IX SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE O CERRADO II SIMPÓSIOINTERNACIONAL SOBRE SAVANAS TROPICAIS Brasília, 12 a 17 de outubro de 2008 O PAPEL DA SOCIEDADE NO ESTABELECIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS SAVANAS Donald Sawyer, Professor CDS-UnB e Assessor ISPN Andréa de Souza Lobo, Assessora Técnica ISPN Apoio da União Européía Introdução • Equilíbrio entre sociedade, agronegócio e RN • Abordagem sócio-ecossistêmica, passado e futuro • Cerrado maior que “bioma” do IBGE 2007 • Panorama abre horizontes para análise e ação • “Políticas públicas” incluem políticas privadas e combinações em todos os níveis e setores • Sociedade na formulação, implementação, avaliação Histórico até 2000 • Bioma era sertão, “cerrado” era tipo de vegetação • Políticas intermitentes de expansão de fronteiras • Tb. processos de ocupação espontânea • Solos pouco férteis e longos períodos secos • Pecuária extensiva • Praticamente nenhuma organização da sociedade Desenvolvimento • EMBRAPA deu salto tecnológico anos 1980 • Viabilizou surto de crescimento econômico • SUDECO extinta, mas setor privado não precisou • Desmatamento é fácil, carvão financia • RN = substrato de terra plana e bem drenada • • Máquinas e insumos com financiamento privado Meio Ambiente • Preocupação ambiental surgiu 1988-1992 • Alguma atuação no Cerrado, muita na Amazônia • Cerrado destinado ao crescimento econômico • Savanas dispensáveis ou mesmo alternativa • 1992 Tratado do Cerrado, Rede Cerrado de ONGs • Organização menor que CNS, GTA, RMA etc. • Salve-se a Amazônia, detone-se o resto? Políticas Ambientais até 2000 • Cerrado como um entre 25 hotspots globais da CI • Não repercutiu em termos financeiros ou políticos • Workshops sobre prioridades para conservação 1998 • Planos de ação 1998, 2000 não saíram do papel • Cooperação internacional ambiental na Amazônia • Políticas públicas mais relevantes eram Eixos (ENID) Cooperação Internacional • • • • • • 1995 SGP do GEF = PPP-ECOS 262 projetos de ONGs e OBCs Valor médio de US$25 mil US$6 milhões para meios de vida sustentáveis Principalmente uso sustentável da biodiversidade Frutos, mel, artesanato, fitoterápicos, animais silvestres • Busca superar limites do “projetismo” e “localismo” Políticas Ambientais depois de 2000 • • • • UCs insuficientes para funções ecossistêmicas RESEX problemáticas no Cerrado Sem confronto, pode facilitar a destruição Código Florestal, sem base técnica, força vazamento • Cana fora da Amazônia e Pantanal = expansão no Cerrado • Selo do IBAMA “fora do bioma amazônico” = arbocentrismo • Viés florestal, sem clima, feedback ou metas Políticas Ambientais depois de 2000 • Dia Nacional do Cerrado = 11 setembro • GTC fez Plano Cerrado Sustentável em 2004: – – – – – Conservação da biodiversidade; Uso sustentável da biodiversidade; Gestão de recursos hídricos; Comunidades tradicionais e agricultores familiares; Sustentabilidade da agricultura, pecuária e silvicultura • Iniciativa Cerrado Sustentável com US$27 milhões do GEF • NCP na SBF e CONACER em 2005 Sociedade depois de 2000 • Encontros dos Povos do Cerrado bianuais • II Encontro Nacional dos Povos das Florestas (plural) • MOPIC • MST e Via Campesina defendem agroecologia e Cerrado • APDC defende SPD e ILP, sem novos desmatamentos • Articulação Soja Brasil: critérios para sojicultura • Moratória da soja – só Amazônia, só soja Balanço das Políticas Públicas • Implementação, transversalidade, sustentabilidade?? • Participação da sociedade teve pouca eficácia • PAC considera ambiente como entrave • MAPA contesta ambiente diretamente • MDA frisa crédito (capitalização/endividamento) • MDS apóia a população carente e PCT • Estados e municípios ignoram o Cerrado Balanço da Sociedade • • • • • • • ONGs priorizam Amazônia ou biomas florestais Conservacionistas