EXPERIENCES
Grandes caminhadas
Jardim do
Éden
garden of eden
Pequenas flores raras, sapos minúsculos e pedras
de formas curiosas: na caminhada de sete dias
e 100 quilômetros no pré-histórico Monte
Roraima, o viajante é transportado ao fantástico
universo das pequenas grandes coisas
Tiny rare flowers, miniscule frogs and curiously
shaped rocks: throughout a seven-day, 62-mile
[100 km] trek on prehistoric Mt. Roraima,
travelers are transported to a fantastic world of
little big things
por/by Daniel Nunes Gonçalves
fotos/photos Andréa D’Amato
A vista do mirante La
Ventana: vastidão e
silêncio sobre as nuvens
The view from the
La Ventana overlook:
vastness and silence
above the clouds
72 RED Great hikes
73
EXPERIENCES
Grandes caminhadas
MONTE
RORAIMA
venezuela
Santa Elena
de Uairén
Boa Vista
suriname
guiana
francesa
roraima guiana
amapá
ACAMPAMENTO NO TOPO (3ª, 4ª e 5ª noites): 2.700 metros
CAMPSITE AT THE TOP (3rd, 4th and 5th nights): 8,900 feet [2,700 m]
amazonas
brasil
pará
Acampamento Base (2ª noite): 1.870 metros
Base Campsite (2nd night): 6,100 feet [1,870 m]
Acampamento Tök (1ª e 6ª noites): 1.050 metros
Tök Campsite (1st and 6th nights): 3,400 feet [1,050 m]
Partida/chegada: Aldeia Paraitepuy, 1.300 metros
Departure/arrival: Paraitepuy settlement, 4,200 feet [1,300 m]
Como se fosse uma sucessão de bonsais, a
superfície do tepui encanta pela delicadeza
de flores diminutas – algumas carnívoras
e insetívoras –, por sapinhos que só
existem ali e pelos cristais de quartzo
forrando trilhas e fundos de lagos
Like a succession of bonsai trees, the
surface of the tepui is enchanting for
the delicate nature of its tiny flowers
– some of which are carnivorous or
insectivorous–, for little frogs that only
exist there and the quartz crystals that
line the trails and bottoms of lakes
74 RED Great hikes
Distâncias percorridas:
Distances covered:
Paraitepuy - Tök: 15 km [9 mi]
Tök - Base: 9 km [5.5 mi]
Base - Topo/Top: 8 km [5 mi]
Topo/Top: 35 km [22 mi]
Topo/Top - Tök: 17 km [10.5 mi]
Tök - Paraitepuy: 15 km [9 mi]
R
espirei fundo, olhei para o alto, apertei as fivelas
da mochila com 12 quilos de carga e comecei a
subir. A ladeira desaparecia montanha acima e o
suor do meu rosto se misturava aos respingos do
Passo das Lágrimas, um trecho da trilha banhado
pelas gotas de uma cachoeira que começava no alto dos paredões
de pedra com 800 metros de altura e, dispersa pelo vento, quase
não tocava o chão. “Feliz año”, cumprimentou o índio venezuelano que vinha no sentido contrário, carregando o triplo da minha
bagagem e me fazendo lembrar que era manhã de 31 de dezembro
de 2012. Estávamos no terceiro dia de um trekking planejado para
durar uma semana, e havia 4 horas que eu usava pernas e braços
para seguir despenhadeiro acima me apoiando nas árvores daquele bosque espetacular. Mal acreditei quando meu grupo atingiu
a superfície plana do topo, a quase 3 mil metros de altitude, em
meio a nuvens que davam um ar misterioso àquele cenário raro.
Entre as rochas estranhas do Monte Roraima eu notei que, na escalada de um tepui, alcançar o topo não significa chegar ao fim
da linha. Aquele era, sim, o verdadeiro início de uma exploração.
A aventura havia começado bem antes daquela pirambeira decorada por bromélias, orquídeas e espécies de plantas que só existem naquele pedaço pitoresco do planeta – a região da Gran Sabana, onde o Norte do Brasil faz divisa com a Venezuela e a Guiana.
