203 O REINO DO CONGO: CONTEÚDOS DE HISTÓRIA DA ÁFRICA EM SALA DE AULA Carolina Biasi Pina/[email protected] Marcella Mocci Milano/[email protected] Mariana Denardi da Silva/[email protected] Bolsistas PIBID UNESPAR/ Campus de Paranavaí Ricardo Tadeus Caires- [email protected] Isabela Candeloro Campoi- [email protected] Coordenadores PIBID-História, UNESPAR/ Campus de Paranavaí Resumo: A presente comunicação tem por objetivo fazer uma breve discussão sobre o Reino africano do Congo, suas origens, sua cultura e desenvolvimento, as influências que os europeus produziram sobre esta civilização, assim como a divisão de classes, inclusive a existência da escravidão, bastante diferente dos moldes ocidentais. O estudo deu especial atenção ao artesanato, e, tendo como peças fundamentais da cultura congolesa, as máscaras. Estudos prévios sobre o Reino do Congo foram feitos em livros didáticos, livros acadêmicos e algumas fontes da internet, apenas após leituras detalhadas é que a complexidade e a importância de tal reino se fez presente. Com a pesquisa e os estudos sobre o Reino do Congo pretende-se criar planos de aula e atividades que serão aplicadas no Colégio Estadual Leonel Franca e na Escola Estadual Curitiba, ambos da cidade de Paranavaí e que estão vinculados ao projeto PIBID de História da Universidade Estadual do Paraná, campus de Paranavaí. As atividades extraclasses acerca do conteúdo do Reino do Congo têm o intuito de estimular os alunos e proporcionar-lhes um maior conhecimento sobre a História da África que, mesmo diante da lei que estabelece sua obrigatoriedade em sala de aula ainda é pouco discutida e explorada no ambiente escolar quebrando paradigmas e preconceitos. Palavras-chave: África. Aula. Congo. Reino. Introdução/ Justificativa/ Desenvolvimento O trabalho pretende mostrar de forma breve a história do Reino africano do Congo e diante disso, criar aulas para o ensino fundamental sobre a importância deste para a História. Neste reino, existia uma economia aldeã e uma economia urbana, um artesanato dinâmico de produtos que iam para os mercados locais ou para lugares de longa distância. Dois povos faziam parte do Reino do Congo, os imigrantes ou dominadores e o povo que já estava no local ou submetidos, isso porque ocorreu um processo de conquista do estrangeiro sobre o povo local e estes estrangeiros eram os habitantes da cidade e os vencedores, e o povo local os moradores das aldeias, vencidos e excluídos do poder. Também existiram os escravos, os quais eram obtidos através da violência e de processos judiciários e religiosos. Será dado destaque às questões culturais e artesanais, como por exemplo, as máscaras. A fundação do Reino africano do Congo, assim como outros reinos africanos, não possuem muitas fontes, e as existentes são textos contraditórios e parciais. Diante dessa dificuldade, a maior parte dos historiadores entendem que a origem desse reino deu-se a partir do fundador Nimi a Lukeni, já no século XIV. Várias 204 narrativas de fundação, como a do padre Giovanni Antônio Cavazzi de 1654 e 1667, e a de M. Cardoso de 1624, são narrativas ideológicas usadas para fundar um novo sistema político e podem ser colocadas em debate em relação à origem de Nimi a Lukeni e ao número de reis e sucessores deste. Assim, a origem está ao norte do lado do rio Congo/Zaire, mostrando que Nimi a Lukeni teria atravessado o rio e formado o reino. Conforme afirmação de Elikia M´Bokolo: A maior parte dos historiadores opta hoje por outra origem, situada ao norte, do outro lado do rio Congo/Zaire. [...] A travessia do rio- Congo ou Kawango- instala o herói no universo do mito porque o rio, como qualquer grande extensão de água (kalunga) representa a barreira entre o mundo visível e o mundo invisível (M`BOKOLO, 2009, p. 191). Então, o Reino do Congo possivelmente foi criado nos fins ou na segunda metade do século XIV, lembrando que a formação deste reino possui uma complexidade extrema em relação a sua cronologia e à quantidade de sucessores de Nimi a Lukeni. O Reino do Congo pode ter se formado através do cruzamento dos eixos comerciais da estrada do cobre e da estrada do sal presentes naquela região. Este reino se localizava um pouco abaixo da linha do Equador, e hoje os países que compõem essa região são o Congo, Angola e República Democrática do Congo. Aos poucos o território do Congo foi se expandindo, tanto através de conquistas militares, quanto por meio de negociações e também através dos casamentos. Por causa das dificuldades