Relatório de Pesquisa Qualitativa Setembro de 2009 1 Sumário Introdução ...................................................................................................................... 4 1. Metodologia ............................................................................................................... 7 1.1. Técnica utilizada ..................................................................................................... 7 1.2. Perfil dos entrevistados ........................................................................................... 8 1.3. Amostra ................................................................................................................... 9 1.4. Parâmetros e distribuição ........................................................................................ 9 1.5. Temas investigados ............................................................................................... 11 1.6. Mecanismos e procedimentos técnicos utilizados na investigação....................... 11 1.6.1. Mapeamento das posições: ........................................................................ 11 1.6.2. Técnica de entrevistas sucessivas: ............................................................. 11 1.6.3. Rastreamento das informações: ................................................................. 12 1.6.4. Teste simulado da reação às notícias hipotéticas contrárias ao ponto de vista do entrevistado: ........................................................................................... 12 1.7. Objetivos de análise .............................................................................................. 13 1.7.1. Vida profissional: ....................................................................................... 13 1.7.2. Vida escolar: .............................................................................................. 13 1.7.3. Trajetória social: ........................................................................................ 13 1.7.4. Experiência política: .................................................................................. 14 1.7.5. Características atitudinais: ......................................................................... 14 1.7.6. Meios de comunicação:.............................................................................. 14 1.7.7. Informação sobre o governo e políticas públicas:...................................... 14 1.7.8. Posicionamento sobre os temas políticos:.................................................. 14 1.7.9. Auto-definição política: ............................................................................. 15 1.7.10. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos: ........................ 15 1.7.11. Relação do conjunto das variáveis estudadas: ......................................... 15 1.7.12. Sugestões para a fase quantitativa: .......................................................... 16 2. Caracterização dos segmentos estudados................................................................. 17 2.1. Classe média ......................................................................................................... 17 2.1. Juventude .............................................................................................................. 23 3. Fatores contextuais................................................................................................... 26 3.1. Trajetória social .................................................................................................... 26 3.1.1. Classe Média .............................................................................................. 26 3.1.2. Juventude ................................................................................................... 31 3.2. Experiência política .............................................................................................. 34 3.2.1. Classe média .............................................................................................. 34 3.2.2. Juventude ................................................................................................... 37 3.3. Características atitudinais ..................................................................................... 39 3.3.1. Classe Média .............................................................................................. 39 3.3.2. Juventude ................................................................................................... 42 4. Percepção do mundo político ................................................................................... 44 4.1. Apropriação política.............................................................................................. 44 4.1.1. Classe média .............................................................................................. 44 2 4.1.2. Juventude ................................................................................................... 47 4.2. Posicionamento político ........................................................................................ 51 4.2.1. Classe média .............................................................................................. 51 4.2.2. Juventude ................................................................................................... 53 4.3. Coerência política ................................................................................................. 55 4.3.1. Classe média .............................................................................................. 55 4.3.2. Juventude ................................................................................................... 59 5. Comportamento em relação à mídia ........................................................................ 64 5.1. Meios de comunicação ...................................................................................... 64 5.1.1. Classe média .............................................................................................. 64 5.1.2. Juventude ................................................................................................... 69 5.2. Informação sobre o governo e políticas públicas .............................................. 74 5.2.1. Classe média .............................................................................................. 74 5.2.2. Juventude ................................................................................................... 78 6. Formação da opinião ................................................................................................ 84 6.1. Permeabilidade às notícias ................................................................................ 84 6.1.1. Classe média .............................................................................................. 84 6.1.2. Juventude ................................................................................................... 89 6.2. Relevância dos meios e outras referências........................................................ 99 6.2.1. Classe Média .............................................................................................. 99 6.2.2. Juventude ................................................................................................. 105 6.3. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos ................................ 109 6.3.1. Classe Média ............................................................................................ 109 6.3.2. Juventude ................................................................................................. 116 7. Subsídios para o questionário da fase quantitativa ................................................ 121 7.1. Sugestões de perguntas para o questionário da fase quantitativa ................... 121 8. Considerações finais .............................................................................................. 131 3 Introdução O desenvolvimento tecnológico, a expansão do uso da Internet, da telefonia celular e outras ferramentas de interconexão dos meios de comunicação tem provocado importantes efeitos nas formas através das quais as pessoas se informam, processam estas informações e constroem referenciais valorativos e atitudinais. Neste período de transformação convivem os tradicionais meios de comunicação dos séculos XIX e XX (imprensa escrita, rádio, televisão) com a nova mídia liderada pela Internet e suas várias ferramentas. Muitos conteúdos dos meios tradicionais são crescentemente expostos na Internet (notícias de jornais, revistas, filmes, música, etc.). Os jornais impressos, particularmente, sentem o impacto da mudança comportamental verificada especialmente no segmento jovem que prefere acompanhar noticiários através da Internet ao invés dos tradicionais tablóides. A TV aberta sofre forte concorrência da TV por assinatura, especialmente nos segmentos de maior renda, em função da maior qualidade, especialização e diversidade das opções de programação. Qual é o impacto destas mudanças nos processos de formação de opinião dos distintos segmentos sociais? O acesso direto a uma mídia mais diversificada está gerando uma multiplicação de fontes e referenciais informativos? Em que medida esta diversificação altera os referenciais de formadores de opinião, especialmente nos segmentos que utilizam, de forma mais intensa, as novas tecnologias da informação? Em que medida os tradicionais referenciais da televisão aberta perdem força nos segmentos que utilizam crescentemente as novas mídias? Em que medida o segmento jovem opera outras formas e processos de construção de opinião? Qual é a eficácia da propaganda e das notícias em cada um dos meios de comunicação? Em que medida a nova classe média torna-se crescentemente autônoma em seu processo de formação de opinião? 4 Estas questões orientaram o desenvolvimento da presente pesquisa. Nesta primeira fase de natureza qualitativa a investigação teve caráter exploratório, visando o conhecimento em profundidade dos processos através dos quais as pessoas se informam e formam as suas opiniões. Buscou-se esquadrinhar os mecanismos de formação de opinião, examinando a importância das notícias veiculadas pelos meios de comunicação, as fontes de informação mais utilizadas, os referenciais de formadores de opinião considerados mais confiáveis, as lógicas utilizadas na construção de opiniões, valores e posições. A investigação da fase qualitativa voltou-se aos dois segmentos considerados mais relevantes para a observação dos fenômenos estudados: a chamada nova classe média e a juventude. Foram escolhidas técnicas adequadas aos objetivos de obtenção de um conhecimento em profundidade do comportamento destes segmentos. A exposição dos resultados desta primeira fase da pesquisa foi organizada tendo por referência contemplar as principais dimensões da análise, a seguir indicadas. 1. Caracterização dos segmentos estudados: definição conceitual e operacional dos segmentos “classe média” e “juventude”. 2. Fatores contextuais: exame da relevância da trajetória social (profissional, escolar e social), da experiência política e das características atitudinais na conformação dos comportamentos e predisposições. 3. Percepção do mundo político: identificação do grau de apropriação política (domínio dos termos, informação e conhecimento, gosto por política), das características do posicionamento político e do grau de coerência em relação a estas posições, ações e relações com os hábitos de informação e formação de opinião. 4. Comportamento em relação à mídia: detalhamento da utilização dos meios de comunicação, da percepção do comportamento da mídia e das formas de obtenção de informação sobre o governo e políticas públicas. 5 5. Formação da opinião: identificação das lógicas utilizadas para a formação de opiniões, o grau de permeabilidade das pessoas às notícias, a relevância dos meios e de outras referências para a construção de opiniões. 6. Subsídios para a fase quantitativa: sugestão de perguntas para o questionário da segunda fase da pesquisa. 6 1. Metodologia O presente estudo tem por objetivo investigar como o processo de informação e formação de opinião na era da comunicação digital no Brasil. Para a realização do objetivo proposto, foi considerado necessário iniciar a investigação através de um estudo em profundidade com pessoas selecionadas de acordo com perfis típicos definidos. Os dois segmentos selecionados para esta fase da pesquisa foram àqueles considerados mais relevantes nesta investigação: jovens e classe média. Optou-se por estudar em profundidade estes dois segmentos ao invés de realizar um estudo menos profundo de um leque mais amplo e diversificado de grupos sociais. O estudo em profundidade proposto objetiva levantar subsídios para a pesquisa quantitativa mais abrangente, representativa do conjunto da população brasileira, que corresponde à segunda fase deste projeto. 1.1. Técnica utilizada Para o conhecimento profundo e detalhado das maneiras como as pessoas se informam e constroem os seus referenciais valorativos, percepções, comportamentos, tendências e predisposições, a técnica de entrevistas individuais em profundidade é a melhor por possibilitar o conhecimento em sentido vertical das experiências, referências, e das formas de formular opiniões e de tomar decisões e atitudes. As entrevistas em profundidade serão realizadas em etapas sucessivas até 4 entrevistas por entrevistado. Esta técnica possibilita aprofundar assuntos progressivamente, alargando o encadeamento de experiências e o inter-relacionamento das idéias, valores, percepções e atitudes explicativas do comportamento. Entrevistas individuais em profundidade sucessivas possibilitam delinear o quadro valorativo e perceptivo dos entrevistados e os seus 7 mecanismos de produção de julgamentos e tomadas de decisão. Conforme o quadro valorativo há predisposição para aceitação de determinadas propostas e discursos. O quadro de valores informa as possibilidades atitudinais frente aos acontecimentos. Os mecanismos de produção de julgamento e tomadas de decisão informam as fontes utilizadas e o modo de operação, tornando possível a identificação de pontos de diálogo e maior previsibilidade de ações e reações. 1.2. Perfil dos entrevistados Nos dois segmentos investigados há consideráveis variações relativas aos contextos sociais, nível econômico, nível informacional, conhecimento do mundo político, envolvimento com temas desta natureza e trajetória experimental. Mesmo no segmento de classe média, definido por seu poder aquisitivo, há um largo espectro de diferenciações sócio-econômicas. No grupamento definido por faixa etária há diferenciação sócio-econômica mais acentuada, além da diferenciação interna, também relevante, do comportamento e bagagem experimental, nas diferentes faixas de idade daqueles considerados jovens. O indivíduo que vive nos grandes centros urbanos tende a ter base experimental e percepção do mundo político muito distintas daquele que vive em pequenas cidades do interior dos estados. O mesmo pode ser dito em relação àqueles que têm distintos níveis informacionais de sofisticação política. A atividade profissional também é um elemento que pode implicar em facilidade ou dificuldade de compreensão dos temas da política e em maior ou menor proximidade do mundo político. Agregam-se a estas diferenciações a diversidade cultural regional de um país de dimensões continentais. Estes fatores foram considerados na escolha dos entrevistados dos dois segmentos investigados. 8 1.3. Amostra A definição da amostra da pesquisa através da técnica de entrevistas em profundidade foi feita de forma intencional, considerando os objetivos do levantamento e as características de seu público-alvo. Considerando as características dos dois segmentos foi considerada suficiente a seleção de 24 entrevistados por segmento. Assim, foram realizadas, com 24 entrevistados de cada segmento, quatro séries de entrevista, totalizando 96 entrevistas em profundidade com o segmento classe média e 96 entrevistas em profundidade com o segmento jovem (192 entrevistas em profundidade ao total). 1.4. Parâmetros e distribuição Para fins deste estudo, a definição operacional de classe média foi feita pelo critério de classificação sócio-econômica da ABEP, como sendo os integrantes das classes B2 e C (C1 e C2). Em relação à juventude, para fins operacionais deste estudo, foram consideradas as faixas etárias entre 16 e 24 anos. As entrevistas em profundidade foram distribuídas por todas as regiões brasileiras e pelos municípios da capital, próximos à capital e distantes da capital (interior) em igual proporção (32 entrevistas com pessoas residentes na classe de distância A, 32 na classe de distância B e 32 na classe de distância C, para cada um dos segmentos). 9 Perfil dos Entrevistados - Classe Média CIDADE Salvador Goiânia Região Metropolitana Rio de Janeiro Porto Alegre Região Metropolitana Porto Alegre Região Metropolitana Belo Horizonte Interior Minas Gerais Região Metropolitana Belém Interior Bahia Recife Interior Goiás São Paulo Interior Rio de Janeiro Região Metropolitana Porto Alegre Interior Rio Grande do Sul Interior Minas Gerais Belém Região Metropolitana Belém Região Metropolitana Salvador Goiânia Região Metropolitana São Paulo Interior São Paulo Interior Rio Grande do Sul Belo Horizonte PERFIL Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média Classe média SEXO Feminino Masculino Feminino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Feminino Masculino Masculino Feminino Feminino Masculino Masculino Feminino Feminino Feminino Masculino Feminino Feminino Feminino Feminino Masculino CLASSE B2 B2 B2 B2 B2 B2 B2 C1 C1 C1 C1 C1 C1 C1 C1 C1 C2 C2 C2 C2 C2 C2 C2 C2 ESCOLARIDADE Superior incompleto Superior completo Superior completo 2º grau completo Superior completo Superior incompleto Superior incompleto 2º grau completo 2º grau completo 2º grau incompleto 2º grau incompleto Superior incompleto Superior incompleto 2º grau completo 2º grau completo 2º grau incompleto 1º grau completo 2º grau incompleto 1º grau completo 2º grau completo 2º grau completo 1º grau completo 2º grau completo 2º grau completo IDADE 21 anos 47 anos 36 anos 32 anos 44 anos 26 anos 47 anos 36 anos 31 anos 27 anos 30 anos 30 anos 33 anos 22 anos 30 anos 16 anos 36 anos 31 anos 40 anos 35 anos 49 anos 35 anos 43 anos 21 anos SEXO Masculino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Masculino Feminino Feminino Masculino Feminino Masculino Masculino Masculino Feminino Masculino Masculino Masculino Masculino Feminino Masculino Feminino Feminino Masculino CLASSE A B1 B1 B1 B2 B2 B2 B2 B2 C1 C1 C1 C1 C1 C1 C1 C2 C2 C2 C2 C2 D D D ESCOLARIDADE Superior completo Superior incompleto Superior incompleto Superior incompleto 2º grau incompleto Superior incompleto 2º grau completo Superior completo Superior incompleto 2º grau completo Superior incompleto 2º grau incompleto 2º grau completo 2º grau incompleto 2º grau incompleto 2º grau completo 2º grau completo 2º grau incompleto 2º grau incompleto 2º grau completo 2º grau completo 2º grau completo 1º grau completo 2º grau completo IDADE 22 anos 20 anos 19 anos 24 anos 16 anos 23 anos 20 anos 22 anos 21 anos 21 anos 21 anos 16 anos 19 anos 16 anos 22 anos 24 anos 18 anos 19 anos 23 anos 22 anos 18 anos 23 anos 17 anos 21 anos Perfil dos Entrevistados - Jovens CIDADE Porto Alegre Belém Região Metropolitana Porto Alegre Interior Rio Grande do Sul Região Metropolitana Belém Salvador Interior Goiás São Paulo Interior São Paulo Região Metropolitana Belém Região Metropolitana Salvador Interior Pernambuco Interior Pernambuco Goiânia Interior Rio de Janeiro Região Metropolitana Porto Alegre Recife Região Metropolitana Recife Interior Goiás Interior São Paulo Rio de Janeiro Região Metropolitana São Paulo Porto Alegre Região Metropolitana Porto Alegre PERFIL Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens Jovens 10 1.5. Temas investigados A fase qualitativa coletou informações buscando explorar em profundidade o modo como ocorre o processo de formação de opinião. A investigação buscou identificar a influência relativa dos meios de comunicação nos processos de formação de opinião, e o modo como é feita a construção de valores e posições. A partir do mapeamento das principais idéias e posições sobre temas relevantes, foi feito o rastreamento do processo de formação destas opiniões, reconstituindo os elementos e passos mais significativos deste processo. Foram investigados os níveis de informação e conhecimento, a posição dos entrevistados, os meios de informação utilizados e as formas de construção das opiniões. As principais hipóteses formuladas nesta fase serão testadas em um levantamento quantitativo representativo do conjunto da população. 1.6. Mecanismos e procedimentos técnicos utilizados na investigação Entre os principais procedimentos técnicos utilizados nas entrevistas para aprofundar o conhecimento sobre os temas investigados destacam-se os relacionados a seguir. 1.6.1. Mapeamento das posições: Primeiramente foi estruturado um amplo painel das experiências, trajetórias, posições, idéias, percepções, ações e decisões dos entrevistados, através de perguntas, inicialmente genéricas e abertas, e, em um segundo momento, quando necessário, estimuladas através de abordagens mais diretas e específicas. 1.6.2. Técnica de entrevistas sucessivas: A técnica de realização de quatro entrevistas com cada entrevistado possibilitou a leitura prévia dos resultados de cada entrevista por parte de equipe de analistas do Instituto Meta e, a partir deste procedimento, a inclusão, de novas perguntas consideradas pertinentes para esclarecer pontos não suficientemente esgotados ou 11 contradições. Este mecanismo possibilitou o aprofundamento vertical de assuntos, que poderiam passar despercebidos, se não houvesse a possibilidade de retomar a entrevista em um novo momento. 1.6.3. Rastreamento das informações: Após a identificação das principais posições dos entrevistados foi realizado o rastreamento das informações retidas. Foram identificadas as fontes de informação mais importantes para a construção das opiniões manifestas, as conversações realizadas sobre o assunto, as lógicas utilizadas para alcançar as conclusões indicadas. Para cada assunto mencionado foi verificado o grau de cristalização da posição (se a opinião sobre o assunto é definitiva e dificilmente mudaria ou ainda não é definitiva e poderia mudar dependendo de novos fatos e circunstâncias). 1.6.4. Teste simulado da reação às notícias hipotéticas contrárias ao ponto de vista do entrevistado: A partir das informações fornecidas sobre os posicionamentos políticos e as fontes de informação mais e menos confiáveis, foram apresentadas notícias hipotéticas contrárias ao posicionamento do entrevistado: em um primeiro momento como sendo de fonte pouco confiável; em um segundo momento como sendo de fonte confiável e, em um terceiro momento, como sendo de toda a mídia. Foram identificadas as reações do entrevistado frente às notícias hipotéticas (aceitação da notícia, desqualificação do meio, relativização da notícia, reinterpretação das informações fornecidas ou outras). Por exemplo, quando o entrevistado manifestou-se favorável a pena de morte, foi apresentada notícia, elaborada pela equipe de analistas do Instituto Meta, que demonstra os riscos e a ineficiência desta medida. A notícia foi apresentada como sendo inicialmente de uma fonte considerada pouco confiável e depois de uma fonte considerada confiável para verificar se o entrevistado desqualificaria a notícia em função do meio e como ele reagiria frente a hipótese de veiculação da mesma notícia em um meio considerado confiável ou em toda a mídia. Esta técnica foi muito importante para identificar o grau de permeabilidade dos 12 entrevistados em relação às notícias e as possibilidades de aceitação de pontos de vista diferentes ou contrários. 1.7. Objetivos de análise A análise realizada buscou identificar as características dos perfis comportamentais individuais, estabelecendo conexão entre o contexto em que estes perfis se inserem e o comportamento das pessoas em relação à mídia. Buscou-se examinar o quanto a trajetória profissional, escolar, social e quanto a experiência sobre política e os fatores atitudinais são relevantes para explicar os comportamentos encontrados. O exame dos dados coletados objetivou, em cada tema, identificar os aspectos que serão a seguir indicados. 1.7.1. Vida profissional: O entrevistado está em uma escala ascendente, descendente ou ainda em uma situação estável? No caso de desemprego, que corresponde a uma situação limite de descenso, buscou-se observar se não se trata de algo transitório, componente de um padrão irregular ou ascendente. 1.7.2. Vida escolar: Qual é posição do entrevistado na hierarquia escolar? O gosto pela leitura e estudo é um indicativo de predisposição para o acompanhamento de notícias em jornais e revistas? O estudo sobre governo na escola indica base de conhecimento sobre o assunto e predisposições favoráveis ou desfavoráveis ao acompanhamento de notícias sobre o tema? 1.7.3. Trajetória social: O entrevistado está em uma escala ascendente, descendente ou estável em termos do seu poder aquisitivo? Foram observados também os padrões irregulares e atípicos, com o cuidado de identificar se a situação do entrevistado é transitória ou momentânea. 13 1.7.4. Experiência política: Qual o contato com a política desde o ambiente familiar e escolar? Viveu processos de desilusão, gosto e participação? Qual é o posicionamento político? Quais são os motivos explicativos deste posicionamento e das predisposições para a leitura de notícias sobre o assunto? 1.7.5. Características atitudinais: O entrevistado encontra-se em um estado de satisfação ou de insatisfação e apresenta predisposições positivas ou negativas em relação ao modo de lidar com a realidade? 1.7.6. Meios de comunicação: Quais são os níveis de acompanhamento de notícias sobre política e governo, os meios utilizados, incluindo conversações, e a avaliação da parcialidade e confiabilidade dos meios e da credibilidade dos formadores de opinião? 1.7.7. Informação sobre o governo e políticas públicas: Quais são os níveis de acompanhamento de notícias sobre governo, programas e propagandas? Qual é a avaliação sobre a parcialidade dos meios em relação ao Governo Federal? Qual é o resultado do rastreamento das informações indicadas em relação às fontes e lógicas utilizadas? 1.7.8. Posicionamento sobre os temas políticos: Quais são os níveis de informação sobre os temas políticos do momento, sobre política, situação de classe e os posicionamentos sobre os temas políticos do momento e em geral? Os resultados da análise dos posicionamentos sobre temas políticos foram agregados em conceitos mais condensados, considerando os seguintes aspectos: 1.7.8.1. Apropriação política (se informa, conhece, gosta, percebe adequadamente a sua situação social). 1.7.8.2. Percepção da política (Afetiva, moral, política, clientelística). 14 1.7.8.3. Grau de coerência política (inter-relacionamento lógico entre as posições políticas). 1.7.8.4. Perfis políticos conforme posicionamento (correspondência entre as posições sustentadas e o posicionamento político correspondente em uma escala esquerda-direita). 1.7.9. Auto-definição política: Qual é a auto-definição política dos entrevistados em uma escala esquerda-direita? Qual é a sua auto-definição tendo em vista as correntes políticas mais conhecidas? Qual é a sua preferência partidária? Os resultados da análise da auto-definição política foram agregados em conceitos mais condensados, considerando o grau de coerência política. O grau de coerência política observado nesta etapa foi agregado ao resultado da etapa anterior referente à coerência dos posicionamentos políticos. Deste modo a classificação resultante considerou as avaliações realizadas sob esses dois ângulos investigados. 1.7.10. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos: Qual é a reação às notícias hipotéticas? Quais são os graus de receptividade, resistência, incorporação de informações e as lógicas utilizadas para a interpretação das notícias? Quais critérios são utilizados para avaliar a credibilidade da notícia? Qual é a utilidade do debate e conversação? Quais são as possibilidades de mudança de opinião em função de conversas? 1.7.11. Relação do conjunto das variáveis estudadas: A partir dos resultados das questões anteriores foram relacionadas as variáveis estudadas, fatores contextuais e comportamentais, buscando explicações para os comportamentos e posicionamentos assumidos, capazes de elucidar de forma sintética os dados coletados. Pontos já observados sob diferentes ângulos foram retomados neste esforço analítico para serem contemplados conjuntamente. O posicionamento político 15 e o grau de coerência foram ser analisados de forma mais abrangente e sintética. A predisposição positiva foi considerada em diferentes aspectos. Através da análise realizada, um conjunto de hipóteses, decorrentes das perguntas formuladas, foi testado e os resultados foram sintetizados através de perfis explicativos do comportamento em relação à mídia. 1.7.12. Sugestões para a fase quantitativa: Quais perguntas devem ser feitas na fase quantitativa desta pesquisa? A partir dos resultados encontrados foram selecionados os aspectos mais relevantes a serem investigados através de um instrumento padronizado. 