UFRJ Avaliação da Resposta Imune Celular in vitro Induzida por Novos Antígenos de Mycobacterium leprae. Márcia Valéria Brandão dos Santos Martins Dissertação de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Microbiologia, Instituto de Microbiologia Paulo Góes, da Universidade Federal do Rio de janeiro, como pré-requisito para obtenção do Título de Doutor em Microbiologia. Orientadores: Dra. Maria Cristina Vidal Pessolani Pesquisador Titular do Laboratório de Microbiologia Celular – Departamento de Micobacterioses –FIOCRUZ Dr. Geraldo Moura Batista Pereira Pesquisador Titular do Laboratório de Microbiologia Celular – Departamento de Micobacterioses –FIOCRUZ Dra. Leila Fonseca Professor Titular do Instituto de Microbiologia Paulo Góes- Universidade federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Agosto de 2006 1 Avaliação da Resposta Imune Celular in vitro Induzida por Novos Antígenos de Mycobacterium leprae. Márcia Valéria Brandão dos Santos Martins Orientadores: Dra. Maria Cristina Vidal Pessolani Dr. Geraldo Moura Batista Pereira Dra. Leila Fonseca Dissertação de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Microbiologia, Instituto de Microbiologia Paulo Góes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Microbiologia. Aprovada por: ______________________________________________ Presidente, Prof. ___________________________________________ Prof. ___________________________________________ Prof. __________________________________________ Prof. __________________________________________ Prof. ___________________________________________ Prof. Rio de Janeiro Agosto de 2006 2 FICHA CATALOGRÁFICA Martins, Márcia Valéria Brandão dos Santos Avaliação da Resposta Imune Celular in vitro Induzida por Novos Antígenos de Mycobacterium leprae./ Márcia Valéria Brandão dos Santos Martins. – Rio de Janeiro: UFRJ/ IMPG, 2006. Páginas 85 Orientadores: Dra. Maria Cristina Vidal Pessolani, Dr. Geraldo Moura Batista Pereira e Dra. Leila Fonseca Microbiologia, 2006. 1. Mycobacterium leprae; 2. peptídeos; 3. IFN-γ; 4. resposta imune; 5. PPD I – Pessolani, Maria Cristina Vidal; Pereira, Geraldo Moura Batista e Fonseca, Leila. II – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Microbiologia Paulo Góes. III - Título 3 Trabalho desenvolvido no Laboratório de Microbiologia Celular e Molecular, do Departamento de Micobacterioses, IOC, FIOCRUZ, sob orientação da Dra. Maria Cristina Vidal Pessolani, Dr. Geraldo Moura Batista Pereira e Dra. Leila Fonseca. 4 Obrigado Senhor Obrigado pelas alegrias que me levantaram e pelas dores que me fortaleceram. Obrigado pelos sucessos que me fizeram sentir-me grande e pelos fracassos que me deram a oportunidade de perseverar. Obrigado pelos cuidados que me confortaram e pelas mágoas que me exercitaram para perdoar. Obrigado pelas horas de bem estar que me mantiveram ativo e por outras que me revelaram o valor da saúde. Obrigado pelos auxílios que me foram prestados e pelos abandonos que fizeram crescer meu apoio em mim mesmo. Obrigado pelas compreensões que encontrei e pelas incompreensões que algumas vezes refletiram a minha própria imagem. Obrigado pelos ganhos que fizeram de mim um ser mais confiante e pelas perdas que me demonstraram ser possível continuar. Obrigado pelos momentos altos que me exibiram Tuas bênçãos e pelos momentos baixos que me abriram para Tua proteção. Obrigado, Senhor, por jamais teres me esquecido. 5 Agradecimentos: • • • • • • • • • • • • • • • • • A Deus por todas as maravilhas com que Ele têm me presenteado e por ter me dado à oportunidade de hoje esta defendendo esta tese; A minha mãe Aranilda e meu pai Raimundo por todo carinho, dedicação, apoio e incentivo. Sem Eles eu não teria chegado até aqui; Ao meu filho Philip pela paciência, compreensão e amizade que teve comigo durante este trabalho; A minha irmã Mônica por todas as dificuldades que passamos juntas durante este período e pelas palavras carinhosas que muitas vezes me confortaram; Ao meu amor Marcos Paulo por ter entrado na minha vida e pela paciência que muitas vezes precisa ter comigo; Aos meus orientadores Maria Cristina Vidal Pessolani, Geraldo Moura Batista Pereira e Leila Fonseca por terem acreditado e confiado em mim, pela dedicação, paciência muitas vezes e ensinamentos. Pela atenção dispensada na realização deste trabalho. Sem vocês nada teria sido possível; Em especial a Dra. Maria Cristina Vidal Pessolani por sua dedicação com a pesquisa e com seus alunos; A Dra. Euzenir Nunes Sarno pela oportunidade de desenvolver minha tese no Departamento de Micobacterioses e pelo incentivo e apoio de sempre; Ao Dr. Brennan, Spencer e Backer da Universidade do Colorado (USA) pelo fornecimento dos materiais e antígenos utilizados nestes trabalhos; Ao Haroldo da Faculdade de Medicina da UERJ pela realização das análises estatística dos trabalhos; Aos pacientes, sem eles seria impossível a realização deste trabalho; A amiga Luciana e Mônica pela ajuda nas correções da tese; Aos colegas de Departamento que estavam sempre prontos para esclarecer minhas dúvidas e também por tornarem o dia-a-dia mais alegre: Cristiana, Adriano, Márcio, Tempone, Leonardo, Tatiana, Lucinéia, Michelle Lopes, Rose, Rosane Telles, Elza, Elisa Maeda, Júlio, Sabrina, Patrícia, Érika, Danuza, Íris, Danuza, Marjore, Fidelton, Danielzinho, Augusto, Pedro; Ao Sr. Paulo Salles pelas conversas nas horas mais difícies, cuidado e incentivo de sempre; A equipe do Ambulatório Souza Araújo pela atenção a mim dispensada: Dr. José Augusto, Dra. Ana Maria, Nádia, Denise, Virna, Rita; A Socorro Amador e Dr. Beth do Instituto Evandro Chagas de Belém pela oportunidade de no final da minha tese participar de um trabalho de campo (Breu Branco e Tucuruí), no qual pude presenciar a realidade da hanseníase; A minha família e aos meus amigos que simplesmente por existirem tornam minha vida mais feliz. 6 ÍNDICE LISTA DE ABREVIATURAS xi RESUMO xvi ABSTRACT xviii 1.0- INTRODUÇÃO 1 1.1.- Breve histórico da hanseníase 1 1.2 -- Prevalência atual, distribuição geográfica e transmissão 3 1.3- Aspectos clínicos e reposta imunológica do hospedeiro 6 1.4- Mycobacterium leprae 9 1.5-Estratégias de prevenção e controle da hanseníase 11 1.5.1-Métodos de diagnóstico 12 1.5.2-Tratamento 14 1.5.3-Prevenção da hanseníase através da vacinação com BCG 14 1.6 – Justificativa e estratégias para o desenvolvimento de um teste para o diagnóstico precoce da hanseníase 15 2.0 – OBJETIVOS 20 3.0 – INDIVÍDUOS, MATERIAIS E MÉTODOS 21 3.1 - Biossegurança e Comitê de ética 21 7 3.2 – Antígenos utilizados 21 3.2.1-Seleção dos genes e peptídeos de M. leprae 21 3.3 – Indivíduos estudados 3.4 - Culturas de células 22 mononucleares de sangue periférico (PBMCs) estimuladas com os antígenos 23 3.5 - Dosagem de IFNγ em sobrenadantes de culturas de PBMCs 24 3.6 – Avaliação por citometria de fluxo da expressão de CD69 e IFNγ por linfócitos T CD4+, CD4+/CLA+ e linfócitos totais frente ao 24 PPD em culturas de sangue total 3.6.1 - Análise das culturas de sangue total por Citometria de Fluxo 25 3.7 – Análise da freqüência de linfócitos T CD4+ e CD8+ produtoras de IFN-γ em culturas de PBMCs estimuladas com peptídeos sintéticos 26 3.7.1 – Análise por citômetria de fluxo das culturas de PBMCs 26 3.8 - Cultivo in vitro de sangue total estimuladas com peptídeos Sintéticos 28 3.9 - Análises estatísticas utilizadas 28 3.9.1 - Regressão múltipla para análise de correlação entre a freqüência de linfócitos T PPD específico em sangue total e, níveis de IFN-γ em culturas de PBMCs reatividade ao teste tuberculínico 3.9.2 - Análise de variância (ANOVA) estimuladas com PPD e 28 29 8 4.0 – RESULTADOS 4.1 - Identificação de parâmetros de ativação de linfócitos T in vitro que se correlacionam com a reatividade cutânea ao PPD 30 4.1.1– Análise da freqüência de Linfócitos T CD4+ periféricos PPD específicos produtores de IFN-γ em indivíduos PPD positivos 30 e PPD negativos reatores ou não ao teste tuberculínico 4.1.2 – Quantificação de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de PBMCs estimuladas com PPD de indivíduos PPD positivos e PPD negativos 37 4.1.3 – Análise de correlação entre a freqüência de linfócitos T PPD específicos em sangue total e níveis de IFN-γ em culturas de PBMCs estimuladas com PPD e reatividade ao teste tuberculínico 38 4.2 - Avaliação da produção de IFN-γ em resposta a antígenos específicos do recombinantes) M. leprae em (peptídeos células sintéticos e proteínas mononucleares de indivíduos com diferentes graus de exposição ao M. leprae 4.2.1 – Peptídeos sintéticos produção de IFN-γ em M. leprae específicos induziram a culturas de PBMCs isoladas de pacientes com hanseníase e contatos 4.2.2 – Análise 40 do fenótipo dos linfócitos T peptídeo específicos por citometria de fluxo 4.2.3 - Análise 40 estatística 54 da resposta dos diferentes grupos estudados aos peptídeos individuais 56 9 4.3 – Análise dos sangue total níveis de IFN-γ produzidos nas estimuladas com culturas de peptídeos sintéticos M. leprae específicos 57 5.0 – DISCUSSÃO 60 6.0 – CONCLUSÃO 71 7.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 73 8.0 - ANEXOS 10 LISTA DE ABREVIATURAS a.C. Antes de Cristo AIMV Meio Imunoterápico Adaptativo V ANOVA Análise de variância APC Allophycocyanin/ Aloficocianina APC Célula apresentadora de antígeno BB Forma borderline borderline da hanseníase BCGid Bacilo de Calmette-Guérin BL Forma borderline lepromatosa da hanseníase BSA Albumina de Soro Bovino BT Forma borderline tuberculóide da hanseníase CD 3, 4, 8, 69 Cluster de differentiation 3, 4, 8, 69 CLA Cutaneous lymphocyte antigen Cy CyChrome/ CyCromo DNA Ácido Desoxirribonucléico DTH Hipersensibilidade tardia EC Indivíduos controle de área endêmica E. coli Escherichia coli ELISA Enzyme linked immunosorbent assay/Ensaio Imunoenzimático ELISPOT Enzyme-Linked Immunospot/ Imuno-sinal enzimático FITC Fluorescein isothiocyanate/ Isotiocianato de Fluoresceína g gravidade HLA Antígenos leucocitários humanos 11 I Forma Indeterminada da hanseníase IB Índice bacilar IFN-γ Interferon gama IFN-γR Receptor de Interferon gama IL Interleucina LL Forma lepromatosa polar da hanseníase MB Pacientes da forma multibacilar MHC Complexo principal de histocompatibilidade M. leprae Mycobacterium leprae ML Mycobacterium leprae MLCwA Fração de proteínas extraídas da parede celular MLSA Fração de proteínas extraídas do citosol mm Milímetros mM Milimolar M. tuberculosis Mycobacterium tuberculosis NEC Indivíduos controles de área não endêmica OMS Organização Mundial de Saúde pg Picograma PCR Reação em cadeia da polimerase P37-94 Peptídeos 37 – 94 PE Phycoerythrin/ Ficoeritrina PGL-I Glicolipídio fenólico PHA Pytohemaglutinina PPD Purified Protein Derivative/ Proteína purificada derivada de Micobacterium tuberculosis 12 PQT Poliquimioterapia NK Células natural killer NKT Linfócitos NKT ºC Graus Celsius OMS Organização Mundial de Saúde PB Paucibacilar PBMC Células mononucleares do sangue periférico PBS Salina tamponada com fosfato PGL-I Glicolipídio fenólico I q.s.p. Quantidade suficiente para PQT Poliquimioterapia RNA Ácido ribonucléico RNAm Ácido ribonucléico mensageiro SEB Enterotoxina B de Staphylococcus aureus SFB Soro Fetal bovino TB Pacientes com tuberculose Th1 Linfócito T “helper” 1 TNF-α Fator de necrose tumoral alfa TT Forma tuberculóide polar da hanseníase U/mL Unidades por mililitros 13 LEGENDA DE FIGURAS FIGURA 1 – Disseminação da hanseníase pelo mundo. FIGURA 2 – Mapa dos coeficientes de prevalência da hanseníase no mundo em 2004. FIGURA 3 – Vias de eliminação e penetração do bacilo. FIGURA 4 – Escala da imunopatologia Clínica da hanseníase. FIGURA 5 – Padrão de resposta imune na hanseníase. FIGURA 6 – Esquema do teste rápido do fluxo lateral de dez minutos –ML flow. FIGURA 7 – Protocolo experimental usado para avaliação do comportamento e participação dos linfócitos T CD4+ em resposta aos peptídeos. FIGURA 8 – Protocolo experimental usado para avaliação do comportamento e participação dos linfócitos T CD8+ em resposta aos peptídeos. FIGURA 9 – Freqüência de linfócitos T CD4+/CD69+ produtores de IFN-γ frente ao SEB ou PPD em um indivíduo PPD+. FIGURA 10 – Freqüência de linfócitos T CD4+ expressando CD69 e CD4+/CD69+ produtores de IFN-γ frente ao SEB ou PPD em um indivíduo PPD+ e PPD-. FIGURA 11 – Freqüência de linfócitos T CD4+ ativados (CD69+) e ativados produtores de IFN-γ (CD4+/CD69+/ IFN-γ) em culturas de sangue total de indivíduos PPD+ e PPD-estimulada com PPD (10µg/mL). FIGURA 12 – Freqüência de linfócitos T CD4+/CLA+ em culturas de sangue de indivíduos PPD+ e PPD-. FIGURA 13 – Freqüência de linfócitos T CD4+/CLA+ e CD4+/CLA- ativados (CD69+) e produtores de IFN-γ em culturas de sangue total de indivíduos PPD+ e PPD- estimuladas com PPD. FIGURA 14 – Freqüência de linfócitos totais, linfócitos T CD4-, monócitos e neutrófilos expressando CD69 e produtores de IFN-γ em sangue total de indivíduos reatores e não reatores ao teste tuberculínico. FIGURA 15 – Quantificação dos níveis de IFN-γ (pg/mL) nas culturas de PBMC de indivíduos PPD+ e PPD- estimuladas por 1 e 5 dias com PPD (10µg/mL) por ELISA. FIGURA 16 – Representa um modelo de regressão múltipla. 