Relatório de Pesquisa Qualitativa
Setembro de 2009
1
Sumário
Introdução ...................................................................................................................... 4
1. Metodologia ............................................................................................................... 7
1.1. Técnica utilizada ..................................................................................................... 7
1.2. Perfil dos entrevistados ........................................................................................... 8
1.3. Amostra ................................................................................................................... 9
1.4. Parâmetros e distribuição ........................................................................................ 9
1.5. Temas investigados ............................................................................................... 11
1.6. Mecanismos e procedimentos técnicos utilizados na investigação....................... 11
1.6.1. Mapeamento das posições: ........................................................................ 11
1.6.2. Técnica de entrevistas sucessivas: ............................................................. 11
1.6.3. Rastreamento das informações: ................................................................. 12
1.6.4. Teste simulado da reação às notícias hipotéticas contrárias ao ponto de
vista do entrevistado: ........................................................................................... 12
1.7. Objetivos de análise .............................................................................................. 13
1.7.1. Vida profissional: ....................................................................................... 13
1.7.2. Vida escolar: .............................................................................................. 13
1.7.3. Trajetória social: ........................................................................................ 13
1.7.4. Experiência política: .................................................................................. 14
1.7.5. Características atitudinais: ......................................................................... 14
1.7.6. Meios de comunicação:.............................................................................. 14
1.7.7. Informação sobre o governo e políticas públicas:...................................... 14
1.7.8. Posicionamento sobre os temas políticos:.................................................. 14
1.7.9. Auto-definição política: ............................................................................. 15
1.7.10. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos: ........................ 15
1.7.11. Relação do conjunto das variáveis estudadas: ......................................... 15
1.7.12. Sugestões para a fase quantitativa: .......................................................... 16
2. Caracterização dos segmentos estudados................................................................. 17
2.1. Classe média ......................................................................................................... 17
2.1. Juventude .............................................................................................................. 23
3. Fatores contextuais................................................................................................... 26
3.1. Trajetória social .................................................................................................... 26
3.1.1. Classe Média .............................................................................................. 26
3.1.2. Juventude ................................................................................................... 31
3.2. Experiência política .............................................................................................. 34
3.2.1. Classe média .............................................................................................. 34
3.2.2. Juventude ................................................................................................... 37
3.3. Características atitudinais ..................................................................................... 39
3.3.1. Classe Média .............................................................................................. 39
3.3.2. Juventude ................................................................................................... 42
4. Percepção do mundo político ................................................................................... 44
4.1. Apropriação política.............................................................................................. 44
4.1.1. Classe média .............................................................................................. 44
2
4.1.2. Juventude ................................................................................................... 47
4.2. Posicionamento político ........................................................................................ 51
4.2.1. Classe média .............................................................................................. 51
4.2.2. Juventude ................................................................................................... 53
4.3. Coerência política ................................................................................................. 55
4.3.1. Classe média .............................................................................................. 55
4.3.2. Juventude ................................................................................................... 59
5. Comportamento em relação à mídia ........................................................................ 64
5.1. Meios de comunicação ...................................................................................... 64
5.1.1. Classe média .............................................................................................. 64
5.1.2. Juventude ................................................................................................... 69
5.2. Informação sobre o governo e políticas públicas .............................................. 74
5.2.1. Classe média .............................................................................................. 74
5.2.2. Juventude ................................................................................................... 78
6. Formação da opinião ................................................................................................ 84
6.1. Permeabilidade às notícias ................................................................................ 84
6.1.1. Classe média .............................................................................................. 84
6.1.2. Juventude ................................................................................................... 89
6.2. Relevância dos meios e outras referências........................................................ 99
6.2.1. Classe Média .............................................................................................. 99
6.2.2. Juventude ................................................................................................. 105
6.3. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos ................................ 109
6.3.1. Classe Média ............................................................................................ 109
6.3.2. Juventude ................................................................................................. 116
7. Subsídios para o questionário da fase quantitativa ................................................ 121
7.1. Sugestões de perguntas para o questionário da fase quantitativa ................... 121
8. Considerações finais .............................................................................................. 131
3
Introdução
O desenvolvimento tecnológico, a expansão do uso da Internet, da
telefonia celular e outras ferramentas de interconexão dos meios de
comunicação tem provocado importantes efeitos nas formas através das
quais as pessoas se informam, processam estas informações e constroem
referenciais valorativos e atitudinais.
Neste período de transformação convivem os tradicionais meios de
comunicação dos séculos XIX e XX (imprensa escrita, rádio, televisão) com a
nova mídia liderada pela Internet e suas várias ferramentas. Muitos
conteúdos dos meios tradicionais são crescentemente expostos na Internet
(notícias de jornais, revistas, filmes, música, etc.). Os jornais impressos,
particularmente, sentem o impacto da mudança comportamental verificada
especialmente no segmento jovem que prefere acompanhar noticiários
através da Internet ao invés dos tradicionais tablóides. A TV aberta sofre forte
concorrência da TV por assinatura, especialmente nos segmentos de maior
renda, em função da maior qualidade, especialização e diversidade das
opções de programação.
Qual é o impacto destas mudanças nos processos de formação de
opinião dos distintos segmentos sociais? O acesso direto a uma mídia mais
diversificada está gerando uma multiplicação de fontes e referenciais
informativos? Em que medida esta diversificação altera os referenciais de
formadores de opinião, especialmente nos segmentos que utilizam, de forma
mais intensa, as novas tecnologias da informação? Em que medida os
tradicionais referenciais da televisão aberta perdem força nos segmentos que
utilizam crescentemente as novas mídias? Em que medida o segmento jovem
opera outras formas e processos de construção de opinião? Qual é a eficácia
da propaganda e das notícias em cada um dos meios de comunicação? Em
que medida a nova classe média torna-se crescentemente autônoma em seu
processo de formação de opinião?
4
Estas questões orientaram o desenvolvimento da presente pesquisa.
Nesta primeira fase de natureza qualitativa a investigação teve caráter
exploratório, visando o conhecimento em profundidade dos processos através
dos quais as pessoas se informam e formam as suas opiniões. Buscou-se
esquadrinhar os mecanismos de formação de opinião, examinando a
importância das notícias veiculadas pelos meios de comunicação, as fontes
de informação mais utilizadas, os referenciais de formadores de opinião
considerados mais confiáveis, as lógicas utilizadas na construção de
opiniões, valores e posições.
A investigação da fase qualitativa voltou-se aos dois segmentos
considerados mais relevantes para a observação dos fenômenos estudados:
a chamada nova classe média e a juventude. Foram escolhidas técnicas
adequadas aos objetivos de obtenção de um conhecimento em profundidade
do comportamento destes segmentos.
A exposição dos resultados desta primeira fase da pesquisa foi
organizada tendo por referência contemplar as principais dimensões da
análise, a seguir indicadas.
1. Caracterização dos segmentos estudados: definição conceitual e
operacional dos segmentos “classe média” e “juventude”.
2.
Fatores
contextuais:
exame
da
relevância
da
trajetória
social
(profissional, escolar e social), da experiência política e das características
atitudinais na conformação dos comportamentos e predisposições.
3. Percepção do mundo político: identificação do grau de apropriação
política (domínio dos termos, informação e conhecimento, gosto por política),
das características do posicionamento político e do grau de coerência em
relação a estas posições, ações e relações com os hábitos de informação e
formação de opinião.
4. Comportamento em relação à mídia: detalhamento da utilização dos
meios de comunicação, da percepção do comportamento da mídia e das
formas de obtenção de informação sobre o governo e políticas públicas.
5
5. Formação da opinião: identificação das lógicas utilizadas para a formação
de opiniões, o grau de permeabilidade das pessoas às notícias, a relevância
dos meios e de outras referências para a construção de opiniões.
6. Subsídios para a fase quantitativa: sugestão de perguntas para o
questionário da segunda fase da pesquisa.
6
1. Metodologia
O presente estudo tem por objetivo investigar como o processo de
informação e formação de opinião na era da comunicação digital no Brasil.
Para a realização do objetivo proposto, foi considerado necessário
iniciar a investigação através de um estudo em profundidade com pessoas
selecionadas de acordo com perfis típicos definidos.
Os dois segmentos selecionados para esta fase da pesquisa foram
àqueles considerados mais relevantes nesta investigação: jovens e classe
média.
Optou-se por estudar em profundidade estes dois segmentos ao
invés de realizar um estudo menos profundo de um leque mais amplo e
diversificado de grupos sociais.
O estudo em profundidade proposto objetiva levantar subsídios para a
pesquisa quantitativa mais abrangente, representativa do conjunto da
população brasileira, que corresponde à segunda fase deste projeto.
1.1. Técnica utilizada
Para o conhecimento profundo e detalhado das maneiras como as
pessoas se informam e constroem os seus referenciais valorativos,
percepções, comportamentos, tendências e predisposições, a técnica de
entrevistas individuais em profundidade é a melhor por possibilitar o
conhecimento em sentido vertical das experiências, referências, e das formas
de formular opiniões e de tomar decisões e atitudes.
As entrevistas em
profundidade serão realizadas em
etapas
sucessivas até 4 entrevistas por entrevistado. Esta técnica possibilita
aprofundar assuntos progressivamente, alargando o encadeamento de
experiências e o inter-relacionamento das idéias, valores, percepções e
atitudes explicativas do comportamento.
Entrevistas individuais em profundidade sucessivas possibilitam
delinear o quadro valorativo e perceptivo dos entrevistados e os seus
7
mecanismos de produção de julgamentos e tomadas de decisão. Conforme o
quadro valorativo há predisposição para aceitação de determinadas
propostas e discursos. O quadro de valores informa as possibilidades
atitudinais frente aos acontecimentos. Os mecanismos de produção de
julgamento e tomadas de decisão informam as fontes utilizadas e o modo de
operação, tornando possível a identificação de pontos de diálogo e maior
previsibilidade de ações e reações.
1.2. Perfil dos entrevistados
Nos dois segmentos investigados há consideráveis variações relativas
aos contextos sociais, nível econômico, nível informacional, conhecimento do
mundo político, envolvimento com temas desta natureza e trajetória
experimental. Mesmo no segmento de classe média, definido por seu poder
aquisitivo, há um largo espectro de diferenciações sócio-econômicas. No
grupamento definido por faixa etária há diferenciação sócio-econômica mais
acentuada,
além
da
diferenciação
interna,
também
relevante,
do
comportamento e bagagem experimental, nas diferentes faixas de idade
daqueles considerados jovens.
O indivíduo que vive nos grandes centros urbanos tende a ter base
experimental e percepção do mundo político muito distintas daquele que vive
em pequenas cidades do interior dos estados. O mesmo pode ser dito em
relação àqueles que têm distintos níveis informacionais de sofisticação
política. A atividade profissional também é um elemento que pode implicar em
facilidade ou dificuldade de compreensão dos temas da política e em maior
ou menor proximidade do mundo político. Agregam-se a estas diferenciações
a diversidade cultural regional de um país de dimensões continentais.
Estes fatores foram considerados na escolha dos entrevistados dos
dois segmentos investigados.
8
1.3. Amostra
A definição da amostra da pesquisa através da técnica de entrevistas
em profundidade foi feita de forma intencional, considerando os objetivos do
levantamento e as características de seu público-alvo. Considerando as
características dos dois segmentos foi considerada suficiente a seleção de 24
entrevistados por segmento. Assim, foram realizadas, com 24 entrevistados
de cada segmento, quatro séries de entrevista, totalizando 96 entrevistas em
profundidade com o segmento classe média e 96 entrevistas em
profundidade com o segmento jovem (192 entrevistas em profundidade ao
total).
1.4. Parâmetros e distribuição
Para fins deste estudo, a definição operacional de classe média foi
feita pelo critério de classificação sócio-econômica da ABEP, como sendo os
integrantes das classes B2 e C (C1 e C2).
Em relação à juventude, para fins operacionais deste estudo, foram
consideradas as faixas etárias entre 16 e 24 anos.
As entrevistas em profundidade foram distribuídas por todas as regiões
brasileiras e pelos municípios da capital, próximos à capital e distantes da
capital (interior) em igual proporção (32 entrevistas com pessoas residentes
na classe de distância A, 32 na classe de distância B e 32 na classe de
distância C, para cada um dos segmentos).
9
Perfil dos Entrevistados - Classe Média
CIDADE
Salvador
Goiânia
Região Metropolitana Rio de Janeiro
Porto Alegre
Região Metropolitana Porto Alegre
Região Metropolitana Belo Horizonte
Interior Minas Gerais
Região Metropolitana Belém
Interior Bahia
Recife
Interior Goiás
São Paulo
Interior Rio de Janeiro
Região Metropolitana Porto Alegre
Interior Rio Grande do Sul
Interior Minas Gerais
Belém
Região Metropolitana Belém
Região Metropolitana Salvador
Goiânia
Região Metropolitana São Paulo
Interior São Paulo
Interior Rio Grande do Sul
Belo Horizonte
PERFIL
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
Classe média
SEXO
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
Masculino
Masculino
Feminino
Feminino
Masculino
Masculino
Feminino
Feminino
Feminino
Masculino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Masculino
CLASSE
B2
B2
B2
B2
B2
B2
B2
C1
C1
C1
C1
C1
C1
C1
C1
C1
C2
C2
C2
C2
C2
C2
C2
C2
ESCOLARIDADE
Superior incompleto
Superior completo
Superior completo
2º grau completo
Superior completo
Superior incompleto
Superior incompleto
2º grau completo
2º grau completo
2º grau incompleto
2º grau incompleto
Superior incompleto
Superior incompleto
2º grau completo
2º grau completo
2º grau incompleto
1º grau completo
2º grau incompleto
1º grau completo
2º grau completo
2º grau completo
1º grau completo
2º grau completo
2º grau completo
IDADE
21 anos
47 anos
36 anos
32 anos
44 anos
26 anos
47 anos
36 anos
31 anos
27 anos
30 anos
30 anos
33 anos
22 anos
30 anos
16 anos
36 anos
31 anos
40 anos
35 anos
49 anos
35 anos
43 anos
21 anos
SEXO
Masculino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Masculino
Feminino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Feminino
Masculino
CLASSE
A
B1
B1
B1
B2
B2
B2
B2
B2
C1
C1
C1
C1
C1
C1
C1
C2
C2
C2
C2
C2
D
D
D
ESCOLARIDADE
Superior completo
Superior incompleto
Superior incompleto
Superior incompleto
2º grau incompleto
Superior incompleto
2º grau completo
Superior completo
Superior incompleto
2º grau completo
Superior incompleto
2º grau incompleto
2º grau completo
2º grau incompleto
2º grau incompleto
2º grau completo
2º grau completo
2º grau incompleto
2º grau incompleto
2º grau completo
2º grau completo
2º grau completo
1º grau completo
2º grau completo
IDADE
22 anos
20 anos
19 anos
24 anos
16 anos
23 anos
20 anos
22 anos
21 anos
21 anos
21 anos
16 anos
19 anos
16 anos
22 anos
24 anos
18 anos
19 anos
23 anos
22 anos
18 anos
23 anos
17 anos
21 anos
Perfil dos Entrevistados - Jovens
CIDADE
Porto Alegre
Belém
Região Metropolitana Porto Alegre
Interior Rio Grande do Sul
Região Metropolitana Belém
Salvador
Interior Goiás
São Paulo
Interior São Paulo
Região Metropolitana Belém
Região Metropolitana Salvador
Interior Pernambuco
Interior Pernambuco
Goiânia
Interior Rio de Janeiro
Região Metropolitana Porto Alegre
Recife
Região Metropolitana Recife
Interior Goiás
Interior São Paulo
Rio de Janeiro
Região Metropolitana São Paulo
Porto Alegre
Região Metropolitana Porto Alegre
PERFIL
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
Jovens
10
1.5. Temas investigados
A fase qualitativa coletou informações buscando explorar em
profundidade o modo como ocorre o processo de formação de opinião. A
investigação
buscou
identificar
a
influência
relativa
dos
meios
de
comunicação nos processos de formação de opinião, e o modo como é feita a
construção de valores e posições. A partir do mapeamento das principais
idéias e posições sobre temas relevantes, foi feito o rastreamento do
processo de formação destas opiniões, reconstituindo os elementos e passos
mais significativos deste processo. Foram investigados os níveis de
informação e conhecimento, a posição dos entrevistados, os meios de
informação utilizados e as formas de construção das opiniões.
As principais hipóteses formuladas nesta fase serão testadas em um
levantamento quantitativo representativo do conjunto da população.
1.6. Mecanismos e procedimentos técnicos utilizados na
investigação
Entre os principais procedimentos técnicos utilizados nas entrevistas
para aprofundar o conhecimento sobre os temas investigados destacam-se
os relacionados a seguir.
1.6.1. Mapeamento das posições: Primeiramente foi estruturado um amplo
painel das experiências, trajetórias, posições, idéias, percepções, ações e
decisões dos entrevistados, através de perguntas, inicialmente genéricas e
abertas, e, em um segundo momento, quando necessário, estimuladas
através de abordagens mais diretas e específicas.
1.6.2. Técnica de entrevistas sucessivas: A técnica de realização de quatro
entrevistas com cada entrevistado possibilitou a leitura prévia dos resultados
de cada entrevista por parte de equipe de analistas do Instituto Meta e, a
partir deste procedimento, a inclusão, de novas perguntas consideradas
pertinentes para esclarecer pontos não suficientemente esgotados ou
11
contradições. Este mecanismo possibilitou o aprofundamento vertical de
assuntos, que poderiam passar despercebidos, se não houvesse a
possibilidade de retomar a entrevista em um novo momento.
1.6.3. Rastreamento das informações: Após a identificação das principais
posições dos entrevistados foi realizado o rastreamento das informações
retidas. Foram identificadas as fontes de informação mais importantes para a
construção das opiniões manifestas, as conversações realizadas sobre o
assunto, as lógicas utilizadas para alcançar as conclusões indicadas. Para
cada assunto mencionado foi verificado o grau de cristalização da posição (se
a opinião sobre o assunto é definitiva e dificilmente mudaria ou ainda não é
definitiva e poderia mudar dependendo de novos fatos e circunstâncias).
1.6.4. Teste simulado da reação às notícias hipotéticas contrárias ao
ponto de vista do entrevistado: A partir das informações fornecidas sobre
os posicionamentos políticos e as fontes de informação mais e menos
confiáveis,
foram
apresentadas
notícias
hipotéticas
contrárias
ao
posicionamento do entrevistado: em um primeiro momento como sendo de
fonte pouco confiável; em um segundo momento como sendo de fonte
confiável e, em um terceiro momento, como sendo de toda a mídia. Foram
identificadas as reações do entrevistado frente às notícias hipotéticas
(aceitação da notícia, desqualificação do meio, relativização da notícia,
reinterpretação das informações fornecidas ou outras). Por exemplo, quando
o entrevistado manifestou-se favorável a pena de morte, foi apresentada
notícia, elaborada pela equipe de analistas do Instituto Meta, que demonstra
os riscos e a ineficiência desta medida. A notícia foi apresentada como sendo
inicialmente de uma fonte considerada pouco confiável e depois de uma fonte
considerada confiável para verificar se o entrevistado desqualificaria a notícia
em função do meio e como ele reagiria frente a hipótese de veiculação da
mesma notícia em um meio considerado confiável ou em toda a mídia. Esta
técnica foi muito importante para identificar o grau de permeabilidade dos
12
entrevistados em relação às notícias e as possibilidades de aceitação de
pontos de vista diferentes ou contrários.
1.7. Objetivos de análise
A análise realizada buscou identificar as características dos perfis
comportamentais individuais, estabelecendo conexão entre o contexto em
que estes perfis se inserem e o comportamento das pessoas em relação à
mídia. Buscou-se examinar o quanto a trajetória profissional, escolar, social e
quanto a experiência sobre política e os fatores atitudinais são relevantes
para explicar os comportamentos encontrados.
O exame dos dados coletados objetivou, em cada tema, identificar os
aspectos que serão a seguir indicados.
1.7.1. Vida profissional: O entrevistado está em uma escala ascendente,
descendente ou ainda em uma situação estável? No caso de desemprego,
que corresponde a uma situação limite de descenso, buscou-se observar se
não se trata de algo transitório, componente de um padrão irregular ou
ascendente.
1.7.2. Vida escolar: Qual é posição do entrevistado na hierarquia escolar? O
gosto pela leitura e estudo é um indicativo de predisposição para o
acompanhamento de notícias em jornais e revistas? O estudo sobre governo
na escola indica base de conhecimento sobre o assunto e predisposições
favoráveis ou desfavoráveis ao acompanhamento de notícias sobre o tema?
1.7.3. Trajetória social: O entrevistado está em uma escala ascendente,
descendente ou estável em termos do seu poder aquisitivo? Foram
observados também os padrões irregulares e atípicos, com o cuidado de
identificar se a situação do entrevistado é transitória ou momentânea.
13
1.7.4. Experiência política: Qual o contato com a política desde o ambiente
familiar e escolar? Viveu processos de desilusão, gosto e participação? Qual
é o posicionamento político? Quais são os motivos explicativos deste
posicionamento e das predisposições para a leitura de notícias sobre o
assunto?
1.7.5. Características atitudinais: O entrevistado encontra-se em um estado
de satisfação ou de insatisfação e apresenta predisposições positivas ou
negativas em relação ao modo de lidar com a realidade?
1.7.6. Meios de comunicação: Quais são os níveis de acompanhamento de
notícias sobre política e governo, os meios utilizados, incluindo conversações,
e a avaliação da parcialidade e confiabilidade dos meios e da credibilidade
dos formadores de opinião?
1.7.7. Informação sobre o governo e políticas públicas: Quais são os
níveis de acompanhamento de notícias sobre governo, programas e
propagandas? Qual é a avaliação sobre a parcialidade dos meios em relação
ao Governo Federal? Qual é o resultado do rastreamento das informações
indicadas em relação às fontes e lógicas utilizadas?
1.7.8. Posicionamento sobre os temas políticos: Quais são os níveis de
informação sobre os temas políticos do momento, sobre política, situação de
classe e os posicionamentos sobre os temas políticos do momento e em
geral?
Os resultados da análise dos posicionamentos sobre temas políticos
foram agregados em conceitos mais condensados, considerando os
seguintes aspectos:
1.7.8.1. Apropriação política (se informa, conhece, gosta, percebe
adequadamente a sua situação social).
1.7.8.2. Percepção da política (Afetiva, moral, política, clientelística).
14
1.7.8.3. Grau de coerência política (inter-relacionamento lógico entre as
posições políticas).
1.7.8.4. Perfis políticos conforme posicionamento (correspondência entre
as posições sustentadas e o posicionamento político correspondente em uma
escala esquerda-direita).
1.7.9. Auto-definição política: Qual é a auto-definição política dos
entrevistados em uma escala esquerda-direita? Qual é a sua auto-definição
tendo em vista as correntes políticas mais conhecidas? Qual é a sua
preferência partidária?
Os resultados da análise da auto-definição política foram agregados em
conceitos mais condensados, considerando o grau de coerência política. O
grau de coerência política observado nesta etapa foi agregado ao resultado
da etapa anterior referente à coerência dos posicionamentos políticos. Deste
modo a classificação resultante considerou as avaliações realizadas sob
esses dois ângulos investigados.
1.7.10. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos: Qual é a
reação às notícias hipotéticas? Quais são os graus de receptividade,
resistência, incorporação de informações e as lógicas utilizadas para a
interpretação das notícias? Quais critérios são utilizados para avaliar a
credibilidade da notícia? Qual é a utilidade do debate e conversação? Quais
são as possibilidades de mudança de opinião em função de conversas?
1.7.11. Relação do conjunto das variáveis estudadas: A partir dos
resultados das questões anteriores foram relacionadas as variáveis
estudadas, fatores contextuais e comportamentais, buscando explicações
para os comportamentos e posicionamentos assumidos, capazes de elucidar
de forma sintética os dados coletados.
Pontos já observados sob diferentes ângulos foram retomados neste esforço
analítico para serem contemplados conjuntamente. O posicionamento político
15
e o grau de coerência foram ser analisados de forma mais abrangente e
sintética. A predisposição positiva foi considerada em diferentes aspectos.
Através da análise realizada, um conjunto de hipóteses, decorrentes das
perguntas formuladas, foi testado e os resultados foram sintetizados através
de perfis explicativos do comportamento em relação à mídia.
1.7.12. Sugestões para a fase quantitativa: Quais perguntas devem ser
feitas na fase quantitativa desta pesquisa? A partir dos resultados
encontrados foram selecionados os aspectos mais relevantes a serem
investigados através de um instrumento padronizado.
16
2. Caracterização dos segmentos estudados
2.1. Classe média
A definição de classe média pode variar muito, assim como os
critérios de classificação e estabelecimento de fronteiras. A noção foi
originalmente utilizada para designar os segmentos intermediários, nem ricos,
nem pobres, que se fortaleceram com o desenvolvimento da sociedade
moderna, especialmente nos séculos XIX e XX. Mas como pobreza e riqueza
são termos relativos que variam conforme o contexto econômico-social e o
ponto de vista a noção foi muitas vezes utilizada de modo controverso. Na
literatura marxista estes segmentos foram inicialmente caracterizados como
“pequena burguesia”. Definições similares à classe média encontraram lugar
na sociologia de Max Weber que define as classes sociais em função da
situação econômica dos indivíduos. Posteriormente a teoria sistêmica
parsoniana passou a utilizar a classificação de estratificação social, muito
adequada à identificação de estratos médios. Aos poucos a noção de origem
popular e leiga foi incorporada aos textos acadêmicos e tornou-se recorrente
na literatura especializada e no jornalismo.
A relevância atribuída à classe média tornou-se considerável
com
o
crescimento
quantitativo
deste
segmento
nas
sociedades
desenvolvidas, especialmente no período do pós-guerra. A expansão deste
segmento e de sua importância econômica alterou a percepção da estrutura
social nos países desenvolvidos: ao invés da estrutura piramidal, pareceu ser
cada vez mais apropriada, com a redução da pobreza e o crescimento dos
segmentos médios, a metáfora referente ao formato de um losango.
Simultaneamente ao crescimento de sua importância quantitativa na estrutura
econômica observou-se a expansão de sua relevância política e eleitoral.
Fenômeno semelhante tem ocorrido no Brasil na última década.
Os segmentos médios brasileiros expandiram-se consideravelmente nos
últimos anos em função do processo de expansão econômica do país e das
17
políticas governamentais que estimularam a distribuição de renda. A
mudança foi detectada por vários indicadores do nível de renda e de poder
aquisitivo da população (IPEA, IBGE, ABEP). As pesquisas de mercado
registraram o crescimento considerável da chamada classe C (assim como
da B2) e o encolhimento em proporção semelhante das classes D e E.
Segundo dados da ABEP de 2007, 65,08% da população das regiões
metropolitanas se encontram nas classes B2, C1, C2. Na pesquisa realizada
pelo Instituto Meta em 2009 com amostra representativa do conjunto da
população brasileira foi verificada proporção semelhante (64,6%). Este
enorme contingente populacional situado em níveis intermediários sugeriu a
propriedade da estrutura em forma de losango, a exemplo do ocorrido nos
países mais desenvolvidos, para designar o novo desenho sócio-econômico
da sociedade brasileira.
A relevância deste fenômeno recente indicou a necessidade de
um conhecimento mais profundo. A ascensão social de segmentos
pauperizados para posição social intermediária pode ter estimulado diferentes
predisposições
comportamentais.
Em
que
medida
estes
segmentos
ascendentes percebem os fatores que possibilitaram esta ascensão? Em que
medida eles adquirem os hábitos correspondentes a sua nova situação
social? Em que medida tornam-se mais informados, ampliando a utilização
dos meios de comunicação? Em que medida eles desenvolvem capacidade
de conhecer e discernir os acontecimentos políticos? Em que medida eles
tornam-se crescentemente autônomos em seu processo de formação de
opinião? Compreender como este segmento social está se informando e
construindo seus referenciais, posições, percepções, valores e atitudes é
muito importante para a potencialização dos esforços de comunicação do
governo federal.
Para fins deste estudo, a definição operacional de classe média
foi feita pelo critério de classificação sócio-econômica da ABEP, como sendo
os integrantes das classes B2 e C (C1 e C2). O critério de classificação sócioeconômica da ABEP considera vários fatores e é um bom indicador de poder
aquisitivo, ainda que tenha inúmeras falhas e seja um critério mais apropriado
18
para estratificação social do que para classes sociais no sentido sociológico
do conceito.
Entre as principais falhas destaca-se a distorção gerada pelo
tamanho da família. Como a classificação atribui pontos aos bens de uso
doméstico existentes no domicílio, quanto maior o número de equipamentos
(televisores, rádios, geladeiras, veículos, etc.) maior a pontuação obtida.
Famílias maiores tendem a ter maior número de equipamentos do que uma
família composta por apenas uma ou duas pessoas residentes no domicílio.
Outra distorção refere-se à pontuação atribuída. Bens que tem valores
distintos (como rádio e televisor) recebem a mesma pontuação. A falta de
correspondência entre bens e valores também pode ser observada pelo
critério de apenas quantificar bens, sem qualificar os seus valores (cinco
carros populares antigos podem custar menos do que um carro sofisticado do
ano). A defasagem tecnológica é outro problema desta classificação, uma vez
que equipamentos superados como videocassete são considerados como
tendo a mesma pontuação de um DVD. O critério da ABEP ainda não
incorporou a posse de micro-computadores como um elemento de
classificação.
Apesar das inúmeras falhas apontadas, esta classificação foi
considerada preferencial, pois, de um lado, as distorções que podem ser
individualmente
grandes,
tornam-se
pouco
acentuadas
em
grandes
agregados, em níveis estatisticamente aceitáveis. Por outro lado, os outros
critérios possíveis também tendem a gerar distorções. É o caso da definição
por renda. Estudantes e donas de casa sem renda individual podem ter um
padrão sócio-econômico de classe média em função da renda familiar. Não
se conhece a distribuição da renda familiar por membro da família, tornando o
conceito de renda familiar per capita impreciso para a finalidade de escolher
pessoas a serem entrevistadas.
Assim, a opção pelo critério de classes sócio-econômicas da
ABEP não implica em desconsideração de suas falhas. Este critério foi
considerado o melhor disponível para os fins propostos. Através dele
desenha-se um universo sócio-econômico um pouco distinto daquele
19
decorrente do modelo imaginário tradicional da família de classe média. As
famílias de comerciantes, pequenos empresários (“pequenos burgueses” na
terminologia marxista) ou de profissionais liberais bem sucedidos como
advogados, médicos, arquitetos e engenheiros costumam se situar entre as
classes B e A. Se perguntarmos a eles a que classe pertencem,
provavelmente dirão, que são membros da classe média. Mas pelo critério de
classificação da ABEP integrarão os estratos superiores (A, B1).
A correspondência feita pela ABEP entre as classes sócioeconômicas e a renda familiar mensal contribui para a compreensão desta
diferença. Um casal de médicos que recebe, somando a renda dos dois
membros da família, R$ 10.000,00 por mês corresponde ao perfil de classe
A1. Outro casal que recebe R$ 6.500,00 corresponde ao perfil de classe A2 e
outro que recebe R$ 3.500,00 ao perfil de classe B1. Todos estes casos não
seriam considerados pelo critério de classe média adotado, que se refere aos
componentes das classes B2, C1 e C2. Estes componentes são aqueles que
têm renda familiar em média correspondente a R$ 2.013,00, R$ 1.195,00 e
R$ 726,00. Um casal que recebe salário mínimo cada membro, tem renda
mensal superior a R$ 726,00, estando assim incluído pelo critério adotado.
RENDA FAMILIAR POR CLASSES Pontos Renda média
Classe
Pontos
Renda média
familiar (R$)
A1
42 a 46
9.773
A2
35 a 41
6.564
B1
29 a 34
3.479
B2
23 a 28
2.013
C1
18 a 22
1.195
C2
14 a 17
726
D
8 a 13
485
E
0a7
277
Fonte: ABEP 2008
De acordo com este critério a chamada nova classe média
integra, entre outros, segmentos de origem pobre, que viveram dificuldades
20
na infância e conseguiram se afirmar em atividades profissionais que lhes
garantiram renda relativamente maior e comparativamente satisfatória.
“Ah, eu trabalho desde os 7 anos de idade. Meu primeiro
trabalho foi carregando trouxa de roupa na cabeça, que
minha mãe era lavadeira. Aí com quase 10, 12 anos eu
comecei a vender picolé, na rua. Com uns 11 e pouco eu
comecei a trabalhar com obra, junto com meu pai. (...) Aí
eu vim pra Salvador (16 anos) e fiquei trabalhando como
pedreiro, (...) contratado mesmo. (...) Fiquei fichado na
construção de 10 a 12 anos, mais ou menos, depois eu
passei um período fora, no interior, e trabalhei como
vendedor ambulante. Viajava muito, vendia roupas,
confecções, (...) como vendedor fiquei uns 4 anos. Depois
eu vim embora pra Salvador, (...) e comecei a trabalhar
com obras aqui, como autônomo até hoje. (...). Antes, eu
não tinha nem um colchão pra dormir. Dormia numa cama
de tábua, forrava com papelão. Hoje eu já tenho uma casa,
já tenho uma cama, já tenho um sofá pra repousar, então
hoje eu me considero mais rico do que antes” (Homem, 40
anos, ensino fundamental incompleto, classe C2).
