COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL EM TEMPOS DE MUDANÇA Vilma Tupinambá da Silva, MSc. 1 RESUMO Este artigo foi elaborado a partir de um Estudo de Caso realizado em uma empresa brasileira do setor de informática e submetida a um processo de fusão. Tem sua fundamentação teórica nos estudos que envolvem o comportamento organizacional em períodos de mudança, em especial, o assunto Cultura de Negócios e Resiliência. Para apoiar sua investigação utilizou os instrumentos de investigação desenvolvidos pelos pesquisadores ALVAREEZ & QUINTELLA e CONNER. Os resultados são exibidos através das pontuações atribuídas aos fatores que compõem duas dimensões da cultura de negócios: Dimensão 1 (Missão e Cultura) e Dimensão 2 (Arquitetura Social) e que são confrontados com as resiliências do corpo gerencial e técnico. O instrumento de CONNER foi utilizado em substituição à Dimensão 5 (Tolerância à Mudança). Fundamentou-se na premissa de que quanto melhor absorvidas a Dimensões 1 e 2 maior seria o grau de resiliência das pessoas. As hipóteses referentes à Dimensão 1 mostraram-se plausíveis de confirmação e as referentes à Dimensão 2 se confirmaram parcialmente. APRESENTAÇÃO Os processos de aquisição e fusão tornaram-se mecanismos da moderna ação estratégica das empresas objetivando a manutenção da sua competitividade. A maior parte das metodologias consultivas de planejamento estratégico avalia, no contexto do cenário de negócios e dos requisitos de satisfação de clientes de um produto/serviço, quatro dimensões: processos, cultura/organização, tecnologia e finanças. Este trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa em uma empresa brasileira adquirida por uma multinacional, ambas pertencentes ao setor de prestação de serviços em Tecnologia da Informação. Tem sua fundamentação teórica nos estudos que procuram determinar como a avaliação do alinhamento estratégico em processos de fusão/aquisição pode ser feita por 1 Mestre em Administração e Desenvolvimento Empresarial. UCB – Escola Superior de Gestão e Tecnologia. 1 meio da Cultura de Negócios e da Resiliência. A metodologia utiliza os testes apresentados em (ALVAREZ & QUINTELLA, 95), (IBM, 95) e (CONNER, 95). Os resultados são representados por pontuações atribuídas aos fatores que compõem duas dimensões da cultura de negócios: Dimensão 1 (Missão e Cultura) e Dimensão 2 (Arquitetura Social) e que são confrontados com a resiliência do corpo gerencial e técnico. O instrumento (CONNER, 95) foi utilizado em substituição à Dimensão 5 (Tolerância à Mudança). Fundamentou-se ainda, na premissa de que quanto melhor absorvidas a Dimensões 1 e 2, na Cultura de Negócio, maior seria o grau de resiliência das pessoas. As hipóteses referentes à Dimensão 1 mostraram-se plausíveis de confirmação e as referentes à Dimensão 2 se confirmaram parcialmente. Para que houvesse uma efetiva incorporação do novo modelo de funcionamento, medidas para mudança cultural começaram a ser postas em prática, exigindo esforços para uma adequada absorção e alinhamento aos rumos pretendidos pela empresa adquirente. Foram esforços de ambos os lados. De um, o adquirente que precisava disseminar sua forma de gestão. De outro, o adquirido que precisava de plasticidade a esse modelo. A partir deste ponto inicia-se a questão, objeto deste estudo de caso; e, assim pergunta-se: “em empresas adquiridas, qual o impacto na relação entre cultura organizacional e resiliência?”. E para responder ao problema foram estabelecidas 2 (duas) hipóteses: 1ª - Quanto melhor absorvida a Dimensão 1, na cultura tecnológica da empresa adquirida, maior será o grau de resiliência das pessoas. 2ª - Quanto melhor absorvida a Dimensão 2, na cultura tecnológica da empresa adquirida, maior será o grau de resiliência das pessoas. As mudanças são fenômenos normais no cotidiano das pessoas, na natureza ou nos ambientes sociais. Ela é necessária à sobrevivência, pois a cristalização tende à morte ou extinção. O progresso tecnológico é um dos fatores de maior destaque como alavancador de mudanças. A velocidade em que essas mudanças ocorrem, no ambiente empresarial, faz com que sejam vistas como um fator de vitalidade e uma necessidade de sobrevivência; ao mesmo tempo em que exigem mais habilidade gerencial na condução do processo de transformação da cultura de negócios. As fusões e aquisições fazem parte das estratégias de crescimento de médio e longo prazos das empresas. 