14 FIGURA 17 – Níveis de IFN-γ nas culturas de PBMCs de pacientes com hanseníase da forma paucibacilar (PB) e multibacilar (MB), contatos de pacientes de forma multibacilar (HC), pacientes com tuberculose (TB), controles de área endêmica (EC) e controles de áreas não-endêmica (NEC) frente ao superantígeno SEB e M. leprae total. FIGURA 18 – Níveis de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de PBMCs em resposta à proteína ML0008 e a peptídeos sintéticos derivados da sua seqüência. FIGURA 19 – Níveis de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de PBMCs em resposta à proteína ML0126 e a peptídeos sintéticos derivados da sua seqüência. FIGURA 20 – Níveis de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de PBMCs em resposta à proteína ML1057 e a peptídeos sintéticos derivados da sua seqüência. FIGURA 21 – Níveis de IFN-γ em resposta à proteína ML2567 e a peptídeos sintéticos derivados da sua seqüência. FIGURA 22 – Níveis de IFN-γ em resposta a peptídeos reconhecidos seletivamente por indivíduos infectados por M. leprae. FIGURA 23 – Níveis de IFN-γ em resposta a peptídeos sintéticos que mostraram reatividade cruzada, induzindo IFN-γ em indivíduos sadios de área endêmica e/ou com tuberculose. FIGURA 24 – Resposta individual de IFN-γ nos grupos PB, TB e EC contra as quatro proteínas recombinantes e seus respectivos peptídeos e aos peptídeos da proteína ML0394. FIGURA 25 – Freqüência de linfócitos T CD4+ ativados (CD69+) e produtores de IFN-γ por peptídeos de 9 nanômero (P51, P59, P65) e a mistura deles. FIGURA 26 – ANOVA dos níveis de IFN-γ induzido por peptídeos sintéticos de M. leprae. FIGURA 27 – Quantificação de IFN-γ no plasma das culturas de sangue total estimuladas com mitógeno (controle positivo), PPD e as proteínas de M. leprae (MLSA e MLCwA). FIGURA 28 – Níveis de IFN-γ no plasma das culturas de sangue total estimuladas com o peptídeo P69 e os pools 1, 2, 3 e 4. 15 RESUMO A hanseníase carece até os dias atuais de um teste imunológico específico que detecte a infecção pelo Mycobacterium leprae. Com a finalidade de contribuir para o desenvolvimento de um teste simples baseado na detecção de resposta imune celular especifica contra o bacilo, como por exemplo, um teste cutâneo, dividimos o presente trabalho em duas etapas. Na primeira etapa analisamos a resposta imune ao teste tuberculínico (PPD), considerado o teste padrão ouro para a detecção de infecção pelo M. tuberculosis. Pretendíamos, com esta etapa, definir parâmetros de ativação in vitro de linfócitos T que se correlacionassem fortemente com a reatividade cutânea ao PPD para posteriormente utiliza-los no processo de seleção de novos antígenos candidatos a um teste cutâneo para a hanseníase, ou mesmo como um teste in vitro alternativo ao teste cutâneo. Para atingir este objetivo, avaliamos em indivíduos sadios PPD+ e PPD- a freqüência de linfócitos T específicos para PPD expressando CD69 (marcador de ativação) e interferon gama (IFN-γ) por citometria de fluxo. Também quantificamos os níveis de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de células mononucleares do sangue periférico (PBMCs), estimuladas por um e cinco dias com PPD. O emprego de um modelo de regressão múltipla mostrou uma boa correlação entre a freqüência de linfócitos T CD4+ PPD específicos CD69+ produtores de IFN-γ e o grau de reatividade cutânea ao teste tuberculínico. Esta análise também sugeriu uma associação entre os níveis de IFN-γ detectados em sobrenadantes de cultura de cinco dias, mas não de um dia, e o grau de induração ao PPD. Este último parâmetro foi utilizado, então, numa segunda etapa deste trabalho, para avaliar um painel de antígenos específicos do M. leprae, definidos a partir do seqüenciamento recentemente concluído do seu genoma, quanto ao seu potencial uso no diagnóstico especifico da infecção do M. leprae. Nesta etapa, PBMCs isoladas de pacientes com as diferentes formas clínicas da hanseníase, contatos de pacientes mutibacilares, pacientes com tuberculose pulmonar, indivíduos sadios de área endêmica e indivíduos sadios de áreas não endêmica foram estimuladas com sonicado de M. leprae, quatro proteínas recombinantes específicas de M. leprae (ML0008, ML0126, ML1057, ML2567) e 58 peptídeos de 15 e 9 aminoácidos (p37 a p94) sintetizados a partir de seqüências gênicas do M. leprae. Após cinco dias, os sobrenadantes das culturas foram recolhidos e os níveis de IFN-γ determinados por ELISA. A análise de Variância (ANOVA) foi utilizada para detectar diferenças significativas nos níveis de IFN-γ induzidos por cada antígeno nos diferentes grupos estudados. As células dos indivíduos de área não endêmica produziram IFN-γ abaixo dos níveis detectáveis pela ELISA frente a todos os antígenos de M. leprae testados. As proteínas recombinantes específicas induziram a produção de IFN-γ em indivíduos sadios de área endêmica, demonstrando, assim, baixo potencial de utilização num futuro teste para o diagnóstico especifico da hanseníase. Já a maioria dos peptídeos sintéticos (35) gerou uma resposta específica, sendo capaz de discriminar indivíduos com as formas paucibacilares e contatos (população infectada com M. leprae) do resto da população testada. Numa etapa seguinte, o fenótipo das células produtoras de IFN-γ foi investigado num paciente paucibacilar por citometria de fluxo utilizando 3 peptídeos decapentâmero, 3 peptídeos nanômero e a mistura deles. Os peptídeos decapentâmero selecionados continham na sua seqüência 16 os peptídeos nanômero utilizados. Uma alta freqüência de linfócitos T CD4+ e CD8+ produtores de IFN-γ frente aos peptídeos decapentâmero, nanômero e a mistura deles foi observada. Contudo, enquanto os peptídeos decapentâmero foram eficientes na indução de produção de IFN-γ em ambas as populações celulares CD4 e CD8, os peptídeos nanômetro induziram preferencialmente a produção de IFN-γ em linfócitos T CD8+. Os resultados obtidos neste trabalho sugerem que peptídeos sintéticos derivados da seqüência de genes específicos do M. leprae reconhecidos tanto por células CD4 como CD8 poderão ser futuramente empregados na identificação de infecção latente e/ou ativa com M. leprae, criando assim uma nova ferramenta para o diagnóstico e controle da hanseníase. 17 ABSTRACT Presently, leprosy still needs a specific immunological test that could identify Mycobacterium leprae infection. To contribute with a simple test development based on a specific cellular immune response against the bacille, for example a skin test, we have divided this work in two steps. In the first step, we have analysed the immune response to PPD, since it is considered a gold standard for detection of M. tuberculosis infection. Then, we defined T cell activation parameters strongly correlated with cutaneous reactivity to PPD, for use in the selection of the new candidate antigens that could be used in a skin test for micobacterial infections or an in vitro alternative one. To reach this aim, we have assessed the frequencies of PPD-responsive activated (CD69+) and IFNγ-producing CD4+T cells in PPD-positive and negative individuals by flow cytometry. In addittion, the production of IFN-γ was measured by ELISA in supernatants of PPD-stimulated PBMC cultures after one and five days of incubation. The multiple regression model has shown a good correlation between the frequency of PPD-responsive activated (CD69+) and IFN-γproducing CD4+T and PPD skin test. This analysis has also suggested association between IFN-γ level in supernatants of PPD-stimulated PBMC at 5 days, but not at 1 day, with PPD induration. This last parameter was then used to evaluate a panel of specific M. leprae antigens recently defined from its genome sequence as with potential for use in specific diagnosis of M. leprae infection. In this step, PBMC isolated from patients with different clinical forms of leprosy, household contacts of currently active multibacillary leprosy cases, pulmonary tuberculosis patients, healthy individuals from endemic and nonendemic area were stimulated with sonicated M. leprae, four M. leprae specific recombinant proteins (ML0008, ML0126, ML1057, ML2567) and 58 9- and 15mer peptides (p37 to p94) sinthesized from M. leprae genome sequence. After 5 days, the supernatants were collected and the IFN-γ production was measured by ELISA. Analysis of variance (ANOVA) was performed to determine significantly differences in IFN-γ levels induced by each antigen among different group studied. The cells of the individuals from non-endemic area have produced IFNγ level under that detectable by ELISA to all the M. leprae antigens applied. The specific recombinant proteins have induced IFN-γ production in healthy individuals from endemic area, showing low potential for future use in a specific diagnostic test for leprosy. On the other hand, the majority of the synthetic peptides (35) induced specific IFN-γ responses, discriminating the paucibacillary leprosy and household contact groups (M. leprae infected population) of the remaining investigated population. In the next step, 3 15-mer peptides, 3 9-mer peptides, and a mix of them, were investigated as to phenotype of the IFN-γ-producing CD4+T in a paucibacillary patient by flow cytometry. The selected 15-mer peptides contained at least one selected 9mer sequences within each them. A high frequency of IFN-γ-producing CD4+ and CD8+ T was observed when these cells were stimulated with 15- and 9mer peptides, and with mix of them. However, while the 15-mer peptides were efficient in inducing IFN-γ responses in both the CD4- and CD8- T cell subsets, 9-mer peptides preferentially activated CD8- T cells. The results obtained in this work suggest that synthetic peptides from specific M. leprae antigens recently defined from its genome sequence, recognized by both the CD4- and CD8- T cell subsets, could be used to identify latent and/or active M. leprae infection, creating a new tool for leprosy diagnosis and control. 18 I – INTRODUÇÃO 1.1 - Breve Histórico da Hanseníase. As primeiras descrições da hanseníase e os primeiros relatos de pessoas com sintomatologia característica da doença datam de 600 a.C., na Índia. Historicamente, ela ficou conhecida como “lepra”, termo derivado da palavra grega Lepros que significa escamoso. A primeira descrição da hanseníase na Europa foi relatada por Aretaeus em 150 a.C. na Grécia. No início do século XIII, a lepra já era muito freqüente na Europa com a existência de aproximadamente 19.000 leprosários. A hanseníase diminuiu na Europa a partir do século XVII, provavelmente em função do isolamento dos doentes, melhorias sanitárias e elevação do padrão de vida da população (Maurano, 1944). A hanseníase deve ter chegado às Américas com os colonizadores europeus, especialmente no Brasil, entre os séculos XVI e XVII. Nos Estados Unidos, foram os franceses, que deram origem ao estado de Louisiana, os quais provavelmente trouxeram a hanseníase; na América do Sul, a doença teria sido trazida pelos colonos espanhóis e portugueses. Atualmente todos os países sul-americanos com exceção do Chile têm hanseníase (Opromolla, 2000). Um estudo recente de tipagem molecular de Mycobacterium leprae, agente etiológico da hanseníase, realizado por Monot al et (2005) reforça a hipótese de que a doença teve origem no leste da África Oriental, e dali se estendeu através dos movimentos migratórios humanos para a Europa, Ásia e América (inclusive no Brasil) (Figura 1). 