Cuidar do Idoso com demência Na atualidade, somos confrontados com um processo de envelhecimento demográfico caracterizado por um aumento progressivo de população idosa, em detrimento da população jovem, verificando-se que este número tende a agravar-se constituindo assim uma preocupação de sociedade atual (Valente, 2001). Deste modo, com o aumento da esperança de vida e do número de idosos, aumentam também as patologias e síndromes associadas ao envelhecimento, como o caso das demências, provocando “o declínio de funções cognitivas, incluindo a memória, a capacidade de raciocínio e o julgamento (Nunes, 2005). Esta síndrome tem vindo a assumir uma enorme relevância e segundo Stuart e Laraia (2001), consiste numa “resposta cognitiva desadaptada que envolve uma perda das capacidades intelectuais e interfere nas atividades ocupacionais costumeiras”. Sendo a demência de Alzheimer a mais frequente, nos Estados Unidos representa 75% das doenças irreversíveis nos utentes com idade superior a 75 anos e a quarta principal causa de morte Stuart e Laraia (2001). Em Portugal representa cerca de 60% dos utentes demenciados (Barreto, 2005). Segundo dados do INE por volta de 2020 as pessoas com mais de 65 anos representarão 18,1% da população portuguesa. Para nós enfermeiros, profissionais de saúde que estabelecemos uma maior relação de proximidade com o idoso e as suas famílias, urge a necessidade constante de desenvolvimento de atitudes positivas na prestação dos cuidados. Para Caldas (2002), este cuidar vai para além das necessidades básicas do ser humano. Engloba a auto-estima, a auto-valorização, a cidadania do outro e da própria pessoa que é cuidada. No que se refere à pessoa idosa, esta não pode ser vista como “uma pessoa jovem envelhecida, denegrida e despersonalizada, mas sim como uma pessoa com características próprias e com um manancial de conhecimentos e de experiência” (Moniz, 2003). Para o mesmo autor, os cuidados de enfermagem às pessoas idosas têm como finalidade “ajudá-las a aproveitarem ao máximo as suas capacidades funcionais, quaisquer que sejam o seu estado de saúde e a sua idade. De acordo com Fernadez Gomez et al (1999), os objetivos das intervenções de enfermagem são essencialmente acompanhar o doente, promovendo o auto-cuidado tornando-o o mais independente possível conservando a sua função cognitiva, física, emocional e social, não esquecendo o suporte familiar. No cuidado ao idoso com demência, para que o seu objetivo seja alcançado e otimizado, é fundamental atender também à família. Para isso torna-se imperativo que o enfermeiro esteja desperto às alterações no intuído de poder dar resposta de acordo com as necessidades/expectativas do idoso/familiares. O utente e a família são sem dúvida elementos essenciais nos cuidados e por isso é fundamental que as respostas às necessidades de saúde se baseiem não só nos conhecimentos dos profissionais mas também noutras competências sugeridas por Moniz (2003): - Saber ouvir, em vez de perguntar, - Recolher informações, sem juízos de valor; - Orientar a intervenção para a situação que é vivida. Uma das características que define o enfermeiro é a sua capacidade de estabelecer relação de ajuda com os utentes, sendo esta capacidade, um dos instrumentos mais utilizados na prestação de cuidados. Cuidar de pessoas implica compreender as formas como cada pessoa ou família vivência os seus problemas, manifesta as suas necessidades e exprime os seus anseios e angústias que só é possível no encontro com o outro, através do olhar, da voz, da postura, do gesto, transmitindo e recebendo sinais que se codificam e descodificam, de modo a que a interação faça sentido. Os enfermeiros são os profissionais que, pelas características inerentes ao seu desempenho, estão mais próximos dos doentes, pelo que dispõem de oportunidades únicas para exercer a arte de cuidar. Cuidar envolve muito mais do que simplesmente