2 O comportamento das fusões e aquisições no país foi impactado pela recente crise econômica. De acordo com os dados da PricewaterhouseCoopers e KPMG (2009) houve uma expressiva redução na participação estrangeira. De um percentual de 31% das operações realizadas em 2007 para 27% em 2008. A retomada só deverá ocorrer a partir de 2010. Especificamente, entre out./2008 e jan./2009, ocorreu uma queda de 40% nas operações de aquisição e fusão. Essas operações vinham crescendo cerca de 35% ao ano, desde 2005. Atribui-se esse comportamento aos efeitos da recente crise econômica como escassez e encarecimento do crédito, aumento da aversão ao risco, a desvalorização das empresas ou dificuldades em avaliá-las. Contudo concomitantemente às crises ocorrem oportunidades. E, neste contexto, esta pesquisa pretende contribuir com uma melhor compreensão do impacto sobre a cultura organizacional e a resiliência como fatores preponderantes na eficácia e condução dos negócios. Pretende contribuir com o conjunto de alternativas consideradas na sobrevivência empresarial. E, para tanto, aborda uma questão da atualidade, descrevendo os reflexos da aquisição de uma empresa nacional por grupo estrangeiro. MÉTODO DE TRABALHO UTILIZADO NESTA PESQUISA A metodologia utilizada prestigiou a linha de abordagem de LAKATOS (1992), fundamentada no método hipotético-dedutivo de POPPER (1975) e trabalhando Estudo de Caso na visão colocada por YIN (1994). O método de POPPER é o de enunciar claramente o problema e examinar criticamente as várias soluções propostas. Propugna por uma atitude racional e crítica e pelo emprego do método hipotético-dedutivo, que consiste na construção de conjecturas, que devem ser submetidas a testes, ao confronto com os fatos, para ver qual a hipótese que sobrevive como a mais apta, resistindo, portanto, às tentativas de refutação e falseamento. A base utilizada para confirmação/refutação das hipóteses atendeu os princípios estatísticos da correlação – verificou-se item a item da amostra, através das respectivas médias amostrais, registrando conforme as interpretações estabelecidas, nas escalas utilizadas pelos instrumentos de investigação desta pesquisa, sua posição. 3 Ainda com o intuito de imprimir um maior rigor nas confirmações/refutações, estabeleceu-se, tomando por base de cálculo a variável de menor valor, o seguinte critério de suporte às inferências: Refutar/confirmar desde que haja um intervalo ≥ 75%, entre as variáveis analisadas. Refutar/confirmar parcialmente desde que haja um intervalo≥ 50% e < 75%, entre as variáveis analisadas. Inconclusiva quando o intervalo entre as variáveis analisadas for < 50%. RESULTADOS E CONCLUSÕES Foram distribuídos questionários a todos os gerentes de projeto e a alguns empregados do quadro técnico que estão alocados em projetos, liderando equipes ou simplesmente desempenhando uma tarefa técnica. Em ambos os casos, todos com mais de 5 anos de empresa, sem distinção de sexo, idade ou qualificação/experiência profissional. Entretanto, todos remanescentes da cultura anterior; ou seja, vivenciaram o processo de transformação da cultura, em seus primeiros momentos. Todos diretamente comprometidos com o processo de desenvolvimento de aplicativos. Foi garantido ainda total sigilo quanto à identificação do respondente. Dos questionários distribuídos, foram devolvidos 124 (cento e vinte e quatro) questionários. Estes números representam cerca de 50,6% do Universo (excetuando-se terceiros e incluindo recursos humanos incorporados na vigência da nova cultura) o que caracteriza, conforme o Teorema do Limite Central, uma média amostral considerada normal tendo em vista seu tamanho ser “n ≥ 30” (LOPES, 1999). Como o método de tratamento da amostra baseou-se em medidas de estatística descritiva, apuraram-se as médias amostrais do tipo média aritmética simples (SPIEGEL, pág. 68). Observa-se (gráfico 1) um mapeamento dos escores atribuídos pelo grupo pesquisado (amostra) e que, através das médias amostrais pertinentes, configuram o perfil das Dimensões 1 e 2, e da Resiliência, segundo a percepção dos respondentes. Quando confrontados estes três quesitos entre si, observa-se que todos os fatores receberam escores em patamares que tendem a uma situação de regularidade e que a Resiliência apresenta posição melhor do que as Dimensões 1 e 2. 4 GRÁFICO 1 Comparação no Grupo Analisado A B C Situação Atual Relevância Dim I 3,26 4,24 Dim II 3,09 3,90 Resiliência 4,03 Situação/ Relevância 1 = Inexistência do fator na percepção do empregado. Tende a uma situação muito insatisfatória. 3 = Existe uma proposta não concretizada. Tende uma situação regular. 2 = Há alguns esforços não sistematizados e esparsos. Tende a uma situação insatisfatória. 4 = Existe uma proposta em fase de concretização. Tende a uma situação satisfatória. 