19 Figura 1 - Disseminação da hanseníase pelo mundo. Os círculos indicam a origem das amostras analisadas e os quatros diferentes genótipos identificados (genótipo 1: amarelo, 2: laranja, 3: roxo e 4: verde). As setas coloridas indicam a direção das migrações humanas determinadas pela análise dos genotipica de M. leprae. As setas em cinza correspondem às rotas de migração humana determinadas por estudos genéticos, arqueológicos e antropológicos, com estimativa de tempo de migração em anos. Adaptado de por Monot al et. Nature (2005) Os primeiros documentos que atestam à existência da hanseníase no Brasil datam de 1696, onde o Governador Artur de Sá e Menezes procurava dar assistência no Rio de Janeiro aos “míseros leprosos”, já então em número apreciável. O Estado de São Paulo, no início da década de 30 do século XIX, adota o modelo de isolamento compulsório aos hansenianos. Em 1954, a Organização Mundial de Saúde (OMS) envia uma Comissão ao Brasil, a qual recomendou o fim do isolamento compulsório a exemplo de outros países (Ferreira et al., 1983). O Professor Rotberg modificou radicalmente a política sanitária com relação à hanseníase em São Paulo. Ele nomeou uma comissão de hansenólogos, entre eles, os doutores Lauro de Souza Lima e Nélson de Souza Campos, e promoveu campanhas educativas e transformou o DPL (Departamento de Profilaxia da Lepra) no “Departamento de Dermatologia Sanitária”, objetivando auxiliar no processo de redução do estigma em relação à doença (Opromolla, 2000). Houve, porém, num período recente, a crença de que o imenso resíduo de estigmatização da lepra residiria em torno do nome da doença. Estas concepções ocasionaram um movimento no Brasil de substituição da nomenclatura da doença lepra para hanseníase, que em 1995 20 (Lei Federal no. 9.010. Publicada no Diário Oficial da União, auditoria do Deputado Elias Murad do PSDB/MG), foi objetivo de lei específica, formalizando através de documento legal essa alteração. Em 1868, o físico Norueguês Gerhard Henrik Amauer Hansen foi convidado para auxiliar Danielssen e Boeck. Ele permaneceu neste trabalho até 1871 e durante este período, tentou convencer seus colegas, sobretudo a Danielssen, de que a hanseníase era uma doença infecciosa, mas não conseguiu mudar a visão do colega. Em 1871 foi convidado pela Sociedade Médica Norueguesa para estudar a causa da hanseníase e, finalmente, em 1873 ele estabelece por meio do microscópio a presença de corpos em forma de bastões em preparações não fixadas de nódulos de pacientes hansenianos. Desta forma, a microbiologia médica foi iniciada por Hansen, nove anos antes da descoberta do bacilo da tuberculose (Hastings & Opromolla 1994). A utilização de quimioterápicos no tratamento da hanseníase remonta do século VI, com a utilização na Birmânia do óleo de Hydnocarpus, difundindo-se esta prática por toda a Europa no século IX. A partir da década de 40, a monoterapia com sulfonas foi adotada, causando um grande impacto no tratamento da doença. O surgimento de casos sulfono resistentes, a persistência bacilar e o abandono ao tratamento devido a sua longa duração levaram a OMS a recomendar, em 1982, um tratamento poliquimioterápico baseado na associação das drogas dapsona, rifampicina e clofazimina. 1.2 – Prevalência atual, distribuição geográfica e transmissão. Desde a implantação da poliquimioterapia (PQT), a prevalência mundial da hanseníase foi reduzida em aproximadamente 90% pela cura de mais de nove milhões de pacientes (WHO, 2005). Segundo dados da OMS (2004), a hanseníase encontra-se mais concentrada em nove países, nos quais ela ainda representa um problema de saúde pública. Juntos, estes países respondem por 84% da prevalência e 88% da detecção mundial. São os seguintes: Angola, Brasil, República Africana Central, República Democrática do Congo, Índia, Madagascar, Moçambique, Nepal e Unidade Republicana da Tanzânia (WHO 2004). Em 2004, o Brasil era o país que apresentava maior 21 taxa de prevalência de 4,6 por 10.000 indivíduos, e um número total de casos de 79.908. Nenhuma informação/ Hanseníase raramente detectada Figura 2 - Mapa dos coeficientes de prevalência da hanseníase no mundo em 2004. Fonte: WHO 2004. No Brasil, os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul exibem as melhores estatísticas: menos de um caso em cada 10.000 habitantes. Na outra ponta está o Mato Grosso, com taxa de detecção de 15,2 em cada 10.000 habitantes. Rondônia, Roraima, Acre, Tocantins, Maranhão e Espírito Santo apresentam de cinco a nove casos/10.000 habitantes (WHO 2004). Diferente da brusca queda da taxa global de prevalência ocasionada pela PQT, o número de casos novos detectados anualmente vem permanecendo constante ou tem aumentado. Esta persistência na taxa de detecção de novos casos de hanseníase nos países endêmicos pode ser atribuída a vários fatores, tais como: à intensidade na busca de novos casos, à alta transmissão em certas áreas proveniente de indivíduos assintomáticos transmissores, ou à recidiva de casos previamente tratados e à falta de um teste diagnóstico que detecte a infecção num estágio precoce da doença. O Brasil apresenta aproximadamente 45.000 novos casos por ano (www.saude.gov.br). 22 O contato com M. leprae se faz principalmente pelas vias aéreas superiores (Fig.2) e a infecção subclínica ocorre em uma grande proporção de pessoas expostas (revisto por Gallo et al, 2005). Almeida e colaboradores demonstraram claramente que o DNA deste patógeno estava presente na mucosa de pacientes e de seus contatos, corroborando a idéia de que a infecção latente ocorre freqüentemente e de que o nariz é principal via de saída e entrada de M. leprae (Almeida et al., 2004). VIAS DE ELIMINAÇÃO DO BACILO • • Mucosa nasal e orofaríngea Lesões de pele VIAS DE PENETRAÇÃO DO BACILO • • Mucosa nasal Pele lesionada Indivíduo exposto Figura 3 – Vias de eliminação e penetração do bacilo. Modelo adaptado do Manual de procedimentos e atividades e controle da Hanseníase, 2001. A infecção causada por este patógeno apresenta um longo período de latência, sendo o tempo médio de incubação de aproximadamente quatro anos em pacientes do pólo tuberculóide, e de até 30 anos para os do pólo lepromatoso (Noordeen, SK, 1994; Pessolani et al., 2003). Este longo período de incubação contribui para a transmissão da hanseníase, pois antes mesmo da manifestação clínica dos sintomas, o indivíduo já é um transmissor potencial. Por isso, entender o mecanismo de transmissão da hanseníase é um passo importante para o desenvolvimento de métodos que possam interromper a cadeia de transmissão, levando desta forma à erradicação da doença (Smith et al., 2004). 23 1.3 – Aspectos clínicos e resposta imunológica do hospedeiro. A hanseníase acomete principalmente a pele e os nervos periféricos e manifesta-se através de um amplo espectro de formas clínicas, determinado pela variedade da resposta imune do paciente à bactéria. A hanseníase dificilmente leva à morte, mas constitui a principal causa de neuropatia periférica, a lesão neural sendo observada em todas as formas clínicas da doença. O tropismo de M. leprae pelas células de Schwann leva à desmielinização, fibrose e degeneração dos nervos periféricos, processos esses que se mostram pouco reversíveis e que continuam com o tempo a despeito do tratamento dos pacientes. Em conseqüência, aproximadamente 30% dos indivíduos acometidos com hanseníase apresentam deformidades físicas como seqüelas da doença. Estima-se que existiam, em 1992, entre 23.000.000 de indivíduos no mundo portadores de deficiência física decorrentes da hanseníase (Noordeen et al., 1994). Um outro aspecto importante da hanseníase é que, a despeito da poliquimioterapia, aproximadamente 50% dos doentes desenvolvem quadros clínicos de inflamação aguda denominados de episódios reacionais. Durante as reações ocorre o desenvolvimento de neurites, responsáveis pela exacerbação do dano nervoso e pela conseqüente incapacitação dos pacientes. Os sintomas dos quadros reacionais são minimizados através da administração de anti-inflamatórios e corticóides. Ou seja, mesmo tratados, a lesão nervosa evolui nos pacientes com hanseníase, levando muitas vezes a quadros de incapacidade e deformidade física. Como representado na figura 4, apenas uma minoria dos indivíduos expostos a M. leprae (somente cerca de 5 a 10% das pessoas) desenvolve a doença, o que pode estar ligado a fatores genéticos condicionando susceptibilidade à infecção por este patógeno (Sehgal, Joginder, Sharma., 1989). Na população susceptível, os padrões de resposta imune do hospedeiro ao bacilo estão associados ao espectro de formas clínicas observadas na hanseníase, também caracterizadas por diferentes cargas bacilares e número de lesões observadas na pele. As manifestações clínicas (Ridley e Jopling, 1966) variam da forma tuberculóide polar (TT- indivíduos com hiper24 responsividade ao M. leprae) à forma lepromatosa polar (LL- indivíduos hiporesponsivo ao bacilo) (Figura 4). Existem as formas intermediárias borderline tuberculóide (BT), borderline borderline (BB) e borderline lepromatosa (BL). Estas formas podem ser grosseiramente agrupadas em multibacilares - MB (LL, BL e BB), e paucibacilares – PB (TT e BT). Os pacientes com as formas mutibacilares são considerados a principal fonte de infecção. Indivíduos Sadios 90% Hanseníase Indeterminada 10% Imunidade Celular Produção de Anticorpos IL-2, IFN-γγ IL-4, IL-10 M. leprae nos tecidos (Fonte: The Lancet, vol 363 (10): 1209-19; 2004) Figura 4 – Escala da imunopatologia clínica da hanseníase. Patógenos intracelulares como M. leprae estimulam o desenvolvimento no hospedeiro de uma resposta mediada por células, efetiva no controle da infecção. Esta resposta é mediada principalmente por linfócitos CD4+ que produzem IFN-γ, citocina que desempenha um papel crítico na eliminação do bacilo através da ativação de macrófagos (Kaufmann, 1991). A Figura 5 resume as principais células e citocinas envolvidas numa resposta protetora (tipo 1) e não protetora (resposta tipo 2). Respostas do tipo 1 são direcionadas, em parte, pela IL-12, que irá induzir a produção de IFN-γ por células Natural Killer (NK), num estágio inicial da resposta imune, além de estimular a ativação, 25 a diferenciação e a expansão dos linfócitos Th1 antígeno-específicos. Além de IL-12, outras três citocinas foram identificadas como estimuladoras de IFN-γ. IL-23, que possui algumas características em comum com IL-12, mas com menor capacidade indutora de IFN-γ; IL-18, que em sinergia com IL-12 promove uma ótima produção de IFN-γ, e IL-27, que induz a proliferação de linfócitos T virgens e estimulam a produção de quantidades significantes de IFN-γ, principalmente quando em sinergia com IL-12 e IL-18 (Ottenhoff, et al.,2005). Figura 5-Na forma TT, no padrão de resposta tipo 1, IL-12 é um fator de crescimento autócrino para os linfócitos T helper, que faz ativação de macrófagos mediada por IFN-γ (imunidade mediada por células). No padrão de resposta tipo 2, na forma LL, IL-4 é um fator de crescimento para os linfócitos T supressores que estimulam a diferenciação de linfócitos B a produzir anticorpos (imunidade humoral). Na presença de IL-4, uma subclasse de linfócitos TCD4+ (Th3) é ativada para produção de TGF−β, um potente fator supressor de macrófago. Citocinas de macrófagos são cruciais em cada padrão: no tipo 1, IL-12 é um poderoso estimulo para linfócitos T helper, no tipo 2, IL-10 suprime o próprio macrófago. Citocinas produzidas em um tipo de resposta podem mutuamente se inibir de um modo multifacetado, simplificado no esquema por duas grandes setas (Goulart, 1995. Adaptado de Modlin & Bloom 1993). De fato, indivíduos deficientes para o receptor de IFN-γ (IFN-γR) são