Havíamos voado de Manaus para Boa Vista, capital do estado de
I took a deep breath, looked up, tightened the buckles on my backpack that held 26 pounds [12 kg] of cargo and started going up. The
hill seemed to disappear above me and the sweat on my face mixed
with splashes from Passo das Lágrimas (“Step of Tears”), a stretch of
the trail sprinkled by a waterfall that originated at the top of the giant stone walls at a height of 2,600 feet [800 m] and, dispersed by the
wind, hardly reached the ground. “Feliz año,” greeted, wishing happy
new year, the Venezuelan Indian who came from the opposite direction carrying a load that was triple the size of mine and reminding me
that it was the morning of December 31st, 2012. We were on the third
day of a planned week-long trek, and I’d been using my legs and arms
on a steep uphill climb for four hours, grabbing onto the trees in that
spectacular forest. I could hardly believe it when my group got to the
flat surface at the top, at an altitude of nearly 10,000 feet [3,000 m], in
the midst of clouds which added a mysterious air to that rare setting.
Among the weird rocks on Mt. Roraima I understood that, when climbing a tepui, reaching the top doesn’t mean reaching the end of the line.
It was actually the real beginning of the exploration.
The adventure had begun long before that steep slope decorated
with bromelias, orchids and species of plants that only exist in that
picturesque piece of the planet – the region of Gran Sabana, where
Brazil borders Venezuela and Guyana to the north. We’d flown
from Manaus to Boa Vista, the capital city of the state of Roraima,
in time to participate, 24 hours before our departure, in a briefing
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EXPERIENCES
Grandes caminhadas
Índio taurepang com
cesto para bagagem e, à
direita, paredão rochoso
de 800 metros de altura
A Taurepang Indian with
a basket for luggage and,
right, a stone wall that’s
2,600 feet [800 m] tall
Roraima, a tempo de participar, 24 horas antes da partida, de um
briefing dos 12 expedicionários do nosso grupo (cinco homens e
sete mulheres). De lá, cruzamos de carro a fronteira venezuelana,
após 3 horas de viagem, até encontrar, na cidade de Santa Elena de
Uairén, nossos dois guias locais, Leo Tarolla e Tirso Leiva. “Mais
1h30 de carro, dessa vez em veículos 4x4, por estrada de terra, e
chegaremos ao povoado de Paraitepuy”, avisou Leo, um grandalhão místico que há oito anos conduz andarilhos ao cume. Ponto
de partida para os clássicos trekkings de seis, sete ou oito dias pelo
Monte Roraima, o vilarejo abriga um posto do Inparques, órgão venezuelano que administra o Parque Nacional Canaima – onde está
o único acesso conhecido ao topo, pelo lado sul. Registrada nossa
entrada, conhecemos alguns dos 300 moradores indígenas do lugar,
os chamados pemons, todos da etnia taurepang. Oito deles seriam
responsáveis por carregar nossas barracas e preparar nossa comida.
Pé ante pé, iniciamos os 15 quilômetros do primeiro dia.
Tanto os taurepangs como os índios de outras etnias da região –
como os macuxis e os ingarikós – acreditam que o Monte Roraima
é o lar do deus Makunáima (mito que inspirou o escritor paulista
Mário de Andrade a criar seu famoso personagem Macunaíma).
Visto de Paraitepuy, que fica a 1.300 metros de altitude, o suntuoso
Roraima impõe respeito com seus quase 90 quilômetros quadrados como se fosse uma divindade: distante, alto demais, aparentemente inalcançável – tanto que só no fim do século 19 ele foi
explorado pela primeira vez. Trata-se de um legítimo tepui, assim
como o vizinho Kukenan e outras 20 formações do parque. Tepuis são mesetas com paredes abruptas e topos achatados, reco76 RED Great hikes
with the 12 expeditioners in our group (five men and seven women).
From there, we crossed the Venezuelan border by car and, after
a three-hour drive, we came to the city of Santa Elena de Uairén,
where we met our two local guides, Leo Tarolla and Tirso Leiva.