“Minha mãe nunca estudou, mas sabia ler, foi lavadeira,
depois faxineira em um clube até se aposentar. O pai
estudou até a 4ª série, foi motorista a vida toda, depois de
se aposentar, foi guarda. A mãe recebe aposentadoria e
pensão, cada uma de 1 SM, aluga um barracão, lava e
passa roupa, tem renda de uma R$ 1.000,00. Foi difícil a
vida na infância, eram 12 irmãos, nunca passaram fome e
estudaram, mas passaram outras necessidades. As
crianças não trabalhavam, só a partir dos 13 anos (...) Meu
primeiro trabalho foi de doméstica, tinha 12 anos. Aí com
16 anos trabalhei como despachante, fiquei até os 19,
quando tive a primeira filha, saí por causa da gravidez,
fiquei um tempo sem trabalhar ai voltei e comecei a
trabalhar num clube com serviços gerais. Às vezes saía
porque estava insatisfeita com o salário, porque estava
cansada, ai pedia demissão e saía. Fiquei desempregada
algumas vezes, mas por pouco tempo porque sempre que
procurei achei. Uma vez fique por dois anos, quando tive
um dos filhos em 2002. Aí fazia bicos, faxina, lavava
roupa. Depois sempre trabalhei como auxiliar de serviços
gerais. O último ano foi o de maior sucesso, pois estava
21
em dois empregos. Estou bem mais rica, com certeza”
(mulher, 35 anos, ensino médio completo, classe C2).
“Nos períodos anteriores, foi havendo uma melhora
progressiva; eu dei o exemplo de melhora progressiva na
renda, a situação sócio-econômica, de acordo com a
moradia. Então, se no início, quando eu era bem pequena,
morava numa casa de sala, quarto, cozinha e banheiro,
obviamente o aluguel era mais barato do que uma casa
com dois quartos (...) E dessa casa de um quarto, a gente
já foi para um apartamento que era próprio; então, a renda
foi melhorando. E os meus pais sempre tinham, auxiliando
a renda, negócios paralelos, como a fabricação de doces.
Quando eu era pequena, depois eu me lembrei, eles
vendiam roupa, roupa de cama, pra complementar a
renda. Então, eles sempre tinham uma atividade paralela,
pra não ficar só no ordenado, que na época meu pai... só
que minha mãe sempre ajudou, ela fazia limpeza de pele,
depois eles vendiam roupa; então, cada época ela ajudava
de uma forma. Na minha adolescência, fazendo doce, que
foi a época que entrou mais grana – aí eles tinham uma
fabricação caseira mesmo (doces, salgados etc.), tinha já
uma clientela. E daí complementava a renda, foi daí que
eles compraram uma casa, reformaram a casa, que era
bem maior, tinha três quartos, 1 suíte, um banheiro, eram
3 salas, era uma casa bem maior, terraço, varanda. Depois
a gente vendeu e eu vim para esse apartamento aqui,
porque a casa era muito grande; minha mãe faleceu,
ficamos eu e meu pai, meu irmão casou” (Mulher, 36 anos,
ensino superior completo, classe B2).
Portanto, a nova classe média que se está referindo abriga um
contingente considerável de pessoas de origem pobre que se encontra
atualmente em níveis intermediários da estrutura social. O critério adotado é
técnico e tem por parâmetro os níveis de poder aquisitivo da população
brasileira. Conforme este critério foram operadas, na última década,
alterações na estrutura sócio-econômica com a passagem de contingentes
consideráveis de pobres situados nas classes D e E para níveis
intermediários (classes C e B1). O objetivo deste estudo é conhecer em maior
22
profundidade as características desta nova classe média, seu modo de
perceber a política e seu comportamento em relação à mídia.
2.1. Juventude
A noção de jovem é distinta conforme o ambiente cultural e
social, variando com o tempo, contexto, condições tecnológicas da
sociedade, hábitos predominantes, desenvolvimento dos mecanismos de
preservação da saúde e expectativa de vida da população. Em sociedades
guerreiras
e
pouco
desenvolvidas,
que
dispunham
de
precários
conhecimentos sobre medicina e frágil ou inexistente estrutura de tratamento
das doenças, a expectativa de vida média da população não ultrapassava 30
anos. O período da juventude, neste contexto, correspondia a uma fase muito
breve, pois as responsabilidades da vida adulta eram desde muito cedo
assumidas e o tempo de vida se encerrava precocemente.
A própria noção de juventude, tal como conhecemos hoje
inexistia nestes contextos. Esta noção é produto do desenvolvimento da
sociedade moderna industrial e de seu sistema educacional. A partir do
período em que se restringiu o trabalho de crianças e adolescentes e em que
se expandiu a universalização do direito à educação, reservando-se, para a
fase da infância e juventude, o período de formação escolar, formou-se a
noção cultural de juventude das sociedades ocidentais. O jovem passou a ser
visto como aquele que se encontra ainda desobrigado das responsabilidades
adultas, muitas vezes ainda sustentados pela família, em uma fase
intermediária de formação educacional, preparativa para o ingresso no
mundo profissional.
A imagem do jovem foi associada aos signos da ousadia,
impetuosidade, ingenuidade e rebeldia. Inexperiente, ainda não tendo vivido
as mazelas da vida, tende a ter maior disponibilidade e abertura ao novo, não
medindo as conseqüências de seus atos orientados por intenções e desejos
de liberdade e melhorias individuais e coletivas. Assim, tende a atuar como
agente de rompimento de hábitos e costumes sociais e de promoção de
23
inovações comportamentais e culturais. Esta imagem consolidou-se na
metade do século passado nas modificações nos costumes, no vestuário, na
criação artística e musical, na relação entre homens e mulheres, nos
movimentos políticos, cujo principal paradigma é a década de 1960. Ao jovem
foi atribuída a imagem de rebelde, mudancista e sonhador. Esta imagem
muitas vezes se mostrou irreal, considerando que os grupos mais ativos
correspondiam a uma parcela, por vezes, reduzida do conjunto das pessoas
que compunham aquele segmento etário e que este processo mostrou ter
caráter cíclico.
Insucessos e desilusões reforçaram comportamentos
conformistas e a reprodução de hábitos e valores tradicionais.
Com o desenvolvimento das sociedades contemporâneas houve
considerável alargamento do grupo etário considerado jovem. A elevação da
expectativa de vida da população (alcançando a faixa de 70 a 80 anos nas
sociedades desenvolvidas), resultante do desenvolvimento da medicina e da
estrutura de atendimento e preservação da saúde, o prolongamento do
período de formação educacional, a permanência dos filhos na casa dos pais
até idades mais tarde (ultrapassando, em muitos casos, a faixa dos 20 anos),
o retardamento do período de constituição de família, a maior flexibilidade e
fluidez das relações entre homens e mulheres possibilitando a prática sexual
sem casamento, entre outros fatores, estão provocando a ampliação do
período da chamada juventude.
Para fins operacionais deste estudo, serão consideradas as
faixas etárias entre 16 e 24 anos. Esta definição buscou recortar o período
mais característico da chamada juventude, ainda que definições mais
elásticas também possam ser consideradas aceitáveis. Constituem um marco
inicial os 16 anos em função da referência de reconhecimento de cidadania
decorrente da possibilidade legal de votar. Supõem-se maturidade mínima
necessária para a formulação de juízos sobre a sociedade. O limite de 24
anos buscou considerar as fases de mudanças comportamentais. Esta idade
supõe ingresso no mercado profissional. Ela é suficiente para a conclusão da
formação em nível superior de escolaridade. Também sinaliza o processo de
assunção de responsabilidades da vida adulta. A faixa entre 16 e 24 anos
24
abrange uma variação comportamental considerável. Por isto, é necessário
subdividir esta grande faixa em intervalos menores e contemplar esta
subdivisão na escolha dos entrevistados.
A fase de transição chamada juventude é um momento
extremamente importante nos processos de definição dos referenciais
valorativos e atitudinais a serem adotados posteriormente. A crescente
identificação e utilização intensa por parte dos mais jovens das novas
tecnologias da informação têm diferenciado ainda mais este segmento do
ponto de vista da linguagem e do comportamento. Os termos utilizados, as
percepções do mundo, as formas de relacionamento, as lógicas subjacentes
às ações, constituem um universo distinto do ponto de vista comportamental.
Há uma grande barreira de comunicação entre este universo e o mundo
político formal governamental. Assim, conhecer em maior profundidade o
modo como este segmento se informa e utiliza as informações obtidas
também é fundamental para os mencionados esforços de comunicação do
Governo Federal.
25
3. Fatores contextuais
3.1. Trajetória social
De alguma maneira o meio social forma predisposições
comportamentais. O background escolar e profissional, o poder aquisitivo, a
inserção na hierarquia social e a ascensão ou descenso social influenciam a
conformação de posicionamentos políticos e de comportamentos em relação
à mídia. Contudo, esta influência não é direta nem linear, não ocorrendo,
necessariamente, em uma relação de causa e efeito.
3.1.1. Classe Média
A trajetória social dos indivíduos deste segmento mostrou-se influente
nos casos em que o declínio econômico reforçou a percepção negativa dos
políticos e da política, a desilusão com o mundo político e a rejeição ao
acompanhamento dos noticiários sobre política e governo.
É o caso de um pequeno empresário, separado da esposa
recentemente, que sofreu descenso financeiro e não se interessa por nada a
não ser seu trabalho. Afastou-se inclusive dos meios de comunicação, à
exceção da Internet. Vive imerso no mundo financeiro. Está desiludido com o
governo porque não fez a reforma tributária. Responde processo por não
pagar os impostos. Anteriormente votava no PT, hoje critica os partidos e não
se alinha a nenhum. Atribui o seu desinteresse pela política à experiência
negativa vivida no período militar. Sua trajetória indica que o insucesso no
mundo empresarial, o descenso financeiro e o processo judicial referido
contribuíram para a cristalização de uma percepção negativa que acentuou o
desinteresse por assuntos sobre governo.
A gente não sabia de nada, então a gente, a minha
geração, foi criada um pouco alienada. Porque a gente era
tolido das informações, então qualquer coisa que se
26
falasse você já era. Não sei se foi por isso, talvez por falta
de interesse mesmo. Mas hoje eu tenho muito é
desesperança mesmo. Atualmente, praticamente eu não
assisto, muito pouco, principalmente canal aberto, eu não
tenho assistido não. Ultimamente eu não estou vendo
nada de televisão. Você liga a televisão é só falando de
merda, de violência, de desastre, sabe, é uns trens (...) Ai
você pega um Jornal Nacional você vai filtrar uns 20, 30%
das informações são interessantes o resto é (...) Ai fica
misturando com esses assuntos de política que eu não
gosto, de violência. Então acabo não me dedicando muito
tempo. Aí você pega um mais, lá no 42, não no 42, na
Globo News, aí é um trem especifico mesmo, mas aí as
vezes fica encompridando demais o assunto. Então eu não
tenho muito saco não, por isso que eu falo pra você,
quando eu ligo a televisão eu fico zapiando” (Homem, 47
anos, nível superior completo, classe B2).
Contudo, a trajetória declinante nem sempre esteve associada à
percepção negativa do mundo político e à rejeição ao acompanhamento da
mídia.
No
caso
de
um
indivíduo
em
situação
difícil,
há
grande
acompanhamento dos noticiários dos meios de comunicação e a emissão de
juízos positivos sobre os acontecimentos relacionados ao país e ao governo
na atualidade. Desempregado há 5 meses, sem receber mais o auxílio
desemprego, fez alguns vestibulares sem sucesso, está sendo atualmente
sustentado pela esposa. Atualmente passa em torno de 15 horas em frente
da televisão, assiste a todos os noticiários, lê jornal e revistas todos os dias,
canaliza sua atenção às informações sobre os acontecimentos em todos os
terrenos, abrangendo a política. É bem informado e tem opiniões bem
elaboradas sobre os assuntos políticos e do governo.
“Excelente, melhorou muito, quem diria que há alguns
anos você ouviria falar que o Brasil pagou a dívida externa,
que o Brasil é credor. (...) O Brasil é respeitadíssimo, é o
ponto de equilíbrio do continente americano, os Estados
Unidos é a potência, mas o ponto de equilíbrio é o Brasil,
onde você ia ver que o Brasil tem a 4ª maior empresa
aérea do mundo, você vê que nós tivemos uma quebra na
27
economia mundial (...) que aqui não afetou muito,
antigamente o Brasil entrava em crise, em colapso (...) o
homem tem 80% de aprovação do povão” (Homem, 37
anos, segundo grau completo, classe C1).
Por outro lado, a situação econômica relativamente melhor e a
predisposição profissional positiva indicou um comportamento mais receptivo
ao mundo político e às notícias veiculadas pela mídia. A posição social mais
elevada e a vontade de ascender socialmente estão relacionadas a uma
posição favorável ao status quo e a aceitação do estabelecido, abrangendo o
sistema político e os meios de comunicação. Ao invés de uma crítica
generalizada aos políticos, há o reconhecimento da sua importância e a
diferenciação entre bons e ruins. Do mesmo modo, há maior confiança nas
informações fornecidas pelos meios de comunicação e a distinção dos meios
mais confiáveis, evitando-se críticas generalizadas.
É o caso do retocador eletrônico que faz photoshop para um
grupo de fotógrafos como autônomo. No seu entender, a sua situação
financeira atual é melhor em relação à infância, ainda que nesta fase seu
padrão de vida era médio, sempre teve tudo que necessitou. Pensa que está
no caminho para atingir os seus objetivos profissionais e de vida. Acompanha
os noticiários em geral e, entre estes, as informações sobre política e
governo.
Mostrou
elevada
aceitabilidade
ao
sistema
político
atual,
acreditando inclusive na inocência de representantes políticos atualmente
denunciados como corruptos como Sarney, e manifestou confiança em meios
de comunicação tradicionais como o jornal Estado de São Paulo e a TV
Globo. Mesmo reconhecendo que a TV Globo realiza algum tipo de
manipulação da opinião (como todos os meios), confia na veracidade das
informações fornecidas, especialmente pelo Jornal Nacional.
“Acho que mantive o crescimento (...) comparando com
minha infância acho que tô um pouco melhor. (...) Acho
que a gente é influenciado pela Rede Globo, não que eu
não goste, mas acho que a gente é influenciável, o Brasil
28
só tem uma grande e é imbatível, nos Estados Unidos têm
três. (...) Na TV, o Jornal Nacional acho que é o que mais
confio, nem a Veja eu confio tanto. (...) Muitas pessoas
envolvidas tem que ter uma apuração melhor, acho que tá
tendo ou vai ter, a gente fica revoltado pelas coisas que
acontecem (...), acho que ele (Sarney) tinha que ser
melhor apurado eu confio nele, não culpo ele, acho que ta
envolvido mas foi influenciado por assessores. Ele assinou
uns papeis talvez ele nem ficou sabendo, de empregados
dele mas ganhando salários altos do Governo mas da
forma que eu vi na TV acho que a corrupção do grupo
dele, acho que talvez ele não sabia o que tava assinando,
eu acreditei nele” (Homem, 34 anos, nível superior
completo, classe B2).
Mesmo no caso de um nível econômico relativamente mais
baixo, a ascensão social pode desempenhar um papel importante nas
predisposições comportamentais em relação à política e à mídia. Quando
compreendida como decorrente de políticas atuais de redistribuição de renda,
a ascensão social constitui relevante elemento motivador de posicionamentos
favoráveis ao atual governo. Esta posição convive em esquemas perceptivos
que mantém a crítica à política e aos políticos em geral. Àqueles que
passaram de uma situação de pobreza para uma condição social um pouco
melhorada, em nível intermediário na estrutura social, também modificaram
os seus hábitos de informação, ampliando o acompanhamento às notícias,
incluindo as políticas.
É o caso do pedreiro que teve infância pobre, passou
dificuldades na vida, ficou desempregado quando nasceu o seu segundo
filho, mas depois sua situação foi melhorando e atualmente se encontra em
sua situação mais confortável. Acompanha muito os noticiários sobre política
e governo, encontra-se relativamente bem informado sobre estes assuntos,
reconhece a importância dos programas do Governo Federal para a melhoria
da vida da população brasileira e apóia o Presidente Lula.
“Assisto todos os jornais dos canais de TV (...). Nas rádios
ouço programas sobre religião e música. (...) Leio jornal
29
dos vizinhos de vez em quando, umas três vezes por
semana. Não gosto do jornal A Tarde porque camufla a
notícia. Leio Veja, Época e Contigo. (...) Na Internet, entro
em blogs evangélicos todos os dias, Orkut, MSN e e-mail,
uma hora por dia. Falo sobre política com a família, com
vizinhos e com colegas de trabalho, umas duas a três
vezes ao mês.(...) O PAC e o Bolsa Família estão
melhorando a vida do povo. (...) Voto também pro
presidente Lula. Porque ele era um homem pobre, né?
Metalúrgico. Nunca teve um diploma, o primeiro diploma
foi o de presidente. Então pra mim isso é gratificante. O
Jacques Wagner também (...) porque eles realmente tão
fazendo muitas coisas boas pra população mais
menosprezada” (Homem, 40 anos, ensino fundamental
incompleto, classe C2).
A estabilização em um nível sócio-econômico baixo tende está
associada à manutenção de graus baixos de informação e de uma percepção
mais acentuadamente negativa da política e dos políticos, através de uma
crítica generalizada e reducionista, que não diferencia o governo atual dos
anteriores e não percebe possibilidades de mudança. A desilusão e
descrença nestes casos são mais pronunciadas. Mesmo quando há grande
exposição à mídia, a desilusão, o desinteresse e a descrença conduzem a
não absorção dos conteúdos divulgados. É o caso de uma mulher, cozinheira
em casa de família, sem carteira assinada, que não se interessa por política,
conhece muito pouco as políticas e programas de governo. Não obstante,
assiste TV quase o dia inteiro, em torno de 11 horas por dia.
“Juntando tudo faz só um quebra cabeça. Pra mim é
tudo igual, junto uma coisa daqui outra dacolá e vou
tentando entender” (Mulher, 31 anos, segundo grau
incompleto, classe C2).
A trajetória da vida escolar desde a infância indica níveis de
conhecimento e informação que podem predispor ao acompanhamento de
notícias e informações sobre temas políticos. O acesso aos pensamentos
políticos, formas de governo, voto, atribuições de presidente, prefeitos e
deputados podem despertar o gosto pela informação sobre o tema. A
valorização do estudo como fonte de conhecimento, de preparo para
30
enfrentar a vida quotidiana e para a disputa no mercado de trabalho pode ser
motivadora de leitura e aquisição de conhecimento.
É o caso de um entrevistado que não gosta de política, nem de
discussões políticas, mas, em virtude de sua formação escolar, gosta de ler e
estudar sobre vários assuntos. Assim, é bem informado e conhece as
políticas sociais do governo.
“É do estudo que tiramos o aprendizado para a vida do
cotidiano, com a família, com os amigos enfim prá tudo
inclusive para a vida profissional. (...) Sem leitura vivemos
bitolados no mundo sem sonhos e sem perspectivas. (...)
Eu gosto muito de assistir a TV Record ou Globo, sempre
nos programas informativos, como telejornais. ( ...) As
rádios da capital estão sempre deixando o cidadão bem
informado sobre todos os políticos da região e do Brasil.
(...) Sempre acompanho (notícias sobre o governo federal).
No ultimo mês fiz questão de saber como ia acabar a
confusão no senado por causa do Sarney, todas as vezes
que eu ligava o rádio sempre aparecia alguma novidade
sobre o caso. Como eu previa não deu em nada, como
sempre, acabou tudo em pizza. (...) Eu fiquei muito curioso
para saber sobre o programa Minha casa minha vida,
estava sempre vendo na televisão as novidades e acho
que o governo Lula acertou em cheio com este programa
pois ele vai beneficiar o mais carentes” (Homem, 27 anos,
segundo grau incompleto, classe C1).
3.1.2. Juventude
Poucos jovens manifestaram interesse em se informar sobre
governo e política. Os jovens que manifestaram interesse são oriundos de
famílias que se encontram em uma trajetória social ascendente, e
apresentaram uma predisposição positiva em se informar, que também
engloba política e governo, e um posicionamento político favorável, se não à
política de um modo geral, mas ao atual governo.
“Hoje estou mais „rica‟, no passado as coisas eram mais
humildes. Acho que agora o Brasil está começando a se
igualar, antes dava para ver quem era rico e quem era
pobre e hoje o rico não é mais rico, a não ser os políticos.
Os pobres estão podendo ter, através de financiamentos e
coisas que o governo está proporcionando, ter uma casa
31
decente para morar. Acho que as coisas estão
melhorando, o pobre já não é tão pobre e o rico já não é
tão rico” (Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto,
Casse B1).
Estudos sobre temas sociais também podem ser fator que
desperte predisposições favoráveis na busca por informações sobre o
governo e maior aceitação do conteúdo comunicado. Quando o jovem
consegue aproximar a sua realidade com estes conteúdos, atribui importância
ao que lhe é comunicado.
“(...) sem meus conhecimentos como eu poderia entrar em
contato com meus clientes por e-mail, fax, fazer cálculo de
custos ou sequer falar corretamente com eles. E na minha
vida social, como eu poderia falar com meus amigos sobre
globalização se não soubesse do que se trata?! (...)
Estudei (sobre política e governo) por vários anos do
segundo grau. Principalmente em sociologia e história (...)
gostei, porque foi através delas que eu aprendi sobre
outras sociedades e de suas formas de lidarem com seus
governantes” (Homem, 18 anos, Ens. Médio Completo,
Classe C2).
“Até hoje eu estudo, em sociologia e historia moderna e
contemporânea. (Gosto) porque me mostra como se deu a
criação do país e como foi feito todos os processos de
governabilidade não só do Brasil, como do mundo todo, de
antes até hoje” Pedro (Homem, 19 anos, Ensino Médio
Incompleto, Classe C2).
Apesar de a maioria dos jovens manifestar predisposição
positiva a se informar sobre assuntos diversificados, esta tendência não é
observada sobre os temas política e governo. Entre alguns jovens o gosto
pela leitura e estudo indicou predisposição para a leitura de livros, jornais e
revistas e elevado grau de informação. No entanto, a tendência geral
observada entre os jovens pesquisados é de predisposição negativa a se
informar sobre governo e política, independente de sua trajetória social.
32
É o caso de jovens de classe alta, bem informados, que
acompanham os meios de comunicação com regularidade, dedicados aos
estudos, com trajetória social ascendente e satisfação com a sua trajetória
profissional atual, que demonstram predisposição negativa a informar-se
sobre governo e política.
“Gosto (de estudar) a gente fica com uma cabeça mais
aberta, a gente aprende, você tem assunto, você sabe o
que falar. (No colégio) tirava notas altas, sempre estudei
muito, porque gosto de estudar. (Os estudos são
importantes) profissionalmente, até mesmo pessoalmente,
até mesmo para você saber como se conduzir diante da
sociedade, como falar. (Já estudos sobre governo e
política) não estudo e não gosto. As vezes eles
(professores da faculdade de Direito) falam de política de
governo, mais nada muito direcionado” (Mulher, 20 anos,
Ensino Superior Incompleto, Classe B1).
O descenso social, presente na trajetória familiar de alguns
jovens, mostrou-se influente nos casos em que o declínio econômico reforçou
a percepção negativa de mundo. Como no caso de um jovem, que
atualmente está desempregado, é sustentado pelo pai e avalia sua situação
atual como ruim, por não ter recursos financeiros para suprir suas
necessidades. Este jovem credita o atual momento vivido ao desemprego,
fruto das péssimas condições do país. Atualmente não está procurando
emprego por acreditar que não há, ele esclarece que já procurou emprego e
não encontrou. Afirma que antes de se qualificar não adianta procurar
emprego, mas até o momento não está realizando nenhuma atividade que lhe
traga qualificação.
A predisposição negativa às informações sobre governo e
política está marcada, principalmente, pelo desinteresse sobre os temas da
política ou pela desilusão política. Esta tendência, também observada no
segmento de classe média, mostrou-se mais acentuada na juventude. Os
fatores explicativos podem estar relacionados ao curto período que compõe a
trajetória destes indivíduos ou às características do momento geracional
vivido.
33
3.2. Experiência política
A experiência política contribui para a compreensão do
posicionamento político dos indivíduos. Experiências negativas podem, desde
cedo, conduzir à desilusão e a uma posição crítica e avessa aos políticos e à
política. As posições predominantes no ambiente familiar podem formar, pela
via afetiva, predisposições favoráveis, quando o indivíduo estabelece uma
relação positiva com os familiares. A situação inversa também é
encontradiça. A ausência de experiência política, por sua vez, pode provocar
distanciamento e indiferença.
3.2.1. Classe média
As relações familiares constituem importante fator conformador
de posicionamento político. É o caso de entrevistado adotado por família que,
em função da liderança exercida pelo pai, votava unida em Maluf. Aprendeu a
gostar de Maluf através do pai. Em função da forte ligação afetiva ao pai
manteve apreço por Maluf e suas idéias. Embora o entrevistado nunca tenha
se envolvido em política, o pensamento da família sempre esteve presente
em seus posicionamentos até a atualidade. A defesa de posições malufistas
sobre vários temas convive contraditoriamente com posicionamentos distintos
e, por vezes, contrários. Contudo, a referência foi mantida, mesmo em um
período de declínio do malufismo.
As
relações
familiares
também
exerceram
considerável
influência no caso de um bancário que desenvolveu o gosto por política e
pela informação sobre o assunto através de conversas com seu pai, muito
envolvido politicamente, com quem conviveu intensamente no cotidiano. A via
afetiva foi muito relevante para a predisposição à informação sobre política e
à emissão de juízos positivos ao atual governo.
34
“Eu tinha um tio que gostava muito da Arena e papai
era mais do lado do MDB, mais democrático. Não
gostava de Costa e Silva (…) Quando a gente
percebia que Dom Pedro não era o Dom Pedro, que
Tiradentes não era o Tiradentes, passava de uma
forma que a gente tinha que engolir daquela maneira.
(...) Adquiri o hábito de leitura com o pai quando
criança (...) Brasil deu salto e é um país mais
respeitado. (...) Os programas e ações do governo são
positivas porque mudaram a história do país e
produziram desenvolvimento. (...) Minha maior
satisfação é ver hoje doutores reconhecendo que nem
só título vale tudo, como no caso Lula” (Homem, 47
anos, nível superior incompleto, classe B2).
A experiência política, quando positiva, tende a estimular o
desenvolvimento de maior interesse em acompanhar notícias sobre assuntos
políticos, entre os quais os governamentais.
O bancário referido desenvolveu larga experiência política, em
função de uma predisposição favorável decorrente da convivência paterna e
consolidada através de duas atividades no âmbito profissional. Através desta
trajetória, passou a conhecer o cenário político e governamental, se apropriar
dos termos especializados da política, identificar os interesses em disputa no
jogo político e se posicionar sobre os temas mais relevantes.
Possui
atualmente
elevado
grau
de
conhecimento
dos
programas e as ações de governo, bem como de notícias e propagandas
veiculadas pela mídia. Fez referência as ações do governo: Duplicação das
estradas, Programa Luz para todos, Pré-sal, Substituição do Óleo diesel,
Energia alternativa, Notícia sobre barreira comercial, Comércio da laranja,
Valorização do açúcar no mercado internacional, Extradição de estrangeiros,
Intermediação de Lula em conflitos nos países da América Latina e Redução
do IPI. Acompanhou as propagandas sobre a Petrobrás, sobre cidadania
(direito do cidadão em ter sua documentação) e recuperação de rodovias.
Entre os principais assuntos políticos por ele mencionados destacaram-se as
35
próximas eleições presidenciais de 2010. O entrevistado mostrou entender a
situação da disputa eleitoral, discorrendo sobre os principais agentes políticos
envolvidos: a candidatura da Dilma (apoiada pelo Lula), a candidatura do
PSDB (“Aécio não vai decolar e o candidato será Serra”) e Candidatura de
Marina Silva pelo PV (“perigosa para o PT”) e a candidatura de Ciro Gomes
(“ainda indefinida”). Também comentou a crise no senado, a gripe A H1N1, a
proposta da volta da CPMF, a situação de saúde de José Alencar.
Por outro lado, a relação inversa também foi observada.
Pessoas que tiveram experiências negativas ou experiência alguma sobre
política tendem a acompanhar menos os acontecimentos do mundo político,
tendo menor base de informações para formar juízos sobre o significado dos
mesmos. É o caso de uma de origem humilde, submetida ao voto de cabresto
pelo mando do pai. Não se sentia confortável e negava o comportamento pai.
Sua experiência negativa com a política, através do pai, gerou um
distanciamento com a área e um desinteresse em se informar sobre o
assunto. Atualmente não tem familiaridade alguma com políticas, programas
e ações sociais do governo.
“Eu lembro que era meu pai quem determinava em quem
minha mãe e meus irmãos mais velhos iam votar. (...) Eu
votei em quem eu achei que ia ser o certo. (...) Meu pai
ainda chegou a falar – ah, tem que votar em – mas eu
falei não, isso não existe, eu vou votar em quem eu acho
entendeu? Este foi o voto com mais gosto. Foi este, de
tirar aquela ditadura que vinha desde o tempo dos meus
pais”.
“Não acompanho notícias sobre o Governo Federal. Não
conheço nenhuma ação, nenhum programa do governo e
nem ouvi falar. Não tenho uma opinião (sobre o Governo
Federal). Sobre a crise no Senado eu ouvi, mas não
consegui focar nada não, sinceramente, eu não parei pra
ver” (Mulher, 32 anos, nível superior completo, classe B2).
36
3.2.2. Juventude
As experiências políticas também se mostraram influentes na
formação de predisposições comportamentais dos jovens. Em alguns casos a
forte presença do tema da política no ambiente de convivência familiar e o
vínculo afetivo positivo entre o jovem e os parentes politicamente
posicionados resultaram em escolhas políticas convergentes. Contudo, a
opção política por um partido, candidato ou corrente política, não significa,
necessariamente, ação política engajada e percepção positiva da política.
É o caso de um jovem que recorda de conversas sobre teorias
políticas de esquerda em seu ambiente familiar e afirma que este ambiente
contribuiu muito para as suas escolhas.
“Meu pai e minha irmã mais velha foram pessoas muito
importantes pra ajudar a construir minha consciência
política. Se não fosse por eles acho que não teria
nenhuma consciência verdadeira” (Homem, 22 anos,
Ensino Superior Completo, Classe A).
No entanto, para este mesmo jovem, as percepções atuais são
negativas sobre a política, causadas pela desilusão decorrente das ações dos
políticos. Afirma que atualmente se informa e envolve menos com o assunto.
“Raramente converso, estou desiludido. Acho tudo muito
parecido, tudo muito conveniente, tudo muito corrupto. (...)
Com o tempo parei de vibrar com isso. Sempre costumo
votar no mesmo partido, mas o candidato importa menos”
(Homem, 22 anos, Ens. Superior Completo, Classe A).
A percepção mais recorrente entre os jovens pesquisados
remete à visão negativa da política. A presença do tema da política é mais
intensa em períodos eleitorais e adquire forte conotação pejorativa.
“(Na família) todo mundo só conversa de política quando
tá passando o horário de política e quando ta chegando
37
perto das eleições, (...) brigando dizendo que não presta
(...)” (Mulher, 16 anos, Ens. Médio Incompleto, Classe B2).
Uma das entrevistadas comentou que em sua escola havia
conversas sobre política entre os alunos, mas devido ao seu desinteresse,
procurava se afastar nos momentos em que o assunto estava sendo
discutido.
“(Conversa sobre política na escola) Às vezes, assunto
bobo, acho política um saco, eu acho, não gosto (...) Eu
sempre ficava longe, como esse assunto não me
interessava, então eu não ficava perto, se alguém
estivesse conversando sobre política eu saía” (Mulher, 22
anos, Ens. Médio Incompleto, Classe C1).
Interessante observar que esta mesma jovem participou de
política, trabalhando nas eleições distribuindo panfletos para um comitê. Seus
relatos sobre estes momentos são positivos. As experiências mais diretas
podem contribuir para alterar a percepção negativa sobre o tema político,
desde que estas experiências façam sentindo para a pessoa, como no caso
da referida entrevistada, em que um posicionamento clientelista não lhe
causa estranhamento.
“Me chamaram pra ajudar, eu fui; algumas partes eu
gostava sim, porque a gente ouvia, muitas vezes os
vereadores iam lá e falavam a verdade realmente, que
ajudava, que fazia, eu via que isso acontecia, porque eu
conhecia” (Mulher, 22 anos, Ens. Médio Incompleto,
Classe C1, Interior do Rio de Janeiro).
O desgosto e o desinteresse pela política, recorrentes entre os
jovens entrevistados, podem estar associados à falta de informação e
identificação com o tema. A fala do jovem residente em Goiânia transcrita a
seguir indica a ausência de uma maneira atrativa de se comunicar com este
público.