suscetíveis a várias doenças micobacterianas, inclusive à hanseníase (Kerksiek & Pamer, 1999; Lima et al, 2000; Langrish et al, 2004). Na hanseníase o IFN-γ é produzido tanto por linfócitos T CD4+ quanto CD8+ na hanseníase (Spencer et al. 2005). Além desta citocina, outras também são importantes para o controle da hanseníase, como TNFα que, em sinergismo 26 com IFN-γ, irá induzir a formação de granuloma contendo tanto linfócitos T CD4+ quanto CD8+ , e que participará na contenção da infecção (Flynn, 2004). Os pacientes do pólo tuberculóide (TT) possuem resposta imune celular específica a M. leprae, a qual é confirmada pela proliferação de linfócitos T e produção de citocinas em resposta a antígenos de M.leprae in vitro, estando esta resposta associada à contenção do bacilo. As lesões desses pacientes, com pouco ou nenhum bacilo, apresentam um infiltrado linfocitário organizado, com presença de macrófagos diferenciados em células epiteliais e linfócitos T CD4+, (também chamados de T “helper”), os quais secretam citocinas do tipo T “helper-1” (Th-1), como IL-2 e IFN-γ. Nestes pacientes, há predominância de linfócitos T CD4+ sobre os T CD8+, observando-se os linfócitos T CD4+ na região central do granuloma e os CD8+ na periferia do granuloma (revisto por Scollard et al, 2006). Em pacientes do pólo lepromatoso (LL) não se observa resposta imune celular a M. leprae, apesar desta continuar intacta como constatado em ensaios com patógenos relacionados, como por exemplo, Mycobacterium tuberculosis – (Hastings et al., 1989). A ausência de resposta imune celular específica favorece uma proliferação incontrolada do bacilo, com muitas lesões e altos títulos de anticorpos específicos para o glicolipídio fenólico – I (PGL-I) e para proteínas antigênicas específicas de M. leprae (Triccas et al., 1996). Na derme destes pacientes há macrófagos infectados com muitas bactérias, mas poucos linfócitos T CD4+ e CD8+, e nenhum granuloma organizado. Já a forma clínica Indeterminada (I) pode permanecer inalterada durante muito tempo antes de evoluir para as formas mais diferenciadas do espectro da doença, podendo também ocorrer a cura espontânea, mesmo sem tratamento (www.saude.gov.br). 1.4- Mycobacterium leprae. Como previamente mencionado, M. leprae foi o primeiro microrganismo a ser identificado como agente etiológico de uma doença humana. O bacilo de Hansen, como também é chamado, é um patógeno intracelular obrigatório não cultivável in vitro até os dias atuais. No seu hospedeiro natural, o homem, se 27 multiplica muito lentamente com o tempo de geração estimado em média de 12 a 14 dias. M. leprae pertencente à classe Actinobacteria; subclasse Actinobacteridae; ordem Actinomicetalis; subordem Corynebacterineae; e família Mycobacteriaceae. Apresenta-se nos tecidos humanos como um bastonete reto ou ligeiramente encurvado, medindo aproximadamente 1 a 8 µm de comprimento por 0,2 a 0,5 µm de diâmetro (Rees et al., 1994). É um bacilo Gram positivo e álcool-ácido resistente quando corado pelo método de ZiehlNeelsen. A localização das lesões hansenianas no corpo dos pacientes (pele, mucosas e nervos periféricos) sugere que o bacilo tem preferência por temperaturas menores que 37◦C (Lombardi, 1990). O envelope deste patógeno, assim como o de outras micobactérias, está dividido em duas partes: membrana plasmática e parede celular. A primeira é constituída por característica uma principal bicamada a fosfolipídica presença de clássica glicolipídios e possui como peculiares como fosfatidilinositolmanosídios, a lipoarabinomanana e a lipomanana; já a parede celular é rica em lipídios, principalmente os ácidos micólicos, o que lhes confere a propriedade álcool-ácido resistente (Método de Ziehl-Neelsen). Na parede celular de M. leprae encontra-se o glicolipídio fenólico-I (PGLI), descrito por Hunter e Brennan em 1981, que é um componente majoritário e exclusivo do envoltório externo de M. leprae. Está envolvido na imunogenicidade e patogenicidade na infecção por M. leprae, além de induzir uma grande produção de anticorpos anti-IgM em pacientes, o que está relacionado ao nível de bactérias do indivíduo, despertando então interesse no que diz respeito a sua utilização no diagnóstico precoce da hanseníase (Hunter & Brennan, 1981). Em 1971, Kirchheimer & Storrs demonstraram a ocorrência de tatus naturalmente infectados capturados no Estado da Louisiana nos Estados Unidos da América. Estes tatus, da espécie Dasypus novemcinctus, apresentavam uma forma disseminada da doença com comprometimento de pele, medula óssea, fígado, baço, linfonodos, pulmões, meninges e olhos. A partir desta descoberta, estes animais vêm sendo mantidos em cativeiro para a inoculação experimental de M. leprae, representando as principais fontes de bactéria para estudos bioquímicos e imunológicos. 28 Recentemente, com a implantação do projeto de seqüenciamento do genoma humano, genomas de muitos organismos, inclusive bactérias patogênicas ao homem, vêm sendo definidos. Dentre estes, o genoma de M. tuberculosis (Cole et al., 1998), M. leprae (Cole et al., 2001), M. marinum e M. bovis foram recentemente concluídos (http://sanger.ac.uk). O sequenciamento do genoma de M. leprae por Cole e colaboradores (Cole et al, 2001) representou um grande avanço na área biomédica, pois está ajudando a esclarecer alguns aspectos deste microrganismo único. O genoma deste patógeno inclui 1065 genes que codificam proteínas, e 50 genes para moléculas de RNA estáveis (Cole et al, 2001). O genoma de M. leprae (3268 kb), é aproximadamente 1,2 Mb menor do que o de M. tuberculosis (4411 kb) e contém 1116 pseudogenes (genes que apresentam perda de regiões necessárias a sua transcrição e/ou tradução), como por exemplo versões inativadas de genes que ainda são funcionais em M. tuberculosis (Cole, et al., 2001). O grande número de genes inativados talvez tenha alguma relação com a condição de patógeno intracelular obrigatório e com a sua incapacidade de crescer in vitro (Brosh, et al., 2000; Britton & Lockwood, 2004). Um dado importante no contexto de desenvolver novas ferramentas para o controle da hanseníase foi a observação da presença, no genoma de M. leprae, de 165 genes não compartilhados com M. tuberculosis. Destes, 139 eram específicos para M. leprae com ausência de seqüências homologas no Genebank (http://sanger.ac.uk). 1.5 - Estratégias de prevenção e controle da hanseníase. Três medidas principais contribuem para o controle de doenças infecciosas:, (1) a disponibilidade de um teste para o diagnóstico específico da infecção; (2) a quimioterapia, que possibilitaria a cura dos pacientes infectados, apresentando, portanto resultados imediatos, e (3) a vacinação, que tem caráter preventivo e cujos resultados apareceriam a médio e longo prazos. 29 1.5.1. Métodos de diagnóstico. A hanseníase carece até os dias atuais de um teste imunológico específico que detecte a infecção por M. leprae. O diagnóstico da hanseníase se baseia principalmente nos sinais e sintomas clínicos do paciente. O exame histopatológico das lesões e a determinação do índice bacteriológico, por outro lado, auxiliam na definição da forma clínica dentro do espectro da hanseníase. Recentemente, visando simplificar este diagnóstico no campo, um método simples e rápido vem sendo implementado. Este teste, denominado de ML Flow, se baseia na detecção de anticorpos específicos contra o PGL-I no sangue (Hunter & Brennan, 1981). Estes anticorpos são predominantemente da classe IgM e aumentam nas formas multibacilares (MB) do espectro da hanseníase, com títulos altos em pacientes lepromatosos. Já a grande maioria dos pacientes paucibacilares (PB) se mostra soronegativa. Este teste permite assim distinguir entre pacientes MB e PB, permitindo a escolha do esquema terapêutico mais adequado ao paciente. Também tem sido demonstrado que contatos de pacientes com hanseníase soro positivos para PGL-I apresentam risco maior de adoecer (Buhrer et al., 2000). Conseqüentemente, este teste também vem sendo utilizado na população de contatos com a finalidade de auxiliar na definição de indivíduos com alto risco de desenvolver principalmente as formas MB da doença. O teste ML Flow consiste na aplicação do soro do paciente sobre uma tira de nitrocelulose impregnada com o antígeno (Figura 6). Não requer nenhum equipamento especial ou treinamento. É muito simples, pois requer apenas uma punção na polpa digital com alfinete ou microlanceta estéril para a realização; Detecta anticorpos IgM dirigidos para PGL-I de M. leprae tanto em amostras de soro como de sangue total. 30 Control line Test line Negative Positive Figura 6- Esquema do teste rápido do fluxo lateral de dez minutos -ML flow Fonte: Buhrer 2002 A positividade é revelada pela mudança da cor observada na fita e pode ser lida dentro de 10 minutos, o que facilita sobremaneira, juntamente com outras informações clínicas e laboratoriais, o diagnóstico da hanseníase, a classificação dos pacientes em multibacilares e paucibacilares para fins de tratamento e a vigilância epidemiológica de contatos de pacientes hansenianos que possuem elevados risco de adoecimento por formas grave de hanseníase. Abordagens que incluem a amplificação de seqüências gênicas específicas de M. leprae através da reação em cadeia da polimerase (PCR) têm sido igualmente empregadas como suporte para o diagnóstico da forma neural pura da hanseníase. A introdução recente da PCR forneceu oportunidade sem precedentes para detecção específica, sensível e rápida do DNA de M. leprae em espécimes clínicos. Estudos utilizando biópsia de pele de pacientes com hanseníase têm demonstrado que a técnica de PCR é capaz de aumentar a sensibilidade de detecção do M. leprae, sugerindo vantagem da técnica quando comparada aos exames histopatológico e baciloscópico convencionais (De Wit et al., 1991). Nos países desenvolvidos, a técnica de PCR para DNA de M. leprae tem sido utilizada para auxiliar no diagnóstico de casos mais difíceis, como da forma neural pura (Dayal et al., 2005; Bezerra da Cunha et al., 2006). Entretanto, o alto custo e a sofisticada tecnologia empregadas são entraves para sua incorporação no diagnóstico de rotina na 31 hanseníase, permanecendo ainda como importante instrumento de pesquisa para auxiliar a compreender a epidemiologia da hanseníase na comunidade. 1.5.2 – Tratamento. A quimioterapia constitui o principal veículo de controle da hanseníase. A hanseníase é uma doença curável e o seu tratamento é indispensável para a cura do paciente, e para a interrupção da transmissão da doença, sendo, portanto estratégico para o controle da endemia e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. O programa de tratamento da hanseníase, desenvolvido pela OMS, recomenda que os pacientes PB sejam tratados por seis meses com rifampicina e dapsona e os MB por 12 a 24 meses com rifampicina, dapsona e clofazimina (http://who.int.lep). 