16 2. Caracterização dos segmentos estudados 2.1. Classe média A definição de classe média pode variar muito, assim como os critérios de classificação e estabelecimento de fronteiras. A noção foi originalmente utilizada para designar os segmentos intermediários, nem ricos, nem pobres, que se fortaleceram com o desenvolvimento da sociedade moderna, especialmente nos séculos XIX e XX. Mas como pobreza e riqueza são termos relativos que variam conforme o contexto econômico-social e o ponto de vista a noção foi muitas vezes utilizada de modo controverso. Na literatura marxista estes segmentos foram inicialmente caracterizados como “pequena burguesia”. Definições similares à classe média encontraram lugar na sociologia de Max Weber que define as classes sociais em função da situação econômica dos indivíduos. Posteriormente a teoria sistêmica parsoniana passou a utilizar a classificação de estratificação social, muito adequada à identificação de estratos médios. Aos poucos a noção de origem popular e leiga foi incorporada aos textos acadêmicos e tornou-se recorrente na literatura especializada e no jornalismo. A relevância atribuída à classe média tornou-se considerável com o crescimento quantitativo deste segmento nas sociedades desenvolvidas, especialmente no período do pós-guerra. A expansão deste segmento e de sua importância econômica alterou a percepção da estrutura social nos países desenvolvidos: ao invés da estrutura piramidal, pareceu ser cada vez mais apropriada, com a redução da pobreza e o crescimento dos segmentos médios, a metáfora referente ao formato de um losango. Simultaneamente ao crescimento de sua importância quantitativa na estrutura econômica observou-se a expansão de sua relevância política e eleitoral. Fenômeno semelhante tem ocorrido no Brasil na última década. Os segmentos médios brasileiros expandiram-se consideravelmente nos últimos anos em função do processo de expansão econômica do país e das 17 políticas governamentais que estimularam a distribuição de renda. A mudança foi detectada por vários indicadores do nível de renda e de poder aquisitivo da população (IPEA, IBGE, ABEP). As pesquisas de mercado registraram o crescimento considerável da chamada classe C (assim como da B2) e o encolhimento em proporção semelhante das classes D e E. Segundo dados da ABEP de 2007, 65,08% da população das regiões metropolitanas se encontram nas classes B2, C1, C2. Na pesquisa realizada pelo Instituto Meta em 2009 com amostra representativa do conjunto da população brasileira foi verificada proporção semelhante (64,6%). Este enorme contingente populacional situado em níveis intermediários sugeriu a propriedade da estrutura em forma de losango, a exemplo do ocorrido nos países mais desenvolvidos, para designar o novo desenho sócio-econômico da sociedade brasileira. A relevância deste fenômeno recente indicou a necessidade de um conhecimento mais profundo. A ascensão social de segmentos pauperizados para posição social intermediária pode ter estimulado diferentes predisposições comportamentais. Em que medida estes segmentos ascendentes percebem os fatores que possibilitaram esta ascensão? Em que medida eles adquirem os hábitos correspondentes a sua nova situação social? Em que medida tornam-se mais informados, ampliando a utilização dos meios de comunicação? Em que medida eles desenvolvem capacidade de conhecer e discernir os acontecimentos políticos? Em que medida eles tornam-se crescentemente autônomos em seu processo de formação de opinião? Compreender como este segmento social está se informando e construindo seus referenciais, posições, percepções, valores e atitudes é muito importante para a potencialização dos esforços de comunicação do governo federal. Para fins deste estudo, a definição operacional de classe média foi feita pelo critério de classificação sócio-econômica da ABEP, como sendo os integrantes das classes B2 e C (C1 e C2). O critério de classificação sócioeconômica da ABEP considera vários fatores e é um bom indicador de poder aquisitivo, ainda que tenha inúmeras falhas e seja um critério mais apropriado 18 para estratificação social do que para classes sociais no sentido sociológico do conceito. Entre as principais falhas destaca-se a distorção gerada pelo tamanho da família. Como a classificação atribui pontos aos bens de uso doméstico existentes no domicílio, quanto maior o número de equipamentos (televisores, rádios, geladeiras, veículos, etc.) maior a pontuação obtida. Famílias maiores tendem a ter maior número de equipamentos do que uma família composta por apenas uma ou duas pessoas residentes no domicílio. Outra distorção refere-se à pontuação atribuída. Bens que tem valores distintos (como rádio e televisor) recebem a mesma pontuação. A falta de correspondência entre bens e valores também pode ser observada pelo critério de apenas quantificar bens, sem qualificar os seus valores (cinco carros populares antigos podem custar menos do que um carro sofisticado do ano). A defasagem tecnológica é outro problema desta classificação, uma vez que equipamentos superados como videocassete são considerados como tendo a mesma pontuação de um DVD. O critério da ABEP ainda não incorporou a posse de micro-computadores como um elemento de classificação. Apesar das inúmeras falhas apontadas, esta classificação foi considerada preferencial, pois, de um lado, as distorções que podem ser individualmente grandes, tornam-se pouco acentuadas em grandes agregados, em níveis estatisticamente aceitáveis. Por outro lado, os outros critérios possíveis também tendem a gerar distorções. É o caso da definição por renda. Estudantes e donas de casa sem renda individual podem ter um padrão sócio-econômico de classe média em função da renda familiar. Não se conhece a distribuição da renda familiar por membro da família, tornando o conceito de renda familiar per capita impreciso para a finalidade de escolher pessoas a serem entrevistadas. Assim, a opção pelo critério de classes sócio-econômicas da ABEP não implica em desconsideração de suas falhas. Este critério foi considerado o melhor disponível para os fins propostos. Através dele desenha-se um universo sócio-econômico um pouco distinto daquele 19 decorrente do modelo imaginário tradicional da família de classe média. As famílias de comerciantes, pequenos empresários (“pequenos burgueses” na terminologia marxista) ou de profissionais liberais bem sucedidos como advogados, médicos, arquitetos e engenheiros costumam se situar entre as classes B e A. Se perguntarmos a eles a que classe pertencem, provavelmente dirão, que são membros da classe média. Mas pelo critério de classificação da ABEP integrarão os estratos superiores (A, B1). A correspondência feita pela ABEP entre as classes sócioeconômicas e a renda familiar mensal contribui para a compreensão desta diferença. Um casal de médicos que recebe, somando a renda dos dois membros da família, R$ 10.000,00 por mês corresponde ao perfil de classe A1. Outro casal que recebe R$ 6.500,00 corresponde ao perfil de classe A2 e outro que recebe R$ 3.500,00 ao perfil de classe B1. Todos estes casos não seriam considerados pelo critério de classe média adotado, que se refere aos componentes das classes B2, C1 e C2. Estes componentes são aqueles que têm renda familiar em média correspondente a R$ 2.013,00, R$ 1.195,00 e R$ 726,00. Um casal que recebe salário mínimo cada membro, tem renda mensal superior a R$ 726,00, estando assim incluído pelo critério adotado. RENDA FAMILIAR POR CLASSES Pontos Renda média Classe Pontos Renda média familiar (R$) A1 42 a 46 9.773 A2 35 a 41 6.564 B1 29 a 34 3.479 B2 23 a 28 2.013 C1 18 a 22 1.195 C2 14 a 17 726 D 8 a 13 485 E 0a7 277 Fonte: ABEP 2008 De acordo com este critério a chamada nova classe média integra, entre outros, segmentos de origem pobre, que viveram dificuldades 20 na infância e conseguiram se afirmar em atividades profissionais que lhes garantiram renda relativamente maior e comparativamente satisfatória. “Ah, eu trabalho desde os 7 anos de idade. Meu primeiro trabalho foi carregando trouxa de roupa na cabeça, que minha mãe era lavadeira. Aí com quase 10, 12 anos eu comecei a vender picolé, na rua. Com uns 11 e pouco eu comecei a trabalhar com obra, junto com meu pai. (...) Aí eu vim pra Salvador (16 anos) e fiquei trabalhando como pedreiro, (...) contratado mesmo. (...) Fiquei fichado na construção de 10 a 12 anos, mais ou menos, depois eu passei um período fora, no interior, e trabalhei como vendedor ambulante. Viajava muito, vendia roupas, confecções, (...) como vendedor fiquei uns 4 anos. Depois eu vim embora pra Salvador, (...) e comecei a trabalhar com obras aqui, como autônomo até hoje. (...). Antes, eu não tinha nem um colchão pra dormir. Dormia numa cama de tábua, forrava com papelão. Hoje eu já tenho uma casa, já tenho uma cama, já tenho um sofá pra repousar, então hoje eu me considero mais rico do que antes” (Homem, 40 anos, ensino fundamental incompleto, classe C2). “Minha mãe nunca estudou, mas sabia ler, foi lavadeira, depois faxineira em um clube até se aposentar. O pai estudou até a 4ª série, foi motorista a vida toda, depois de se aposentar, foi guarda. A mãe recebe aposentadoria e pensão, cada uma de 1 SM, aluga um barracão, lava e passa roupa, tem renda de uma R$ 1.000,00. Foi difícil a vida na infância, eram 12 irmãos, nunca passaram fome e estudaram, mas passaram outras necessidades. As crianças não trabalhavam, só a partir dos 13 anos (...) Meu primeiro trabalho foi de doméstica, tinha 12 anos. Aí com 16 anos trabalhei como despachante, fiquei até os 19, quando tive a primeira filha, saí por causa da gravidez, fiquei um tempo sem trabalhar ai voltei e comecei a trabalhar num clube com serviços gerais. Às vezes saía porque estava insatisfeita com o salário, porque estava cansada, ai pedia demissão e saía. Fiquei desempregada algumas vezes, mas por pouco tempo porque sempre que procurei achei. Uma vez fique por dois anos, quando tive um dos filhos em 2002. Aí fazia bicos, faxina, lavava roupa. Depois sempre trabalhei como auxiliar de serviços gerais. O último ano foi o de maior sucesso, pois estava 21 em dois empregos. Estou bem mais rica, com certeza” (mulher, 35 anos, ensino médio completo, classe C2). “Nos períodos anteriores, foi havendo uma melhora progressiva; eu dei o exemplo de melhora progressiva na renda, a situação sócio-econômica, de acordo com a moradia. Então, se no início, quando eu era bem pequena, morava numa casa de sala, quarto, cozinha e banheiro, obviamente o aluguel era mais barato do que uma casa com dois quartos (...) E dessa casa de um quarto, a gente já foi para um apartamento que era próprio; então, a renda foi melhorando. E os meus pais sempre tinham, auxiliando a renda, negócios paralelos, como a fabricação de doces. Quando eu era pequena, depois eu me lembrei, eles vendiam roupa, roupa de cama, pra complementar a renda. Então, eles sempre tinham uma atividade paralela, pra não ficar só no ordenado, que na época meu pai... só que minha mãe sempre ajudou, ela fazia limpeza de pele, depois eles vendiam roupa; então, cada época ela ajudava de uma forma. Na minha adolescência, fazendo doce, que foi a época que entrou mais grana – aí eles tinham uma fabricação caseira mesmo (doces, salgados etc.), tinha já uma clientela. E daí complementava a renda, foi daí que eles compraram uma casa, reformaram a casa, que era bem maior, tinha três quartos, 1 suíte, um banheiro, eram 3 salas, era uma casa bem maior, terraço, varanda. Depois a gente vendeu e eu vim para esse apartamento aqui, porque a casa era muito grande; minha mãe faleceu, ficamos eu e meu pai, meu irmão casou” (Mulher, 36 anos, ensino superior completo, classe B2). Portanto, a nova classe média que se está referindo abriga um contingente considerável de pessoas de origem pobre que se encontra atualmente em níveis intermediários da estrutura social. O critério adotado é técnico e tem por parâmetro os níveis de poder aquisitivo da população brasileira. Conforme este critério foram operadas, na última década, alterações na estrutura sócio-econômica com a passagem de contingentes consideráveis de pobres situados nas classes D e E para níveis intermediários (classes C e B1). O objetivo deste estudo é conhecer em maior 22 profundidade as características desta nova classe média, seu modo de perceber a política e seu comportamento em relação à mídia. 2.1. Juventude A noção de jovem é distinta conforme o ambiente cultural e social, variando com o tempo, contexto, condições tecnológicas da sociedade, hábitos predominantes, desenvolvimento dos mecanismos de preservação da saúde e expectativa de vida da população. Em sociedades guerreiras e pouco desenvolvidas, que dispunham de precários conhecimentos sobre medicina e frágil ou inexistente estrutura de tratamento das doenças, a expectativa de vida média da população não ultrapassava 30 anos. O período da juventude, neste contexto, correspondia a uma fase muito breve, pois as responsabilidades da vida adulta eram desde muito cedo assumidas e o tempo de vida se encerrava precocemente. A própria noção de juventude, tal como conhecemos hoje inexistia nestes contextos. Esta noção é produto do desenvolvimento da sociedade moderna industrial e de seu sistema educacional. A partir do período em que se restringiu o trabalho de crianças e adolescentes e em que se expandiu a universalização do direito à educação, reservando-se, para a fase da infância e juventude, o período de formação escolar, formou-se a noção cultural de juventude das sociedades ocidentais. O jovem passou a ser visto como aquele que se encontra ainda desobrigado das responsabilidades adultas, muitas vezes ainda sustentados pela família, em uma fase intermediária de formação educacional, preparativa para o ingresso no mundo profissional. A imagem do jovem foi associada aos signos da ousadia, impetuosidade, ingenuidade e rebeldia. Inexperiente, ainda não tendo vivido as mazelas da vida, tende a ter maior disponibilidade e abertura ao novo, não medindo as conseqüências de seus atos orientados por intenções e desejos de liberdade e melhorias individuais e coletivas. Assim, tende a atuar como agente de rompimento de hábitos e costumes sociais e de promoção de 23 inovações comportamentais e culturais. Esta imagem consolidou-se na metade do século passado nas modificações nos costumes, no vestuário, na criação artística e musical, na relação entre homens e mulheres, nos movimentos políticos, cujo principal paradigma é a década de 1960. Ao jovem foi atribuída a imagem de rebelde, mudancista e sonhador. Esta imagem muitas vezes se mostrou irreal, considerando que os grupos mais ativos correspondiam a uma parcela, por vezes, reduzida do conjunto das pessoas que compunham aquele segmento etário e que este processo mostrou ter caráter cíclico. Insucessos e desilusões reforçaram comportamentos conformistas e a reprodução de hábitos e valores tradicionais. Com o desenvolvimento das sociedades contemporâneas houve considerável alargamento do grupo etário considerado jovem. A elevação da expectativa de vida da população (alcançando a faixa de 70 a 80 anos nas sociedades desenvolvidas), resultante do desenvolvimento da medicina e da estrutura de atendimento e preservação da saúde, o prolongamento do período de formação educacional, a permanência dos filhos na casa dos pais até idades mais tarde (ultrapassando, em muitos casos, a faixa dos 20 anos), o retardamento do período de constituição de família, a maior flexibilidade e fluidez das relações entre homens e mulheres possibilitando a prática sexual sem casamento, entre outros fatores, estão provocando a ampliação do período da chamada juventude. Para fins operacionais deste estudo, serão consideradas as faixas etárias entre 16 e 24 anos. Esta definição buscou recortar o período mais característico da chamada juventude, ainda que definições mais elásticas também possam ser consideradas aceitáveis. Constituem um marco inicial os 16 anos em função da referência de reconhecimento de cidadania decorrente da possibilidade legal de votar. Supõem-se maturidade mínima necessária para a formulação de juízos sobre a sociedade. O limite de 24 anos buscou considerar as fases de mudanças comportamentais. Esta idade supõe ingresso no mercado profissional. Ela é suficiente para a conclusão da formação em nível superior de escolaridade. Também sinaliza o processo de assunção de responsabilidades da vida adulta. A faixa entre 16 e 24 anos 24 abrange uma variação comportamental considerável. Por isto, é necessário subdividir esta grande faixa em intervalos menores e contemplar esta subdivisão na escolha dos entrevistados. A fase de transição chamada juventude é um momento extremamente importante nos processos de definição dos referenciais valorativos e atitudinais a serem adotados posteriormente. A crescente identificação e utilização intensa por parte dos mais jovens das novas tecnologias da informação têm diferenciado ainda mais este segmento do ponto de vista da linguagem e do comportamento. Os termos utilizados, as percepções do mundo, as formas de relacionamento, as lógicas subjacentes às ações, constituem um universo distinto do ponto de vista comportamental. Há uma grande barreira de comunicação entre este universo e o mundo político formal governamental. Assim, conhecer em maior profundidade o modo como este segmento se informa e utiliza as informações obtidas também é fundamental para os mencionados esforços de comunicação do Governo Federal. 25 3. Fatores contextuais 3.1. Trajetória social De alguma maneira o meio social forma predisposições comportamentais. O background escolar e profissional, o poder aquisitivo, a inserção na hierarquia social e a ascensão ou descenso social influenciam a conformação de posicionamentos políticos e de comportamentos em relação à mídia. Contudo, esta influência não é direta nem linear, não ocorrendo, necessariamente, em uma relação de causa e efeito. 3.1.1. Classe Média A trajetória social dos indivíduos deste segmento mostrou-se influente nos casos em que o declínio econômico reforçou a percepção negativa dos políticos e da política, a desilusão com o mundo político e a rejeição ao acompanhamento dos noticiários sobre política e governo. É o caso de um pequeno empresário, separado da esposa recentemente, que sofreu descenso financeiro e não se interessa por nada a não ser seu trabalho. Afastou-se inclusive dos meios de comunicação, à exceção da Internet. Vive imerso no mundo financeiro. Está desiludido com o governo porque não fez a reforma tributária. Responde processo por não pagar os impostos. Anteriormente votava no PT, hoje critica os partidos e não se alinha a nenhum. Atribui o seu desinteresse pela política à experiência negativa vivida no período militar. Sua trajetória indica que o insucesso no mundo empresarial, o descenso financeiro e o processo judicial referido contribuíram para a cristalização de uma percepção negativa que acentuou o desinteresse por assuntos sobre governo. A gente não sabia de nada, então a gente, a minha geração, foi criada um pouco alienada. Porque a gente era tolido das informações, então qualquer coisa que se 26 falasse você já era. Não sei se foi por isso, talvez por falta de interesse mesmo. Mas hoje eu tenho muito é desesperança mesmo. Atualmente, praticamente eu não assisto, muito pouco, principalmente canal aberto, eu não tenho assistido não. Ultimamente eu não estou vendo nada de televisão. Você liga a televisão é só falando de merda, de violência, de desastre, sabe, é uns trens (...) Ai você pega um Jornal Nacional você vai filtrar uns 20, 30% das informações são interessantes o resto é (...) Ai fica misturando com esses assuntos de política que eu não gosto, de violência. Então acabo não me dedicando muito tempo. Aí você pega um mais, lá no 42, não no 42, na Globo News, aí é um trem especifico mesmo, mas aí as vezes fica encompridando demais o assunto. Então eu não tenho muito saco não, por isso que eu falo pra você, quando eu ligo a televisão eu fico zapiando” (Homem, 47 anos, nível superior completo, classe B2). Contudo, a trajetória declinante nem sempre esteve associada à percepção negativa do mundo político e à rejeição ao acompanhamento da mídia. No caso de um indivíduo em situação difícil, há grande acompanhamento dos noticiários dos meios de comunicação e a emissão de juízos positivos sobre os acontecimentos relacionados ao país e ao governo na atualidade. Desempregado há 5 meses, sem receber mais o auxílio desemprego, fez alguns vestibulares sem sucesso, está sendo atualmente sustentado pela esposa. Atualmente passa em torno de 15 horas em frente da televisão, assiste a todos os noticiários, lê jornal e revistas todos os dias, canaliza sua atenção às informações sobre os acontecimentos em todos os terrenos, abrangendo a política. É bem informado e tem opiniões bem elaboradas sobre os assuntos políticos e do governo. “Excelente, melhorou muito, quem diria que há alguns anos você ouviria falar que o Brasil pagou a dívida externa, que o Brasil é credor. (...) O Brasil é respeitadíssimo, é o ponto de equilíbrio do continente americano, os Estados Unidos é a potência, mas o ponto de equilíbrio é o Brasil, onde você ia ver que o Brasil tem a 4ª maior empresa aérea do mundo, você vê que nós tivemos uma quebra na 27 economia mundial (...) que aqui não afetou muito, antigamente o Brasil entrava em crise, em colapso (...) o homem tem 80% de aprovação do povão” (Homem, 37 anos, segundo grau completo, classe C1). Por outro lado, a situação econômica relativamente melhor e a predisposição profissional positiva indicou um comportamento mais receptivo ao mundo político e às notícias veiculadas pela mídia. A posição social mais elevada e a vontade de ascender socialmente estão relacionadas a uma posição favorável ao status quo e a aceitação do estabelecido, abrangendo o sistema político e os meios de comunicação. Ao invés de uma crítica generalizada aos políticos, há o reconhecimento da sua importância e a diferenciação entre bons e ruins. Do mesmo modo, há maior confiança nas informações fornecidas pelos meios de comunicação e a distinção dos meios mais confiáveis, evitando-se críticas generalizadas. É o caso do retocador eletrônico que faz photoshop para um grupo de fotógrafos como autônomo. No seu entender, a sua situação financeira atual é melhor em relação à infância, ainda que nesta fase seu padrão de vida era médio, sempre teve tudo que necessitou. Pensa que está no caminho para atingir os seus objetivos profissionais e de vida. Acompanha os noticiários em geral e, entre estes, as informações sobre política e governo. Mostrou elevada aceitabilidade ao sistema político atual, acreditando inclusive na inocência de representantes políticos atualmente denunciados como corruptos como Sarney, e manifestou confiança em meios de comunicação tradicionais como o jornal Estado de São Paulo e a TV Globo. Mesmo reconhecendo que a TV Globo realiza algum tipo de manipulação da opinião (como todos os meios), confia na veracidade das informações fornecidas, especialmente pelo Jornal Nacional. “Acho que mantive o crescimento (...) comparando com minha infância acho que tô um pouco melhor. (...) Acho que a gente é influenciado pela Rede Globo, não que eu não goste, mas acho que a gente é influenciável, o Brasil 28 só tem uma grande e é imbatível, nos Estados Unidos têm três. (...) Na TV, o Jornal Nacional acho que é o que mais confio, nem a Veja eu confio tanto. (...) Muitas pessoas envolvidas tem que ter uma apuração melhor, acho que tá tendo ou vai ter, a gente fica revoltado pelas coisas que acontecem (...), acho que ele (Sarney) tinha que ser melhor apurado eu confio nele, não culpo ele, acho que ta envolvido mas foi influenciado por assessores. Ele assinou uns papeis talvez ele nem ficou sabendo, de empregados dele mas ganhando salários altos do Governo mas da forma que eu vi na TV acho que a corrupção do grupo dele, acho que talvez ele não sabia o que tava assinando, eu acreditei nele” (Homem, 34 anos, nível superior completo, classe B2). Mesmo no caso de um nível econômico relativamente mais baixo, a ascensão social pode desempenhar um papel importante nas predisposições comportamentais em relação à política e à mídia. Quando compreendida como decorrente de políticas atuais de redistribuição de renda, a ascensão social constitui relevante elemento motivador de posicionamentos favoráveis ao atual governo. Esta posição convive em esquemas perceptivos que mantém a crítica à política e aos políticos em geral. Àqueles que passaram de uma situação de pobreza para uma condição social um pouco melhorada, em nível intermediário na estrutura social, também modificaram os seus hábitos de informação, ampliando o acompanhamento às notícias, incluindo as políticas. É o caso do pedreiro que teve infância pobre, passou dificuldades na vida, ficou desempregado quando nasceu o seu segundo filho, mas depois sua situação foi melhorando e atualmente se encontra em sua situação mais confortável. Acompanha muito os noticiários sobre política e governo, encontra-se relativamente bem informado sobre estes assuntos, reconhece a importância dos programas do Governo Federal para a melhoria da vida da população brasileira e apóia o Presidente Lula. “Assisto todos os jornais dos canais de TV (...). Nas rádios ouço programas sobre religião e música. (...) Leio jornal 29 dos vizinhos de vez em quando, umas três vezes por semana. Não gosto do jornal A Tarde porque camufla a notícia. Leio Veja, Época e Contigo. (...) Na Internet, entro em blogs evangélicos todos os dias, Orkut, MSN e e-mail, uma hora por dia. Falo sobre política com a família, com vizinhos e com colegas de trabalho, umas duas a três vezes ao mês.(...) O PAC e o Bolsa Família estão melhorando a vida do povo. (...) Voto também pro presidente Lula. Porque ele era um homem pobre, né? Metalúrgico. Nunca teve um diploma, o primeiro diploma foi o de presidente. Então pra mim isso é gratificante. O Jacques Wagner também (...) porque eles realmente tão fazendo muitas coisas boas pra população mais menosprezada” (Homem, 40 anos, ensino fundamental incompleto, classe C2). A estabilização em um nível sócio-econômico baixo tende está associada à manutenção de graus baixos de informação e de uma percepção mais acentuadamente negativa da política e dos políticos, através de uma crítica generalizada e reducionista, que não diferencia o governo atual dos anteriores e não percebe possibilidades de mudança. A desilusão e descrença nestes casos são mais pronunciadas. Mesmo quando há grande exposição à mídia, a desilusão, o desinteresse e a descrença conduzem a não absorção dos conteúdos divulgados. É o caso de uma mulher, cozinheira em casa de família, sem carteira assinada, que não se interessa por política, conhece muito pouco as políticas e programas de governo. Não obstante, assiste TV quase o dia inteiro, em torno de 11 horas por dia. “Juntando tudo faz só um quebra cabeça. Pra mim é tudo igual, junto uma coisa daqui outra dacolá e vou tentando entender” (Mulher, 31 anos, segundo grau incompleto, classe C2). A trajetória da vida escolar desde a infância indica níveis de conhecimento e informação que podem predispor ao acompanhamento de notícias e informações sobre temas políticos. O acesso aos pensamentos políticos, formas de governo, voto, atribuições de presidente, prefeitos e deputados podem despertar o gosto pela informação sobre o tema. A valorização do estudo como fonte de conhecimento, de preparo para 30 enfrentar a vida quotidiana e para a disputa no mercado de trabalho pode ser motivadora de leitura e aquisição de conhecimento. É o caso de um entrevistado que não gosta de política, nem de discussões políticas, mas, em virtude de sua formação escolar, gosta de ler e estudar sobre vários assuntos. Assim, é bem informado e conhece as políticas sociais do governo. “É do estudo que tiramos o aprendizado para a vida do cotidiano, com a família, com os amigos enfim prá tudo inclusive para a vida profissional. (...) Sem leitura vivemos bitolados no mundo sem sonhos e sem perspectivas. (...) Eu gosto muito de assistir a TV Record ou Globo, sempre nos programas informativos, como telejornais. ( ...) As rádios da capital estão sempre deixando o cidadão bem informado sobre todos os políticos da região e do Brasil. (...) Sempre acompanho (notícias sobre o governo federal). No ultimo mês fiz questão de saber como ia acabar a confusão no senado por causa do Sarney, todas as vezes que eu ligava o rádio sempre aparecia alguma novidade sobre o caso. Como eu previa não deu em nada, como sempre, acabou tudo em pizza. (...) Eu fiquei muito curioso para saber sobre o programa Minha casa minha vida, estava sempre vendo na televisão as novidades e acho que o governo Lula acertou em cheio com este programa pois ele vai beneficiar o mais carentes” (Homem, 27 anos, segundo grau incompleto, classe C1). 3.1.2. Juventude Poucos jovens manifestaram interesse em se informar sobre governo e política. Os jovens que manifestaram interesse são oriundos de famílias que se encontram em uma trajetória social ascendente, e apresentaram uma predisposição positiva em se informar, que também engloba política e governo, e um posicionamento político favorável, se não à política de um modo geral, mas ao atual governo. “Hoje estou mais „rica‟, no passado as coisas eram mais humildes. Acho que agora o Brasil está começando a se igualar, antes dava para ver quem era rico e quem era pobre e hoje o rico não é mais rico, a não ser os políticos. Os pobres estão podendo ter, através de financiamentos e coisas que o governo está proporcionando, ter uma casa 31 decente para morar. Acho que as coisas estão melhorando, o pobre já não é tão pobre e o rico já não é tão rico” (Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto, Casse B1). Estudos sobre temas sociais também podem ser fator que desperte predisposições favoráveis na busca por informações sobre o governo e maior aceitação do conteúdo comunicado. Quando o jovem consegue aproximar a sua realidade com estes conteúdos, atribui importância ao que lhe é comunicado. “(...) sem meus conhecimentos como eu poderia entrar em contato com meus clientes por e-mail, fax, fazer cálculo de custos ou sequer falar corretamente com eles. E na minha vida social, como eu poderia falar com meus amigos sobre globalização se não soubesse do que se trata?! (...) Estudei (sobre política e governo) por vários anos do segundo grau. Principalmente em sociologia e história (...) gostei, porque foi através delas que eu aprendi sobre outras sociedades e de suas formas de lidarem com seus governantes” (Homem, 18 anos, Ens. Médio Completo, Classe C2). “Até hoje eu estudo, em sociologia e historia moderna e contemporânea. (Gosto) porque me mostra como se deu a criação do país e como foi feito todos os processos de governabilidade não só do Brasil, como do mundo todo, de antes até hoje” Pedro (Homem, 19 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2). Apesar de a maioria dos jovens manifestar predisposição positiva a se informar sobre assuntos diversificados, esta tendência não é observada sobre os temas política e governo. Entre alguns jovens o gosto pela leitura e estudo indicou predisposição para a leitura de livros, jornais e revistas e elevado grau de informação. No entanto, a tendência geral observada entre os jovens pesquisados é de predisposição negativa a se informar sobre governo e política, independente de sua trajetória social. 32 É o caso de jovens de classe alta, bem informados, que acompanham os meios de comunicação com regularidade, dedicados aos estudos, com trajetória social ascendente e satisfação com a sua trajetória profissional atual, que demonstram predisposição negativa a informar-se sobre governo e política. “Gosto (de estudar) a gente fica com uma cabeça mais aberta, a gente aprende, você tem assunto, você sabe o que falar. (No colégio) tirava notas altas, sempre estudei muito, porque gosto de estudar. (Os estudos são importantes) profissionalmente, até mesmo pessoalmente, até mesmo para você saber como se conduzir diante da sociedade, como falar. (Já estudos sobre governo e política) não estudo e não gosto. As vezes eles (professores da faculdade de Direito) falam de política de governo, mais nada muito direcionado” (Mulher, 20 anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1). O descenso social, presente na trajetória familiar de alguns jovens, mostrou-se influente nos casos em que o declínio econômico reforçou a percepção negativa de mundo. Como no caso de um jovem, que atualmente está desempregado, é sustentado pelo pai e avalia sua situação atual como ruim, por não ter recursos financeiros para suprir suas necessidades. Este jovem credita o atual momento vivido ao desemprego, fruto das péssimas condições do país. Atualmente não está procurando emprego por acreditar que não há, ele esclarece que já procurou emprego e não encontrou. Afirma que antes de se qualificar não adianta procurar emprego, mas até o momento não está realizando nenhuma atividade que lhe traga qualificação. A predisposição negativa às informações sobre governo e política está marcada, principalmente, pelo desinteresse sobre os temas da política ou pela desilusão política. Esta tendência, também observada no segmento de classe média, mostrou-se mais acentuada na juventude. Os fatores explicativos podem estar relacionados ao curto período que compõe a trajetória destes indivíduos ou às características do momento geracional vivido. 33 3.2. Experiência política A experiência política contribui para a compreensão do posicionamento político dos indivíduos. Experiências negativas podem, desde cedo, conduzir à desilusão e a uma posição crítica e avessa aos políticos e à política. As posições predominantes no ambiente familiar podem formar, pela via afetiva, predisposições favoráveis, quando o indivíduo estabelece uma relação positiva com os familiares. A situação inversa também é encontradiça. A ausência de experiência política, por sua vez, pode provocar distanciamento e indiferença. 3.2.1. Classe média As relações familiares constituem importante fator conformador de posicionamento político. É o caso de entrevistado adotado por família que, em função da liderança exercida pelo pai, votava unida em Maluf. Aprendeu a gostar de Maluf através do pai. Em função da forte ligação afetiva ao pai manteve apreço por Maluf e suas idéias. Embora o entrevistado nunca tenha se envolvido em política, o pensamento da família sempre esteve presente em seus posicionamentos até a atualidade. A defesa de posições malufistas sobre vários temas convive contraditoriamente com posicionamentos distintos e, por vezes, contrários. Contudo, a referência foi mantida, mesmo em um período de declínio do malufismo. As relações familiares também exerceram considerável influência no caso de um bancário que desenvolveu o gosto por política e pela informação sobre o assunto através de conversas com seu pai, muito envolvido politicamente, com quem conviveu intensamente no cotidiano. A via afetiva foi muito relevante para a predisposição à informação sobre política e à emissão de juízos positivos ao atual governo. 34 “Eu tinha um tio que gostava muito da Arena e papai era mais do lado do MDB, mais democrático. Não gostava de Costa e Silva (…) Quando a gente percebia que Dom Pedro não era o Dom Pedro, que Tiradentes não era o Tiradentes, passava de uma forma que a gente tinha que engolir daquela maneira. (...) Adquiri o hábito de leitura com o pai quando criança (...) Brasil deu salto e é um país mais respeitado. (...) Os programas e ações do governo são positivas porque mudaram a história do país e produziram desenvolvimento. (...) Minha maior satisfação é ver hoje doutores reconhecendo que nem só título vale tudo, como no caso Lula” (Homem, 47 anos, nível superior incompleto, classe B2). A experiência política, quando positiva, tende a estimular o desenvolvimento de maior interesse em acompanhar notícias sobre assuntos políticos, entre os quais os governamentais. O bancário referido desenvolveu larga experiência política, em função de uma predisposição favorável decorrente da convivência paterna e consolidada através de duas atividades no âmbito profissional. Através desta trajetória, passou a conhecer o cenário político e governamental, se apropriar dos termos especializados da política, identificar os interesses em disputa no jogo político e se posicionar sobre os temas mais relevantes. Possui atualmente elevado grau de conhecimento dos programas e as ações de governo, bem como de notícias e propagandas veiculadas pela mídia. Fez referência as ações do governo: Duplicação das estradas, Programa Luz para todos, Pré-sal, Substituição do Óleo diesel, Energia alternativa, Notícia sobre barreira comercial, Comércio da laranja, Valorização do açúcar no mercado internacional, Extradição de estrangeiros, Intermediação de Lula em conflitos nos países da América Latina e Redução do IPI. Acompanhou as propagandas sobre a Petrobrás, sobre cidadania (direito do cidadão em ter sua documentação) e recuperação de rodovias. Entre os principais assuntos políticos por ele mencionados destacaram-se as 35 próximas eleições presidenciais de 2010. O entrevistado mostrou entender a situação da disputa eleitoral, discorrendo sobre os principais agentes políticos envolvidos: a candidatura da Dilma (apoiada pelo Lula), a candidatura do PSDB (“Aécio não vai decolar e o candidato será Serra”) e Candidatura de Marina Silva pelo PV (“perigosa para o PT”) e a candidatura de Ciro Gomes (“ainda indefinida”). Também comentou a crise no senado, a gripe A H1N1, a proposta da volta da CPMF, a situação de saúde de José Alencar. Por outro lado, a relação inversa também foi observada. Pessoas que tiveram experiências negativas ou experiência alguma sobre política tendem a acompanhar menos os acontecimentos do mundo político, tendo menor base de informações para formar juízos sobre o significado dos mesmos. É o caso de uma de origem humilde, submetida ao voto de cabresto pelo mando do pai. Não se sentia confortável e negava o comportamento pai. Sua experiência negativa com a política, através do pai, gerou um distanciamento com a área e um desinteresse em se informar sobre o assunto. Atualmente não tem familiaridade alguma com políticas, programas e ações sociais do governo. “Eu lembro que era meu pai quem determinava em quem minha mãe e meus irmãos mais velhos iam votar. (...) Eu votei em quem eu achei que ia ser o certo. (...) Meu pai ainda chegou a falar – ah, tem que votar em – mas eu falei não, isso não existe, eu vou votar em quem eu acho entendeu? Este foi o voto com mais gosto. Foi este, de tirar aquela ditadura que vinha desde o tempo dos meus pais”. “Não acompanho notícias sobre o Governo Federal. Não conheço nenhuma ação, nenhum programa do governo e nem ouvi falar. Não tenho uma opinião (sobre o Governo Federal). Sobre a crise no Senado eu ouvi, mas não consegui focar nada não, sinceramente, eu não parei pra ver” (Mulher, 32 anos, nível superior completo, classe B2). 