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“Apesar de que eu falo que não gosto de política é porque
eu não entendo de política (...) Acho que não tem
direcionamento da política para os jovens” (Homem, 16
anos, Ens. Médio Incompleto, Classe C1, Goiânia).
3.3. Características atitudinais
A experiência de vida e os fatores psicológicos conformam
características atitudinais que podem ser relevantes para a compreensão dos
comportamentos.
3.3.1. Classe Média
Neste segmento, as características atutitunais mostraram-se
mais influentes para o delineamento de comportamentos políticos e em
relação à mídia. Atitudes mais críticas se mostraram, por vezes, associadas
à posição crítica na estrutura social ou à grande insatisfação com a situação
vivida. Pessoas que se encontram satisfeitas tendem a querer manter as
condições que possibilitarem esta satisfação em todos os terrenos. Se a
satisfação for associada à ação de um governante a atitude correspondente
se manifesta através de apoio político.
É o caso do indivíduo que assumiu uma posição política à
esquerda (então oposição e crítica ferrenha ao Governo Federal) na época
em que cursava universidade, dispunha de poucos recursos e vivia a
instabilidade própria da transição à vida adulta e depois dos 30, quando
melhorou a sua remuneração e formou família com filhos, passou a assumir
uma posição mais conservadora, inclusive na área política.
“Votei no PT dos 18 praticamente até os 30. Em
determinado momento começaram a haver aqueles
conchavos e eu não votei mais. Tenho muito azar com
meus candidatos, na última eleição votei no Júlio
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Rendecker que morreu no acidente da TAM, era um cara
muito sincero. (...) Votei no Simon para senador, deputado
federal Julio Rendecker, na última eleição acho que não
votei no Simon e sim no Paim e o Paim anda muito quieto,
acho que ele poderia ter mias presença nessa bandalheira
que estão fazendo com o Sarney na TV. Em Canoas votei
no Jairo Jorge para governadora votei na Yeda. As duas
vezes que o Lula perdeu eu votei nele e dessa vez votei
no Alckmin. Não é o Lula que governa, ele é assessorado,
ele tem o mesmo discurso para diferentes situações, ele é
muito bom de retórica. Vamos ver se consigo na próxima
eleição eleger o Serra ou o Alckmin. (...) Sou conservador.
Votei muitos anos no PT, mas sou muito conservador.
Acho que as mudanças propostas têm que ser mais
estudadas (...) não cair no liberalismo (nem) no populismo:
fazer farra com dinheiro público. Acredito que o
conservador é mais mão fechada” (Homem, 44 anos, nível
superior completo, classe B2).
Experiências de vida negativas engendram, conforme a reação
das pessoas, características atitudinais também negativas que se refletem
nas percepções da política e no comportamento em relação à mídia. Perdas,
desavenças, abalos emocionais podem reforçar o sentimento de impotência
política e a crença sobre a inutilidade de se informar sobre tais assuntos. É o
caso do entrevistado que viveu na infância e adolescência profundo
desgosto, resultado do abandono da família pelo pai. Essa situação gerou
insatisfação e desencanto que marcaram sua personalidade e se refletem em
sua percepção negativa da política e em seu desinteresse em acompanhar
noticiário sobre o assunto.
“Particularmente porque eu não acreditava que era uma
coisa boa. Eu achava que todos que participavam se
corrompiam. Eu tinha uma cabeça assim...”.. “Não sou
admirador da política brasileira e política internacional (...)
prometem, prometem e nada. O povo é carente, cheio
dessas promessas (....) o cumprir dessas promessas não
acontece. (...) Uma questão que eu vejo falho na política
hoje é essa questão do Bolsa escola, Bolsa família, isso é
para deixar o pai de família, de certa forma, acomodado.
(…..) Desculpe a expressão, que recebem uma miséria,
40
hoje em dia a classe média tem 5, 6 filhos dentro de casa
e recebe em torno de 200 e vai trabalhar para que?”
(Homem, 26 anos, nível superior incompleto, classe B2)
Percepção negativa em relação à política e predisposição
negativa ao acompanhamento de noticiários sobre o assunto também são
evidentes no caso de entrevistada de 21 anos que possui um filho de 4 anos
e encontra-se, desempregada a um ano e seis meses, não tendo profissão
ou habilidades profissionais específicas. Abalada por problemas e conflitos
deste a infância, marcada pela pobreza e pela separação dos pais,
atualmente sem namorado, construiu uma percepção muito negativa sobre o
mundo e, particularmente sobre a esfera política.
Mostrou-se refratária à
política e aos políticos, mantendo uma posição distante, não acompanhando
os noticiários, não se interessando sobre estes assuntos, não conversando
sobre os mesmo, e se recusando a qualquer exposição às notícias. Costuma
retirar-se da sala no horário político eleitoral e acessar a Internet no horário
do Jornal Nacional.
“A gente sempre viveu mais ou menos, (...) porque meu
pai nunca deu aquele valor certo, (...) e como eu sempre
morei com minha mãe, o pouco dinheiro que ela ganhava
era pra me manter, manter uma escola particular pra mim,
e manter a vida dela. Então a gente sempre viveu muito
regrado. (...) a gente dependia de minha avó. (...) Foi um
período em que minha mãe não tinha condição de pagar o
aluguel, a gente ficou morando numa casa de meu pai, lá
em Periperi (um dos bairros mais pobres de Salvador). Foi
muito ruim, a gente ficou dependendo de meu pai, meu
pai passando na cara, uma casa que era dele, e que a
gente tava vivendo lá. Foi a pior situação pra mim. Foi eu
ter que estudar em uma escola que não era boa, no
subúrbio. E a gente teve muita dificuldade financeira,
muita mesmo. (...) A maioria das conversas eram em
época de eleição. (...) Eu não lembro de nada, porque eu
nunca me envolvi com política. Eu nunca gostei, eu nunca
pesquisei (...) A gente vê eles fazendo tanta promessa,
tanta coisa (...) e quando a gente pára pra vê, não é nada
daquilo, (...) não cumpriu nada que prometeu. (...) São os
41
políticos de uma forma geral, (...) então eu não me
interesso e nem procuro saber. (...) É o Brasil acomodado,
(...) o povo se acomoda, o povo não se junta. (...) Se o
povo se juntasse pra agir, com certeza seria um país
melhor, (...) mas não acontece porque todo mundo é
acomodado. (...) Não tô ouvindo nada sobre política.
Nada. (...) Não tem jeito não. (...) Eu não me interesso,
não vem nada sobre política na cabeça” (Mulher, 21 anos,
nível superior incompleto, classe B2).
3.3.2. Juventude
As características atitudinais dos jovens pesquisados se
mostraram menos influentes na definição de sua percepção sobre a política.
Isto ocorre, principalmente, por estes indivíduos apresentarem maior
distanciamento dos assuntos políticos.
Alguma
relação
entre
características
atitudinais
e
posicionamento político encontrada refere-se à satisfação do entrevistado
com sua realidade atual e a percepção favorável à política.
É o caso do jovem de 19 anos, que atualmente mora com um
amigo, está procurando emprego, é sustentado pela família e afirma estar
satisfeito com sua vida, por estar abrindo os olhos para a realidade. Acredita
que alguns políticos pensam no futuro das pessoas e não apenas em si
mesmos e isto lhe agrada. Demonstra simpatia pelo PT e acredita que o atual
governo está atuando em prol das classes de menos poder aquisitivo.
“Devido ao PT oferecer melhores propostas, não se voltar
só para as pessoas mais ricas e sim voltado para ações
sociais, para os pobres” (Homem, 19 anos, Ensino Médio
Completo, Classe C1).
As características atitudinais também indicaram formas de
comportamento em relação à mídia. Os jovens que apresentaram
características atitudinais proativas e que se encontram satisfeitos com a sua
42
realidade atual mostraram predisposição a se informar e interesse em buscar
mais informações sobre assuntos que lhes chamam a atenção na mídia.
É o caso da jovem empreendedora, que abriu uma lan house
em sua residência há aproximadamente um ano e meio, e atualmente utiliza
os meios de comunicação com intensidade. Esta jovem afirma que através da
Internet e da televisão busca informações que lhe possam ser úteis e que lhe
agreguem conhecimentos. Costuma entrar nos sites do governo para verificar
os programas disponíveis e se em algum é adequado ao perfil.
“(...) olho muito os sites do governo para ver se tem
alguma coisa que me interesse, site da educação,
Previdência social também eu vejo bastante para meus
clientes e fico olhando. Acesso sites do governo umas
duas ou três vezes por semana para ver se não tem
alguma coisa nova, algum benefício que possa me
beneficiar como empresária. Agora fizeram um projeto
para o micro-empreendedor pagar menos impostos...”
(Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto, Casse B1).
43
4. Percepção do mundo político
4.1. Apropriação política
A apropriação política corresponde ao conhecimento do mundo
político, à capacidade de utilizar adequadamente os termos políticos, de
entender quais são os agentes mais influentes no cenário político, quais
interesses estão em jogo e qual é a lógica subjacente a conformação dos
posicionamentos assumidos pelos diferentes agentes. Os mais apropriados
são aqueles que gostam de política, se interessam pelos assuntos relativos
ao tema, se informam sobre os acontecimentos neste terreno, conhecem os
principais motivos das disputas, e entendem a sua posição na estrutura da
sociedade
e
no
tabuleiro
político,
assumindo
posicionamentos
em
conformidade com os seus interesses.
4.1.1. Classe média
Poucos entrevistados mostraram-se politicamente apropriados.
Foram situações pouco recorrentes, correspondentes ao perfil de pessoas
mais envolvidas politicamente. Estas pessoas politicamente apropriadas
acompanham
as
notícias
sobre
política
e
governo
e
manifestam
posicionamentos políticos claros e coerentes. É o caso do bancário que tem
familiaridade desde a infância com debates políticos realizados entre os
parentes, gosta de política e apropriou-se dos termos e da lógica política,
demonstrando
capacidade
de
discernimento
e
compreensão
dos
acontecimentos. Está atualizado sobre os principais temas políticos do país.
Utiliza-se de critérios políticos racionais para interpretar os fatos. Define-se
como de centro-esquerda, socialista e petista. Pensa as ações políticas de
acordo com a lógica de táticas e estratégias. Acredita que a crise do Senado
foi criada para atingir Lula por causa das eleições e 2010.
44
O entrevistado analisou o cenário político pré-eleitoral e as
potencialidades das candidaturas. É sua opinião que Serra enfrentará
dificuldades para vencer o pleito, porque já demonstrou que não tem imagem
adequada e o fôlego político necessário para eleições presidenciais. Dilma
pode ser prejudicada por causa do escândalo da secretária e doença
(câncer).
Marina Silva foi considerada uma ótima política, mas não tem
chances de ganhar. Também emitiu opiniões sobre a reforma política. Esta
pergunta mostrou-se relevante para identificar àqueles que conhecem e
dominam mais os termos e o debate político, por se tratar de um tema
relativamente especializado. Para o entrevistado, as candidaturas deveriam
ser dos partidos e não dos candidatos. É favorável ainda à unificação da data
das eleições para os diferentes níveis do executivo e legislativo, por entender
que eleições a cada dois anos acarretam muitos gastos. Contudo, acredita
que a reforma não irá acontecer por não corresponder aos interesses os
parlamentares.
“Crise do senado já existe há muito tempo. A intenção de
tirar Sarney é afetar Lula, atingir o governo federal, está
vindo em um momento político para atingir o governo.
(...) O IOF penaliza os mais pobres.(...) Nunca vai
acontecer (a reforma política), assim como a fiscal”
(Homem, 47 anos, nível superior incompleto, classe B2).
O
caso
referido
é
uma
exceção
no
contexto
dos
comportamentos observados. De modo geral, os níveis de apropriação
política dos entrevistados se encontram em patamares muito baixos. A
percepção negativa da política e dos políticos, muito recorrente, se mostrou
associada ao desinteresse no acompanhamento dos noticiários sobre temas
políticos e de governo. Pessoas que não gostam de política, se encontram
desiludidas com o mundo político ou se sentem impotentes quanto à
possibilidade de interferência neste terreno, entendem ser inútil se informar
sobre estes assuntos. Disto decorre a baixa informação e a menor ainda
incorporação dos conteúdos recebidos.
45
É o caso de indivíduo que acompanha pouco os noticiários
sobre política, assistindo eventualmente o jornal local da Rede Globo e o
Jornal Nacional. Quando perguntado sobre a sua opinião sobre alguma
notícia responde: “Não acho nada, porque não gosto de me envolver”.
Confunde o conceito de política com atividade dos políticos que considera
deplorável: “Acho que política é mais um emprego”. Utiliza termos
extremamente pejorativos para classificá-los: “sacanas”, “sem vergonhas”.
Não gosta dos políticos e por decorrência não gosta da política. Considera
que a população não exerce influência alguma sobre o governo e que os
políticos só se importam com o povo na época das eleições. Percebe
negativamente os partidos (“a corrupção começa neles”). Desconhece o
conceito de classe social (“sou classe normal”). É confuso sobre distribuição
de renda, reforma política, igualdade, cidadania, demonstrando por um lado
sua escassa informação sobre assuntos políticos e sociais e de outro a
dificuldade de compreender e utilizar os termos especializados da política.
“Eu não gosto de política. (...) O que a gente se
decepciona é porque eles prometem mundos e fundos e
não fazem nada. Em época de campanha eles asfaltaram
meia cidade e depois aqui na rua não se viu mais nada.
Eles não concluem, é isso que não gosto neles. (...) Para
mim os políticos são todos mentirosos, prometem e na
verdade não fazem nada. (...) Acho que ele desviou essa
verba mesmo e não está tendo como escapar disso aí, não
está tendo como tirar o foco dele, às vezes eles abafam e
cai no esquecimento e ele não está conseguindo isso aí,
por isso eu acredito que seja verdade. (...) Acho que
política é mais um emprego, um algo a mais para a pessoa
tentar ser, só que as pessoas querem um cargo político
porque conhecem alguém que tem um pouquinho mais de
status aí vai e se candidata „sou filho do fulano‟, „sou
parente do outro‟. Tiram o nome de pessoas que são mais
altos na sociedade e são pessoas que às vezes não
entendem o que é, tudo deveria ser estudado, a pessoa
deveria ter faculdade para isso aí. (...) Para mim políticos
são um bando de sem-vergonhas. Se eles aumentam, por
exemplo 30 reais no teu salário é ilusão porque esse valor
46
vai vir descontado da tua conta de água, luz, vai aumentar
o leite, o feijão, aquilo ali vai ser nada, enquanto para lês é
mais fácil, fazem uma reunião no Senado e aumentam os
próprios salários; eles recebem uma verba só para
comprar roupas. (...) Não gosto porque no final acaba
sendo todo mundo sacana, não tem de quem a gente
possa dizer que não desvie nada, todos acabam
desviando” (Homem, 30 anos, segundo grau completo,
classe C1).
Mesmo no caso de pessoas que gostam de política e se
informam muito, observou-se elevado grau de confusão política e
incapacidade de interpretar e discernir os significados dos acontecimentos e
expressar conceitos e opiniões com clareza. É o caso de indivíduo que gosta
de política, assiste os noticiários em diversos canais, se informa também
através da Internet e de conversas com familiares, amigos e colegas de
trabalho, cujas posições contem noções confusas ou questionáveis.
“Eu assisto todos os jornais, vou pulando de um pra outro.
Costumo ler quando estou em casa sem fazer nada, Veja,
Época (...) Contigo. (...) Igualdade é bobagem, porque
quem ta lá em cima não quer ficar aqui em baixo (...) Não
quer se igualar. Já pensou um rico ficar pobre? (...)
Porque se os outros países tão em crise, porque o Brasil
vai aderir a crise? (...) Se a gente esperar pela crise, é aí
que ela vai chegar. (...) “Eu acho que não deveriam existir
tantos partidos (...) É muitos querendo disputar uma vaga.
(...) É ruim, (...) porque o povo não sabe em quem votar”
(Homem, 40 anos, nível fundamental incompleto, classe
C2).
4.1.2. Juventude
Os níveis de apropriação política foram ainda mais baixos no
segmento jovem. De modo geral, os jovens pesquisados não procuram se
informar sobre política, não conhecem os termos especializados da área e o
47
cenário político brasileiro, afirmam não gostar e demonstram desinteresse
pelo assunto.
Entre os raros casos que apresentaram maior nível de
informação política destaca-se a jovem que acompanha muito as notícias
atuais sobre política na mídia e manifestou interesse por este assunto.
Apesar de não ter hoje uma participação ativa na política, acredita que isto
seria interessante. Seu maior interesse atual é pelos programas do governo.
Avalia positivamente estas ações e crê que os escândalos que saem na
mídia são armações políticas com o objetivo de prejudicar o presidente e seu
governo.
“Muito pouco eu me lembro de ouvir falar de política
quando criança, mas agora jovem eu vejo muito, gosto
muito de jornal, estou sempre olhando os programas do
governo para saber se de repente eu não posso me
enquadrar. (...) Acho interessante participar de alguma
associação de bairro, mas nunca me interessei, porque
acho que no meu bairro não tem nenhuma. (...) Não tem
um motivo (para eu não participar), acho que é falta de
oportunidade. (...) Já participei quando era mais nova para
o PT do Marroni. Eles faziam comícios com shows e a
gente ia, carregava bandeira, colava adesivos, mas
trabalhar para eles eu nunca trabalhei. (...) (Notícias
recentes que se lembra) A crise no Senado,
superfaturamento de notas de serviços e salários pagos a
laranjas ou pessoas que não existem. Vejo também falar
sobre essas passagens e diárias. Ouço falar desse
negócio da Dilma Rousseff e do Senador aquele Dirceu. E
vejo também esses políticos fazendo de tudo para
derrubar o Lula fazendo transparecer que o governo dele
é ruim. Entre os principais assuntos também ouço falar
dos programas do governo, inclusive esse Minha Casa
Minha Vida que eu creio que seja o último (mais recente)
porque é o que eu mais ouvi falar ultimamente (...) A TV e
Internet são os em que mais vi (essas notícias) e no jornal
também, TV na Rede Globo e no Portal da Globo e no
portal do Governo” (Mulher, 24 anos, Ensino Superior
Incompleto, Casse B1).
48
Casos como o ilustrado acima são exceções. Em geral, os
jovens acreditam que o mundo político não faz parte de sua realidade.
Manifestam desinteresse sobre as informações veiculadas nos meios de
comunicação. A baixa apropriação política está associada a não identificação
do jovem com o tema. É o caso do entrevistado que percebe a política como
“assunto de velho”. Ele acredita que entre os jovens de sua rede de
relacionamento “nenhum gosta de política” e que “jovem não pensa em
política”.
“Adolescente não gosta dessas coisas, parece assunto de
velho (...) eu tenho mais de 750 amigos (no Orkut) (...)
nenhum gosta de política (...) jovem não pensa em
política, se eles acham que jovem pensa, eles estão
doidos; se eles entrevistarem uns três nerds (...) aí eles
até estudam (...) agora, se você perguntar a adolescentes
normais, eles vão falar que não tem assunto” (Homem, 18
anos, Ensino Médio Completo, Classe C2).
Grande parte dos jovens afirmou não utilizar os meios de
comunicação com o intuito de se informar sobre governo e política, pois estas
informações não lhes seriam úteis para o seu dia-a-dia. Percebem o meio
político negativamente, acreditam que as pessoas que se interessam pela
política o fazem por interesses pessoais, como no relato da jovem, que utiliza
uma lógica moral para fundamentar seu desinteresse.
“Muita gente se mete na política mais pelo fato de ter
poder (...) não tenho opinião formada em relação à política
(...) Eu não acho nada, a gente não é ninguém pra julgar
os outros, mas tem muita gente que entra na política e que
diz que se entrasse na política não ia fazer isso (...) mas
fica tão cego pelo dinheiro que acaba fazendo o que os
outros fazem (...) quando penso em política, penso logo:
político-ladrão (...) não tenho nada a opinar, diria que o
meu pensamento é igual ao das outras pessoas (...) não
tenho idéia formada sobre político, não sou do tipo de
49
pessoa que fica vendo o que tão fazendo ou não” (Mulher,
16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe B2).
No caso de outra jovem, que está cursando Direito, a baixa
apropriação política decorrente da avaliação negativa do ambiente político se
traduz de forma mais intensa. Apesar desta jovem ter conhecimento teórico
sobre o tema, as ações percebidas na prática do meio político a fazem se
afastar deste ambiente, corroborando com o desinteresse pelas informações
que permeiam este meio.
“Se a gente for levar ao sentido literal da palavra, acho
que política é você arranjar um meio de interagir com a
sociedade de representar um povo, no sentido da
organização da sociedade, de trazer melhorias para a
sociedade, só que, pelo que eu vejo é que a política hoje é
sinônimo de lavagem de dinheiro de corrupção (...)
Porque, a cada novo representante nosso, sempre
acontece as mesmas coisas, a corrupção não diminui, o
desvio de verbas, isso nunca deixou de existir, é as
promessas, é „eu prometo, eu prometo‟, fica só na
promessa né, porque não é cumprido..a decepção é essa
que toda vez se repete a mesma estória” (Mulher, 20
anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1).
O desinteresse causado pela avaliação negativa da ação dos
políticos é um dos traços mais marcantes nas falas dos jovens, independente
do nível de escolaridade ou classe social destes. Assim como demonstrado
pela fala da jovem estudante de Direito acima relatada ou pela palavra do
jovem de classe C2 citado abaixo, quando o assunto da entrevista circundava
o mundo político, a avaliação negativa preponderou. Muitos que se
encontram distantes do mundo político preferem manter e mesmo acentuar
esta distância, recusando-se a se informar e até mesmo pensar sobre o
assunto.
“Prefiro ouvir nada, porque eu nem procuro pensar (em
política). É igual eu respondi, é tudo marketing, conversa,
50
ninguém não acredita em ninguém, eu procuro nem
pensar sobre política. (...) É uns querendo ser melhor que
os outros, uns querendo ganhar na conversa, querendo
falar, sei lá, não sei nem explicar. (...) O modo deles
agirem na política, as vezes o político passa perto de você
e cumprimenta, se precisar de mim vai lá em casa e tal,
fica aquele jogo de marketing pessoalmente na política,
pra quem tem contato com político você entendeu. Ai
acabou a política não é mais nada, é tudo diferente.
Político já é difícil de você encontrar ele, quando você
precisa é tudo mais difícil...” (Homem, 23 anos, Ensino
Médio Incompleto, Casse C2).
4.2. Posicionamento político
Posicionamento sobre temas políticos supõe base informacional
mínima. Pessoas escassamente informadas sobre assuntos políticos e
governamentais têm grande dificuldade de assumir posições sobre os temas
políticos relevantes. Nesta pesquisa, a pergunta sobre reforma política
encontra-se na escala de maior dificuldade entre os temas abordados.
Aqueles entrevistados que emitiram juízos pertinentes sobre este assunto
mostraram elevado grau de apropriação política, capacidade de dominar os
termos especializados da política e de compreender a lógica do jogo político.
4.2.1. Classe média
Poucos assumiram posições políticas coerentemente articuladas e
sustentadas através de argumentos fundamentados. Isto somente ocorreu
nas raras situações indicativas de elevado grau de apropriação política. É o
caso do individuo que gosta de política, domina os termos especializados da
área, conhece a relevância do voto no jogo político, compreende a lógica da
disputa e sustenta posições sobre os temas do debate político atual. Informase muito através da TV por assinatura (Globo News, Band News) e Internet.
51
“Acho que sim (ter influência), através do meu
voto consciente (...) O povo tem muito poder, é só
saber votar. Mas, sem dúvida, a classe que tem
mais poder são as famílias milionárias do país como
Gerdau, Ermírio de Moraes, Grendene, o clã
Marinho e assim por diante (...) Os homens são
iguais perante a constituição e aquele que foge à
regra deveria ser punido. O grande problema no
Brasil é justamente este, a impunidade. (...) O
escândalo do Senado é uma coisa que vem desde o
Antônio Carlos Magalhães que já tinha aqueles atos
secretos” (Homem, 43 anos, classe B2, nível
superior completo).
Inversamente, a ausência de posicionamento, muitas vezes, esteve
associada à desinformação sobre estes assuntos, ao desinteresse, ao
desgosto por política, à desilusão ou ao sentimento de impotência política. O
indivíduo que não gosta de política, que acredita ser a sua participação neste
terreno totalmente inócua, que não tem interesse por estes assuntos e não
acompanha o noticiário sobre eles tende a não conseguir se posicionar sobre
os temas deste mundo ou a assumir posições politicamente contraditórias.
Ilustra esta situação recorrente o caso de um indivíduo desencantado
e negativo em relação à política e aos políticos, que se sente impotente frente
às possibilidades de exercer influência sobre ações do governo. Desgosta da
política, é desinformado e desinteressado. Seu posicionamento reflete a
postura negativa e marca seu discurso que busca a desqualificação dos
agentes políticos e da vida política de forma geral. Sua crítica é generalizada
e depreciativa.
“Eu nunca me apeguei muito não. Eu não gosto
muito de política e nem tenho partido também (....)
Nunca me envolvi porque não gosto. Não assisto
notícias sobre política, assisto mais jornais para
saber como está a segurança, acidentes, esse tipo
de coisa (...) Não (escuto rádio), só quando estou no
52
serviço às vezes a gente deixa o rádio ligado só para
ter um barulho na volta. Não ouço notícias no
rádio”.(...) Acho que não( influência sobre o governo)
a gente pesa tão pouco; pra eles o nosso peso na
verdade é quase nada, nós somos só mais um para
eles, nossa opinião só interessa pra eles nas
eleições. Nós na sociedade só somos um número.
(...) Acho que escutei sobre isso (redistribuição de
renda), é meio que padronizar, mas eu só escutei
“rapidão” hoje de manhã lá no serviço e escutei na
TV, não lembro o canal, escutei sobre essa
redistribuição salarial. (...) Acredito que seja, que o
país queira isso( igualdade social). (...) Pode até ser
(uma meta atingível), mas não é muito fácil, a
tendência é o comodismo. Seria interessante só que
aí, vamos supor, ninguém mais vai querer trabalhar
pra ninguém, todo mundo vai ter comércio e sendo
que precisa de empregados e as pessoas não vão
querer mais trabalhar de empregados” (homem, 30
anos, segundo grau completo, classe C1).
4.2.2. Juventude
Poucos jovens apresentam posicionamentos sobre temas
políticos atuais que conformassem um pensamento politicamente coerente. A
falta de interesse pelo mundo político associada à baixa informação sobre
estes assuntos faz com que o jovem não possua posicionamentos sobre
determinados temas e apresente um discurso inconsistente quando emite sua
opinião. Mesmo aqueles que apresentam alguma apropriação política,
emitem
opiniões
contraditórias,
que
conformam
um
posicionamento
incoerente.
Demonstram esta associação as opiniões do jovem de 18 anos
que apresenta um perfil de desgosto político, por uma avaliação moral das
ações dos políticos. Ele acredita que nas eleições os políticos mentem para
conquistar seus cargos. Este jovem possui moderada apropriação política,
porém apresenta um posicionamento contraditório em seus argumentos,
quando menciona que “política é um tipo de organização onde se aliam
53
pessoas importantes na sociedade para governar um país”, e defende a
supressão dos partidos “eu acho que não deveria existir partidos e só os
candidatos”, por achar que estas organizações não estão cumprindo seu
papel que seria “ajudar o povo como votar com consciência para lhes
representar na política do país”. Este jovem acredita que a população pode
exercer influência sobre a política e acredita na sua capacidade em interferir
no terreno político No entanto, não possui opinião clara sobre temas como
reforma política. Pensa a política de forma reducionista e pessoalizada,
limitando-a as eleições e as ações dos políticos. Apesar de apresentar um
posicionamento crítico à política em geral, avalia positivamente algumas
ações do Governo Federal, como no caso da crise econômica.
“Quando penso em política eu penso em eleições e penso
em pessoas mentindo para o povo para disputar um cargo
público (...) (Pode-se exercer influência na política) com as
pessoas indo para as ruas, dizer o que acham ou o que
pensam sobre um governo, se nada tivesse sido feito
durante todos estes anos, nada teria mudado, por
exemplo, quando o povo lutou para se libertar do regime
militar. (...) (Privatizações) Acho que não estou muito por
dentro do assunto para falar algo sobre. (Reforma política)
Teríamos de começar pela troca total de ministros e outros
cargos de confiança dentro do governo, para darmos mais
credibilidade às novas mudanças. (...) (Crise econômica)
Tenho certeza de que realmente a crise foi grave, porém
com o incentivo do governo Lula em baixar as taxas de
juros para estimular as compras, reduzir o IPI dos
produtos, foram muito bem vistos, temos agora é que
torcer para que os outros países também colaborem para
que a crise não volte (Homem, 18 anos, Ensino Médio
Completo, Classe C2).
A
falta
de
posicionamento
sobre
temas
políticos
que
demonstram maior apropriação política tornam-se explícitas nas falas dos
entrevistados, como no caso do jovem de 16 anos que não soube emitir
opinião em relação à reforma política, além de não saber opinar sobre a crise
54
do Senado e outros temas atuais, apresentando argumentos poucos
esclarecidos ou confusos.
“Aí você me pegou, porque esses assuntos mais assim
direcionados, eu não sei dizer, tanto é que não tenho
informações” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto,
Classe C1).
Este também é o caso da jovem de 19 anos que afirmou não ter
ouvido falar de crise no Senado, além de não ter conseguido se expressar
sobre a reforma política.
“Eu não ouvi falar em crise no Senado, não vejo os
noticiários porque estou na faculdade à noite” (Mulher, 19
anos, Ensino Superior Incompleto, Classe B1).
4.3. Coerência política
A coerência política refere-se à capacidade dos indivíduos
assumirem posições logicamente inter-relacionadas, internamente coerentes,
em conformidade com as preferências e opções políticas. Algum tipo de
coerência de acordo com a lógica interna do indivíduo sempre poderá ser
encontrada, pois há para cada posição assumida alguma motivação que faz
sentido para o indivíduo. Contudo, este tipo de análise tem caráter tautológico
e fraco poder explicativo, não se adequando ao objetivo deste estudo de
distinguir aqueles que apresentam maior e menor grau de coerência do ponto
de vista da lógica política.
4.3.1. Classe média
Os dados analisados mostraram que, considerando a coerência
do ponto de vista da lógica política, a incoerência é a regra e a coerência a
55
exceção. Foram recorrentes as manifestações confusas sobre as posições
políticas e os comportamentos politicamente contraditórios.
A ausência de coerência decorre de vários fatores. As posições
políticas díspares ou contrárias convivem em um esquema perceptivo
contraditório que reúne blocos estruturados de idéias formadas de modo
independente e por motivações distintas. O mesmo entrevistado que é
favorável às privatizações em função de um exemplo positivo como o das
telecomunicações manifestou-se contrariamente ao enxugamento do Estado
por ter pena dos que poderão ser demitidos e por ter amigos empregados em
órgãos
públicos.
posicionamentos
Também
sobre
os
há
os
temas
entrevistados
abordados
e,
que
defenderam
posteriormente
à
apresentação das notícias hipotéticas contrárias aos seu ponto de vista,
mudaram de opinião, por acreditar na mídia ou por não sustentar sua posição
frente à controvérsia. As opiniões de entrevistados deste tipo são flutuantes.
É o caso do entrevistado que sustentou posição favorável à pena de morte e
aceitou a notícia hipotética contrária a esta proposta.
“Ia ter que acreditar, acho que ia acreditar, mas com pouco
de dúvida sobre esse pedacinho. A edição desse
pedacinho, mas dependendo com imagem e tal até
acreditaria. Mas acho que ia ter que me render e ia ter que
acreditar, acho que sim” (Homem, 32 anos, segundo grau
completo, classe B2).
A incoerência também foi observada na trajetória eleitoral.
Foram recorrentes as descrições das opções eleitorais politicamente
contraditórias, decorrentes da frustração com ação de candidatos escolhidos
que não corresponderam às expectativas dos votantes, de desinformação, de
escolha eleitoral em função da pessoa do candidato e não do partido e de
incapacidade de apropriação do jogo político.
É o caso do entrevistado que se auto-define como malufista,
afirma ter preferência pelo PSDB, tendo votado em Maluf, Collor, Fernando
Henrique, Marta Suplicy, Pita e Lula. A trajetória eleitoral deste entrevistado
56
indica grande confusão do ponto de vista da lógica política. Mantém a defesa
de Maluf, apesar de votar em candidatos politicamente distintos: “Sou mais
Maluf do que Lula”. Contudo, considera que o voto mais importante, que lhe
deu maior satisfação, foi em Lula, não pelo partido, mas pela pessoa (“sou
mais pela pessoa que pelo partido”). Sua maior satisfação foi a vitória de Lula
nas eleições presidenciais.