1.5.3 - Prevenção da hanseníase através da vacinação com BCG. A prevenção da hanseníase é feita através do uso da vacina do Bacilo de Calmette-Guérin (BCG), a mesma utilizada para a prevenção da tuberculose. Esta vacina foi desenvolvida originalmente na França por Albert Calmette e Camille Guérin na primeira década do século XX segundo os postulados de Louis Pasteur, e é proveniente de uma cepa virulenta de Mycobacterium bovis (M. bovis), que foi atenuada após passagens in vitro das culturas desta micobactéria em meio Souton-batata (Haile & Kallenius, 2005). A OMS preconiza o uso da vacina BCG como estratégia contra a hanseníase, e esta é amplamente utilizada em países endêmicos para a doença (Lockwood & Suneetha, 2005). A vacina BCG confere entre 20 e 90% de proteção contra as formas MB e PB da hanseníase em todas as populações e uma das hipóteses para essa variação é uma possível reação cruzada com micobactérias do ambiente (Fine et al.,1985; Fine & Smith, 1996; Lombardi et al.,1996). A prevenção da forma MB é particularmente importante. Existem evidências de impacto da BCG tanto na incidência da hanseníase quanto na susceptibilidade às formas MB desta doença (Fine & Smith, 1996). Na Venezuela, Convit e col. (1992) 32 demonstraram que a vacina combinada BCG/M. leprae não conferiu maior proteção contra a hanseníase quando compararam com o BCG sozinho. Em nosso país, a cepa utilizada na fabricação da vacina é a BCG Moreau, que é fornecida em frasco âmbar de vinte doses, produzida pela Fundação Ataulpho de Paiva e é apresentada na forma liofilizada (Pompeu & Moraes, 2002). Esta cepa conferiu cerca de 70% de proteção contra a hanseníase, na vacinação neonatal, principalmente para a forma MB (Cunha et al, 2004). Em grupos de risco (contatos), a vacinação com BCG conferiu cerca de 50% de proteção, sendo esta proteção aumentada em 25% com a repetição da vacina (Smith & Smith, 2000). Estudos mais recentes avaliaram a correlação entre BCGid e níveis de anticorpos IgM anti-PGL-I em pacientes hansenianos e seus comunicantes. Os achados mostram níveis de anticorpos específicos reduzidos em indivíduos previamente vacinados quando comparado aos não vacinados. A capacidade do BCGid induzir ativação da resposta imunológica de doentes e comunicantes pode estar associada à queda dos níveis dos anticorpos anti-PGL-I em ambos os grupos (Foss et al. 2002). A vacinação com BCG foi recomendada pelo Ministério da Saúde para a hanseníase a partir de 1992 (Matos, et al., 1999). Atualmente, preconiza a aplicação de duas doses de BCGid em todos os indivíduos sadios, categorizados como contatos intradomiciliares de todos os casos novos de hanseníase, independente da forma clínica do caso-índice (Lombardi et al 1996; Pompeu & Moraes, 2002). Resumindo o exposto à cima, os programas atuais da hanseníase se limitam ao tratamento de indivíduos com a doença clínica, ao acompanhamento de seus contatos e a vacinação dos mesmos com o BCG. 1.6 – Justificativa e estratégias para o desenvolvimento de um teste para o diagnóstico precoce da hanseníase. Como já foi mencionado anteriormente, um dado preocupante é a manutenção de uma alta taxa de detecção de casos novos de hanseníase, apesar da queda nos índices de prevalência, o que sugere a permanência de uma alta taxa de transmissão na população. Entre os casos novos 33 diagnosticados no Brasil, mais da metade manifesta uma das formas multibacilares da doença, um percentual alto de aproximadamente 8% são crianças (menores de 14 anos) e um número significativo de casos detectados já mostram algum grau de incapacidade física (http://who.int/lep). Estes dados epidemiológicos indicam que o diagnóstico da hanseníase é feito tardiamente no nosso país, favorecendo assim a cadeia de transmissão. Dentro dos conceitos de transmissão da hanseníase tem se verificado que os pacientes multibacilares não tratados são a principal fonte de infecção. Contudo, devido ao longo tempo de incubação da hanseníase, acredita-se que os indivíduos infectados sejam capazes de transmitir a doença ainda numa fase assintomática da doença. Em termos de saúde pública, o tratamento iniciado mais precocemente preveniria o desenvolvimento de formas graves da hanseníase. Também o diagnóstico precoce seguido de um tratamento adequado poderia eliminar potenciais fontes de transmissão, contribuindo, assim, para o rompimento da cadeia epidemiológica e a eliminação da doença. A alta prevalência da tuberculose no nosso país aliada à obrigatoriedade da vacinação com BCG nos neonatos exigem que este teste seja específico, detectando somente indivíduos infectados com o bacilo de Hansen. A ausência de modelos experimentais que mimetizam a doença em humanos, e a impossibilidade do crescimento in vitro do M. leprae representaram historicamente importantes limitações no desenvolvimento de ferramentas para o controle da hanseníase. A disponibilidade de massa bacilar proveniente de tecidos de tatus infectados permitiu durante as décadas de 80 e 90 avanços significativos no conhecimento da constituição molecular do bacilo de Hansen. Através de metodologias bioquímicas convencionais foi possível isolar e caracterizar uma série de moléculas de M. leprae. Também, com o advento da biologia molecular, foi possível a construção de bibliotecas genômicas do bacilo que foram, então, rastreadas com anticorpos monoclonais e policlonais, levando à identificação de uma série de antígenos. Estudos em pacientes com hanseníase demonstraram que vários destes antígenos, como as proteínas de choque térmico 70, 65, 18, e 10 kDa, induzem resposta imunológica celular medida através da produção in vitro de IFN-γ e proliferação de linfócitos. Estes antígenos, contudo, estão presentes em outras 34 micobactérias, como M. tuberculosis e apresentam grande homologia entre si, sendo pouco adequados para fins de diagnóstico. A conclusão do seqüenciamento do genoma de M. leprae por Cole et al., (2001) abriu um imenso potencial na direção da descoberta de componentes bacterianos relevantes no contexto da doença e na descoberta de antígenos específicos de M. leprae. Dando, assim, início a uma abordagem pós- genômica para o desenvolvimento de um teste de diagnóstico especifico, um estudo recente avaliou a indução de resposta imune celular por 81 peptídeos deduzidos de 33 proteínas de M. leprae em pacientes e contatos do Brasil, Etiópia, Nepal e Paquistão (Dockrell et al, 2000 [a]). Os 15 peptídeos que apresentavam baixa ou nenhuma homologia com peptídeos de M. tuberculosis, mostraram uma especificidade maior que 90% com sensibilidades variáveis, sugerindo que um pool de peptídeos específicos de M. leprae poderia ser utilizado para a monitoração de exposição à bactéria ou num diagnóstico precoce da doença. Recentemente, Araoz et al (2006) mostraram que as proteínas ML0308 e ML2498 (proteínas presentes em M. leprae e homólogas com proteínas presentes em outras micobactérias) apresentaram uma alta imunogenicidade humoral e celular, isto é, são candidatas para o diagnóstico de ambas as formas de hanseníase (tuberculóide e lepromatosa). Reece et al (2006) utilizaram um pool de soros de pacientes MB não tratados e identificaram 14 proteínas reativas numa biblioteca de expressão de proteínas recombinantes de M. leprae. Desta, duas proteínas (ML0405 e ML2331) identificam por ELISA especificamente pacientes com a forma multibacilar (BL e LL), auxiliando o diagnóstico sorológico por PGL-I. Dentre os testes imunológicos apropriados para avaliar a infecção por micobactérias está o teste cutâneo. Indivíduos previamente expostos a estes patógenos respondem num período de 24-72 horas a frações antigênicas dos mesmos, introduzidas subcutaneamente, através de uma reação denominada de hipersensibilidade tardia (DTH), caracterizada pelo aparecimento de eritema e induração local. Assim, no caso da tuberculose, o teste tuberculínico ou PPD (Proteína purificada derivada de M. tuberculosis) é utilizado para identificar exposição/infecção latente por M. tuberculosis. Já no caso da hanseníase, o único teste cutâneo até hoje utilizado, da lepromina, se baseia numa 35 preparação antigênica purificada, e não constitui uma reação de DTH clássica, sendo lido com 21- 28 dias (teste de Mitsuda). O mesmo avalia a capacidade de desenvolver uma resposta imune celular contra M. leprae, mas não a exposição previa ao mesmo. Linfócitos T de memória antígeno-específicos do tipo CD4+, mas possivelmente também do tipo CD8+, que, quando ativados, produzem IFN-γ constituem os principais mediadores da reação de DTH e se acumulam no local de inoculação do antígeno (Abbas, 2003). De fato, a produção de IFN-γ por células mononucleares de sangue periférico em resposta ao PPD, por exemplo, se correlaciona fortemente com a reatividade cutânea (in vivo) ao mesmo antígeno observado em indivíduos expostos a M. tuberculosis (Mazurek & Villarino, 2001). Esta correlação, mais bem explorada na tuberculose bovina, vem permitindo a substituição do teste cutâneo tuberculinico pela quantificação in vitro de IFNγ produzido por amostras de sangue total em resposta ao PPD (Rothel et al., 1990). Um outro dado importante é a produção de diferentes níveis de IFNγ entre indivíduos com hanseníase paucibacilar e multibacilar e entre indivíduos doentes e aqueles expostos a M. leprae, mas que não desenvolvem a doença (Lima et al., 2000). Os dados acima reforçam a idéia de utilizar IFNγ como indicador de expansão de células de memória especificas no contexto da infecção por M. leprae em substituição do teste cutâneo. Também estes dados reforçam a idéia do desenvolvimento de um teste de diagnóstico que detecte os indivíduos infectados, e dentre eles, diferencie aqueles com hanseníase subclínica. Outra molécula induzida que poderia ser utilizada como indicador de células de memória antígeno especificas é o antígeno de ativação leucocitária CD69. A expressão de CD69 é rapidamente induzida na superfície de linfócitos T, B e Natural Killer após ativação, constituindo assim um marcador precoce de ativação linfocitária (Chen, Prince, Buck., 1988). A análise in vitro da capacidade de um determinado antígeno de induzir tanto a expressão de CD69, assim como a produção de IFN-γ em diferentes subpopulações de linfócitos T periféricos poderia refletir o seu potencial como reagente num teste cutâneo para medir exposição previa a M. leprae. Esta correlação poderia se tornar ainda mais significativa se a análise se concentrasse nos linfócitos T 36 cutâneos que expressam o antígeno de “homing” CLA (cutaneous lymphocyte antigen). CLA é expresso na superfície de linfócitos circulantes efetores, ou de memória, que migram preferencialmente para epitélios. Uma grande concentração de linfócitos CLA+ é observada em sítios de inflamação cutânea e na mucosa oral (Kunkel and Butcher, 2002). Recentemente, testes in vitro mais rápidos e fáceis de serem realizados, que utilizam sangue total ao invés de células mononucleares do sangue periférico foram propostos para estudar a resposta imunológica decorrente a exposição a M. leprae em populações, como também para auxiliar no diagnóstico precoce da hanseníase. Com esta abordagem pode-se avaliar parâmetros de ativação da resposta imune celular, como proliferação de linfócitos T e produção de citocinas como IFN-γ. Outra aplicação potencial é a triagem in vitro de antígenos de M. leprae ou frações com potencial para serem usados no diagnóstico, antes de sua formulação como reagentes de teste cutâneos para uso in vivo. Estudos em vários países estão em andamento para avaliar a aplicabilidade, em ampla escala, dos testes laboratoriais com sangue total e determinar se estes são suficientemente robustos para uso em campo (Dockrell et al., 2000 [b]). No presente estudo, avaliamos a indução por PPD da expressão de CD69 e a produção de IFN-γ em distintas subpopulações de leucócitos em indivíduos sadios PPD positivos e negativos. A correlação entre a indução in vitro pelo PPD destes parâmetros e a reatividade cutânea ao teste tuberculínico foi investigada com o objetivo de selecionar parâmetros de ativação in vitro de linfócitos T que se correlacionam fortemente com a reatividade cutânea. Estes parâmetros poderiam também servir de base para um teste in vitro que substitua o teste cutâneo. Esta substituição seria bem vinda, uma vez que o teste in vivo apresenta vários inconvenientes, como por exemplo, a inerente subjetividade de interpretação e a necessidade de avaliação dos indivíduos em duas ocasiões diferentes. Numa segunda parte deste estudo, investigamos a capacidade de novos antígenos identificados a partir do seqüenciamento de M. leprae na detecção de pacientes. 37 II-OBJETIVOS OBJETIVO GERAL: Contribuir para o desenvolvimento de um teste específico para o diagnóstico da hanseníase. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Correlacionar a resposta cutânea ao PPD em indivíduos sadios com os seguintes parâmetros de ativação in vitro de linfócitos T: a) Freqüência, em amostras de sangue total incubadas com PPD, de linfócitos totais e subpopulações (linfócitos T CD4+, CD4+/CLA+) ativados (CD69+), ou ativados e produtores de IFNγ (CD69+/IFN-γ+); b) Níveis de IFN-γ em sobrenadantes de células mononucleares estimuladas com PPD por um e cinco dias. 2. Avaliar a produção de IFN-γ em resposta a antígenos específicos de M. leprae (peptídeos sintéticos e proteínas recombinantes) por células mononucleares de sangue periférico de indivíduos com diferentes graus de exposição a M. leprae e definir o fenótipo das células T produtoras de IFN-γ em resposta aos peptídeos sintéticos. 