36 3.2.2. Juventude As experiências políticas também se mostraram influentes na formação de predisposições comportamentais dos jovens. Em alguns casos a forte presença do tema da política no ambiente de convivência familiar e o vínculo afetivo positivo entre o jovem e os parentes politicamente posicionados resultaram em escolhas políticas convergentes. Contudo, a opção política por um partido, candidato ou corrente política, não significa, necessariamente, ação política engajada e percepção positiva da política. É o caso de um jovem que recorda de conversas sobre teorias políticas de esquerda em seu ambiente familiar e afirma que este ambiente contribuiu muito para as suas escolhas. “Meu pai e minha irmã mais velha foram pessoas muito importantes pra ajudar a construir minha consciência política. Se não fosse por eles acho que não teria nenhuma consciência verdadeira” (Homem, 22 anos, Ensino Superior Completo, Classe A). No entanto, para este mesmo jovem, as percepções atuais são negativas sobre a política, causadas pela desilusão decorrente das ações dos políticos. Afirma que atualmente se informa e envolve menos com o assunto. “Raramente converso, estou desiludido. Acho tudo muito parecido, tudo muito conveniente, tudo muito corrupto. (...) Com o tempo parei de vibrar com isso. Sempre costumo votar no mesmo partido, mas o candidato importa menos” (Homem, 22 anos, Ens. Superior Completo, Classe A). A percepção mais recorrente entre os jovens pesquisados remete à visão negativa da política. A presença do tema da política é mais intensa em períodos eleitorais e adquire forte conotação pejorativa. “(Na família) todo mundo só conversa de política quando tá passando o horário de política e quando ta chegando 37 perto das eleições, (...) brigando dizendo que não presta (...)” (Mulher, 16 anos, Ens. Médio Incompleto, Classe B2). Uma das entrevistadas comentou que em sua escola havia conversas sobre política entre os alunos, mas devido ao seu desinteresse, procurava se afastar nos momentos em que o assunto estava sendo discutido. “(Conversa sobre política na escola) Às vezes, assunto bobo, acho política um saco, eu acho, não gosto (...) Eu sempre ficava longe, como esse assunto não me interessava, então eu não ficava perto, se alguém estivesse conversando sobre política eu saía” (Mulher, 22 anos, Ens. Médio Incompleto, Classe C1). Interessante observar que esta mesma jovem participou de política, trabalhando nas eleições distribuindo panfletos para um comitê. Seus relatos sobre estes momentos são positivos. As experiências mais diretas podem contribuir para alterar a percepção negativa sobre o tema político, desde que estas experiências façam sentindo para a pessoa, como no caso da referida entrevistada, em que um posicionamento clientelista não lhe causa estranhamento. “Me chamaram pra ajudar, eu fui; algumas partes eu gostava sim, porque a gente ouvia, muitas vezes os vereadores iam lá e falavam a verdade realmente, que ajudava, que fazia, eu via que isso acontecia, porque eu conhecia” (Mulher, 22 anos, Ens. Médio Incompleto, Classe C1, Interior do Rio de Janeiro). O desgosto e o desinteresse pela política, recorrentes entre os jovens entrevistados, podem estar associados à falta de informação e identificação com o tema. A fala do jovem residente em Goiânia transcrita a seguir indica a ausência de uma maneira atrativa de se comunicar com este público. 38 “Apesar de que eu falo que não gosto de política é porque eu não entendo de política (...) Acho que não tem direcionamento da política para os jovens” (Homem, 16 anos, Ens. Médio Incompleto, Classe C1, Goiânia). 3.3. Características atitudinais A experiência de vida e os fatores psicológicos conformam características atitudinais que podem ser relevantes para a compreensão dos comportamentos. 3.3.1. Classe Média Neste segmento, as características atutitunais mostraram-se mais influentes para o delineamento de comportamentos políticos e em relação à mídia. Atitudes mais críticas se mostraram, por vezes, associadas à posição crítica na estrutura social ou à grande insatisfação com a situação vivida. Pessoas que se encontram satisfeitas tendem a querer manter as condições que possibilitarem esta satisfação em todos os terrenos. Se a satisfação for associada à ação de um governante a atitude correspondente se manifesta através de apoio político. É o caso do indivíduo que assumiu uma posição política à esquerda (então oposição e crítica ferrenha ao Governo Federal) na época em que cursava universidade, dispunha de poucos recursos e vivia a instabilidade própria da transição à vida adulta e depois dos 30, quando melhorou a sua remuneração e formou família com filhos, passou a assumir uma posição mais conservadora, inclusive na área política. “Votei no PT dos 18 praticamente até os 30. Em determinado momento começaram a haver aqueles conchavos e eu não votei mais. Tenho muito azar com meus candidatos, na última eleição votei no Júlio 39 Rendecker que morreu no acidente da TAM, era um cara muito sincero. (...) Votei no Simon para senador, deputado federal Julio Rendecker, na última eleição acho que não votei no Simon e sim no Paim e o Paim anda muito quieto, acho que ele poderia ter mias presença nessa bandalheira que estão fazendo com o Sarney na TV. Em Canoas votei no Jairo Jorge para governadora votei na Yeda. As duas vezes que o Lula perdeu eu votei nele e dessa vez votei no Alckmin. Não é o Lula que governa, ele é assessorado, ele tem o mesmo discurso para diferentes situações, ele é muito bom de retórica. Vamos ver se consigo na próxima eleição eleger o Serra ou o Alckmin. (...) Sou conservador. Votei muitos anos no PT, mas sou muito conservador. Acho que as mudanças propostas têm que ser mais estudadas (...) não cair no liberalismo (nem) no populismo: fazer farra com dinheiro público. Acredito que o conservador é mais mão fechada” (Homem, 44 anos, nível superior completo, classe B2). Experiências de vida negativas engendram, conforme a reação das pessoas, características atitudinais também negativas que se refletem nas percepções da política e no comportamento em relação à mídia. Perdas, desavenças, abalos emocionais podem reforçar o sentimento de impotência política e a crença sobre a inutilidade de se informar sobre tais assuntos. É o caso do entrevistado que viveu na infância e adolescência profundo desgosto, resultado do abandono da família pelo pai. Essa situação gerou insatisfação e desencanto que marcaram sua personalidade e se refletem em sua percepção negativa da política e em seu desinteresse em acompanhar noticiário sobre o assunto. “Particularmente porque eu não acreditava que era uma coisa boa. Eu achava que todos que participavam se corrompiam. Eu tinha uma cabeça assim...”.. “Não sou admirador da política brasileira e política internacional (...) prometem, prometem e nada. O povo é carente, cheio dessas promessas (....) o cumprir dessas promessas não acontece. (...) Uma questão que eu vejo falho na política hoje é essa questão do Bolsa escola, Bolsa família, isso é para deixar o pai de família, de certa forma, acomodado. (…..) Desculpe a expressão, que recebem uma miséria, 40 hoje em dia a classe média tem 5, 6 filhos dentro de casa e recebe em torno de 200 e vai trabalhar para que?” (Homem, 26 anos, nível superior incompleto, classe B2) Percepção negativa em relação à política e predisposição negativa ao acompanhamento de noticiários sobre o assunto também são evidentes no caso de entrevistada de 21 anos que possui um filho de 4 anos e encontra-se, desempregada a um ano e seis meses, não tendo profissão ou habilidades profissionais específicas. Abalada por problemas e conflitos deste a infância, marcada pela pobreza e pela separação dos pais, atualmente sem namorado, construiu uma percepção muito negativa sobre o mundo e, particularmente sobre a esfera política. Mostrou-se refratária à política e aos políticos, mantendo uma posição distante, não acompanhando os noticiários, não se interessando sobre estes assuntos, não conversando sobre os mesmo, e se recusando a qualquer exposição às notícias. Costuma retirar-se da sala no horário político eleitoral e acessar a Internet no horário do Jornal Nacional. “A gente sempre viveu mais ou menos, (...) porque meu pai nunca deu aquele valor certo, (...) e como eu sempre morei com minha mãe, o pouco dinheiro que ela ganhava era pra me manter, manter uma escola particular pra mim, e manter a vida dela. Então a gente sempre viveu muito regrado. (...) a gente dependia de minha avó. (...) Foi um período em que minha mãe não tinha condição de pagar o aluguel, a gente ficou morando numa casa de meu pai, lá em Periperi (um dos bairros mais pobres de Salvador). Foi muito ruim, a gente ficou dependendo de meu pai, meu pai passando na cara, uma casa que era dele, e que a gente tava vivendo lá. Foi a pior situação pra mim. Foi eu ter que estudar em uma escola que não era boa, no subúrbio. E a gente teve muita dificuldade financeira, muita mesmo. (...) A maioria das conversas eram em época de eleição. (...) Eu não lembro de nada, porque eu nunca me envolvi com política. Eu nunca gostei, eu nunca pesquisei (...) A gente vê eles fazendo tanta promessa, tanta coisa (...) e quando a gente pára pra vê, não é nada daquilo, (...) não cumpriu nada que prometeu. (...) São os 41 políticos de uma forma geral, (...) então eu não me interesso e nem procuro saber. (...) É o Brasil acomodado, (...) o povo se acomoda, o povo não se junta. (...) Se o povo se juntasse pra agir, com certeza seria um país melhor, (...) mas não acontece porque todo mundo é acomodado. (...) Não tô ouvindo nada sobre política. Nada. (...) Não tem jeito não. (...) Eu não me interesso, não vem nada sobre política na cabeça” (Mulher, 21 anos, nível superior incompleto, classe B2). 3.3.2. Juventude As características atitudinais dos jovens pesquisados se mostraram menos influentes na definição de sua percepção sobre a política. Isto ocorre, principalmente, por estes indivíduos apresentarem maior distanciamento dos assuntos políticos. Alguma relação entre características atitudinais e posicionamento político encontrada refere-se à satisfação do entrevistado com sua realidade atual e a percepção favorável à política. É o caso do jovem de 19 anos, que atualmente mora com um amigo, está procurando emprego, é sustentado pela família e afirma estar satisfeito com sua vida, por estar abrindo os olhos para a realidade. Acredita que alguns políticos pensam no futuro das pessoas e não apenas em si mesmos e isto lhe agrada. Demonstra simpatia pelo PT e acredita que o atual governo está atuando em prol das classes de menos poder aquisitivo. “Devido ao PT oferecer melhores propostas, não se voltar só para as pessoas mais ricas e sim voltado para ações sociais, para os pobres” (Homem, 19 anos, Ensino Médio Completo, Classe C1). As características atitudinais também indicaram formas de comportamento em relação à mídia. Os jovens que apresentaram características atitudinais proativas e que se encontram satisfeitos com a sua 42 realidade atual mostraram predisposição a se informar e interesse em buscar mais informações sobre assuntos que lhes chamam a atenção na mídia. É o caso da jovem empreendedora, que abriu uma lan house em sua residência há aproximadamente um ano e meio, e atualmente utiliza os meios de comunicação com intensidade. Esta jovem afirma que através da Internet e da televisão busca informações que lhe possam ser úteis e que lhe agreguem conhecimentos. Costuma entrar nos sites do governo para verificar os programas disponíveis e se em algum é adequado ao perfil. “(...) olho muito os sites do governo para ver se tem alguma coisa que me interesse, site da educação, Previdência social também eu vejo bastante para meus clientes e fico olhando. Acesso sites do governo umas duas ou três vezes por semana para ver se não tem alguma coisa nova, algum benefício que possa me beneficiar como empresária. Agora fizeram um projeto para o micro-empreendedor pagar menos impostos...” (Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto, Casse B1). 43 4. Percepção do mundo político 4.1. Apropriação política A apropriação política corresponde ao conhecimento do mundo político, à capacidade de utilizar adequadamente os termos políticos, de entender quais são os agentes mais influentes no cenário político, quais interesses estão em jogo e qual é a lógica subjacente a conformação dos posicionamentos assumidos pelos diferentes agentes. Os mais apropriados são aqueles que gostam de política, se interessam pelos assuntos relativos ao tema, se informam sobre os acontecimentos neste terreno, conhecem os principais motivos das disputas, e entendem a sua posição na estrutura da sociedade e no tabuleiro político, assumindo posicionamentos em conformidade com os seus interesses. 4.1.1. Classe média Poucos entrevistados mostraram-se politicamente apropriados. Foram situações pouco recorrentes, correspondentes ao perfil de pessoas mais envolvidas politicamente. Estas pessoas politicamente apropriadas acompanham as notícias sobre política e governo e manifestam posicionamentos políticos claros e coerentes. É o caso do bancário que tem familiaridade desde a infância com debates políticos realizados entre os parentes, gosta de política e apropriou-se dos termos e da lógica política, demonstrando capacidade de discernimento e compreensão dos acontecimentos. Está atualizado sobre os principais temas políticos do país. Utiliza-se de critérios políticos racionais para interpretar os fatos. Define-se como de centro-esquerda, socialista e petista. Pensa as ações políticas de acordo com a lógica de táticas e estratégias. Acredita que a crise do Senado foi criada para atingir Lula por causa das eleições e 2010. 44 O entrevistado analisou o cenário político pré-eleitoral e as potencialidades das candidaturas. É sua opinião que Serra enfrentará dificuldades para vencer o pleito, porque já demonstrou que não tem imagem adequada e o fôlego político necessário para eleições presidenciais. Dilma pode ser prejudicada por causa do escândalo da secretária e doença (câncer). Marina Silva foi considerada uma ótima política, mas não tem chances de ganhar. Também emitiu opiniões sobre a reforma política. Esta pergunta mostrou-se relevante para identificar àqueles que conhecem e dominam mais os termos e o debate político, por se tratar de um tema relativamente especializado. Para o entrevistado, as candidaturas deveriam ser dos partidos e não dos candidatos. É favorável ainda à unificação da data das eleições para os diferentes níveis do executivo e legislativo, por entender que eleições a cada dois anos acarretam muitos gastos. Contudo, acredita que a reforma não irá acontecer por não corresponder aos interesses os parlamentares. “Crise do senado já existe há muito tempo. A intenção de tirar Sarney é afetar Lula, atingir o governo federal, está vindo em um momento político para atingir o governo. (...) O IOF penaliza os mais pobres.(...) Nunca vai acontecer (a reforma política), assim como a fiscal” (Homem, 47 anos, nível superior incompleto, classe B2). O caso referido é uma exceção no contexto dos comportamentos observados. De modo geral, os níveis de apropriação política dos entrevistados se encontram em patamares muito baixos. A percepção negativa da política e dos políticos, muito recorrente, se mostrou associada ao desinteresse no acompanhamento dos noticiários sobre temas políticos e de governo. Pessoas que não gostam de política, se encontram desiludidas com o mundo político ou se sentem impotentes quanto à possibilidade de interferência neste terreno, entendem ser inútil se informar sobre estes assuntos. Disto decorre a baixa informação e a menor ainda incorporação dos conteúdos recebidos. 45 É o caso de indivíduo que acompanha pouco os noticiários sobre política, assistindo eventualmente o jornal local da Rede Globo e o Jornal Nacional. Quando perguntado sobre a sua opinião sobre alguma notícia responde: “Não acho nada, porque não gosto de me envolver”. Confunde o conceito de política com atividade dos políticos que considera deplorável: “Acho que política é mais um emprego”. Utiliza termos extremamente pejorativos para classificá-los: “sacanas”, “sem vergonhas”. Não gosta dos políticos e por decorrência não gosta da política. Considera que a população não exerce influência alguma sobre o governo e que os políticos só se importam com o povo na época das eleições. Percebe negativamente os partidos (“a corrupção começa neles”). Desconhece o conceito de classe social (“sou classe normal”). É confuso sobre distribuição de renda, reforma política, igualdade, cidadania, demonstrando por um lado sua escassa informação sobre assuntos políticos e sociais e de outro a dificuldade de compreender e utilizar os termos especializados da política. “Eu não gosto de política. (...) O que a gente se decepciona é porque eles prometem mundos e fundos e não fazem nada. Em época de campanha eles asfaltaram meia cidade e depois aqui na rua não se viu mais nada. Eles não concluem, é isso que não gosto neles. (...) Para mim os políticos são todos mentirosos, prometem e na verdade não fazem nada. (...) Acho que ele desviou essa verba mesmo e não está tendo como escapar disso aí, não está tendo como tirar o foco dele, às vezes eles abafam e cai no esquecimento e ele não está conseguindo isso aí, por isso eu acredito que seja verdade. (...) Acho que política é mais um emprego, um algo a mais para a pessoa tentar ser, só que as pessoas querem um cargo político porque conhecem alguém que tem um pouquinho mais de status aí vai e se candidata „sou filho do fulano‟, „sou parente do outro‟. Tiram o nome de pessoas que são mais altos na sociedade e são pessoas que às vezes não entendem o que é, tudo deveria ser estudado, a pessoa deveria ter faculdade para isso aí. (...) Para mim políticos são um bando de sem-vergonhas. Se eles aumentam, por exemplo 30 reais no teu salário é ilusão porque esse valor 46 vai vir descontado da tua conta de água, luz, vai aumentar o leite, o feijão, aquilo ali vai ser nada, enquanto para lês é mais fácil, fazem uma reunião no Senado e aumentam os próprios salários; eles recebem uma verba só para comprar roupas. (...) Não gosto porque no final acaba sendo todo mundo sacana, não tem de quem a gente possa dizer que não desvie nada, todos acabam desviando” (Homem, 30 anos, segundo grau completo, classe C1). Mesmo no caso de pessoas que gostam de política e se informam muito, observou-se elevado grau de confusão política e incapacidade de interpretar e discernir os significados dos acontecimentos e expressar conceitos e opiniões com clareza. É o caso de indivíduo que gosta de política, assiste os noticiários em diversos canais, se informa também através da Internet e de conversas com familiares, amigos e colegas de trabalho, cujas posições contem noções confusas ou questionáveis. “Eu assisto todos os jornais, vou pulando de um pra outro. Costumo ler quando estou em casa sem fazer nada, Veja, Época (...) Contigo. (...) Igualdade é bobagem, porque quem ta lá em cima não quer ficar aqui em baixo (...) Não quer se igualar. Já pensou um rico ficar pobre? (...) Porque se os outros países tão em crise, porque o Brasil vai aderir a crise? (...) Se a gente esperar pela crise, é aí que ela vai chegar. (...) “Eu acho que não deveriam existir tantos partidos (...) É muitos querendo disputar uma vaga. (...) É ruim, (...) porque o povo não sabe em quem votar” (Homem, 40 anos, nível fundamental incompleto, classe C2). 4.1.2. Juventude Os níveis de apropriação política foram ainda mais baixos no segmento jovem. De modo geral, os jovens pesquisados não procuram se informar sobre política, não conhecem os termos especializados da área e o 47 cenário político brasileiro, afirmam não gostar e demonstram desinteresse pelo assunto. Entre os raros casos que apresentaram maior nível de informação política destaca-se a jovem que acompanha muito as notícias atuais sobre política na mídia e manifestou interesse por este assunto. Apesar de não ter hoje uma participação ativa na política, acredita que isto seria interessante. Seu maior interesse atual é pelos programas do governo. Avalia positivamente estas ações e crê que os escândalos que saem na mídia são armações políticas com o objetivo de prejudicar o presidente e seu governo. “Muito pouco eu me lembro de ouvir falar de política quando criança, mas agora jovem eu vejo muito, gosto muito de jornal, estou sempre olhando os programas do governo para saber se de repente eu não posso me enquadrar. (...) Acho interessante participar de alguma associação de bairro, mas nunca me interessei, porque acho que no meu bairro não tem nenhuma. (...) Não tem um motivo (para eu não participar), acho que é falta de oportunidade. (...) Já participei quando era mais nova para o PT do Marroni. Eles faziam comícios com shows e a gente ia, carregava bandeira, colava adesivos, mas trabalhar para eles eu nunca trabalhei. (...) (Notícias recentes que se lembra) A crise no Senado, superfaturamento de notas de serviços e salários pagos a laranjas ou pessoas que não existem. Vejo também falar sobre essas passagens e diárias. Ouço falar desse negócio da Dilma Rousseff e do Senador aquele Dirceu. E vejo também esses políticos fazendo de tudo para derrubar o Lula fazendo transparecer que o governo dele é ruim. Entre os principais assuntos também ouço falar dos programas do governo, inclusive esse Minha Casa Minha Vida que eu creio que seja o último (mais recente) porque é o que eu mais ouvi falar ultimamente (...) A TV e Internet são os em que mais vi (essas notícias) e no jornal também, TV na Rede Globo e no Portal da Globo e no portal do Governo” (Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto, Casse B1). 48 Casos como o ilustrado acima são exceções. Em geral, os jovens acreditam que o mundo político não faz parte de sua realidade. Manifestam desinteresse sobre as informações veiculadas nos meios de comunicação. A baixa apropriação política está associada a não identificação do jovem com o tema. É o caso do entrevistado que percebe a política como “assunto de velho”. Ele acredita que entre os jovens de sua rede de relacionamento “nenhum gosta de política” e que “jovem não pensa em política”. “Adolescente não gosta dessas coisas, parece assunto de velho (...) eu tenho mais de 750 amigos (no Orkut) (...) nenhum gosta de política (...) jovem não pensa em política, se eles acham que jovem pensa, eles estão doidos; se eles entrevistarem uns três nerds (...) aí eles até estudam (...) agora, se você perguntar a adolescentes normais, eles vão falar que não tem assunto” (Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2). Grande parte dos jovens afirmou não utilizar os meios de comunicação com o intuito de se informar sobre governo e política, pois estas informações não lhes seriam úteis para o seu dia-a-dia. Percebem o meio político negativamente, acreditam que as pessoas que se interessam pela política o fazem por interesses pessoais, como no relato da jovem, que utiliza uma lógica moral para fundamentar seu desinteresse. “Muita gente se mete na política mais pelo fato de ter poder (...) não tenho opinião formada em relação à política (...) Eu não acho nada, a gente não é ninguém pra julgar os outros, mas tem muita gente que entra na política e que diz que se entrasse na política não ia fazer isso (...) mas fica tão cego pelo dinheiro que acaba fazendo o que os outros fazem (...) quando penso em política, penso logo: político-ladrão (...) não tenho nada a opinar, diria que o meu pensamento é igual ao das outras pessoas (...) não tenho idéia formada sobre político, não sou do tipo de 49 pessoa que fica vendo o que tão fazendo ou não” (Mulher, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe B2). No caso de outra jovem, que está cursando Direito, a baixa apropriação política decorrente da avaliação negativa do ambiente político se traduz de forma mais intensa. Apesar desta jovem ter conhecimento teórico sobre o tema, as ações percebidas na prática do meio político a fazem se afastar deste ambiente, corroborando com o desinteresse pelas informações que permeiam este meio. “Se a gente for levar ao sentido literal da palavra, acho que política é você arranjar um meio de interagir com a sociedade de representar um povo, no sentido da organização da sociedade, de trazer melhorias para a sociedade, só que, pelo que eu vejo é que a política hoje é sinônimo de lavagem de dinheiro de corrupção (...) Porque, a cada novo representante nosso, sempre acontece as mesmas coisas, a corrupção não diminui, o desvio de verbas, isso nunca deixou de existir, é as promessas, é „eu prometo, eu prometo‟, fica só na promessa né, porque não é cumprido..a decepção é essa que toda vez se repete a mesma estória” (Mulher, 20 anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1). O desinteresse causado pela avaliação negativa da ação dos políticos é um dos traços mais marcantes nas falas dos jovens, independente do nível de escolaridade ou classe social destes. Assim como demonstrado pela fala da jovem estudante de Direito acima relatada ou pela palavra do jovem de classe C2 citado abaixo, quando o assunto da entrevista circundava o mundo político, a avaliação negativa preponderou. Muitos que se encontram distantes do mundo político preferem manter e mesmo acentuar esta distância, recusando-se a se informar e até mesmo pensar sobre o assunto. “Prefiro ouvir nada, porque eu nem procuro pensar (em política). É igual eu respondi, é tudo marketing, conversa, 50 ninguém não acredita em ninguém, eu procuro nem pensar sobre política. (...) É uns querendo ser melhor que os outros, uns querendo ganhar na conversa, querendo falar, sei lá, não sei nem explicar. (...) O modo deles agirem na política, as vezes o político passa perto de você e cumprimenta, se precisar de mim vai lá em casa e tal, fica aquele jogo de marketing pessoalmente na política, pra quem tem contato com político você entendeu. Ai acabou a política não é mais nada, é tudo diferente. Político já é difícil de você encontrar ele, quando você precisa é tudo mais difícil...” (Homem, 23 anos, Ensino Médio Incompleto, Casse C2). 4.2. Posicionamento político Posicionamento sobre temas políticos supõe base informacional mínima. Pessoas escassamente informadas sobre assuntos políticos e governamentais têm grande dificuldade de assumir posições sobre os temas políticos relevantes. Nesta pesquisa, a pergunta sobre reforma política encontra-se na escala de maior dificuldade entre os temas abordados. Aqueles entrevistados que emitiram juízos pertinentes sobre este assunto mostraram elevado grau de apropriação política, capacidade de dominar os termos especializados da política e de compreender a lógica do jogo político. 4.2.1. Classe média Poucos assumiram posições políticas coerentemente articuladas e sustentadas através de argumentos fundamentados. Isto somente ocorreu nas raras situações indicativas de elevado grau de apropriação política. É o caso do individuo que gosta de política, domina os termos especializados da área, conhece a relevância do voto no jogo político, compreende a lógica da disputa e sustenta posições sobre os temas do debate político atual. Informase muito através da TV por assinatura (Globo News, Band News) e Internet. 51 “Acho que sim (ter influência), através do meu voto consciente (...) O povo tem muito poder, é só saber votar. Mas, sem dúvida, a classe que tem mais poder são as famílias milionárias do país como Gerdau, Ermírio de Moraes, Grendene, o clã Marinho e assim por diante (...) Os homens são iguais perante a constituição e aquele que foge à regra deveria ser punido. O grande problema no Brasil é justamente este, a impunidade. (...) O escândalo do Senado é uma coisa que vem desde o Antônio Carlos Magalhães que já tinha aqueles atos secretos” (Homem, 43 anos, classe B2, nível superior completo). Inversamente, a ausência de posicionamento, muitas vezes, esteve associada à desinformação sobre estes assuntos, ao desinteresse, ao desgosto por política, à desilusão ou ao sentimento de impotência política. O indivíduo que não gosta de política, que acredita ser a sua participação neste terreno totalmente inócua, que não tem interesse por estes assuntos e não acompanha o noticiário sobre eles tende a não conseguir se posicionar sobre os temas deste mundo ou a assumir posições politicamente contraditórias. Ilustra esta situação recorrente o caso de um indivíduo desencantado e negativo em relação à política e aos políticos, que se sente impotente frente às possibilidades de exercer influência sobre ações do governo. Desgosta da política, é desinformado e desinteressado. Seu posicionamento reflete a postura negativa e marca seu discurso que busca a desqualificação dos agentes políticos e da vida política de forma geral. Sua crítica é generalizada e depreciativa. “Eu nunca me apeguei muito não. Eu não gosto muito de política e nem tenho partido também (....) Nunca me envolvi porque não gosto. Não assisto notícias sobre política, assisto mais jornais para saber como está a segurança, acidentes, esse tipo de coisa (...) Não (escuto rádio), só quando estou no 52 serviço às vezes a gente deixa o rádio ligado só para ter um barulho na volta. Não ouço notícias no rádio”.(...) Acho que não( influência sobre o governo) a gente pesa tão pouco; pra eles o nosso peso na verdade é quase nada, nós somos só mais um para eles, nossa opinião só interessa pra eles nas eleições. Nós na sociedade só somos um número. (...) Acho que escutei sobre isso (redistribuição de renda), é meio que padronizar, mas eu só escutei “rapidão” hoje de manhã lá no serviço e escutei na TV, não lembro o canal, escutei sobre essa redistribuição salarial. (...) Acredito que seja, que o país queira isso( igualdade social). (...) Pode até ser (uma meta atingível), mas não é muito fácil, a tendência é o comodismo. Seria interessante só que aí, vamos supor, ninguém mais vai querer trabalhar pra ninguém, todo mundo vai ter comércio e sendo que precisa de empregados e as pessoas não vão querer mais trabalhar de empregados” (homem, 30 anos, segundo grau completo, classe C1). 