5 = Identificado e definido na percepção do funcionário. Tende a uma situação muito satisfatória. A (= 4 a 5) = muito importante para os resultados dos negócios da empresa objeto do Estudo de Caso B (= 2,1 a 3,9) = mais ou menos importante para os resultados dos negócios da empresa objeto do Estudo de Caso C (= 1 a 2) = não importante/não se aplica aos negócios da empresa objeto do Estudo de Caso Resiliência Escala ajustada 3 = resistente 4 = expectativa 5 = resiliente 5 No grupo analisado e considerando a percepção dos respondentes, observa-se que, na Dimensão 1, os fatores que a constituem são considerados de muita importância, embora ainda sejam propostas não concretizadas ou não tenham sido completamente assimilados ou compreendidos pelos respondentes integrantes da amostra. Na Dimensão 2, revelam que os fatores constituintes são considerados mais ou menos importantes, embora sejam propostas não concretizadas ou não tenham sido completamente assimilados ou compreendidos pelos respondentes integrantes da amostra. A diferença entre a leitura da Dimensão 1 e a leitura da Dimensão 2 está no "espaço de absorção". Na primeira as possibilidades de absorção são maiores e podem ser mais rapidamente incorporadas, desde que, principalmente, o fator visão seja entendido. Uma outra forma de visualização dos resultados da combinação entre as Dimensões e a Resiliência e tendo como referência o gráfico 1 é através de uma visão interpretada (quadro 1). QUADRO 1 Comparação Interpretada entre Situação Atual, Relevância dos Fatores da Cultura de Negócios e Resiliência, Conforme a Percepção dos Respondentes Dimensão I Tipo situação relevância Dimensão II situação relevância Resiliência Gerência regular intermediária insatisfatória intermediária resistente Técnicos regular alta regular alta Geral alta regular intermediária expectativa regular expectativa Na análise da amostra arbitrou-se por fixar a variável Resiliência e a partir dela estabelecer todo viés de confirmação/refutação das hipóteses. 6 A amostra se constituiu de 28 respondentes do grupo gerencial e o 96 do grupo técnico e apresentou o seguinte comportamento do ponto de vista da Resiliência: 68 resilientes e 56 resistentes (figura 1). FIGURA 1 Relação Quantitativa da Resiliência na Amostra Analisada Resilientes Resistentes 12 = gerentes 16 = gerentes 56 = técnicos 40 = técnicos 68 Resilientes 12 gerentes 56 técnicos 56 Resistentes 16 gerentes 40 técnicos 124 respondentes A parir dos resultados apurados, a Hipótese 1: Quanto melhor absorvida a Dimensão 1, na cultura organizacional da empresa adquirida, maior será a Resiliência das pessoas. Apresentou e, observando-se os quantitativos representativos da absorção/não-absorção tratados e aplicando-se os critérios estabelecidos como base de confirmação/refutação, é razoável supor que para esta amostra, dentro da metodologia 7 utilizada e no contexto abordado, que as conjecturas traçadas sobre esta hipótese são plausíveis de confirmação. A parir dos resultados apurados, a Hipótese 2: Quanto melhor absorvida a Dimensão 2, na cultura organizacional da empresa adquirida, maior será a Resiliência das pessoas. Apresentou e, observando-se os quantitativos representativos da absorção/não-absorção tratados e aplicando-se os critérios estabelecidos como base de confirmação/ refutação, é razoável supor que para esta amostra, dentro da metodologia utilizada e no contexto abordado, que as conjecturas traçadas sobre esta hipótese são plausíveis de confirmação parcial. REFERÊNCIAS ALVAREZ, M. & QUINTELLA, H. Relatório IBM de Transformação na Votorantim. Recife: IBM Consulting Group, fev. 1995. ARAUJO, A O Cultura e Resiliência nas Universidades: um Estudo de Caso dos Cursos de Graduação em Administração no Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado em Administração de Negócios e Desenvolvimento Empresarial. UNESA, Rio de Janeiro, 2001. CONNER, Daryl R. Gerenciando na velocidade da mudança. Rio de Janeiro: Infobook, 1995. IBM. Business culture analysis guidelines, benchmarking services: Doc.(Joe Prussin). New York: IBM Consulting Group, White Plains, v.1.0, n. 10 . oct. 1993. 74 p. ______. Questionário de avaliação da organização (itens da cultura de negócios na avaliação da organização). In: IBM Consulting Group, nov. 1993. 8 LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1982. LEWIN, K (Group Decision and Social Change). In readings in social psychology. New York: Ed E.E. Maccoby, T. M. Newcomb, and E. L. Hartley. New York: Holt, Rinehartand Winston, 1958. p. 197-211. QUINTELLA, H. M. Manual de psicologia organizacional da consultoria vencedora. São Paulo: Makron Books, 1994. ______. Um método de orientação de mestrandos. Rio de Janeiro: UNESA/ MADE, 2001, 35 p. Relatório Interno. ______. Gestão da mudança, Rio de Janeiro: Suma Econômica, 1999. (ISBN85-8753401-7). ______. Remuneração Estratégica, Qualidade e Meio Ambiente, na Competitividade do Setor Energético. XXXIII Seminário Brasileiro de Pesquisa Operacional. São Paulo, Campos do Jordão, nov 2001. QUINTELLA, H & SOUZA, Levi. Cultura de Negócios: Nova Perspectiva dos Estudos sobre o Comportamento Organizacional. O Estudo de Caso em Duas Emissoras de TV Educativa. Anais dos Resumos dos Trabalhos do 25º ANPAND do 25º ENANPAD2001 (trabalho completo em CD-ROM). São Paulo, Campinas: Ed ANPAD, 2001 YIN, Robert K. Case study research: design and methods (applied social research methods series; v.5). London, New Delhi: Sage Publication, 1994. 9