3. Avaliar a indução de IFN-γ por peptídeos específicos para M. leprae em cultura de sangue total de indivíduos com diferentes graus de exposição a M. leprae. 38 III- INDIVÍDUOS, MATERIAL E MÉTODOS. 3.1 – Biossegurança e Comitê de ética. O sangue dos pacientes e dos demais indivíduos incluídos neste estudo foi manipulado em câmera de fluxo laminar respeitando as normas de precauções para manipulação de material biológico. Os testes e os procedimentos deste trabalho foram aprovados pelos Comitês de Ética em Pesquisa com seres humanos da Fundação Oswaldo Cruz sob o protocolo no 205/03 e da Colorado State University , Fort Collins, CO, USA. 3.2 – Antígenos utilizados. PPD RT-23 (Statens Serum Institute, Copenhagen, Denmark), PPD RT49 (Statens Serum Institute); sonicado total de M. leprae proveniente de tecidos infectados de tatus, MLCwA (fração de proteínas extraídas da parede celular), MLSA (fração de proteínas extraídas do citosol), proteínas recombinantes específicas de M. leprae (ML0008, ML0126, ML1057 e ML2567) e peptídeos sintéticos derivados da seqüência genômica (Anexo 7.6) de M. leprae (p37-p94) sintetizados comercialmente foram doadas pelo Dr. Patrick J. Brennan do Departamento de Microbiologia da Universidade do Colorado, Fort, Collins, CO, USA; e Enteroxina B de Staphylococcus aureus (SEB; Sigma Chemical Co., St. Louis, MO, USA). 3.2.1-Seleção dos genes e peptídeos de M. leprae. As seqüências dos peptídeos (decapentâmeros ou nanômeros) foram selecionados usando o programa SYFPEITHI (http://www.bmi- heidelberg.com/syfpeithi). Este algoritmo seleciona seqüências peptídicas que apresentam alta afinidade de ligação à molécula de MHC classe II HLA-DR 39 ((DRB1*0101, DRB1*0301 [DR17], DRB1*0401 [DR4w4] e DRB1*1101) ou à molécula de MHC classe I (HLA-A*0201). Os antígenos candidatos também foram avaliados quanto à presença de regiões ricas em alfa-hélices (possíveis regiões ligantes ao TCR) utilizando algoritmos apropriados. As proteínas selecionadas foram produzidas em E. coli como proteínas recombinantes. Os peptídeos foram avaliados quanto a sua homologia com outras proteínas utilizando o programa BLAST (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST). Foram excluídos todos os peptídeos com uma homologia significante com genes expressos em outros microrganismos patogênicos. Alguns peptídeos (p79 e p93) foram utilizados como controles (apresentam homologia com proteínas de M. tuberculosis). Os peptídeos utilizados neste estudo foram sintetizados comercialmente (Mimotopes, San Diego, CA) e estão discriminados no anexo 7.6. 3.3 – Indivíduos estudados. • Para identificar os parâmetros de ativação de linfócitos T in vitro que se correlacionam com a reatividade cutânea ao PPD, um total de 10 indivíduos sadios (oito mulheres e dois homens) que trabalham no laboratório de Microbiologia do Departamento de Micobacterioses Celular e Molecular da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil foram analisados. Estes indivíduos realizaram o teste tuberculínico com 0,1 mL (5UT) de PPD RT-23 de acordo com o teste de Mantoux. A induração transversa no local da injeção foi medida 48 horas depois da aplicação e foi considerada positiva quando o diâmetro foi maior que 5 mm. Esses indivíduos foram submetidos à coleta de sangue após consentimento, por punção venosa. • Para analisar a resposta de IFN-γ frente às proteínas recombinantes e aos peptídeos sintéticos específicos de M. leprae, um total de 60 indivíduos foi estudado (Anexo 7.1). Dez pacientes da forma paucibacilar não tratados (PB) (dez pacientes BT), dez pacientes da 40 forma multibacilar não tratados (MB) (três LL e sete BL) e dez contatos domiciliares de pacientes da forma multibacilar (HC) foram recrutados do Ambulatório Souza Araújo, da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Dez pacientes virgens de tratamento com tuberculose e PPD+ foram recrutados no Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dez indivíduos sadios morando no Rio de Janeiro e sem histórico de exposição a M. leprae e/ou M. tuberculosis foram incluídos como grupo controle de área endêmica (EC) e dez indivíduos morando no Colorado, USA serviram como grupo controle de área não endêmica (NEC). • Para avaliar a indução de IFN-γ pelos peptídeos sintéticos do M. leprae e a mistura deles em cultura de sangue total utilizando o teste Quantiferon (Q-CMI), um total de 40 indivíduos foram avaliados (Anexo 7.3). Deste, vinte eram pacientes hansenianos (10 pacientes paucibacilares e 10 pacientes multibacilares) com até três meses de tratamento e 10 eram contatos de pacientes multibacilares todos recrutados do Hospital Dona Libânia, Fortaleza-CE. Dez Indivíduos sadios moradores de Fortaleza sem nenhum histórico de exposição ao M. leprae e/ou M. tuberculosis foram incluídos nesta etapa como grupo controle de área endêmica. 3.4- Culturas de células mononucleares de sangue periférico (PBMCs) estimuladas com os antígenos. O sangue foi retirado por pulsação venosa utilizando heparina na concentração de 20 U/mL (Liquemine, Roche químicos e farmacêuticos S.A, Rio de Janeiro) e as PBMCs foram isoladas usando o gradientes de densidade Lymphoprep (Pharmacia Biotech, Uppsala, Sweden) seguindo-se uma centrifugação de 1000 x g por 30 minutos. Após a separação, as PBMCs foram lavadas com PBS (Gibco, Grand Island, NY,USA) e ressuspensas em meio AIMV (Invitrogen, Grand Island, NY, USA) suplementado com 100 U/mL de penicilina, 100 µg/ml de estreptomicina e 2 mM de L-glutamina. PBMCs (2 x 105/poço) de cada indivíduo foram plaqueadas em placas de 96 poços de fundo 41 “U” (FALCON-BD Biosiences, Franklin Lakes, NJ, USA) e estimuladas com PPD (10 µg/mL), M. leprae (20 µg/mL), proteínas recombinantes [ML008, ML0126, ML1057 e ML2567 (10 µg/mL)] e peptídeos sintéticos [p37a p94 (10 µg/mL)] e Enterotoxina B de Staphylococcus aureus (SEB - 1 µg/mL - Sigma, EUA) e incubadas a 37º C em 5% de CO2. As culturas estimuladas com PPD foram mantidas por 1 e 5 dias. Após o período de incubação (cinco e cinco dias) os sobrenadantes foram retirados e estocados a -70º C até o momento de uso. 3.5 - Dosagem de IFN-γγ em sobrenadantes de culturas de PBMC. Os níveis de IFN-γ nos sobrenadantes das culturas estimuladas com PPD foram quantificados por ensaio imunoenzimático (ELISA) comercial, conforme as recomendações do fabricante (BD Biosciences). O kit é de captura de IFN-γ constituído por pares de anticorpos monoclonais específicos e, como padrão, IFN-γ recombinante. O limite de detecção de IFN-γ foi de 48 pg/mL. Os níveis de IFN-γ nos sobrenadantes das culturas estimuladas com as proteínas recombinantes e peptídeos sintéticos foram quantificados por ensaio imunoenzimático utilizando o kit DuoSet conforme as recomendações dadas pelo fabricante (R&D Systems, Minneapolis, MN). O limite de detecção de IFNγ neste ensaio foi de 125 pg/mL. 3.6 – Avaliação por citometria de fluxo da expressão de CD69 e IFN-γγ por linfócitos T CD4+, CD4+/CLA+ e linfócitos totais frente ao PPD em culturas de sangue total. Um volume de 0,5 mL de sangue total dos indivíduos estudados foi colocado em tubos Falcon de polipropileno (BD Biosciences, San Jose, Califórnia, USA) e estimulado com PPD RT49 (10 µg/mL) e SEB (1 µg/mL) na presença de anticorpos monoclonais co-estimuladores específicos para CD28 e CD49d. As culturas foram incubadas a 37º C com 5% de CO2 por duas horas. Em seguida, foi adicionado 10 µg/mL de Brefeldina A (Sigma) e 42 incubado continuada por mais quatro horas. A seguir, os eritrócitos foram lisados com solução de lise do próprio kit e as células foram permeabilizadas com saponina e marcadas com 20 µL da combinação de anti-IFNγ FITC, antiCD69 PE, CD4 PerCP-Cy5.5 (FastImmune CD4 Intracellular Cytokine Detection Kit; BD Biosciences) e 10 µL de anti-CLA APC (BD Biosciences). O controle negativo (células sem estímulo) e as células que foram estimuladas com PPD ou SEB foram marcadas com anticorpos de especificidade irrelevante pareados por isotipos específicos para IFN-γ, CD69, CD4 e CLA. As células foram, então, homogeneizadas e incubadas à temperatura ambiente por 30 minutos ao abrigo da luz. Após o período de incubação, as amostras foram lavadas por centrifugação a 500 x g por 10 minutos e fixadas com 200 µL de paraformaldeido 1% em PBS e analisadas em citômetro de fluxo FACSCalibur (BD Biosciences) nos canais FL1 (IFN-γ); FL2 (CD69); FL3 (CD4) e FL4 (CLA), na Unidade de Citometria de Fluxo (UCF) da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. As freqüências de linfócitos T positivos para um dado estímulo (F) foram calculadas por subtração dos valores obtidos nos pontos corados com anticorpos de especificidades desejadas dos pontos corados com anticorpos de mesmo isotipo (Iso) (Esp), ou seja, F% = Esp% - Iso%. 3.6.1 - Análise das culturas de sangue total por Citometria de Fluxo. Os resultados da citometria de quatro cores utilizando o Citômetro de fluxo FACSCalibur foram adquiridos e analisados peloo software BD CellQuest Pró (BD Biosciences). Um total de 40.000 linfócitos T CD4+ foi contado. Delimitou-se uma região de linfócitos (R1) no gráfico bi-dimensional de pontos utilizando os parâmetros morfométricos FSC (“Foward Scatter”) em linha reta e SSC (“Side Scatter”) revelando o tamanho e a granulosidade, respectivamente, em amostra de sangue total. A partir desta região criou-se uma R2, constituída apenas de células CD4+ (FL3); Todas as amostras da cultura foram analisadas dentro de uma região lógica R1*R2 (linfócitos T CD4+) para expressão de CD69 (PE-FL2) e IFN-γ (FITC–FL1). Para análise dos linfócitos CD4- utilizou- 43 se somente a intensidade média de fluorescência com a exclusão dos linfócitos T CD4+ (linfócitos não-CD4+). As populações celulares (monócitos e polimorfonucleares) foram separadas por parâmetros (SSC x FSC) e foram delimitadas em regiões nas mesmas amostras. A região negativa para cada população foi definida com o isotipo controle. Foram utilizadas os “beads” CaliBRITE para calibração do citômetro (BD Biosciences). 3.7 – Análise da freqüência de linfócitos T CD4+ e CD8+ produtoras de IFN-γγ em culturas de PBMCs estimuladas com peptídeos sintéticos. Um total de 5 x 105 PBMCs por poço em meio AIMV foram distribuídas em placas de 96 poços de fundo em “U” e estimuladas com os peptídeos (p51, p52, p59, p61, p65 e p69) ou com o pool desses peptídeos, na presença de anticorpos monoclonais específicos para CD28 e CD49d (co-estímulo). As culturas foram mantidas a 37º C em 5% de CO2 por 1 hora (para CD8) ou 2 horas (para CD4) e 10 µg/mL de Brefeldina A (Sigma) foram adicionados. Após mais cinco horas de incubação (para CD8) ou 4 horas (para CD4) e, uma incubação total de 6 horas, as células foram permeabilizadas e lavadas com tampão (BSA 0,5% e NaN3 0,1% em PBS). Em seguida, foram marcadas com 2 µL da combinação de anti-IFNγ FITC, anti-CD69 PE e anti-CD4 PerCp-Cy5.5 (CD4 Intracellular Cytokine Detection Kit; BD Biosciences/Pharmigen, San Jose, CA) ou 2 µL da combinação de anti-IFNγ FITC, anti-CD69 PE , anti-CD8 PerCp-Cy5.5 e anti-CD3 APC (CD8 Intracellular Cytokine Detection Kit; Biosciences/Pharmigen), fixadas com paraformoldeído 1% e analisadas em citômetro de fluxo FACSCalibur (BD Biosciences). As frequências de linfócitos T positivos para um dado estímulo (F) foram calculadas da seguinte forma: F% = Esp% - Iso% (ver seção 3.6). 3.7.1 – Análise por Citômetria de fluxo das culturas de PBMCs. A aquisição citométrica de quatro cores e análise foram realizadas utilizando o Citômetro de fluxo FACSCalibur usando o software BD CellQuest 44 (BD Biosciences). Um total de 40.000 linfócitos T CD4+ e 10.000 linfócitos T CD8+ foram selecionados como mostram as figuras 7 e 8. Amostras da cultura com ou sem os estímulos dentro de R1*R2, em janela FL1 x FL2. Figura 7. Protocolo experimental usado para avaliação do comportamento e da participação dos linfócitos T CD4 + em resposta aos peptídeos. Delimitou-se uma região de linfócitos (R1) no gráfico bi-dimensional de pontos mostrando níveis de espalhamento luminoso em linha reta (FSC) e em ângulo reto (SSC) em amostra de PBMCs; Desta região criou-se uma R2, constituída apenas de células CD4+ (FL3); Todas as amostras da cultura foram analisadas dentro de uma região lógica R1*R2 (linfócitos T CD4+) para expressão de CD69 (PE-FL2) e IFN-γ (FITC–FL1) (Figura 7). 