“Another hour-and-a-half drive, this time in 4x4s on dirt roads,
and we’ll arrive at the Paraitepuy settlement,” explained Tarolla,
a large, mystical man who’s been leading travelers up to the peak
for eight years now. The starting point for the classic six, seven or
eight-day treks up Mt. Roraima, the village is home to an Inparques
post, a Venezuelan agency that administrates Canaima National
Park – where the only known access point to the mountain, from
the south side, is located. Once our entrance was registered, we met
some of the locale’s 300 indigenous residents, the so-called Pemons,
all of them of Taurepang ethnicity. Eight of them would be responsible for carrying our tents and preparing our food. We began on
the nine-mile [15 km] hike of the first day, one step at a time.
The Taurepangs, like the other Indians of various ethnicities in the
region – including Macuxis and Ingarikós – believe that Mt. Roraima
is home of the god Makunáima (a myth that inspired São Paulo writer
Mário de Andrade to create his famed character Macunaíma). Viewed
from Paraitepuy, which stands at an altitude of 4,200 feet [1,300 m],
lush Mt. Roraima imposes respect with its 35 square miles [90 square
km] as if it were a divinity: distant, impossibly tall, almost unreachable – so much so that it was only in the late 19th century that it was
explored for the first time. It’s an authentic tepui, just like the neighboring Kukenan and 20 other of the park’s formations. Tepuis are tabletop mountains with abrupt walls and flat surfaces recognized as the
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EXPERIENCES
Grandes caminhadas
O Rio Tök, ponto de
acampamento e banho
no primeiro e no último
dia da expedição
Tök River, the spot for
camping and bathing on
the first and last days
of the expedition
78 RED Great hikes
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EXPERIENCES
Grandes caminhadas
O arco-íris sobre pedras de
formas curiosas e as “Jacuzzis”:
platô é um espetáculo visual
The rainbow over the curiously
shaped rocks and the “Jacuzzis”:
the plateau is visually spectacular
nhecidas como as formações expostas mais antigas da Terra: datam do período pré-cambriano, ocorrido há mais de 2 bilhões de
anos. Sua aparência pré-histórica inspirou relatos como o do livro
O Mundo Perdido, escrito há um século pelo escocês Arthur Conan
Doyle (criador do detetive Sherlock Holmes), e serviu como cenário para a série Jurassic Park e a animação Up – Altas Aventuras.
Embora nosso imaginário esperasse encontrar logo aquele território de outro planeta, onde um dinossauro poderia surgir a qualquer momento por trás das brumas constantes, não foi isso o que
os dois dias iniciais nos reservaram. Os sobes e desces eram suaves,
bucólicos riachos apareciam a cada hora, uma igrejinha cuidada pelos pemons decorava a savana e o céu azul com sol de menos de 30
graus desmistificou a fama de lugar com temperatura inconstante e
imprevisível: até o arco-íris deu as boas-vindas aos 70 viajantes que
partiram da vila indígena naquele sábado, dia 29. Tanto o primeiro
pernoite, à beira do Rio Tök (lê-se “Tek”), quanto o segundo, depois
de mais 8 quilômetros, no Acampamento Base, a 1.850 metros de
altitude, foram relativamente confortáveis (apesar dos persistentes
insetos chamados puri-puris). Em barracões cobertos, os jantares e
cafés da manhã incluíram trutas, massas, sopas e arepas venezuelanas – “o melhor da autêntica comida roraimera”, como brincou o
carismático guia Tirso, que celebrava sua 30a ida ao topo. Riachos
de água gelada para o banho não ficavam distantes. E até os “banheiros” funcionaram com uma lona ou uma barraca protegendo
a intimidade – luxo que não teríamos no cume. Todos os dejetos
orgânicos e o lixo produzido na excursão seriam transportados de
volta pelos carregadores, no final do passeio, até sua aldeia.
80 RED Great hikes
oldest exposed rock formations on Earth: they date from the Precambrian period, which occurred over 2 billion years ago. Their prehistoric
appearance inspired reports like the one in the book The Lost World,
written a century ago by Scottish author Arthur Conan Doyle (who
created the detective Sherlock Holmes), and served as the setting for
the Jurassic Park series and the animated film Up.