“Minha família é malufista, lá tem aquele ditado que é
verdade mesmo ele rouba, mas faz, é verdade, fez metrô,
fez Anhangabaú. (...) Acho que chegou a hora de dar uma
chance pro PSDB (...) Importa o partido que o Maluf tiver,
é pela pessoa não tanto pelo partido, mas a gente votou
no Pitta porque ele era do Maluf, mas, acho que eu vou
votar esse ano sem analisar direito quem serão os
candidatos, acho que quem vai vir forte é o Serra (...)
Porque eu posso tanto ser do lado PT, PSDB, não tem
problema nenhum. O que vai determinar? (...) Maior
satisfação o Lula que venceu, imaginei que o PT ia mudar
mesmo o Brasil, a família acho que alguns foram contra o
Lula, mas acho que o vamo pra frente geral, a mídia me
empolgou” (Homem, 32 anos, segundo grau completo,
classe B2).
É também este o caso de indivíduo que, desgostoso com o
partido que elegera, e no qual sempre votou, deixou de votar por
desilusão, e atualmente se considera conservador, entre centro-esquerda
e centro, sem definição partidária, afirmando que escolheria entre o PT e o
PSDB no momento de eleições.
“Votei no PT sempre, o PT era sério „não fazemos
coligações, temos nossa estratégia política‟ e não abriam
mão mesmo, eu achava impressionante aquilo” (...) “O
Governo deixou a companhia quebrar para não pagar a
dívida. Isso me deixou muito indignado, não voto no Lula
de maneira nenhuma. (...)
Sou conservador. Votei
muitos anos no PT, mas sou muito conservador. (...) Eu
57
flutuo entre o dois e o três. Porque eles têm que lutar pelo
meu voto. Se meu voto ficar mais para a esquerda ou
direita é um voto fácil, eles têm que lutar pelo meu voto,
têm que apresentar propostas, por isso que digo que sou
de centro: se a proposta da esquerda é melhor eu voto na
esquerda, se a direita for melhor eu voto na direita. Eles
têm que conquistar meu voto, meu voto não é fácil, é uma
coisa muito pensada. (...) O socialista quer um estado um
pouco maior do que um capitalista quer, o capitalista quer
um estado mínimo e o socialista, um estado grande. O
governo comunista não deu certo, todos viraram
ditaduras. Os maiores exemplos de socialismo são a
França e a Alemanha que estão revendo algumas coisas
hoje em dia, algumas políticas porque com esse modelo
lá na frente os estados ficarão muito endividados, mas
são governos que deram certo em um determinado
momento tanto que o povo alemão e francês são muito
cultos, na parte da educação foram muito certos, só que
agora estão sendo pesos muito grandes para as
previdências. (...) Nunca votei no PDT, também não gosto
do PTB, são partidos sem identidade. O PDT era o partido
do Brizola, ele morreu e o PDT virou um partido de
interesses. O PMDB gaúcho é bom, o PMDB baiano não
presta, o PMDB não tem mais uma identidade nacional
ainda mais com o Sarney como presidente de honra do
partido e Renan Calheiros e outros. O PSDB já é um
partido com uma história: Fernando Henrique Cardoso,
José Serra, Alckmin, Aécio Neves em Minas Gerais, é um
partido que dá pra ver o partido e ver as pessoas, tem
proposta e identidade. No PT também consigo ver isso.
Hoje, se fosse olhar a proposta dos partidos iria com
PSDB ou PT. (...) Hoje é como se tivesse só três partidos
no Brasil, o PT, o PSDB e os outros” (Homem, 44 anos,
nível superior completo, classe B2).
Maior
coerência
política
foi
encontrada
nos
casos
de
entrevistados que têm preferência partidária, votam no mesmo partido em
todos (ou em quase todos) os processos eleitorais, e assumem posições
sobre temas políticos, em conformidade com as posições do partido e do
campo político, no qual ele se encontra inserido.
58
Maior grau de coerência esteve associado ao posicionamento
político mais delineado e a menor permeabilidade às notícias contrárias ao
ponto de vista dos entrevistados. É o caso de individuo que se define como
socialista, prefere o PT, demonstrou posições bem construídas a partir de
apropriação política coerente com o ideário do campo ao qual pertence e
apresentou pouca permeabilidade às posições contrárias aos seus pontos de
vista.
“O ser humano deveria ter mais chances e alcançar
a igualdade. O princípio é dividir e não acumular (...)
Porque quando você tem idéias socialistas não quer
dizer que não possa adaptar posições mais flexíveis(
centro-esquerda) (...)
É o PT (...) O PT começou
no início dos anos 80 e foi um partido que teve que
sofrer várias adaptações e mudou a forma de agir.
Atualmente, há radicais na base, mas é mais
moderado. Possui laços sociais, está ligado a sem
terras, sindicatos, mas está combinado à políticos
mais moderados, faz concessões para formar
coligação de peso e chegar ao poder” (Homem, 47
anos, nível superior incompleto, classe B2).
4.3.2. Juventude
Os jovens apresentaram graus de incoerência política ainda
mais elevados. A exceção foi ocaso do jovem de esquerda, que afirma ser
socialista e que simpatiza com os partidos PSTU e PSOL pelos programas
políticos que estes partidos defendem. Apresenta baixa participação política,
justificada por experiências negativas e desilusão. Comentou que quando
freqüentou reuniões do PT, percebeu que entre os participantes havia mais
interesse nas reuniões pelas possíveis vagas que uns indicavam aos outros
do que a busca pelo bem comum e isto não lhe agradou. Quando indagado
sobre sua preferência política, respondeu que prefere a Heloísa Helena, por
ela representar esperança, ter uma opinião concisa em prol do povo e por
acreditar que ela não o decepcionaria como ocorrido com Lula: “(...) tipo, um
outro golpe, trair de novo como o Lula fez”.
59
“Quando se trata de debater assuntos que visem o bem
comum, sim, gosto (de política). (...) (Sou) um cara que
gosta da maioria, eu simpatizo com a causa da reforma
agrária, da reforma urbana, com aquela galera que pede
do governo federal o cumprimento da Constituição (...) o
pessoal que quer maior qualidade de vida (para a
população)” (Homem, 21 anos, Ensino Médio Completo,
Classe C1).
A incoerência política pode ser percebida em diferentes
momentos das entrevistas da maioria dos jovens. Desde incoerências por
utilização de lógicas de escolha diferentes até por manifestações de opiniões
confusas em relação aos conceitos utilizados.
É caso do jovem de 20 anos, que afirma ter uma preferência
partidária pelo PT por uma lógica afetiva, membros de sua família simpatizam
com o partido. Em certos momentos de sua fala afirmou, contrariamente, que
não possui preferência partidária, pois em qualquer partido encontra pessoas
que podem ser avaliadas positivamente. Define-se como socialista, porque
“socializa com os outros sua opinião”. Quando indicou sua posição na escala
esquerda/direita se definiu como “centro-direto”, afirmando que busca
diversas opiniões até achar o “certo”. A associação de direita como
semelhante a “certo”, como “direito” fez-se presente também em outras
entrevistas.
“(Preferência partidária) PT, porque minha família tá
sempre falando dele, minha mãe, meu padrasto que está
sem conversar comigo, não sei nem por que, sempre tá
conversando. (...) Pra pensar por um lado, (simpatizo com)
todos (os partidos) melhor dizendo, porque todos tem um
candidato certo, sempre tem um candidato, porque se eu
falar só um, não dá, porque sempre tem outros partidos
dentro da política (...) (Define-se) Como um socialista
porque eu to sempre procurando os outros né, vendo o
que é certo, o que é errado, sempre to pedindo opiniões.
Eu socializo com os outros, vou perguntando,
60
perguntando, procurando, caçando pra saber. (...)
(Definição na escala esquerda/direita) Centro-direito.
Porque sempre eu to escutando a pergunta dos outros,
ah, o depoimento de outras pessoas, ou da oposição, ou
do lado que eu to apoiando, sempre to escutando os dois
lados pra ver qual dos dois tá certo. (Homem, 20 anos,
Ensino Médio Completo, Classe B2).
Há também aqueles que demonstram simpatia pelo atual
governo, mas não manifestam posicionamento no cenário político por
demonstrarem desinteresse com a política e demonstram desconhecimento
da lógica política. Como no caso do jovem de 19 anos que afirma que não
possui posicionamento político por não gostar de política, simpatiza com o
PT, se considera na escala direita/esquerda como centro-direita.
“(Como se define politicamente) Eu me defino como o
seguidor da política da boa vizinhança, ou seja eu não
gosto muito de política daí acho melhor não me meter
muito no assunto. (...) Eu gosto um pouco do PT (...) um
partido ligado mais para o povo e buscando sempre o
melhor para a maioria da população. (Como você se
situaria em uma escala de 1 a 5, sendo 1 a posição mais
à esquerda e 5 a posição mais à direita? 1-esquerda, 2centro-esquerda, 3-centro, 4-centro-direita e 5-direita) “Eu
me considero o quatro (centro-direita) (...) porque para
mim o que vale mesmo é você fazer sua parte” (Homem,
19 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2).
Outro
jovem,
quando
indagado
sobre
como
se
define
politicamente não soube responder: “Você me pegou, como assim?”. Na
escala esquerda/direita afirmou que é centro-direita, pois para ele estar no
centro seria sinônimo de estar encima do muro. Então indicou centro-direita
por relacionar direita com positividade. Diz-se socialista por gostar muito de
igualdade e não aceitar desigualdades, mas gostaria de se posicionar como
um moderador, aquele que modera um debate.
“(Escala esquerda/direita) Centro-direita, não no centro
porque é em cima do murro, na direita é porque tem a ver
61
com positividade, pensamento reto. O esquerdo tem mais
a ver com coisa negativa pro país. (...) Vamos dizer como
um socialista, porque eu gosto muito da igualdade, eu
gosto muito do pensamento público para todos. Eu gosto
muito de ser igual a todo mundo. Eu não gosto de ter ali,
vamos dizer desigualdade, eu não gosto de desigualdade.
Então eu seria um socialista. Não tinha um moderador ai...
(...) Quando a gente faz um debate tem um moderador ali,
modera a discussão ali, enquanto os outros fica ali, eu tô
organizando. Olhando direitinho, quem tá dialogando,
quem tá fazendo isso, quem tá fazendo aquilo. Qual que é
o assunto que tá abrangendo mais, qual que é o assunto,
então eu seria mais o moderador mesmo, ficaria ali,
vamos dizer na moita, ai quando a coisa piorar eu
impunha os direitos. Né eu impunha mesmo, mostrava
como é que eu tava sentindo. Então um moderador, um
socialista-moderador, vamos dizer” (Homem, 16 anos,
Ensino Médio Incompleto, Classe C1).
O centro foi assumido por alguns que afirmam que não
possuem posicionamento político. Um dos jovens ainda indicou que “preferiria
o lado que não tivesse” uma postura política, para não precisar se envolver.
Este mesmo jovem define-se como conservador porque procura se
conservar, não se envolver com a política.
“(Escala esquerda/direita) No centro, nem na esquerda,
nem na direita, eu fico no meio, porque eu sou muito
desligado em termos de política.” (...) “...eu preferiria o
lado que não tivesse (uma postura política), fosse mais
tranqüilo, pra me afastar de tudo, debate, política, porque
pra mim não tem, no momento não influencia em nada na
minha vida pessoal, claro que tem muitas pessoas que
vivem no redor da gente que acaba atingindo a gente
também. (...) Conservador, porque é o que eu pude
conservar mesmo, não faço política, não sou governante
de ninguém, então eu procuro estar sempre na minha,
tranqüilo. Na época da política às vezes eu procuro dar
minha opinião mas não basta opinião, eu fico sempre na
minha” (Homem, 23 anos, Ensino Médio Incompleto,
Casse C2).
62
Outro jovem se disse liberal, por associar a este conceito o
termo liberdade: “liberal é assim pode fazer o que quiser, como quiser...”
(Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2).
63
5. Comportamento em relação à mídia
5.1. Meios de comunicação
O meio preferencial de obtenção de informações variou
conforme o perfil social e etário dos entrevistados. TV por assinatura e
Internet são os meios preferidos pelos segmentos de classe média com maior
poder aquisitivo. Os mais jovens utilizam a Internet de forma mais intensa. A
grande exposição também está associada aos interesses profissionais. Os
segmentos com menor poder aquisitivo utilizam preferencialmente a TV
convencional aberta.
5.1.1. Classe média
É considerável a exposição à mídia, alcançando, em alguns
casos, a grande quantidade de 8 a 10 horas por dia. A maior exposição não
está necessariamente associada ao acompanhamento de notícias sobre
política e governo. Midiáticos acompanham os acontecimentos políticos pelo
fato deste tipo de conteúdo estar presente nos noticiários, mas, por
desinteresse por este tema, muitas vezes, acompanham de forma reduzida
ou superficial, retendo poucas informações sobre o assunto.
Aqueles que acompanham mais o noticiário político são os mais
politicamente apropriados. É o caso do entrevistado de classe média com
maior poder aquisitivo que utiliza preferencialmente, TV por assinatura e
Internet. Politicamente apropriado, domina os termos políticos e acompanha
os noticiários sobre o tema especialmente através da Globo News, Band
News, e pela Internet.
“Assisto Globo News. Assinávamos até pouco tempo atrás
o Band News que é muito bom, mas é basicamente a
Globo News para noticiários, tem o Em Cima da Hora e o
64
Jornal das Dez deles que é muito bom. (...) O Jornal das
Dez é praticamente uma hora de jornalismo e o Em Cima
da Hora que é todo horário fechado: as oito, nove..., tem
sempre de 10 a 15 minutos de noticiário, a notícia é
sempre muito “on line”, aconteceu, eles já estão
noticiando. (...) Costumo assistir mais à noite, mais o
Jornal das Dez”. (...) “Acesso a internet todo dia, não
tenho horário específico, mas normalmente fico quase
uma hora por dia na internet. (...) Não tem nenhum site
que eu não gosto, acesso os que gosto muito. Gosto do
site da Globo. Tenho links de informação. Sou assinante
do Google e ali você consegue criar links de notícias sobre
vários assuntos. Nesse ponto eu não vou atrás de
notícias, o Google faz isso para mim e larga na minha
caixa” (Homem, 44 anos, ensino superior completo, classe
B2).
Na maior parte dos casos observados, é relativamente pequeno
o acompanhamento das notícias sobre política e governo. Mesmo nos casos
em que há grande exposição à mídia, se observou pouca atenção às notícias
sobre política. Por vezes, a notícia ouvida não é retida na memória, em
função da pequena importância atribuída a ela, por se tratar de assunto
considerado pouco interessante. É o caso da entrevistada que utiliza
intensamente TV e Internet, é pouco informada e possui grande desinteresse
por política. Tem 21 anos, cursa Enfermagem, está desempregada, assiste
TV e acessa a Internet intensamente, em torno de 5 horas no período da
manhã e no período das novelas da Rede Globo à noite, totalizando cerca de
8 a 10 horas por dia. Utiliza-se dos dois meios ao mesmo tempo se
deslocando de um para outro, privilegiando a Internet que costuma acessar
em torno de 5 horas diárias. Não se interessa e não absorve notícias
políticas, exceção feita aos escândalos. Usa TV e Internet como forma de
entretenimento e relacionamento.
“De manhã, de 8h às 13h a gente assiste, de tarde a TV
fica desligada, e à noite assisto novela. E quando passa o
horário político a gente desliga a TV. (risos) (...) (assiste)
Ana Maria Braga, desenhos animados, Malhação, Paraíso,
65
e depois o jornal.(...) como aqui tem antena parabólica a
gente assiste tudo de São Paulo, mas aí eu vou pra
Internet.(...) E depois começa Caminho das Índias, que eu
assisto também.(...) Eu acordo, ligo a televisão, já
passando Ana Maria Braga. Aí eu tomo café, ajeito meu
filho, depois ligo o computador. (...) Depois ajeito ele pra ir
pra escola, e depois me ajeito pra ir pra faculdade. (...) E
aí, na volta, pego ele, a gente chega aqui, ligo a televisão
quando tá passando Malhação, e fica ligada até às 10h da
noite. (...) Ao mesmo tempo que estou na televisão, estou
na Internet também.(...) Todo dia é assim.(...) Diariamente,
Orkut (4 horas), MSN (4 horas, em paralelo com o Orkut),
e-mail (30 minutos) e Google (30 minutos)” (Mulher, 21
anos, nível superior incompleto, classe B2).
O uso intensivo da Internet também foi encontrado entre outras
faixas etárias compondo outros perfis. Este é o caso de um pequeno
empresário, comerciante de produtos de escritório e material gráfico, que
acessa a Internet diariamente por períodos de 5 a 6 horas. Assiste pouco a
TV aberta, não lê regularmente jornais e revistas. Utiliza o computador e a
Internet para desenvolver o trabalho da empresa e para relacionamento e
entretenimento. Quando chega em casa liga a televisão, o computador e a
Internet. Muitas vezes fica com a TV ligada, mas na Internet. Acessa MSN, email, Skype. Eventualmente, assiste notícias. É desgostoso e desiludido com
política.
“Mas eu não gosto muito de política não (...) Não, eu
praticamente eu não assisto, muito pouco, principalmente
canal aberto, eu não tenho assistido não. (...) Ultimamente
eu não estou vendo nada de televisão. As vezes eu leio
umas manchetes que me interessam um pouquinho. (...)
Ultimamente é pela Internet mesmo que eu tenho me
informado” (Homem, micro empresário,classe B2,superior
completo,47 anos).
A percepção sobre o comportamento da mídia encerra um
paradoxo: a elevada aceitação dos meios tradicionais mais utilizados - como
66
a TV aberta, a Rede Globo e o Jornal Nacional – convive contraditoriamente
com grande desconfiança sobre a parcialidade destes meios e sua função de
manipulação.
É o caso do indivíduo que percebe a parcialidade dos meios,
suspeita de manipulação, mas mesmo assim confia, e confia muito em
comentarista que elegeu como referência.
“Acho que sim, uns 75% fiel, mas tem horas que eles
editam, cortam muito ainda mais em política, pra detonar a
pessoa, então acredito que sim, mas não 100%. A Globo é
bem parcial bem no que interessa, a Record também apela
pra classe C de mostrar coisas bregas, poderia ser mais
informativo, mais bacana, mais elitizado. (...) Acho que
manipulam a opinião pública sim (...) Eu acredito quando a
informação vem, se não o cara nem ia procurar, mas de
vez em quando o cara suspeita (de manipulação). (...)
Muito pouco (filtra), quando já acordo de manhã já peguei
as informações básicas. (...) O que eu mais confio é a TV,
a Internet é muito espontâneo, tem hora que não que não
seja real, mas em blog pode ter uma informação errada, a
que eu menos confio é rádio, não sei se é um público
menor, e TV, o Jornal Nacional acho que é o que mais
confio, nem a Veja eu confio tanto, era pra ta vendendo
muito mais, eles retraíram (...) Boris Casoy acho que
influencia muita gente, o Mauricio do GNT que fala de
bolsa, a do jornal do Brasil de manhã economia e política,
um senhor de cabelo branco esqueci o nome dele e a
Miriam Leitão. (...) Eu concordo com a opinião deles, eu
não sou chegado muito em política mas é uma informação
mais fácil, todo dia (...) Confio como uma referência
importante (Homem, 32 anos, segundo grau completo,
classe B2).
Neste mesmo sentido, foi observada a situação de um indivíduo
que percebe os meios de comunicação como parciais (“só mostram o lado
que interessa”). Considera que são manipuladores e por isso passíveis de
desconfiança, mas considera a televisão o meio mais confiável porque tem
67
mais contato com a realidade, os comentários são ao vivo e Arnaldo Jabor é
o comentarista pelo qual se referencia.
“Acho que toda matéria tem alguém interessando em
como vai sair essa matéria, então de alguma forma ela vai
se manipulada (...) Vai de acordo com os interesses. (...)
Todo jornal manipula do jeito que quer (...) Mesmo que
manipulada, acredito a televisão é o meio mais utilizado
porque tem mais força para expor essa idéia, acho que
como a pessoa fala, como mostra, ela forma opinião dos
demais. (...) Ele (Arnaldo Jabbor) realmente tem uma
forma de colocar as palavras, que faz a gente pensar de
maneira mais ampla. Ele tem o dom” (Homem, 26 anos,
nível superior incompleto, classe B2).
Também ilustra a situação referida o caso de uma pessoa que
percebe a parcialidade dos meios de informação, especialmente da Globo,
confiando mais na Revista Veja do que na TV. Embora não considere a TV o
meio mais confiável, reconhece que é o mais influente na sua opinião, devido
à grande exposição.
“Eu acho que a Globo omite muita coisa e o SBT trás a
notícia mais nua, não mascara tanto. Tem notícias que
quando a Globo vai noticiar a outra emissora já falou bem
antes então eu não costumo confiar muito na Globo,
assisto porque é mais amplo o horário de noticiário, mas
quando quero confirmar se aquilo ali aconteceu mesmo eu
busco as outras informações. (...) Já cheguei a comprar
uma Veja só porque ouvi uma notícia e tive certeza de que
na revista deveria ter um pouco mais, confio muito na
revista Veja. Mesmo que eles levantem uma suposição
daqui a pouco ela se confirma. A revista é mais confiável
do que a TV, a TV mascara muito para não agredir e a
revista tu és obrigado a ir buscar a informação. (...)
Quando vejo o jornal das oito da Globo aquele jornalista
montou a sua matéria e levou para o jornal, mas em
função de uma empresa, a empresa que disse „vamos
falar sobre esse assunto‟, ou seja, aquilo ali foi permitido
por toda uma estrutura. Já quando o jornalista tem o seu
68
programa ele é responsável por tudo aquilo ali então ele
está colocando a cara dele a tapa, ele é sozinho ali, pode
até ter opinião de outros, mas quem está expondo ali
aquela proposta de debate naquele espaço e levou
aqueles convidados para mim dou mais valor do que o
jornal normal. (...) Ainda é a TV( o meio mais importante
para formar sua opinião) porque nos horários de
jornalismo assisto à TV. Você não me vê sentada lendo
uma revista com exceção dos finais de semana, já a TV
todos os dias eu tenho acesso então ainda continua sendo
a TV” (Mulher, 43 anos, nível superior completo, classe
C2).
5.1.2. Juventude
As informações relacionadas com política e governo não
chamam a atenção dos jovens. Em geral, eles utilizam os meios de
comunicação para o entretenimento e informação sobre assuntos de seu
interesse.
Como no caso da jovem de 19 anos de classe B2 que possui
em sua residência acesso à internet, TV por assinatura, jornal impresso e
rádio, porém demonstra baixo nível de informação sobre os assuntos políticos
atuais. Seus hábitos em relação à mídia se restringem a filmes e novelas,
assiste pouco aos jornais televisivos da TV aberta ou fechada, não lê com
freqüência o jornal impresso que a família assina, utiliza a internet
diariamente para acessar seus emails, MSN e Orkut. Na internet não possui o
hábito de acessar sites específicos de notícias, apenas quando entra no site
de seu email e algum link lhe interessa o acessa para ler o conteúdo da
notícia. Justifica a falta de informação sobre política por desinteresse pelo
tema.
“Temos TV aberta e fechada. (...) Na TV aberta vejo mais
novelas, mais à noite. E na TV fechada eu vejo mais
filmes. (...) Noticiário às vezes assisto ao Jornal Nacional,
mas não é sempre, assisto somente de vez em quando,
69
nesse horário estou indo para a faculdade, hoje como não
tenho aula de repente eu vou olhar. (...) O canal que mais
gosto é a Globo porque como gosto de ver filmes na
Globo passa bastante filme e as novelas da Globo são
melhores também. (...) Não gosto do canal sete (TVE),
não sei o nome do canal porque eu realmente não assisto,
os programas parecem bem antigos. Eu prefiro programas
mais atuais e a Globo está sempre se atualizando (...) A
gente assina a Zero Hora, às vezes eu leio e às vezes
não. Leio uma vez por semana. Não leio nada sobre
política, não tenho interesse. Gosto da Zero Hora porque
ela é bem diversificada, tem vários tipos de conteúdo. (...)
Na verdade na internet eu acesso mais os meus e-mails
mesmo, passo e-mails, converso com amigos pelo MSN,
tenho orkut também. Acesso todos os dias. Vejo as
notícias na página inicial do Hotmail e às vezes clico nos
links para ler as notícias. (...) Não tem um site que eu mais
goste, entro mais nos meus e-mails mesmo. (...) Na
faculdade com meus amigos a gente não fala de política.
E com os amigos de fora da faculdade também não. Só
em casa mesmo, mas não é sempre, é mais no período
eleitoral. (...) Não gosto muito de política então não
procuro me envolver. Não tenho um motivo para não
gostar, é falta de interesse mesmo por essa área. (...)
Pelas minhas cadeiras na faculdade eu estou no quarto
semestre (de administração), tenho algumas cadeiras que
falam sobre política, mas são poucas e não gosto dessas
cadeiras (...) Porque não é minha área de interesse. Não
gosto muito de política. Nós não temos o costume de falar,
quem fala mais é meu avô, política é um assunto raro aqui
em casa” (Mulher, 19 anos, Ensino Superior Incompleto,
Classe B1).
A tendência de os jovens utilizarem os meios de comunicação,
principalmente, como entretenimento foi observada em muitos casos. A
busca por informações estão diretamente relacionadas aos conteúdos de
interesses particulares. O acesso à internet, em especial, se traduz por esta
lógica que visa suprimir necessidades imediatas por informações específicas.
Como no caso da jovem que está participando de um processo
seletivo que envolve políticas públicas de seu município e por isso tem se
70
mantida informada sobre este tema. O site que mais utiliza é o Google, que
lhe permite encontrar outros sites sobre assuntos específicos que esteja
interessada. Ademais, na internet, acessa seu email, MSN e Orkut, de forma
simultânea, para se relacionar com sua rede de contatos. Apesar de estar
acessando atualmente um site específico sobre políticas públicas, a jovem
manifesta desinteresse pela política em geral. O desinteresse é justificado
pela falta de identificação com o mundo político e seu modus operandi.
“Eu tenho acompanhado notícias sobre políticas públicas
daqui de Lauro de Freitas, (...) através do site da
Prefeitura. (...) Porque eu to participando de um processo
seletivo de projetos ligados a políticas públicas. (...) Tem
um muito legal sobre assuntos jurídicos, (...) que eu entro
muito, eles dão cursos gratuitos sobre diversos temas. (...)
Eu entro muito no site da revista NovaEscola, sobre
educação. (...) Ah, do Google eu vou pra vários outros,
mas é difícil eu me lembrar. (...) O e-mail eu diria que é um
tempo constante, (...) eu deixo sempre aberto pra ver
quem manda mensagens pra gente. (...) O Orkut também
eu deixo aberto, pra ver quem ta me mandando
mensagens instantâneas, né? (...) O MSN também fica
aberto, (...) porque eu posso falar com as pessoas direto
(...) Tem o lado interativo (e-mail, Orkut, MSN) e o
informativo (Google) que de lá eu vou pra vários outros e
YouTube. (Não se informa sobre política) Porque a gente
tem uma tendência (...) de se identificar com coisas que a
gente sente interesse, (...) mesmo reconhecendo a
importância (da política) eu acho pouco interessante. É
diferente de eu pegar informações como aquecimento
global que ta acontecendo no mundo, (...) assuntos
ligados a educação, a violência na escola, (...) violência
moral na escola, por exemplo, esses temas me
interessam. (...) Não vou dizer que foi algo que aconteceu
especificamente, mas posso dizer que é o geral que a
gente vê por aí, (...) que a gente vê políticos agindo em
períodos antes das eleições, prometendo coisas, (...) Só
pra se elegerem. Após a eleição, muitas coisas que eles
prometem, não cumprem. (...) A política, já há um certo
tempo, deixa as pessoas um pouco desacreditadas. (...) O
que a gente pode ver, o que a gente pode saber, acaba
71
afetando o sentimento” (Mulher, 21 anos, Superior
Incompleto, Classe C1).
A confiabilidade nos meios de comunicação é elevada entre os
jovens. O meio de comunicação considerado mais confiável é, em geral, a TV
aberta. Sua forte presença nos lares brasileiros é indicada como razão para
que as informações transmitidas sejam consideradas verídicas. No entanto,
há contradição na opinião de grande parte dos jovens entrevistados, pois
estes consideram os meios de comunicação parciais, direcionados a algum
tipo de interesse das empresas que produzem a comunicação.
“O mais confiável é a TV. (...) Todos os meios são
confiáveis. Não considero nenhum meio de informação
menos confiável” (Homem, 16 anos, Ensino Médio
Incompleto, Classe C1).
“São parciais, não dá audiência dizer a verdade, e quando
dá você pode destruir a crença das pessoas na ética e no
futuro. (...) Não tem como dizer isso (meios confiáveis),
não tenho um detector de mentiras, mas acho que a TV é
um dos mais parciais” (Homem, 22 anos, Ensino Superior
Completo, Classe A).
“(Mais confiável) É TV aberta porque eu gosto muito de
ver as coisas, porque ali você vai ver se realmente é
verdade ou não, e jornal impresso, porque, por mais que
eles possam escorregar em alguma coisa, eles não vão
chegar ao ponto de inventar uma história qualquer”
(Mulher, 22 anos, Superior Completo, Classe B2).
A Internet foi indicada por muitos jovens como meio menos
confiável, pois os conteúdos comunicados nos sites possuem diversas fontes,
que nem sempre são divulgadas, além de existirem sites pessoais (blogs) em
que as informações são postadas sem haver, necessariamente, um cuidado
com o que é comunicado “o site é dele, então né, tem vários sites
respondendo por processos porque colocou coisa indevida, ou mentiu”
72
(Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1). Mesmo
considerando a Internet como um meio pouco confiável, seu dinamismo
encanta os jovens. A possibilidade de comunicação com outras pessoas,
independentemente da distância, fascina os internautas.
“Bem, para mim em primeiro lugar o mais confiável são as
TV abertas, depois as revistas, os jornais depois as rádios
e a Internet por ultimo, pois essa última sempre esta
enfrentando problemas com a pirataria, os chamados
hackers. (...) este é o meio de comunicação mais
revolucionário do século, a Internet nos proporciona a
oportunidade de falar e ver pessoas em outros lugares,
independente da distancia” (Homem, 18 anos, Ensino
Médio Completo, Classe C2).
“(Menos confiável) É Internet, Exemplo: um site, dizendo
da morte do Michael Jackson falou que ele tinha morrido,
mas ele nem tinha morrido ainda, eu não gosto, eu
procuro não me informar através de site, não confio”
(Mulher, 22 anos, Superior Completo, Classe B2).
Os jovens costumam confiar nas informações transmitidas por
formadores de opinião (blogueiros, colunistas, jornalistas, repórteres,
apresentadores). Os apresentadores do Jornal Nacional da Rede Globo
foram os mais indicados pelos entrevistados como pessoas que transmitem
confiança e veracidade quando comunicam uma informação.
“Willian Bonner e Fátima Bernardes, quando ele não está
no jornal, eu não tenho vontade de assistir (...) Eu adoro
assistir o jornal, aprendi com meu pai, todo dia eu assisto
Jornal Nacional, mas eu acho que eles são os repórteres
que você vê confiança neles falando, firmeza, sei lá, eu
gosto” (Mulher, 22 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe
C1).
73
5.2. Informação sobre o governo e políticas públicas
De modo geral, foram encontrados baixos níveis de informação sobre
o governo e as políticas públicas. Os entrevistados que apresentaram maior
apropriação
política
informam-se
mais
sobre
estes
assuntos.
Os
entrevistados que não gostam de política se informam mais sobre programas
específicos de governo, tendo em vista os benefícios que podem obter.
Houve ainda aqueles que não se interessam nem por estes assuntos que
poderiam resultar em benefícios pessoais imediatos.
5.2.1. Classe média
Neste segmento os entrevistados apresentaram níveis distintos
de conhecimento sobre o governo e as políticas públicas. O maior nível de
conhecimento esteve associado ao maior interesse por política. Aos
programas governamentais mais lembrados foram atribuídas conotações
positivas, pelos seus efeitos benéficos para a melhoria da situação da
população brasileira, e negativas, especialmente em função da visão
assistencialista percebida no Programa Bolsa Família.
“Bolsa Escola e Bolsa Família são os que me chamam
mais atenção porque acho que ele (o Governo) dá o peixe
e não ensina a pescar. Nada contra a dar o dinheiro, mas
junto deveria haver mais fiscalização e mais incremento de
força de trabalho. Tenho acompanhado muito a favela
Dona Marta no Rio de Janeiro onde a polícia resolveu
trabalhar. Por que o vandalismo tomou o poder? Porque o
poder público não fez nada. Acho que os programas de
governo deveriam ser mais voltados para a educação
porque somente com a educação é que esse povo vai ser
mais crítico e somente com a crítica que o povo vai poder
exigir porque se tu não sabes que tem a possibilidade de
mudar ninguém vai correr atrás de mudança, o governo é
desacreditado na maioria dos aspectos” (Mulher, 43 anos,
nível superior completo, classe B2).
74
“São muito bons (os programas de governo). Tá
melhorando a vida do povo” (Homem, 40 anos, nível
fundamental incompleto, classe C2).
“Há ações que estão fazendo a redistribuição de rendas
através do Bolsa Família” (Homem,47 anos, superior
incompleto, classe B2).