45 Amostras da cultura com ou sem os estímulos dentro de R1*R2, em janela FL1 x FL2. Figura 8. Protocolo experimental usado para avaliação do comportamento e da participação dos linfócitos T CD8+ em resposta aos peptídeos. Criou-se a mesma região 1 (R1) (linfócitos totais) e a partir desta criouse a região 2 (R2) avaliando as células CD3+ (FL3) e CD8+ (FL4). As amostras foram analisadas dentro da região lógica R1*R2 para expressão de CD69 (PE-FL2) e IFN-γ (FITC–FL1). A resposta aos peptídeos foi verificada através da dupla-positividade (FL1+/FL2+) das células na região 3 (R3). O percentual de células em R3 correspondeu a positividade ou negatividade da resposta ao antígeno (Figura 8). 3.8-Cultivo in vitro de sangue total estimuladas com peptídeos sintéticos. Após a retirada do sangue, 1 mL de sangue total foi distribuído em cada poço de placas de 24 poços e estimulado com MLSA (10 µg/mL), MLCwA (10 µg/mL), peptídeos sintéticos (10 µg/mL), controle positivo (PHA 1%) e PPD (10 µg/mL). Algumas culturas foram estimuladas com diferentes combinações de peptídeos, onde cada peptídeo foi adicionado na concentração de 10 µg/mL e as culturas incubads a 37º C em 5% de CO2 por 24 horas. Após o período de incubação, o plasma das culturas foi coletado e os níveis de IFN-γ foram quantificados pelo teste Quantiferon-CMI (Cellestis) conforme as especificações do fabricante. 46 3.9- Análises estatísticas utilizadas: 3.9.1- Regressão Múltipla para análise de correlação entre a freqüência de linfócitos T PPD específicos em sangue total e, níveis de IFN-γ em culturas de PBMCs estimuladas com PPD e reatividade ao teste tuberculinico. Foi usado um modelo de regressão múltipla (programa estatístico versão 6 2003, Statsoft inc., Tulsa, OK, USA). Nesta análise os fatores independentes foram a freqüência relativa de linfócitos T CD4+CD69+, CD4+CD69+IFN-γ+, CD4+CD69+CLA+ e CD4+CD69+CLA+ IFN-γ+, e a variável dependente foi a medida da induração. Os valores obtidos por ELISA para IFN-γ proveniente de sobrenadantes de cultura de PBMC estimuladas com PPD por um e cinco dias foram também usados como variáveis independentes. O método para estimativa dos parâmetros foi o método dos quadrados mínimos. Análises de resíduos e de colinearidades também foram realizadas. 3.9.2-Análise de variância (ANOVA). Os níveis de IFN-γ induzidos pelos diferentes antígenos de M. leprae (proteínas recombinantes e peptídeos sintéticos) de indivíduos estudados (PB, MB, HC, EC e NEC) foram comparados através de análise de variância (ANOVA) (Statistica Version 6.0, Statsoft, Inc. 2004). Nesta análise, o cut-off foi definido como sendo duas vezes o limite de detecção do ELISA (=250 pg/mL). A análise foi seguida pelo teste Tukey usado como um teste Post Hoc para comparar dois grupos. A diferença entre os grupos foi considerada significativa quando p foi menor ou igual a 0,05. 47 IV – RESULTADOS 4.1 – Identificação de parâmetros de ativação de linfócitos T in vitro que se correlacionam com a reatividade cutânea ao PPD. 4.1.1 – Análise da freqüência de Linfócitos T CD4+ periféricos PPD específicos produtores de IFN-γ em indivíduos PPD positivos e PPD negativos no teste tuberculínico. Como o teste cutâneo é um método que mede resposta imune mediada por células, numa primeira etapa do trabalho analisamos parâmetros de ativação in vitro de linfócitos T que se correlacionassem fortemente com a reatividade cutânea ao PPD (teste tuberculínico). Para tal, inicialmente avaliamos por citometria de fluxo e ensaio imunoenzimático a indução de CD69 (marcador de ativação) e a síntese de IFN-γ (importante na imunidade celular) em células de sangue total estimuladas com PPD em indivíduos sadios PPD+ e PPD-. Sangue periférico de dez indivíduos sadios foi coletado e submetido à análise da freqüência de leucócitos específicos ao PPD e realizaram o teste tuberculínico com PPD RT-23 de acordo com a técnica Mantoux. O diâmetro da induração no local da injeção foi medido 48 horas após a aplicação e foi considerado positivo quando o valor foi > 5 mm. Observamos na tabela 1 o valor da induração de cada indivíduo testado. Interessantemente, um indivíduo PPD negativo (LM) apresentou um grande eritema (18 mm) com completa ausência de induração. Indivíduos AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Induração (mm) 13 32 (a) 16 (a) 19 19 (a) 0 (b) 0 0 0 0 Tabela 1 – Reatividade de 10 indivíduos sadios ao teste tuberculínico. (a) Reação com necrose, (b) Ausência de induração com forte eritema. 48 Amostras de sangue total desses indivíduos foram cultivados com SEB, um estímulo policlonal, ou com PPD RT-49 na presença dos anticorpos coestimuladores anti-CD28 e anti-CD49d por um período de 2 horas. Brefeldina A foi adicionada às culturas para inibir a secreção de IFN-γ e as culturas foram incubadas por mais 4 horas. Após este período foi realizado todo processo de lise dos eritrócitos, permeabilização e os leucócitos foram marcados com anticorpos monoclonais ligados a fluorocromos para a detecção de células expressando CD4, CD69, CLA e IFNγ intracelular. A freqüência de linfócitos T CD4+ totais e CD4+/CLA+ expressando CD69 e produzindo ou não IFN-γ foi analisada por citometria de fluxo de quatro cores. Os gráficos bi-dimensionais de pontos da figura 9 foram obtidos a partir de um indivíduo PPD+, onde podemos observar claramente uma alta freqüência de linfócitos T CD4+ ativados (expressando CD69) e produtores de IFN-γ nas culturas estimuladas com SEB ou PPD, quando comparamos com a cultura sem estímulo. (A) 0,02% 0,01% 0,01% 0,76% IFN -γ FITC Controle de isotipo- IFNγ Sem estímulo 0,02% PPD 0,82% SEB Controle de isotipo-CD69 CD69 -PE Figura 9 - Freqüência de linfócitos T CD4+/CD69+ produtores de IFN-γγ frente ao SEB ou PPD em um indivíduo PPD+. Amostras de sangue total foram estimuladas com SEB (1µg/mL) ou PPD (10µg/mL) e depois de 6 horas de cultura as células foram marcadas com anti-CD4 PerCP-Cy 5.5, -CD69 PE, -IFN-γ FITC. Delimitou-se uma região de linfócitos (R1) em amostra de sangue total. A partir desta região criou-se uma R2, constituída apenas de células CD4+ (40.000); Todas as amostras da cultura foram analisadas dentro de uma região lógica R1*R2 (linfócitos T CD4+) para expressão de CD69 (PE-FL2) e IFN-γ (FITC–FL1). Os gráficos são representativos de um indivíduo PPD+ (CD). 49 A seguir passamos, então, a comparar a freqüência de linfócitos T CD4+ ativados (CD4+/CD69+) e linfócitos T CD4+ ativados produzindo IFNγ (CD4+/CD69+/IFN-γ+) em culturas de indivíduos PPD+ e PPD- estimuladas com SEB. Como podemos observar na figura 10, nenhuma diferença na freqüência de células CD4+ ativadas totais e naquelas produtoras de IFN-γ foi detectada entre estes indivíduos quando o estímulo utilizado foi o SEB. Linfócitos T CD4+ Linfócitos T CD4+/CD69+ 1,2 8 PPD - PPD+ PPD - PPD+ 6 IFN--γ + (%) CD69+ (%) 1,0 4 0,8 0,6 0,4 2 0,2 0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU 0,0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Figura 10 - Freqüência de linfócitos T CD4+ expressando CD69 e CD4+/CD69+ produtores de IFN-γγ frente ao SEB em um indivíduo PPD+ e PPD-. Amostras de sangue total foram estimuladas com SEB (1µg/mL) e depois de 6 horas de cultura as células foram marcadas com anti-CD4 PerCP-Cy 5.5, -CD69 PE, -IFN-γ FITC e a análise realizada conforme descrita em materiais e métodos. Culturas sem estímulo ( ) e culturas estimuladas com SEB ( ). As iniciais no eixo x representam os indivíduos estudados. Contudo, quando analisamos a resposta ao PPD, diferenças importantes foram observadas entre indivíduos reatores ou não ao teste tuberculínico. A diferença entre estes dois grupos de indivíduos foi maior quando analisamos a freqüência de linfócitos T CD4+ ativados. Freqüências detectáveis de linfócitos T CD4+ PPD específicos expressando CD69+ e produzindo ou não IFN-γ só foram observadas em amostras de sangue total de indivíduos reatores ao PPD (figura 11). 50 Linfócitos T CD4+ Linfócitos T CD4+/CD69+ 1,0 6 PPD+ PPD- PPD+ PPD- 0,8 4 IFN--γ (%) CD69 (%) 5 3 2 0,6 0,4 0,2 1 0 0,0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Figura 11 - Freqüência de linfócitos T CD4+ ativados (CD69+) e ativados produtores de INF-γγ (CD4+/CD69+/IFN-γγ) em culturas de sangue total de indivíduos PPD+ e PPD – estimulada com PPD (10µ µg/mL). Após de 6 horas de cultura todo procedimento de lise e permeabilização foi realizado e a seguir, as células foram marcadas com anticorpos monoclonais específicos para moléculas de superfície (CD69, CD4) e intracelulares (IFN-γ). A análise foi realizada como descrita na seção de Material e Métodos. ( ) Culturas sem estímulo e ( ) culturas estimuladas com PPD. As iniciais no eixo x representam os indivíduos estudados. Sabendo que CLA é uma molécula normalmente expressa em 5% a 15% dos linfócitos T CD4 e CD8 circulantes e importantes no processo de migração para a pele, passamos a investigar se a correlação existente entre o teste in vivo (teste tuberculínico) e os parâmetros de ativação in vitro (CD69 e IFN-γ) na população de linfócitos TCD4+ iria permanecer ou ser enriquecida quando analisássemos a população de linfócitos T CD4+/CLA+. Como esperado, a freqüência de linfócitos T CD4+ totais circulantes expressando CLA foi similar entre os indivíduos PPD+ e PPD- variando entre 3.5% a 5.5%, e esta freqüência não foi alterada quando as culturas foram estimuladas com PPD (Figura 12). 51 Linfócitos T CD4+ 6 PPD+ PPD- CLA+ (%) 5 4 3 2 1 0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Figura 12 - Freqüência de linfócitos T CD4+/CLA+ em culturas de sangue total de indivíduos PPD+ e PPD-. As amostras foram estimuladas com PPD (10µg/mL) e depois de 6 horas de cultura as células foram marcadas com anticorpos monoclonais de especificidades desejadas para moléculas de superfície (CD4, CLA) A análise foi realizada como descrita na seção de Material e Métodos. As iniciais no eixo x representam os indivíduos estudados ( ) Culturas sem estímulo e ( ) culturas estimuladas com PPD. A figura 13 mostra que, como esperado, alguns linfócitos T CD4+ específicos para o PPD expressam CLA. Contudo, nenhum enriquecimento na expressão de CD69 e na produção de IFN-γ foi observado quando comparamos à população de linfócitos T CD4+/CLA+ com a população de linfócitos T CD4+/CLA- (Figura 13). A resposta dos linfócitos T CD4+ ao PPD medida através da expressão de CD69 e produção de IFN-γ foi observada tanto nas subpopulações de CLA+ quanto nas de CLA -. 