DOENÇAS INFECCIOSAS DE CÃES Rafael Fighera Laboratório de Patologia Veterinária Universidade Federal de Santa Maria DOENÇAS INFECCIOSAS INCOMUNS DE CÃES NO RS ERLIQUIOSE Erliquiose Erliquiose (Ehrlichia spp.) Doença de mamíferos domésticos e selvagens. Importância maior em cães. Causada por bactérias cocoides Gram negativas → Formas de apresentação da doença em cães: Erliquiose monocitotrópica Erliquiose granulocitotrópica Erliquiose trombocitotrópica Transmissão horizontal através de carrapatos. Localização taxonômica de Ehrlichia Super-reino Prokaryota Reino Bacteria Filo Proteobacteria Classe Alphaproteobacteria Ordem Rickettsiales → Família Anaplasmataceae Gênero Ehrlichia O que é uma riquétsia*? “Riquétsias são bactérias que necessitam de uma célula eucarionte para conseguirem se multiplicar. ” “Riquétsias correspondem a um gênero de bactérias (Rickettsia), a uma família de bactérias (Rickettsiaceae) e a uma ordem de bactérias (Rickettsiales). ” *Rickettsia. Quais gêneros e espécies pertencem a esse grupo de bactérias*? Rickettsia R. rickettsii Neorickettsia N. helminthoeca N. risticii (previamente E. risticii) atypicalis Ehrlichia E. canis E. chaffeensis E. ewingii E. equi Anaplasma A. phagocytophilum (previamente E. phagocytophila) A. platys (previamente E. platys) *Apenas que infectam cães. Comentários Erliquiose (Ehrlichia spp.) Em 2001 ocorreram marcadas mudanças taxonômicas que afetaram principalmente os membros dessa ordem (Rickettsiales), assim como das ordens Chlamydiaes e Mycoplasmatales. Essas mudanças se basearam na análise molecular dos genes que codificam o RNA ribossômico bacteriano, principalmente o gene 16S. Recomenda-se leitura específica para familiarização com a nova classificação dessas bactérias. Erliquiose Erliquiose (Ehrlichia spp.) Doença de mamíferos domésticos e selvagens. Importância maior em cães. Causada por bactérias cocoides Gram negativas. Formas de apresentação da doença em cães: Erliquiose monocitotrópica Erliquiose granulocitotrópica Erliquiose trombocitotrópica* → Transmissão horizontal através de carrapatos. *Anaplasmose canina. Erliquiose Parasitos mais frequentemente associados a essas formas Erliquiose monocitotrópica E. canis Erliquiose granulocitotrópica E. ewingii Erliquiose trombocitotrópica Anaplasma platys* *Previamente E. platys. Erliquiose Parasitos menos frequentemente associados a essas formas Erliquiose monocitotrópica E. chaffeensis Neorickettsia risticii* atypicalis Erliquiose granulocitotrópica Anaplasma phagocytophilum** E. equi*** *Previamente E. risticii. **Previamente E. phagocytophila. ***Para alguns autores é sinônimo de A. phagocytophilum. Erliquiose Erliquiose monocitotrópica E. canis E. chaffeensis Neorickettsia risticii* atypicalis Erliquiose granulocitotrópica E. ewingii Anaplasma phagocytophilum** E. equi*** Erliquiose trombocitotrópica Anaplasma platys**** *Previamente E. risticii. **Previamente E. phagocytophila. ***Para alguns autores é sinônimo de A. phagocytophilum. ****Previamente E. platys. Erliquiose Erliquiose monocitotrópica E. canis E. chaffeensis Neorickettsia risticii* atypicalis