X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Núcleo Regional Sul Índice de Sensibilidade e Análise de Componentes Principais com Atributos Edáficos em Sistema Plantio Direto Agroecológico da Cebola, Ituporanga, SC Leôncio de Paula Koucher(1); Arcângelo Loss(2); Jucinei José Comin(3); Alex Basso(4); Bruno Salvador Oliveira(4); Ludmila Nascimento Machado(4); Rodolfo Assis de Oliveira(4); Claudinei Kurtz(5) (1) Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agroecossitemas; Universidade Federal de Santa Catarina; Rodovia Admar Gonzaga, 1346, Florianópolis, SC, 88034-000, [email protected]. (2)Professor Adjunto II, Universidade Federal de Santa Catarina, (3)Professor Associado IV, Universidade Federal de Santa Catarina; (4)Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agroecossitemas; Universidade Federal de Santa Catarina; (5) Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Ituporanga, SC. RESUMO– Decorrente do manejo do solo, tais como o sistema de preparo convencional (SPC) versus o sistema plantio direto de hortaliças (SPDH), modificações nos atributos edáficos ocorrerem e alteram os índices de agregação e o conteúdo de carbono orgânico total (COT). Objetivou-se avaliar o índice de sensibilidade (IS) dos agregados e, através de alguns atributos edáficos, realizar uma análise de componentes principais (ACP) em solo cultivado com cebola em SPDH e SPC, comparado a uma área de mata adjacente. Os tratamentos foram: 100% Aveia; 100% Centeio; 100% Nabo forrageiro; consórcio de nabo (80%) e centeio (20%); consórcio de aveia (40%) e nabo (60%); Testemunha com vegetação espontânea. Adicionalmente, avaliou-se uma área em SPC e mata, ambas adjacentes. Nos agregados (0-5, 5-10 e 10-20 cm) quantificou-se o COT, o diâmetro médio ponderado e geométrico (DMP e DMG) e a sua distribuição por classes de tamanho (Macro, meso e microagregaodos). Com o DMP e DMG, calculou-se o IS. Com todos os dados obtidos, fez uma análise de componentes principais (ACP). O uso de plantas de cobertura no SPDH é eficiente para recuperar e aumentar o IS dos agregados em relação ao SPC. O nabo forrageiro aumenta o IS na camada de 10-20 cm em relação aos demais tratamentos. A ACP evidencia a perda de COT e aumento dos meso e microagregados no SPC, assim como a substituição do SPC do solo pelo SPDH com plantas de cobertura aumenta a formação de macroagregados estáveis em água, com posterior aumento do IS dos agregados. solo (aração, subsolagem ou escarificação), ocasionando em sua pulverização (Epagri, 2013) e, consequentemente, a sua degradação física e química. A redução dos danos ocasionados devido ao mau uso do solo pode ser alcançada utilizando-se a técnica do sistema plantio direto de hortaliças (SPDH) e com a realização de preparo mínimo do solo. Em relação ao índice de sensibilidade (IS), este permite avaliar se os valores de diâmetro médio ponderado (DMP) e geométrico (DMG) dos agregados encontrados nos sistemas com usos agrícolas do solo foram diferentes daqueles observados no solo da área de mata, sendo que valores acima da unidade (área de mata = 1,0) representam incremento na agregação, e valores menores que a unidade, redução na agregação (Bolinder at al., 1999; Portugal et al., 2010). Por meio de vários atributos edáficos, pode-se realizar uma analise multivarida, a exemplo da análise de componentes principais (ACP) para se verificar a distribuição dos atributos testados em função dos sistemas de uso do solo avaliados. A ACP é utilizada para reduzir as dimensões dos dados e, consequentemente, facilitar a análise por meio do gráfico do círculo de correlações (Herlihy e McCarthy, 2006). O objetivo deste estudo foi avaliar o índice de sensibilidade (IS) dos agregados e, através de alguns atributos edáficos, realizar uma ACP em solo cultivado com cebola em SPDH e SPC, comparado a uma área de mata adjacente, em Ituporanga, SC. Palavras-chave: plantas de cobertura, agregação do solo, carbono orgânico, preparo convencional do solo. MATERIAL E MÉTODOS- O trabalho foi realizado na Estação Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (EPAGRI), em Ituporanga, SC. O solo foi classificado como Cambissolo Húmico. O experimento foi instalado em área com histórico de SPC do solo com cultivo de cebola por ± 30 anos. Desde o ano de 2007, no SPC vem sendo cultivada cebola nas safras em sucessão ao milheto no verão. Em 2009, parte do SPC foi convertido para o SPDH. Os tratamentos avaliados constituíram-se do plantio de INTRODUÇÃO- O Estado de Santa Catarina é o maior produtor nacional de cebola, apresentando em 2013/2014, um rendimento médio de 20 t ha-1 e uma produção média de 413.848 mil toneladas (Acate, 2014). Entretanto, o sistema de preparo convencional do solo (SPC) no cultivo da cebola caracteriza-se pelo excessivo revolvimento do plantas de cobertura solteiras e consorciadas: 100% Aveia (Avena strigosa); 100% Centeio (Secale cereale); 100% Nabo forrageiro (Raphanus sativus; consórcio de nabo forrageiro (80%) e centeio (20%); consórcio de aveia (40%) e nabo forrageiro (60%); Testemunha com vegetação espontânea de língua de vaca (Rumex obtusifolius), orelha de urso (Stachys arvensis), caruru (Amaranthus lividus), tiririca (Cyperus spp.), azedinha (Oxalis corniculada) e picão preto (Bidens pilosa). Adicionalmente, foram avaliados mais dois tratamentos, ambos adjacentes ao experimento, sendo uma área de cultivo de cebola em SPC por mais de 30 anos e uma área de mata, representando a condição natural do solo. