Análise da Passagem do Eritrócito através de Poros Curtos de Perfil Catenário José João Rossetto Depto de Matemática, UFPR, 81531-990, Curitiba, PR E-mail: [email protected] O eritrócito humano maduro é uma célula cujo citosol é constituído de um líquido, contendo principalmente água, eletrólitos e hemoglobina, sendo livre de núcleo e organelas. Sua membrana tem característica de um líquido bidimensional, podendo assumir em princípio qualquer forma apresentando, porém, alta resistência à dilatação sob tensão isotrópica. Ao longo de sua vida de aproximadamente 120 dias a área de superfície e o volume tendem a diminuir proporcionalmente. No entanto, a área de superfície da membrana e o volume do glóbulo vermelho podem ser considerados constantes por um determinado período de tempo [5]. A capacidade desta célula se deformar advém do excesso de área de superfície de membrana em relação a seu volume interno quando comparado a uma esfera de igual volume. Essa deformabilidade é colocada à prova quando da sua passagem pelos capilares e, principalmente, pelos poros curtos do sistema reticuloendotelial (em particular o baço considerado um órgão de filtração mecânica). De qualquer maneira a forma física que o eritrócito assume ao atravessar estes poros introduz novos problemas em Biomatemática, onde análises físicas e matemáticas podem ser utilizadas para se derivar fórmulas relacionando o volume e a área da superfície da membrana (constantes celulares utilizadas para caracterizar o eritrócito) com os elementos que definem os poros através dos quais a célula é capaz de transpor. As aberturas pelas quais passam os eritrócitos podem ser canais com perfil topológico cilíndrico (aberturas radiais interendoteliais). A passagem do eritrócito por um poro cilíndrico já foi descrita na literatura [1] e, posteriormente, a discussão foi estendida para um número qualquer de poros cilíndricos [3-4]. Por outro lado, visualizando micrografias eletrônicas, em que se observam eritrócitos atravessando as paredes dos seios esplênicos [2], pode-se inferir que os poros não são exatamente cilíndricos (a determinação do perfil geométrico não é uma tarefa simples, pois o corte histológico não necessariamente ocorre perpendicular ao poro). Isto motiva uma investigação da passagem do eritrócito por poros que tenham outro perfil geométrico (por exemplo, poros de perfil cônico [4], dentre outros). Neste trabalho analisa-se a passagem do eritrócito através de um poro curto de perfil catenário (poro catenário - canal que é um sólido de revolução gerado pela curva catenária). Deduz-se uma fórmula implícita envolvendo a área de superfície da membrana e o volume do eritrócito, com os elementos geométricos que definem os poros (no caso, parâmetro que define a “inclinação” da curva catenária, abertura mínima do poro (raio) e o comprimento do poro) a qual fornece valores apropriados das dimensões do poro para a passagem ou não da célula. Demonstra-se que o caso catenário generaliza o caso cilíndrico e apresentam-se comparações entre os dois casos. Ressaltam-se resultados contra-intuitivos, por exemplo, para um poro cilíndrico de raio r e comprimento L em que o eritrócito transpõe o poro, se o raio r é pequeno (r ≤ 0.25 µm), o mesmo pode não transpor um poro catenário com esse mesmo raio e comprimento (mesmo sendo o poro catenário de maior volume). Em seguida, indicam-se características de filtros mecânicos artificiais constituídos de poros catenários para a seleção de eritrócitos, por exemplo, de acordo com a sua idade - quanto mais velho o eritrócito, mais restrita é sua faixa de passagem. Finalmente, discutem-se algumas hipóteses para o fenômeno de filtração de eritrócitos na passagem destes pelos poros curtos das paredes dos seios esplênicos do baço. Referências [1] P. J. Abatti, Determination of the Red Blood Cell Ability to Traverse Cylindrical Pores, IEEE Trans. Biomed. Eng., 44 (1997) 209-212. [2] M. A. Klausner et al, Contrasting splenic mechanisms in the blood clearance of red blood cells and colloidal particles, Blood, 46 (1975) 965. [3] J. J. Rossetto; P. J. Abatti, Análise da passagem da célula vermelha do sangue através de poros cilíndricos, TEMA - Tendências em Matemática Aplicada e Computacional, 3.1 (2002)193-202. [4] J. J. Rossetto, “Tese de Doutorado: Análise de modelos de filtros mecânicos para eritrócitos”, CEFET-PR, Curitiba, 2003. [5] M. M. Wintrobe et al, “Hematologia Clínica”, Manole, São Paulo, 1998.