x socioambientalistas Embate x convergência de interesses Repasses de recursos públicos inviáveis Pouco realismo, muita radicalização Sociedade fragmentada e vulnerável Inquéritos, auditorias, CPIs, criminalização Balanço do Legislativo • Partidos políticos desconsideram meio ambiente • Bancada ruralista no Congresso Nacional resiste • Frente Parlamentar Ambientalista pode melhorar descaso • PEC 115 aprovada em comissão em 2007 Balanço de Outros Setores • Grande mídia no Brasil começa a destacar o Cerrado • Cooperação internacional sinaliza diversificação (CE) • Fundo Amazônia com outros biomas (até 20%) • MCT: COMCERRADO em 2007 • Rico conhecimento sobre ecologia, pouco interdisciplinar Resultados Concretos • Desmatamento no Cerrado maior que Amazônia • Acumulado 800.000-1.600.000 km2 x 700.000 km2 • Amazônia: 11.300 km2/ano • Cerrado: 1,5% = 30.000 km2, 1,1% = 22.000 km2 • Espécies ameaçadas: 131 x 24 • Mudanças climáticas (>AG): seca maior, chuva torrencial Balanço Geral • Priorização do crescimento econômico no Cerrado • Estado apóia o mercado, sem contraponto articulado • Sem considerar ecologia para país, continente, planeta • Social = financeira (bolsas, aposentadoria, crédito) • Fora da (nova?) realidade econômica e ecológica • Insegurança nacional! Novo Contexto Global • 13.05.2008 = novo momento histórico no Brasil • 120 anos de relativa independência econômica • “Novíssimo colonialismo” via empresas multinacionais • Brasil = “pegada ecológica” global? • Crise financeira: falta de crédito • Commodities sem preço, insumos caros • Desafios ecossistêmicos continentais e globais (ABC) A - Desafios da Água • Escassez ou irregularidade nos rios que nascem no Cerrado • Escoamento acelerado, enchentes, intermitência • Interrupção dos “rios voadores”? • Afeta afluentes do Amazonas, São Francisco, Paraná etc. • Energia elétrica para 95% da população brasileira • Conseqüências calamitosas! B - Desafios da Biodiversidade • Tão rica quanto florestas, com elevado endemismo • Resistência a estresse térmico e hídrico • Valor estratégico nas mudanças climáticas • BD (com escala) mantém água e carbono • Custos elevados de UCs no Cerrado C - Desafios do Carbono (ou Clima) • Emissões do desmatamento globalmente significativas • Carbono subterrâneo (2/3) ignorado • Agronegócio emite mais CO2, CH4 e N2O (mais potentes) • Outras emissões no ciclo de vida global • Feedback para mudanças climáticas regionais e globais • Agricultura familiar emite muito menos GEE Riscos • Cerrado poderá ser tornar semi-árido • Sem água a jusante para abastecimento, agricultura e energia • Interdependência ecossistêmica • Interdependência ecológica dos biomas • Colapso da fronteira dos agrocombustíveis? • Disputas internacionais por RN com segurança? Monitoramento do Desmatamento • INPE, IBAMA, UFG, CI, TNC • Custos e dificuldades técnicas • Mudança indireta no uso do solo (indirect land use change) • Não necessariamente desflorestamento (deforestation) • Desmatamento e queimadas (clearing and burning) • Queimadas reduzem seqüestro • Uso crítico desta informação Outras Novas Possibilidades • • • • • Cadeias Produtivas da Sociobiodiversidade Restrições ao crédito em “outros biomas” Política de DS de PCT Preços mínimos para produtos extrativos Estados e municípios: babaçu livre e lei do pequi • Alguns planos ou financiamentos internacionais (CE) • Critérios socioambientais para biocombustíveis Perspectivas Futuras • • • • • Equilíbrio = contradição? Considerável espaço de manobra Se não equilíbrio, maior compatibilidade Ao menos desacelerar a destruição Transporte como freio à globalização econômica • Crise/recessão/depressão? Cenário Possível • Espaço para agronegócio, sociodiversidade e RN • Objetivo principal: manter funções sócioecossistêmicas • Conter agronegócio nos 800.000 km2 desmatados • Outros 200.000 km2 (10%) para UCs • Outra metade para policultura, agroextrativismo e PCT • Não concorre com a produção de alimentos O que fazemos? • Linha mestre = melhor aproveitamento de áreas já abertas • Maior produtividade e sustentabilidade • Sem derrubar mais árvores, altas ou baixas, retas ou tortas, na Amazônia ou Cerrado • Produtividade = aumentar t/ha/ano, principalmente carne e leite • Sustentabilidade = menor erosão, poluição e emissões Como fazer? • Baratear recuperação, encarecer desmatamento • Reduzir os custos de maior produtividade e sustentabilidade • Aplicar legislação trabalhista etc. (não ambiental) • Transição agroecológica, não agricultura orgânica • Risco baixo de aumentar área? (custos crescem, preços não) Financiamento • Limites a subsídios, especialmente com crise • Preferências para conformidade • Mercado consumidor e compras públicas no Brasil • Certificação por auditoria e participativa • Rotulagem socioambiental • “Barreiras técnicas não tarifárias” = realidade PSA? • Justiça de pagar latifundiários para não produzir? • Possíveis efeitos perversos: só adota se for pago? • Vazamento financiado? • Inviabilidade para comunidades? • Efeitos inflacionários de pagamentos com escala? • REDD para o Brasil exclui Cerrado? Agricultura Familiar • Agroecologia, agroextrativismo, SAFs • Benefícios amplos com baixo custo público • Alimentos para controlar inflação e combater fome • “Destravar” = adequar o marco regulatório adverso • Menores gastos, maiores benefícios • Evita custos da migração campo-cidade • Resiliência sistêmica Atuação Efetiva da Sociedade • Aproximação entre os pólos do socioambientalismo • Paisagens produtivas sustentáveis • Transversalidade temática • Articulação transbiômica • Atuação com legislativo, judiciário e Ministério Público • Mais negociação, menos radicalismo • Maior engajamento da academia Conhecimento • Superar o desconhecimento do Cerrado • Influir na grande mídia nacional e internacional • Outros países esperam o Brasil se posicionar • Mais simpósios nacionais e internacionais • Desafio para EMBRAPA e comunidade CTI • Ciência imprescindível para análise abrangente • Cientistas tb. são cidadãos! (e servidores) Sustentabilidade • Chave = sustentabilidade = necessidades presentes e futuras • Visão sócio-ecossistêmica não linear • Analisar todos os benefícios e custos sociais e ambientais • Diversas escalas e prazos (e a crise financeira!) • Ver além do Cerrado, com enfoque diferenciado Linhas Gerais de Ação • Formular estratégias não utópicas • Controle social para governo funcionar melhor • Sociedade desorganizada pode ter papel relevante • Conformidade é inevitável e não significa prejuízo • Setor público: garantir direitos humanos e cidadania • Cobrar dos importadores sua responsabilidade por impactos Recomendações Específicas 1. Questionar se o Brasil deve ser “pegada ecológica” 2. Realizar AAE do PAC 3. Flexibilizar CF com compensação (escala progressiva, contribuição para fundo) 4. Biocombustíveis: etanol celulósico exige menos terra 5. Terra preta do índio (biochar): carbono negativo, maior fertilidade 6. Fortalecer a agricultura familiar para segurança alimentar e consumo local 7. Implementar reforma agrária, com agroecologia e agroextrativismo 8, Combinar conservação e desenvolvimento em todos os biomas 9. Uso sustentável da biodiversidade em áreas muito maiores que UCs 10. Remover gargalos burocráticos da produção agroextrativista familiar 11. Reduzir consumo insustentável (carne, combustível) e aumentar consumo sustentável local 12. Reduzir restrições jurídicas e tributárias que sufocam as associações 13. Pesquisa relevante para a tomada de decisões (documento oficial) 14. Cooperação internacional para CTI e consciência pública Efeitos interregionais Obrigado! Donald Sawyer [email protected]