2 ª Escola de Verão para Juventudes Políticas Progressistas da América Latina O planejamento de Longo Prazo e as Políticas de Juventude(s) Com referências à intervenção de Gustavo Bittencourt Comentários de Sergio Balardini (FES Argentina) Seria pertinente perguntar: o que significa e quais as implicações do planejamento para as “políticas de juventudes”, em termos de gestão? E para os jovens, em termos sociais? O planejamento implica, em primeiro lugar, a necessidade de articulação com o projeto de desenvolvimento nacional. Tal articulação supõe uma concepção de desenvolvimento de país, com a ressalva de que uma não precede a outra (ou seja, não é que debatemos primeiro o desenvolvimento e depois vemos como “colocamos” os jovens nisso). Na realidade, as duas são constitutivas do mesmo movimento de construção de uma ideia de desenvolvimento. Implica também perspectivas de inclusão social, na medida em que ocorre em um processo de articulação com a etapa de desenvolvimento que vai se definindo. Implica uma “integralidade de políticas”, visto que se trata de um impacto “integral” sobre o sujeito jovem a partir das distintas dimensões do desenvolvimento (saúde, educação, emprego, cultura, etc). 145 Implica o planejamento, a médio e longo prazos, com impacto intergeracional, na medida em que deve ser levado em conta um equilíbrio de recursos que envolva o desenvolvimento das diferentes gerações, com a redistribuição de poder e recursos que tal equidade exige. Implica a construção não apenas de consensos entre os atores tradicionais mais ou menos institucionalizados, mas também um menos evidente, do tipo “consenso intergeracional”. Este último partiria de uma relação de poder claramente assimétrica, que se propõe a superar e que envolve diferentes faixas etárias. Implica a constituição de uma política de Estado que atravessa gestões e gerações, não sem conflitos ou contradições, e que apresenta condições de ser revisada e ajustada em função da dinâmica das mudanças e das novas perspectivas. Uma política que se comprometa a realizar um planejamento estratégico de longo prazo e, ao mesmo tempo, tenha a flexibilidade suficiente para enfrentar uma época de permanentes mudanças e inovações, que por sua vez acontecem em uma velocidade crescente. Além disso, podem ser definidos pelo menos três campos de intervenção nos quais o aspecto geracional recebe um impacto direto: a educação, onde se encontra a maioria dos jovens, âmbito de seu presente e sua projeção; a proteção ao meio ambiente, cujo “gasto” não é recuperável e pode, sim, representar uma hipoteca geracional; e a mudança tecnológica, para a qual as novas gerações mostram melhor disposição, já que a vivenciam como seu “entorno natural” e de forma mais pacífica que a observada pelas gerações já instaladas. 2 ª Escola de Verão para Juventudes Políticas Progressistas da América Latina Finalmente, um comentário sobre a ferramenta. Os instrumentos a serem aplicados contêm sempre uma definição política. O saber especialista não está isento de valores, e a neutralidade técnica é um capítulo polêmico. Nesse sentido, se por um lado é certo que a ideologia entra pelo lado dos “objetivos” e, além disso, que os “instrumentos devem ser consistentes com a realização dos objetivos anunciados” (GB), também é certo que o tema da ideologia também entra nas linhas de ação e na definição dos caminhos a seguir. Portanto, esses terrenos não são meramente técnicos – nem ao menos os que poderiam possuir uma hipotética “neutralidade técnica”. Um exemplo que deve incluir os diferentes momentos do planejamento: prospecção ou diagnóstico, políticas e avaliação. Respostas às perguntas: • Como são incorporados os temas da cultura e da participação dos jovens no planejamento? Assim como é necessário contar com a assessoria de profissionais especialistas e qualificados em planejamento, também é preciso incorporar atores sociais. Como incluí-los? De diversas maneiras, nas diferentes etapas de planejamento, através de mecanismos participativos e gerando as condições para seu desempenho. Por outro lado, se a visão estratégica e sua avaliação final não coincidem, será necessário efetuar ajustes na área de planejamento. 147 • Dentro do olhar progressista, não encontramos conflitos na visão estratégica? O conflito é um elemento inerente à sociedade. Quanto maior a complexidade, maior a variedade de conflitos. Não devemos imaginar que o consenso implica a eliminação de conflito, mas sim, muitas vezes, sua “administração” até chegar a novos momentos de desenvolvimento nos quais os conflitos adotem novas formas – alguns se diluem, outros surgem. Não é possível, e tampouco seria bom, sonhar com uma estação final a atingir, onde tudo seja “paz e harmonia”, e que não inclua o conflito. Seria uma cena estática e sem vida. Significaria, afinal, impedir que as novas gerações sigam caminhos que hoje não podemos prever. Um final em todos os sentidos. • Como as perspectivas geracionais podem ser levadas em conta no planejamento? Cada ministério do Estado deveria ter uma visão sobre a(s) juventude(s), um enfoque ou perspectiva geracional, assim como existe a visão de gênero. Dependendo da visão e da concepção a respeito dos jovens, poderemos definir seu lugar, suas necessidades compartilhadas e sua contribuição ao desenvolvimento. O enfoque recomendado – considerar os jovens como sujeitos portadores de direitos –, além de ser o que melhor responde a uma perspectiva progressista, permite articular um projeto integral com mais efetividade.