geográficas e administrativas, existia o núcleo do reino e as regiões periféricas, isso porque o rei precisava contar com a vitalidade dos poderes locais. Assim, as províncias eram divididas em subprovíncias e recebiam um governador que era escolhido pelo rei, havia uma rápida rotação do poder como estratégia de controle, evitando que o poder real fosse ameaçado. O Reino do Congo possuía uma economia diversificada, mas essencialmente agrícola e dentro do sistema econômico do reino existiam dois modos, a economia aldeã e a economia urbana. Os dois sistemas econômicos se integravam, mas a economia urbana dominava a economia aldeã. A zona rural servia como reserva de escravos, fornecia bens raros e fáceis de transportar, como objetos de metal, tecidos e animais, e enviava tributos e diversas taxas ao rei. A aldeia era dirigida por um chefe ligado à terra que não pertencia à aristocracia, havia uma hierarquia a ser respeitada e acima desses chefes de aldeias estavam os chefes de distritos e de províncias (MAESTRINI, 1988). Já o rei, considerado a autoridade máxima, recebia o título de manicongo, e este título não era necessariamente passado de pai para filho ficando claro que faltavam regras para a sucessão do trono. Na economia urbana era usada a mão de obra servil, quase escrava, pois existia a “[...] apropriação dos meios de produção pelo grupo dirigente; controle direto da produção por este [...]” (M`BOKOLO, 2009, p. 198). Esses escravos eram adquiridos por diferentes meios, incluindo a violência e os processos judiciários e religiosos, e se dividiam em escravos do demônio, escravo capturado e os escravos que eram crianças. O seu trabalho era produzir para a aristocracia dirigente os bens necessários e quando preciso, servir militarmente. Toda a estrutura e os bens de luxo, assim como o prestígio ficavam localizados em Mbanza Kongo, sem se esquecer da importância das atividades agrícolas e a fertilidade da terra usada para abastecer e assegurar a subsistência da 205 cidade. Em Mbanza kongo encontravam-se três mecanismos para garantir o poder do rei: o Conselho Real, a Corte do rei e os chefes e personalidades que se submeteram espontaneamente aos reis congos e ajudaram a alargar sua autoridade, tendo o poder de intervir nos negócios do Estado. O rei e os governadores delegavam pessoas para vigiar todo o trabalho de encontrar e embalar as conchas nzimbu, utilizadas como moeda juntamente com os tecidos de ráfia. Pelo fato dos funcionários terem seu mandato limitado, não investiam na região, causando desequilíbrio, já que a província ficava pobre e subpovoada e a capital grande e cheia de riquezas. O Reino do Congo tinha sua população composta por grupos de etnia banto, se destacando os “bakongos”. Esta população de língua banta acreditava em comunicações ancestrais, tinham a crença em um ser criador, e nos espíritos ancestrais da natureza (MATTOS, 2007). Também possuíam diversos amuletos e praticavam variados rituais, sendo que estes eram realizados por aqueles que detinham certa prática. Já acerca dos espíritos ligados à natureza, existia sobre eles um controle sob aspectos importantes para a vida dos congoleses, como o controle que estes espíritos tinham sobre a fertilidade da terra, sendo que a comunicação com tais espíritos era realizada através de rituais de possessão. No século XVI, a população congolesa entendia as doenças, as infelicidades e até mesmo a infertilidade das mulheres, como sendo situações causadas por feitiçaria. Existia para a população uma divisão entre os feiticeiros e os bruxos, separados entre os que tinham desde o nascimento uma forte força maligna, e os que estavam possuídos por espíritos malignos, e por último os que se utilizavam do poder dos espíritos para a realização do mal. A religião congolesa sofreu algumas alterações no decorrer do tempo e certamente isso se deu por conta do contato com os portugueses a partir do século XVI. Devido a este contato, o Rei do Congo passou a assimilar a cultura portuguesa, vindo assim a estreitar suas ligações tanto econômicas como diplomáticas com os portugueses. O Manicongo enviou, em 1488, uma embaixada para o rei português D. João II, que fora presenteando com tecidos, objetos de marfim entre outros, estabelecendo assim uma formalidade do seu desejo de se converter ao cristianismo, e o seu pedido ao rei português que enviasse clérigos artesões e etc. Seria um desejo de ter o reino do Congo assemelhado ao português. O rei dos congoleses acabou por erguer uma igreja