4.2.2. Juventude Poucos jovens apresentam posicionamentos sobre temas políticos atuais que conformassem um pensamento politicamente coerente. A falta de interesse pelo mundo político associada à baixa informação sobre estes assuntos faz com que o jovem não possua posicionamentos sobre determinados temas e apresente um discurso inconsistente quando emite sua opinião. Mesmo aqueles que apresentam alguma apropriação política, emitem opiniões contraditórias, que conformam um posicionamento incoerente. Demonstram esta associação as opiniões do jovem de 18 anos que apresenta um perfil de desgosto político, por uma avaliação moral das ações dos políticos. Ele acredita que nas eleições os políticos mentem para conquistar seus cargos. Este jovem possui moderada apropriação política, porém apresenta um posicionamento contraditório em seus argumentos, quando menciona que “política é um tipo de organização onde se aliam 53 pessoas importantes na sociedade para governar um país”, e defende a supressão dos partidos “eu acho que não deveria existir partidos e só os candidatos”, por achar que estas organizações não estão cumprindo seu papel que seria “ajudar o povo como votar com consciência para lhes representar na política do país”. Este jovem acredita que a população pode exercer influência sobre a política e acredita na sua capacidade em interferir no terreno político No entanto, não possui opinião clara sobre temas como reforma política. Pensa a política de forma reducionista e pessoalizada, limitando-a as eleições e as ações dos políticos. Apesar de apresentar um posicionamento crítico à política em geral, avalia positivamente algumas ações do Governo Federal, como no caso da crise econômica. “Quando penso em política eu penso em eleições e penso em pessoas mentindo para o povo para disputar um cargo público (...) (Pode-se exercer influência na política) com as pessoas indo para as ruas, dizer o que acham ou o que pensam sobre um governo, se nada tivesse sido feito durante todos estes anos, nada teria mudado, por exemplo, quando o povo lutou para se libertar do regime militar. (...) (Privatizações) Acho que não estou muito por dentro do assunto para falar algo sobre. (Reforma política) Teríamos de começar pela troca total de ministros e outros cargos de confiança dentro do governo, para darmos mais credibilidade às novas mudanças. (...) (Crise econômica) Tenho certeza de que realmente a crise foi grave, porém com o incentivo do governo Lula em baixar as taxas de juros para estimular as compras, reduzir o IPI dos produtos, foram muito bem vistos, temos agora é que torcer para que os outros países também colaborem para que a crise não volte (Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2). A falta de posicionamento sobre temas políticos que demonstram maior apropriação política tornam-se explícitas nas falas dos entrevistados, como no caso do jovem de 16 anos que não soube emitir opinião em relação à reforma política, além de não saber opinar sobre a crise 54 do Senado e outros temas atuais, apresentando argumentos poucos esclarecidos ou confusos. “Aí você me pegou, porque esses assuntos mais assim direcionados, eu não sei dizer, tanto é que não tenho informações” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). Este também é o caso da jovem de 19 anos que afirmou não ter ouvido falar de crise no Senado, além de não ter conseguido se expressar sobre a reforma política. “Eu não ouvi falar em crise no Senado, não vejo os noticiários porque estou na faculdade à noite” (Mulher, 19 anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1). 4.3. Coerência política A coerência política refere-se à capacidade dos indivíduos assumirem posições logicamente inter-relacionadas, internamente coerentes, em conformidade com as preferências e opções políticas. Algum tipo de coerência de acordo com a lógica interna do indivíduo sempre poderá ser encontrada, pois há para cada posição assumida alguma motivação que faz sentido para o indivíduo. Contudo, este tipo de análise tem caráter tautológico e fraco poder explicativo, não se adequando ao objetivo deste estudo de distinguir aqueles que apresentam maior e menor grau de coerência do ponto de vista da lógica política. 4.3.1. Classe média Os dados analisados mostraram que, considerando a coerência do ponto de vista da lógica política, a incoerência é a regra e a coerência a 55 exceção. Foram recorrentes as manifestações confusas sobre as posições políticas e os comportamentos politicamente contraditórios. A ausência de coerência decorre de vários fatores. As posições políticas díspares ou contrárias convivem em um esquema perceptivo contraditório que reúne blocos estruturados de idéias formadas de modo independente e por motivações distintas. O mesmo entrevistado que é favorável às privatizações em função de um exemplo positivo como o das telecomunicações manifestou-se contrariamente ao enxugamento do Estado por ter pena dos que poderão ser demitidos e por ter amigos empregados em órgãos públicos. posicionamentos Também sobre os há os temas entrevistados abordados e, que defenderam posteriormente à apresentação das notícias hipotéticas contrárias aos seu ponto de vista, mudaram de opinião, por acreditar na mídia ou por não sustentar sua posição frente à controvérsia. As opiniões de entrevistados deste tipo são flutuantes. É o caso do entrevistado que sustentou posição favorável à pena de morte e aceitou a notícia hipotética contrária a esta proposta. “Ia ter que acreditar, acho que ia acreditar, mas com pouco de dúvida sobre esse pedacinho. A edição desse pedacinho, mas dependendo com imagem e tal até acreditaria. Mas acho que ia ter que me render e ia ter que acreditar, acho que sim” (Homem, 32 anos, segundo grau completo, classe B2). A incoerência também foi observada na trajetória eleitoral. Foram recorrentes as descrições das opções eleitorais politicamente contraditórias, decorrentes da frustração com ação de candidatos escolhidos que não corresponderam às expectativas dos votantes, de desinformação, de escolha eleitoral em função da pessoa do candidato e não do partido e de incapacidade de apropriação do jogo político. É o caso do entrevistado que se auto-define como malufista, afirma ter preferência pelo PSDB, tendo votado em Maluf, Collor, Fernando Henrique, Marta Suplicy, Pita e Lula. A trajetória eleitoral deste entrevistado 56 indica grande confusão do ponto de vista da lógica política. Mantém a defesa de Maluf, apesar de votar em candidatos politicamente distintos: “Sou mais Maluf do que Lula”. Contudo, considera que o voto mais importante, que lhe deu maior satisfação, foi em Lula, não pelo partido, mas pela pessoa (“sou mais pela pessoa que pelo partido”). Sua maior satisfação foi a vitória de Lula nas eleições presidenciais. “Minha família é malufista, lá tem aquele ditado que é verdade mesmo ele rouba, mas faz, é verdade, fez metrô, fez Anhangabaú. (...) Acho que chegou a hora de dar uma chance pro PSDB (...) Importa o partido que o Maluf tiver, é pela pessoa não tanto pelo partido, mas a gente votou no Pitta porque ele era do Maluf, mas, acho que eu vou votar esse ano sem analisar direito quem serão os candidatos, acho que quem vai vir forte é o Serra (...) Porque eu posso tanto ser do lado PT, PSDB, não tem problema nenhum. O que vai determinar? (...) Maior satisfação o Lula que venceu, imaginei que o PT ia mudar mesmo o Brasil, a família acho que alguns foram contra o Lula, mas acho que o vamo pra frente geral, a mídia me empolgou” (Homem, 32 anos, segundo grau completo, classe B2). É também este o caso de indivíduo que, desgostoso com o partido que elegera, e no qual sempre votou, deixou de votar por desilusão, e atualmente se considera conservador, entre centro-esquerda e centro, sem definição partidária, afirmando que escolheria entre o PT e o PSDB no momento de eleições. “Votei no PT sempre, o PT era sério „não fazemos coligações, temos nossa estratégia política‟ e não abriam mão mesmo, eu achava impressionante aquilo” (...) “O Governo deixou a companhia quebrar para não pagar a dívida. Isso me deixou muito indignado, não voto no Lula de maneira nenhuma. (...) Sou conservador. Votei muitos anos no PT, mas sou muito conservador. (...) Eu 57 flutuo entre o dois e o três. Porque eles têm que lutar pelo meu voto. Se meu voto ficar mais para a esquerda ou direita é um voto fácil, eles têm que lutar pelo meu voto, têm que apresentar propostas, por isso que digo que sou de centro: se a proposta da esquerda é melhor eu voto na esquerda, se a direita for melhor eu voto na direita. Eles têm que conquistar meu voto, meu voto não é fácil, é uma coisa muito pensada. (...) O socialista quer um estado um pouco maior do que um capitalista quer, o capitalista quer um estado mínimo e o socialista, um estado grande. O governo comunista não deu certo, todos viraram ditaduras. Os maiores exemplos de socialismo são a França e a Alemanha que estão revendo algumas coisas hoje em dia, algumas políticas porque com esse modelo lá na frente os estados ficarão muito endividados, mas são governos que deram certo em um determinado momento tanto que o povo alemão e francês são muito cultos, na parte da educação foram muito certos, só que agora estão sendo pesos muito grandes para as previdências. (...) Nunca votei no PDT, também não gosto do PTB, são partidos sem identidade. O PDT era o partido do Brizola, ele morreu e o PDT virou um partido de interesses. O PMDB gaúcho é bom, o PMDB baiano não presta, o PMDB não tem mais uma identidade nacional ainda mais com o Sarney como presidente de honra do partido e Renan Calheiros e outros. O PSDB já é um partido com uma história: Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Alckmin, Aécio Neves em Minas Gerais, é um partido que dá pra ver o partido e ver as pessoas, tem proposta e identidade. No PT também consigo ver isso. Hoje, se fosse olhar a proposta dos partidos iria com PSDB ou PT. (...) Hoje é como se tivesse só três partidos no Brasil, o PT, o PSDB e os outros” (Homem, 44 anos, nível superior completo, classe B2). Maior coerência política foi encontrada nos casos de entrevistados que têm preferência partidária, votam no mesmo partido em todos (ou em quase todos) os processos eleitorais, e assumem posições sobre temas políticos, em conformidade com as posições do partido e do campo político, no qual ele se encontra inserido. 58 Maior grau de coerência esteve associado ao posicionamento político mais delineado e a menor permeabilidade às notícias contrárias ao ponto de vista dos entrevistados. É o caso de individuo que se define como socialista, prefere o PT, demonstrou posições bem construídas a partir de apropriação política coerente com o ideário do campo ao qual pertence e apresentou pouca permeabilidade às posições contrárias aos seus pontos de vista. “O ser humano deveria ter mais chances e alcançar a igualdade. O princípio é dividir e não acumular (...) Porque quando você tem idéias socialistas não quer dizer que não possa adaptar posições mais flexíveis( centro-esquerda) (...) É o PT (...) O PT começou no início dos anos 80 e foi um partido que teve que sofrer várias adaptações e mudou a forma de agir. Atualmente, há radicais na base, mas é mais moderado. Possui laços sociais, está ligado a sem terras, sindicatos, mas está combinado à políticos mais moderados, faz concessões para formar coligação de peso e chegar ao poder” (Homem, 47 anos, nível superior incompleto, classe B2). 4.3.2. Juventude Os jovens apresentaram graus de incoerência política ainda mais elevados. A exceção foi ocaso do jovem de esquerda, que afirma ser socialista e que simpatiza com os partidos PSTU e PSOL pelos programas políticos que estes partidos defendem. Apresenta baixa participação política, justificada por experiências negativas e desilusão. Comentou que quando freqüentou reuniões do PT, percebeu que entre os participantes havia mais interesse nas reuniões pelas possíveis vagas que uns indicavam aos outros do que a busca pelo bem comum e isto não lhe agradou. Quando indagado sobre sua preferência política, respondeu que prefere a Heloísa Helena, por ela representar esperança, ter uma opinião concisa em prol do povo e por acreditar que ela não o decepcionaria como ocorrido com Lula: “(...) tipo, um outro golpe, trair de novo como o Lula fez”. 59 “Quando se trata de debater assuntos que visem o bem comum, sim, gosto (de política). (...) (Sou) um cara que gosta da maioria, eu simpatizo com a causa da reforma agrária, da reforma urbana, com aquela galera que pede do governo federal o cumprimento da Constituição (...) o pessoal que quer maior qualidade de vida (para a população)” (Homem, 21 anos, Ensino Médio Completo, Classe C1). A incoerência política pode ser percebida em diferentes momentos das entrevistas da maioria dos jovens. Desde incoerências por utilização de lógicas de escolha diferentes até por manifestações de opiniões confusas em relação aos conceitos utilizados. É caso do jovem de 20 anos, que afirma ter uma preferência partidária pelo PT por uma lógica afetiva, membros de sua família simpatizam com o partido. Em certos momentos de sua fala afirmou, contrariamente, que não possui preferência partidária, pois em qualquer partido encontra pessoas que podem ser avaliadas positivamente. Define-se como socialista, porque “socializa com os outros sua opinião”. Quando indicou sua posição na escala esquerda/direita se definiu como “centro-direto”, afirmando que busca diversas opiniões até achar o “certo”. A associação de direita como semelhante a “certo”, como “direito” fez-se presente também em outras entrevistas. “(Preferência partidária) PT, porque minha família tá sempre falando dele, minha mãe, meu padrasto que está sem conversar comigo, não sei nem por que, sempre tá conversando. (...) Pra pensar por um lado, (simpatizo com) todos (os partidos) melhor dizendo, porque todos tem um candidato certo, sempre tem um candidato, porque se eu falar só um, não dá, porque sempre tem outros partidos dentro da política (...) (Define-se) Como um socialista porque eu to sempre procurando os outros né, vendo o que é certo, o que é errado, sempre to pedindo opiniões. Eu socializo com os outros, vou perguntando, 60 perguntando, procurando, caçando pra saber. (...) (Definição na escala esquerda/direita) Centro-direito. Porque sempre eu to escutando a pergunta dos outros, ah, o depoimento de outras pessoas, ou da oposição, ou do lado que eu to apoiando, sempre to escutando os dois lados pra ver qual dos dois tá certo. (Homem, 20 anos, Ensino Médio Completo, Classe B2). Há também aqueles que demonstram simpatia pelo atual governo, mas não manifestam posicionamento no cenário político por demonstrarem desinteresse com a política e demonstram desconhecimento da lógica política. Como no caso do jovem de 19 anos que afirma que não possui posicionamento político por não gostar de política, simpatiza com o PT, se considera na escala direita/esquerda como centro-direita. “(Como se define politicamente) Eu me defino como o seguidor da política da boa vizinhança, ou seja eu não gosto muito de política daí acho melhor não me meter muito no assunto. (...) Eu gosto um pouco do PT (...) um partido ligado mais para o povo e buscando sempre o melhor para a maioria da população. (Como você se situaria em uma escala de 1 a 5, sendo 1 a posição mais à esquerda e 5 a posição mais à direita? 1-esquerda, 2centro-esquerda, 3-centro, 4-centro-direita e 5-direita) “Eu me considero o quatro (centro-direita) (...) porque para mim o que vale mesmo é você fazer sua parte” (Homem, 19 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2). Outro jovem, quando indagado sobre como se define politicamente não soube responder: “Você me pegou, como assim?”. Na escala esquerda/direita afirmou que é centro-direita, pois para ele estar no centro seria sinônimo de estar encima do muro. Então indicou centro-direita por relacionar direita com positividade. Diz-se socialista por gostar muito de igualdade e não aceitar desigualdades, mas gostaria de se posicionar como um moderador, aquele que modera um debate. “(Escala esquerda/direita) Centro-direita, não no centro porque é em cima do murro, na direita é porque tem a ver 61 com positividade, pensamento reto. O esquerdo tem mais a ver com coisa negativa pro país. (...) Vamos dizer como um socialista, porque eu gosto muito da igualdade, eu gosto muito do pensamento público para todos. Eu gosto muito de ser igual a todo mundo. Eu não gosto de ter ali, vamos dizer desigualdade, eu não gosto de desigualdade. Então eu seria um socialista. Não tinha um moderador ai... (...) Quando a gente faz um debate tem um moderador ali, modera a discussão ali, enquanto os outros fica ali, eu tô organizando. Olhando direitinho, quem tá dialogando, quem tá fazendo isso, quem tá fazendo aquilo. Qual que é o assunto que tá abrangendo mais, qual que é o assunto, então eu seria mais o moderador mesmo, ficaria ali, vamos dizer na moita, ai quando a coisa piorar eu impunha os direitos. Né eu impunha mesmo, mostrava como é que eu tava sentindo. Então um moderador, um socialista-moderador, vamos dizer” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). O centro foi assumido por alguns que afirmam que não possuem posicionamento político. Um dos jovens ainda indicou que “preferiria o lado que não tivesse” uma postura política, para não precisar se envolver. Este mesmo jovem define-se como conservador porque procura se conservar, não se envolver com a política. “(Escala esquerda/direita) No centro, nem na esquerda, nem na direita, eu fico no meio, porque eu sou muito desligado em termos de política.” (...) “...eu preferiria o lado que não tivesse (uma postura política), fosse mais tranqüilo, pra me afastar de tudo, debate, política, porque pra mim não tem, no momento não influencia em nada na minha vida pessoal, claro que tem muitas pessoas que vivem no redor da gente que acaba atingindo a gente também. (...) Conservador, porque é o que eu pude conservar mesmo, não faço política, não sou governante de ninguém, então eu procuro estar sempre na minha, tranqüilo. Na época da política às vezes eu procuro dar minha opinião mas não basta opinião, eu fico sempre na minha” (Homem, 23 anos, Ensino Médio Incompleto, Casse C2). 62 Outro jovem se disse liberal, por associar a este conceito o termo liberdade: “liberal é assim pode fazer o que quiser, como quiser...” (Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2). 63 5. Comportamento em relação à mídia 5.1. Meios de comunicação O meio preferencial de obtenção de informações variou conforme o perfil social e etário dos entrevistados. TV por assinatura e Internet são os meios preferidos pelos segmentos de classe média com maior poder aquisitivo. Os mais jovens utilizam a Internet de forma mais intensa. A grande exposição também está associada aos interesses profissionais. Os segmentos com menor poder aquisitivo utilizam preferencialmente a TV convencional aberta. 5.1.1. Classe média É considerável a exposição à mídia, alcançando, em alguns casos, a grande quantidade de 8 a 10 horas por dia. A maior exposição não está necessariamente associada ao acompanhamento de notícias sobre política e governo. Midiáticos acompanham os acontecimentos políticos pelo fato deste tipo de conteúdo estar presente nos noticiários, mas, por desinteresse por este tema, muitas vezes, acompanham de forma reduzida ou superficial, retendo poucas informações sobre o assunto. Aqueles que acompanham mais o noticiário político são os mais politicamente apropriados. É o caso do entrevistado de classe média com maior poder aquisitivo que utiliza preferencialmente, TV por assinatura e Internet. Politicamente apropriado, domina os termos políticos e acompanha os noticiários sobre o tema especialmente através da Globo News, Band News, e pela Internet. “Assisto Globo News. Assinávamos até pouco tempo atrás o Band News que é muito bom, mas é basicamente a Globo News para noticiários, tem o Em Cima da Hora e o 64 Jornal das Dez deles que é muito bom. (...) O Jornal das Dez é praticamente uma hora de jornalismo e o Em Cima da Hora que é todo horário fechado: as oito, nove..., tem sempre de 10 a 15 minutos de noticiário, a notícia é sempre muito “on line”, aconteceu, eles já estão noticiando. (...) Costumo assistir mais à noite, mais o Jornal das Dez”. (...) “Acesso a internet todo dia, não tenho horário específico, mas normalmente fico quase uma hora por dia na internet. (...) Não tem nenhum site que eu não gosto, acesso os que gosto muito. Gosto do site da Globo. Tenho links de informação. Sou assinante do Google e ali você consegue criar links de notícias sobre vários assuntos. Nesse ponto eu não vou atrás de notícias, o Google faz isso para mim e larga na minha caixa” (Homem, 44 anos, ensino superior completo, classe B2). Na maior parte dos casos observados, é relativamente pequeno o acompanhamento das notícias sobre política e governo. Mesmo nos casos em que há grande exposição à mídia, se observou pouca atenção às notícias sobre política. Por vezes, a notícia ouvida não é retida na memória, em função da pequena importância atribuída a ela, por se tratar de assunto considerado pouco interessante. É o caso da entrevistada que utiliza intensamente TV e Internet, é pouco informada e possui grande desinteresse por política. Tem 21 anos, cursa Enfermagem, está desempregada, assiste TV e acessa a Internet intensamente, em torno de 5 horas no período da manhã e no período das novelas da Rede Globo à noite, totalizando cerca de 8 a 10 horas por dia. Utiliza-se dos dois meios ao mesmo tempo se deslocando de um para outro, privilegiando a Internet que costuma acessar em torno de 5 horas diárias. Não se interessa e não absorve notícias políticas, exceção feita aos escândalos. Usa TV e Internet como forma de entretenimento e relacionamento. “De manhã, de 8h às 13h a gente assiste, de tarde a TV fica desligada, e à noite assisto novela. E quando passa o horário político a gente desliga a TV. (risos) (...) (assiste) Ana Maria Braga, desenhos animados, Malhação, Paraíso, 65 e depois o jornal.(...) como aqui tem antena parabólica a gente assiste tudo de São Paulo, mas aí eu vou pra Internet.(...) E depois começa Caminho das Índias, que eu assisto também.(...) Eu acordo, ligo a televisão, já passando Ana Maria Braga. Aí eu tomo café, ajeito meu filho, depois ligo o computador. (...) Depois ajeito ele pra ir pra escola, e depois me ajeito pra ir pra faculdade. (...) E aí, na volta, pego ele, a gente chega aqui, ligo a televisão quando tá passando Malhação, e fica ligada até às 10h da noite. (...) Ao mesmo tempo que estou na televisão, estou na Internet também.(...) Todo dia é assim.(...) Diariamente, Orkut (4 horas), MSN (4 horas, em paralelo com o Orkut), e-mail (30 minutos) e Google (30 minutos)” (Mulher, 21 anos, nível superior incompleto, classe B2). O uso intensivo da Internet também foi encontrado entre outras faixas etárias compondo outros perfis. Este é o caso de um pequeno empresário, comerciante de produtos de escritório e material gráfico, que acessa a Internet diariamente por períodos de 5 a 6 horas. Assiste pouco a TV aberta, não lê regularmente jornais e revistas. Utiliza o computador e a Internet para desenvolver o trabalho da empresa e para relacionamento e entretenimento. Quando chega em casa liga a televisão, o computador e a Internet. Muitas vezes fica com a TV ligada, mas na Internet. Acessa MSN, email, Skype. Eventualmente, assiste notícias. É desgostoso e desiludido com política. “Mas eu não gosto muito de política não (...) Não, eu praticamente eu não assisto, muito pouco, principalmente canal aberto, eu não tenho assistido não. (...) Ultimamente eu não estou vendo nada de televisão. As vezes eu leio umas manchetes que me interessam um pouquinho. (...) Ultimamente é pela Internet mesmo que eu tenho me informado” (Homem, micro empresário,classe B2,superior completo,47 anos). A percepção sobre o comportamento da mídia encerra um paradoxo: a elevada aceitação dos meios tradicionais mais utilizados - como 66 a TV aberta, a Rede Globo e o Jornal Nacional – convive contraditoriamente com grande desconfiança sobre a parcialidade destes meios e sua função de manipulação. É o caso do indivíduo que percebe a parcialidade dos meios, suspeita de manipulação, mas mesmo assim confia, e confia muito em comentarista que elegeu como referência. “Acho que sim, uns 75% fiel, mas tem horas que eles editam, cortam muito ainda mais em política, pra detonar a pessoa, então acredito que sim, mas não 100%. A Globo é bem parcial bem no que interessa, a Record também apela pra classe C de mostrar coisas bregas, poderia ser mais informativo, mais bacana, mais elitizado. (...) Acho que manipulam a opinião pública sim (...) Eu acredito quando a informação vem, se não o cara nem ia procurar, mas de vez em quando o cara suspeita (de manipulação). (...) Muito pouco (filtra), quando já acordo de manhã já peguei as informações básicas. (...) O que eu mais confio é a TV, a Internet é muito espontâneo, tem hora que não que não seja real, mas em blog pode ter uma informação errada, a que eu menos confio é rádio, não sei se é um público menor, e TV, o Jornal Nacional acho que é o que mais confio, nem a Veja eu confio tanto, era pra ta vendendo muito mais, eles retraíram (...) Boris Casoy acho que influencia muita gente, o Mauricio do GNT que fala de bolsa, a do jornal do Brasil de manhã economia e política, um senhor de cabelo branco esqueci o nome dele e a Miriam Leitão. (...) Eu concordo com a opinião deles, eu não sou chegado muito em política mas é uma informação mais fácil, todo dia (...) Confio como uma referência importante (Homem, 32 anos, segundo grau completo, classe B2). Neste mesmo sentido, foi observada a situação de um indivíduo que percebe os meios de comunicação como parciais (“só mostram o lado que interessa”). Considera que são manipuladores e por isso passíveis de desconfiança, mas considera a televisão o meio mais confiável porque tem 67 mais contato com a realidade, os comentários são ao vivo e Arnaldo Jabor é o comentarista pelo qual se referencia. “Acho que toda matéria tem alguém interessando em como vai sair essa matéria, então de alguma forma ela vai se manipulada (...) Vai de acordo com os interesses. (...) Todo jornal manipula do jeito que quer (...) Mesmo que manipulada, acredito a televisão é o meio mais utilizado porque tem mais força para expor essa idéia, acho que como a pessoa fala, como mostra, ela forma opinião dos demais. (...) Ele (Arnaldo Jabbor) realmente tem uma forma de colocar as palavras, que faz a gente pensar de maneira mais ampla. Ele tem o dom” (Homem, 26 anos, nível superior incompleto, classe B2). Também ilustra a situação referida o caso de uma pessoa que percebe a parcialidade dos meios de informação, especialmente da Globo, confiando mais na Revista Veja do que na TV. Embora não considere a TV o meio mais confiável, reconhece que é o mais influente na sua opinião, devido à grande exposição. “Eu acho que a Globo omite muita coisa e o SBT trás a notícia mais nua, não mascara tanto. Tem notícias que quando a Globo vai noticiar a outra emissora já falou bem antes então eu não costumo confiar muito na Globo, assisto porque é mais amplo o horário de noticiário, mas quando quero confirmar se aquilo ali aconteceu mesmo eu busco as outras informações. (...) Já cheguei a comprar uma Veja só porque ouvi uma notícia e tive certeza de que na revista deveria ter um pouco mais, confio muito na revista Veja. Mesmo que eles levantem uma suposição daqui a pouco ela se confirma. A revista é mais confiável do que a TV, a TV mascara muito para não agredir e a revista tu és obrigado a ir buscar a informação. (...) Quando vejo o jornal das oito da Globo aquele jornalista montou a sua matéria e levou para o jornal, mas em função de uma empresa, a empresa que disse „vamos falar sobre esse assunto‟, ou seja, aquilo ali foi permitido por toda uma estrutura. Já quando o jornalista tem o seu 68 programa ele é responsável por tudo aquilo ali então ele está colocando a cara dele a tapa, ele é sozinho ali, pode até ter opinião de outros, mas quem está expondo ali aquela proposta de debate naquele espaço e levou aqueles convidados para mim dou mais valor do que o jornal normal. (...) Ainda é a TV( o meio mais importante para formar sua opinião) porque nos horários de jornalismo assisto à TV. Você não me vê sentada lendo uma revista com exceção dos finais de semana, já a TV todos os dias eu tenho acesso então ainda continua sendo a TV” (Mulher, 43 anos, nível superior completo, classe C2). 5.1.2. Juventude As informações relacionadas com política e governo não chamam a atenção dos jovens. Em geral, eles utilizam os meios de comunicação para o entretenimento e informação sobre assuntos de seu interesse. Como no caso da jovem de 19 anos de classe B2 que possui em sua residência acesso à internet, TV por assinatura, jornal impresso e rádio, porém demonstra baixo nível de informação sobre os assuntos políticos atuais. Seus hábitos em relação à mídia se restringem a filmes e novelas, assiste pouco aos jornais televisivos da TV aberta ou fechada, não lê com freqüência o jornal impresso que a família assina, utiliza a internet diariamente para acessar seus emails, MSN e Orkut. Na internet não possui o hábito de acessar sites específicos de notícias, apenas quando entra no site de seu email e algum link lhe interessa o acessa para ler o conteúdo da notícia. Justifica a falta de informação sobre política por desinteresse pelo tema. “Temos TV aberta e fechada. (...) Na TV aberta vejo mais novelas, mais à noite. E na TV fechada eu vejo mais filmes. (...) Noticiário às vezes assisto ao Jornal Nacional, mas não é sempre, assisto somente de vez em quando, 69 nesse horário estou indo para a faculdade, hoje como não tenho aula de repente eu vou olhar. (...) O canal que mais gosto é a Globo porque como gosto de ver filmes na Globo passa bastante filme e as novelas da Globo são melhores também. (...) Não gosto do canal sete (TVE), não sei o nome do canal porque eu realmente não assisto, os programas parecem bem antigos. Eu prefiro programas mais atuais e a Globo está sempre se atualizando (...) A gente assina a Zero Hora, às vezes eu leio e às vezes não. Leio uma vez por semana. Não leio nada sobre política, não tenho interesse. Gosto da Zero Hora porque ela é bem diversificada, tem vários tipos de conteúdo. (...) Na verdade na internet eu acesso mais os meus e-mails mesmo, passo e-mails, converso com amigos pelo MSN, tenho orkut também. Acesso todos os dias. Vejo as notícias na página inicial do Hotmail e às vezes clico nos links para ler as notícias. (...) Não tem um site que eu mais goste, entro mais nos meus e-mails mesmo. (...) Na faculdade com meus amigos a gente não fala de política. E com os amigos de fora da faculdade também não. Só em casa mesmo, mas não é sempre, é mais no período eleitoral. (...) Não gosto muito de política então não procuro me envolver. Não tenho um motivo para não gostar, é falta de interesse mesmo por essa área. (...) Pelas minhas cadeiras na faculdade eu estou no quarto semestre (de administração), tenho algumas cadeiras que falam sobre política, mas são poucas e não gosto dessas cadeiras (...) Porque não é minha área de interesse. Não gosto muito de política. Nós não temos o costume de falar, quem fala mais é meu avô, política é um assunto raro aqui em casa” (Mulher, 19 anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1). A tendência de os jovens utilizarem os meios de comunicação, principalmente, como entretenimento foi observada em muitos casos. A busca por informações estão diretamente relacionadas aos conteúdos de interesses particulares. O acesso à internet, em especial, se traduz por esta lógica que visa suprimir necessidades imediatas por informações específicas. Como no caso da jovem que está participando de um processo seletivo que envolve políticas públicas de seu município e por isso tem se 70 mantida informada sobre este tema. O site que mais utiliza é o Google, que lhe permite encontrar outros sites sobre assuntos específicos que esteja interessada. Ademais, na internet, acessa seu email, MSN e Orkut, de forma simultânea, para se relacionar com sua rede de contatos. Apesar de estar acessando atualmente um site específico sobre políticas públicas, a jovem manifesta desinteresse pela política em geral. O desinteresse é justificado pela falta de identificação com o mundo político e seu modus operandi. “Eu tenho acompanhado notícias sobre políticas públicas daqui de Lauro de Freitas, (...) através do site da Prefeitura. (...) Porque eu to participando de um processo seletivo de projetos ligados a políticas públicas. (...) Tem um muito legal sobre assuntos jurídicos, (...) que eu entro muito, eles dão cursos gratuitos sobre diversos temas. (...) Eu entro muito no site da revista NovaEscola, sobre educação. (...) Ah, do Google eu vou pra vários outros, mas é difícil eu me lembrar. (...) O e-mail eu diria que é um tempo constante, (...) eu deixo sempre aberto pra ver quem manda mensagens pra gente. (...) O Orkut também eu deixo aberto, pra ver quem ta me mandando mensagens instantâneas, né? (...) O MSN também fica aberto, (...) porque eu posso falar com as pessoas direto (...) Tem o lado interativo (e-mail, Orkut, MSN) e o informativo (Google) que de lá eu vou pra vários outros e YouTube. (Não se informa sobre política) Porque a gente tem uma tendência (...) de se identificar com coisas que a gente sente interesse, (...) mesmo reconhecendo a importância (da política) eu acho pouco interessante. É diferente de eu pegar informações como aquecimento global que ta acontecendo no mundo, (...) assuntos ligados a educação, a violência na escola, (...) violência moral na escola, por exemplo, esses temas me interessam. (...) Não vou dizer que foi algo que aconteceu especificamente, mas posso dizer que é o geral que a gente vê por aí, (...) que a gente vê políticos agindo em períodos antes das eleições, prometendo coisas, (...) Só pra se elegerem. Após a eleição, muitas coisas que eles prometem, não cumprem. (...) A política, já há um certo tempo, deixa as pessoas um pouco desacreditadas. (...) O que a gente pode ver, o que a gente pode saber, acaba 71 afetando o sentimento” (Mulher, 21 anos, Superior Incompleto, Classe C1). A confiabilidade nos meios de comunicação é elevada entre os jovens. O meio de comunicação considerado mais confiável é, em geral, a TV aberta. Sua forte presença nos lares brasileiros é indicada como razão para que as informações transmitidas sejam consideradas verídicas. No entanto, há contradição na opinião de grande parte dos jovens entrevistados, pois estes consideram os meios de comunicação parciais, direcionados a algum tipo de interesse das empresas que produzem a comunicação. “O mais confiável é a TV. (...) Todos os meios são confiáveis. Não considero nenhum meio de informação menos confiável” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). “São parciais, não dá audiência dizer a verdade, e quando dá você pode destruir a crença das pessoas na ética e no futuro. (...) Não tem como dizer isso (meios confiáveis), não tenho um detector de mentiras, mas acho que a TV é um dos mais parciais” (Homem, 22 anos, Ensino Superior Completo, Classe A). “(Mais confiável) É TV aberta porque eu gosto muito de ver as coisas, porque ali você vai ver se realmente é verdade ou não, e jornal impresso, porque, por mais que eles possam escorregar em alguma coisa, eles não vão chegar ao ponto de inventar uma história qualquer” (Mulher, 22 anos, Superior Completo, Classe B2). A Internet foi indicada por muitos jovens como meio menos confiável, pois os conteúdos comunicados nos sites possuem diversas fontes, que nem sempre são divulgadas, além de existirem sites pessoais (blogs) em que as informações são postadas sem haver, necessariamente, um cuidado com o que é comunicado “o site é dele, então né, tem vários sites respondendo por processos porque colocou coisa indevida, ou mentiu” 72 (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). Mesmo considerando a Internet como um meio pouco confiável, seu dinamismo encanta os jovens. A possibilidade de comunicação com outras pessoas, independentemente da distância, fascina os internautas. “Bem, para mim em primeiro lugar o mais confiável são as TV abertas, depois as revistas, os jornais depois as rádios e a Internet por ultimo, pois essa última sempre esta enfrentando problemas com a pirataria, os chamados hackers. (...) este é o meio de comunicação mais revolucionário do século, a Internet nos proporciona a oportunidade de falar e ver pessoas em outros lugares, independente da distancia” (Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2). “(Menos confiável) É Internet, Exemplo: um site, dizendo da morte do Michael Jackson falou que ele tinha morrido, mas ele nem tinha morrido ainda, eu não gosto, eu procuro não me informar através de site, não confio” (Mulher, 22 anos, Superior Completo, Classe B2). Os jovens costumam confiar nas informações transmitidas por formadores de opinião (blogueiros, colunistas, jornalistas, repórteres, apresentadores). Os apresentadores do Jornal Nacional da Rede Globo foram os mais indicados pelos entrevistados como pessoas que transmitem confiança e veracidade quando comunicam uma informação. “Willian Bonner e Fátima Bernardes, quando ele não está no jornal, eu não tenho vontade de assistir (...) Eu adoro assistir o jornal, aprendi com meu pai, todo dia eu assisto Jornal Nacional, mas eu acho que eles são os repórteres que você vê confiança neles falando, firmeza, sei lá, eu gosto” (Mulher, 22 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). 