Though in our imagination we hoped to find that otherworldly terrain – where a dinosaur might emerge from the constant mist at any
moment –, there was nothing of the sort in the first two days. The upand downhill climbs were smooth; we stumbled onto many peaceful streams; a small church maintained by the Pemons adorned the
savanna; and the blue sky and temperature under 86 °F [30 °C] defied the place’s reputation for inconstant and unpredictable weather:
there was even a rainbow welcoming the 70 visitors who set off from
the indigenous village on that Saturday, December 29th. The first
night, spent by the banks of the Tök River (pronounced “Tek”), and
the second one, after another five miles [8 km], at the Base Campsite,
at an altitude of 6,000 feet [1,850 m] were relatively comfortable (despite the persistent insects known as puri-puris). In covered tents, we
enjoyed dinners and breakfasts of trout, pasta, soup and Venezue­lan
arepas – “the best of the authentic Roraima food,” as our charismatic
guide Leiva, who was celebrating his 30th trip to the top, joked. Cold
streams for bathing weren’t far away. And there were even working
“bathrooms” with a canvas or tent protecting one’s privacy – a luxury that we wouldn’t have at the top. All the organic waste and trash
produced on the excursion would be transported by the carriers back
to their village at the end of the trek.
Cenário jurássico
Até que chegou o terceiro dia, o do Passo das Lágrimas, demandando uma “escalaminhada” quase vertical sobre pedras escorregadias
à beira do paredão rochoso. Toda a expectativa para descobrir o que
havia no topo, a mais de 2.700 metros, se transformou em estupefação. Surgia diante de nós um reino de vastidão, silêncio, delicadeza.
As enormes rochas erodidas se assemelhavam a rostos de guardiões
indígenas (a primeira delas, segundo os nativos, era o próprio
Makunáima), a naves espaciais, castelos mágicos, cachorros bravos
como os do filme Up, aos pterodáctilos de Jurassic Park. Em vez de
uma floresta tropical, a vegetação surpreendia com esparsas árvores
baixas e de troncos retorcidos. Na hora de caminhar por mais 1h30
– então em um terreno escuro e plano, composto por quartzito e arenito – rumo ao nosso QG das próximas três noites, , uma constatação:
tão impactante quanto as rochas era o maravilhoso universo das pequenas coisas que se multiplicavam aos nossos pés. Flores minúsculas, semelhantes a mandalas psicodélicas, liquens e fungos de todas
as cores, miniplantas carnívoras e insetívoras, com tentáculos cheios
de detalhes, e até um sapinho preto, menor que um dedão, chamando
a atenção como uma das espécies que só existem ali.
Nossa virada de ano no platô do Monte Roraima seria uma experiência única. Os grupos de campistas se abrigam das garoas
constantes em cavernas e grutas apelidadas de “hotéis”. Tem o Hotel Índio, o Sucre, o Basilio... Ficaríamos no Guácharo, batizado em
homenagem a um pássaro local de hábitos noturnos – e nome também da caverna que exploraríamos, nos arrastando como minhocas. Quando o pôr do sol já dourava os paredões dos abismos diante
Jurassic scenery
Then came the third day and the Passo das Lágrimas, which required
some nearly vertical scaling on slippery rocks at the edge of the
stone wall. All the expectations for discovering what was on top, at a
height of over 8,900 feet [2,700 m], transformed into amazement. A
vast, silent and delicate kingdom was unveiled before our eyes. The
enormous eroded rocks resembled the faces of indigenous guardians
(the first of them, according to the natives, is Makunáima himself),
space ships, magical castles, angry dogs like those in the movie Up,
the pterodactyls from Jurassic Park. Instead of a tropical forest, the
vegetation there surprised us with its sparse, short trees with twisted trunks. When it was time to hike another hour and a half to our
headquarters for the next three nights – now crossing a dark, flat
terrain composed of quartzite and sandstone –, an observation: just
as striking as the rocks was the wonderful world of little things that
multiplied at our feet. Miniscule flowers which resembled psychedelic
mandalas, lichens and fungi of all different colors, tiny carnivorous
and insectivorous plants with tentacles covered in details and even
little black frogs, smaller than human thumbs, which caught our attention as one of the species that only exist there.
