Paulo Otoni
(Unicamp)
o
objetivo deste trabalho e mostrar como
"performativo",
linglHsticas"
definida de maneiras diferentes,
a no~ao
reflete
aquelas que tratam basicamente
isso, as teorias subjacentes
me
as defini~oes de
pens adores concebem esta rela~ao,
performativo
referindo
da rela~ao linguagem-sujeito.
performativo
de Benveniste como a de Austin definem necessariamente
0
"teorias
divergentes.
Por "teorias lingllisticas", aqui, estou
que
de
partindo
Por
tanto
como estes
da
hipotese
esta colocado no interior desta rela~ao; ao de-
fini-lo, evidencia-se
como eles entendem esta rela~ao.
Darei, incialmente,
duz sua no~ao de performativo
Quero dizer que Benveniste
uma visao de como
Benveniste
pro-
partindo de dois dos seus textos (1).
ao criticar Austin, num
destes textos,
concebe uma outra no~ao de performativo.
Nao desenvolverei
argumenta~ao
apenas a no~ao de perfor-
desta critica, apresentarei
mativo que dai decorre. Em seguida,resumo
a no~ao de
aqui a
performativo
con forme a teoria de Austin (2). Concluindo, mostro como a rela~ao
linguagem-sujeito
e fundamental
gem" que tem como fundamental
para discutir "teorias
a no~ao de performativo.
da 1ingua-
Vejamos
esta diretamente
em Benveniste
ligada
Benveniste,
a
como a no~ao de "subjetividade"
no~ao de "performativo".
no seu texto sobre a subjetividade,
a seguinte questao: no caso da "subjetividade"
linguagem ou de discurso?
que e a
Nas suas dis-
no nosso caso, a linguagem estaria asso-
ciada a Semiotica enquanto um sistema estruturado
discurso,ao
de
que
de Benveniste
que ele faz, entre Semiotica e Semantica.
cussoes, e principalmente
falar
Esta questao coloca uma distin~ao
vai estar presente na maioria dos trabalhos
distin~ao,
deve-se
coloca
que ele chama de Semantica,que
e formal;
seria a linguagem
e
0
posta
E
na linguagem e pela linguagem que 0 homem se constitui como sujeito; porque so a linguagem fundamenta
na
realidade, na sua realidade que
de "ego".
e
a do ser,
0
conceito
e
A subjetividade (fenomenologica ou psicologica) nao
senao a emergencia no ser de uma propriedade fundamental da linguagem.
Para Benveniste,e
ciprocidade
no interior do dialogo que ha uma re
entre 0 eu e o~.
Ou seja, 0 eu estabelece
dade (nao e igualdade e nem simetria)
para a comunica~ao.
gUisticas
com um tu que e
uma polar~
fundamental
Para ele ainda, 0 eu e 0 tu saD formas
lin-
(pronomes pessoais) que indicam pessoa e nao remetem nem
a um conceito nem a um individuo.
priar da estrutura
(do semiotico)
to" no discurso (no semantico);
para se identificar
por isso, 0 pronome pessoal
primeiro ponto de apoio da "subjetividade
pela deixis, demonstrativos,
Benveniste
importantes
ganiza~ao
adverbios,
na linguagem",
na sua teoria da subjetividade.
relho lingUistico
cicio da linguagem".
e
0
seguido
como um dos elementos
A temporalidade
da no~ao de tempo) e fundamental
revelar a subjetividade
"suje~
adjetivos.
situa a temporalidade
lingUistica
como
(a or-
para 0 "ap~
inerente ao proprio exe~
Afirma com rela~ao 0 tempo presente:
nao ha outro criterio nem outra expressao para indicar
o tempo em que se esta senao toma-l0 como 0 tempo em
que se fala.
Ora, esse presente. por sua vez, tern como referencia
temporal um dado lingUistico: a coincidencia do aconte
cimento descrito com a instancia de discurso que 0 des
creve.
Vejamos alguns exemplos,
soal e a temporalidade,
relacionando
dados por Benveniste.
0 pronome
pes-
Para ele ha uma dife
ren~a entre: "eu sinto (que
0
tempo vai mudar)" onde descrevo
impressao que me afeta; e "eu creio (que
0
tempo vai mudar)". Sera
que me descrevo crendo quando digo eu creio (~)?