“ProUni/Bolsa família, Bolsa escola/Minha casa, minha
vida. Conheci através da mídia, Internet e jornal. O Prouni
e programa Minha casa minha vida são maravilhosos
porque dá condições para quem não pode comprar sua
casa e o Prouni, ajuda a pessoa que é carente a estudar.
Bolsa família: é deixar o povo ocioso (….) não precisa
desse comodismo. Acho que o Bolsa família é um
programa para deixar as pessoas cômodas e não
buscarem trabalho. Acho um absurdo esse programa”
(Homem, 26 anos, nível superior incompleto, classe B2).
“As ações do governo são boas. É muito bom, porque o
presidente Lula, ajuda muito com o Bolsa Família e o
Bolsa Jovem, o PAC (...) Essas Bolsas ajudam muitas
pessoas” (Mulher, classe C2, 1º grau, 36 anos).
“Muitas pessoas falam que o governo Lula é
assistencialista, que ele lança estes programas para se
reeleger, mas eu não acho, creio que ele seja mais um
governo do povo do que dos ricos. (...) Principalmente
sobre o presidente Lula e suas ações governamentais,
que para mim sempre foram muito favoráveis. (...) Acho o
governo Lula direcionado para as classes mais carentes
da sociedade. (...) Eu tenho certeza que o governo esta
tentando fazer o melhor para a população, como dar mais
assistência aos pobres, aos mais velhos e as crianças
abandonadas” (Homem, 27 anos, segundo grau
incompleto, classe C1).
“O Bolsa Família tá ajudando muitas famílias que
passavam fome, que ficavam na rua. Acho que eles tão
administrando bem. (...) Minha opinião (sobre programas)
é que é um incentivo pra gente gostar do governo.
Também uma ajuda pras pessoas carentes, pras pessoas
que não têm condições. (...) Os programas têm surtido
75
efeito, tá evoluindo sim” (Mulher, 21 anos, nível superior
incompleto, classe B2).
A percepção do comportamento da mídia em relação à
divulgação das notícias sobre o governo e suas políticas públicas dividiu
opiniões. Interessante observar que, em muitos casos, os meios de
comunicação foram percebidos como favoráveis ao atual governo. Por vezes,
houve desconfiança em relação a esta posição favorável da mídia ao governo
sendo considerada, por um entrevistado, como possivelmente decorrente de
acordo financeiro entre governo e mídia.
“São mais favoráveis (as notícias) pra dar mais uma
credibilidade ao governo. Às vezes acho que são
parceiros” (Homem, 40 anos, nível fundamental
incompleto, classe C2).
Do mesmo modo uma entrevistada que percebe as notícias
como favoráveis ao governo, desconfia que a Globo esconda os erros do
governo, com receio à ocorrência de represálias.
“São favoráveis( as notícias). Porque o que eles mostram
na mídia é o que estão fazendo de bom pra gente. (...) A
televisão mostra o de bom e o de ruim, mas eu acho que a
Globo esconde muita coisa que eles erram, que o governo
erra. Eu acho que é porque eles têm medo que o governo
possa fazer algo contra eles” (Mulher, 21 anos, nível
superior incompleto, classe B2).
Outra entrevistada percebe que as notícias da Rede Globo são
favoráveis ao governo porque a emissora tem linha de não enfrentamento
com os governos de modo geral.
“O jornalismo da Globo é favorável, a Globo sempre foi
muito a favor dos governos, vejo a Globo como uma
ovelhinha de presépio. Até mesmo o status da TV Globo
76
nunca foi de crítica ao governo. O jornalismo da Globo
sempre foi mais cuidadoso com o governo, já os outros
canais não, eles transmitem informações sobre o governo
mais cruamente, mais com a intenção de crítica” (Mulher,
36 anos, nível superior completo, classe B2).
Houve também opiniões que relativizaram, afirmando que em
alguns casos os meios de comunicação são favoráveis e em outros não,
dependendo dos interesses econômicos dos grupos que controlam as
emissoras de TV.
“Isso é relativo (as notícias) (...) depende de onde o sapato
vai apertar o calo, por exemplo, a Band, o grupo
Bandeirantes é um dos grandes latifundiários do Brasil e
agora os caras querem criar uma lei (...) o fazendeiro
produziu tantas toneladas de grãos esse ano, ano que
vem para conseguir empréstimo vai ter que produzir um
pouco mais, se não fizer isso vai perder a terra (...) a Band
mete o pau nisso, assim como a Band, o Joelmir Beting
fala: não, o Brasil é credor do FMI (...) O Brasil tá ferrado
aqui mas empresta dinheiro pra lá (...) O presidente fala:
nós é chique né, nos tá emprestando dinheiro” (Homem,
37 anos, segundo grau completo, classe C1).
Também foram feitas relativizações, considerando as diferenças
de posicionamento da mídia tendo em vista o assunto abordado. Os meios de
comunicação são contrários em algumas situações quando discordam da
posição assumida pelo governo, como nos casos da crise e da forte presença
do Brasil no mundo.
“Quando o Lula disse que a crise era uma marolinha a
mídia televisiva foi pra cima criticando, mas eles não
conseguiram dimensionar esse lado que estou
dimensionando agora. (...) Associo o Lula como aquele
que colocou a mochila nas costas e saiu por aí oferecendo
o Brasil, isso ninguém vai tirar dele porque é o Presidente
que mais vendeu o Brasil lá fora. Nós entramos até na
77
Arábia Saudita aquele monte de ouro rolando em cima da
areia e o Brasil está lá. Na África o Brasil está vendendo
projetos tipo o Mobral, está vendendo alimentos básicos,
está oferecendo condições de intercâmbio, e a África é a
nossa pátria praticamente, quantos africanos têm no Brasil
e não tínhamos essa cultura de olhar os africanos como
gente. A gente está no Haiti, com força militar, mas
estamos no Haiti, são feridas da humanidade que o Lula
não teve medo de encarar” (Mulher, 36 anos, nível
superior completo, classe B2).
5.2.2. Juventude
A grande maioria dos jovens não acompanha notícias sobre
governo e política. Contudo, alguns sabem mencionar ações e programas
sociais do governo. Os mais lembrados são Bolsa Família, Minha Casa Minha
Vida, Fome Zero, Enem e Pró-Uni.
As avaliações dos programas sociais são positivas quando os
jovens percebem que estes programas beneficiam a população. Aqueles que
são beneficiados pelos programas também os avaliam positivamente,
indicando a relevância do programa para suas vidas. Este é o caso da jovem
que é beneficiada pelo Bolsa Família, assim como sua mãe também é. Sua
avaliação do atual governo é positiva, acredita que este governo é melhor do
que seus antecessores e que o Brasil, hoje, encontra-se melhor do que
outros países, pois conseguiu enfrentar a crise.
“Acompanho, mas não muito (as notícias sobre governo e
política). (...) Bolsa família, muita gente diz que é pouco,
mas a realidade é que já ajuda, estão se beneficiando
daquilo ali e não enxergam, R$ 120,00 é R$ 120,00
compra um gás. São 5 agora que dependem disso (na
família dela). Não só criança se é adulto mas não recebe
salário nenhum daí recebe também. A minha prima
recebia, mas como a filhinha dela é deficiente, ela
conseguiu aposentar ela, então ela já perdeu o bolsa
família agora, mas recebe um salário mínimo mensal, daí
não pode ter dois benefícios na mesma família (...) Agora
ele ta melhor, esse governo ta melhor que os outros. Tá
78
fazendo mais e falando menos, antigamente falavam muito
e não faziam nem a metade. (...) Antigamente ficava
parado e não saia do lugar agora a gente ta indo pra
frente no estudo, educação melhorou ta sendo mais
valorizada agora, em relação às famílias com esse
programa do bolsa família. (...) O Brasil antigamente nesse
negócio da crise seria o primeiro a ficar pior e não, o Brasil
ficou estável, ficou melhor que os EUA que é um país de
potência, grande e ta difícil lá com a crise e pra gente ta
melhor, a administração do Lula, dizem que o Lula tem um
avião particular, mas ele precisa tem que ir pra lá e pra cá
a todo momento, mas não é um benefício só pra ele,
porque ele vai em busca de um benefício que não é só pra
ele, é pro Brasil todo, ta atrás de melhoras pro Brasil”
(Mulher, 17 anos, Ensino Fundamental Completo, Classe
D/E).
Há também alguns jovens que, apesar de não acompanharem
as notícias sobre política e governo, mencionam alguns programas e os
avaliam positivamente. Isto ocorre porque estes jovens possuírem uma visão
positiva em relação ao atual Governo Federal. Como os jovens citados
abaixo, que apesar de não acompanharem as notícias, lembram de
programas que avaliam positivamente, assim como o faz com o atual
governo.
“Fome zero, bolsa escola. (...) (Conheceu) Pelas pessoas.
(...) O Fome Zero ajuda a dar alimentos às pessoas
necessitadas. Ajuda as pessoas a sair da miséria. O Bolsa
Escola incentiva o aluno a ir para escola, se não for não
recebe, ajuda as despesas de casa, é um dinheiro a mais.
Eu acho ótimo ajudar as pessoas nas despesas de casa, a
comprar alimentos. (...) (Opinião sobre o Governo Federal)
Ótimo. Influencia na melhoria das pessoas. Ajuda a
melhorar, tipo faz a coisa certa, não errada. Ajuda as
pessoas a ter dinheiro extra, melhorar dentro de casa e
nos estudos” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto,
Classe C1).
“Não tenho acompanhado nada no momento sobre o
governo federal (...) não lembro de nada no momento (...)
79
Eu conheço o Bolsa Família, o Fome Zero, o Enem, pois já
acompanhei varias matérias falando sobre o assunto na
televisão. (...) O Bolsa Família, por exemplo, eu acho
muito importante, pois foi a partir deste programa que
muitas famílias deixaram a pobreza total. Já o Fome Zero,
da mesma forma, promoveu a diminuição da mortalidade
infantil, o Enem facilitou a entrada de alunos de escolas
públicas nas faculdades do estado, comprovando também
a qualidade do ensino das escolas públicas do estado. (...)
(Propagandas) do PAC eu não me recordo muito, mas do
Minha Vida Minha Casa eu lembro sim, eu gostei bastante,
principalmente porque o programa Minha Casa Minha Vida
vai dar oportunidade para muitas pessoas comprarem a
sua casa própria. (...) Eu gostei bastante (da propaganda
do Minha Casa). (Opinião sobre o Governo) Não entendo
muito, mas acho que temos uns dos melhores Governos
dos últimos dez anos. (...) Sempre que vejo uma matéria
sobre as pesquisas do governo Lula, fico cada vez mais
convencido que seu governo e seus programas sociais
são as respostas para a melhoria da vida do povo mais
necessitado do Brasil” (Homem, 18 anos, Ensino Médio
Completo, Classe C2).
Aqueles que possuem uma visão política e experiências
negativas relacionadas aos programas sociais os avaliam negativamente,
como no caso do jovem que tem a irmã beneficiada pelo auxílio salário escola
e que o considera muito baixo para suprir as necessidades com o material
escolar. Sobre o Bolsa Família afirma que é regular. Já os programas
habitacionais avalia negativamente, pois acredita que as residências são
muito pequenas para os padrões familiares encontrados. Na visão do
entrevistado, deveriam aumentar o valor dos benefícios e não do salário dos
políticos. Apesar de avaliar negativamente os resultados dos programas, o
entrevistado pondera, afirmando “pelo menos isso eles estão fazendo, se eles
não fizessem, pelo amor de Deus, quê que iria ser desse país”. Na mídia,
considera que as notícias são mais negativas em relação ao atual governo e
a política.
80
“O Bolsa Família é regular. O Salário Escola é ruim porque
não dá pra ajudar nem pela metade na compra dos
materiais escolares (...) é um valor simbólico pra dizer que
o governo está se importando. E sem falar naquelas
casinhas que eles distribuem de um cômodo pra uma
família de doze, ou dois cômodos quer dizer, que se não
me engano pra um pai de família que tem seis, sete filhos,
dorme tudo na sala. (...) O salário escola é o „miséria pra
todos‟, porque aquilo não dá pra sustentar, não dá pra
comprar materiais escolares com aquele tanto, enquanto
tá aumentando o salário dos políticos ai tudo, ao invés de
aumentar o Bolsa Família, o Salário Escola. (...) Minha
irmã é beneficiária e reclama muito porque não dá nem
pra metade dos materiais escolares. (...) É um
investimento que eles fizeram, uma base, mas essa base
não dá pra quase ninguém. (...) Fome zero vírgula zero,
zero um, é assim, uma fome que eles não dão conta de
superar ela, não tem como, tem como tentar ajudar, o que
pelo menos isso eles estão fazendo, se eles não fizessem
pelo amor de deus quê que iria ser desse país, dessa
cidade, dessa região, tudo. Mas assim pelo o que eles
estão fazendo, conseguiu tirar muitas famílias da miséria
mesmo né, conseguiu fazer muitas coisas em relação a
isso, a miséria, uma coisa que, foi uma coisa, uma
campanha que paralisou todo mundo, paralisou mesmo.
As emissoras de televisão, qualquer propaganda, parava
assim qualquer intervalo de alguma coisa, falava da
importância, Eu acho que esse Fome Zero foi um dos mais
importantes que eu posso considerar” (Homem, 16 anos,
Ensino Médio Incompleto, Classe C1).
Os jovens que afirmam não acompanhar as notícias sobre
governo e política e também desconhecem as ações e programas do governo
federal o avaliam de forma negativa. Estes jovens também apresentam baixa
apropriação política e desinteresse por estes assuntos. Este é o caso da
jovem que não acompanha as notícias, desconhece os programas e ações
governamentais, possuindo uma visão negativa da política, de modo geral, e
do atual governo.
81
“Eu acho que eles teriam que fazer mais e falar menos,
muitos a gente só vê falando, que não sei o que, que vai
fazer isso, vai fazer aquilo, e muitas das vezes você não
vê nada, eu não vejo, mas também eu não me interesso
por política. Primeiro que eu nem entendo nada disso, pra
mim, eles falando eu não entendo nada de política”
(Mulher, 22 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C1).
É o mesmo caso da jovem que não se informa sobre política e
governo, não gosta de política e possui uma visão negativa do atual governo
e de seus programas sociais.
“Não costumo acompanhar. Não lembro de notícia
nenhuma. (...) Não to lembrada... acho que é o Bolsa
Família, soube pela televisão. Eu acho que esse programa
termina dando margem para o povo fazer mais filho, tem
gente que nem trabalha mais, só pegando essa Bolsa
Família, e penso que é errado. (...) Eu particularmente não
sou muito a favor (do atual governo)” (Mulher, 20 anos,
Ensino Superior Incompleto, Classe B1).
De modo geral, como é baixa a informação sobre política e
governo neste segmento houve certa indiferença em relação à avaliação do
comportamento da mídia ao abordar notícias sobre o governo. Entre aqueles
que se posicionaram, a percepção sobre o modo como a mídia noticia o
governo pareceu estar associada a sua avaliação do governo. Jovens que
avaliam positivamente o atual governo tendem a crer que a mídia veicula
mais notícias favoráveis ao governo “(Notícias sobre o governo) quando vejo,
na maioria das vezes são favoráveis” (Homem, 18 anos, Ensino Médio
Completo, Classe C2).
Do mesmo modo os jovens que avaliam negativamente o
governo tendem a crer que as notícias veiculadas na mídia são
desfavoráveis.
“(Notícias sobre o governo são) Mais desfavoráveis,
porque o que se vê são coisas negativas que acontece
82
com o governo e a política. Às vezes até os jornalistas
tentam dar uma sacudida na população falando dos
salários dos políticos e dos impostos que pagamos. 70%
das vezes as informações são negativas, tentam fazer a
população reivindicar seus direitos” (Homem, 16 anos,
Ensino Médio Incompleto, Classe C1).
83
6. Formação da opinião
6.1. Permeabilidade às notícias
Para avaliar a permeabilidade às informações contrárias ao ponto de
vista
do
entrevistado
foram
apresentadas
notícias
hipotéticas
que
contrariavam os posicionamentos fornecidos, informando que se tratava de
uma simulação e solicitando uma apreciação.
Confrontados
com
notícias
hipotéticas
contrárias
ao
seu
posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não
aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o veículo
de comunicação mencionado, ou relativizando a sua veracidade e
aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma exceção à regra ou produto
de alguma circunstância específica, enquanto outros aceitaram o conteúdo
hipotético
apresentado.
Enquanto
alguns
aceitaram
de
forma
mais
abrangente as notícias hipotéticas apresentadas e incorporaram o conteúdo
da mesma ao seu quadro perceptivo, outros se mostraram mais resistentes,
mantendo o seu ponto de vista.
6.1.1. Classe média
Neste segmento foram observados três tipos principais de
comportamento: aqueles que rejeitaram, em maior medida, as notícias
apresentadas (perfil posicionado à esquerda, politicamente definido, que
conhece mais os assuntos políticos); aqueles que aceitaram em maior
medida o conteúdo das notícias apresentadas (por valorizar os meios de
comunicação referidos, por não ter segurança em relação ao seu ponto de
vista); e aqueles que se situaram em um nível intermediário de
permeabilidade às notícias hipotéticas apresentadas.
84
Ilustra o primeiro caso o entrevistado posicionado à esquerda,
partidariamente definido, que demonstrou alto nível de conhecimento dos
assuntos da agenda política atual. As notícias se referiam a um hipotético
manifesto pró pena de morte proposto por “justiceiros” de São Paulo, fazendo
contraposição à posição informada na entrevista contrária à pena de morte. A
segunda notícia informava sobre um hipotético Programa Desemprego Zero
direcionado ao funcionalismo público que implicava em aumento de vagas e
aumento salarial. O entrevistado negou, enfaticamente, o conteúdo das
notícias e fez apreciações críticas sobre as supostas alterações na linha
editorial das emissoras, o que seria mais um indício de descrédito.
“Ficaria estagnado porque uma notícia dessas seria uma
irresponsabilidade ser veiculada em canais com audiência
massiva (justiceiros propõem pena de morte). Não
acreditaria, por mais que a Globo seja tendenciosa, ela é
contra ferir direitos humanos. Não acreditaria, consideraria
que o padrão jornalístico (Record News) estaria caindo.
Não acreditaria, não daria para acreditar mesmo”.
(Homem, 47anos, nível superior incompleto, classe B2).
“Não acreditaria (programa desemprego zero). Primeiro
iria me informar quais as categorias que seriam
beneficiadas com tal programa. A Globo criticaria o
governo, se a notícia realmente fosse a favor do
funcionalismo público, o tom da mensagem seria diferente,
seria mais ameno na Record News. Não acreditaria.
Precisaria esperar mais tempo para averiguar se isso
realmente poderia ser real e mesmo assim acharia que um
grupo específico estaria sendo privilegiado” (Homem,
47anos, nível superior incompleto, classe B2).
Alguns entrevistados que entenderam perfeitamente o conteúdo
da notícia, ponderaram sobre os argumentos, mas mantiveram o seu ponto
de vista por apresentarem uma posição cristalizada sobre o assunto. É o
caso de um entrevistado com baixa apropriação política, nível de informação
mediano, que se manifestou a favor da pena de morte e ao ser confrontado
com o argumento contrario reafirmou sua posição.
85
“Sou a favor da pena de morte porque as pessoas se
baseiam „vou para a cadeia, vou comer, dormir, tô numa
boa‟, a família fica amparada porque acho que o governo
dá uma parte de sustento porque tem filhos. Muita gente
se reabilita na cadeia, mas é a grande minoria. Para mim
poderia jogar uma bomba em cada cadeia e matar todo
mundo. Sendo que muitos são inocentes (entrevistas
iniciais)”.
“Está querendo dizer (notícia oposta), pelo que entendi,
que a pena de morte está para começar a ser colocada
em votação no país e que como o exemplo dos EUA a
pena de morte não reduz a criminalidade. Até deu
exemplo ali que 4 pessoas foram inocentadas na última
hora e diz ali que não é eficiente, não está adiantando o
que está adiantando é a reabilitação, as ONGs tentando
ajudar. Acho que tem bem menos criminalidade nos
países que tem a pena de morte as pessoas já pensam
duas vezes antes de fazer as coisas erradas. Se fosse um
caso de votação para que tivesse a pena de morte eu iria
votar para ter. Até acho que a pena de morte mata mais
que muita doença, se chegar na data da pessoa ser
executada ela será, vai matar quase que diariamente uma
pessoa, mas serviria de exemplo para as outras não
fazerem as coisas erradas. Muito inocente morre
injustamente com uma bala perdida de um vagabundo
atirando, um policial atirando, qualquer outra pessoa
atirando ou por que o cara estava bêbado no trânsito, tem
muita pessoa inocente que morre por nada, para mim não
faria diferença qualquer uma pessoa morrer” (Homem, 30
anos, segundo grau completo, classe C1).
Alguns desqualificaram o veículo de comunicação. Este é o
caso de uma entrevistada que possui nível intermediário de apropriação
política e pouco conhecimento sobre políticas e ações do governo. Possui
muita confiança nos meios de comunicação que escolheu a partir de
convicções religiosas (TV Record e Rádio Nazaré), tende a dar crédito ao que
é veiculado por essas emissoras e a desconfiar das demais, especialmente
86
da TV Liberal que é totalmente desqualificada por ela a ponto de negar
credibilidade à notícia de igual conteúdo, quando veiculada por essa
emissora. Quando a lógica não lhe permitiu discordar do conteúdo
argumentou que desconfiaria do sentimento do comentarista. Nas entrevistas
iniciais a entrevistada mostrara-se desfavorável à privatização das empresas
estatais e favorável à pena de morte.
“Não, não deveria ser privatizada (as estatais) porque
assim, é do povo porque rende mais dinheiro e empregos
também para o povo. (entrevistas iniciais)”.
“Se fosse pela TV Liberal, acho que seria fofoca, das
pessoas estarem inventando, não seria o certo, não iria
acreditar. Bem, seria, se fosse realmente, por motivo eu
acreditar em todos os momentos da TV que eu assisto
(Record), eu ficaria acreditando e não acreditando, mais
eu acreditaria um pouco mais, eu confiaria mais ou menos.
Se fosse também pela rádio Nazaré, que é uma rádio
religiosa eu acreditaria, eu aceitaria sim que é verdadeira.
(4ª entrevista)”
“A favor (da pena de morte) porque eu acho que o próximo
fazendo o que ele faz, não faria mais, ele vendo que o que
aconteceu com outro, serviria de exemplo” (entrevistas
iniciais).
“Não confiaria, não. Seria a opinião da TV Liberal agora
minha mesma não. Não confiaria na TV Liberal, eu
concordaria com que ele tava falando, que não resolve o
problema, não acreditaria se fosse um comentarista, eu
não acreditaria no sentimento dele, concordaria com o que
ele tava falando, mais não acreditaria no sentimento do
comentarista”.
“Bem eu acredito no que o bispo fala (TV Record), se mata
um gera muito mais, se matarem mais, nasce mais, a
criminalidade aumenta, por que quem não trabalha, não
tem dinheiro então ele procura um jeito fácil que é
bandido, assim é a droga, eu acreditaria sim, concordaria
com o bispo com certeza. Na minha opinião eu não
concordaria com a pena de morte, concordo que não é a
solução para isso, por que a marginalidade iria crescer
muito mais” (4ª entrevista) (Mulher, 36 anos, primeiro grau,
classe C2).
87
Em outros casos, observou-se maior abertura às notícias
contrárias com a aceitação total ou parcial da nova informação. A posição
favorável à pena de morte, amplamente apoiada pelos entrevistados, foi
também a mais relativizada na resposta à notícia hipotética que recusava
essa hipótese. Houve, inclusive, a negação total da idéia original. Esses
entrevistados tendem a ter preferências e opções políticas pouco
fundamentadas e muitas vezes contraditórias, evidenciando a ausência de
coerência política. Uma argumentação racionalmente fundamentada, ou
ancorada em apelo moral ou afetivo, tende a ser facilmente incorporada ao
discurso do entrevistado. Esse é o caso de uma mulher de 31 anos,
cozinheira, pouco interessada em política, pouco informada sobre políticas e
ações de governo, que relativizou sua afirmação original ou negou o que
dissera, tendendo a incorporar as novas informações. O apoio à pena de
morte foi relativizado a partir da argumentação contrária embasada na
possibilidade de morte de inocentes. Da mesma forma a entrevistada
posicionou-se, originalmente, como sendo desfavorável a demissão de
funcionários públicos. Frente à nova argumentação que recorre ao argumento
de ineficiência do funcionalismo concorda plenamente.
“No meu ponto de vista seria a punição pra essas
pessoas, matou, vai ser morto. Há punição assim vai pra
cadeia e sai, muitas vezes a pessoa sai de lá com um
pensamento bom, mas muitas vezes fica pior” (entrevistas
iniciais) “mas o que ela fala aí, é certo! se existisse, muitos
inocentes seriam mortos, como em outros países”. (4ª
entrevista)
“Não concordo com a demissão de funcionários públicos,
pois tem pessoas que já trabalham há muito tempo e
sairiam sem direito a nada e ainda decepcionadas”
(entrevistas iniciais). “Concordo” (4ª entrevista) (Mulher, 31
anos, segundo grau incompleto, classe C2).
88
Um caso intermediário registra uma entrevistada que possui
posições políticas definidas e grau médio de coerência política. Trata-se de
uma mulher, empregada doméstica que ao casar tornou-se manicure para
complementar a renda familiar. É pouco apropriada politicamente, possui
grau
intermediário
governamentais.
de
informações
sobre
o
governo
e
políticas
Acompanha pouco o noticiário da mídia. Apóia o PT.
Manifestou-se favorável à pena de morte. Quando confrontada com as
notícias hipotéticas mudou radicalmente de posição, incorporando o conteúdo
ao seu quadro perceptivo.
“Todos lá de casa somos petistas, mais a minha família
todos lutam pelo PT, porque os petistas lutam pelos pobre,
a gente somos guerreiras, somos lutadoras, então a minha
opinião é essa. Eu sei que sou petista mesmo e pronto
nada mais do que isso não.O petista ajuda muito os
pobres. O PT é de luta e de guerra, então ele ajuda muito
os pobres, as pessoas com o Bolsa família, Bolsa jovem,
então isso está sendo oferecido pelo PT, a gente
demonstra nosso trabalho para ele, eles não tem dinheiro
para dá pra gente, ajuda o pobre, somos guerreiros com o
coração. A favor (da pena de morte) porque eu acho que o
próximo fazendo o que ele faz, não faria mais, ele vendo
que o que aconteceu com outro, serviria de exemplo”(
entrevistas iniciais).
“Eu não concordaria com a pena de morte, concordo que
não é a solução para isso, por que a marginalidade iria
crescer muito mais.” (4ª entrevista) (mulher,47 anos,1º
grau, classe C2).
6.1.2. Juventude
Confrontados com notícias hipotéticas contrárias ao seu
posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não
aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o veículo
de comunicação mencionado, ou relativizando a sua veracidade e
aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma exceção à regra ou produto
89
de alguma circunstância específica. Outros se demonstraram mais flexíveis e
abertos, aceitando o conteúdo hipotético apresentado.
Entre aqueles que rejeitaram em maior medida as notícias
apresentadas, pode-se citar o entrevistado de 19 anos, que se defini
politicamente como centro, social democrata, com preferência partidária
assumida. É coerente, informado sobre os temas políticos do momento,
apropriado politicamente. Reafirmou sua posição inicial em relação às
notícias contrárias a seus pontos de vista. A mídia não interferiu em suas
posições. A primeira discutia um hipotético estudo comparativo sobre justiça
que indicava a justiça brasileira como eficiente e igualitária, a segunda
informava sobre um hipotético plebiscito sobre a pena de morte e a terceira,
sobre um hipotético e bem sucedido programa de demissão voluntária de
funcionários públicos. Em relação à pena de morte reafirmou posição
favorável o que poderia ser considerado uma incoerência em relação a seu
ideário político fundado no humanismo e no respeito aos direitos humanos.
“Me defino como um social-democrata, de centro porque
acredito que temos de ver os dois lados da moeda. Sim eu
tenho (preferência partidária) (pelo) PT. Um partido social
democrata, lutando sempre pelos mais fracos e oprimidos
da sociedade. (...) Não (a justiça não é eficiente e
igualitária). Acho que a justiça ainda não é válida para
todos, favorecendo os ricos e menosprezando os pobres.
Independente da emissora eu não acreditaria nessa
noticia (4ª entrevista). (...) Não (existe justiça). Existe
favorecimento quando se trata de uma pessoa que tenha
um poder aquisitivo maior que pode comprar a lei no
nosso país. (entrevista anterior) (...) Acredito que sim
(favorável à pena de morte), pois discrimino muito a lei de
hoje onde muitos matam roubam estupram e ficam
impune, pois acredito que precisamos de leis mais rígidas,
como pena de morte. (4ª entrevista). A favor (da pena de
morte). Pois só assim muitos pensariam duas vezes antes
de tirar a vida de seus semelhantes. (entrevista anterior)
(...) Acho que as demissões não são solução, e sim um
passo a mais para o desemprego e a miséria. (A resposta
seria) a mesma, pois acredito que independente da
emissora a informação não mudaria o contexto. (4ª
90
entrevista) Não (deveria demitir funcionários). Porque
aumentaria a miséria existente em nosso país e não
resolveria em nada, continuaria apenas ajudando alguns a
embolsar mais” (entrevista anterior) (Homem,19 anos,
Ensino Médio Completo, Classe C1).
Entre aqueles que rejeitaram algumas notícias hipotéticas e
relativizaram outras se encontra a entrevistada de 20 anos, estudante de
direito e estagiária em advocacia, filha de militar e professora. Convive com
política desde cedo, a família do pai é peemedebista e a da mãe é petista,
não se interessa por política, não acompanha as notícias sobre governo. Não
é apropriada politicamente. Define-se como politicamente neutra, de centro,
capitalista. Ao confrontar-se com as notícias hipotéticas contrárias a seu
posicionamento original tendeu a discordar da nova notícia, por vezes
relativizando sua posição a partir das novas informações. Acerca da
demissão dos funcionários públicos manteve a posição original contrária às
demissões, sobre a Bolsa família relativizou sua posição sensibilizada pela
possibilidade de diminuição da desigualdade social, mas ainda argumentando
contra o assistencialismo. A notícia hipotética que defende a pena de morte
foi negada por ela mantendo posição contrária, a justificativa é de cunho
religioso. Acerca das informações hipotéticas sobre quotas para universitários
negros relativizou sua posição, sensibilizada pelo argumento de diminuição
das diferenças sociais, porém manteve a posição original. A mídia não
interferiu em suas definições.
“Neutra (auto definição política). Me situo no centro porque
os dois extremos giram em torno daquela questão
socialista e capitalista, de um lado o social e por outro lado
o capitalismo gera mais desigualdade ainda, então eu fico
ali no meio. Acho que as posições socialismo e
capitalismo eu me defino capitalista, sou capitalista e não
nego, até porque a visão que eu tenho do socialismo é
dividir, e eu não acho justo eu trabalhar que nem uma
condenada e dividir com uma pessoa que não faz nada da
vida. Não é preferência (partidária), é simpatia, pelo
91
PMDB. (...) Eu acho (sobre demissão do funcionalismo)
que ia existir mais desemprego do que já existe, eu não
concordo com a demissão de funcionários, se eles fizeram
concurso público, estudaram e passaram, eu não vejo o
porquê da demissão. (...) Assim a respeito da
confiabilidade eu confiaria sim, o SBT, já tem muitos anos
e não se queimaria assim, na verdade é muito difícil, se
queimar um trabalho de longos anos.Eu acho que se uma
noticia corre publicamente é certo. (...) Acho que eu
confiaria mais ainda porque todo mundo publicando, seria
mais confiável ainda (4ª entrevista). Não (contra a
demissão), olha, se com esse tanto de funcionário público
não fazem direito, agora, tu imagina com menos
(entrevista anterior). (...) Olha eu não sou muito a favor (da
Bolsa Família), até porque eu já tinha falado e as vezes
acho que é mais um motivo deles fazerem filho, mais eu
acho que é mais uma tentativa deles diminuir
a
desigualdade para tentar nivelar as pessoas. Não é
exatamente que eu não concorde, não sou muito a favor,
como eu falei, as pessoas terminam fazendo mais filho por
causa disso (4ª entrevista). Eu acho que esse programa
(Bolsa Família) termina dando margem para o povo fazer
mais filho, tem gente que nem trabalha mais, só pegando
essa bolsa família, penso que é errado (entrevista
anterior). (...) Só Deus tem o direito de tirar a vida, não sou
a favor da pena de morte. A minha opinião continuaria a
mesma, mais com relação a confiabilidade, como é uma
noticia eu confiaria, só que totalmente, só a partir de uma
lei que é escrita lá que a pena de morte é válida no Brasil
(4ª entrevista). (...) Na verdade eu falo assim a pessoa que
mata, vamos supor, matou uma pessoa, será que essa
pessoa merece pena de morte? Mas como Deus nos
colocou aqui no mundo, só ele tem direito de tirar a vida.
