2001) – Psicologia da gravidez e da maternidade. 2ª Ed., Coimbra: Editora Quarteto COOLEY, Charles H., In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-01-21]. Disponível em http://www.infopedia.pt/$charles-h.-cooley DELASSUS, Jean-Marie (2002) – O Génio do Feto. Instituto Piaget ISBN: 972-771-595-8 http://www.passeportsante.net/fr/Therapies/Guide/Fiche.aspx?doc=haptonomie_th) LIMA, Georgette Devillet (2012) – Comunicação: O papel da Enfermagem Clínica em Obstetrícia. Equipa Multi-Profissional – Abordagem Perinatal. Escola Superior de Saúde de Santarém LOWDERMILK, D. L. PERRY, S. E. 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