Erliquiose granulocitotrópica E. ewingii Anaplasma phagocytophilum** E. equi*** Erliquiose trombocitotrópica Anaplasma platys**** *Previamente E. risticii. **Previamente E. phagocytophila. ***Para alguns autores é sinônimo de A. phagocytophilum. ****Previamente E. platys. Erliquiose Erliquiose (Ehrlichia spp.) Doença de mamíferos domésticos e selvagens. Importância maior em cães. Causada por bactérias cocoides Gram negativas. Formas de apresentação da doença em cães: Erliquiose monocitotrópica Erliquiose granulocitotrópica Erliquiose trombocitotrópica Transmissão horizontal através de carrapatos → Comentários Erliquiose (Ehrlichia spp.) Rhipicephalus sanguineus (E. canis, E. ewingii e A. platys) Dermacentor variabilis (E. canis, E. chaffeensis e E. ewingii) Dermacentor auratus (A. platys) Amblyomma americanum (E. chaffeensis e E. ewingii) Amblyomma testudinarium (E. chaffeensis) Ixodes scapularis (A. phagocytophilum) Ixodes ricinus (A. phagocytophilum) Ixodes pacificus (E. equi) Ixodes ovatus (E. chaffeensis) Ixodes persulcatus (E. chaffeensis e A. phagocytophilum) Haemophysalis yeni (E. chaffeensis) Haemophysalis flava (E. chaffeensis) ERLIQUIOSE MONOCITOTRÓPICA CANINA Erliquiose monocitotrópica canina Descrita em 1935 na África (Rickettsia canis). Em 1945 R. canis mudou para E. canis. Ganhou notoriedade durante a guerra do Vietnã (1968-1970). Pancitopenia tropical canina (febre hemorrágica canina). É doença enzoótica de alta prevalência no Brasil. Sudeste Nordeste Centro-oeste É doença aparentemente pouco frequente no sul do Brasil. ERLIQUIOSE MONOCITOTRÓPICA CANINA AGUDA Definição “Erliquiose monocitotrópica canina aguda é uma doença bacteriana de cães causada por uma riquétsia que realiza seu ciclo em monócitos sanguíneos e que causa sinais clínicos e manifestações anatomopatológicas de doença hemorrágica.” Quais os sinais clínicos vistos em cães com erliquiose aguda? Apatia Inapetência ou anorexia Febre Secreção ocular e nasal Hemorragia Petéquias e sufusões nas mucosas e na pele Epistaxe Palidez das mucosas ou icterícia leve Linfadenomegalia superficial generalizada (20% dos casos) Esplenomegalia (25% dos casos) Cegueira Uveíte anterior ou coriorretinite Sinais neurológicos Convulsão, ataxia etc... Período de incubação: 8-20 dias. Artralgia ou mialgia Evolução clínica: 2-4 semanas. Quais exames complementares requisitar quando suspeita-se de erliquiose aguda? “Hemograma completo e proteinograma.” Achados hematológicos na erliquiose monocitotrópica canina aguda Anemia (82% dos casos) → Trombocitopenia (82% dos casos) → Leucocitose → Presença das riquétsias nos monócitos → Hiperproteinemia (33% dos casos) → Achados hematológicos na erliquiose monocitotrópica canina aguda Anemia Anemia regenerativa macrocítica hipocrômica normocítica normocrômica esferocitose (Coombs + ) Trombocitopenia Trombocitopenia regenerativa macroplaquetas Leucocitose Monocitose e/ou linfocitose Presença das riquétsias nos monócitos Mórulas ou corpos elementares Hiperproteinemia Hiperglobulinemia Erliquiose aguda Hemograma Leucócitos totais (/mm3) 15.800 (6.000-17.000) Neutrófilos seg. (60%-77%) 