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com cinco repetições, e cada unidade experimental possuía 5 x 5 m, totalizando 25 m². Em setembro de 2013, cinco anos após a implantação dos tratamentos, foi realizada uma coleta de amostras indeformadas de solo nas camadas de 0-5, 5-10 e 10-20 cm. As amostras foram secas ao ar, destorroadas manualmente e peneiradas em um conjunto de peneiras de 8,00 mm e 4,00 mm para obtenção dos agregados do solo (Embrapa, 1997). Foram avaliados os seguintes atributos edáficos: COT, DMG, DMP, distribuição dos agregados em macroagregados (Ø ≥ 2,0 mm), mesoagregados (2,0 > Ø ≥ 0,25 mm) e microagregados (Ø < 0,25 mm). Com os dados de DMP e DMG, calculou-se o índice de sensibilidade (Bolinder et al., 1999): IS = DMGt/DMGo ou DMPt/DMPo; em que: IS = índice de sensibilidade; DMGt ou DMPt = valor do DMG/DMP do solo considerado em cada tratamento, e DMGo ou DMPo = valor do DMG ou DMP do solo na cobertura original (mata secundária). Com todos os dados obtidos, fez uma análise de componentes principais (ACP) utilizando-se o programa XlStat. RESULTADOS E DISCUSSÃO- Por meio do IS podese verificar que a área de SPC apresentou ISDMP e ISDMG, em média, 23% (0-5 cm) e 20% (5-10 e 10-20 cm) menores que a unidade (Figura 1). VegEspontânea Aveia Centeio Nabo Aveia+Nabo Centeio+Nabo Estes resultados corroboram os baixos índices de DMP e DMG verificados na área de SPC em relação à área de mata, somados as menores quantidades de macroagregados estáveis em água (dados não apresentados), pois as práticas de aração e gradagem desagregam o solo, culminando em maiores valores de agregados de menor tamanho (Figura 2). Avaliando a agregação do solo e o IS em diferentes sistemas de uso, em comparação com uma área de floresta secundária, Loss et al. (2008) encontraram resultados semelhantes ao deste estudo. Os autores verificaram que a área com SPC apresentou o menor valor de IS, sendo este decorrente das práticas de aração e gradagem. Por meio dos valores de ISDMP e ISDMG verificados nas áreas em SPDH, pode-se inferir que o uso de plantas de cobertura, solteiras ou consorciadas, após 5 anos de implantação em área com ± 30 anos de histórico de SPC, aumentou a agregação do solo, com ênfase para os macroagregados (Figura 2). Somados a isso, verificaramse ISDMP e ISDMG iguais a unidade para os sistemas nabo e centeio+nabo (0-5 cm) e aveia+nabo e centeio+nabo (10-20 cm). Assim como valores superiores a unidade para as demais áreas (Figura 1). Para os demais sistemas, verificaram-se IS ligeiramente superiores a unidade, com destaque para o nabo forrageiro na camada de 10-20 cm, com 7% superior a unidade e, nesta mesma camada, a área testemunha apresentou IS 3% inferior a unidade (Figura 1). Os maiores IS para o nabo forrageiro na camada de 10-20 cm corroboram os maiores índices de DMP e DMG (dados não apresentados) indicando a eficiência desta crucífera em aumentar a agregação do solo em áreas com histórico de SPC. Por meio da análise da ACP é possível verificar a formação de três grupos distintos, sendo um relacionado ao SPDH (números de 1 a 6), outro ao SPC (numero 7) e a área de mata (número 8). É interessante observar a disposição dos grupos formados, sendo verificado que o SPDH está em oposição ao SPC; e a área de mata está numa condição intermediária aos demais (Figura 2). SPC 1,1 1,0 Índice de sensibilidade 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0-5 cm 5-10 cm ISDMP 10-20 cm 0-5 cm 5-10 cm 10-20 cm ISDMG Figura 1 - Índice de sensibilidade para diâmetro médio ponderado (ISDMP) e diâmetro médio geométrico (ISDMG) de agregados, em sistemas de uso do solo com cultivo de cebola, Ituporanga, SC, em relação à mata. Figura 2. Diagrama de ordenação produzido por análise de componentes principais dos dados coletados. 1=testemunha, 2=aveia preta, 3=centeio, 4=nabo forrageiro, 5=aveia + nabo, 6=centeio + nabo, 7=SPC, 8=Mata. COT=carbono orgânico total, Micro=microagregados, Meso=mesoagregados, Macro=macroagregados. 