tratar pessoas. Envolve muito mais do que praticar atos complexos e técnicas arrojadas. Como refere Hesbeen (2000) “os cuidados de enfermagem são compostos por múltiplas ações, que são sobretudo uma imensidão de pequenas coisas”. São estas “pequenas coisas”, que fazendo parte da vida de todos nós, lhe dão sentido e significado e permitem a promoção da saúde das pessoas. Por isso é fundamental que o enfermeiro, sobretudo se quer imprimir uma visão humanista à prática dos cuidados, seja capaz de para além do Saber e do Saber Fazer, desenvolva o Saber Ser, tanto consigo próprio, como com o cliente. No que se refere ao Saber, o enfermeiro deverá de estar atento aos dez sinais comuns nas demências por forma a atuar o mais precocemente possível. 10 Sinais mais comuns nas demências Déficit de memória Dificuldades em executar tarefas domésticas Problemas com o vocabulário Desorientação no tempo e espaço Incapacidade de analisar situações Problemas com o raciocínio abstrato Colocar objetos em lugares inadequados Alterações de humor de comportamento Alterações de personalidade Perda da iniciativa – passividade Assim, perante um utente com suspeita de estar a desencadear um quadro de demência, existem cinco áreas cognitivas que necessitam ser avaliadas, nomeadamente: a atenção, a memória (imediata e tardia), a aprendizagem de memória,as habilidades viso-espaciais, a linguagem e as funções executivas (Portuguez, 2004). Para esta avaliação existem testes e escalas que ajudam na definição do diagnóstico. Uma das muitas usadas é a Escala de Estadiamento das Demências. O seu objetivo é avaliar e caraterizar as diferentes categorias das atividades de vida diárias, nomeadamente: a memória e a orientação, o julgamento e a solução de problemas, a vida quotidiana (trabalho, compras, negócios, grupos socias), as tarefas no lar e lazer e por fim os cuidados de higiene pessoais. A demência é uma doença degenerativa do cérebro que incapacita progressivamente. Por isso, é preciso aprender a lidar com as diferentes situações que vão surgindo no dia-a-dia, desdramatizando-as. Estimular e incentivar o idoso, respeitando a sua autonomia em segurança, continua a ser a melhor forma de conviver com o problema. O enfermeiro tem um papel fundamental nos cuidados ao idoso, e através das suas intervenções poderá também sensibilizar a população para a sua vida após a reforma, ou seja, permitir uma reflexão sobre o envelhecimento ativo e sobre os novos objetivos de vida, de modo a manter a sua atividade física, social e mental. Autores: Enfª Ana Isabel Lopes Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria Enfª Maria do Carmo Martins Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação Bibliografia Barreto, J. (2005). Os sinais da doença e a sua evolução. In Caldas & Mendonça. A doença de Alzheimer e outras demências em Portugal (pág. 27-40). Lousâ: Lidel Edições Técnicas. Nunes, L., Amaral, M.& Gonçalves, R. (2005). Código deontológico do enfermeiro: dos comentários à análise de casos. Lisboa: Ordem dos enfermeiros. Portuguez M. (2004). Avaliação neuropsicológica das demências [versão eletrónica]. Revista Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul, nº3, 9 p. Moniz, J.M.N. (2003). A enfermagem e a pessoa idosa. A prática de cuidados como experiencia formativa. Lusociência. Caldas, C. P. (Janeiro2002). Contribuindo para a construção da rede de cuidados: Trabalhando com a família do idoso portador de Síndrome de demencial [versão electrónica]. Textos sobre envelhecimento, vol. 4 (8), 10 p. Stuart, G.W. & Laraia, M. (2001). Enfermagem Psiquiátrica- Princípios e prática. Porto alegre: Artmed Editora Hesbeen, W. (2000). Cuidar no Hospital. Enquadrar os cuidados de enfermagem. Lisboa. Lusociência. Edições técnicas e Ciêntificas, Lda. Fernandez Gomez et al. (Set. 1999). Actitud de enfermeria en pacientes com Alzheimer. Revista Rol de Enfermaria, Vol.22 (9), p. 593-595.