Our New Year’s Eve on the plateau of Mt. Roraima was a unique
experience. The groups of campers took shelter from the constant
drizzle in caverns and grottos nicknamed “hotels.” There’s Hotel
Índio, Hotel Sucre, Hotel Basilio... We stayed in Hotel Guácharo,
christened after a local bird with nocturnal habits – also the name
of the cavern which we explored, wiggling through like worms.
While the sunset was shining golden on the walls by the abysses
81
EXPERIENCES
Grandes caminhadas
Passo das Lágrimas visto de
baixo, montanhista, família do
índio Teodoro (em pé, à esq.) na
“cozinha” da caverna e barracas
com o Kukenan ao fundo
Passo das Lágrimas viewed from
below, a mountaineer, the family
of the Indian Pérez (standing, left)
in the cave’s “kitchen” and tents
with Kukenan in the background
de nós e a temperatura despencava de mais de 20°C para perto de
zero grau, os mais corajosos ainda tomaram banho em uma das
lagoas congelantes dos arredores. Os menos exigentes se contentaram com a higiene à base de lenços umedecidos. Ceia especial, um
minúsculo champanhe bebericado por umas 20 bocas, abraços e
desejos de feliz ano-novo. Nada de barulheira ou fogos de artifício.
“Hoje somos da mesma família”, disse Teodoro Pérez, um simpático
pemon de 50 anos que desde os 15 leva turistas ao monte. Suas duas
filhas e outras duas parentes que integravam nosso staff entoaram
canções indígenas. Respondemos com dois ou três sambas. Por volta de 10 horas da noite, sob a lua cheia e milhares de estrelas, todo o
nosso grupo de pernas cansadas já dormia nas barracas.
in front of us and the temperature dropped from 68 °F [20 °C] to
almost -32 °F [0 °C], the more courageous bathed in one of the
icy lagoons nearby. The less demanding contented themselves
with washing with wet wipes. A special dinner, a tiny champagne
bottle sipped by 20 mouths, hugs and happy new year wishes.
No noisy fireworks. “Today we are from the same family,” said
Teodoro Pérez, a friendly 50-year-old Pemon who’s been leading
tourists on the mountain since age 15. His two daughters and two
other relatives that were part of our staff sang indigenous songs.
We responded with two or three sambas. By about 10 p.m., under a full moon and millions of stars, everyone in our group was
sleeping in tents with tired legs.
Feliz ano-novo
Acordar com o brilho do sol, entre 5 e 6 horas da manhã, foi uma rotina naqueles sete dias – assim como dormir logo depois de cair a noite,
entre 20 e 21 horas. Quanto mais andávamos no quarto e quinto dias,
já na extensa planície, mais nos deslumbrávamos: vimos beija-flores,
gaviões, cobras, aranhas, lagartos. E nos 24 quilômetros percorridos
no primeiro dia do ano, trilhamos caminhos forrados por cristais de
quartzo, mergulhamos nas águas amareladas do El Foso e atingimos
o chamado Ponto Triplo. É onde um monumento demarca a fronteira
entre Venezuela, Guiana e Brasil. Se nosso roteiro fosse o de oito dias,
teríamos conhecido também o abismo da Proa, no extremo norte do
maciço, assim como o Lago Gladys (nome dado a uma das filhas do
índio Teodoro). Não menos belas foram as paradas do dia seguinte:
o mirante La Ventana, onde uma sequência de arco-íris encantou a
todos; as piscinas naturais denominadas “Jacuzzis”, com fundo for-
Happy New Year
Waking up with the sun shining sometime between 5 a.m. and 6 a.m.