73 5.2. Informação sobre o governo e políticas públicas De modo geral, foram encontrados baixos níveis de informação sobre o governo e as políticas públicas. Os entrevistados que apresentaram maior apropriação política informam-se mais sobre estes assuntos. Os entrevistados que não gostam de política se informam mais sobre programas específicos de governo, tendo em vista os benefícios que podem obter. Houve ainda aqueles que não se interessam nem por estes assuntos que poderiam resultar em benefícios pessoais imediatos. 5.2.1. Classe média Neste segmento os entrevistados apresentaram níveis distintos de conhecimento sobre o governo e as políticas públicas. O maior nível de conhecimento esteve associado ao maior interesse por política. Aos programas governamentais mais lembrados foram atribuídas conotações positivas, pelos seus efeitos benéficos para a melhoria da situação da população brasileira, e negativas, especialmente em função da visão assistencialista percebida no Programa Bolsa Família. “Bolsa Escola e Bolsa Família são os que me chamam mais atenção porque acho que ele (o Governo) dá o peixe e não ensina a pescar. Nada contra a dar o dinheiro, mas junto deveria haver mais fiscalização e mais incremento de força de trabalho. Tenho acompanhado muito a favela Dona Marta no Rio de Janeiro onde a polícia resolveu trabalhar. Por que o vandalismo tomou o poder? Porque o poder público não fez nada. Acho que os programas de governo deveriam ser mais voltados para a educação porque somente com a educação é que esse povo vai ser mais crítico e somente com a crítica que o povo vai poder exigir porque se tu não sabes que tem a possibilidade de mudar ninguém vai correr atrás de mudança, o governo é desacreditado na maioria dos aspectos” (Mulher, 43 anos, nível superior completo, classe B2). 74 “São muito bons (os programas de governo). Tá melhorando a vida do povo” (Homem, 40 anos, nível fundamental incompleto, classe C2). “Há ações que estão fazendo a redistribuição de rendas através do Bolsa Família” (Homem,47 anos, superior incompleto, classe B2). “ProUni/Bolsa família, Bolsa escola/Minha casa, minha vida. Conheci através da mídia, Internet e jornal. O Prouni e programa Minha casa minha vida são maravilhosos porque dá condições para quem não pode comprar sua casa e o Prouni, ajuda a pessoa que é carente a estudar. Bolsa família: é deixar o povo ocioso (….) não precisa desse comodismo. Acho que o Bolsa família é um programa para deixar as pessoas cômodas e não buscarem trabalho. Acho um absurdo esse programa” (Homem, 26 anos, nível superior incompleto, classe B2). “As ações do governo são boas. É muito bom, porque o presidente Lula, ajuda muito com o Bolsa Família e o Bolsa Jovem, o PAC (...) Essas Bolsas ajudam muitas pessoas” (Mulher, classe C2, 1º grau, 36 anos). “Muitas pessoas falam que o governo Lula é assistencialista, que ele lança estes programas para se reeleger, mas eu não acho, creio que ele seja mais um governo do povo do que dos ricos. (...) Principalmente sobre o presidente Lula e suas ações governamentais, que para mim sempre foram muito favoráveis. (...) Acho o governo Lula direcionado para as classes mais carentes da sociedade. (...) Eu tenho certeza que o governo esta tentando fazer o melhor para a população, como dar mais assistência aos pobres, aos mais velhos e as crianças abandonadas” (Homem, 27 anos, segundo grau incompleto, classe C1). “O Bolsa Família tá ajudando muitas famílias que passavam fome, que ficavam na rua. Acho que eles tão administrando bem. (...) Minha opinião (sobre programas) é que é um incentivo pra gente gostar do governo. Também uma ajuda pras pessoas carentes, pras pessoas que não têm condições. (...) Os programas têm surtido 75 efeito, tá evoluindo sim” (Mulher, 21 anos, nível superior incompleto, classe B2). A percepção do comportamento da mídia em relação à divulgação das notícias sobre o governo e suas políticas públicas dividiu opiniões. Interessante observar que, em muitos casos, os meios de comunicação foram percebidos como favoráveis ao atual governo. Por vezes, houve desconfiança em relação a esta posição favorável da mídia ao governo sendo considerada, por um entrevistado, como possivelmente decorrente de acordo financeiro entre governo e mídia. “São mais favoráveis (as notícias) pra dar mais uma credibilidade ao governo. Às vezes acho que são parceiros” (Homem, 40 anos, nível fundamental incompleto, classe C2). Do mesmo modo uma entrevistada que percebe as notícias como favoráveis ao governo, desconfia que a Globo esconda os erros do governo, com receio à ocorrência de represálias. “São favoráveis( as notícias). Porque o que eles mostram na mídia é o que estão fazendo de bom pra gente. (...) A televisão mostra o de bom e o de ruim, mas eu acho que a Globo esconde muita coisa que eles erram, que o governo erra. Eu acho que é porque eles têm medo que o governo possa fazer algo contra eles” (Mulher, 21 anos, nível superior incompleto, classe B2). Outra entrevistada percebe que as notícias da Rede Globo são favoráveis ao governo porque a emissora tem linha de não enfrentamento com os governos de modo geral. “O jornalismo da Globo é favorável, a Globo sempre foi muito a favor dos governos, vejo a Globo como uma ovelhinha de presépio. Até mesmo o status da TV Globo 76 nunca foi de crítica ao governo. O jornalismo da Globo sempre foi mais cuidadoso com o governo, já os outros canais não, eles transmitem informações sobre o governo mais cruamente, mais com a intenção de crítica” (Mulher, 36 anos, nível superior completo, classe B2). Houve também opiniões que relativizaram, afirmando que em alguns casos os meios de comunicação são favoráveis e em outros não, dependendo dos interesses econômicos dos grupos que controlam as emissoras de TV. “Isso é relativo (as notícias) (...) depende de onde o sapato vai apertar o calo, por exemplo, a Band, o grupo Bandeirantes é um dos grandes latifundiários do Brasil e agora os caras querem criar uma lei (...) o fazendeiro produziu tantas toneladas de grãos esse ano, ano que vem para conseguir empréstimo vai ter que produzir um pouco mais, se não fizer isso vai perder a terra (...) a Band mete o pau nisso, assim como a Band, o Joelmir Beting fala: não, o Brasil é credor do FMI (...) O Brasil tá ferrado aqui mas empresta dinheiro pra lá (...) O presidente fala: nós é chique né, nos tá emprestando dinheiro” (Homem, 37 anos, segundo grau completo, classe C1). Também foram feitas relativizações, considerando as diferenças de posicionamento da mídia tendo em vista o assunto abordado. Os meios de comunicação são contrários em algumas situações quando discordam da posição assumida pelo governo, como nos casos da crise e da forte presença do Brasil no mundo. “Quando o Lula disse que a crise era uma marolinha a mídia televisiva foi pra cima criticando, mas eles não conseguiram dimensionar esse lado que estou dimensionando agora. (...) Associo o Lula como aquele que colocou a mochila nas costas e saiu por aí oferecendo o Brasil, isso ninguém vai tirar dele porque é o Presidente que mais vendeu o Brasil lá fora. Nós entramos até na 77 Arábia Saudita aquele monte de ouro rolando em cima da areia e o Brasil está lá. Na África o Brasil está vendendo projetos tipo o Mobral, está vendendo alimentos básicos, está oferecendo condições de intercâmbio, e a África é a nossa pátria praticamente, quantos africanos têm no Brasil e não tínhamos essa cultura de olhar os africanos como gente. A gente está no Haiti, com força militar, mas estamos no Haiti, são feridas da humanidade que o Lula não teve medo de encarar” (Mulher, 36 anos, nível superior completo, classe B2). 5.2.2. Juventude A grande maioria dos jovens não acompanha notícias sobre governo e política. Contudo, alguns sabem mencionar ações e programas sociais do governo. Os mais lembrados são Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Enem e Pró-Uni. As avaliações dos programas sociais são positivas quando os jovens percebem que estes programas beneficiam a população. Aqueles que são beneficiados pelos programas também os avaliam positivamente, indicando a relevância do programa para suas vidas. Este é o caso da jovem que é beneficiada pelo Bolsa Família, assim como sua mãe também é. Sua avaliação do atual governo é positiva, acredita que este governo é melhor do que seus antecessores e que o Brasil, hoje, encontra-se melhor do que outros países, pois conseguiu enfrentar a crise. “Acompanho, mas não muito (as notícias sobre governo e política). (...) Bolsa família, muita gente diz que é pouco, mas a realidade é que já ajuda, estão se beneficiando daquilo ali e não enxergam, R$ 120,00 é R$ 120,00 compra um gás. São 5 agora que dependem disso (na família dela). Não só criança se é adulto mas não recebe salário nenhum daí recebe também. A minha prima recebia, mas como a filhinha dela é deficiente, ela conseguiu aposentar ela, então ela já perdeu o bolsa família agora, mas recebe um salário mínimo mensal, daí não pode ter dois benefícios na mesma família (...) Agora ele ta melhor, esse governo ta melhor que os outros. Tá 78 fazendo mais e falando menos, antigamente falavam muito e não faziam nem a metade. (...) Antigamente ficava parado e não saia do lugar agora a gente ta indo pra frente no estudo, educação melhorou ta sendo mais valorizada agora, em relação às famílias com esse programa do bolsa família. (...) O Brasil antigamente nesse negócio da crise seria o primeiro a ficar pior e não, o Brasil ficou estável, ficou melhor que os EUA que é um país de potência, grande e ta difícil lá com a crise e pra gente ta melhor, a administração do Lula, dizem que o Lula tem um avião particular, mas ele precisa tem que ir pra lá e pra cá a todo momento, mas não é um benefício só pra ele, porque ele vai em busca de um benefício que não é só pra ele, é pro Brasil todo, ta atrás de melhoras pro Brasil” (Mulher, 17 anos, Ensino Fundamental Completo, Classe D/E). Há também alguns jovens que, apesar de não acompanharem as notícias sobre política e governo, mencionam alguns programas e os avaliam positivamente. Isto ocorre porque estes jovens possuírem uma visão positiva em relação ao atual Governo Federal. Como os jovens citados abaixo, que apesar de não acompanharem as notícias, lembram de programas que avaliam positivamente, assim como o faz com o atual governo. “Fome zero, bolsa escola. (...) (Conheceu) Pelas pessoas. (...) O Fome Zero ajuda a dar alimentos às pessoas necessitadas. Ajuda as pessoas a sair da miséria. O Bolsa Escola incentiva o aluno a ir para escola, se não for não recebe, ajuda as despesas de casa, é um dinheiro a mais. Eu acho ótimo ajudar as pessoas nas despesas de casa, a comprar alimentos. (...) (Opinião sobre o Governo Federal) Ótimo. Influencia na melhoria das pessoas. Ajuda a melhorar, tipo faz a coisa certa, não errada. Ajuda as pessoas a ter dinheiro extra, melhorar dentro de casa e nos estudos” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). “Não tenho acompanhado nada no momento sobre o governo federal (...) não lembro de nada no momento (...) 79 Eu conheço o Bolsa Família, o Fome Zero, o Enem, pois já acompanhei varias matérias falando sobre o assunto na televisão. (...) O Bolsa Família, por exemplo, eu acho muito importante, pois foi a partir deste programa que muitas famílias deixaram a pobreza total. Já o Fome Zero, da mesma forma, promoveu a diminuição da mortalidade infantil, o Enem facilitou a entrada de alunos de escolas públicas nas faculdades do estado, comprovando também a qualidade do ensino das escolas públicas do estado. (...) (Propagandas) do PAC eu não me recordo muito, mas do Minha Vida Minha Casa eu lembro sim, eu gostei bastante, principalmente porque o programa Minha Casa Minha Vida vai dar oportunidade para muitas pessoas comprarem a sua casa própria. (...) Eu gostei bastante (da propaganda do Minha Casa). (Opinião sobre o Governo) Não entendo muito, mas acho que temos uns dos melhores Governos dos últimos dez anos. (...) Sempre que vejo uma matéria sobre as pesquisas do governo Lula, fico cada vez mais convencido que seu governo e seus programas sociais são as respostas para a melhoria da vida do povo mais necessitado do Brasil” (Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2). Aqueles que possuem uma visão política e experiências negativas relacionadas aos programas sociais os avaliam negativamente, como no caso do jovem que tem a irmã beneficiada pelo auxílio salário escola e que o considera muito baixo para suprir as necessidades com o material escolar. Sobre o Bolsa Família afirma que é regular. Já os programas habitacionais avalia negativamente, pois acredita que as residências são muito pequenas para os padrões familiares encontrados. Na visão do entrevistado, deveriam aumentar o valor dos benefícios e não do salário dos políticos. Apesar de avaliar negativamente os resultados dos programas, o entrevistado pondera, afirmando “pelo menos isso eles estão fazendo, se eles não fizessem, pelo amor de Deus, quê que iria ser desse país”. Na mídia, considera que as notícias são mais negativas em relação ao atual governo e a política. 80 “O Bolsa Família é regular. O Salário Escola é ruim porque não dá pra ajudar nem pela metade na compra dos materiais escolares (...) é um valor simbólico pra dizer que o governo está se importando. E sem falar naquelas casinhas que eles distribuem de um cômodo pra uma família de doze, ou dois cômodos quer dizer, que se não me engano pra um pai de família que tem seis, sete filhos, dorme tudo na sala. (...) O salário escola é o „miséria pra todos‟, porque aquilo não dá pra sustentar, não dá pra comprar materiais escolares com aquele tanto, enquanto tá aumentando o salário dos políticos ai tudo, ao invés de aumentar o Bolsa Família, o Salário Escola. (...) Minha irmã é beneficiária e reclama muito porque não dá nem pra metade dos materiais escolares. (...) É um investimento que eles fizeram, uma base, mas essa base não dá pra quase ninguém. (...) Fome zero vírgula zero, zero um, é assim, uma fome que eles não dão conta de superar ela, não tem como, tem como tentar ajudar, o que pelo menos isso eles estão fazendo, se eles não fizessem pelo amor de deus quê que iria ser desse país, dessa cidade, dessa região, tudo. Mas assim pelo o que eles estão fazendo, conseguiu tirar muitas famílias da miséria mesmo né, conseguiu fazer muitas coisas em relação a isso, a miséria, uma coisa que, foi uma coisa, uma campanha que paralisou todo mundo, paralisou mesmo. As emissoras de televisão, qualquer propaganda, parava assim qualquer intervalo de alguma coisa, falava da importância, Eu acho que esse Fome Zero foi um dos mais importantes que eu posso considerar” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). Os jovens que afirmam não acompanhar as notícias sobre governo e política e também desconhecem as ações e programas do governo federal o avaliam de forma negativa. Estes jovens também apresentam baixa apropriação política e desinteresse por estes assuntos. Este é o caso da jovem que não acompanha as notícias, desconhece os programas e ações governamentais, possuindo uma visão negativa da política, de modo geral, e do atual governo. 81 “Eu acho que eles teriam que fazer mais e falar menos, muitos a gente só vê falando, que não sei o que, que vai fazer isso, vai fazer aquilo, e muitas das vezes você não vê nada, eu não vejo, mas também eu não me interesso por política. Primeiro que eu nem entendo nada disso, pra mim, eles falando eu não entendo nada de política” (Mulher, 22 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). É o mesmo caso da jovem que não se informa sobre política e governo, não gosta de política e possui uma visão negativa do atual governo e de seus programas sociais. “Não costumo acompanhar. Não lembro de notícia nenhuma. (...) Não to lembrada... acho que é o Bolsa Família, soube pela televisão. Eu acho que esse programa termina dando margem para o povo fazer mais filho, tem gente que nem trabalha mais, só pegando essa Bolsa Família, e penso que é errado. (...) Eu particularmente não sou muito a favor (do atual governo)” (Mulher, 20 anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1). De modo geral, como é baixa a informação sobre política e governo neste segmento houve certa indiferença em relação à avaliação do comportamento da mídia ao abordar notícias sobre o governo. Entre aqueles que se posicionaram, a percepção sobre o modo como a mídia noticia o governo pareceu estar associada a sua avaliação do governo. Jovens que avaliam positivamente o atual governo tendem a crer que a mídia veicula mais notícias favoráveis ao governo “(Notícias sobre o governo) quando vejo, na maioria das vezes são favoráveis” (Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2). Do mesmo modo os jovens que avaliam negativamente o governo tendem a crer que as notícias veiculadas na mídia são desfavoráveis. “(Notícias sobre o governo são) Mais desfavoráveis, porque o que se vê são coisas negativas que acontece 82 com o governo e a política. Às vezes até os jornalistas tentam dar uma sacudida na população falando dos salários dos políticos e dos impostos que pagamos. 70% das vezes as informações são negativas, tentam fazer a população reivindicar seus direitos” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). 83 6. Formação da opinião 6.1. Permeabilidade às notícias Para avaliar a permeabilidade às informações contrárias ao ponto de vista do entrevistado foram apresentadas notícias hipotéticas que contrariavam os posicionamentos fornecidos, informando que se tratava de uma simulação e solicitando uma apreciação. Confrontados com notícias hipotéticas contrárias ao seu posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o veículo de comunicação mencionado, ou relativizando a sua veracidade e aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma exceção à regra ou produto de alguma circunstância específica, enquanto outros aceitaram o conteúdo hipotético apresentado. Enquanto alguns aceitaram de forma mais abrangente as notícias hipotéticas apresentadas e incorporaram o conteúdo da mesma ao seu quadro perceptivo, outros se mostraram mais resistentes, mantendo o seu ponto de vista. 6.1.1. Classe média Neste segmento foram observados três tipos principais de comportamento: aqueles que rejeitaram, em maior medida, as notícias apresentadas (perfil posicionado à esquerda, politicamente definido, que conhece mais os assuntos políticos); aqueles que aceitaram em maior medida o conteúdo das notícias apresentadas (por valorizar os meios de comunicação referidos, por não ter segurança em relação ao seu ponto de vista); e aqueles que se situaram em um nível intermediário de permeabilidade às notícias hipotéticas apresentadas. 84 Ilustra o primeiro caso o entrevistado posicionado à esquerda, partidariamente definido, que demonstrou alto nível de conhecimento dos assuntos da agenda política atual. As notícias se referiam a um hipotético manifesto pró pena de morte proposto por “justiceiros” de São Paulo, fazendo contraposição à posição informada na entrevista contrária à pena de morte. A segunda notícia informava sobre um hipotético Programa Desemprego Zero direcionado ao funcionalismo público que implicava em aumento de vagas e aumento salarial. O entrevistado negou, enfaticamente, o conteúdo das notícias e fez apreciações críticas sobre as supostas alterações na linha editorial das emissoras, o que seria mais um indício de descrédito. “Ficaria estagnado porque uma notícia dessas seria uma irresponsabilidade ser veiculada em canais com audiência massiva (justiceiros propõem pena de morte). Não acreditaria, por mais que a Globo seja tendenciosa, ela é contra ferir direitos humanos. Não acreditaria, consideraria que o padrão jornalístico (Record News) estaria caindo. Não acreditaria, não daria para acreditar mesmo”. (Homem, 47anos, nível superior incompleto, classe B2). “Não acreditaria (programa desemprego zero). Primeiro iria me informar quais as categorias que seriam beneficiadas com tal programa. A Globo criticaria o governo, se a notícia realmente fosse a favor do funcionalismo público, o tom da mensagem seria diferente, seria mais ameno na Record News. Não acreditaria. Precisaria esperar mais tempo para averiguar se isso realmente poderia ser real e mesmo assim acharia que um grupo específico estaria sendo privilegiado” (Homem, 47anos, nível superior incompleto, classe B2). Alguns entrevistados que entenderam perfeitamente o conteúdo da notícia, ponderaram sobre os argumentos, mas mantiveram o seu ponto de vista por apresentarem uma posição cristalizada sobre o assunto. É o caso de um entrevistado com baixa apropriação política, nível de informação mediano, que se manifestou a favor da pena de morte e ao ser confrontado com o argumento contrario reafirmou sua posição. 85 “Sou a favor da pena de morte porque as pessoas se baseiam „vou para a cadeia, vou comer, dormir, tô numa boa‟, a família fica amparada porque acho que o governo dá uma parte de sustento porque tem filhos. Muita gente se reabilita na cadeia, mas é a grande minoria. Para mim poderia jogar uma bomba em cada cadeia e matar todo mundo. Sendo que muitos são inocentes (entrevistas iniciais)”. “Está querendo dizer (notícia oposta), pelo que entendi, que a pena de morte está para começar a ser colocada em votação no país e que como o exemplo dos EUA a pena de morte não reduz a criminalidade. Até deu exemplo ali que 4 pessoas foram inocentadas na última hora e diz ali que não é eficiente, não está adiantando o que está adiantando é a reabilitação, as ONGs tentando ajudar. Acho que tem bem menos criminalidade nos países que tem a pena de morte as pessoas já pensam duas vezes antes de fazer as coisas erradas. Se fosse um caso de votação para que tivesse a pena de morte eu iria votar para ter. Até acho que a pena de morte mata mais que muita doença, se chegar na data da pessoa ser executada ela será, vai matar quase que diariamente uma pessoa, mas serviria de exemplo para as outras não fazerem as coisas erradas. Muito inocente morre injustamente com uma bala perdida de um vagabundo atirando, um policial atirando, qualquer outra pessoa atirando ou por que o cara estava bêbado no trânsito, tem muita pessoa inocente que morre por nada, para mim não faria diferença qualquer uma pessoa morrer” (Homem, 30 anos, segundo grau completo, classe C1). Alguns desqualificaram o veículo de comunicação. Este é o caso de uma entrevistada que possui nível intermediário de apropriação política e pouco conhecimento sobre políticas e ações do governo. Possui muita confiança nos meios de comunicação que escolheu a partir de convicções religiosas (TV Record e Rádio Nazaré), tende a dar crédito ao que é veiculado por essas emissoras e a desconfiar das demais, especialmente 86 da TV Liberal que é totalmente desqualificada por ela a ponto de negar credibilidade à notícia de igual conteúdo, quando veiculada por essa emissora. Quando a lógica não lhe permitiu discordar do conteúdo argumentou que desconfiaria do sentimento do comentarista. Nas entrevistas iniciais a entrevistada mostrara-se desfavorável à privatização das empresas estatais e favorável à pena de morte. “Não, não deveria ser privatizada (as estatais) porque assim, é do povo porque rende mais dinheiro e empregos também para o povo. (entrevistas iniciais)”. “Se fosse pela TV Liberal, acho que seria fofoca, das pessoas estarem inventando, não seria o certo, não iria acreditar. Bem, seria, se fosse realmente, por motivo eu acreditar em todos os momentos da TV que eu assisto (Record), eu ficaria acreditando e não acreditando, mais eu acreditaria um pouco mais, eu confiaria mais ou menos. Se fosse também pela rádio Nazaré, que é uma rádio religiosa eu acreditaria, eu aceitaria sim que é verdadeira. (4ª entrevista)” “A favor (da pena de morte) porque eu acho que o próximo fazendo o que ele faz, não faria mais, ele vendo que o que aconteceu com outro, serviria de exemplo” (entrevistas iniciais). “Não confiaria, não. Seria a opinião da TV Liberal agora minha mesma não. Não confiaria na TV Liberal, eu concordaria com que ele tava falando, que não resolve o problema, não acreditaria se fosse um comentarista, eu não acreditaria no sentimento dele, concordaria com o que ele tava falando, mais não acreditaria no sentimento do comentarista”. “Bem eu acredito no que o bispo fala (TV Record), se mata um gera muito mais, se matarem mais, nasce mais, a criminalidade aumenta, por que quem não trabalha, não tem dinheiro então ele procura um jeito fácil que é bandido, assim é a droga, eu acreditaria sim, concordaria com o bispo com certeza. Na minha opinião eu não concordaria com a pena de morte, concordo que não é a solução para isso, por que a marginalidade iria crescer muito mais” (4ª entrevista) (Mulher, 36 anos, primeiro grau, classe C2). 87 Em outros casos, observou-se maior abertura às notícias contrárias com a aceitação total ou parcial da nova informação. A posição favorável à pena de morte, amplamente apoiada pelos entrevistados, foi também a mais relativizada na resposta à notícia hipotética que recusava essa hipótese. Houve, inclusive, a negação total da idéia original. Esses entrevistados tendem a ter preferências e opções políticas pouco fundamentadas e muitas vezes contraditórias, evidenciando a ausência de coerência política. Uma argumentação racionalmente fundamentada, ou ancorada em apelo moral ou afetivo, tende a ser facilmente incorporada ao discurso do entrevistado. Esse é o caso de uma mulher de 31 anos, cozinheira, pouco interessada em política, pouco informada sobre políticas e ações de governo, que relativizou sua afirmação original ou negou o que dissera, tendendo a incorporar as novas informações. O apoio à pena de morte foi relativizado a partir da argumentação contrária embasada na possibilidade de morte de inocentes. Da mesma forma a entrevistada posicionou-se, originalmente, como sendo desfavorável a demissão de funcionários públicos. Frente à nova argumentação que recorre ao argumento de ineficiência do funcionalismo concorda plenamente. “No meu ponto de vista seria a punição pra essas pessoas, matou, vai ser morto. Há punição assim vai pra cadeia e sai, muitas vezes a pessoa sai de lá com um pensamento bom, mas muitas vezes fica pior” (entrevistas iniciais) “mas o que ela fala aí, é certo! se existisse, muitos inocentes seriam mortos, como em outros países”. (4ª entrevista) “Não concordo com a demissão de funcionários públicos, pois tem pessoas que já trabalham há muito tempo e sairiam sem direito a nada e ainda decepcionadas” (entrevistas iniciais). “Concordo” (4ª entrevista) (Mulher, 31 anos, segundo grau incompleto, classe C2). 88 Um caso intermediário registra uma entrevistada que possui posições políticas definidas e grau médio de coerência política. Trata-se de uma mulher, empregada doméstica que ao casar tornou-se manicure para complementar a renda familiar. É pouco apropriada politicamente, possui grau intermediário governamentais. de informações sobre o governo e políticas Acompanha pouco o noticiário da mídia. Apóia o PT. Manifestou-se favorável à pena de morte. Quando confrontada com as notícias hipotéticas mudou radicalmente de posição, incorporando o conteúdo ao seu quadro perceptivo. “Todos lá de casa somos petistas, mais a minha família todos lutam pelo PT, porque os petistas lutam pelos pobre, a gente somos guerreiras, somos lutadoras, então a minha opinião é essa. Eu sei que sou petista mesmo e pronto nada mais do que isso não.O petista ajuda muito os pobres. O PT é de luta e de guerra, então ele ajuda muito os pobres, as pessoas com o Bolsa família, Bolsa jovem, então isso está sendo oferecido pelo PT, a gente demonstra nosso trabalho para ele, eles não tem dinheiro para dá pra gente, ajuda o pobre, somos guerreiros com o coração. A favor (da pena de morte) porque eu acho que o próximo fazendo o que ele faz, não faria mais, ele vendo que o que aconteceu com outro, serviria de exemplo”( entrevistas iniciais). “Eu não concordaria com a pena de morte, concordo que não é a solução para isso, por que a marginalidade iria crescer muito mais.” (4ª entrevista) (mulher,47 anos,1º grau, classe C2). 