INVESTINDO EM DESIGN DO PRODUTO
NO SETOR DE EMBALAGENS
Claudia Alquezar Facca
Designer
Professora e pesquisadora em design
Mestre em Design
Coordenadora do curso de Design do Produto do Instituto Mauá de Tecnologia
As embalagens passaram a fazer parte da nossa vida a partir do momento em
que o mundo foi tornando-se mais complexo. As pessoas, suas necessidades,
as cidades, as distâncias, os meios de comunicação, a tecnologia, o trabalho, o
comércio, a indústria, enfim, todo o desenvolvimento da humanidade
contribuíram imensamente para a evolução da embalagem transformando-a
numa maneira eficiente de ajudar a comercialização dos produtos no mercado,
apresentando-os de uma forma atrativa.
Embalamos as coisas por vários motivos: para conter, acondicionar, guardar,
conservar, proteger, transportar, distribuir, identificar, informar, promover,
vender, usar etc. De maneira geral, podemos dizer que embalar é uma forma
de garantir que um produto chegue ao seu destinatário final da melhor maneira
possível. Mas quem é esse destinatário final? O consumidor! Quem compra,
consome e utiliza um produto e que, embora não seja o único elemento
determinante nas relações comerciais, tem um papel fundamental em todo o
processo e a sua escolha vai depender dos valores percebidos que podem
variar conforme suas necessidades e desejos.
Abraham Maslow, renomado psicólogo americano, mapeou os níveis de
necessidades básicas de um indivíduo, demonstrando hierarquicamente qual a
importância de certos atributos com os quais nos relacionamos. Segundo ele,
primeiro satisfazemos os níveis mais baixos e só passamos para os níveis
superiores quando as necessidades anteriores forem satisfeitas. Podemos ver
no diagrama abaixo alguns exemplos de como o valor agregado à embalagem
vai mudando conforme as necessidades vão subindo de nível:
No primeiro nível – o fisiológico - a embalagem precisa conter os elementos
mínimos necessários para comercializar, por exemplo, uma determinada
quantidade de tomates: um suporte, um filme protetor e uma etiqueta
informativa. Ao cumprir sua função primária, a embalagem já pode, num
segundo nível, agregar novos valores ao produto como, por exemplo, uma
tampa para remédios com um dispositivo de segurança, que dificulta sua
abertura por crianças. O nível seguinte supre a necessidade de relacionamento
com os outros, com a comunidade. Ao adquirir, por exemplo, o Kit de Pintura
Arte Solidária, na qual a caixa transforma-se em cavalete de pintura, o
consumidor colaborará também com um projeto social. O próximo nível envolve
um valor emocional agregado ao produto que preenche a necessidade de autoestima, representado aqui por um dos perfumes mais desejados do mundo. Ao
alcançar o último nível da realização pessoal, a embalagem proporciona uma
nova experiência ao consumidor, tornando possível, por exemplo, que ele faça
parte do universo desejado ao possuir, no caso, a maleta do agente secreto
007. Para definirmos o nível de necessidades do consumidor que uma
embalagem irá atender é importante conhecermos qual a importância que esse
consumidor dará para cada atributo de design agregado nessa embalagem.
Isso será fundamental para o sucesso do produto ou da marca.
Uma embalagem pode ser o primeiro e o último contato com o consumidor, no
momento da compra. Ao estar exposto na prateleira de um supermercado, por
exemplo, o produto tem que chamar a atenção do consumidor e ser “o
escolhido” e a embalagem possui muita responsabilidade. Vários fatores
influenciam essa relação e quanto mais os designers conseguirem explorá-los
e aplicá-los no desenvolvimento de novos produtos, mais chances de
conquistar os consumidores. Segundo o escritório de design americano
CAPSULE (livro Design Matters: Packaging, Rockport Publishers, 2008),
alguns caminhos potenciais podem ser destacados para alcançar tais objetivos.
o Simplicidade: produtos simples de comprar e de entender;
o Qualidade conveniente: os consumidores buscam conveniência e rapidez
sem perder a qualidade;
o Globalização: o local de origem impacta cada vez mais na procura e
escolha dos produtos;
o Novas referências: o consumidor está valorizando novas informações como
país de origem, responsabilidade ambiental etc.;
o Confiança na marca: a embalagem reflete uma marca e passa muitos
valores da instituição;
o Sustentabilidade: o design das embalagens pode contribuir muito para
diminuir o impacto na natureza;
o Convergência: a embalagem tornando-se parte da experiência do produto;
o Personalização: oportunidade do design da embalagem proporcionar a
customização das massas;
o Luxo: os consumidores compram “pequenos momentos” de luxúria através
de produtos e serviços.
Como designers, nós temos a oportunidade (e a obrigação!) de repensar sobre
a maneira como os produtos serão consumidos. Num universo em que a
variedade de produtos oferecidos é cada vez maior, a tecnologia disponível
para a produção evolui tão rapidamente, o consumidor tem a cada dia novos
desejos, necessidades e preocupações, o espaço do planeta está sendo
ocupado de forma intensa e descontrolada e a natureza é quem está pagando
um preço alto por toda essa transformação, as embalagens podem passar de
vilãs (como causadoras de grande parte da poluição ambiental) para agentes
de um mundo melhor. E isso pode acontecer por meio do design. O design não
é simplesmente a forma seguindo a função ou a criação de uma embalagem
“bonitinha”. O design pode despertar as pessoas para uma nova forma de
consumir, uma nova forma de olhar e consequentemente uma nova forma de
pensar. Por meio de soluções inovadoras planejadas, o design de uma nova
embalagem pode trazer o consumidor para uma responsabilidade realmente
sustentável, valorizando novos atributos, além de tornar os produtos
irresistíveis e atraentes. O design pode despertar os consumidores para uma
nova consciência e tornar-se a verdadeira razão de compra.
Publicado: Novembro de 2010 – Revista Embalagem & Tecnologia
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