was the routine for those seven days – as was going to sleep shortly after
sundown, between 8 p.m. and 9 p.m. The more we walked on the extensive plain on the fourth and fifth days, the more we were enchanted: we
saw humming birds, hawks, snakes, spiders, lizards. And on the 15 miles
[24 km] we covered on New Year’s Day, we walked on trails lined with
quartz crystals, swam in the yellowed waters of El Foso and reached
the so-called Triple Point. It’s there that a monument marks the border
between Venezuela, Guyana and Brazil. If we’d opted for the eight-day
itinerary, we would have also visited the cliff known as La Proa, on the
massif’s northernmost tip, as well as Lake Gladys (name given to one of
the Indian Pérez’s daughters). No less beautiful were the following day’s
sights: the La Ventana overlook, with a series of rainbows; the natural
pools called “Jacuzzis” with their bottoms lined with crystals; the Salto
82 RED Great hikes
rado de cristais; a delicada cascata Salto Catedral; e La Ventana de
Kukenan (de onde se vê a cachoeira dos sonhos do velhinho de Up).
Como as nuvens do Monte Roraima cobriram a Pedra Maverick,
ponto mais alto já medido naquela montanha, o grupo – bem sintonizado, depois de quase uma semana de expedição compartilhando
bolhas nos pés e histórias de vida – decidiu que a conquista da rocha
em forma de carro ficaria para o dia seguinte. Acordaríamos de madrugada e subiríamos ao cume, a 2.810 metros de altitude, antes de
iniciar a temida descida de volta. O tempo extra no entardecer alaranjado seria útil para descansar, já que trilharíamos em dois dias os 28
quilômetros feitos em três dias na subida, completando 99 quilômetros de trekking. E foi a oportunidade perfeita para que cada um pudesse contemplar, pela última vez, as plantas minúsculas, as pedras
surreais e os misteriosos penhascos do templo de Makunáima. Catedral Waterfall; and La Ventana de Kukenan (from where you can
view the waterfall that the old man from Up dreamed of).
As the thick clouds on Mt. Roraima were covering Maverick Rock, the
highest known point on the mountain, the group – well-synchronized
after nearly a week of sharing blisters on our feet and stories from our
lives – decided that the trip up to the rock by car would come the next
day. We awoke in the wee morning hours and headed up to the peak, at
an altitude of 9,200 feet [2,810 m], before beginning the dreaded return
downhill. The extra time in the orange-tinged late afternoon would be
useful for resting, being that we would cover the 17 miles [28 km] which
had taken us three days to climb in just two – making for a total of 61
miles [99 km] of trekking. And it was the perfect opportunity for us all to
admire the miniscule plants, the surreal rocks and the mysterious cliffs
of Makunáima’s temple one last time. +55 95
INFO: Roraima Adventures - Rua Coronel Pinto, 86, Sala 106, Boa Vista, tel. 3624-9611, roraima-brasil.com.br; Inparques - inparques.gob.ve
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TREKKING NO MONTE RORAIMA: Roteiro de 8 noites a partir R$ 891,07 de entrada + 9x de R$ 561,04 ou R$ 5.940,50 à vista com aéreo de ida e volta via Boa Vista + 3
noites de hospedagem com café da manhã em Boa Vista (2 na chegada e 1 na saída) + 5 noites em camping com pensão completa (inclui barracas e equipamentos como material
de cozinha) + transporte aeroporto/Boa Vista/aeroporto e passeios + city tour em Boa Vista + kit de primeiros socorros + seguro viagem + guia de trilha e carregadores para
equipamentos coletivos + kit de ecoturismo + pontos Multiplus. Saída: 14/3
TREKKING ON MT. RORAIMA: An 8-night itinerary starting at a down payment of R$891.07 + 9 installments of R$561.04 or a single upfront payment of R$5940.50
with roundtrip airfare to Boa Vista + 3 nights of accommodations with breakfast in Boa Vista (2 upon arrival and 1 before departure) + 5 nights of camping with full board
(including tents and equipment such as kitchen material) + shuttle service airport/Boa Vista/airport and day trips + city tour in Boa Vista + first aid kit + travel insurance +
trail guide and carriers of collective equipment + ecotourism kit + Multiplus points. Departure: 3/14
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