68% (3.000-11.500) 10.744 Bastonetes (0%-3%) 1% (0-300) 158 Linfócitos (12%-30%) 16% (1.000-4.800) 2.528 Monócitos (3%-10%) 13% (150-1.350) 2.054 Eosinófilos (2%-10%) 2% (100-1.250) 316 Basófilos (raros) (raros) - Eritrócitos (x106/mm3) (5,50-8,50) 4,0 Hemoglobina (g/dl) (12,0-18,0) 10,6 Hematócrito (%) (37-55) 32 VCM (fl) (60,0-77,0) 80,0 CHCM (%) (32,0-36,0) 31,2 Plaquetas (x103/mm3) (200-500) 88 Plasma ictérico: + Policromasia e anisocitose: ++ Normoblastemia: 5/100 leucócitos Erliquiose aguda Hemograma Leucócitos totais (/mm3) 15.800 (6.000-17.000) Neutrófilos seg. (60%-77%) 68% (3.000-11.500) 10.744 Bastonetes (0%-3%) 1% (0-300) 158 Linfócitos (12%-30%) 16% (1.000-4.800) 2.528 Monócitos (3%-10%) 13% (150-1.350) 2.054 Eosinófilos (2%-10%) 2% (100-1.250) 316 Basófilos (raros) (raros) - Eritrócitos (x106/mm3) (5,50-8,50) 4,0 Hemoglobina (g/dl) (12,0-18,0) 10,6 Hematócrito (%) (37-55) 32 VCM (fl) (60,0-77,0) 80,0 CHCM (%) (32,0-36,0) 31,2 Plaquetas (x103/mm3) (200-500) 88 Plasma ictérico: + Policromasia e anisocitose: ++ Normoblastemia: 5/100 leucócitos Erliquiose aguda Hemograma Leucócitos totais (/mm3) (6.000-17.000) Neutrófilos seg. (60%-77%) (3.000-11.500) Bastonetes (0%-3%) (0-300) Linfócitos (12%-30%) (1.000-4.800) Monócitos (3%-10%) (150-1.350) Eosinófilos (2%-10%) (100-1.250) Basófilos (raros) (raros) 13.500 65% 8.775 1% 135 18% 2.430 15% 2.025 1% 135 - Eritrócitos (x106/mm3) (5,50-8,50) 3,5 Hemoglobina (g/dl) (12,0-18,0) 9,5 Hematócrito (%) (37-55) 30 VCM (fl) (60,0-77,0) 85,7 CHCM (%) (32,0-36,0) 31,6 Plaquetas (x103/mm3) (200-500) 54 Plasma ictérico: + Policromasia e anisocitose: +++ Normoblastemia: 25/100 leucócitos Erliquiose aguda Hemograma Leucócitos totais (/mm3) (6.000-17.000) Neutrófilos seg. (60%-77%) (3.000-11.500) Bastonetes (0%-3%) (0-300) Linfócitos (12%-30%) (1.000-4.800) Monócitos (3%-10%) (150-1.350) Eosinófilos (2%-10%) (100-1.250) Basófilos (raros) (raros) 13.500 65% 8.775 1% 135 18% 2.430 15% 2.025 1% 135 - Eritrócitos (x106/mm3) (5,50-8,50) 3,5 Hemoglobina (g/dl) (12,0-18,0) 9,5 Hematócrito (%) (37-55) 30 VCM (fl) (60,0-77,0) 85,7 CHCM (%) (32,0-36,0) 31,6 Plaquetas (x103/mm3) (200-500) 54 Plasma ictérico: ++ Policromasia e anisocitose: +++ Normoblastemia: 25/100 leucócitos Erliquiose aguda Hemograma Leucócitos totais (/mm3) (6.000-17.000) Neutrófilos seg. (60%-77%) (3.000-11.500) Bastonetes (0%-3%) (0-300) Linfócitos (12%-30%) (1.000-4.800) Monócitos (3%-10%) (150-1.350) Eosinófilos (2%-10%) (100-1.250) Basófilos (raros) (raros) 13.900 44% 6.116 1% 139 53% 7.367 2% 278 - Eritrócitos (x106/mm3) (5,50-8,50) 2,5 Hemoglobina (g/dl) (12,0-18,0) 5,6 Hematócrito (%) (37-55) 17 VCM (fl) (60,0-77,0) 68,0 CHCM (%) (32,0-36,0) 33,3 Plaquetas (x103/mm3) (200-500) 104 Plasma ictérico: ++ Policromasia e anisocitose: +++ Normoblastemia: 54/100 leucócitos Esferocitose: ++ Erliquiose aguda Hemograma Leucócitos totais (/mm3) (6.000-17.000) Neutrófilos seg. (60%-77%) (3.000-11.500) Bastonetes (0%-3%) (0-300) Linfócitos (12%-30%) (1.000-4.800) Monócitos (3%-10%) (150-1.350) Eosinófilos (2%-10%) (100-1.250) Basófilos (raros) (raros) 13.900 44% 