Sua resposta
e
-pergunta
ele.
seguramente nao. Porque dizendo eu creio que,
eu
converto, segundo ele, numa enuncia~ao subjetiva
impessoalmente,
0
tempo vai mudar, que
e
Esta coloca~ao de Benveniste
rela~ao as
SUBS
uma
0
fato asseverado
a verdadeira proposi~ao.
e
bastante
curiosa,
coloca~oes anteriores. Para ele seria
pensar a linguagem (uma enuncia~ao) sem sujeito.
com
impossivel
Entretanto,
ha,
agora, uma enuncia~ao subjetiva e urn fato impessoal (a verdadeira
proposi~ao) que e uma parte do enunciado "subjetivo".
Chamo aten~ao deste fato, porque, a meu ver, esta divi
sao da "proposi~ao" em duas partes
e
urndos pontos fundamental
de
discordancia entre a posi~ao de Benveniste e a de Austin.
Ao discutir os verbos que denotam, pelo seu sentido,um
ate individual de carater social como jurar, prometer,
garantir,
certificar, Benveniste diz que a enuncia~ao "subjetiva" eu juro e
a realiza~ao de uma promessa (urnjuramento). Esta enuncia~ao
e
a
realiza~ao de urnato. Por outro lado, na enuncia~ao "nao-subjetiva"
ha oposi~ao entre as "pessoas" do verbo, por exemplo: ele jura nao
remete a nenhuma pessaa, parque se refere a urnabjeta calacada fora da alocu)ao (eu-tu). Dai, eu jura
e
urnengajamento e ele jura
e
uma descri~aa, como ele fuma, ele carre. Segundo Benveniste:
a mesma verba, seja assumida par urnsujeita au esteja
colacado fora da pessaa, toma urn valor diferente.
o ato e cumprido pela instancia de enuncia~ao
do seu
nome (que e jurar) ao mesmo tempo em que 0 sujeito e
apresentado pela instancia de enuncia~ao do seu indica
dor (que e eu)
vai definir
0
"performativo".
Segundo ele
0
performativo
tuido de um verba jussivo na la. pessoa do presente do
mais um dictum. No seu exemplo "eu ordeno (que) a
Nestes outros dois exemplos:
que a casa esta fechada",
~
0
verba
(0
segundo Benveniste,
Para Benveniste,um
do ato,
0
e,
e
e~
vejo
saber
Pode-se dizer
nao e
e mais um dictum.
e
que,
que predomina
so constituido
0
performativo
e
se refere a realidade que ele pro-
0 ate se identifica,
significado
di ctum
(3)
performativo
de um verba declarativo-jussivo
prio constitui.
os verbos
performativa.
como um todo (como acontece em Austin).
isto
0
seja
de performativo.
criterio formal e gramatical)
tambem sui-referencial,
indicativo
"eu sei que Pedro chegou "e" eu
nao sao verbos de categoria
para ele. e
consti
populaC;ao
mobil izada", temos: a popu 1ayao sej a mobil izada que e
quanto que eu ordeno e urn verbo que tern qualidade
e
segundo ele, com
identico ao referente.
0
enunciado
mativo proposta por Austin. Quero 1embrar que Austin foi quem
in-
troduziu a discussao da no~ao de perfonnativo no interior da "cien
cia 1ingUTstica".
Segundo Austin,
0
perfonnativo
e
a~ao e enunciado
mesmo tempo. Ou seja, rea1izar urnperformativo
realizar
0
e
rea1izar uma a~ao,
ato pretendido.
A a~ao para Austin ternum significado bastante
so ja que
e
ao
preci-
um dos elementos constitutivos do performativo.
Para
e1e.a a9ao nao e uma atitute independente do enunciado (de uma fo!
ma lingUistica); ela e, ao contrario,
0
pr6prio ato de realiza~ao
da fa1a.
Austin identifica. inicia1mente, duas "fonnas nonnais"
para os enunciados performativos: 1) a uti1iza~ao do verba na
pessoa do presente do indicativo na voz ativa; ou 2)
0
verba
19
pode
estar na voz passiva e na 29 ou 39 pessoa do presente do indicatiYO.