2 Este padrão indica o efeito negativo do SPC sobre a agregação do solo, e as variáveis que estão separando o SPC dos demais são os meso e microagregados, pois os macroagregados apresentam baixa estabilidade física em água. Em contra partida, no SPDH as plantas de coberturas favorecem os processos químicos e físicos que acarretam na formação e estabilização dos agregados do solo, com ênfase na macroagregação. Dessa forma tem-se maiores índices de DMP e DMG (dados não apresentados), assim como melhores IS (Figura 1) em relação ao SPC, sendo justamente essas variáveis que separam o grupo formado pelo SPDH (1 a 6) da área de mata e principalmente do SPC (Figura 2). A área de mata, que representa a condição original do solo, separou-se das demais somente por meio do COT (Figura 2). Este resultado é decorrente dos maiores teores de COT encontrados na área de mata em todas as camadas avaliadas DMG (dados não apresentados), pois para as demais variáveis medidas, a área de mata apresentou resultados similares para DMP e DMG e menores valores de massa de macroagregados em relação ao SPDH. Porém, em relação ao SPC, todas essas variáveis foram menores. Em relação ao COT, por meio da ACP é possível verificar que tem-se maior aproximação do COT com o grupo formado pelo SPDH em comparação ao SPC, com ênfase para o COT na camada de 0-5 cm (COT5) (Figura 2). Este padrão indica que a substituição do SPC pelo SPDH recupera os teores de matéria orgânica, devido principalmente a melhoria da agregação do solo, pois o COT fica protegido no interior dos macroagregados formados pela união dos microagregados. Em estudo sobre a dinâmica da formação e estabilização dos agregados, Tivet et al. (2013) ilustram as perdas de carbono nos agregados após a conversão de áreas de floresta nativa para áreas de SPC, com aração e gradagem, sendo que posteriormente pode haver a recuperação desse carbono por meio da conversão do SPC para SPD. Esses autores demonstram que o SPC interrompe a formação de novos agregados do solo por meio da dispersão das partículas de argila e silte + microagregados de argila e, posteriormente, com a substituição do SPC pelo SPD, ocorre a formação de novos agregados e a redistribuição do carbono entre esses agregados por meio da entrada de resíduos vegetais diversos. Esses resultados corroboram os encontrados neste estudo para COT (principalmente em 0-5 cm) e a distribuição dos agregados em macro, meso e microagregados, onde a substituição do SPC do solo pelo SPDH com plantas de cobertura favoreceu a formação de macroagregados estáveis em água, com posterior aumento do DMP, DMG e IS. CONCLUSÕES – O uso de plantas de cobertura, solteiras ou consorciadas, junto ao SPD da cebola é eficiente para recuperar e aumentar o IS dos agregados em relação ao SPC. O nabo forrageiro aumenta a agregação do solo (IS) na camada de 10-20 cm em relação aos demais tratamentos com plantas de cobertura. A ACP evidencia a perda de COT e aumento dos meso e microagregados no SPC, assim como a substituição do SPC do solo pelo SPDH com plantas de cobertura aumenta a formação de macroagregados estáveis em água, com posterior aumento do IS dos agregados. AGRADECIMENTOS- Ao apoio financeiro relacionado à Chamada MCTI/MAPA/MDA/MEC/MPA/CNPq Nº 81/2013, e à Estação Experimental da EPAGRI – Ituporanga, SC. REFERÊNCIAS ACATE. Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia. Agronegócio e tecnologia. Santa Catariana. Anuário 2014, 96p. BOLINDER, M.A.; ANGERS, D.A.; GREEGORICH, E.G; CARTER, M.R. The response os soil quality indicators to conservation management. Canadian Journal Soil Sciense, 79:37-45. 1999. EMBRAPA. Manual de Métodos de análise de solo. Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 1997, 212p. EPAGRI. Sistema de produção para cebola: Santa Catarina. Florianópolis, 2013. 106 p. HERLIHY, M.; McCARTHY, J. Association of soil test phosphorus with phosphorus frac-tions and adsorption characteristics. Nutrient Cycling in Agroecosystems, 75: 79-90, 2006. LOSS, A.; Pereira, M.G.; Schultz, N.; Anjos, L.H.C.; Silva, E.M.R. Agregação do solo e índice de sensibilidade em áreas sob diferentes sistemas de produção orgânica. In: Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água, 17, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: SBCS, 2008. CD Rom. PORTUGAL, A.F.; COSTA, O.D.V.; COSTA, L.M. Propriedades físicas e químicas do solo em áreas com sistemas produtivos e mata na região da Zona da Mata mineira. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 34:575-585, 2010. TIVET, F.; SÁ, J.C.M.; LAL, R.; BRIEDIS, C.; BORSZOWSKEI, P. R.; SANTOS, J. B.; FARIAS, A.; HARTMAN, D. C.; NADOLNY JUNIOR, M.; BOUZINAC, S.; SEGUY, L. Aggregate C depletion by plowing and its restoration by diverse biomass-C inputs under no-till in subtropical and tropical regions of Brazil. Soil & Tillage Research, 126: 03-218, 2013. 3