Então sou contra (entrevista anterior). (...) Racismo
infelizmente ainda existe, com relação às cotas das
universidades antes eu era totalmente contra, eu ainda
acho uma maneira de privilegiá-los só que, por outro lado,
a maioria dos negros não tem condição porque são de
família humilde, então é visto como uma tentativa de tentar
igualar em relação a nível social, não sou exatamente
contra, mas eu acho que essa foi uma solução que eles
encontraram para diminuir as diferenças. (...) Se fosse
divulgada no SBT, eu continuo sendo contra, eles tentam
92
com isso amenizar as diferenças sociais, mas não é por ai
(4ª entrevista). (...) Eu acho que existe discriminação em
vários grupos, tanto do negro quanto do branco, e do
branco para o negro, e por incrível que pareça até mesmo
eu sofro, porque tenho traços mestiços, sou descendente
de japonês, volta lá para o teu país, não é só do branco
para o negro, o negro também faz discriminação. Quando
foi implantado cota na universidade federal para negro, eu
entendo isso como discriminação. Ta dando a entender
que o negro não tem capacidade de passar, ta
automaticamente dizendo que o negro é burro. A cor da
pele não interfere no teu intelecto, a ciência já provou isso,
a cor da pele não interfere em nada (entrevista anterior)”
(Mulher, 20 anos, Superior Incompleto, Classe B1).
Posicionamento
semelhante
em
relação
às
notícias
foi
encontrado no caso do jovem, cuja opinião é a seguir descrita.
“Ah eu me defino, não sei muita coisa em política, sabe,
mas procuro tá sempre em contato com as principais
notícias, eu não gosto muito de política porque não é o
meu interesse, mas procuro tá sempre por dentro das
principais notícias. Eu sou do meio, centro, flexível, sabe,
se for com o interesse de ajudar, eu sou tanto direita
quanto esquerda. Como um liberal (se auto-define). Liberal
é ser flexível, é tu estar aberto as coisas boas, aberto a
aprender coisas, sabe. Ser liberal à união de sexo oposto,
tipo coisas assim, sendo para o ser humano ser feliz eu
sou liberal. (...) Não, não tenho preferência, eu sou PMDB
e PT. (...) Olha eu sou contra isso aí (demissão de
funcionários) porque para mim programa de demissão é
uma coisa que eu não tenho interesse nenhum, eu acho
que o governo ao invés de ficar inventando esses
programas de demissão, tem que inventar alguma coisa
para admitir, para a pessoa trabalhar e não para a pessoa
querer sair do serviço (4ª entrevista). (...) Demitir
(funcionários públicos) só causa mais transtorno, porque
vai aumentar o índice de desemprego. Tem que ter
bastante pessoas, deveriam ser mais qualificadas, tem
pessoas lá que não sabem o que estão fazendo (noticia
anterior). (...) Olha, pra mim, eu não tenho muita opinião
sobre isto, porque pra mim é um fato que racismo e
desigualdade é uma coisa que não existe, eu acho que
93
tem que aumentar a punição, sabe. Os políticos tem que
ser mais severos nessa lei e pronto, pra mim eu discordo
disso aí, pra mim não existe racismo nem desigualdade.
Procuro evitar qualquer tipo de comentários sobre isto, até
porque tem pessoas muito importantes na minha família
que são negras (4ª entrevista). (...) Na minha opinião não
(se recusa a falar sobre o assunto), eu tenho pavor disto
(entrevista anterior). (...) Sei que é uma notícia séria
porque eu sei que tem esses problemas aí de violência e
criminalidade, só que, eu acho, (...) que a desigualdade e
a má distribuição de renda são os principais culpados (4ª
entrevista). Existe (criminalidade) em todos os lugares, o
Brasil tem bastante. A criminalidade está estável porque
diariamente eu vejo que a polícia tem dado bastante conta
em termos de município, tem diminuído muito. Agora, em
termos de Brasil em geral tá estável (entrevista anterior).
(...) Olha, a minha opinião é quem matou tem que ser
morto. Eu sou a favor da pena de morte. Na Globo, ou em
toda a mídia, eu só tenho uma opinião (4ª entrevista). Eu
sou a favor (da pena de morte), matou, tirou uma vida tem
que ser punido. Porque do mesmo jeito que a pessoa tirou
a vida de alguém, não é só da pessoa que tirou, eu acho
que afeta toda a família, tirou a vida de várias outras
pessoas além daquela que foi morta. Primeiro eu sou a
favor da reabilitação, caso não houver reabilitação tem
que pagar com a vida (noticia anterior)” (Homem, 24 anos,
Ensino Médio Completo, Classe C1).
Entre os que aceitaram em maior medida o conteúdo das
noticias apresentadas, mostrando uma maior abertura à mídia, está o
entrevistado de 23 anos, desinformado, não apropriado políticamente,
mostrando-se aberto às novas informações, tendeu a incorporá-las a seu
quadro perceptivo. Auto define-se como de centro, conservador, sem
preferência partidária. Frente aos novos argumentos que buscavam
desconstituir a pena de morte como punição, sensibilizou-se e incorporou a
informação, o mesmo acontecendo em relação à criminalidade e a noção de
política.
94
“Olha, na minha casa, na minha política, sou uma pessoa
normal, sossegada, só eu e minha esposa, então sou uma
pessoa na minha, tranqüila. (...) (Posição política) Centro,
nem na esquerda, nem na direita, eu fico no meio, porque
eu sou muito desligado em termos de política. Eu preferiria
o lado que não tivesse (uma postura política), pra me
afastar de tudo, debate, política. (...) Essa mesma notícia
(pena de morte) se fosse bem clara igual tá aqui, eu
mudaria de idéia com certeza, porque ele tá contando uma
história que mexe com a gente, você vê que realmente
aconteceu e realmente acontece na vida do ser humano.
Eu preferia ver ela no jornal, mas no meu modo de pensar
o que fez a gente racionar foi pelo modo que foi escrito e o
que realmente acontece na vida do ser humano, então
isso que me fez mudar de idéia e de acreditar, como que
fosse num jornal, todo especificado „certim‟ como que
aconteceu, como que sobrevive uma pessoa, como ela
reage sobre isso, isso que me fez mudar de idéia, tanto se
fosse no Jornal Nacional, na TV fechada, aberta, internet,
depende do jeito que ela foi escrita. E também é uma
estória que você vê que realmente acontece (4ª
entrevista). (...) Eu seria a favor, porque se a pessoa fez
coisa errada já era eliminado já, que ai já evitava isso no
Brasil. Esse lance de roubar, matar já pensava duas vezes
antes de fazer. Ai sim o Brasil ia ser um país verdadeiro (
entrevista anterior). (...) Acho que é impossível acabar
com a criminalidade, porque a maioria do pessoal estão
envolvidas na criminalidade. Políticos dão força pro tráfico,
incentivam as drogas, cada dia estão aumentando o
dinheiro deles. Realmente deixa mesmo (presos pior que
entraram), eles vão preso, lá não falta droga, não falta
celular, não falta comida. Tem um incentivo, o policial já tá
tudo ali aliado a eles, então hoje em dia as prisões nas
cidades maiores funcionam dessa forma. Inclusive tem
muitas cadeias, hoje em dia, que tem o centro de
formação, que ensina às pessoas artesanato, há várias,
tudo quanto é tipo de serviço. É muito produtivo, se
realmente tiver forças pra acontecer isso em todos os
lugares inclusive nas piores cadeias que tem muita
criminalidade. Se eu escutasse num rádio teria que ser
muito bem explicado, igual foi explicado aqui, eu preferiria
ter visto ela na revista, pra eu raciocinar tudo aquilo, que é
um modo de pensar, aí não iria estar essa confusão, seria
95
melhor. Estar incentivando as pessoas, igual fala ai, não
destruindo forças, construindo forças, fala pra que tudo
acabe de forma produtiva, seria bom. Eu acho que deveria
ser dessa forma que tá acontecendo, dessa forma que a
gente tá vendo aí. Teria que acontecer assim, assim
resolveria, eu creio que sim (4ª entrevista). (...) Ah porque
falta segurança pública. Tem que investir em segurança
pública, pegando dinheiro e investindo naquilo e acho que
tem que ter mais policiamento nas ruas, ai vai ter mais
segurança pública (entrevista anterior) (...) Bom, o que eu
entendi ai da política, que tudo se forma política, igual eu
tenho meu serviço, tenho meu gerente, tenho o
proprietário, sempre tem que ter um acima da gente pra
dar, igual eu falei ai, pra dar serviço de rua, tem que ter o
prefeito pra tá, secretário de obras, então sempre tem que
ter uma pessoa nomeada pra tomar as atitudes pra, igual
na, na família, tem o pai de família, ele é o político da
família, ele que dá as ordens na família. Então eu penso
assim, em geral, tem que ter a política mesmo na
sociedade. Tem que ter o governante, sem um
governante, fica tudo bagunçado, a pessoa faz o que quer
e não funcionaria com certeza (4ª entrevista). (...)
(Definição de política) Uns querendo ser melhor que os
outros, uns querendo ganhar na conversa, querendo falar,
sei lá, não sei nem explicar (entrevista anterior)” (Homem,
23 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2).
Aqueles que rejeitaram as notícias hipotéticas indicaram
ausência de lógica ou confusão, baixa apropriação política, indefinição
quando a sua localização no jogo político, tendendo a pouca receptividade às
novas notícias. É o caso da jovem de 22 anos que desgosta profundamente
de política, tem baixo grau de coerência política, afirma não entender nada de
política e não tem nenhum interesse pelo assunto. Ao confrontar-se com as
notícias hipotéticas contrapostas às posições defendidas, reafirmou suas
posições, desqualificando o meio. A primeira notícia hipotética discutia uma
noção de política abrangente, não identificada apenas com a ação dos
políticos, noção esta recusada pela entrevistada. A segunda notícia abordava
os efeitos das privatizações. Desconhecendo o conteúdo da questão, a
96
entrevistada focou-se na discussão emprego/desemprego, reafirmando sua
confusa posição inicial contrária ao desemprego, a terceira notícia interrogava
sobre a possibilidade de mudança de classe social, sua posição foi, nos dois
momentos, afirmativa quanto a essa possibilidade, a quarta notícia hipotética
considerava a justiça brasileira eficiente e igualitária, a entrevistada reafirmou
sua posição contrária, a quinta anunciava um hipotético plebiscito sobre a
pena de morte, após uma digressão errática onde tende a concordar e logo
discorda, conclui por discordar reafirmando sua posição inicial.
“Eu não acho (que política seja isso), não tem nada a ver
com essa coisa de família, nem de jogar lixo na rua (4ª
entrevista). Uma m... (a política). Eu não gosto de política,
não gosto nada mesmo, eu não me interesso em nada de
política, ponto. Uma droga, vai começar tudo de novo, no
dia a gente vai ter que votar. Política é um monte de
homens ou mulheres ganhando à toa, pra fingir que vai
fazer as coisas pras pessoas e não faz nada (entrevista
anterior). (...) Não sei (definir-se), eu não entendo nada de
política. Não me interessa, não entendo (situar-se), eu só
voto mesmo porque tenho que votar. (...) Não lembro não
(preferência partidária), mas as pessoas que eu já votei
são desse partido (PDT) (entrevista anterior). (...) Eu acho
que realmente isso ocorreu, ficou muita gente
desempregada, sem saber o que fazer. Eu acho que
realmente se não tivesse ocorrido muita gente não teria
perdido o emprego (4ª entrevista). (...) Eu acho que
deveria ser sim (privatizadas, as estatais), pra dar novos
empregos. Eu acho que tem (que privatizar), porque são
empresas que já têm funcionários, que vai dar vários
outros empregos. E tinha que fazer outras, abrir outras
(empresas privadas) (entrevista anterior).
(...) Eu discordo (da dificuldade em mudar de classe),
porque se você não correr atrás, como é que você vai
conseguir? Você vai ficar parada e não vai fazer nada,
isso que eu acho (4ª entrevista). (...) Não tem como você
mudar de uma classe para outra se você não fizer esforço.
Depende, tem que lutar muito, no meu modo de vista, tem
que trabalhar, como é que você vai conseguir as coisas se
você não trabalhar pra conseguir seus objetivos; como é
que você vai comprar um carro, se você não trabalhar pra
comprar? Acho que tem que lutar, trabalhar muito
97
(entrevista anterior). (...) (Sobre justiça) Porque, vamos
supor, quem tem dinheiro, acontece alguma coisa lá. A
pessoa vai, só de chegar lá e conversar, ou se for
conhecido, já logo muda totalmente o que eles fazem com
ele. E o pobre não, o pobre não querem nem saber o que
aconteceu, se ele é realmente culpado ou inocente (4ª
entrevista). (...) Não (há justiça). Porque tem muita gente
inocente que paga pelos pecadores. Muita gente que
realmente é culpado e cai em cima de uma pessoa que
não tem culpa, a pessoa leva a culpa de uma coisa que
não fez (entrevista anterior). (...) (Pena de morte)
Realmente, não é tendo pena de morte que a pessoa vai
pagar pelo que fez, mas se no Brasil tivesse, eu acho que
as pessoas respeitariam mais e que teriam medo. Eu acho
que não é isso que a gente quer pro nosso país, de ter
pena de morte, mas eu acho que isso resolveria, diminuiria
a violência, esse negócio de muito bandido, eu acho que
iam respeitar mais, ficar com medo, qualquer coisa ia ser
ou prisão perpétua ou pena de morte. Porque eu acho
que no caso os bandidos teriam medo, tipo no Brasil você
mata uma pessoa, você vai lá, se responder a um
processo, se for lá na cadeia registrar alguma coisa, tem
caso que nem é registrado nada. Morreu, enterrou e
pronto. Lá fora não, é mais rígido, prende, às vezes nem é
prisão perpétua nem nada, mas tem aquele tempo de
cadeia; eu acho que a lei lá pra fora é mais rígida que no
Brasil. Eu só concordo mesmo que tinha que ter no Brasil,
eu concordo que tinha que ter, não mudaria minha opinião
(4ª entrevista). (...) A favor (da pena de morte), porque eu
acho que quando tem pena de morte, as pessoas já ficam
com mais medo de fazer as coisas, por causa da punição.
Porque lá nos EUA, por exemplo, lá uma pessoa se
roubar, assaltar, não sei o que, tentar estupro, aquela
pessoa vai presa e já vai ser julgada por isso, pena de
morte ou prisão perpétua. Aqui no Brasil não, por isso é
que acontece essas coisas, porque não tem. Uma pessoa
mata outra hoje, amanhã vai a julgamento e já vai estar
solto (entrevista anterior)” (Mulher, 22 anos, Ensino Médio
Incompleto, Classe C1).
98
6.2. Relevância dos meios e outras referências
6.2.1. Classe Média
O veículo de comunicação foi considerado relevante para a
aceitabilidade do conteúdo da notícia. Em alguns casos a notícia foi aceita
totalmente e incorporada ao esquema receptivo do entrevistado, em outras foi
aceita parcialmente até posterior confirmação através de outros meios, o que
reafirma a relevância do meio para a credibilidade da notícia e sua aceitação.
É o caso do entrevistado que frente a uma notícia que lhe causa impacto
negativo e se opõe a sua posição original tende a crer na veracidade da
notícia devido a confiança que deposita no veículo que a divulga e nos meios
de comunicação em geral.
“Eu ficava pasmo com a notícia (justiceiros propõem pena
de morte). Ficaria pensativo, olhando bem se é verdade
mesmo, aquilo mesmo, que essa notícia está proliferando,
e acreditando na pessoa do jornalismo, né? Afinal, porque
a rede Record tem uma parte de jornalismo que é de
credibilidade mesmo. Ficaria assim porque eu confio na
Rede Record, na pessoa do jornalismo. A gente fica
assim, pasmado, Oxe, mas isso ta acontecendo
realmente? aí a gente vai pra outros jornais pra conferir
mesmo. Se passar em outros, a gente vê que é verdade
realmente Eu acreditaria. Eu acreditaria na informação,
agora, sou contra no que está escrito, da pena de morte. E
todos os canais televisivos ta mostrando. Aí dá pra
perceber que não tem camuflagem, não tem engodo. A
notícia não ta sendo forjada. (...) Eu acreditaria (quotas
para negros na universidade). Acreditaria porque, em
parte, a TVE ainda fala um pouquinho sobre a
discriminação racial. Eu já vi negro trabalhando lá, negro
trabalhando no noticiário. Aí poderia até dizer que daria
100% de crédito pra essa notícia na TVE. Porque, como
eu falei, ela mostra um pouquinho da realidade sobre o
negro, afro-descendente. Interpretaria da seguinte forma:
que existe racismo mesmo na universidade, onde os
brancos preenchem todas as cadeiras e não quer que o
negro preencha essas cadeiras. Realmente, é uma
verdade. Eu acreditaria. Eu acreditaria na notícia, porque
99
aí já ta sendo um fato verdadeiro. Eu veria que realmente
isso está acontecendo, veria que o racismo no Brasil
realmente está crescendo, onde os brancos querem
realmente ter mais poder. Querem realmente ocupar as
cadeiras que acham que cabe só a eles” (Homem, 40
anos, fundamental incompleto,classe C2).
Em outros casos os entrevistados mostraram-se indiferentes
quando ao meio que veiculou a notícia, voltando-se mais ao exame do
conteúdo da informação para emitir seu juízo a respeito do assunto. Esse é o
caso da entrevistada que se posicionou a respeito da criminalidade pautandose apenas pelo conteúdo da notícia e afirmando que os meios de
comunicação não interferem em suas opiniões.
“(Se fosse divulgada pela Rede Globo) eu também me
manteria com a mesma opinião, porque foi o que eu falei,
notícia só vai mudar de canal, mudar de emissora, a
notícia é a mesma, eu acho que o problema vai continuar
sendo o mesmo. Na Globo eu também me manteria com a
mesma opinião. Independente dela estar na Record, acho
que eu pensaria desse jeito, continuaria pensando desse
jeito. Porque eu acho que falando da criminalidade, de
bandido, eu acho que não é porque passa numa emissora,
que nas outras o bandido vai ser visto de outra maneira.
Acho que bandido e criminalidade é visto do mesmo jeito
em qualquer emissora, em qualquer jornal. Eu continuaria
pensando desse jeito, porque não é porque a notícia está
em todas as emissoras, no alto falante, no rádio, no jornal,
que ia mudar alguma coisa, a notícia é a mesma. Essa
notícia aí da justiça, eu acho que na Record, no SBT e até
na Globo, essa é a minha opinião” (Mulher,33 anos, nível
superior completo, classe B2).
A rastreabilidade das informações e fontes utilizadas mostrou
ser a mídia a principal referência e, em segundo lugar, as conversações com
pessoas próximas. As conversações com familiares, amigos e pessoas do
círculo de relações pessoais, mostraram-se relevantes nos casos em que as
pessoas são escassamente informadas, pouco apropriadas da política. Para
100
estas pessoas o círculo de relações pessoais inspira mais confiança. São os
casos daqueles entrevistados que assistem TV e levam em consideração as
informações recebidas, mas as consideram insuficientes para sedimentar sua
opinião.
“A televisão vai mostrar ali a imagem, o perfil lá do político,
acho que é isso; apesar de eu não me ligar, mas se eu
tiver que ter uma opinião, eu vou assistir ali, depois se eu
tiver que pesquisar, pra mim, é a televisão e depois a
Internet. Através de conversas (firma posições). Pessoas
que eu confio, que já viveram essa situação, acho que a
conversação ia formar mais, ia ajudar mais a formar minha
opinião” (Mulher, 33 anos, nível superior incompleto,
classe B2).
“No meu caso, eu não me interesso muito por esse
assunto (política), o pouco que eu vejo e ouço geralmente
é a televisão. Para mim é mais importante a conversação
com as pessoas. E não com muita freqüência, geralmente
com meu pai eu tenho esse tipo de conversa. Eu só
conversei sobre o governo federal, foi com meu pai e
assisti televisão, e a partir daí comecei a formar alguma
opinião e a televisão não passou credibilidade, eu não
tenho interesse na política, e por isso não sei, mais eu
assisti alguns debates e não me passou credibilidade, eu
ouvi algumas coisa, mais foi só” (Mulher, 16 anos,
segundo grau incompleto, classe C1).
Foi
atribuída
grande
relevância
e
credibilidade
aos
comentaristas, colunistas, apresentadores, repórteres e blogueiros que
emitem opiniões sobre os assuntos políticos e governamentais. Aqueles que
não dominam os termos especializados da política e são relativamente pouco
apropriados, particularmente, são os que mais se valem destas referências
como mecanismo para formação de opinião. Alguns jornalistas são
considerados confiáveis porque não costumam se posicionar, passando a
imagem de isenção. Outros são apreciados pelo oposto, porque expõem
suas opiniões com contundência. Alguns comentaristas construíram uma
trajetória de credibilidade possuindo hoje um público cativo como é o caso de
101
Boris Casoy. Quando a notícia é apresentada pelo comentarista em que o
entrevistado confia, a credibilidade é total. Quando se soma credibilidade do
apresentador à ampla aceitação da emissora e do programa, a aceitabilidade
é ainda maior. É o exemplo do Jornal Nacional da Rede Globo, conduzido por
William Bonner e Fátima Bernardes.
“Um repórter que fala bastante sobre política é o Lasier
Martins da RBS de Porto Alegre. Gosto dele porque ele
fala, bota a cara ali na TV e fala, não está nem aí”
(Homem, 30 anos, segundo grau completo, classe C1).
“Jô Soares porque ele é um profissional que pega desde a
fofoca até a notícia mais séria e ele não tem medo, ele
leva para a mídia a verdade mesmo. Marília Gabriela e
Arnaldo Jabbor” (Mulher,43 anos,superior completo,C2).
“Arnaldo Jabor, Boris Casoy, Alexandre Garcia, Mainard,
Caio Bindler, Mônica Waldvogel. Todas do Saia Justa, a
Maitê Proença. Como o programa é deles e eles vendem
para a Globo eles tem independência. Os que mais
influenciam na formação da minha opinião são o
Alexandre Garcia, Arnaldo Jabor e o Boris Casoy, que
pelo fato de estar na TV aberta eu não olho muito, mas
gosto muito dos comentários deles. O programa da Marília
Gabriela é muito bom, gostava do Jô (Homem, 44 anos,
nível superior completo, classe B2).
“Eu acreditaria mais, porque no caso quem tá dando a
notícia é Boris Casoy, né? Um jornalista de renome no
país, e a gente acredita nas notícias e nas opiniões que
ele dá. Já criou credibilidade com o povo brasileiro. Eu
concordo com a opinião dele, em gênero, número e grau”
(Homem, 40 anos, fundamental incompleto,classe C2).
“Boris Casoy acho que influencia muita gente, o Mauricio
do GNT que fala de bolsa, a do Jornal do Brasil de manhã
economia e política, a Miriam Leitão” (homem, 32 anos, 2º
grau completo, B2).
“Em jornalismo, Boechat, Joelmir Betting, Márcia Peltier,
Leda Nagle, o jornalista do programa Roda Viva e os
102
políticos Marina Silva, o Ministro da Saúde, Gabeira,
Heloísa Helena. Cada um a seu modo, quando vem a
público pra expor suas idéias, eles as colocam de forma
que aquilo ali me chama atenção e dentro do que eu
penso, vem de encontro às minhas idéias e forma também
a minha opinião pra determinados assuntos” (Mulher, 36
anos, nível superior completo, classe B2).
“Eu gosto muito do Boris Casoy e na Fátima Bernardes
(concorda) mais com o Boris Casoy. São pessoas idôneas
que estão passando informações não só para mim ou para
minha região, mais para todo o mundo” (Homem, 27 anos,
segundo grau incompleto, classe C1).
“Eu sempre gosto de escutar a opinião do Ronaldo Porto
(político local que apresenta um jornal bem popular),
porque ele passa uma segurança” (Mulher, 31 anos,
segundo grau incompleto, classe C2).
“Roberto Cabrini, Caco Barcellos, Eduardo Suplicy, Aloísio
Mercadante, Heloisa Helena, Aécio Neves, Luciano Huck.
Costuma concordar com as opiniões de Fernando Mitre,
porque ele é muito coeso muito critico, ele sempre procura
colocar assim: ta aqui oh! você população, você acha que
isso é certo? Tem sensatez e imparcialidade” (Homem, 37
anos, segundo grau completo, classe C1).
“Arnaldo Jabbor. Ele realmente tem uma forma de colocar
as palavras, que faz a gente pensar de maneira mais
ampla. Concordo com Arnaldo Jabbor” (Homem, 26 anos,
nível superior incompleto, classe B2).
“Com analistas (concorda) porque eles não vão inventar a
notícia. Boris Casoy parece que é um cara bem entendido
Na rádio Márcio Dotti. Concordo mais com Alexandre
Garcia e Boris Casoy. Acredito mais no Alexandre Garcia
por ele ter trabalhado em rádio, televisão, por ser
reconhecido dentro e fora do país. Porque a gente vê eles
falando doa a quem doer. Coloca o dedo na ferida. São
pessoas estudadas, certo? e por isso as pessoas acabam
confiando mais” (Homem, 21 anos, segundo grau
completo, classe C2).
103
“Não é muito de guardar nome, mas confia no pessoal da
CBN, no Heródoto Barbeiro. Eles são esclarecidos e
imparciais com relação à política. Como ele confia, ele
acaba concordando com as opiniões deles” (Homem, 47
anos, nível superior completo, classe B2).
“Eu gosto do Carlinhos do Esporte que todos os dias ele tá
na rádio Terra e ele têm momentos que ele vai atrás, a
gente liga né, mostra o problema pra ele, depois ele
mostra no olha o problema tal, a gente tá cobrando da
prefeitura. Tem outro repórter (Adolfo Campos) mas não
lembro o nome dele, é da rádio Difusora, porque o que
tiver que falar ele fala, independente de ser uma pessoa
influente ou não, pode ter feito horrores no passado, mas
se hoje ele tiver fazendo alguma coisa boa ele fala. Eu
acho que de uma maneira direta mesmo, principalmente
do Adolfo Campos, às vezes eu tô na dúvida, mas aí
aquele assunto tá, o ano que vem mesmo já vai começar,
ele fala assim olha fulano faltou tantas vezes nas sessões
da Câmara, toma cuidado com tal fulano, aquele que
desviou verba, aquele que votou num projeto que vai
prejudicar o trabalhador. Então eu acho que ele tem uma
importância grande na minha opinião” (Mulher, 35 anos,
segundo grau completo, classe C2).
“Raimundo Varela, tem Boris Casoy, aquele também da
Record Marcos Hummel. Prefiro mais o Raimundo Varela,
as opiniões dele é que valem. Tem aquele menino que faz
o Jornal das sete, Jeferson Beltrão. Concordo com a
opinião de Raimundo Varela sobre política e governo”
(Homem, 40 anos, ensino fundamental incompleto, classe
C2).
“William Bonner e Fátima Bernardes, por eles trabalharem
a muito tempo com isso, passando informações corretas.
E porque o Jornal Nacional é o programa mais importante
da televisão, de uma forma geral. Varela, eu acho que ele
quer a justiça, eu acho que ele quer mostrar sempre o que
está errado. Ele fala brigando. (concorda) Com William
Bonner e Fátima Bernardes, porque eles têm que passar
pra gente as informações certas e justas. Eles tão ali pra
gente se espelhar neles, entendeu? A opinião deles têm
que ser o mais correto possível porque é tipo uma forma
de a gente se espelhar neles. Como eu não gosto de
104
política, eu acho que eles me incentivam a aceitar a
opinião deles sobre política e governo. Eles me
influenciam a gostar daquilo que eles gostam” (mulher, 21
anos, nível superior incompleto, classe B2).
“Dr. Drauzio Varela, as coisas que ele passa, transmite, eu
acho que você pode confiar, porque eu acho que são
reportagens muito boas, que aproveita. No jornal da
manhã da Globo, (concorda com) um outro jornalista que
faz comentários junto com Renato Machado.O jeito que
eles se colocam, se posicionam pra falar, pra explicar, eles
falam de um jeito que você possa entender, porque tem
gente que tenta falar com palavras bonitas, mas você não
entende nada” (Mulher, 33 anos, nível superior
incompleto, classe B2).
6.2.2. Juventude
A mídia apresentou-se como a principal fonte de informação
para a formação da opinião da maioria dos jovens entrevistados. A opinião de
pessoas do seu círculo de relações pessoais, como familiares e amigos,
também constituem referências importantes. O mesmo pode ser dito em
relação aos comentaristas, colunistas, repórteres, apresentadores.
A relevância da mídia é tão expressiva que alguns entrevistados
mudam de opinião quando as notícias são comunicadas por meios que lhes
transmitem credibilidade. É o caso do entrevistado que, frente a uma notícia
contrária a sua opinião questiona seu conteúdo em função da referência de
que a mesma havia sido veiculada em um jornal considerado de baixa
credibilidade. Porém, quando mencionado que a notícia fora veiculada por um
meio confiável, o jovem reconsiderou a possibilidade de a notícia ser
verdadeira e, posteriormente, incorporou informações da notícia em sua
argumentação, reforçando a mudança de opinião: “Aí eu poderia acreditar
porque é um jornal mais sério” (Homem, 16 anos, Ensino Médio Incompleto,
Classe C1).
Para
alguns
entrevistados,
repórteres,
comentaristas
ou
colunistas são importantes para a formação de suas opiniões. Os mais
105
lembrados foram os apresentadores do Jornal Nacional. A credibilidade do
meio de comunicação respeitado se transfere em confiança depositada às
personalidades que apresentam as notícias e expõem opiniões ao público.
É o caso do jovem que forma a sua opinião a partir de veículo
de comunicação considerado confiável e dos jornalistas conceituados que
trabalham neste meio. Passou a gostar destes apresentadores em função da
familiaridade pelo acompanhamento do Jornal Nacional com o pai desde a
infância.
“Assistindo televisão, rádio e jornal, você já tem a sua
conclusão formada junto ao que você viu e leu, não
precisa debater na rua com ninguém. (...) Willian Bonner e
Fátima Bernardes, no Jornal Nacional, eles transmitem,
pelo menos para mim, uma confiança muito grande. Eu
vejo eles desde pequeno, porque meu pai era viciado no
Jornal Nacional (...) Jornal é coisa séria, ninguém está ali
pra brincar e as pessoas que estão ali, as notícias que
eles passam ali, são notícias verdadeiras, que você pode
depois tentar averiguar em qualquer outro lugar, que vai
ver que é verdade” (Homem, 18 anos, Ensino Médio
Completo, Classe C2).
Este também é o caso da jovem, que afirma confiar no mesmo
jornal e em seus apresentadores por possuir o hábito de assisti-lo com a
família.
“Eu acredito bastante porque eu fui criada assim, (...) em
ta assistindo o jornal da Globo, então eu acredito muito no
que passa no jornal das 8 na Globo, fui acostumada assim
desse jeito (...) é o jornal que a minha família me ensinou
a ter confiança, não sei se é porque tudo mundo aqui
assisti, se é pela confiança na emissora ou naquele jornal.
(...) Eu não procuro saber se ela é verdadeira ou falsa,
mas se ela passa simultaneamente em cada jornal, em
cada emissora eu me baseio assim de que seja
verdadeira, se a emissora ta passando: ela é verdadeira
(...) Eu diria que em quem confiou bastante (...) no Willian
Bonner e Fátima Bernades do Jornal Nacional, pelo tempo
deles estarem nesse ramo e as pessoas acharem legal o
106
que eles fazem” (Mulher, 16 anos, Ensino Médio
Incompleto, Classe B2).
Outros jovens consideram que a opinião de pessoas próximas,
como colegas de trabalho, amigos e parentes são mais confiáveis do que as
informações transmitidas pela mídia. No entanto, isto não reduz a importância
que estas pessoas atribuem aos meios de comunicação.
“Eu acho que com as pessoas com quem trabalho ou
meus familiares, a credibilidade da informação pesa
sessenta por cento a mais do que em relação à mídia”
(Homem, 19 anos, Ensino Médio Incompleto, Classe C2).
Em geral, os entrevistados manifestaram que tanto a mídia
quanto a opinião de outras pessoas são importantes para a formação de suas
opiniões. O principal observado é que as informações devem coincidir com os
elementos do esquema perceptivo da pessoa que recebe a informação.
“Considero um pouco de cada porque tem parte dos
assuntos que eu acredito mais no que diz na TV e tem
partes que o que as pessoas falam parece ser mais real, é
uma mistura dos dois então. (...) Nessa história da gripe
agora na TV falam muito que está parando, mas não sei
se acredito muito, acho que acredito mais nas pessoas
que falam que está cada vez tendo mais casos de gripe,
há pessoas que dizem conhecer alguém que está com a
gripe. (...) Considero mais as notícias da Rede Globo, mas
nada que seja muito relevante para eu me posicionar a
favor ou contra” (Mulher, 19 anos, Ensino Superior
Incompleto, Classe B1).
Assemelha-se também o caso do jovem que indica que, apesar
de consultar diferentes fontes de informação e todas surtirem efeitos sobre
sua opinião, é a partir de seus próprios critérios que irá selecionar o que lhe
parece verdadeiro.
