FACTO E REALIDADE SOCIAL Jaime da Silva Lopes RESUMO É uma aproximação teórica à Ciência Social, o seu objeto e objetivo. Deste modo, desenvolve os componentes sociais da sua atividade, facto, posição e ação. Alonga-se na relação causal e na manifestação da probabilidade entre as experiências da realidade social. PALAVRAS-CHAVE objeto e objetivo científico social, atividade social, facto social, posição social, ação social, relação causal, experiências no meio social, realidade social. As alterações constantes que o quotidiano proporciona impelem o indivíduo para a sua emergência nas teias sociais, manifestando-se através das suas relações. Torna-se imprescindível acompanhar o desenvolvimento que as múltiplas emergências individuais e suas tentativas produzem em sociedade, compreendendo a relação entre homens e o entendimento sobre os motivos dos grupos humanos. Apta a ensinar o que se pode ou o que se quer fazer, a ciência procura no real social o que é, sobretudo através de juízos de facto, esclarecida que está sobre a vida social que consente e incorpora o improvável, devido ao factor humano. Esta procura tem que identificar o objecto de estudo, para o seu conhecimento: fá-lo mediante a distinção entre o individual e o social; neste, explicando as acções dos grupos e os comportamentos em sociedade; para o indivíduo, reservando uma possível solução, entendimento, adequação, ou simplesmente a constatação sobre a sociedade, já que a análise não deve pressupor 2010, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 1 | de 4 Jaime da Silva Lopes [email protected] FACTO E REALIDADE SOCIAL a sua finalidade e a solução não deve ser o motivo para a pesquisa, sob pena de existir uma causa ideológica. Assim, entendo que a atividade social explica-se pela oposição ou convergência em grupo, com tudo o que está individualmente subjacente, para um determinado fim, a concretizar. É, portanto, atuante. Produz factos, sociais, do colectivo, que são compreendidos como exterioridade imposta ao indivíduo, e com exigência comportamental sobre este (coação) - o «facto social» caraterizado por Émile Durkheim. Esta interpretação envolve o indivíduo no meio social, sob padrões culturais a que está sujeito, onde a presença exterior acaba por obrigar à noção de pertença ao meio. Adquire assim comportamentos que prefiguram o seu «papel social», onde se encontra com a identidade coletiva. Aqui surgem expetativas para o papel social, resultando da «posição social», que é atribuída ou conquistada, e que, segundo Ralf Dahrendorf, são distinguíveis entre si, podendo ser obrigatórias, ou que devem ser cumpridas, ou que o podem ser. Mesmo considerando as várias posições que pode ocupar, e, por conseguinte, os vários papéis sociais que permitirão uma melhor identificação do indivíduo, a sociedade como facto coercivo é o seu meio social. Este, ou a marginalização. Para o estudo social, a distinção, e oposição, do indivíduo à realidade que lhe é exterior, provém da necessidade de objetividade, com a aplicação do modelo causalista, inspirado nas Ciências da Natureza. Porém, porque as causas efetivamente não resultam com as mesmas condições nos mesmos efeitos, Dukheim reconheceu que o facto social é diferente do fenómeno da natureza. Há uma especificidade permanente no facto social − a vontade dos indivíduos. O resultado da atividade social do indivíduo com comportamentos delimitados por valores, pessoais ou coletivos, acabou por ser caraterizado por Max Weber como de relação social. O facto social passou a integrar os seus próprios agentes, que estavam excluídos por serem considerados independentes 2010, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 2 | de 4 Jaime da Silva Lopes [email protected] FACTO E REALIDADE SOCIAL daquele. Limitada a explicação pela causa, com Weber o facto explica-se mais pelos fins que os homens pretendem atingir. Trata-se, então, de «ação social». O comportamento social pode ganhar a forma de sentido pela ação individual ou de grupo, ou um sentido subjetivo na análise comportamental. É relevante entender que pode ser classificada se for orientada pelas expetativas na exterioridade, pela convicção, afetividades ou pela tradição. Preservando-se a noção de relação mútua nos trabalhos de Durkheim, admite-se com Weber o pluralismo causal, onde o que fazemos tem um motivo (causa) e o fim (ou efeito) pode tornar-se causa para novo fim. A relação causal não é mais determinante, porque as suas circunstâncias dificilmente se repetem. O acontecimento social pode ter várias causas, e alguns dos seus efeitos podem ser reversíveis. A correlação significativa admitirá, então, o improvável na vida social. Por conseguinte, a explicação já não se resumirá somente à causa. Julien Freund ajuda-nos a entender esta rutura entre ideias, mencionando ainda a compreensão como intérprete pelos sentidos e valores das causas e efeitos. Trata-se de uma alteração nos trabalhos do conhecimento, com a pluralidade determinística, e a prevalência da probabilidade, como factor de análise sobre as possibilidades do conhecimento (podendo conter o que se sabe e o que ainda não se conhece). O estudo da vida social passou a admitir hipóteses interpretativas por meio da experiência, através da objetividade interna, ao nível do significado, e externa, causal e genérica. A Ciência Social como ciência da realidade tenta a compreensão do sentido dos fenómenos sociais, pelo método hipotético-dedutívo, onde através de lei geral, possa ser verificada empiricamente – onde a resistência à verificação de não ser pode tornar a explicação científica; ou pelo método probabilístico, considerado menos rigoroso mas muitas vezes mais realista – porque a experimentação nem sempre é possível em Ciências Sociais – com os valores normalmente associados às razões que antecedem esses fenómenos. Neste complexo de valores, a ciência empírica pode ajudar a entender as opções. 2010, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 3 | de 4 Jaime da Silva Lopes [email protected] FACTO E REALIDADE SOCIAL Concluo, constatando que a realidade social é inseparável, per si. Qualquer tipo de fenómeno é multidimensional, e devem ser considerados fenómenos sociais totais. É, no meu entendimento, uma evolução sobre a ideia de realidade social, e dos instrumentos que tem à disposição, orientada para a procura do sentido nos sucedâneos da realidade social, a compreensão do sentido sobre o que se manifesta em grupo. Como propõe Freund, nenhuma noção pode explicar tudo, nem tem validade geral. A análise da realidade social poderá estar na possibilidade de relacionar, entre si, o que a carateriza. De facto, a evolução no pensamento sociológico permitiu querer evidenciar ao invés de legitimar. Até porque, efetivamente, a interpretação aspira à evidência. BIBLIOGRAFIA Referências bibliográficas omitidas – contacte o autor PUBLICAÇÃO DA SILVA LOPES, Jaime, Facto e realidade social. Lisboa, 2010. 2010, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 4 | de 4 Jaime da Silva Lopes [email protected]