6.1.2. Juventude Confrontados com notícias hipotéticas contrárias ao seu posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o veículo de comunicação mencionado, ou relativizando a sua veracidade e aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma exceção à regra ou produto 89 de alguma circunstância específica. Outros se demonstraram mais flexíveis e abertos, aceitando o conteúdo hipotético apresentado. Entre aqueles que rejeitaram em maior medida as notícias apresentadas, pode-se citar o entrevistado de 19 anos, que se defini politicamente como centro, social democrata, com preferência partidária assumida. É coerente, informado sobre os temas políticos do momento, apropriado politicamente. Reafirmou sua posição inicial em relação às notícias contrárias a seus pontos de vista. A mídia não interferiu em suas posições. A primeira discutia um hipotético estudo comparativo sobre justiça que indicava a justiça brasileira como eficiente e igualitária, a segunda informava sobre um hipotético plebiscito sobre a pena de morte e a terceira, sobre um hipotético e bem sucedido programa de demissão voluntária de funcionários públicos. Em relação à pena de morte reafirmou posição favorável o que poderia ser considerado uma incoerência em relação a seu ideário político fundado no humanismo e no respeito aos direitos humanos. “Me defino como um social-democrata, de centro porque acredito que temos de ver os dois lados da moeda. Sim eu tenho (preferência partidária) (pelo) PT. Um partido social democrata, lutando sempre pelos mais fracos e oprimidos da sociedade. (...) Não (a justiça não é eficiente e igualitária). Acho que a justiça ainda não é válida para todos, favorecendo os ricos e menosprezando os pobres. Independente da emissora eu não acreditaria nessa noticia (4ª entrevista). (...) Não (existe justiça). Existe favorecimento quando se trata de uma pessoa que tenha um poder aquisitivo maior que pode comprar a lei no nosso país. (entrevista anterior) (...) Acredito que sim (favorável à pena de morte), pois discrimino muito a lei de hoje onde muitos matam roubam estupram e ficam impune, pois acredito que precisamos de leis mais rígidas, como pena de morte. (4ª entrevista). A favor (da pena de morte). Pois só assim muitos pensariam duas vezes antes de tirar a vida de seus semelhantes. (entrevista anterior) (...) Acho que as demissões não são solução, e sim um passo a mais para o desemprego e a miséria. (A resposta seria) a mesma, pois acredito que independente da emissora a informação não mudaria o contexto. (4ª 90 entrevista) Não (deveria demitir funcionários). Porque aumentaria a miséria existente em nosso país e não resolveria em nada, continuaria apenas ajudando alguns a embolsar mais” (entrevista anterior) (Homem,19 anos, Ensino Médio Completo, Classe C1). Entre aqueles que rejeitaram algumas notícias hipotéticas e relativizaram outras se encontra a entrevistada de 20 anos, estudante de direito e estagiária em advocacia, filha de militar e professora. Convive com política desde cedo, a família do pai é peemedebista e a da mãe é petista, não se interessa por política, não acompanha as notícias sobre governo. Não é apropriada politicamente. Define-se como politicamente neutra, de centro, capitalista. Ao confrontar-se com as notícias hipotéticas contrárias a seu posicionamento original tendeu a discordar da nova notícia, por vezes relativizando sua posição a partir das novas informações. Acerca da demissão dos funcionários públicos manteve a posição original contrária às demissões, sobre a Bolsa família relativizou sua posição sensibilizada pela possibilidade de diminuição da desigualdade social, mas ainda argumentando contra o assistencialismo. A notícia hipotética que defende a pena de morte foi negada por ela mantendo posição contrária, a justificativa é de cunho religioso. Acerca das informações hipotéticas sobre quotas para universitários negros relativizou sua posição, sensibilizada pelo argumento de diminuição das diferenças sociais, porém manteve a posição original. A mídia não interferiu em suas definições. “Neutra (auto definição política). Me situo no centro porque os dois extremos giram em torno daquela questão socialista e capitalista, de um lado o social e por outro lado o capitalismo gera mais desigualdade ainda, então eu fico ali no meio. Acho que as posições socialismo e capitalismo eu me defino capitalista, sou capitalista e não nego, até porque a visão que eu tenho do socialismo é dividir, e eu não acho justo eu trabalhar que nem uma condenada e dividir com uma pessoa que não faz nada da vida. Não é preferência (partidária), é simpatia, pelo 91 PMDB. (...) Eu acho (sobre demissão do funcionalismo) que ia existir mais desemprego do que já existe, eu não concordo com a demissão de funcionários, se eles fizeram concurso público, estudaram e passaram, eu não vejo o porquê da demissão. (...) Assim a respeito da confiabilidade eu confiaria sim, o SBT, já tem muitos anos e não se queimaria assim, na verdade é muito difícil, se queimar um trabalho de longos anos.Eu acho que se uma noticia corre publicamente é certo. (...) Acho que eu confiaria mais ainda porque todo mundo publicando, seria mais confiável ainda (4ª entrevista). Não (contra a demissão), olha, se com esse tanto de funcionário público não fazem direito, agora, tu imagina com menos (entrevista anterior). (...) Olha eu não sou muito a favor (da Bolsa Família), até porque eu já tinha falado e as vezes acho que é mais um motivo deles fazerem filho, mais eu acho que é mais uma tentativa deles diminuir a desigualdade para tentar nivelar as pessoas. Não é exatamente que eu não concorde, não sou muito a favor, como eu falei, as pessoas terminam fazendo mais filho por causa disso (4ª entrevista). Eu acho que esse programa (Bolsa Família) termina dando margem para o povo fazer mais filho, tem gente que nem trabalha mais, só pegando essa bolsa família, penso que é errado (entrevista anterior). (...) Só Deus tem o direito de tirar a vida, não sou a favor da pena de morte. A minha opinião continuaria a mesma, mais com relação a confiabilidade, como é uma noticia eu confiaria, só que totalmente, só a partir de uma lei que é escrita lá que a pena de morte é válida no Brasil (4ª entrevista). (...) Na verdade eu falo assim a pessoa que mata, vamos supor, matou uma pessoa, será que essa pessoa merece pena de morte? Mas como Deus nos colocou aqui no mundo, só ele tem direito de tirar a vida. Então sou contra (entrevista anterior). (...) Racismo infelizmente ainda existe, com relação às cotas das universidades antes eu era totalmente contra, eu ainda acho uma maneira de privilegiá-los só que, por outro lado, a maioria dos negros não tem condição porque são de família humilde, então é visto como uma tentativa de tentar igualar em relação a nível social, não sou exatamente contra, mas eu acho que essa foi uma solução que eles encontraram para diminuir as diferenças. (...) Se fosse divulgada no SBT, eu continuo sendo contra, eles tentam 92 com isso amenizar as diferenças sociais, mas não é por ai (4ª entrevista). (...) Eu acho que existe discriminação em vários grupos, tanto do negro quanto do branco, e do branco para o negro, e por incrível que pareça até mesmo eu sofro, porque tenho traços mestiços, sou descendente de japonês, volta lá para o teu país, não é só do branco para o negro, o negro também faz discriminação. Quando foi implantado cota na universidade federal para negro, eu entendo isso como discriminação. Ta dando a entender que o negro não tem capacidade de passar, ta automaticamente dizendo que o negro é burro. A cor da pele não interfere no teu intelecto, a ciência já provou isso, a cor da pele não interfere em nada (entrevista anterior)” (Mulher, 20 anos, Superior Incompleto, Classe B1). Posicionamento semelhante em relação às notícias foi encontrado no caso do jovem, cuja opinião é a seguir descrita. “Ah eu me defino, não sei muita coisa em política, sabe, mas procuro tá sempre em contato com as principais notícias, eu não gosto muito de política porque não é o meu interesse, mas procuro tá sempre por dentro das principais notícias. Eu sou do meio, centro, flexível, sabe, se for com o interesse de ajudar, eu sou tanto direita quanto esquerda. Como um liberal (se auto-define). Liberal é ser flexível, é tu estar aberto as coisas boas, aberto a aprender coisas, sabe. Ser liberal à união de sexo oposto, tipo coisas assim, sendo para o ser humano ser feliz eu sou liberal. (...) Não, não tenho preferência, eu sou PMDB e PT. (...) Olha eu sou contra isso aí (demissão de funcionários) porque para mim programa de demissão é uma coisa que eu não tenho interesse nenhum, eu acho que o governo ao invés de ficar inventando esses programas de demissão, tem que inventar alguma coisa para admitir, para a pessoa trabalhar e não para a pessoa querer sair do serviço (4ª entrevista). (...) Demitir (funcionários públicos) só causa mais transtorno, porque vai aumentar o índice de desemprego. Tem que ter bastante pessoas, deveriam ser mais qualificadas, tem pessoas lá que não sabem o que estão fazendo (noticia anterior). (...) Olha, pra mim, eu não tenho muita opinião sobre isto, porque pra mim é um fato que racismo e desigualdade é uma coisa que não existe, eu acho que 93 tem que aumentar a punição, sabe. Os políticos tem que ser mais severos nessa lei e pronto, pra mim eu discordo disso aí, pra mim não existe racismo nem desigualdade. Procuro evitar qualquer tipo de comentários sobre isto, até porque tem pessoas muito importantes na minha família que são negras (4ª entrevista). (...) Na minha opinião não (se recusa a falar sobre o assunto), eu tenho pavor disto (entrevista anterior). (...) Sei que é uma notícia séria porque eu sei que tem esses problemas aí de violência e criminalidade, só que, eu acho, (...) que a desigualdade e a má distribuição de renda são os principais culpados (4ª entrevista). Existe (criminalidade) em todos os lugares, o Brasil tem bastante. A criminalidade está estável porque diariamente eu vejo que a polícia tem dado bastante conta em termos de município, tem diminuído muito. Agora, em termos de Brasil em geral tá estável (entrevista anterior). (...) Olha, a minha opinião é quem matou tem que ser morto. Eu sou a favor da pena de morte. Na Globo, ou em toda a mídia, eu só tenho uma opinião (4ª entrevista). Eu sou a favor (da pena de morte), matou, tirou uma vida tem que ser punido. Porque do mesmo jeito que a pessoa tirou a vida de alguém, não é só da pessoa que tirou, eu acho que afeta toda a família, tirou a vida de várias outras pessoas além daquela que foi morta. Primeiro eu sou a favor da reabilitação, caso não houver reabilitação tem que pagar com a vida (noticia anterior)” (Homem, 24 anos, Ensino Médio Completo, Classe C1). Entre os que aceitaram em maior medida o conteúdo das noticias apresentadas, mostrando uma maior abertura à mídia, está o entrevistado de 23 anos, desinformado, não apropriado políticamente, mostrando-se aberto às novas informações, tendeu a incorporá-las a seu quadro perceptivo. Auto define-se como de centro, conservador, sem preferência partidária. Frente aos novos argumentos que buscavam desconstituir a pena de morte como punição, sensibilizou-se e incorporou a informação, o mesmo acontecendo em relação à criminalidade e a noção de política. 94 “Olha, na minha casa, na minha política, sou uma pessoa normal, sossegada, só eu e minha esposa, então sou uma pessoa na minha, tranqüila. (...) (Posição política) Centro, nem na esquerda, nem na direita, eu fico no meio, porque eu sou muito desligado em termos de política. Eu preferiria o lado que não tivesse (uma postura política), pra me afastar de tudo, debate, política. (...) Essa mesma notícia (pena de morte) se fosse bem clara igual tá aqui, eu mudaria de idéia com certeza, porque ele tá contando uma história que mexe com a gente, você vê que realmente aconteceu e realmente acontece na vida do ser humano. Eu preferia ver ela no jornal, mas no meu modo de pensar o que fez a gente racionar foi pelo modo que foi escrito e o que realmente acontece na vida do ser humano, então isso que me fez mudar de idéia e de acreditar, como que fosse num jornal, todo especificado „certim‟ como que aconteceu, como que sobrevive uma pessoa, como ela reage sobre isso, isso que me fez mudar de idéia, tanto se fosse no Jornal Nacional, na TV fechada, aberta, internet, depende do jeito que ela foi escrita. E também é uma estória que você vê que realmente acontece (4ª entrevista). (...) Eu seria a favor, porque se a pessoa fez coisa errada já era eliminado já, que ai já evitava isso no Brasil. Esse lance de roubar, matar já pensava duas vezes antes de fazer. Ai sim o Brasil ia ser um país verdadeiro ( entrevista anterior). (...) Acho que é impossível acabar com a criminalidade, porque a maioria do pessoal estão envolvidas na criminalidade. Políticos dão força pro tráfico, incentivam as drogas, cada dia estão aumentando o dinheiro deles. Realmente deixa mesmo (presos pior que entraram), eles vão preso, lá não falta droga, não falta celular, não falta comida. Tem um incentivo, o policial já tá tudo ali aliado a eles, então hoje em dia as prisões nas cidades maiores funcionam dessa forma. Inclusive tem muitas cadeias, hoje em dia, que tem o centro de formação, que ensina às pessoas artesanato, há várias, tudo quanto é tipo de serviço. É muito produtivo, se realmente tiver forças pra acontecer isso em todos os lugares inclusive nas piores cadeias que tem muita criminalidade. Se eu escutasse num rádio teria que ser muito bem explicado, igual foi explicado aqui, eu preferiria ter visto ela na revista, pra eu raciocinar tudo aquilo, que é um modo de pensar, aí não iria estar essa confusão, seria 95 melhor. Estar incentivando as pessoas, igual fala ai, não destruindo forças, construindo forças, fala pra que tudo acabe de forma produtiva, seria bom. Eu acho que deveria ser dessa forma que tá acontecendo, dessa forma que a gente tá vendo aí. Teria que acontecer assim, assim resolveria, eu creio que sim (4ª entrevista). (...) Ah porque falta segurança pública. Tem que investir em segurança pública, pegando dinheiro e investindo naquilo e acho que tem que ter mais policiamento nas ruas, ai vai ter mais segurança pública (entrevista anterior) (...) Bom, o que eu entendi ai da política, que tudo se forma política, igual eu tenho meu serviço, tenho meu gerente, tenho o proprietário, sempre tem que ter um acima da gente pra dar, igual eu falei ai, pra dar serviço de rua, tem que ter o prefeito pra tá, secretário de obras, então sempre tem que ter uma pessoa nomeada pra tomar as atitudes pra, igual na, na família, tem o pai de família, ele é o político da família, ele que dá as ordens na família. Então eu penso assim, em geral, tem que ter a política mesmo na sociedade. Tem que ter o governante, sem um governante, fica tudo bagunçado, a pessoa faz o que quer e não funcionaria com certeza (4ª entrevista). (...) (Definição de política) Uns querendo ser melhor que os outros, uns querendo ganhar na conversa, querendo falar, sei lá, não sei nem explicar (entrevista anterior)” (Homem, 23 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2). Aqueles que rejeitaram as notícias hipotéticas indicaram ausência de lógica ou confusão, baixa apropriação política, indefinição quando a sua localização no jogo político, tendendo a pouca receptividade às novas notícias. É o caso da jovem de 22 anos que desgosta profundamente de política, tem baixo grau de coerência política, afirma não entender nada de política e não tem nenhum interesse pelo assunto. Ao confrontar-se com as notícias hipotéticas contrapostas às posições defendidas, reafirmou suas posições, desqualificando o meio. A primeira notícia hipotética discutia uma noção de política abrangente, não identificada apenas com a ação dos políticos, noção esta recusada pela entrevistada. A segunda notícia abordava os efeitos das privatizações. Desconhecendo o conteúdo da questão, a 96 entrevistada focou-se na discussão emprego/desemprego, reafirmando sua confusa posição inicial contrária ao desemprego, a terceira notícia interrogava sobre a possibilidade de mudança de classe social, sua posição foi, nos dois momentos, afirmativa quanto a essa possibilidade, a quarta notícia hipotética considerava a justiça brasileira eficiente e igualitária, a entrevistada reafirmou sua posição contrária, a quinta anunciava um hipotético plebiscito sobre a pena de morte, após uma digressão errática onde tende a concordar e logo discorda, conclui por discordar reafirmando sua posição inicial. “Eu não acho (que política seja isso), não tem nada a ver com essa coisa de família, nem de jogar lixo na rua (4ª entrevista). Uma m... (a política). Eu não gosto de política, não gosto nada mesmo, eu não me interesso em nada de política, ponto. Uma droga, vai começar tudo de novo, no dia a gente vai ter que votar. Política é um monte de homens ou mulheres ganhando à toa, pra fingir que vai fazer as coisas pras pessoas e não faz nada (entrevista anterior). (...) Não sei (definir-se), eu não entendo nada de política. Não me interessa, não entendo (situar-se), eu só voto mesmo porque tenho que votar. (...) Não lembro não (preferência partidária), mas as pessoas que eu já votei são desse partido (PDT) (entrevista anterior). (...) Eu acho que realmente isso ocorreu, ficou muita gente desempregada, sem saber o que fazer. Eu acho que realmente se não tivesse ocorrido muita gente não teria perdido o emprego (4ª entrevista). (...) Eu acho que deveria ser sim (privatizadas, as estatais), pra dar novos empregos. Eu acho que tem (que privatizar), porque são empresas que já têm funcionários, que vai dar vários outros empregos. E tinha que fazer outras, abrir outras (empresas privadas) (entrevista anterior). (...) Eu discordo (da dificuldade em mudar de classe), porque se você não correr atrás, como é que você vai conseguir? Você vai ficar parada e não vai fazer nada, isso que eu acho (4ª entrevista). (...) Não tem como você mudar de uma classe para outra se você não fizer esforço. Depende, tem que lutar muito, no meu modo de vista, tem que trabalhar, como é que você vai conseguir as coisas se você não trabalhar pra conseguir seus objetivos; como é que você vai comprar um carro, se você não trabalhar pra comprar? Acho que tem que lutar, trabalhar muito 97 (entrevista anterior). (...) (Sobre justiça) Porque, vamos supor, quem tem dinheiro, acontece alguma coisa lá. A pessoa vai, só de chegar lá e conversar, ou se for conhecido, já logo muda totalmente o que eles fazem com ele. E o pobre não, o pobre não querem nem saber o que aconteceu, se ele é realmente culpado ou inocente (4ª entrevista). (...) Não (há justiça). Porque tem muita gente inocente que paga pelos pecadores. Muita gente que realmente é culpado e cai em cima de uma pessoa que não tem culpa, a pessoa leva a culpa de uma coisa que não fez (entrevista anterior). (...) (Pena de morte) Realmente, não é tendo pena de morte que a pessoa vai pagar pelo que fez, mas se no Brasil tivesse, eu acho que as pessoas respeitariam mais e que teriam medo. Eu acho que não é isso que a gente quer pro nosso país, de ter pena de morte, mas eu acho que isso resolveria, diminuiria a violência, esse negócio de muito bandido, eu acho que iam respeitar mais, ficar com medo, qualquer coisa ia ser ou prisão perpétua ou pena de morte. Porque eu acho que no caso os bandidos teriam medo, tipo no Brasil você mata uma pessoa, você vai lá, se responder a um processo, se for lá na cadeia registrar alguma coisa, tem caso que nem é registrado nada. Morreu, enterrou e pronto. Lá fora não, é mais rígido, prende, às vezes nem é prisão perpétua nem nada, mas tem aquele tempo de cadeia; eu acho que a lei lá pra fora é mais rígida que no Brasil. Eu só concordo mesmo que tinha que ter no Brasil, eu concordo que tinha que ter, não mudaria minha opinião (4ª entrevista). (...) A favor (da pena de morte), porque eu acho que quando tem pena de morte, as pessoas já ficam com mais medo de fazer as coisas, por causa da punição. Porque lá nos EUA, por exemplo, lá uma pessoa se roubar, assaltar, não sei o que, tentar estupro, aquela pessoa vai presa e já vai ser julgada por isso, pena de morte ou prisão perpétua. Aqui no Brasil não, por isso é que acontece essas coisas, porque não tem. Uma pessoa mata outra hoje, amanhã vai a julgamento e já vai estar solto (entrevista anterior)” (Mulher, 22 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). 98 6.2. Relevância dos meios e outras referências 6.2.1. Classe Média O veículo de comunicação foi considerado relevante para a aceitabilidade do conteúdo da notícia. Em alguns casos a notícia foi aceita totalmente e incorporada ao esquema receptivo do entrevistado, em outras foi aceita parcialmente até posterior confirmação através de outros meios, o que reafirma a relevância do meio para a credibilidade da notícia e sua aceitação. É o caso do entrevistado que frente a uma notícia que lhe causa impacto negativo e se opõe a sua posição original tende a crer na veracidade da notícia devido a confiança que deposita no veículo que a divulga e nos meios de comunicação em geral. “Eu ficava pasmo com a notícia (justiceiros propõem pena de morte). Ficaria pensativo, olhando bem se é verdade mesmo, aquilo mesmo, que essa notícia está proliferando, e acreditando na pessoa do jornalismo, né? Afinal, porque a rede Record tem uma parte de jornalismo que é de credibilidade mesmo. Ficaria assim porque eu confio na Rede Record, na pessoa do jornalismo. A gente fica assim, pasmado, Oxe, mas isso ta acontecendo realmente? aí a gente vai pra outros jornais pra conferir mesmo. Se passar em outros, a gente vê que é verdade realmente Eu acreditaria. Eu acreditaria na informação, agora, sou contra no que está escrito, da pena de morte. E todos os canais televisivos ta mostrando. Aí dá pra perceber que não tem camuflagem, não tem engodo. A notícia não ta sendo forjada. (...) Eu acreditaria (quotas para negros na universidade). Acreditaria porque, em parte, a TVE ainda fala um pouquinho sobre a discriminação racial. Eu já vi negro trabalhando lá, negro trabalhando no noticiário. Aí poderia até dizer que daria 100% de crédito pra essa notícia na TVE. Porque, como eu falei, ela mostra um pouquinho da realidade sobre o negro, afro-descendente. Interpretaria da seguinte forma: que existe racismo mesmo na universidade, onde os brancos preenchem todas as cadeiras e não quer que o negro preencha essas cadeiras. Realmente, é uma verdade. Eu acreditaria. Eu acreditaria na notícia, porque 99 aí já ta sendo um fato verdadeiro. Eu veria que realmente isso está acontecendo, veria que o racismo no Brasil realmente está crescendo, onde os brancos querem realmente ter mais poder. Querem realmente ocupar as cadeiras que acham que cabe só a eles” (Homem, 40 anos, fundamental incompleto,classe C2). Em outros casos os entrevistados mostraram-se indiferentes quando ao meio que veiculou a notícia, voltando-se mais ao exame do conteúdo da informação para emitir seu juízo a respeito do assunto. Esse é o caso da entrevistada que se posicionou a respeito da criminalidade pautandose apenas pelo conteúdo da notícia e afirmando que os meios de comunicação não interferem em suas opiniões. “(Se fosse divulgada pela Rede Globo) eu também me manteria com a mesma opinião, porque foi o que eu falei, notícia só vai mudar de canal, mudar de emissora, a notícia é a mesma, eu acho que o problema vai continuar sendo o mesmo. Na Globo eu também me manteria com a mesma opinião. Independente dela estar na Record, acho que eu pensaria desse jeito, continuaria pensando desse jeito. Porque eu acho que falando da criminalidade, de bandido, eu acho que não é porque passa numa emissora, que nas outras o bandido vai ser visto de outra maneira. Acho que bandido e criminalidade é visto do mesmo jeito em qualquer emissora, em qualquer jornal. Eu continuaria pensando desse jeito, porque não é porque a notícia está em todas as emissoras, no alto falante, no rádio, no jornal, que ia mudar alguma coisa, a notícia é a mesma. Essa notícia aí da justiça, eu acho que na Record, no SBT e até na Globo, essa é a minha opinião” (Mulher,33 anos, nível superior completo, classe B2). A rastreabilidade das informações e fontes utilizadas mostrou ser a mídia a principal referência e, em segundo lugar, as conversações com pessoas próximas. As conversações com familiares, amigos e pessoas do círculo de relações pessoais, mostraram-se relevantes nos casos em que as pessoas são escassamente informadas, pouco apropriadas da política. Para 100 estas pessoas o círculo de relações pessoais inspira mais confiança. São os casos daqueles entrevistados que assistem TV e levam em consideração as informações recebidas, mas as consideram insuficientes para sedimentar sua opinião. “A televisão vai mostrar ali a imagem, o perfil lá do político, acho que é isso; apesar de eu não me ligar, mas se eu tiver que ter uma opinião, eu vou assistir ali, depois se eu tiver que pesquisar, pra mim, é a televisão e depois a Internet. Através de conversas (firma posições). Pessoas que eu confio, que já viveram essa situação, acho que a conversação ia formar mais, ia ajudar mais a formar minha opinião” (Mulher, 33 anos, nível superior incompleto, classe B2). “No meu caso, eu não me interesso muito por esse assunto (política), o pouco que eu vejo e ouço geralmente é a televisão. Para mim é mais importante a conversação com as pessoas. E não com muita freqüência, geralmente com meu pai eu tenho esse tipo de conversa. Eu só conversei sobre o governo federal, foi com meu pai e assisti televisão, e a partir daí comecei a formar alguma opinião e a televisão não passou credibilidade, eu não tenho interesse na política, e por isso não sei, mais eu assisti alguns debates e não me passou credibilidade, eu ouvi algumas coisa, mais foi só” (Mulher, 16 anos, segundo grau incompleto, classe C1). Foi atribuída grande relevância e credibilidade aos comentaristas, colunistas, apresentadores, repórteres e blogueiros que emitem opiniões sobre os assuntos políticos e governamentais. Aqueles que não dominam os termos especializados da política e são relativamente pouco apropriados, particularmente, são os que mais se valem destas referências como mecanismo para formação de opinião. Alguns jornalistas são considerados confiáveis porque não costumam se posicionar, passando a imagem de isenção. Outros são apreciados pelo oposto, porque expõem suas opiniões com contundência. Alguns comentaristas construíram uma trajetória de credibilidade possuindo hoje um público cativo como é o caso de 101 Boris Casoy. Quando a notícia é apresentada pelo comentarista em que o entrevistado confia, a credibilidade é total. Quando se soma credibilidade do apresentador à ampla aceitação da emissora e do programa, a aceitabilidade é ainda maior. É o exemplo do Jornal Nacional da Rede Globo, conduzido por William Bonner e Fátima Bernardes. “Um repórter que fala bastante sobre política é o Lasier Martins da RBS de Porto Alegre. Gosto dele porque ele fala, bota a cara ali na TV e fala, não está nem aí” (Homem, 30 anos, segundo grau completo, classe C1). “Jô Soares porque ele é um profissional que pega desde a fofoca até a notícia mais séria e ele não tem medo, ele leva para a mídia a verdade mesmo. Marília Gabriela e Arnaldo Jabbor” (Mulher,43 anos,superior completo,C2). “Arnaldo Jabor, Boris Casoy, Alexandre Garcia, Mainard, Caio Bindler, Mônica Waldvogel. Todas do Saia Justa, a Maitê Proença. Como o programa é deles e eles vendem para a Globo eles tem independência. Os que mais influenciam na formação da minha opinião são o Alexandre Garcia, Arnaldo Jabor e o Boris Casoy, que pelo fato de estar na TV aberta eu não olho muito, mas gosto muito dos comentários deles. O programa da Marília Gabriela é muito bom, gostava do Jô (Homem, 44 anos, nível superior completo, classe B2). “Eu acreditaria mais, porque no caso quem tá dando a notícia é Boris Casoy, né? Um jornalista de renome no país, e a gente acredita nas notícias e nas opiniões que ele dá. Já criou credibilidade com o povo brasileiro. Eu concordo com a opinião dele, em gênero, número e grau” (Homem, 40 anos, fundamental incompleto,classe C2). “Boris Casoy acho que influencia muita gente, o Mauricio do GNT que fala de bolsa, a do Jornal do Brasil de manhã economia e política, a Miriam Leitão” (homem, 32 anos, 2º grau completo, B2). “Em jornalismo, Boechat, Joelmir Betting, Márcia Peltier, Leda Nagle, o jornalista do programa Roda Viva e os 102 políticos Marina Silva, o Ministro da Saúde, Gabeira, Heloísa Helena. Cada um a seu modo, quando vem a público pra expor suas idéias, eles as colocam de forma que aquilo ali me chama atenção e dentro do que eu penso, vem de encontro às minhas idéias e forma também a minha opinião pra determinados assuntos” (Mulher, 36 anos, nível superior completo, classe B2). “Eu gosto muito do Boris Casoy e na Fátima Bernardes (concorda) mais com o Boris Casoy. São pessoas idôneas que estão passando informações não só para mim ou para minha região, mais para todo o mundo” (Homem, 27 anos, segundo grau incompleto, classe C1). “Eu sempre gosto de escutar a opinião do Ronaldo Porto (político local que apresenta um jornal bem popular), porque ele passa uma segurança” (Mulher, 31 anos, segundo grau incompleto, classe C2). “Roberto Cabrini, Caco Barcellos, Eduardo Suplicy, Aloísio Mercadante, Heloisa Helena, Aécio Neves, Luciano Huck. Costuma concordar com as opiniões de Fernando Mitre, porque ele é muito coeso muito critico, ele sempre procura colocar assim: ta aqui oh! você população, você acha que isso é certo? Tem sensatez e imparcialidade” (Homem, 37 anos, segundo grau completo, classe C1). “Arnaldo Jabbor. Ele realmente tem uma forma de colocar as palavras, que faz a gente pensar de maneira mais ampla. Concordo com Arnaldo Jabbor” (Homem, 26 anos, nível superior incompleto, classe B2). “Com analistas (concorda) porque eles não vão inventar a notícia. Boris Casoy parece que é um cara bem entendido Na rádio Márcio Dotti. Concordo mais com Alexandre Garcia e Boris Casoy. Acredito mais no Alexandre Garcia por ele ter trabalhado em rádio, televisão, por ser reconhecido dentro e fora do país. Porque a gente vê eles falando doa a quem doer. Coloca o dedo na ferida. São pessoas estudadas, certo? e por isso as pessoas acabam confiando mais” (Homem, 21 anos, segundo grau completo, classe C2). 103 “Não é muito de guardar nome, mas confia no pessoal da CBN, no Heródoto Barbeiro. Eles são esclarecidos e imparciais com relação à política. Como ele confia, ele acaba concordando com as opiniões deles” (Homem, 47 anos, nível superior completo, classe B2). “Eu gosto do Carlinhos do Esporte que todos os dias ele tá na rádio Terra e ele têm momentos que ele vai atrás, a gente liga né, mostra o problema pra ele, depois ele mostra no olha o problema tal, a gente tá cobrando da prefeitura. Tem outro repórter (Adolfo Campos) mas não lembro o nome dele, é da rádio Difusora, porque o que tiver que falar ele fala, independente de ser uma pessoa influente ou não, pode ter feito horrores no passado, mas se hoje ele tiver fazendo alguma coisa boa ele fala. Eu acho que de uma maneira direta mesmo, principalmente do Adolfo Campos, às vezes eu tô na dúvida, mas aí aquele assunto tá, o ano que vem mesmo já vai começar, ele fala assim olha fulano faltou tantas vezes nas sessões da Câmara, toma cuidado com tal fulano, aquele que desviou verba, aquele que votou num projeto que vai prejudicar o trabalhador. Então eu acho que ele tem uma importância grande na minha opinião” (Mulher, 35 anos, segundo grau completo, classe C2). “Raimundo Varela, tem Boris Casoy, aquele também da Record Marcos Hummel. Prefiro mais o Raimundo Varela, as opiniões dele é que valem. Tem aquele menino que faz o Jornal das sete, Jeferson Beltrão. Concordo com a opinião de Raimundo Varela sobre política e governo” (Homem, 40 anos, ensino fundamental incompleto, classe C2). “William Bonner e Fátima Bernardes, por eles trabalharem a muito tempo com isso, passando informações corretas. E porque o Jornal Nacional é o programa mais importante da televisão, de uma forma geral. Varela, eu acho que ele quer a justiça, eu acho que ele quer mostrar sempre o que está errado. Ele fala brigando. (concorda) Com William Bonner e Fátima Bernardes, porque eles têm que passar pra gente as informações certas e justas. Eles tão ali pra gente se espelhar neles, entendeu? A opinião deles têm que ser o mais correto possível porque é tipo uma forma de a gente se espelhar neles. Como eu não gosto de 104 política, eu acho que eles me incentivam a aceitar a opinião deles sobre política e governo. Eles me influenciam a gostar daquilo que eles gostam” (mulher, 21 anos, nível superior incompleto, classe B2). “Dr. Drauzio Varela, as coisas que ele passa, transmite, eu acho que você pode confiar, porque eu acho que são reportagens muito boas, que aproveita. No jornal da manhã da Globo, (concorda com) um outro jornalista que faz comentários junto com Renato Machado.O jeito que eles se colocam, se posicionam pra falar, pra explicar, eles falam de um jeito que você possa entender, porque tem gente que tenta falar com palavras bonitas, mas você não entende nada” (Mulher, 33 anos, nível superior incompleto, classe B2). 6.2.2. Juventude A mídia apresentou-se como a principal fonte de informação para a formação da opinião da maioria dos jovens entrevistados. A opinião de pessoas do seu círculo de relações pessoais, como familiares e amigos, também constituem referências importantes. O mesmo pode ser dito em relação aos comentaristas, colunistas, repórteres, apresentadores. A relevância da mídia é tão expressiva que alguns entrevistados mudam de opinião quando as notícias são comunicadas por meios que lhes transmitem credibilidade. É o caso do entrevistado que, frente a uma notícia contrária a sua opinião questiona seu conteúdo em função da referência de que a mesma havia sido veiculada em um jornal considerado de baixa credibilidade. Porém, quando mencionado que a notícia fora veiculada por um meio confiável, o jovem reconsiderou a possibilidade de a notícia ser verdadeira e, posteriormente, incorporou informações da notícia em sua argumentação, reforçando a mudança de opinião: “Aí eu poderia acreditar porque é um jornal mais sério” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). Para alguns entrevistados, repórteres, comentaristas ou colunistas são importantes para a formação de suas opiniões. Os mais 105 lembrados foram os apresentadores do Jornal Nacional. A credibilidade do meio de comunicação respeitado se transfere em confiança depositada às personalidades que apresentam as notícias e expõem opiniões ao público. É o caso do jovem que forma a sua opinião a partir de veículo de comunicação considerado confiável e dos jornalistas conceituados que trabalham neste meio. Passou a gostar destes apresentadores em função da familiaridade pelo acompanhamento do Jornal Nacional com o pai desde a infância. “Assistindo televisão, rádio e jornal, você já tem a sua conclusão formada junto ao que você viu e leu, não precisa debater na rua com ninguém. (...) Willian Bonner e Fátima Bernardes, no Jornal Nacional, eles transmitem, pelo menos para mim, uma confiança muito grande. Eu vejo eles desde pequeno, porque meu pai era viciado no Jornal Nacional (...) Jornal é coisa séria, ninguém está ali pra brincar e as pessoas que estão ali, as notícias que eles passam ali, são notícias verdadeiras, que você pode depois tentar averiguar em qualquer outro lugar, que vai ver que é verdade” (Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2). Este também é o caso da jovem, que afirma confiar no mesmo jornal e em seus apresentadores por possuir o hábito de assisti-lo com a família. “Eu acredito bastante porque eu fui criada assim, (...) em ta assistindo o jornal da Globo, então eu acredito muito no que passa no jornal das 8 na Globo, fui acostumada assim desse jeito (...) é o jornal que a minha família me ensinou a ter confiança, não sei se é porque tudo mundo aqui assisti, se é pela confiança na emissora ou naquele jornal. (...) Eu não procuro saber se ela é verdadeira ou falsa, mas se ela passa simultaneamente em cada jornal, em cada emissora eu me baseio assim de que seja verdadeira, se a emissora ta passando: ela é verdadeira (...) Eu diria que em quem confiou bastante (...) no Willian Bonner e Fátima Bernades do Jornal Nacional, pelo tempo deles estarem nesse ramo e as pessoas acharem legal o 106 que eles fazem” (Mulher, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe B2). Outros jovens consideram que a opinião de pessoas próximas, como colegas de trabalho, amigos e parentes são mais confiáveis do que as informações transmitidas pela mídia. No entanto, isto não reduz a importância que estas pessoas atribuem aos meios de comunicação. “Eu acho que com as pessoas com quem trabalho ou meus familiares, a credibilidade da informação pesa sessenta por cento a mais do que em relação à mídia” (Homem, 19 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2). Em geral, os entrevistados manifestaram que tanto a mídia quanto a opinião de outras pessoas são importantes para a formação de suas opiniões. O principal observado é que as informações devem coincidir com os elementos do esquema perceptivo da pessoa que recebe a informação. “Considero um pouco de cada porque tem parte dos assuntos que eu acredito mais no que diz na TV e tem partes que o que as pessoas falam parece ser mais real, é uma mistura dos dois então. (...) Nessa história da gripe agora na TV falam muito que está parando, mas não sei se acredito muito, acho que acredito mais nas pessoas que falam que está cada vez tendo mais casos de gripe, há pessoas que dizem conhecer alguém que está com a gripe. (...) Considero mais as notícias da Rede Globo, mas nada que seja muito relevante para eu me posicionar a favor ou contra” (Mulher, 19 anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1). Assemelha-se também o caso do jovem que indica que, apesar de consultar diferentes fontes de informação e todas surtirem efeitos sobre sua opinião, é a partir de seus próprios critérios que irá selecionar o que lhe parece verdadeiro. 