107
“Ah eu acho que tudo influencia num pouco. Porque você
escutando na mídia você vai se comunicar com as outras
pessoas, às vezes, ai vai tudo aquilo lá influenciar. O que
você ta escutando, põe em prática conversando. (...) A
mídia é o principal porque eu escutei de lá primeiro. (...)
(Formadores de opinião) William Bonner, Fátima
Bernades, eu acho eles muito profissionais. (...) Eu não
vejo do começo ao final, mas eu acredito nos dois no que
eles estão falando lá, no que está acontecendo no mundo.
(...) A gente sempre tem uma noção do que eles estão
falando, lógico que você sabe que aquilo ali pode ser
verdade, como pode ser mentira. Depende, varia de cada
caso que acontece. Uma decisão de mim, depende de
cada conversa, você tem uma certeza, que se aquilo ali é
verdade, é de você mesmo, você sabe se é verdade ou se
não é. De acordo com o que conversa, com que ouviu
falar, é um critério de você mesmo” (Homem, 23 anos,
Ensino Médio Incompleto, Classe C2).
Jovens com posicionamentos mais críticos em relação à mídia
atribuem-lhe menor relevância na formação de suas opiniões. Em geral,
buscam
argumentar
contrariamente
às
informações
que
lhes
são
transmitidas. É o caso do jovem posicionado à esquerda no espectro político,
que possui baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação e atribuí
precariedade às informações veiculadas. Afirma que chegou as suas opiniões
através de conhecimentos que adquiriu na escola e nos livros de história,
relacionando-os com as notícias veiculadas pela mídia. Para ele as
conversas e vivências são mais importantes, pois “é a realidade”.
“O jornal tenta te convencer que tu que tá errado, que tu
que tem que se qualificar e não põe a culpa no sistema
econômico (...) é o sistema na verdade que é injusto, e
não dá oportunidades para todos e só visa o dinheiro e a
televisão não fala que é isso, sempre põe a culpa na
própria população. (...) (Mais importante para a formação
da sua opinião) Com certeza, a conversação, pois é a
realidade. (...) Por exemplo, o governo vai informar dados
de que a pobreza está caindo, mas o que a gente nota é
que a saúde, educação ta piorando, a realidade é
108
diferente” (Homem, 21 anos, Ensino Médio Completo,
Classe C1).
6.3. Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos
A rastreabilidade das informações obtidas e a simulação da
reação às notícias hipotéticas apresentadas possibilitaram delinear as
principais lógicas utilizadas para a interpretação dos acontecimentos
políticos. A experiência política anterior e a percepção geral do mundo
político também se mostraram relevantes para o delineamento das lógicas
utilizadas.
6.3.1. Classe Média
De modo geral, o conteúdo de uma notícia é aceito quando se
enquadra razoavelmente nos esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles
consideram verdadeira a notícia que apresenta elementos compatíveis com
os blocos pré-estruturados de idéias que explicam as características do
mundo político. Por isto, são amplamente aceitas, as notícias de escândalos
políticos costumeiramente divulgados pela mídia. A política e os políticos são
vistos como desonestos e corruptos. A notícia de um novo escândalo moral
no cenário político é facilmente incorporada, pois se ajusta perfeitamente ao
esquema perceptivo pré-existente.
A lógica utilizada para atribuir veracidade a uma informação
divulgada se encontra, em grande parte, associada ao modo de perceber a
política. A percepção da política é afetiva quando o posicionamento favorável
ou contrário a um conteúdo é definido em função de critérios afetivos, seja
em relação aos agentes envolvidos na disputa ou à pessoa de referência
(familiar, comentarista) que se posicionou sobre o assunto. No primeiro caso,
trata-se de uma posição própria em função de critério afetivo. No segundo
caso trata-se de uma atitude seguidista. É o caso da entrevistada que não
109
gosta de política, não se envolve, não participa, é de família petista, se
considera de esquerda e segue a orientação materna no que se refere à
política. Trata-se de uma lógica afetiva com tendência seguidista. Não possui
claros determinantes de ordem política, antes se caracteriza pela ausência
deles.
“Minha família sempre foi PT, porque eles olham muito os
de baixo, sabe? Os pobres, o desemprego, Fome Zero.
Então eles sempre foram PT. Minha família toda. Por
conta que o PT falava muito em ajudar aquele lado mais
pobre, aquele lado de falta de emprego, ajudar os Estados
que estão mais em decadência. Lula era visto como um
bom político, que se preocupava com essas questões.
Antonio Carlos Magalhães era visto como um mau político.
Foi em Lula (o primeiro voto), foi quando ele se elegeu.
Votei nele mais por causa de minha família, ouvi a opinião
de minha família e achei que Lula era a melhor opção.
Como eu não gosto de política, nenhum voto foi com
vontade. Mas esse foi o que eu dei com mais certeza,
porque todo mundo falava, que ele precisava ser eleito.
Como ele vinha de baixo, ele ia fazer muito pra população
em geral. Minha mãe pergunta em quem eu vou votar, e
me incentiva a votar em quem ela vai votar. Eu sou do
lado esquerdo, do 1, né?” (Mulher ,21 anos, nível superior
incompleto, classe B2).
Outro caso de lógica afetiva seguidista pode ser observado no
entrevistado de família malufista. Desde a infância o pai incentivava os filhos
à política e a adesão ativa aos seus candidatos. Percebe-se certa confusão
na fala do entrevistado, que pode ser entendida como incoerência política,
que pode estar correspondendo à relativo distanciamento e a possível
autonomia em relação à família ou ainda ao desgaste deste político.
“Minha família é malufista (...) Meu pai era viciado, ele
dizia: vai ter debate! E comprava até pipoca.Votei pra
governador, no Maluf. (...) Talvez por causa do lance do
Maluf eu nunca fui do partido da oposição que é PT,
aqueles partidos que saíram meio do comunismo, PT, o
110
PTB né da esquerda. Entendo que da esquerda são mais
aqueles partidos que nasceram mais do comunismo, PT,
PC do B, não me identifico com eles. (...) Os da direita são
mais ligados ao capitalismo, mas também acho que é de
criação do meu pai, ele teve influência, Maluf. Acho que
me sinto mais agradável, tem mais a minha cara, o outro
acho que é muita oposição, ligado a comunismo, que nem
os Sem Terra ligado a revolução, meio classe pobre, mas
não é por causa de classe não é isso, mas comunismo
nesse sentido ah a gente vai revolucionar, tirar aquele
partido da classe A que sempre foi do Maluf, do Covas,
considerados partidos da classe A, da classe B e C são
esses ai PT, do povo, eles denominam assim. Já votei no
Lula. (...) No do Maluf, o que o Maluf tivesse, gosto muito
do Maluf. Não importa o partido que o Maluf tiver, é pela
pessoa não tanto pelo partido, mas a gente votou no Pitta
porque ele era do Maluf”. (Homem, 32 anos, nível superior
incompleto, classe B2).
A percepção da política é moral quando os julgamentos dos
agentes políticos e das propostas em disputa são feitos a partir de critérios
morais. Isto implica em escolher um candidato em função da sua conduta
moral, em defender uma proposta em função de uma avaliação moral do
problema ou pelo fato da mesma estar sendo sustentada por agentes
políticos considerados moralmente inatacáveis. O depoimento a seguir
descrito exemplifica o caso de uma defesa de posições a partir de
pressupostos morais.
“Está desempregado quem quer, pois trabalho existe em
todos os níveis, eu já tinha falado que a Bolsa Escola e a
Bolsa Família acomodou as pessoas na forma de viver
com a miséria à medida que a Bolsa Escola e Bolsa
Família não exigiram cursos de qualificação. A maioria das
pessoas não procura emprego enquanto não vence a
última parcela do seguro desemprego.Essas doações me
irritam na medida em que as pessoas se tornam
preguiçosas. Vejo que emprego formal tem, toda semana
no Sine sai uma folha de jornal de vagas. A maioria dos
jovens hoje está nas drogas porque quando vai para o
111
colégio sabe que vai se formar e não vai ter emprego na
região dele então é uma bola de neve. Antes as famílias
eram mais cobradoras com seus filhos, os pais tinham
mais compromisso com a família e de repente liberou
geral e a liberdade virou libertinagem e a criminalidade foi
gerada dentro das casas, foi facilitado ao encontrar uma
polícia corrupta. Se você ver o magistério, que é um setor
que eu particularmente queria abraçar, os professores são
muito folgados, eles têm direitos, mas não têm obrigações
compatíveis com seus direitos porque um professor a
qualquer momento mete um atestado de 30 dias e se
afasta da escola e nem sempre por doença, às vezes são
casos tipo morreu a mãe, quando meu pai faleceu eu fui
no velório e no outro dia estava trabalhando. O funcionário
acha que está com depressão, acha que entrou num
esgotamento e aquele atestado vem e não querem saber
se vai ter alguém para substituir e eles têm o amparo legal
para fazer isso” (Mulher, 43 anos, nível superior completo,
classe C2).
A percepção da política é política quando as leituras dos
acontecimentos e as posições sobre os agentes e as propostas em disputa
são decorrentes de critérios políticos e racionais. Isto é, quando uma pessoa
defende uma proposta em função desta estar de acordo com o seu
posicionamento político ou dos seus interesses individuais ou grupais. A
interpretação da veracidade de um conteúdo é política quando a notícia é
julgada através de um raciocínio lógico e coerente. É o caso de entrevistado
coerente com sua filiação partidária, que apresenta raciocínio compatível com
as idéias que defende sobre acontecimentos relevantes para o país, como
opinião sobre notícias ouvidas sobre a crise econômica e posição sobre a
pena de morte.
“Eu acho que (centro esquerda) por que eu não me
considero tão radical nas minhas ideais sobre política. Eu
acho que me consideraria um social-democrata. (...) O que
ouvi nos telejornais foi que agora os países atingidos pela
crise financeira já estão começando a reagir e que graças
as atitudes que o governo Lula tomou durante a crise para
estimular as compras e reduzir as taxas de juros surtiram
112
efeitos para diminuir o impacto no comercio e na indústria
brasileira e com isso evitar mais problemas, como o
desemprego. Sou contra (a pena de morte) por que aqui
no Brasil nos não vamos saber lidar com esta punição pois
não temos um justiça rápida nem imparcial, como deveria
ser (entrevistas iniciais) Eu realmente iria me preocupar
com o assunto iria começar a buscar mais informações
sobre o assunto, pois como já disse anteriormente a pena
de morte aqui no Brasil , teria que ser pensada e
repensada por muitos estudiosos, juristas e pessoas
ligadas diretamente a ONGs de defesa do ser humano,
para que pudesse ver os dois lados da moeda ,ou seja os
prós e os contras” (4ª entrevista) (Homem, 27 anos,
segundo grau incompleto, classe C1).
A percepção da política é clientelística quando o raciocínio
utilizado é orientado fundamentalmente pela percepção dos benefícios
imediatos tangíveis que o entrevistado poderá obter através da posição
assumida. A defesa de um agente político ou de uma proposta, nestes casos,
está orientada pela lógica do benefício individual imediato que pode ser
resultante da ação. Assim, a lógica clientelística também é motivada por
interesses. Contudo, diferencia-se substancialmente da lógica política, uma
vez que o atendimento de interesses imediatos pode levar a mudanças de
posição não explicáveis, indicando incoerência do ponto de vista da lógica
política. É o caso do entrevistado apoiador de candidato que promove ampla
assistência a seus adeptos antes e depois de eleito. A força deste vínculo,
entretanto, não foi suficiente retê-lo no campo político do candidato.
“Um político em quem votei com gosto, votei na pessoa
porque era uma pessoa que ajudava os outros foi esse
deputado que depois tentou para prefeito “Josep
Fernando” porque ele a gente via que falava na rádio, não
lembro o partido, ele tinha uma rádio comunitária e sempre
ajudava as pessoas. Ele pegava o próprio carro para levar
as pessoas a hospitais, depois a gente ouvia elas
agradecendo na rádio, ele fez um restaurante comunitário
e pedia doações na rádio, mas a secretaria da saúde
113
cortou o restaurante dele e muita gente matava a fome ali.
Foi uma das únicas pessoas que votei com gosto, a gente
via ajudando mesmo depois de eleito. O maior desgosto
foi que eu simpatizava bastante com o Marroni votei nele e
ele perdeu para o Fetter. Uma pessoa que está dando
muito certo aparentemente é o Lula porque na crise que o
Brasil estava, devedor e ele conseguiu amenizar. Ele
prometeu que aumentaria o salário e fez. É uma pessoa
que admiro, gosto bastante do Lula” (Homem, 30 anos,
segundo grau completo,classe C1).
Houve também os casos de ausência de lógica ou da utilização
de
critérios
confusos,
precários,
aparentemente
erráticos,
pouco
compreensíveis ao interlocutor. É o que ocorre quando os blocos
estruturados de idéias do esquema perceptivo do entrevistado são
internamente contraditórios ou quando critérios de natureza diferente são
utilizados alternadamente ou de forma estranhamente combinada para a
interpretação das notícias e acontecimentos do mundo político. Nestes casos
não se pode se referir propriamente à lógica. Uma definição mais precisa
corresponde ao termo confusão. É o caso de entrevistado cujas lógicas,
afetiva, moral e clientelística se confundem construindo um discurso
desorganizado e por vezes caótico do ponto de vista político.
“Foi só dar uma força, porque meu pai vivia
nesse meio, conhecia muita gente, oh
Severino você conhece muita gente me dá
uma força pra mim. Ai ah um votinho aqui
outro ali, eu vou te ajudar. Eles eram amigos,
ele ajudava o pai dele. Ah to precisando de
uns materiais pra construir minha casa, ai ele
ia lá e arrumava, dá uma força pra mim.
Justamente, por isso, é como é que eu falo, eu
desanimei, não vale a pena não. Não vale a
pena porque o que você faz, você pensa que
talvez você vai ser ajudado, não que você ta
cobrando. Agora se você promete você tem
que cumprir, promessa é divida. Agora eu não
posso te cobrar. Você que tem que cair em si
que você prometeu, ah então vou ali cumprir
isso porque eu prometi pra fulano” “
114
“Eu sou a favor da reforma política. Eu sou
mas é complicado, porque quem entra na
política é complicado, você entra na política e
não quer ser uma pessoa corrupta, então você
entra na política com esse pensamento, a
partir do momento que você chega na política
você é obrigado a mudar, por que, porque as
pessoas que estão lá a mais tempo vai te falar
ou você faz isso ou então, você... Entendeu.
Ou você não serve pra política, ou como se
diz, você está fora. Não adianta chegar com
essa idéia de mudar, teria que ser um todo.
Um todo seria trocar tudo. Trocar tudo, todos
os políticos e você sabe que isso não é
possível, porque quem permanece na política
é quem tem mais tempo de política. Quem é
jovem tem que começar engatinhando.
Quando ele chegar a ser alguém na política, ai
se torna uma pessoa corrupta, ignorante.Tinha
que mudar o pensamento deles, mas as
regras
quem
fazem
são
eles.
Centro(considera-se) e agora por quê? Agora
você me apertou. Uai porque o centro significa
uma pessoa centrada, atento aos fatos
entendeu e eu sou atento aos fatos eu gosto
de, eu gosto, gosto de, perai deixa ver se eu
consigo. Eu gosto de me centralizar nos
acontecimentos, nos fatos, você entendeu,
gosto de pensar bem, refletir, analisar,
conversar, então eu acho que isso é bom,
então por isso que eu sou o centro. Não é
muito bem isso não mas tá bom. Ah eu me
considero como um conservador entendeu, a
gente também não pode ser liberal assim não,
hum, tem que ser um pouco mais conservado.
É liberal seria aquele cara que não importa
com nada praticamente uai, pensa de uma
forma, mas age de outra. Agora eu seria o
conservador, porque tem momentos que você
tem que se conversar, por exemplo, tem
momento que realmente você tem que parar
pra pensar, antes de fazer, pra não fazer
nenhuma bobeira. Então eu acho que seria
conservador.”(Homem, 30 anos, ensino médio
incompleto, classe C1)
Portanto uma tipologia das lógicas utilizadas possibilita discernir
em cinco modelos principais (utilizados de forma exclusiva ou combinada
115
pelos entrevistados) que correspondem às lógicas: política, moral, afetiva,
clientelística ou confusa.
6.3.2. Juventude
As lógicas presentes na interpretação dos acontecimentos entre
os jovens se apresentaram de forma pouco clara. Em relação do segmento
de classe média, observou-se, entre os jovens, idéias e posições mais
confusas.
Por vezes, a mesma pessoa utilizou lógicas distintas para
interpretar os fatos. Poucos são os jovens que apresentaram raciocínio
coerente.
No caso do jovem a seguir mencionado, estão presentes em
seu raciocínio as lógicas afetiva e moral. As motivações de sua posição
política se explicam a partir da lógica afetiva. Este jovem segue padrões
familiares nas suas escolhas políticas. Já na percepção do mundo político,
está presente a lógica moral. Ele avalia os políticos como ladrões que
pensam apenas em si.
“Minha mãe tem preferência pelo PT, daí eu também,
devido ao PT oferecer melhores propostas, não se voltar
só para as pessoas mais ricas e sim voltado para ações
sociais, para os pobres. (...) Porque não adianta fazer
nada. (...) Acredito que o poder corrompe as pessoas, com
dinheiro, quase todo político rouba. Querendo ou não,
alguns roubam mais outros menos. (...) Deveriam colocar
homens mais sérios, honestos, que não pensassem nos
seus bolsos, que olhasse para a população de forma
igualitária” (Homem, 19 anos, Ensino Médio Completo,
Classe C1).
A lógica moral também está presente na percepção política
negativa da jovem de 20 anos, que acredita que, independente das pessoas
que ingressam na política, estas agem de forma corrupta, desviando verbas e
fazendo promessas que não cumprem. Apesar de muito bem informada sobre
assuntos em geral e com uma posição de mundo crítica, a jovem não se
envolve com política por discordar da forma como os políticos agem.
116
“(...) a cada novo representante nosso, sempre acontece
as mesmas coisas, a corrupção não diminui, o desvio de
verbas, isso nunca deixou de existir, é as promessas, é „eu
prometo, eu prometo‟, fica só na promessa né, porque
não é cumprido..a decepção é essa que toda vez se
repete a mesma estória” (Mulher, 20 anos, Ensino
Superior Incompleto, Classe B1).
Da mesma forma, o jovem de 18 anos, que possui desgosto por
política, interpreta a política moralmente, por acreditar que nas eleições os
políticos mentem para conquistar votos. Apesar de possuir moderada
apropriação política, é incoerente do ponto de vista político, pois não
entende, não sabe se definir politicamente e troca os termos nas suas
indicações.
“Quando penso em política eu penso em eleições e penso
em pessoas mentindo para o povo para disputar um cargo
público. (...) (Auto-definição) Liberal, é assim pode fazer o
que quiser, como quiser... (...) De esquerda (...) Sou
normal. Na época da eleição vou lá, dou uma olhadinha no
candidato mais interessante, me informo mais ou menos
sobre o que ele está fazendo, qual é sua proposta de
governo... (...) (Preferência partidária) PV, Porque é o
partido que tem em meta cuidar do meio ambiente”.
(Homem, 18 anos, Ensino Médio Completo, Classe C2).
A lógica confusa verificada na interpretação dos acontecimentos
do jovem a seguir descrita perpassa as lógicas afetiva, clientelista e moral. As
suas motivações políticas, os fatores explicativos para seu posicionamento
político, são afetivos e clientelistas, já a sua percepção do mundo político é
moral.
“(Preferência partidária) PT, porque minha família tá
sempre falando dele, minha mãe, meu padrasto que está
sem conversar comigo, não sei nem por que, sempre tá
conversando. (...) Pra pensar por um lado, (simpatizo com)
todos (os partidos) melhor dizendo, porque todos tem um
candidato certo, sempre tem um candidato, porque se eu
117
falar só um, não dá, porque sempre tem outros partidos
dentro da política (...) Os políticos prometem uma coisa e
não fazem, isso é muito errado até hoje, porque muitos
prometem e não faz (...) tem muita sinceridade na política
hoje em dia. De dez políticos eu acho que um é sincero.
(...) Já (participou) ajudando uma vereadora a se
candidatar, ela era, ela trabalhava no, (...) no mercado
novo, ela trabalhava lá. Direto eu ia lá visitar ela, ela
sempre me encaminhava pra algum lugar pra estudar,
alguma coisa assim, ai ela se candidatou, ela me pediu
pra ajudar ela, entregar santinhos, essas coisas, ela me
pediu pra ajudar ela a se candidatar. Ai foi nesse período
que eu entrei na política e aprendi muita coisa” (Homem,
20 anos, Ensino Médio Completo, Classe B2).
A utilização da lógica política para interpretar os acontecimentos
foi escassamente observada entre os jovens entrevistados.
É o caso da
jovem de 24 anos, que apresenta apropriação politicamente e é bastante
informada sobre os assuntos políticos.
“Muito pouco eu me lembro de ouvir falar de política
quando criança, mas agora jovem eu vejo muito, gosto
muito de jornal, estou sempre olhando os programas do
governo para saber se de repente eu não posso me
enquadrar (em algum programa social). (...) (Percepção da
política) Hoje o que vejo é muita bagunça, a gente vê na
TV os caras até se agredindo dentro do Plenário, acho
isso uma pouca vergonha. (...) Política é nós no poder,
eles fazem por nós, é a nossa voz lá, mas acho que ela
ainda não é passada de forma correta pra lá. Através dos
nossos prefeitos que levam até o estado e devem levar
até o presidente, só que até chegar lá as coisas já não
ficam da forma que a gente quer, acho que a política no
Brasil ainda é bem fraca. Não digo que é fraca pelo
governo porque o governo sozinho não faz nada, ele
precisa da ajuda dos outros governantes, dos prefeitos,
vereadores, deputados, todos eles são o governo, eles
têm que levar lá porque como é que o Lula dizer „vou fazer
isso aqui lá em Pelotas‟, é tanta cidadezinha no Brasil,
como é que ele vai saber que lá em Pelotas estão
precisando de remédio nessas farmácias municipais
gratuitas, se o prefeito não passa para o governador e o
118
governador não passa pra ele então não vai ter nada
nunca. Tem que haver uma comunhão deles e está
faltando muito isso, mas pode melhorar, um dia vai... (...)
Eu sou consciente de tudo o que acontece, sou consciente
do que acontece na política e me acho super por dentro
perto de outras pessoas que não estão nem aí para
política; me acho bem interessada no assunto porque
querendo ou não a política influi totalmente na nossa vida,
ela está na nossa vida a todo o instante, através da
política existem decisões que vão nos afetar de certa
forma”. (Mulher, 24 anos, Ensino Superior Incompleto,
Casse B1).
Outro jovem que utiliza a lógica política para interpretar os
acontecimentos possui apropriação política e um posicionamento mais crítico.
É o caso do jovem posicionado à esquerda, coerente politicamente e que
busca se informar através da mídia. Ele possui um posicionamento crítico e
baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação, pois acredita que as
informações transmitidas são precárias e pouco confiáveis. Formula suas
opiniões através de conhecimentos que adquiriu na escola relacionando-os
com as notícias veiculadas.
“(Percepção da política) Quando se trata de debater
assuntos que visem o bem comum, sim, gosto (de
política). (...) (Sou) um cara que gosta da maioria, eu
simpatizo com a causa da reforma agrária, da reforma
urbana, com aquela galera que pede do governo federal o
cumprimento da Constituição (...) o pessoal que quer
maior qualidade de vida (para a população). (...) é que
eles (a mídia) só contam um lado da história, o lado dos
empresários (...) quando há um conflito entre a elite e a
galera explorada sempre contam que o lado empresarial é
que é certo, como por exemplo, a invasão de terras (...) a
Band é totalmente a favor dos grandes fazendeiros e
proprietários de terra (...) sempre é parcial. (...) Eu viso
assim ... quase todas as informações são filtradas, eu
vejo, assim, mais para observar a intenção do jornal (...)
mas eu sei que é tudo balela, contam só um lado da
história. (...) Por exemplo, eles estavam dizendo assim, é
119
um luxo o governo, antigamente era o Brasil que
emprestava dinheiro do FMI, hoje é o Brasil que ta
esnobando o FMI. Eu acho isso um absurdo! E no final o
apresentado não comentou nada. Porque a gente sabe
que tem uma população de miseráveis e enquanto essa
população ta aí, sem nada, o governo tá dando dinheiro
para o FMI, mas isso ninguém comentou, isso é visto na
mídia como algo favorável, algo bom. (...) (Política é) Briga
de interesse. Na política é difícil ver uma pessoa brigar
pelo interesse coletivo, apenas pelo interesse próprio. (...)
Deveria ser que todos buscassem o bem coletivo, a
diminuição da pobreza, o maior numero de pessoas tem
que estar bem... e como é que as pessoas ficam bem,
com terra, com dinheiro, com a sua casa” (Homem, 21
anos, Ensino Médio Completo, Classe C1).
120
7. Subsídios para o questionário da fase quantitativa
7.1. Sugestões de perguntas para o questionário da fase
quantitativa
1. Características sócio-demográficas
1.1. Sexo
1.2. Idade
1.3. Estado civil.
1.4. Escolaridade
1.5. Renda mensal individual
1.6. Renda mensal familiar
1.7. Ocupação
2. Trajetória social
2.1. Sua remuneração atual é maior ou menor do que aquele que você
recebia no ano passado?
1. Maior
3. Menor
2. Igual
4. NR
2.2. E, em relação aos anos anteriores?
1. Maior
3. Menor
2. Igual
4. NR
2.3. Hoje você se considera mais rico ou mais pobre que em períodos
anteriores?
1. Mais rico
3. Mais pobre
2. Igual
4. NS/NR
2.4. Em relação a sua remuneração atual, você se considera....
121
1. Satisfeito
3. Insatisfeito
2. Mais ou menos satisfeito
4. Não sabe
3. Formação e leitura
3.1. Como era (ou é) o seu desempenho escolar? Costumava tirar
notas/conceitos altos, médios ou baixos?
1. Altos
2. Médios
3.Baixos
4.Não lembra/NR
3.2. Você gosta de ler?
1. Sim
2. Mais ou menos
3. Não
4. NS/NR
3.3. Você gosta de ler notícias sobre programas e benefícios do governo à
população?
1. Sim
2. Mais ou menos
3. Não
4. NS/NR
3.4. Você gosta de ler notícias sobre assuntos políticos?
1. Sim
2. Mais ou menos
3. Não
4. NS/NR
4. Características atitudinais
4.1. Considerando o conjunto dos aspectos da sua vida, você, atualmente, se
encontra mais satisfeito ou mais insatisfeito? Por quê?
1.Mais Satisfeito
3. Mais insatisfeito
2. Nem satisfeito, nem insatisfeito
3. NS/NR
4.2. Você tem conseguido atingir os objetivos que estabelece na vida?
1. Sim
2. Mais ou menos
3. Não
4. NS/NR
3.Não
4.NS/NR
4.3. No seu entender, querer é poder?
1. Sim
2. Pode ser, depende
5. Meios de Informação utilizados em geral
5.1. Você costuma assistir TV aberta?
1. Sim
2. Não
5.2. (Se sim na 5.1.) Qual quantidade média de horas por dia?
1. Menos de 1 hora
4. Mais de 4 até 6 horas
2. De 1 a 2 horas
5. Mais de 6 horas
3. Mais de 2 até 4 horas
6. NSA
5.3. (Se sim na 5.1.) Qual é o canal preferido?
1. SBT
2. Record
4. Globo
5. Band
6. Outro__________
122
5.4. (Se sim na 5.1.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo
na TV aberta?
1. Sim
2. Não
5.5. (Se sim na 5.1.) Lembra de propagandas sobre programas do Governo
Federal na TV aberta?
1. Sim Qual?______________
2.Não
5.6. Você costuma assistir TV por assinatura (a cabo ou satélite)?
1. Sim
2.Não
5.7. (Se sim na 5.6.) Qual quantidade média de horas por dia?
1. Menos de 1 hora
4. Mais de 4 até 6 horas
2. De 1 a 2 horas
5. Mais de 6 horas
3. Mais de 2 até 4 horas
6. NSA
5.8. (Se sim na 5.6.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo
na TV por assinatura?
1. Sim
2. Não
5.9. Em sua casa o sinal da TV é captado por meio de....
1. Antena parabólica
3. Antena de TV por assinatura via satélite
5. Não precisa antena
2. Antena convencional
4. Antena de TV a cabo
6. Outra_______________
5.10. Você costuma ouvir rádio?
1. Sim
2. Não
5.11. (Se sim na 5.10.) Qual quantidade média de horas por dia?
1. Menos de 1 hora
4. Mais de 4 até 6 horas
2. De 1 a 2 horas
5. Mais de 6 horas
3. Mais de 2 até 4 horas
6. NSA
5.12. (Se sim na 5.6.) Costuma acompanhar notícias sobre política e governo
na TV por assinatura?
1. Sim
2. Não
5.13. Você costuma ler jornal?
1. Sim
2. Não
5.14. (Se sim na 5.13.) Quantas vezes por semana em média?
1. 1 vez
5. 5 vezes
2. 2 vezes
6. 6 vezes
3. 3 vezes
7. 7 vezes
4. 4 vezes
8. NSA
123
5.15. (Se sim na 5.13.) Costuma acompanhar notícias sobre política e
governo no jornal?
1. Sim
2. Não
5. 16. Você costuma ler revistas?
1. Sim
2. Não
5.17. (Se sim na 5.16) Qual(is)?
1. Veja
6. Caras
2. Isto É
7. Contigo
3. Carta Capital
8. Nova
4. Época
5. Piauí
9. Outra____________
5.18. (Se sim na 5.16.) Costuma acompanhar notícias sobre política e
governo no jornal?
1. Sim
2. Não
5.18. Você usa a Internet?
1. Sim
2. Não
5.19. (Se sim na 5.18) Você costuma usar em...
1. Casa
4.Lanhouse
2. Casa de amigos/parentes
5. Outro_______________
3. Trabalho
6. NSA
5.20. (Se sim na 5.18) Qual é a freqüência semanal de utilização da Internet?
1. 1 vez
5. 5 vezes
2. 2 vezes
6. 6 vezes
3. 3 vezes
7. 7 vezes
4. 4 vezes
8. NSA
5.21. (Se sim na 5.18) Em média quantas horas por dia você usa a Internet?
1. Até 1
4. Mais de 4 a 6
2. Mais de 1 a 2
5. Mais de 6
3. Mais de 2 a 4
6. NSA
5.22. (Se sim na 5.18) Para qual finalidade você usa a Internet na maior parte
do tempo?
1. Estudo
4. Relacionamento
2. Trabalho
5. Informações
3. Lazer
6. NSA
5.23. (Se sim na 5.19) Você usa na Internet ....
1. Orkut
4. Skype
2. MSN
5. Twyter
3. Google
6. NSA
124
5.24. (Se sim na 5.18) Você costuma ler jornais, blogs ou notícias pela
Internet?
1. Sim
2. Não
3. NSA
5.25. (Se sim na 5.18) Você acompanha as notícias sobre governo, políticas
públicas e política na Internet?
1. Sim
2. Não
3. NSA
5.26. Você costuma conversar sobre política ou governo com pessoas
conhecidas?
1. Sim
2. Não
3. NSA
5.27. (Se sim na 5.25) Com quem?
1. Colegas da escola
4. Amigos
2. Familiares
5. Namorado(a)
3. Colegas de trabalho
6. NSA
5.28. (Se sim na 5.25) Com que freqüência?
1. Todos os dias
4. 1 vez na quinzena
2. 2 a 6 dias por semana
5. 1 vez por mês
3. 1 dia por semana
6. NSA
5.29. Os meios de comunicação são isentos e imparciais ou parciais?
1. Sim
2. Não
3. NSA
5.30. Os meios de comunicação manipulam a opinião pública?
1. Sim
2. Não
3. NSA
5.31. Você acredita no que é dito pelos meios de comunicação?
1. Sim
2. Não
3. NSA
5.32. Quais são os meios mais confiáveis?
1. TV aberta
5. Internet
2. TV por assinatura 3. Rádio
4. Revista
6. Jornal impresso 7. Outro____ 8. Nenhum
5.33. Em que repórter, comentarista, colunista, apresentador ou blogeiro que
você confia, acredita nas informações transmitidas por ele e costuma
concordar com suas opiniões?
1. Willian Boner
5. Jô Soares
9. Mônica Waldvogel
13. Boechat
2. Boris Casoy
6. Marília Gabriela
10. Maitê Proença
14. Miriam Leitão
3. Fátima Bernardes
7. Alexandre Garcia
11. Joelmir Betting
15. Outro____
4. Arnaldo Jabbor
8. Diogo Mainard
12. Márcia Peltier
16. Nenhum
125
5.34. Para você formar sua opinião sobre a política e o governo são mais
importantes as informações obtidas através....