6.116 1% 139 53% 7.367 2% 278 - Eritrócitos (x106/mm3) (5,50-8,50) 2,5 Hemoglobina (g/dl) (12,0-18,0) 5,6 Hematócrito (%) (37-55) 17 VCM (fl) (60,0-77,0) 68,0 CHCM (%) (32,0-36,0) 33,3 Plaquetas (x103/mm3) (200-500) 104 Plasma ictérico: ++ Policromasia e anisocitose: +++ Normoblastemia: 54/100 leucócitos Esferocitose: ++ ERLIQUIOSE MONOCITOTRÓPICA CANINA CRÔNICA Definição “Erliquiose monocitotrópica canina crônica é uma doença bacteriana de cães causada por uma riquétsia que realiza seu ciclo em monócitos sanguíneos e que causa sinais clínicos e manifestações anatomopatológicas decorrentes de aplasia medular.” Quais os sinais clínicos vistos em cães com erliquiose crônica? Apatia Intolerância ao exercício Palidez das mucosas Taquipneia Hemorragia Petéquias e sufusões nas mucosas e na pele Diarreia com sangue (melena) Febre Quais exames complementares requisitar quando suspeita-se de erliquiose crônica? “Hemograma completo e proteinograma.” Achados hematológicos na erliquiose monocitotrópica canina crônica Anemia → Trombocitopenia → Leucopenia → Ausência das riquétsias nos monócitos Hiperproteinemia → Achados hematológicos na erliquiose monocitotrópica canina crônica Achados hematológicos Anemia arregenerativa normocítica normocrômica Trombocitopenia arregenerativa Leucopenia Neutropenia Linfocitose (células nulas) Hiperproteinemia por hiperglobulinemia (síndrome da hiperviscosidade) Gamoglobulinemia policlonal Beta-2-globulinemia Gamoglobulinemia monoclonal Erliquiose crônica Hemograma Leucócitos totais (/mm3) 5.600 (6.000-17.000) Neutrófilos seg. (60%-77%) 50% (3.000-11.500) 2.800 Bastonetes (0%-3%) 3% (0-300) 168 Linfócitos (12%-30%) 35% (1.000-4.800) 1.960 Monócitos (3%-10%) 10% (150-1.350) 560 Eosinófilos (2%-10%) 2% (100-1.250) 112 Basófilos (raros) (raros) - Eritrócitos (x106/mm3) (5,50-8,50) Hemoglobina (g/dl) (12,0-18,0) Hematócrito (%) (37-55) VCM (fl) (60,0-77,0) CHCM (%) (32,0-36,0) Plaquetas (x103/mm3) (200-500) 3,1 7,5 23 74,2 32,6 40 Erliquiose crônica Hemograma Leucócitos totais (/mm3) 5.600 (6.000-17.000) Neutrófilos seg. (60%-77%) 50% (3.000-11.500) 2.800 Bastonetes (0%-3%) 3% (0-300) 168 Linfócitos (12%-30%) 35% (1.000-4.800) 1.960 Monócitos (3%-10%) 10% (150-1.350) 560 Eosinófilos (2%-10%) 2% (100-1.250) 112 Basófilos (raros) (raros) - Eritrócitos (x106/mm3) (5,50-8,50) Hemoglobina (g/dl) (12,0-18,0) Hematócrito (%) (37-55) VCM (fl) (60,0-77,0) CHCM (%) (32,0-36,0) Plaquetas (x103/mm3) (200-500) 3,1 7,5 23 74,2 32,6 40 Erliquiose monocitotrópica canina crônica Diagnóstico definitivo Diagnóstico indireto Métodos que detectam anticorpos (diagnóstico sorológico) Imunofluorescência indireta Diagnóstico direto Métodos que detectam antígeno Reação da polimerase em cadeia (PCR) Erliquiose Formas de apresentação da doença em humanos Erliquiose monocítica humana (1987) E. chaffeensis (1990) E. canis (1987, 1996 e 2006) Febre sennetsu (1953) Neorickettsia sennetsu* (1953) Erliquiose granulocítica humana (1994) Anaplasma phagocytophilum** (2001) Erliquiose humana por E. ewingii (1999) E. ewingii (1999) *Previamente E. sennetsu. **Previamente E. phagocytophila.