107 “Ah eu acho que tudo influencia num pouco. Porque você escutando na mídia você vai se comunicar com as outras pessoas, às vezes, ai vai tudo aquilo lá influenciar. O que você ta escutando, põe em prática conversando. (...) A mídia é o principal porque eu escutei de lá primeiro. (...) (Formadores de opinião) William Bonner, Fátima Bernades, eu acho eles muito profissionais. (...) Eu não vejo do começo ao final, mas eu acredito nos dois no que eles estão falando lá, no que está acontecendo no mundo. (...) A gente sempre tem uma noção do que eles estão falando, lógico que você sabe que aquilo ali pode ser verdade, como pode ser mentira. Depende, varia de cada caso que acontece. Uma decisão de mim, depende de cada conversa, você tem uma certeza, que se aquilo ali é verdade, é de você mesmo, você sabe se é verdade ou se não é. De acordo com o que conversa, com que ouviu falar, é um critério de você mesmo” (Homem, 23 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2). Jovens com posicionamentos mais críticos em relação à mídia atribuem-lhe menor relevância na formação de suas opiniões. Em geral, buscam argumentar contrariamente às informações que lhes são transmitidas. É o caso do jovem posicionado à esquerda no espectro político, que possui baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação e atribuí precariedade às informações veiculadas. Afirma que chegou as suas opiniões através de conhecimentos que adquiriu na escola e nos livros de história, relacionando-os com as notícias veiculadas pela mídia. Para ele as conversas e vivências são mais importantes, pois “é a realidade”. “O jornal tenta te convencer que tu que tá errado, que tu que tem que se qualificar e não põe a culpa no sistema econômico (...) é o sistema na verdade que é injusto, e não dá oportunidades para todos e só visa o dinheiro e a televisão não fala que é isso, sempre põe a culpa na própria população. (...) (Mais importante para a formação da sua opinião) Com certeza, a conversação, pois é a realidade. (...) Por exemplo, o governo vai informar dados de que a pobreza está caindo, mas o que a gente nota é que a saúde, educação ta piorando, a realidade é 108 diferente” (Homem, 21 anos, Ensino Médio Completo, Classe C1). 6.3. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos A rastreabilidade das informações obtidas e a simulação da reação às notícias hipotéticas apresentadas possibilitaram delinear as principais lógicas utilizadas para a interpretação dos acontecimentos políticos. A experiência política anterior e a percepção geral do mundo político também se mostraram relevantes para o delineamento das lógicas utilizadas. 6.3.1. Classe Média De modo geral, o conteúdo de uma notícia é aceito quando se enquadra razoavelmente nos esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles consideram verdadeira a notícia que apresenta elementos compatíveis com os blocos pré-estruturados de idéias que explicam as características do mundo político. Por isto, são amplamente aceitas, as notícias de escândalos políticos costumeiramente divulgados pela mídia. A política e os políticos são vistos como desonestos e corruptos. A notícia de um novo escândalo moral no cenário político é facilmente incorporada, pois se ajusta perfeitamente ao esquema perceptivo pré-existente. A lógica utilizada para atribuir veracidade a uma informação divulgada se encontra, em grande parte, associada ao modo de perceber a política. A percepção da política é afetiva quando o posicionamento favorável ou contrário a um conteúdo é definido em função de critérios afetivos, seja em relação aos agentes envolvidos na disputa ou à pessoa de referência (familiar, comentarista) que se posicionou sobre o assunto. No primeiro caso, trata-se de uma posição própria em função de critério afetivo. No segundo caso trata-se de uma atitude seguidista. É o caso da entrevistada que não 109 gosta de política, não se envolve, não participa, é de família petista, se considera de esquerda e segue a orientação materna no que se refere à política. Trata-se de uma lógica afetiva com tendência seguidista. Não possui claros determinantes de ordem política, antes se caracteriza pela ausência deles. “Minha família sempre foi PT, porque eles olham muito os de baixo, sabe? Os pobres, o desemprego, Fome Zero. Então eles sempre foram PT. Minha família toda. Por conta que o PT falava muito em ajudar aquele lado mais pobre, aquele lado de falta de emprego, ajudar os Estados que estão mais em decadência. Lula era visto como um bom político, que se preocupava com essas questões. Antonio Carlos Magalhães era visto como um mau político. Foi em Lula (o primeiro voto), foi quando ele se elegeu. Votei nele mais por causa de minha família, ouvi a opinião de minha família e achei que Lula era a melhor opção. Como eu não gosto de política, nenhum voto foi com vontade. Mas esse foi o que eu dei com mais certeza, porque todo mundo falava, que ele precisava ser eleito. Como ele vinha de baixo, ele ia fazer muito pra população em geral. Minha mãe pergunta em quem eu vou votar, e me incentiva a votar em quem ela vai votar. Eu sou do lado esquerdo, do 1, né?” (Mulher ,21 anos, nível superior incompleto, classe B2). Outro caso de lógica afetiva seguidista pode ser observado no entrevistado de família malufista. Desde a infância o pai incentivava os filhos à política e a adesão ativa aos seus candidatos. Percebe-se certa confusão na fala do entrevistado, que pode ser entendida como incoerência política, que pode estar correspondendo à relativo distanciamento e a possível autonomia em relação à família ou ainda ao desgaste deste político. “Minha família é malufista (...) Meu pai era viciado, ele dizia: vai ter debate! E comprava até pipoca.Votei pra governador, no Maluf. (...) Talvez por causa do lance do Maluf eu nunca fui do partido da oposição que é PT, aqueles partidos que saíram meio do comunismo, PT, o 110 PTB né da esquerda. Entendo que da esquerda são mais aqueles partidos que nasceram mais do comunismo, PT, PC do B, não me identifico com eles. (...) Os da direita são mais ligados ao capitalismo, mas também acho que é de criação do meu pai, ele teve influência, Maluf. Acho que me sinto mais agradável, tem mais a minha cara, o outro acho que é muita oposição, ligado a comunismo, que nem os Sem Terra ligado a revolução, meio classe pobre, mas não é por causa de classe não é isso, mas comunismo nesse sentido ah a gente vai revolucionar, tirar aquele partido da classe A que sempre foi do Maluf, do Covas, considerados partidos da classe A, da classe B e C são esses ai PT, do povo, eles denominam assim. Já votei no Lula. (...) No do Maluf, o que o Maluf tivesse, gosto muito do Maluf. Não importa o partido que o Maluf tiver, é pela pessoa não tanto pelo partido, mas a gente votou no Pitta porque ele era do Maluf”. (Homem, 32 anos, nível superior incompleto, classe B2). A percepção da política é moral quando os julgamentos dos agentes políticos e das propostas em disputa são feitos a partir de critérios morais. Isto implica em escolher um candidato em função da sua conduta moral, em defender uma proposta em função de uma avaliação moral do problema ou pelo fato da mesma estar sendo sustentada por agentes políticos considerados moralmente inatacáveis. O depoimento a seguir descrito exemplifica o caso de uma defesa de posições a partir de pressupostos morais. “Está desempregado quem quer, pois trabalho existe em todos os níveis, eu já tinha falado que a Bolsa Escola e a Bolsa Família acomodou as pessoas na forma de viver com a miséria à medida que a Bolsa Escola e Bolsa Família não exigiram cursos de qualificação. A maioria das pessoas não procura emprego enquanto não vence a última parcela do seguro desemprego.Essas doações me irritam na medida em que as pessoas se tornam preguiçosas. Vejo que emprego formal tem, toda semana no Sine sai uma folha de jornal de vagas. A maioria dos jovens hoje está nas drogas porque quando vai para o 111 colégio sabe que vai se formar e não vai ter emprego na região dele então é uma bola de neve. Antes as famílias eram mais cobradoras com seus filhos, os pais tinham mais compromisso com a família e de repente liberou geral e a liberdade virou libertinagem e a criminalidade foi gerada dentro das casas, foi facilitado ao encontrar uma polícia corrupta. Se você ver o magistério, que é um setor que eu particularmente queria abraçar, os professores são muito folgados, eles têm direitos, mas não têm obrigações compatíveis com seus direitos porque um professor a qualquer momento mete um atestado de 30 dias e se afasta da escola e nem sempre por doença, às vezes são casos tipo morreu a mãe, quando meu pai faleceu eu fui no velório e no outro dia estava trabalhando. O funcionário acha que está com depressão, acha que entrou num esgotamento e aquele atestado vem e não querem saber se vai ter alguém para substituir e eles têm o amparo legal para fazer isso” (Mulher, 43 anos, nível superior completo, classe C2). A percepção da política é política quando as leituras dos acontecimentos e as posições sobre os agentes e as propostas em disputa são decorrentes de critérios políticos e racionais. Isto é, quando uma pessoa defende uma proposta em função desta estar de acordo com o seu posicionamento político ou dos seus interesses individuais ou grupais. A interpretação da veracidade de um conteúdo é política quando a notícia é julgada através de um raciocínio lógico e coerente. É o caso de entrevistado coerente com sua filiação partidária, que apresenta raciocínio compatível com as idéias que defende sobre acontecimentos relevantes para o país, como opinião sobre notícias ouvidas sobre a crise econômica e posição sobre a pena de morte. “Eu acho que (centro esquerda) por que eu não me considero tão radical nas minhas ideais sobre política. Eu acho que me consideraria um social-democrata. (...) O que ouvi nos telejornais foi que agora os países atingidos pela crise financeira já estão começando a reagir e que graças as atitudes que o governo Lula tomou durante a crise para estimular as compras e reduzir as taxas de juros surtiram 112 efeitos para diminuir o impacto no comercio e na indústria brasileira e com isso evitar mais problemas, como o desemprego. Sou contra (a pena de morte) por que aqui no Brasil nos não vamos saber lidar com esta punição pois não temos um justiça rápida nem imparcial, como deveria ser (entrevistas iniciais) Eu realmente iria me preocupar com o assunto iria começar a buscar mais informações sobre o assunto, pois como já disse anteriormente a pena de morte aqui no Brasil , teria que ser pensada e repensada por muitos estudiosos, juristas e pessoas ligadas diretamente a ONGs de defesa do ser humano, para que pudesse ver os dois lados da moeda ,ou seja os prós e os contras” (4ª entrevista) (Homem, 27 anos, segundo grau incompleto, classe C1). A percepção da política é clientelística quando o raciocínio utilizado é orientado fundamentalmente pela percepção dos benefícios imediatos tangíveis que o entrevistado poderá obter através da posição assumida. A defesa de um agente político ou de uma proposta, nestes casos, está orientada pela lógica do benefício individual imediato que pode ser resultante da ação. Assim, a lógica clientelística também é motivada por interesses. Contudo, diferencia-se substancialmente da lógica política, uma vez que o atendimento de interesses imediatos pode levar a mudanças de posição não explicáveis, indicando incoerência do ponto de vista da lógica política. É o caso do entrevistado apoiador de candidato que promove ampla assistência a seus adeptos antes e depois de eleito. A força deste vínculo, entretanto, não foi suficiente retê-lo no campo político do candidato. “Um político em quem votei com gosto, votei na pessoa porque era uma pessoa que ajudava os outros foi esse deputado que depois tentou para prefeito “Josep Fernando” porque ele a gente via que falava na rádio, não lembro o partido, ele tinha uma rádio comunitária e sempre ajudava as pessoas. Ele pegava o próprio carro para levar as pessoas a hospitais, depois a gente ouvia elas agradecendo na rádio, ele fez um restaurante comunitário e pedia doações na rádio, mas a secretaria da saúde 113 cortou o restaurante dele e muita gente matava a fome ali. Foi uma das únicas pessoas que votei com gosto, a gente via ajudando mesmo depois de eleito. O maior desgosto foi que eu simpatizava bastante com o Marroni votei nele e ele perdeu para o Fetter. Uma pessoa que está dando muito certo aparentemente é o Lula porque na crise que o Brasil estava, devedor e ele conseguiu amenizar. Ele prometeu que aumentaria o salário e fez. É uma pessoa que admiro, gosto bastante do Lula” (Homem, 30 anos, segundo grau completo,classe C1). Houve também os casos de ausência de lógica ou da utilização de critérios confusos, precários, aparentemente erráticos, pouco compreensíveis ao interlocutor. É o que ocorre quando os blocos estruturados de idéias do esquema perceptivo do entrevistado são internamente contraditórios ou quando critérios de natureza diferente são utilizados alternadamente ou de forma estranhamente combinada para a interpretação das notícias e acontecimentos do mundo político. Nestes casos não se pode se referir propriamente à lógica. Uma definição mais precisa corresponde ao termo confusão. É o caso de entrevistado cujas lógicas, afetiva, moral e clientelística se confundem construindo um discurso desorganizado e por vezes caótico do ponto de vista político. “Foi só dar uma força, porque meu pai vivia nesse meio, conhecia muita gente, oh Severino você conhece muita gente me dá uma força pra mim. Ai ah um votinho aqui outro ali, eu vou te ajudar. Eles eram amigos, ele ajudava o pai dele. Ah to precisando de uns materiais pra construir minha casa, ai ele ia lá e arrumava, dá uma força pra mim. Justamente, por isso, é como é que eu falo, eu desanimei, não vale a pena não. Não vale a pena porque o que você faz, você pensa que talvez você vai ser ajudado, não que você ta cobrando. Agora se você promete você tem que cumprir, promessa é divida. Agora eu não posso te cobrar. Você que tem que cair em si que você prometeu, ah então vou ali cumprir isso porque eu prometi pra fulano” “ 114 “Eu sou a favor da reforma política. Eu sou mas é complicado, porque quem entra na política é complicado, você entra na política e não quer ser uma pessoa corrupta, então você entra na política com esse pensamento, a partir do momento que você chega na política você é obrigado a mudar, por que, porque as pessoas que estão lá a mais tempo vai te falar ou você faz isso ou então, você... Entendeu. Ou você não serve pra política, ou como se diz, você está fora. Não adianta chegar com essa idéia de mudar, teria que ser um todo. Um todo seria trocar tudo. Trocar tudo, todos os políticos e você sabe que isso não é possível, porque quem permanece na política é quem tem mais tempo de política. Quem é jovem tem que começar engatinhando. Quando ele chegar a ser alguém na política, ai se torna uma pessoa corrupta, ignorante.Tinha que mudar o pensamento deles, mas as regras quem fazem são eles. Centro(considera-se) e agora por quê? Agora você me apertou. Uai porque o centro significa uma pessoa centrada, atento aos fatos entendeu e eu sou atento aos fatos eu gosto de, eu gosto, gosto de, perai deixa ver se eu consigo. Eu gosto de me centralizar nos acontecimentos, nos fatos, você entendeu, gosto de pensar bem, refletir, analisar, conversar, então eu acho que isso é bom, então por isso que eu sou o centro. Não é muito bem isso não mas tá bom. Ah eu me considero como um conservador entendeu, a gente também não pode ser liberal assim não, hum, tem que ser um pouco mais conservado. É liberal seria aquele cara que não importa com nada praticamente uai, pensa de uma forma, mas age de outra. Agora eu seria o conservador, porque tem momentos que você tem que se conversar, por exemplo, tem momento que realmente você tem que parar pra pensar, antes de fazer, pra não fazer nenhuma bobeira. Então eu acho que seria conservador.”(Homem, 30 anos, ensino médio incompleto, classe C1) Portanto uma tipologia das lógicas utilizadas possibilita discernir em cinco modelos principais (utilizados de forma exclusiva ou combinada 115 pelos entrevistados) que correspondem às lógicas: política, moral, afetiva, clientelística ou confusa. 6.3.2. Juventude As lógicas presentes na interpretação dos acontecimentos entre os jovens se apresentaram de forma pouco clara. Em relação do segmento de classe média, observou-se, entre os jovens, idéias e posições mais confusas. Por vezes, a mesma pessoa utilizou lógicas distintas para interpretar os fatos. Poucos são os jovens que apresentaram raciocínio coerente. No caso do jovem a seguir mencionado, estão presentes em seu raciocínio as lógicas afetiva e moral. As motivações de sua posição política se explicam a partir da lógica afetiva. Este jovem segue padrões familiares nas suas escolhas políticas. Já na percepção do mundo político, está presente a lógica moral. Ele avalia os políticos como ladrões que pensam apenas em si. “Minha mãe tem preferência pelo PT, daí eu também, devido ao PT oferecer melhores propostas, não se voltar só para as pessoas mais ricas e sim voltado para ações sociais, para os pobres. (...) Porque não adianta fazer nada. (...) Acredito que o poder corrompe as pessoas, com dinheiro, quase todo político rouba. Querendo ou não, alguns roubam mais outros menos. (...) Deveriam colocar homens mais sérios, honestos, que não pensassem nos seus bolsos, que olhasse para a população de forma igualitária” (Homem, 19 anos, Ensino Médio Completo, Classe C1). A lógica moral também está presente na percepção política negativa da jovem de 20 anos, que acredita que, independente das pessoas que ingressam na política, estas agem de forma corrupta, desviando verbas e fazendo promessas que não cumprem. Apesar de muito bem informada sobre assuntos em geral e com uma posição de mundo crítica, a jovem não se envolve com política por discordar da forma como os políticos agem. 116 “(...) a cada novo representante nosso, sempre acontece as mesmas coisas, a corrupção não diminui, o desvio de verbas, isso nunca deixou de existir, é as promessas, é „eu prometo, eu prometo‟, fica só na promessa né, porque não é cumprido..a decepção é essa que toda vez se repete a mesma estória” (Mulher, 20 anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1). Da mesma forma, o jovem de 18 anos, que possui desgosto por política, interpreta a política moralmente, por acreditar que nas eleições os políticos mentem para conquistar votos. Apesar de possuir moderada apropriação política, é incoerente do ponto de vista político, pois não entende, não sabe se definir politicamente e troca os termos nas suas indicações. “Quando penso em política eu penso em eleições e penso em pessoas mentindo para o povo para disputar um cargo público. (...) (Auto-definição) Liberal, é assim pode fazer o que quiser, como quiser... (...) De esquerda (...) Sou normal. Na época da eleição vou lá, dou uma olhadinha no candidato mais interessante, me informo mais ou menos sobre o que ele está fazendo, qual é sua proposta de governo... (...) (Preferência partidária) PV, Porque é o partido que tem em meta cuidar do meio ambiente”. (Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2). A lógica confusa verificada na interpretação dos acontecimentos do jovem a seguir descrita perpassa as lógicas afetiva, clientelista e moral. As suas motivações políticas, os fatores explicativos para seu posicionamento político, são afetivos e clientelistas, já a sua percepção do mundo político é moral. “(Preferência partidária) PT, porque minha família tá sempre falando dele, minha mãe, meu padrasto que está sem conversar comigo, não sei nem por que, sempre tá conversando. (...) Pra pensar por um lado, (simpatizo com) todos (os partidos) melhor dizendo, porque todos tem um candidato certo, sempre tem um candidato, porque se eu 117 falar só um, não dá, porque sempre tem outros partidos dentro da política (...) Os políticos prometem uma coisa e não fazem, isso é muito errado até hoje, porque muitos prometem e não faz (...) tem muita sinceridade na política hoje em dia. De dez políticos eu acho que um é sincero. (...) Já (participou) ajudando uma vereadora a se candidatar, ela era, ela trabalhava no, (...) no mercado novo, ela trabalhava lá. Direto eu ia lá visitar ela, ela sempre me encaminhava pra algum lugar pra estudar, alguma coisa assim, ai ela se candidatou, ela me pediu pra ajudar ela, entregar santinhos, essas coisas, ela me pediu pra ajudar ela a se candidatar. Ai foi nesse período que eu entrei na política e aprendi muita coisa” (Homem, 20 anos, Ensino Médio Completo, Classe B2). A utilização da lógica política para interpretar os acontecimentos foi escassamente observada entre os jovens entrevistados. É o caso da jovem de 24 anos, que apresenta apropriação politicamente e é bastante informada sobre os assuntos políticos. “Muito pouco eu me lembro de ouvir falar de política quando criança, mas agora jovem eu vejo muito, gosto muito de jornal, estou sempre olhando os programas do governo para saber se de repente eu não posso me enquadrar (em algum programa social). (...) (Percepção da política) Hoje o que vejo é muita bagunça, a gente vê na TV os caras até se agredindo dentro do Plenário, acho isso uma pouca vergonha. (...) Política é nós no poder, eles fazem por nós, é a nossa voz lá, mas acho que ela ainda não é passada de forma correta pra lá. Através dos nossos prefeitos que levam até o estado e devem levar até o presidente, só que até chegar lá as coisas já não ficam da forma que a gente quer, acho que a política no Brasil ainda é bem fraca. Não digo que é fraca pelo governo porque o governo sozinho não faz nada, ele precisa da ajuda dos outros governantes, dos prefeitos, vereadores, deputados, todos eles são o governo, eles têm que levar lá porque como é que o Lula dizer „vou fazer isso aqui lá em Pelotas‟, é tanta cidadezinha no Brasil, como é que ele vai saber que lá em Pelotas estão precisando de remédio nessas farmácias municipais gratuitas, se o prefeito não passa para o governador e o 118 governador não passa pra ele então não vai ter nada nunca. Tem que haver uma comunhão deles e está faltando muito isso, mas pode melhorar, um dia vai... (...) Eu sou consciente de tudo o que acontece, sou consciente do que acontece na política e me acho super por dentro perto de outras pessoas que não estão nem aí para política; me acho bem interessada no assunto porque querendo ou não a política influi totalmente na nossa vida, ela está na nossa vida a todo o instante, através da política existem decisões que vão nos afetar de certa forma”. (Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto, Casse B1). Outro jovem que utiliza a lógica política para interpretar os acontecimentos possui apropriação política e um posicionamento mais crítico. É o caso do jovem posicionado à esquerda, coerente politicamente e que busca se informar através da mídia. Ele possui um posicionamento crítico e baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação, pois acredita que as informações transmitidas são precárias e pouco confiáveis. Formula suas opiniões através de conhecimentos que adquiriu na escola relacionando-os com as notícias veiculadas. “(Percepção da política) Quando se trata de debater assuntos que visem o bem comum, sim, gosto (de política). (...) (Sou) um cara que gosta da maioria, eu simpatizo com a causa da reforma agrária, da reforma urbana, com aquela galera que pede do governo federal o cumprimento da Constituição (...) o pessoal que quer maior qualidade de vida (para a população). (...) é que eles (a mídia) só contam um lado da história, o lado dos empresários (...) quando há um conflito entre a elite e a galera explorada sempre contam que o lado empresarial é que é certo, como por exemplo, a invasão de terras (...) a Band é totalmente a favor dos grandes fazendeiros e proprietários de terra (...) sempre é parcial. (...) Eu viso assim ... quase todas as informações são filtradas, eu vejo, assim, mais para observar a intenção do jornal (...) mas eu sei que é tudo balela, contam só um lado da história. (...) Por exemplo, eles estavam dizendo assim, é 119 um luxo o governo, antigamente era o Brasil que emprestava dinheiro do FMI, hoje é o Brasil que ta esnobando o FMI. Eu acho isso um absurdo! E no final o apresentado não comentou nada. Porque a gente sabe que tem uma população de miseráveis e enquanto essa população ta aí, sem nada, o governo tá dando dinheiro para o FMI, mas isso ninguém comentou, isso é visto na mídia como algo favorável, algo bom. (...) (Política é) Briga de interesse. Na política é difícil ver uma pessoa brigar pelo interesse coletivo, apenas pelo interesse próprio. (...) Deveria ser que todos buscassem o bem coletivo, a diminuição da pobreza, o maior numero de pessoas tem que estar bem... e como é que as pessoas ficam bem, com terra, com dinheiro, com a sua casa” (Homem, 21 anos, Ensino Médio Completo, Classe C1). 120 7. Subsídios para o questionário da fase quantitativa 7.1. Sugestões de perguntas para o questionário da fase quantitativa 1. Características sócio-demográficas 1.1. Sexo 1.2. Idade 1.3. Estado civil. 1.4. Escolaridade 1.5. Renda mensal individual 1.6. Renda mensal familiar 1.7. Ocupação 2. Trajetória social 2.1. Sua remuneração atual é maior ou menor do que aquele que você recebia no ano passado? 1. Maior 3. Menor 2. Igual 4. NR 2.2. E, em relação aos anos anteriores? 1. Maior 3. Menor 2. Igual 4. NR 2.3. Hoje você se considera mais rico ou mais pobre que em períodos anteriores? 1. Mais rico 3. Mais pobre 2. Igual 4. NS/NR 2.4. Em relação a sua remuneração atual, você se considera.... 121 1. Satisfeito 3. Insatisfeito 2. Mais ou menos satisfeito 4. Não sabe 3. Formação e leitura 3.1. Como era (ou é) o seu desempenho escolar? Costumava tirar notas/conceitos altos, médios ou baixos? 1. Altos 2. Médios 3.Baixos 4.Não lembra/NR 3.2. Você gosta de ler? 1. Sim 2. Mais ou menos 3. Não 4. NS/NR 3.3. Você gosta de ler notícias sobre programas e benefícios do governo à população? 1. Sim 2. Mais ou menos 3. Não 4. NS/NR 3.4. Você gosta de ler notícias sobre assuntos políticos? 1. Sim 2. Mais ou menos 3. Não 4. NS/NR 4. Características atitudinais 4.1. Considerando o conjunto dos aspectos da sua vida, você, atualmente, se encontra mais satisfeito ou mais insatisfeito? Por quê? 1.Mais Satisfeito 3. Mais insatisfeito 2. Nem satisfeito, nem insatisfeito 3. NS/NR 4.2. Você tem conseguido atingir os objetivos que estabelece na vida? 1. Sim 2. Mais ou menos 3. Não 4. NS/NR 3.Não 4.NS/NR 4.3. No seu entender, querer é poder? 1. Sim 2. Pode ser, depende 5. Meios de Informação utilizados em geral 5.1. Você costuma assistir TV aberta? 1. Sim 2. Não 5.2. (Se sim na 5.1.) Qual quantidade média de horas por dia? 1. Menos de 1 hora 4. Mais de 4 até 6 horas 2. De 1 a 2 horas 5. Mais de 6 horas 3. Mais de 2 até 4 horas 6. NSA 5.3. (Se sim na 5.1.) Qual é o canal preferido? 1. SBT 2. Record 4. Globo 5. Band 6. Outro__________ 122 5.4. (Se sim na 5.1.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo na TV aberta? 1. Sim 2. Não 5.5. (Se sim na 5.1.) Lembra de propagandas sobre programas do Governo Federal na TV aberta? 1. Sim Qual?______________ 2.Não 5.6. Você costuma assistir TV por assinatura (a cabo ou satélite)? 1. Sim 2.Não 5.7. (Se sim na 5.6.) Qual quantidade média de horas por dia? 1. Menos de 1 hora 4. Mais de 4 até 6 horas 2. De 1 a 2 horas 5. Mais de 6 horas 3. Mais de 2 até 4 horas 6. NSA 5.8. (Se sim na 5.6.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo na TV por assinatura? 1. Sim 2. Não 5.9. Em sua casa o sinal da TV é captado por meio de.... 1. Antena parabólica 3. Antena de TV por assinatura via satélite 5. Não precisa antena 2. Antena convencional 4. Antena de TV a cabo 6. Outra_______________ 5.10. Você costuma ouvir rádio? 1. Sim 2. Não 5.11. (Se sim na 5.10.) Qual quantidade média de horas por dia? 1. Menos de 1 hora 4. Mais de 4 até 6 horas 2. De 1 a 2 horas 5. Mais de 6 horas 3. Mais de 2 até 4 horas 6. NSA 5.12. (Se sim na 5.6.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo na TV por assinatura? 1. Sim 2. Não 5.13. Você costuma ler jornal? 1. Sim 2. Não 5.14. (Se sim na 5.13.) Quantas vezes por semana em média? 1. 1 vez 5. 5 vezes 2. 2 vezes 6. 6 vezes 3. 3 vezes 7. 7 vezes 4. 4 vezes 8. NSA 123 5.15. (Se sim na 5.13.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo no jornal? 1. Sim 2. Não 5. 16. Você costuma ler revistas? 1. Sim 2. Não 5.17. (Se sim na 5.16) Qual(is)? 1. Veja 6. Caras 2. Isto É 7. Contigo 3. Carta Capital 8. Nova 4. Época 5. Piauí 9. Outra____________ 5.18. (Se sim na 5.16.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo no jornal? 1. Sim 2. Não 5.18. Você usa a Internet? 1. Sim 2. Não 5.19. (Se sim na 5.18) Você costuma usar em... 1. Casa 4.Lanhouse 2. Casa de amigos/parentes 5. Outro_______________ 3. Trabalho 6. NSA 5.20. (Se sim na 5.18) Qual é a freqüência semanal de utilização da Internet? 1. 1 vez 5. 5 vezes 2. 2 vezes 6. 6 vezes 3. 3 vezes 7. 7 vezes 4. 4 vezes 8. NSA 5.21. (Se sim na 5.18) Em média quantas horas por dia você usa a Internet? 1. Até 1 4. Mais de 4 a 6 2. Mais de 1 a 2 5. Mais de 6 3. Mais de 2 a 4 6. NSA 5.22. (Se sim na 5.18) Para qual finalidade você usa a Internet na maior parte do tempo? 1. Estudo 4. Relacionamento 2. Trabalho 5. Informações 3. Lazer 6. NSA 5.23. (Se sim na 5.19) Você usa na Internet .... 1. Orkut 4. Skype 2. MSN 5. Twyter 3. Google 6. NSA 124 5.24. (Se sim na 5.18) Você costuma ler jornais, blogs ou notícias pela Internet? 1. Sim 2. Não 3. NSA 5.25. (Se sim na 5.18) Você acompanha as notícias sobre governo, políticas públicas e política na Internet? 1. Sim 2. Não 3. NSA 5.26. Você costuma conversar sobre política ou governo com pessoas conhecidas? 1. Sim 2. Não 3. NSA 5.27. (Se sim na 5.25) Com quem? 1. Colegas da escola 4. Amigos 2. Familiares 5. Namorado(a) 3. Colegas de trabalho 6. NSA 5.28. (Se sim na 5.25) Com que freqüência? 1. Todos os dias 4. 1 vez na quinzena 2. 2 a 6 dias por semana 5. 1 vez por mês 3. 1 dia por semana 6. NSA 5.29. Os meios de comunicação são isentos e imparciais ou parciais? 1. Sim 2. Não 3. NSA 5.30. Os meios de comunicação manipulam a opinião pública? 1. Sim 2. Não 3. NSA 5.31. Você acredita no que é dito pelos meios de comunicação? 1. Sim 2. Não 3. NSA 5.32. Quais são os meios mais confiáveis? 1. TV aberta 5. Internet 2. TV por assinatura 3. Rádio 4. Revista 6. Jornal impresso 7. Outro____ 8. Nenhum 5.33. Em que repórter, comentarista, colunista, apresentador ou blogeiro que você confia, acredita nas informações transmitidas por ele e costuma concordar com suas opiniões? 1. Willian Boner 5. Jô Soares 9. Mônica Waldvogel 13. Boechat 2. Boris Casoy 6. Marília Gabriela 10. Maitê Proença 14. Miriam Leitão 3. Fátima Bernardes 7. Alexandre Garcia 11. Joelmir Betting 15. Outro____ 4. Arnaldo Jabbor 8. Diogo Mainard 12. Márcia Peltier 16. Nenhum 125 5.34. Para você formar sua opinião sobre a política e o governo são mais importantes as informações obtidas através.... 1. Comentarista/repórter/colunista 3. Conversas com amigos/parentes 5. Internet 7. Revistas 9. Outro____________________ 2. Jornais da televisão 4. Posição de político de referência 6. Jornais impressos 8. Rádio 10. Nenhum 6. Informação sobre o Governo e Políticas Públicas 6.1. Costuma acompanhar notícias sobre o Governo Federal? 1. Sim 2. Não 3. NR 6.2. Quais programas do Governo Federal você conhece? 