1. Comentarista/repórter/colunista
3. Conversas com amigos/parentes
5. Internet
7. Revistas
9. Outro____________________
2. Jornais da televisão
4. Posição de político de referência
6. Jornais impressos
8. Rádio
10. Nenhum
6. Informação sobre o Governo e Políticas Públicas
6.1. Costuma acompanhar notícias sobre o Governo Federal?
1. Sim
2. Não
3. NR
6.2. Quais programas do Governo Federal você conhece?
6.3. As notícias veiculadas pela mídia sobre o Governo Federal geralmente
são favoráveis ou desfavoráveis?
1. Favoráveis
2. Desfavoráveis
3. NS
6.4. Você lembra das propagandas do Governo Federal veiculadas pela
mídia? 1. Sim. Quais? ____________
2. Não
6.5. Você assistiu as propagandas sobre o PAC?
1. Sim
2. Não
3. NS
6.6. Você assistiu as propagandas sobre o Programa Minha casa minha vida?
1. Sim
2. Não
3. NS
6.7. Você assistiu as propagandas sobre as políticas sociais do governo?
1. Sim
2. Não
3. NS
7. Posicionamento sobre temas políticos
7.1. Qual é a sua opinião sobre a Reforma política?
1. Não sabe/não tem opinião sobre o assunto
2.
Opinião_____________________________________________________________
___________________________________________________________________
__
___________________________________________________________________
__
(análise posterior irá qualificar a opinião)
7.2. Qual é a sua opinião sobre os partidos políticos? (não ler as alternativas,
enquadrar)
1. Favorável
2. Desfavorável
3. Outra____________
4.NS/NR
126
7.3. Você é favorável ou contrário à privatização as empresas estatais?
1. Favorável
2. Desfavorável
3. Outra____________
4.NS/NR
7.4. (Se respondeu favorável na 7.3.) Se a notícia a seguir fosse publicada na
mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar)
Em palestra realizada ontem na sede da Associação Comercial, Dr. Salles Costa
afirmou que os governos não devem se meter em coisas que o setor privado pode
fazer. Enfatizou que a privatização é essencial à modernização do estado, para que
este possa cumprir suas funções básicas na área social. Apresentou como exemplo
de privatização bem sucedida o serviço de telefonia. Até pouco tempo eram
necessários um a dois anos de espera na fila para se obter um telefone pelo qual se
pagava mais de dois mil reais. Hoje, um telefone custa muito pouco. Não há quem
não possa comprar um, disse ele.
1. Aceitou a notícia e mudou a opinião
2. Discordou da notícia e manteve a opinião
3. Relativizou
4. Outra_____________
5. NS/NR
7.5. (Se respondeu contrário na 7.3.) Se a notícia a seguir fosse publicada na
mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar)
Apesar dos protestos de grupos nacionalistas e da redução da escala em que
vinham sendo feitas, as privatizações das empresas estatais continuam a ocorrer no
país. A justificativa para isso era o pagamento da dívida com a diminuição do déficit
do saldo comercial. De 1995 a 1999 foram vendidas a Vale do Rio Doce, teles e
elétricas. O saldo foi a perda do patrimônio e a redução de investimentos do Estado
nos serviços públicos básicos com o repasse das atividades para a esfera privada.
Isso resultou em perda de empregos e da qualidade de vida para a população.
1. Aceitou a notícia e mudou a opinião
2. Discordou da notícia e manteve a opinião
3. Relativizou
4. Outra_____________
5. NS/NR
7.6. Você é a favor ou contra a pena de morte?
1. Favorável
2. Desfavorável
3. Outra____________
4.NS/NR
7.7. (Se respondeu favorável na 7.6.) Se a notícia a seguir fosse publicada na
mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar)
Está sendo debatido no Congresso o plebiscito sobre a pena de morte. Nos países
onde a pena de morte é utilizada muitos inocentes são mortos. É exemplo disso os
quatro prisioneiros que estavam no corredor da morte nos Estados Unidos no mês
de julho, e que foram considerados inocentes na véspera de sua execução. As
estatísticas comprovam que a pena de morte não reduz os índices de criminalidade.
São mais eficientes os programas de regeneração de presos. O brasileiro costuma
dizer: bandido bom é bandido morto, mas será que é isso que queremos para nosso
país?
127
1. Aceitou a notícia e mudou a opinião
2. Discordou da notícia e manteve a opinião
3. Relativizou
4. Outra_____________
5. NS/NR
7.8. (Se respondeu contrário na 7.6.) Se a notícia a seguir fosse publicada na
mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar)
Foi lançado em São Paulo manifesto pró pena de morte no país. Segundo PJ, uma
das lideranças “a pena de morte é a única forma de controlar criminosos violentos
reconhecidamente irrecuperáveis”. A pena de morte é considerada eficaz na
prevenção de futuros crimes pois o criminoso terá mais medo e não irá querer se
arriscar. Hoje, em pouco tempo consegue se livrar das grades. A pena de morte irá
retirar do convívio social seres desprezíveis que nem mesmo o melhor sistema
prisional seria capaz de recuperar. Na lista do corredor da morte: tráfico de drogas,
estupro, seqüestro com morte, tráfico de órgãos, pedofilia e assassinato
premeditado.
1. Aceitou a notícia e mudou a opinião
2. Discordou da notícia e manteve a opinião
3. Relativizou
4. Outra_____________
5. NS/NR
7.9. Você é a favor ou contra o movimento sem terra?
1. Favorável
2. Desfavorável
3. Outra____________
4.NS/NR
7.10. (Se respondeu favorável na 7.9.) Se a notícia a seguir fosse publicada
na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar)
Grupos armados que se auto-denominam “sem-terra” preparam e anunciam
ocupações para os próximos dias. Devemos ser o único país do mundo em que
movimentos anunciam que vão cometer um crime, e todos ficam esperando que o
crime seja cometido. Ocupações significam invasões de propriedades que violam
direitos individuais garantidos pela Constituição e pelos Códigos Civil e Penal. Entre
os participantes deste movimento, existem pessoas das cidades que não possuem
qualquer experiência no campo. Ao invadirem propriedades os manifestantes se
apropriam de bens, danificam as instalações e sujam os locais, não sendo,
posteriormente, punidos por estes crimes.
1. Aceitou a notícia e mudou a opinião
2. Discordou da notícia e manteve a opinião
3. Relativizou
4. Outra_____________
5. NS/NR
7.11. (Se respondeu contrário na 7.9.) Se a notícia a seguir fosse publicada
na mídia, qual seria a sua opinião? (Não ler as alternativas, enquadrar)
Após mais uma manifestação pública o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST), volta para casa com as mãos abanando. O Governo Estadual não quis
receber os representantes do MST. Como costuma acontecer, integrantes do
movimento foram agredidos por policiais. Um dos líderes do MST disse: “estamos
128
cansados de sermos agredidos pela política e pela mídia. No acusam de receber
terra e logo depois vendê-la. Esses casos não chegam a 1%”. Depois desabafou:
“invadimos propriedades sim, porque é o único meio de sermos vistos e ouvidos.
Hoje mesmo, a Governadora não quis sentar e conversar com a gente. Não somos
bandidos, estamos buscando nossos direitos enquanto cidadãos”.
1. Aceitou a notícia e mudou a opinião
2. Discordou da notícia e manteve a opinião
3. Relativizou
4. Outra_____________
5. NS/NR
7.12. Você gosta de debater assuntos em geral, pois acredita que através do
debate as suas idéias ficam mais claras, ou você acha o debate inútil, pois
cada um tem as suas posições e ficar discutindo não leva a lugar nenhum?
1. Gosta de debater
2. Considera o debate inútil
3. NS/NR
7.13. Você costuma mudar, através de uma conversa ou debate, a sua
opinião ou dificilmente muda o seu ponto de vista?
1. Costuma mudar
2. Dificilmente muda
3.NS/NR
7.14. Em uma discussão com alguém que possui maior conhecimento sobre
o assunto, você prefere concordar com as opiniões desta pessoa ou manter
os seus próprios pontos de vista?
1. Prefere concordar
2. Mantém o ponto de vista
3.NS/NR
7.15. Você gosta de contar com a opinião de uma pessoa mais informada e
experiente (comentarista, colunista) para definir o seu posicionamento sobre
um assunto?
1. Sim
2. Não
3.NS/NR
8. Comportamento político
8.1. Em algum momento você participou de algum modo de associações,
grêmio estudantil, sindicatos, movimentos sociais ou organizações políticas?
1. Sim
2. Alguma participação
3. Não
4.NS/NR
8.2. Você é procurado por pessoas que querem saber a sua opinião sobre
assuntos políticos?
1. Sim, muito
2. Sim, pouco
3. Não
4.NR
8.3. Você costuma geralmente nas eleições contribuir com a campanha de
algum candidato/partido (participar de reuniões, colocar cartazes, plásticos,
distribuir propaganda, trabalhar na campanha, dar dinheiro para campanha)?
1. Sim, muito
2. Sim, pouco 3. Não
4.NR
8.4. Suas preferências políticas são parecidas com as dos seus familiares?
1. Sim
2. Não
3. NS/NR
129
8.5. Você costuma votar como os seus familiares?
1. Sim
2. Não
3. NS/NR
8.6. Você acha que a sua ação pode exercer influência sobre o que o
governo faz?
1. Sim
2. Não
3.NS/NR
8.7. Você gosta de política?
1. Sim
2. Não
3.NS/NR
8.8. (Se não) Porque você não gosta de política?
1. Não tenho interesse
3. Desilusão
2. Os políticos são corruptos
4. Outra_________________
3. É chato
4. NS
8.9. Você está desiludido com a política?
1. Sim
2. Não
3.NS/NR
8.10. Como você se define politicamente em uma escala de 1 a 5, sendo 1 a
posição mais à esquerda e 5 a posição mais à direita?
1. Esquerda
5. Direita
2. Centro-esquerda
6. NS
3. Centro
4. Centro-direita
8.11. Você se define politicamente como ...
1. Liberal
2. Conservador
5. Outra_________________
3. Socialista
6. NS
4. Social-democrata
130
8. Considerações finais
A seguir serão apresentadas as considerações finais desta pesquisa
qualitativa, que reúne os principais resultados.
1) Esta pesquisa qualitativa investigou em profundidade as percepções,
atitudes e ações de pessoas dos segmentos de classe média e de
jovens. Os vários fatores contextuais da experiência de vida dos
entrevistados examinados foram relacionados aos posicionamentos
por eles assumidos e aos seus comportamentos em relação à mídia,
buscando identificar os elementos explicativos mais relevantes. Nos
pontos a seguir serão indicados os resultados relativos à relação entre
os fatores estudados e o comportamento dos entrevistados.
Trajetória social
2) O nível escolar e profissional, o poder aquisitivo, a inserção na
hierarquia social e a ascensão ou descenso social influenciam a
conformação de posicionamentos políticos e de comportamentos em
relação à mídia. No caso de segmento de classe média foi observada
a relação entre trajetória social descendente e percepção negativa dos
políticos e da política, a desilusão com o mundo político e a rejeição
ao acompanhamento dos noticiários sobre política e governo. A
relação inversa também se confirmou: ascensão social e situação
econômica relativamente melhor indicaram um comportamento mais
receptivo ao mundo político e às notícias veiculadas pela mídia,
posição favorável ao estabelecido. Mesmo quando o nível econômico
é relativamente mais baixo, a ascensão social desempenhou um papel
importante como elemento motivador de posicionamentos favoráveis
ao atual governo.
131
3) No caso do segmento jovem foi observado maior desinteresse em se
informar sobre governo e política. Apesar de a maioria dos jovens
manifestar predisposição positiva a se informar sobre assuntos
diversos, esta tendência não foi verificada nos temas políticos. De
modo
geral,
independentemente
da
trajetória
social,
houve
predisposição negativa a se informar sobre estes temas em função de
uma percepção muito negativa do mundo político. Esta tendência,
também observada no segmento de classe média, mostrou-se mais
acentuada na juventude. Os fatores explicativos podem estar
relacionados ao curto período que compõe a trajetória destes
indivíduos, implicando em experiência com a política marcada por
período de ampla divulgação de escândalos morais através da
imprensa, ou às características do momento geracional vivido.
4) Tendência semelhante a do segmento de classe média foi percebida
no comportamento dos jovens: maior predisposição positiva em se
informar sobre vários assuntos, abrangendo política e governo, foi
associada, em alguns casos, à trajetória social ascendente. Menor
predisposição a se informar e percepção mais negativa ao mundo
político foram encontrados em casos de descenso social.
Experiência política
5) A experiência sobre política mostrou-se relevante para a conformação
de posicionamento político. As posições predominantes no ambiente
familiar formam, pela via afetiva, predisposições favoráveis à
aceitação de determinado partido, candidato ou corrente política. Em
ambos os segmentos estudados foram observados casos de
entrevistados que passaram a defender uma posição política em
função do ambiente familiar.
6) Maior experiência política positiva está associada ao maior interesse
em acompanhar notícias sobre assuntos políticos, entre os quais os
132
governamentais. Pessoas pouco interessadas em política tendem a
acompanhar menos os acontecimentos do mundo político, tendo
menor base de informações para formar juízos sobre o significado dos
mesmos. Entre os entrevistados do segmento de classe média foram
encontradas pessoas com maior experiência política positiva, que
conhecem
mais
os
termos
especializados
da
política,
as
características do mundo político e costumam se informar mais sobre
este assunto. No segmento jovem predominou a ausência de
experiência política e uma percepção muito negativa dos políticos e da
política. Esta percepção decorre de desinformação e falta de
identificação geracional com o tema, percebido como “assunto de
velho”.
Características atitudinais
7) As características atitudinais mostraram-se mais influentes no
segmento de classe média. Observou-se a associação entre
predisposição positiva e satisfação com a atual situação de vida, de
um lado, e percepção mais favorável ao estabelecido, abrangendo o
mundo político governamental e à mídia, de outro. Entrevistados que
se encontram satisfeitos tendem a querer manter as condições que
possibilitarem esta satisfação em todos os terrenos. Atitudes mais
críticas, muitas vezes, estão associadas à posição crítica na estrutura
social ou a grande insatisfação com a situação vivida. Foi observado o
caso típico do jovem crítico que assumia posições à esquerda na
juventude e que se tornou conversador após os 30 anos.
8) Experiências de vida negativas que engendram características
atitudinais também negativas se refletem nas percepções da política e
no comportamento em relação à mídia. Perdas, desavenças, abalos
emocionais reforçam o sentimento de impotência política e a crença
sobre a inutilidade de se informar sobre tais assuntos. Insatisfação e
133
desencanto com a vida se manifestaram em percepção negativa da
política e em desinteresse em acompanhar noticiário sobre o assunto.
9) As características atitudinais mostraram-se menos influentes no
segmento jovem. A trajetória de vida ainda iniciante, e o maior
distanciamento dos assuntos políticos são fatores relevantes para a
explicação desta tendência. Observou-se a associação entre a
satisfação do entrevistado com sua realidade atual e a percepção
favorável
ao
acompanhamento
da
política.
Os
jovens
que
apresentaram características atitudinais proativas e que se encontram
satisfeitos com a sua situação atual mostraram predisposição a se
informar e interesse em buscar mais informações.
Apropriação política
10) A apropriação política corresponde ao conhecimento do mundo
político, à capacidade de utilizar adequadamente os termos políticos,
de entender quais são os agentes mais influentes no cenário político,
quais interesses estão em jogo e qual é a lógica subjacente a
conformação
dos
posicionamentos
assumidos
pelos
diferentes
agentes. Os mais apropriados são aqueles que gostam de política, se
interessam pelos assuntos relativos ao tema, se informam sobre os
acontecimentos neste terreno, conhecem os principais motivos das
disputas, e entendem a sua posição na estrutura da sociedade e no
tabuleiro político, assumindo posicionamentos em conformidade com
os seus interesses. As pessoas politicamente apropriadas costumam
acompanhar
as
notícias
sobre
política
e
governo
e
tem
posicionamentos sobre os temas mais relevantes da atualidade.
11) Poucos
entrevistados
mostraram-se
politicamente
apropriados.
Alguns casos foram observados no segmento de classe média e um
número ainda mais reduzido no segmento jovem. De modo geral, os
níveis de apropriação política dos entrevistados se encontram em
134
patamares muito baixos. A percepção negativa da política e dos
políticos, muito recorrente, se mostrou associada ao desinteresse no
acompanhamento dos noticiários sobre temas políticos e de governo.
Pessoas que não gostam de política, se encontram desiludidas com o
mundo político ou se sentem impotentes quanto à possibilidade de
interferência neste terreno, entendem ser inútil se informar sobre estes
assuntos.
12) Os níveis de apropriação política foram ainda mais baixos no
segmento jovem. A maioria dos jovens pesquisados não procura se
informar sobre política, não conhece os termos especializados da área
e o cenário político brasileiro, não gosta e demonstra desinteresse
pelo assunto. Os jovens acreditam que o mundo político não faz parte
de sua realidade. Manifestam desinteresse sobre as informações
veiculadas nos meios de comunicação. A baixa apropriação política
está associada a não identificação com o tema, considerado assunto
para outros segmentos etários (“nenhum jovem gosta de política”;
“jovem não pensa em política”).
Posicionamento político
13) Posicionamento sobre temas políticos supõe base informacional
mínima. Pessoas escassamente informadas sobre assuntos políticos e
governamentais têm grande dificuldade de assumir posições sobre os
temas políticos relevantes. Poucos entrevistados dos dois segmentos
emitiram juízos pertinentes sobre este assunto, mostrando elevado
grau de apropriação política, capacidade de dominar os termos
especializados da política e de compreender a lógica do jogo político.
14) No segmento jovem a situação mostrou-se ainda mais precária. Raros
foram os casos de posicionamento político articulado e coerente. A
falta de interesse pelo mundo político associada à baixa informação
sobre
estes
assuntos
faz
com
que
o
jovem
não
possua
135
posicionamentos sobre determinados temas e apresente um discurso
inconsistente quando emite sua opinião. Mesmo aqueles que
apresentam
alguma
apropriação
política,
emitem
opiniões
contraditórias, que conformam um posicionamento incoerente do
ponto de vista da lógica política.
15) A ausência de posicionamento, nos dois segmentos, mostrou estar
associada à desinformação, ao desinteresse, ao desgosto por política,
à desilusão ou ao sentimento de impotência política. O indivíduo que
não gosta de política, que acredita ser a sua participação neste
terreno totalmente inócua, que não tem interesse por estes assuntos e
não acompanha o noticiário sobre eles tende a não conseguir se
posicionar sobre os temas deste mundo ou a assumir posições
politicamente contraditórias. Este tipo posicionamento indicativo de
postura negativa buscou muitas vezes a desqualificação dos agentes
políticos e da vida política de forma geral, através de uma crítica moral
generalizada e depreciativa.
Coerência política
16) A coerência política refere-se à capacidade dos indivíduos assumirem
posições logicamente inter-relacionadas, internamente coerentes, em
conformidade com as preferências e opções políticas. Algum tipo de
coerência de acordo com a lógica interna do indivíduo sempre poderá
ser encontrada, pois há para cada posição assumida alguma
motivação que faz sentido para o indivíduo. Contudo, este tipo de
análise tem caráter tautológico e fraco poder explicativo, não se
adequando ao objetivo deste estudo de distinguir aqueles que
apresentam maior e menor grau de coerência do ponto de vista da
lógica política.
17) Os
dados
analisados
mostraram
que,
nos
dois
segmentos
investigados, a incoerência é a regra e a coerência a exceção. Foram
136
recorrentes as manifestações confusas sobre as posições políticas e
os comportamentos politicamente contraditórios. Maior confusão foi
encontrada no segmento jovem, que reuniu posições mais avessas
aos
políticos,
à
política
e
a
informação
sobre
assuntos
governamentais.
18) A ausência de coerência decorre de vários fatores. As posições
políticas díspares ou contrárias convivem em um esquema perceptivo
contraditório que reúne blocos estruturados de idéias formadas de
modo independente e por motivações distintas. O mesmo entrevistado
que é favorável às privatizações em função de um exemplo positivo
como o das telecomunicações manifestou-se contrariamente ao
enxugamento do Estado por ter pena dos que poderão ser demitidos e
por ter amigos empregados em órgãos públicos. Para ele não há
incoerência, pois os motivos que o levou a posição favorável à
privatização das empresas estatais tem sentido quando avaliado
individualmente. O mesmo pode ser dito em relação ao enxugamento
da máquina estatal. A contradição existe quando as duas posições
são comparadas, tendo por base as referências da lógica política.
19) Maior coerência política foi encontrada nos raros casos de
entrevistados que têm preferência partidária, votam no mesmo partido
em todos (ou em quase todos) os processos eleitorais, e assumem
posições sobre temas políticos, em conformidade com as posições do
partido e do campo político no qual ele se encontra inserido.
Meios de comunicação
20) Na maior parte dos casos observados, nos dois segmentos, é
relativamente pequeno o acompanhamento das notícias sobre política
e governo. Mesmo nos casos em que há grande exposição à mídia, se
observou pouca atenção às notícias sobre política. Por vezes, a
notícia ouvida não é retida na memória, em função da pequena
137
importância atribuída a ela, por se tratar de assunto considerado
pouco interessante. Pessoas muito expostas à mídia acompanham
eventualmente acontecimentos políticos pelo fato deste tipo de
conteúdo estar presente nos noticiários, mas por desinteresse por este
tema, muitas vezes, acompanham de forma reduzida ou superficial,
retendo poucas informações sobre o assunto.
21) O maior desinteresse pelo acompanhamento de notícias sobre o
governo e política foi observado no segmento jovem, composto por
pessoas que utilizam intensamente os meios de comunicação,
especialmente a Internet e a TV, totalizando, cerca de 8 a 10 horas
por dia, não se interessam e não absorvem notícias políticas. As
informações relacionadas com política e governo não chamam a
atenção dos jovens. Em geral, eles utilizam os meios de comunicação
para o entretenimento, relacionamento e informação sobre assuntos
de seu interesse.
22) Aqueles que acompanham mais o noticiário político são os
politicamente apropriados, que dominam os termos especializados do
mundo político e acompanham os acontecimentos nesta área. São
raros casos, mais recorrentes no segmento de classe média, de
pessoas, mais envolvidas com política que têm experiência e
demonstra gostar do assunto.
23) A percepção sobre o comportamento da mídia encerrou um
paradoxo: a elevada aceitação dos meios tradicionais mais utilizados como a TV aberta, a Rede Globo e o Jornal Nacional – convive
contraditoriamente com grande desconfiança sobre a parcialidade
destes meios e sua potencialidade manipuladora. Entrevistados,
especialmente do segmento de classe média, que percebem a
parcialidade dos meios, suspeitam de manipulação, mas mesmo
assim confiam na credibilidade das notícias divulgadas pelo veículo.
138
Informação sobre o governo e políticas públicas
24) De modo geral, foram encontrados nos dois segmentos estudados
baixos níveis de informação sobre governo e políticas públicas. Os
níveis foram mais baixos no segmento jovem. Foi constatada, em
alguns casos, grande desinformação e desinteresse em se informar
em relação a quaisquer assuntos governamentais. Em outros casos
entrevistados que não gostam de política costumam se informar sobre
programas específicos de governo, tendo em vista os benefícios que
podem obter.
25) No segmento de classe média os entrevistados apresentaram níveis
distintos de conhecimento sobre o governo e as políticas públicas. O
maior nível de conhecimento esteve associado ao maior interesse por
política. Os principais programas do governo foram lembrados.
Embora não acompanhem notícias sobre governo e política, alguns
jovens também lembraram os programas mais conhecidos (Bolsa
Família, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Enem e Pró-Uni).
Permeabilidade às notícias
26) Para avaliar a permeabilidade às informações contrárias ao ponto de
vista do entrevistado foram apresentadas notícias hipotéticas que
contrariavam os posicionamentos fornecidos, informando que se
tratava de uma simulação e solicitando uma apreciação.
27) Confrontados
com
notícias
hipotéticas
contrárias
ao
seu
posicionamento, os entrevistados reagiram diferentemente: alguns não
aceitaram a notícia, discordando do seu conteúdo, desqualificando o
veículo de comunicação mencionado, ou relativizando a sua
veracidade e aplicabilidade, como se o fato referido fosse uma
exceção à regra ou produto de alguma circunstância específica,
enquanto outros aceitaram o conteúdo hipotético apresentado.
Enquanto alguns aceitaram de forma mais abrangente as notícias
139
hipotéticas apresentadas e incorporaram o conteúdo da mesma ao
seu quadro perceptivo, outros se mostraram mais resistentes,
mantendo o seu ponto de vista.
28) Nos dois segmentos foram observados três tipos principais de
comportamento: aqueles que rejeitaram, em maior medida, as notícias
apresentadas (perfil posicionado à esquerda, politicamente definido,
que conhece mais os assuntos políticos, mais encontrado no
segmento de classe média e perfil desinteressado em política, pouco
apropriado da política, ignorante ou indefinido quando a sua
localização no jogo político); aqueles que aceitaram em maior medida
o conteúdo das notícias apresentadas (por valorizar os meios de
comunicação referidos, por não ter segurança em relação ao seu
ponto de vista ou por tender a concordar com o estabelecido); e
aqueles que se situaram em um nível intermediário de permeabilidade
às notícias hipotéticas apresentadas.
Relevância dos meios e outras referências
29) O veículo de comunicação foi considerado, nos dois segmentos
investigados, muito relevante para a aceitabilidade do conteúdo da
notícia. Em alguns casos a notícia foi aceita totalmente e incorporada
ao esquema receptivo do entrevistado, em outras foi aceita
parcialmente até posterior confirmação através de outros meios.
30) Em outros casos, também observados nos dois segmentos
investigados, os entrevistados mostraram-se indiferentes quando ao
meio que veiculou a notícia, voltando-se mais ao exame do conteúdo
da informação para emitir seu juízo a respeito do assunto.
31) A rastreabilidade das informações e fontes utilizadas mostrou ser a
mídia a principal referência e, em segundo lugar, as conversações
com pessoas próximas. As conversações com familiares, amigos e
140
pessoas do círculo de relações pessoais, mostraram-se relevantes
nos casos em que as pessoas são escassamente informadas, pouco
apropriadas da política. Para estas pessoas o círculo de relações
pessoais inspira mais confiança.
32) Foi atribuída grande relevância e credibilidade aos comentaristas,
colunistas, apresentadores, repórteres e blogueiros que emitem
opiniões sobre os assuntos políticos e governamentais. Aqueles que
não dominam os termos especializados da política e são relativamente
pouco apropriados, particularmente, são os que mais se valem destas
referências como mecanismo para formação de opinião. Alguns
jornalistas são considerados confiáveis porque não costumam se
posicionar, passando a imagem de isenção. Outros são apreciados
pelo oposto, porque expõem suas opiniões com contundência. Alguns
comentaristas construíram uma trajetória de credibilidade possuindo
hoje um público cativo como é o caso de Boris Casoy. Quando a
notícia é apresentada pelo comentarista em que o entrevistado confia,
a credibilidade é total. Quando se soma credibilidade do apresentador
à ampla aceitação da emissora e do programa, a aceitabilidade é
ainda maior. É o exemplo do Jornal Nacional da Rede Globo,
conduzido por William Bonner e Fátima Bernardes.
33) A relevância da mídia é tão expressiva que alguns entrevistados
mudam de opinião quando as notícias são comunicadas por meios
que lhes transmitem credibilidade. É o caso do entrevistado que,
frente a uma notícia contrária a sua opinião questiona seu conteúdo
em função da referência de que a mesma havia sido veiculada em um
jornal considerado de baixa credibilidade. Porém, quando mencionado
que a notícia fora veiculada por um meio confiável, o jovem
reconsiderou a possibilidade de a notícia ser verdadeira e,
posteriormente,
incorporou
informações
da
notícia
em
sua
argumentação, reforçando a mudança de opinião.
141
34) A Maior exceção refere-se aos entrevistados do segmento de classe
média posicionados à esquerda e aos jovens com posicionamentos
mais críticos em relação à mídia que, igualmente, atribuem-lhe menor
relevância na formação de suas opiniões. Em geral, buscam
argumentar contrariamente às informações que lhes são transmitidas.
É o caso do jovem posicionado à esquerda no espectro político, que
possui baixo grau de confiabilidade nos meios de comunicação e
atribuí precariedade às informações veiculadas. Afirma que chegou as
suas opiniões através de conhecimentos que adquiriu na escola e nos
livros de história, relacionando-os com as notícias veiculadas pela
mídia.
Lógicas utilizadas na interpretação dos acontecimentos
35) A rastreabilidade das informações obtidas e a simulação da reação às
notícias hipotéticas apresentadas possibilitaram delinear as principais
lógicas utilizadas para a interpretação dos acontecimentos políticos. A
experiência política anterior e a percepção geral do mundo político
também se mostraram relevantes para o delineamento das lógicas
utilizadas.
36) Nos dois segmentos foi identificada a mesma tendência geral.
Diferiram-se em relação ao grau de incoerência e confusão,
relativamente maior no caso da juventude. De modo geral, o conteúdo
de uma notícia é aceito quando se enquadra razoavelmente nos
esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles consideram verdadeira
a notícia que apresenta elementos compatíveis com os blocos préestruturados de idéias que explicam as características do mundo
político. Por isto, são amplamente aceitas, as notícias de escândalos
políticos costumeiramente divulgados pela mídia. A política e os
políticos são vistos como desonestos e corruptos. A notícia de um
142
novo escândalo moral no cenário político é facilmente incorporada,
pois se ajusta perfeitamente ao esquema perceptivo pré-existente.
37) A lógica utilizada para atribuir veracidade a uma informação divulgada
se encontra, em grande parte, associada ao modo de perceber a
política. A percepção da política é afetiva quando o posicionamento
favorável ou contrário a um conteúdo é definido em função de critérios
afetivos, seja em relação aos agentes envolvidos na disputa ou à
pessoa de referência (familiar, comentarista) que se posicionou sobre
o assunto. No primeiro caso, trata-se de uma posição própria em
função de critério afetivo. No segundo caso trata-se de uma atitude
seguidista.
38) De modo geral, o conteúdo de uma notícia é aceito quando se encaixa
razoavelmente nos esquemas perceptivos dos entrevistados. Eles
consideram verdadeira a notícia que apresenta elementos compatíveis
com os blocos pré-estruturados de idéias que explicam as
características do mundo político. Por isto, são amplamente aceitas,
as notícias de escândalos políticos costumeiramente divulgadas pela
mídia. A política e os políticos são vistos como desonestos e
corruptos. A notícia de um novo escândalo moral no cenário político é
facilmente incorporada, pois se ajusta perfeitamente ao esquema
perceptivo pré-existente.
39) A percepção da política é moral quando os julgamentos dos agentes
políticos e das propostas em disputa são feitos a partir de critérios
morais. Isto implica em escolher um candidato em função da sua
conduta moral, em defender uma proposta em função de uma
avaliação moral do problema ou pelo fato da mesma estar sendo
sustentada
por
agentes
políticos
considerados
moralmente
inatacáveis.
143
40) A percepção da política é política quando as leituras dos
acontecimentos e as posições sobre os agentes e as propostas em
disputa são decorrentes de critérios políticos e racionais. Isto é,
quando uma pessoa defende uma proposta em função desta estar de
acordo com o seu posicionamento político ou dos seus interesses
individuais ou grupais. A interpretação da veracidade de um conteúdo
é política quando a notícia é julgada através de um raciocínio lógico e
coerente aos interesses do agente e ao se posicionamento político.
41) A percepção da política é clientelística quando o raciocínio utilizado é
orientado fundamentalmente pela percepção dos benefícios imediatos
tangíveis que o entrevistado poderá obter através da posição
assumida. A defesa de um agente político ou de uma proposta, nestes
casos, está orientada pela lógica do benefício individual imediato que
pode ser resultante da ação. Assim, a lógica clientelística também é
motivada por interesses. Contudo, diferencia-se substancialmente da
lógica política, uma vez que o atendimento de interesses imediatos
pode levar a mudanças de posição não explicáveis, indicando
incoerência do ponto de vista da lógica política. A orientação por
critérios afetivos e morais também pode ser considerada incoerente do
ponto de vista da lógica política.
42) Houve também os casos de ausência de lógica ou da utilização de
critérios
confusos,
precários,
aparentemente
erráticos,
pouco
compreensíveis ao interlocutor. É o que ocorre quando os blocos
estruturados de idéias do esquema perceptivo do entrevistado são
internamente contraditórios ou quando critérios de natureza diferente
são utilizados alternadamente ou de forma estranhamente combinada
para a interpretação das notícias e acontecimentos do mundo político.
Nestes casos não se pode se referir propriamente à lógica. Uma
definição mais precisa corresponde ao termo confusão. No segmento
jovem as lógicas presentes na interpretação dos acontecimentos
144
mostraram-se mais confusas, mesclando critérios distintos. Poucos
foram os jovens que apresentaram raciocínio coerente.
43) Portanto uma tipologia das lógicas utilizadas possibilita discernir em
cinco modelos principais (utilizados de forma exclusiva ou combinada
pelos entrevistados) que correspondem às lógicas: política, moral,
afetiva, clientelística ou confusa.
145
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