Mas. logo em seguida, faz uma ressa 1va dizendo que
para
urn
enunciado ser performativo nao e necessario que seja uti1izado uma
"Feche a porta"; ou simplesmente a palavra "cachorro". A meu
ver,
esta coloca~ao de Austin e ao mesmo tempo fundamental e curiosa na
sua teoria. Porque ao exp1icitar as duas "fonnas nonnais". e1e diz
tambem que ha enunciados performativos que nao as
uti1izam.
Por
isso afirma que nao ha nenhum criterio gramatica1 ou de vocabulario que possa identificar urnenunciado performativo. Esta atitude
e oposta
a
de Benveniste como vimos acima.
Vejamos dois exemplos: 1) "Eu batizo este navio 'Liber
dade
I
";
e 2) a palavra "cachorro" que efetua
0
mesmo
ato que a
enunciado
temos
0
"Previno que
cachorro vai atacar". No primeiro exemplo
0
que Austin chama de "performativo
o "performativo
explicito" e no
prirnario". 0 que se pode observar e que neste
gundo exemplo a questao da autoridade
institucional
Podemos dizer que ha urn desdobramento
curiosa do eu entre
meiro e
e
0
0
segundo
segundo exemplo, isto e, entre
primario. Ha um eu (enunciador)
tido estritamente
0
nao se coloca.
performativo
institucional
0
pri-
explicito
e formal no sen-
gramatical e no segundo um eu (enunciador)
terminado institucionalmente
se-
e que grarnaticalrnente
inde-
(forrnalrnente)
esta fora do enunciado.
Podemos perceber que Austin parte de um eu - individuo
socialmente determinado e gramaticalmente
explicito,
que
pratica
um ate porque tern autoridade para isso- para um eu, individuo inde
terminado e implicito no proprio enunciado, mas que tambem pratica
um ate ao serenunciado.
A partir desta argumenta~ao
cluir que qualquer que seja
par
WID
0
enunciado,sua
pode-se
emissao e sempre feita
sujeito (um individuo) numa situ~~ao determinada.
..•r. Austin parte.
mente. para urn
liIID.
eu que
e
con-
A
meu
1IlSt1toclOO~liza<fo gramaiic.l e socialorigem da fala.
Ha um ponto em que os dois autores concordam, mesmo 1~
vando em conta a diferen~a de natureza da no~ao de
Para ambos
0
e a realiza~ao de uma a~ao, de um ate, !
performativo
traves de uma manifesta~ao
tivo e ao mesmo tempo
0
performativo.
lingUistica
(da linguagem).
ponto de convergencia
0 performa-
mas, curiosamente,
e
tambem 0 ponto de divergencia.
trar, esta fundamenta1mente
Esta divergencia,
1igada
a
re1a~ao
como procurei mos
1inguagem-sujeito,
vista de dois modos distintos.
Em Benveniste,a
uma apropria~ao
re1a~ao 1inguagem-sujeito
parece
do eu (sujeito que fa1a) como se houvesse
ser
de um 1a
do 0 sujeito e de outro a 1inguagem.
Ou seja, um ~
que nao
nem na Semiotica e nem na Semantica.
Oeste modo, a performativida-
de parece mais uma das atitudes que 0 sujeito tern frente
a
esta
1ingua-
gem.
Para Austin,ao contrario,o
eu (sujeito que fa1a) cons-
titui 0 mundo atraves da 1inguagem. Neste caso, a re1a~ao
gem-sujeito e que fundamenta
0 carater performativo
1ingua-
da fa1a.
NOTAS
1. "Oa Subjetividade
na Linguagem"
de 1958 e "A Fi10sofia Ana1iti-
ca e a Linguagem" de 1963, nos Problemas de Linguistica
~,
edi~oes Ga11imard
2. Estou utilizando
Gera1
1966.
somente 0 texto de Austin "Performativo-Consta
ti vo" apresentado
no encontro de Royaumont
- Fran~a em Mar~o de
1958. Pub1icado em 1962 pe1as Edi~oes de Minuit.
3. 0 performativo
de Benveniste
parece uma jun~ao (hlbrida) de
enunciado subjetivo mais urn fato impessoa1,
posi~ao esta que parece se aproximar
como vimos
um
acima,
da formula f(p) de Searle.
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