6.3. As notícias veiculadas pela mídia sobre o Governo Federal geralmente são favoráveis ou desfavoráveis? 1. Favoráveis 2. Desfavoráveis 3. NS 6.4. Você lembra das propagandas do Governo Federal veiculadas pela mídia? 1. Sim. Quais? ____________ 2. Não 6.5. Você assistiu as propagandas sobre o PAC? 1. Sim 2. Não 3. NS 6.6. Você assistiu as propagandas sobre o Programa Minha casa minha vida? 1. Sim 2. Não 3. NS 6.7. Você assistiu as propagandas sobre as políticas sociais do governo? 1. Sim 2. Não 3. NS 7. Posicionamento sobre temas políticos 7.1. Qual é a sua opinião sobre a Reforma política? 1. Não sabe/não tem opinião sobre o assunto 2. Opinião_____________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __ ___________________________________________________________________ __ (análise posterior irá qualificar a opinião) 7.2. Qual é a sua opinião sobre os partidos políticos? (não ler as alternativas, enquadrar) 1. Favorável 2. Desfavorável 3. Outra____________ 4.NS/NR 126 7.3. Você é favorável ou contrário à privatização as empresas estatais? 1. Favorável 2. Desfavorável 3. Outra____________ 4.NS/NR 7.4. (Se respondeu favorável na 7.3.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Em palestra realizada ontem na sede da Associação Comercial, Dr. Salles Costa afirmou que os governos não devem se meter em coisas que o setor privado pode fazer. Enfatizou que a privatização é essencial à modernização do estado, para que este possa cumprir suas funções básicas na área social. Apresentou como exemplo de privatização bem sucedida o serviço de telefonia. Até pouco tempo eram necessários um a dois anos de espera na fila para se obter um telefone pelo qual se pagava mais de dois mil reais. Hoje, um telefone custa muito pouco. Não há quem não possa comprar um, disse ele. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR 7.5. (Se respondeu contrário na 7.3.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Apesar dos protestos de grupos nacionalistas e da redução da escala em que vinham sendo feitas, as privatizações das empresas estatais continuam a ocorrer no país. A justificativa para isso era o pagamento da dívida com a diminuição do déficit do saldo comercial. De 1995 a 1999 foram vendidas a Vale do Rio Doce, teles e elétricas. O saldo foi a perda do patrimônio e a redução de investimentos do Estado nos serviços públicos básicos com o repasse das atividades para a esfera privada. Isso resultou em perda de empregos e da qualidade de vida para a população. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR 7.6. Você é a favor ou contra a pena de morte? 1. Favorável 2. Desfavorável 3. Outra____________ 4.NS/NR 7.7. (Se respondeu favorável na 7.6.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Está sendo debatido no Congresso o plebiscito sobre a pena de morte. Nos países onde a pena de morte é utilizada muitos inocentes são mortos. É exemplo disso os quatro prisioneiros que estavam no corredor da morte nos Estados Unidos no mês de julho, e que foram considerados inocentes na véspera de sua execução. As estatísticas comprovam que a pena de morte não reduz os índices de criminalidade. São mais eficientes os programas de regeneração de presos. O brasileiro costuma dizer: bandido bom é bandido morto, mas será que é isso que queremos para nosso país? 127 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR 7.8. (Se respondeu contrário na 7.6.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Foi lançado em São Paulo manifesto pró pena de morte no país. Segundo PJ, uma das lideranças “a pena de morte é a única forma de controlar criminosos violentos reconhecidamente irrecuperáveis”. A pena de morte é considerada eficaz na prevenção de futuros crimes pois o criminoso terá mais medo e não irá querer se arriscar. Hoje, em pouco tempo consegue se livrar das grades. A pena de morte irá retirar do convívio social seres desprezíveis que nem mesmo o melhor sistema prisional seria capaz de recuperar. Na lista do corredor da morte: tráfico de drogas, estupro, seqüestro com morte, tráfico de órgãos, pedofilia e assassinato premeditado. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR 7.9. Você é a favor ou contra o movimento sem terra? 1. Favorável 2. Desfavorável 3. Outra____________ 4.NS/NR 7.10. (Se respondeu favorável na 7.9.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Grupos armados que se auto-denominam “sem-terra” preparam e anunciam ocupações para os próximos dias. Devemos ser o único país do mundo em que movimentos anunciam que vão cometer um crime, e todos ficam esperando que o crime seja cometido. Ocupações significam invasões de propriedades que violam direitos individuais garantidos pela Constituição e pelos Códigos Civil e Penal. Entre os participantes deste movimento, existem pessoas das cidades que não possuem qualquer experiência no campo. Ao invadirem propriedades os manifestantes se apropriam de bens, danificam as instalações e sujam os locais, não sendo, posteriormente, punidos por estes crimes. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR 7.11. (Se respondeu contrário na 7.9.) Se a notícia a seguir fosse publicada na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar) Após mais uma manifestação pública o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), volta para casa com as mãos abanando. O Governo Estadual não quis receber os representantes do MST. Como costuma acontecer, integrantes do movimento foram agredidos por policiais. Um dos líderes do MST disse: “estamos 128 cansados de sermos agredidos pela política e pela mídia. No acusam de receber terra e logo depois vendê-la. Esses casos não chegam a 1%”. Depois desabafou: “invadimos propriedades sim, porque é o único meio de sermos vistos e ouvidos. Hoje mesmo, a Governadora não quis sentar e conversar com a gente. Não somos bandidos, estamos buscando nossos direitos enquanto cidadãos”. 1. Aceitou a notícia e mudou a opinião 2. Discordou da notícia e manteve a opinião 3. Relativizou 4. Outra_____________ 5. NS/NR 7.12. Você gosta de debater assuntos em geral, pois acredita que através do debate as suas idéias ficam mais claras, ou você acha o debate inútil, pois cada um tem as suas posições e ficar discutindo não leva a lugar nenhum? 1. Gosta de debater 2. Considera o debate inútil 3. NS/NR 7.13. Você costuma mudar, através de uma conversa ou debate, a sua opinião ou dificilmente muda o seu ponto de vista? 1. Costuma mudar 2. Dificilmente muda 3.NS/NR 7.14. Em uma discussão com alguém que possui maior conhecimento sobre o assunto, você prefere concordar com as opiniões desta pessoa ou manter os seus próprios pontos de vista? 1. Prefere concordar 2. Mantém o ponto de vista 3.NS/NR 7.15. Você gosta de contar com a opinião de uma pessoa mais informada e experiente (comentarista, colunista) para definir o seu posicionamento sobre um assunto? 1. Sim 2. Não 3.NS/NR 8. Comportamento político 8.1. Em algum momento você participou de algum modo de associações, grêmio estudantil, sindicatos, movimentos sociais ou organizações políticas? 1. Sim 2. Alguma participação 3. Não 4.NS/NR 8.2. Você é procurado por pessoas que querem saber a sua opinião sobre assuntos políticos? 1. Sim, muito 2. Sim, pouco 3. Não 4.NR 8.3. Você costuma geralmente nas eleições contribuir com a campanha de algum candidato/partido (participar de reuniões, colocar cartazes, plásticos, distribuir propaganda, trabalhar na campanha, dar dinheiro para campanha)? 1. Sim, muito 2. Sim, pouco 3. Não 4.NR 8.4. Suas preferências políticas são parecidas com as dos seus familiares? 1. Sim 2. Não 3. NS/NR 129 8.5. Você costuma votar como os seus familiares? 1. Sim 2. Não 3. NS/NR 8.6. Você acha que a sua ação pode exercer influência sobre o que o governo faz? 1. Sim 2. Não 3.NS/NR 8.7. Você gosta de política? 1. Sim 2. Não 3.NS/NR 8.8. (Se não) Porque você não gosta de política? 1. Não tenho interesse 3. Desilusão 2. Os políticos são corruptos 4. Outra_________________ 3. É chato 4. NS 8.9. Você está desiludido com a política? 1. Sim 2. Não 3.NS/NR 8.10. Como você se define politicamente em uma escala de 1 a 5, sendo 1 a posição mais à esquerda e 5 a posição mais à direita? 1. Esquerda 5. Direita 2. Centro-esquerda 6. NS 3. Centro 4. Centro-direita 8.11. Você se define politicamente como ... 1. Liberal 2. Conservador 5. Outra_________________ 3. Socialista 6. NS 4. Social-democrata 130 8. Considerações finais A seguir serão apresentadas as considerações finais desta pesquisa qualitativa, que reúne os principais resultados. 1) Esta pesquisa qualitativa investigou em profundidade as percepções, atitudes e ações de pessoas dos segmentos de classe média e de jovens. Os vários fatores contextuais da experiência de vida dos entrevistados examinados foram relacionados aos posicionamentos por eles assumidos e aos seus comportamentos em relação à mídia, buscando identificar os elementos explicativos mais relevantes. Nos pontos a seguir serão indicados os resultados relativos à relação entre os fatores estudados e o comportamento dos entrevistados. Trajetória social 2) O nível escolar e profissional, o poder aquisitivo, a inserção na hierarquia social e a ascensão ou descenso social influenciam a conformação de posicionamentos políticos e de comportamentos em relação à mídia. No caso de segmento de classe média foi observada a relação entre trajetória social descendente e percepção negativa dos políticos e da política, a desilusão com o mundo político e a rejeição ao acompanhamento dos noticiários sobre política e governo. A relação inversa também se confirmou: ascensão social e situação econômica relativamente melhor indicaram um comportamento mais receptivo ao mundo político e às notícias veiculadas pela mídia, posição favorável ao estabelecido. Mesmo quando o nível econômico é relativamente mais baixo, a ascensão social desempenhou um papel importante como elemento motivador de posicionamentos favoráveis ao atual governo. 131 3) No caso do segmento jovem foi observado maior desinteresse em se informar sobre governo e política. Apesar de a maioria dos jovens manifestar predisposição positiva a se informar sobre assuntos diversos, esta tendência não foi verificada nos temas políticos. De modo geral, independentemente da trajetória social, houve predisposição negativa a se informar sobre estes temas em função de uma percepção muito negativa do mundo político. Esta tendência, também observada no segmento de classe média, mostrou-se mais acentuada na juventude. Os fatores explicativos podem estar relacionados ao curto período que compõe a trajetória destes indivíduos, implicando em experiência com a política marcada por período de ampla divulgação de escândalos morais através da imprensa, ou às características do momento geracional vivido. 4) Tendência semelhante a do segmento de classe média foi percebida no comportamento dos jovens: maior predisposição positiva em se informar sobre vários assuntos, abrangendo política e governo, foi associada, em alguns casos, à trajetória social ascendente. Menor predisposição a se informar e percepção mais negativa ao mundo político foram encontrados em casos de descenso social. Experiência política 5) A experiência sobre política mostrou-se relevante para a conformação de posicionamento político. As posições predominantes no ambiente familiar formam, pela via afetiva, predisposições favoráveis à aceitação de determinado partido, candidato ou corrente política. Em ambos os segmentos estudados foram observados casos de entrevistados que passaram a defender uma posição política em função do ambiente familiar. 6) Maior experiência política positiva está associada ao maior interesse em acompanhar notícias sobre assuntos políticos, entre os quais os 132 governamentais. Pessoas pouco interessadas em política tendem a acompanhar menos os acontecimentos do mundo político, tendo menor base de informações para formar juízos sobre o significado dos mesmos. Entre os entrevistados do segmento de classe média foram encontradas pessoas com maior experiência política positiva, que conhecem mais os termos especializados da política, as características do mundo político e costumam se informar mais sobre este assunto. No segmento jovem predominou a ausência de experiência política e uma percepção muito negativa dos políticos e da política. Esta percepção decorre de desinformação e falta de identificação geracional com o tema, percebido como “assunto de velho”. Características atitudinais 7) As características atitudinais mostraram-se mais influentes no segmento de classe média. Observou-se a associação entre predisposição positiva e satisfação com a atual situação de vida, de um lado, e percepção mais favorável ao estabelecido, abrangendo o mundo político governamental e à mídia, de outro. Entrevistados que se encontram satisfeitos tendem a querer manter as condições que possibilitarem esta satisfação em todos os terrenos. Atitudes mais críticas, muitas vezes, estão associadas à posição crítica na estrutura social ou a grande insatisfação com a situação vivida. Foi observado o caso típico do jovem crítico que assumia posições à esquerda na juventude e que se tornou conversador após os 30 anos. 8) Experiências de vida negativas que engendram características atitudinais também negativas se refletem nas percepções da política e no comportamento em relação à mídia. Perdas, desavenças, abalos emocionais reforçam o sentimento de impotência política e a crença sobre a inutilidade de se informar sobre tais assuntos. Insatisfação e 133 desencanto com a vida se manifestaram em percepção negativa da política e em desinteresse em acompanhar noticiário sobre o assunto. 9) As características atitudinais mostraram-se menos influentes no segmento jovem. A trajetória de vida ainda iniciante, e o maior distanciamento dos assuntos políticos são fatores relevantes para a explicação desta tendência. Observou-se a associação entre a satisfação do entrevistado com sua realidade atual e a percepção favorável ao acompanhamento da política. Os jovens que apresentaram características atitudinais proativas e que se encontram satisfeitos com a sua situação atual mostraram predisposição a se informar e interesse em buscar mais informações. Apropriação política 10) A apropriação política corresponde ao conhecimento do mundo político, à capacidade de utilizar adequadamente os termos políticos, de entender quais são os agentes mais influentes no cenário político, quais interesses estão em jogo e qual é a lógica subjacente a conformação dos posicionamentos assumidos pelos diferentes agentes. Os mais apropriados são aqueles que gostam de política, se interessam pelos assuntos relativos ao tema, se informam sobre os acontecimentos neste terreno, conhecem os principais motivos das disputas, e entendem a sua posição na estrutura da sociedade e no tabuleiro político, assumindo posicionamentos em conformidade com os seus interesses. As pessoas politicamente apropriadas costumam acompanhar as notícias sobre política e governo e tem posicionamentos sobre os temas mais relevantes da atualidade. 11) Poucos entrevistados mostraram-se politicamente apropriados. Alguns casos foram observados no segmento de classe média e um número ainda mais reduzido no segmento jovem. De modo geral, os níveis de apropriação política dos entrevistados se encontram em 134 patamares muito baixos. A percepção negativa da política e dos políticos, muito recorrente, se mostrou associada ao desinteresse no acompanhamento dos noticiários sobre temas políticos e de governo. Pessoas que não gostam de política, se encontram desiludidas com o mundo político ou se sentem impotentes quanto à possibilidade de interferência neste terreno, entendem ser inútil se informar sobre estes assuntos. 12) Os níveis de apropriação política foram ainda mais baixos no segmento jovem. A maioria dos jovens pesquisados não procura se informar sobre política, não conhece os termos especializados da área e o cenário político brasileiro, não gosta e demonstra desinteresse pelo assunto. Os jovens acreditam que o mundo político não faz parte de sua realidade. Manifestam desinteresse sobre as informações veiculadas nos meios de comunicação. A baixa apropriação política está associada a não identificação com o tema, considerado assunto para outros segmentos etários (“nenhum jovem gosta de política”; “jovem não pensa em política”). Posicionamento político 13) Posicionamento sobre temas políticos supõe base informacional mínima. Pessoas escassamente informadas sobre assuntos políticos e governamentais têm grande dificuldade de assumir posições sobre os temas políticos relevantes. Poucos entrevistados dos dois segmentos emitiram juízos pertinentes sobre este assunto, mostrando elevado grau de apropriação política, capacidade de dominar os termos especializados da política e de compreender a lógica do jogo político. 14) No segmento jovem a situação mostrou-se ainda mais precária. Raros foram os casos de posicionamento político articulado e coerente. A falta de interesse pelo mundo político associada à baixa informação sobre estes assuntos faz com que o jovem não possua 135 posicionamentos sobre determinados temas e apresente um discurso inconsistente quando emite sua opinião. Mesmo aqueles que apresentam alguma apropriação política, emitem opiniões contraditórias, que conformam um posicionamento incoerente do ponto de vista da lógica política. 15) A ausência de posicionamento, nos dois segmentos, mostrou estar associada à desinformação, ao desinteresse, ao desgosto por política, à desilusão ou ao sentimento de impotência política. O indivíduo que não gosta de política, que acredita ser a sua participação neste terreno totalmente inócua, que não tem interesse por estes assuntos e não acompanha o noticiário sobre eles tende a não conseguir se posicionar sobre os temas deste mundo ou a assumir posições politicamente contraditórias. Este tipo posicionamento indicativo de postura negativa buscou muitas vezes a desqualificação dos agentes políticos e da vida política de forma geral, através de uma crítica moral generalizada e depreciativa. Coerência política 16) A coerência política refere-se à capacidade dos indivíduos assumirem posições logicamente inter-relacionadas, internamente coerentes, em conformidade com as preferências e opções políticas. Algum tipo de coerência de acordo com a lógica interna do indivíduo sempre poderá ser encontrada, pois há para cada posição assumida alguma motivação que faz sentido para o indivíduo. Contudo, este tipo de análise tem caráter tautológico e fraco poder explicativo, não se adequando ao objetivo deste estudo de distinguir aqueles que apresentam maior e menor grau de coerência do ponto de vista da lógica política. 17) Os dados analisados mostraram que, nos dois segmentos investigados, a incoerência é a regra e a coerência a exceção. Foram 136 recorrentes as manifestações confusas sobre as posições políticas e os comportamentos politicamente contraditórios. Maior confusão foi encontrada no segmento jovem, que reuniu posições mais avessas aos políticos, à política e a informação sobre assuntos governamentais. 18) A ausência de coerência decorre de vários fatores. As posições políticas díspares ou contrárias convivem em um esquema perceptivo contraditório que reúne blocos estruturados de idéias formadas de modo independente e por motivações distintas. O mesmo entrevistado que é favorável às privatizações em função de um exemplo positivo como o das telecomunicações manifestou-se contrariamente ao enxugamento do Estado por ter pena dos que poderão ser demitidos e por ter amigos empregados em órgãos públicos. Para ele não há incoerência, pois os motivos que o levou a posição favorável à privatização das empresas estatais tem sentido quando avaliado individualmente. O mesmo pode ser dito em relação ao enxugamento da máquina estatal. A contradição existe quando as duas posições são comparadas, tendo por base as referências da lógica política. 19) Maior coerência política foi encontrada nos raros casos de entrevistados que têm preferência partidária, votam no mesmo partido em todos (ou em quase todos) os processos eleitorais, e assumem posições sobre temas políticos, em conformidade com as posições do partido e do campo político no qual ele se encontra inserido. Meios de comunicação 20) Na maior parte dos casos observados, nos dois segmentos, é relativamente pequeno o acompanhamento das notícias sobre política e governo. Mesmo nos casos em que há grande exposição à mídia, se observou pouca atenção às notícias sobre política. Por vezes, a notícia ouvida não é retida na memória, em função da pequena 137 importância atribuída a ela, por se tratar de assunto considerado pouco interessante. Pessoas muito expostas à mídia acompanham eventualmente acontecimentos políticos pelo fato deste tipo de conteúdo estar presente nos noticiários, mas por desinteresse por este tema, muitas vezes, acompanham de forma reduzida ou superficial, retendo poucas informações sobre o assunto. 21) O maior desinteresse pelo acompanhamento de notícias sobre o governo e política foi observado no segmento jovem, composto por pessoas que utilizam intensamente os meios de comunicação, especialmente a Internet e a TV, totalizando, cerca de 8 a 10 horas por dia, não se interessam e não absorvem notícias políticas. As informações relacionadas com política e governo não chamam a atenção dos jovens. Em geral, eles utilizam os meios de comunicação para o entretenimento, relacionamento e informação sobre assuntos de seu interesse. 22) Aqueles que acompanham mais o noticiário político são os politicamente apropriados, que dominam os termos especializados do mundo político e acompanham os acontecimentos nesta área. São raros casos, mais recorrentes no segmento de classe média, de pessoas, mais envolvidas com política que têm experiência e demonstra gostar do assunto. 23) A percepção sobre o comportamento da mídia encerrou um paradoxo: a elevada aceitação dos meios tradicionais mais utilizados como a TV aberta, a Rede Globo e o Jornal Nacional – convive contraditoriamente com grande desconfiança sobre a parcialidade destes meios e sua potencialidade manipuladora. Entrevistados, especialmente do segmento de classe média, que percebem a parcialidade dos meios, suspeitam de manipulação, mas mesmo assim confiam na credibilidade das notícias divulgadas pelo veículo. 138 Informação sobre o governo e políticas públicas 24) De modo geral, foram encontrados nos dois segmentos estudados baixos níveis de informação sobre governo e políticas públicas. Os níveis foram mais baixos no segmento jovem. Foi constatada, em alguns casos, grande desinformação e desinteresse em se informar em relação a quaisquer assuntos governamentais. Em outros casos entrevistados que não gostam de política costumam se informar sobre programas específicos de governo, tendo em vista os benefícios que podem obter. 25) No segmento de classe média os entrevistados apresentaram níveis distintos de conhecimento sobre o governo e as políticas públicas. O maior nível de conhecimento esteve associado ao maior interesse por política. Os principais programas do governo foram lembrados. Embora não acompanhem notícias sobre governo e política, alguns jovens também lembraram os programas mais conhecidos (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Enem e Pró-Uni). Permeabilidade às notícias 26) Para avaliar a permeabilidade às informações contrárias ao ponto de vista do entrevistado foram apresentadas notícias hipotéticas que contrariavam os posicionamentos fornecidos, informando que se tratava de uma simulação e solicitando uma apreciação. 27) Confrontados com notícias hipotéticas contrárias ao seu posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o veículo de comunicação mencionado, ou relativizando a sua veracidade e aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma exceção à regra ou produto de alguma circunstância específica, enquanto outros aceitaram o conteúdo hipotético apresentado. Enquanto alguns aceitaram de forma mais abrangente as notícias 139 hipotéticas apresentadas e incorporaram o conteúdo da mesma ao seu quadro perceptivo, outros se mostraram mais resistentes, mantendo o seu ponto de vista. 28) Nos dois segmentos foram observados três tipos principais de comportamento: aqueles que rejeitaram, em maior medida, as notícias apresentadas (perfil posicionado à esquerda, politicamente definido, que conhece mais os assuntos políticos, mais encontrado no segmento de classe média e perfil desinteressado em política, pouco apropriado da política, ignorante ou indefinido quando a sua localização no jogo político); aqueles que aceitaram em maior medida o conteúdo das notícias apresentadas (por valorizar os meios de comunicação referidos, por não ter segurança em relação ao seu ponto de vista ou por tender a concordar com o estabelecido); e aqueles que se situaram em um nível intermediário de permeabilidade às notícias hipotéticas apresentadas. Relevância dos meios e outras referências 29) O veículo de comunicação foi considerado, nos dois segmentos investigados, muito relevante para a aceitabilidade do conteúdo da notícia. Em alguns casos a notícia foi aceita totalmente e incorporada ao esquema receptivo do entrevistado, em outras foi aceita parcialmente até posterior confirmação através de outros meios. 30) Em outros casos, também observados nos dois segmentos investigados, os entrevistados mostraram-se indiferentes quando ao meio que veiculou a notícia, voltando-se mais ao exame do conteúdo da informação para emitir seu juízo a respeito do assunto. 31) A rastreabilidade das informações e fontes utilizadas mostrou ser a mídia a principal referência e, em segundo lugar, as conversações com pessoas próximas. As conversações com familiares, amigos e 140 pessoas do círculo de relações pessoais, mostraram-se relevantes nos casos em que as pessoas são escassamente informadas, pouco apropriadas da política. Para estas pessoas o círculo de relações pessoais inspira mais confiança. 32) Foi atribuída grande relevância e credibilidade aos comentaristas, colunistas, apresentadores, repórteres e blogueiros que emitem opiniões sobre os assuntos políticos e governamentais. Aqueles que não dominam os termos especializados da política e são relativamente pouco apropriados, particularmente, são os que mais se valem destas referências como mecanismo para formação de opinião. Alguns jornalistas são considerados confiáveis porque não costumam se posicionar, passando a imagem de isenção. Outros são apreciados pelo oposto, porque expõem suas opiniões com contundência. Alguns comentaristas construíram uma trajetória de credibilidade possuindo hoje um público cativo como é o caso de Boris Casoy. Quando a notícia é apresentada pelo comentarista em que o entrevistado confia, a credibilidade é total. Quando se soma credibilidade do apresentador à ampla aceitação da emissora e do programa, a aceitabilidade é ainda maior. É o exemplo do Jornal Nacional da Rede Globo, conduzido por William Bonner e Fátima Bernardes. 33) A relevância da mídia é tão expressiva que alguns entrevistados mudam de opinião quando as notícias são comunicadas por meios que lhes transmitem credibilidade. É o caso do entrevistado que, frente a uma notícia contrária a sua opinião questiona seu conteúdo em função da referência de que a mesma havia sido veiculada em um jornal considerado de baixa credibilidade. Porém, quando mencionado que a notícia fora veiculada por um meio confiável, o jovem reconsiderou a possibilidade de a notícia ser verdadeira e, posteriormente, incorporou informações da notícia em sua argumentação, reforçando a mudança de opinião. 141 34) A Maior exceção refere-se aos entrevistados do segmento de classe média posicionados à esquerda e aos jovens com posicionamentos mais críticos em relação à mídia que, igualmente, atribuem-lhe menor relevância na formação de suas opiniões. Em geral, buscam argumentar contrariamente às informações que lhes são transmitidas. É o caso do jovem posicionado à esquerda no espectro político, que possui baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação e atribuí precariedade às informações veiculadas. Afirma que chegou as suas opiniões através de conhecimentos que adquiriu na escola e nos livros de história, relacionando-os com as notícias veiculadas pela mídia. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos 35) A rastreabilidade das informações obtidas e a simulação da reação às notícias hipotéticas apresentadas possibilitaram delinear as principais lógicas utilizadas para a interpretação dos acontecimentos políticos. A experiência política anterior e a percepção geral do mundo político também se mostraram relevantes para o delineamento das lógicas utilizadas. 36) Nos dois segmentos foi identificada a mesma tendência geral. Diferiram-se em relação ao grau de incoerência e confusão, relativamente maior no caso da juventude. De modo geral, o conteúdo de uma notícia é aceito quando se enquadra razoavelmente nos esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles consideram verdadeira a notícia que apresenta elementos compatíveis com os blocos préestruturados de idéias que explicam as características do mundo político. Por isto, são amplamente aceitas, as notícias de escândalos políticos costumeiramente divulgados pela mídia. A política e os políticos são vistos como desonestos e corruptos. A notícia de um 142 novo escândalo moral no cenário político é facilmente incorporada, pois se ajusta perfeitamente ao esquema perceptivo pré-existente. 37) A lógica utilizada para atribuir veracidade a uma informação divulgada se encontra, em grande parte, associada ao modo de perceber a política. A percepção da política é afetiva quando o posicionamento favorável ou contrário a um conteúdo é definido em função de critérios afetivos, seja em relação aos agentes envolvidos na disputa ou à pessoa de referência (familiar, comentarista) que se posicionou sobre o assunto. No primeiro caso, trata-se de uma posição própria em função de critério afetivo. No segundo caso trata-se de uma atitude seguidista. 38) De modo geral, o conteúdo de uma notícia é aceito quando se encaixa razoavelmente nos esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles consideram verdadeira a notícia que apresenta elementos compatíveis com os blocos pré-estruturados de idéias que explicam as características do mundo político. Por isto, são amplamente aceitas, as notícias de escândalos políticos costumeiramente divulgadas pela mídia. A política e os políticos são vistos como desonestos e corruptos. A notícia de um novo escândalo moral no cenário político é facilmente incorporada, pois se ajusta perfeitamente ao esquema perceptivo pré-existente. 39) A percepção da política é moral quando os julgamentos dos agentes políticos e das propostas em disputa são feitos a partir de critérios morais. Isto implica em escolher um candidato em função da sua conduta moral, em defender uma proposta em função de uma avaliação moral do problema ou pelo fato da mesma estar sendo sustentada por agentes políticos considerados moralmente inatacáveis. 143 40) A percepção da política é política quando as leituras dos acontecimentos e as posições sobre os agentes e as propostas em disputa são decorrentes de critérios políticos e racionais. Isto é, quando uma pessoa defende uma proposta em função desta estar de acordo com o seu posicionamento político ou dos seus interesses individuais ou grupais. A interpretação da veracidade de um conteúdo é política quando a notícia é julgada através de um raciocínio lógico e coerente aos interesses do agente e ao se posicionamento político. 41) A percepção da política é clientelística quando o raciocínio utilizado é orientado fundamentalmente pela percepção dos benefícios imediatos tangíveis que o entrevistado poderá obter através da posição assumida. A defesa de um agente político ou de uma proposta, nestes casos, está orientada pela lógica do benefício individual imediato que pode ser resultante da ação. Assim, a lógica clientelística também é motivada por interesses. Contudo, diferencia-se substancialmente da lógica política, uma vez que o atendimento de interesses imediatos pode levar a mudanças de posição não explicáveis, indicando incoerência do ponto de vista da lógica política. A orientação por critérios afetivos e morais também pode ser considerada incoerente do ponto de vista da lógica política. 42) Houve também os casos de ausência de lógica ou da utilização de critérios confusos, precários, aparentemente erráticos, pouco compreensíveis ao interlocutor. É o que ocorre quando os blocos estruturados de idéias do esquema perceptivo do entrevistado são internamente contraditórios ou quando critérios de natureza diferente são utilizados alternadamente ou de forma estranhamente combinada para a interpretação das notícias e acontecimentos do mundo político. Nestes casos não se pode se referir propriamente à lógica. Uma definição mais precisa corresponde ao termo confusão. No segmento jovem as lógicas presentes na interpretação dos acontecimentos 144 mostraram-se mais confusas, mesclando critérios distintos. Poucos foram os jovens que apresentaram raciocínio coerente. 43) Portanto uma tipologia das lógicas utilizadas possibilita discernir em cinco modelos principais (utilizados de forma exclusiva ou combinada pelos entrevistados) que correspondem às lógicas: política, moral, afetiva, clientelística ou confusa. 145