onde se converteu ao cristianismo, sendo batizado. O batismo estava relacionado com a hierarquia do reino, em que os congoleses viam certa relação entre a fé e o poder. Quando os portugueses chegaram aproximadamente no século XVI, o reino do Congo ainda não tinha completado a construção do estado e por isso usaram as contribuições materiais e simbólicas desse povo para consolidar o Estado e o regime monárquico. Mas é certo que ao chegarem ao Congo os portugueses ficaram maravilhados e assustados com algumas estruturas, como, por exemplo, a organização estatal que era muito organizada dentro dos moldes africanos, não europeus, mas podia constatar-se uma grande organização. Na região de Maiombe a divisão de trabalho e a organização das tarefas eram mais desenvolvidas o que permitiu-lhes ter um grande comércio antes mesmo das influências portuguesas, assim como a capital Mbanzar encontrava-se entre as maiores e mais organizadas da África A capital, Mbanza, na qual morava o rei, onde se cruzavam as rotas comerciais, contava quando da chegada dos 206 portugueses, cerca de 1000.000 habitantes. [...] a cidade estava protegida por uma paliçada defensiva e possuía uma praça central onde visitantes eram recebidos [...] era um lugar de concentração de riqueza e de residências de elite, local onde os primeiros viajantes portugueses se maravilharam com a qualidade de construção das casas, especialmente dos tecidos que decoravam suas paredes (Priore, 2004, pg.141). Sendo assim, Portugal via muitas vantagens em se aliar com os congoleses e este olhar era recíproco, por isso vários acordos comerciais entre Congo e Portugal foram firmados, mal sabiam os congoleses que estes pactos seriam um dos motivos da decadência deste reino, pois foi em meio a mais uma das guerras por sucessão que Portugal passou a executar os contratos, o que tornava o reino ainda mais frágil e incapaz diante do poderio português. Quando se fala em arte congolesa as máscaras e as figuras geométricas são o carro chefe do artesanato local, mas nesta arte também se tem lugar para tecidos e cestarias. Hoje se atribui boa parte da influência artística do Congo à incorporação de costumes portugueses e cristãos, mas antes desta influência, a arte já era peça de destaque desta sociedade. As manifestações artísticas retratam valores e costumes sociais africanos e suas peças eram de uma grande variedade e se davam em objetos mais elaborados e até mesmo em utensílios domésticos. Na elaboração do artesanato utilizavam-se materiais como marfim, cobre madeira, cerâmica, tecido, etc. A arte das máscaras dava-se da região norte do Congo, onde foi mais influente, era dessa região também que se originavam os artesanatos mais nobres como esculturas, cabaças ornamentadas para o manuseio de água, entre outras. Objetivos Este trabalho tem por objetivo apresentar as principais características do Reino africano do Congo em relação à sua origem, cultura, desenvolvimento, influências dos europeus, a divisão de classes e a escravidão. A partir desses estudos serão produzidos planos de aulas para serem trabalhados em duas escolas de Paranavaí, o Colégio Estadual Leonel Franca e a Escola Estadual Curitiba, com o intuito de mostrar a importância deste reino, para a história da África. Resultados O trabalho ainda não foi realizado em sala de aula, por isso não há resultados para serem apresentados. As atividades serão realizadas nas escolas determinadas até o final deste ano letivo. Considerações Finais Nossos estudos sobre o Reino do Congo, traçando suas características no que diz respeito à sociedade, à economia e às manifestações culturais e artísticas, ilustram a importância de sua história, principalmente por conta da legislação brasileira de 2003, através da lei 10.639, que inseriu o estudo na história da África e da cultura afro-brasileria nas escolas. A partir deles, planos de aula estão sendo elaborados com o intuito de serem aplicados aos alunos das escolas referenciadas. 207 Referências MAESTRINI, Mário. História da África negra pré-colonial. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. MATOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2007. M’BOKOLO, Elikia. África negra: História e civilizações. Tomo I. Salvador/São Paulo: EDUFBA/Casa das Áfricas, 2009, p. 180- 205. PRIORE, Mary Del e VENANCIO, Renato Pinto. Ancestrais: uma introdução à história da África Atlântica. Rio de Janeiro: Campus, 2004. SOUZA, Marina de Melo e. África e Brasil Africano. 2 Ed, São Paulo: Ática, 2008.