52 Linfócitos T CD4+/CLA- Linfócitos T CD4+/CLA+ 6 6 CD69+ (%) 5 PPD + 5 PPD- 4 4 3 3 2 2 1 1 PPD+ 0 0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Linfócitos T CD4+/CLA-/CD69+ Linfócitos T CD4+/CLA+/CD69+ 1,0 IFN-γ+ (%) 0,8 PPD- 1,0 PPD + PPD- 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 0,2 0,2 0,0 PPD + PPD- 0,0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Figura 13 - Freqüência de linfócitos T CD4+/CLA+ e CD4+/CLA- ativados (CD69+) e produtores de IFN-γγ em culturas de sangue total de indivíduos PPD+ e PPDestimuladas com PPD. Amostras de sangue total foram estimuladas com PPD (10µg/mL) e após 6 horas de cultura foi realizado o processo de lise, permeabilização e as células foram marcadas com anti-CD4 PerCP-Cy 5.5, anti-CD4 PerCP-Cy 5.5, - CD69 PE, - IFNγ FITC, CLA APC. As análises foram realizadas em regiões de linfócitos T CD4+/CLA+ e em linfócitos T CD4+/CLA-. As iniciais no eixo x representam os indivíduos estudados. ( ) Culturas sem estímulo e ( ) culturas estimuladas com PPD. Também avaliamos se as células produtoras de IFN-γ em resposta ao PPD se restringiam aos linfócitos T CD4. A população total de linfócitos, linfócitos CD4, monócitos e neutrófilos presentes nas culturas de sangue total foram analisadas e produtoras de IFN-γ (CD69+/IFN-γ) (Figura 14). Como esperado, a expressão de CD69 foi observada em linfócitos T CD4-, assim como em monócitos e neutrófilos, sendo sua expressão induzida na presença de PPD. Isto foi observado tanto em indivíduos PPD+ como em PPD-. Já IFN-γ foi somente detectado na população de linfócitos totais estimulados com PPD oriunda dos indivíduos PPD+. Por outro lado, a freqüência de células 53 produtoras de IFN-γ entre os linfócitos CD4- foi irrelevante, confirmando a população de linfócitos T CD4+ PPD específicos como a principal produtora desta citocina. Linfócitos Totais 5 4 CD69+(%) Linfócitos CD46 6 PPD + PPD - 5 3 3 2 2 1 1 0 PPD+ 0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU AB CD EF GH Monócitos 6 Neutrófilos PPD+ PPD - 4 5 4 3 3 2 2 1 1 0 PPD + AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Linfócitos CD4- Linfócitos Totais 1,0 1,0 0,8 IFN -γγ + (%) PPD - 0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU PPD + PPD - 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 0,2 0,2 0,0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU 0,8 IJ LM NO PQ RS TU 6 5 1,0 PPD - 4 0,0 PPD + PPD - AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Neutrófilos Monócitos 1,0 PPD + PPD - 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 0,2 0,2 PPD + PPD - 0,0 0,0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Figura 14 - Freqüência de linfócitos totais, linfócitos T CD4-, monócitos e neutrófilos expressando CD69 e produtores de IFN-γγ em sangue total de indivíduos reatores e não reatores ao teste tuberculínico. Amostras de sangue total foram estimuladas com PPD (10µg/mL) e depois de 6 horas de cultura as células foram marcadas com anti-CD4 PerCP-Cy 5.5, anti-CD4 PerCP-Cy 5.5, - CD69 PE, - IFN-γ FITC. A análise foi realizada conforme descrito na seção de Material e Métodos. ( ) Culturas sem estímulo e ( ) culturas estimuladas com PPD. As iniciais no eixo x representam os indivíduos estudados. 54 4.1.2 – Quantificação de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de PBMCs estimuladas com PPD de indivíduos PPD positivos e PPD negativos. A produção de IFN-γ isolados foi quantificada por ELISA em sobrenadantes de culturas estimuladas com PPD depois de um e cinco dias de incubação. As PBMCs isoladas tanto de indivíduos PPD positivos quanto negativos produziram IFN-γ em reposta ao PPD, mas os níveis foram significantemente maiores nos indivíduos com o teste tuberculínico positivo (Figura 15). A diferença nos níveis de IFN-γ entre ambos os grupos (PPD+/PPD-) foi maior nos sobrenadantes das culturas de cinco dias, onde todos os indivíduos PPD+ mostraram um aumento nos níveis de IFN-γ em relação aos níveis observados com um dia de estímulo. Já nas culturas dos indivíduos PPD-, os níveis de IFN-γ em cinco dias não aumentaram ou mesmo diminuíram. Interessantemente, um indivíduo PPD- (LM), com um grande eritema no teste cutâneo (Tabela 1), produziu níveis de IFN-γ comparáveis àqueles observados nas culturas de indivíduos PPD+ com um dia de incubação. Estes níveis, contudo, não aumentaram com o passar do tempo (cinco dias). 5 dias 1 dia 5000 Níveis de IFN-γγ (pg/mL) 3500 3000 PPD + PPD - PPD + PPD - 3000 2500 2500 2000 1500 3500 2000 * 1500 1000 1000 500 500 * 0 0 AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU AB CD EF GH IJ LM NO PQ RS TU Figura 15 – Quantificação dos níveis de IFN-γγ (pg/mL) nas culturas de PBMC de indivíduos PPD + e PPD- estimuladas por 1 e 5 dias com PPD (10µ µg/mL) por ELISA. Os dados dos gráficos são apresentados em ∆pg/mL ( nívies de IFN-γ das culturas estimuladas – os níveis de IFN-γ das culturas não estimuladas). * Indica o indivíduo PPD- com um grande eritema no teste cutâneo. As iniciais no eixo x representam os indivíduos estudados. 55 4.1.3 – Análise de correlação entre a freqüência de linfócitos T PPD específicos em sangue total e níveis de IFN-γ em culturas de PBMCs estimuladas com PPD e reatividade ao teste tuberculínico. Para verificar a existência de correlação entre os parâmetros avaliados in vitro em resposta ao PPD e a reatividade ao teste tuberculínico in vivo, foi aplicado o modelo de regressão múltipla. Os valores de p para as variáveis independentes CD4+/CD69+/IFN-γ+ e IFN-γ de cinco dias foram 0,042 e 0,07, respectivamente. A tabela 2 e a figura 16 mostram os resultados obtidos que indicam correlação entre a freqüência de linfócitos T CD4+/CD69+/IFN-γ+ e o grau de reatividade ao teste tuberculínico. Sugerem também a existência de associação entre os níveis de IFN-γ nos sobrenadantes das culturas de PBMCs estimuladas com PPD por cinco dias e o teste cutâneo, embora não seja estatisticamente significativo. O modelo tem um R2 = 0.8212, mostrando que este é um modelo com prognóstico razoável. Variáveis B St Err of B p-nível CD4+/CD69+/IFN-γ+ 21.35958 8.638775 0.042675 IFN-γ (5 dias) 0.00308 0.001452 0.071604 R²= 0.82119713 F(2,7)=16.075 p<0.00242 Tabela 2: Coeficientes de regressão múltipla e significância estatística. O diâmetro da induração no teste tuberculínico PPD foi considerado a variável dependente. 56 Figure 5 (A) Predicted vs. Observed Values Tuberculin Skin Test (TST) 35 30 Observed TST Values 25 20 15 10 5 0 -5 -5 0 5 10 15 20 25 Predicted TST Values 30 35 95% confidence (B) Partial Correlations PPD CD4+CD69+ CD4+CLA+CD69+ CD4+CLA+ CD69+IFN-γγ+ CD4+CD69+IFN-γγ + Figura 16 - Representa um modelo de regressão múltipla (Statistica v.6 2003, Statsoft inc., Tulsa, OK, USA). 57 4.2 - Avaliação da produção de IFN-γγ em resposta a antígenos específicos de M. leprae (peptídeos sintéticos e proteínas recombinantes) em células mononucleares de indivíduos com diferentes graus de exposição a M. leprae. Após a conclusão do seqüenciamento do genoma de M. leprae foi possível obter proteínas recombinantes e peptídeos sintéticos derivados da seqüência de genes específicos da bactéria. No presente trabalho, avaliamos o potencial destes novos antígenos na detecção específica de indivíduos infectados por M. leprae no Rio de Janeiro, uma área endêmica para a hanseníase e tuberculose. As seqüências dos peptídeos sintéticos utilizados nesta etapa do trabalho estão listadas no anexo 7.6. 4.2.1 – Peptídeos sintéticos M. leprae específicos induziram a produção de IFN-γ em culturas de PBMCs isoladas de pacientes com hanseníase e seus contatos. PBMCs de pacientes (PB e MB), contatos de pacientes multibacilares (HC), paciente com tuberculose (TB), controle de área endêmica (EC) e controle de área não endêmica (ENC) foram cultivadas com as proteínas recombinantes, peptídeos sintéticos e antígenos controles (sonicado total de M. leprae e SEB) e a produção de IFN-γ foi medida após cinco dias de cultura por ensaio imunoenzimático. Os resultados da resposta de IFN-γ para M. leprae e os estímulos controles são mostrados na figura 17. 58 SEB Níveis de IFN-γγ (pg/mL) Sem estímulo 7000 5000 4500 6000 4000 3500 3000 5000 4000 2500 2000 3000 1500 1000 500 0 -500 2000 1000 0 PB MB HC EC TB PB NEC MB HC EC TB NEC Níveis de IFN-γγ (pg/mL) M. leprae 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 -500 HC PB TB MB EC NEC Figura 17 - Nivéis de IFN-γ nas culturas de PBMCs de pacientes com hanseníase da forma paucibacilar (PB) e multibacilar (MB), contatos de pacientes da forma multibacilar (HC), pacientes com tuberculose (TB), controles de área endêmica (EC) e controles de áreas nãoendêmica (NEC) frente ao superantígeno SEB e M. leprae total. As culturas não estimuladas representam os níveis de IFN-γ na ausência de estímulo antigênico. A linha pontilhada representa o cut-off de 125 pg/ml de IFN-γ. Nas figuras 18, 19, 20, 21, 22 e 23 observamos a resposta de IFN-γ induzida pelo conjunto de 58 peptídeos sintéticos e pelas quatro proteínas recombinantes (ML 008, ML 0126, ML 1057 e ML2567). 59 ML0008 IFN-γγ (pg/mL) 6000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 PB 2500 2250 MB HC P37 TB NEC P38 2500 2250 2000 2000 1750 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 1500 1250 1000 750 500 250 0 PB 2500 EC MB HC EC TB -250 NEC PB P39 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB MB HC EC 2500 2250 TB HC EC TB NEC P40 PB NEC MB MB HC EC TB NEC P41 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB MB HC EC TB NEC Figura 18 - Níveis de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de PBMC em resposta à proteína ML0008 e peptídeos sintéticos derivados da sua seqüência. PB, Pacientes Paucibacilares (n=10); MB, Pacientes Multibacilares (10); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=10); EC, Controles de área endêmica (n=10); TB, Pacientes com tuberculose (n=10), NEC, Controles de área não-endêmica (n=10). A linha pontilhada corresponde ao limite de detecção do ELISA (125 pg/ml). 60 ML0126 IFN-γγ (pg/mL) 6000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 IFN-γ (pg/mL) PB 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 P42 PB 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 MB HC 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 EC TB NEC P45 PB MB HC MB EC TB NEC HC TB NEC 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 P43 PB 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 EC PB PB MB HC EC TB NEC 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 P80 MB HC EC TB NEC P44 MB HC EC TB NEC P81 PB MB HC EC TB NEC Figura 19 - Níveis de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de PBMCs em resposta a proteína ML0126 e peptídeos sintéticos derivados da sua seqüência. PB, Pacientes Paucibacilares (n=10); MB, Pacientes Multibacilares (10); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=10); EC, Controles de área endêmica (n=10); TB, Pacientes com tuberculose (n=10), NEC, Controles de área não-endêmica (n=10). A linha pontilhada corresponde ao limite de detecção do ELISA (125 pg/ml). 61 ML1057 IFN-γγ (pg/mL) 6000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 PB HC MB NEC P50 2250 2250 2000 2000 1750 1750 1500 1500 1250 1250 1000 1000 IFN-γγ (pg/mL) TB 2500 P49 2500 EC 750 750 500 500 250 250 0 0 -250 -250 PB MB HC EC TB NEC PB P51 MB HC EC TB NEC P52 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 PB MB HC EC TB NEC 250 0 -250 PB MB HC EC TB NEC Figura 20 - Níveis de IFN-γ em sobrenadantes de culturas de PBMCs em resposta a proteína ML1057 e peptídeos sintéticos derivados da sua seqüência. PB, Pacientes Paucibacilares (n=10); MB, Pacientes Multibacilares (10); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=10); EC, Controles de área endêmica (n=10); TB, Pacientes com tuberculose (n=10), NEC, Controles de área não-endêmica (n=10). A linha pontilhada corresponde ao limite de detecção do ELISA (125 pg/ml). 62 ML2567 IFN-γγ (pg/mL) 6000 5500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 PB IFN-γγ (pg/mL) 2500 MB HC EC TB P53 NEC 2500 2250 2250 2000 2000 1750 1750 1500 1500 1250 1250 1000 1000 750 750 500 500 250 250 0 0 -250 -250 PB MB HC EC 2500 TB P54 PB NEC MB HC EC TB NEC P55 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB MB HC EC TB NEC Figura 21 - Níveis de IFN-γ em resposta a proteína ML2567 e peptídeos sintéticos derivados da sua seqüência. PB, Pacientes Paucibacilares (n=10); MB, Pacientes Multibacilares (10); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=10); EC, Controles de área endêmica (n=10); TB, Pacientes com tuberculose (n=10), NEC, Controles de área não-endêmica (n=10). A linha pontilhada corresponde ao limite de detecção do ELISA (125 pg/ml). 63 Peptídeos sintéticos específicos 2500 2000 1750 1750 1500 1500 1250 1250 1000 1000 750 750 500 500 250 250 0 0 -250 -250 MB HC EC TB P56 2500 IFN-γ (pg/mL) 2250 2000 PB PB NEC 2250 2000 2000 1750 1750 1500 1500 1250 750 1250 1000 750 500 500 250 250 0 -250 1000 0 -250 MB HC EC TB NEC P63 2500 PB 2250 2000 2000 1750 1750 1500 1500 1250 1250 1000 1000 750 750 500 500 250 0 -250 250 0 -250 MB HC EC TB NEC HC EC TB NEC MB HC EC TB NEC EC TB NEC P64 2500 2250 PB MB P61 2500 2250 PB P48 2500 P47 2250 PB MB HC Fig. 22 (continua) 64 P65 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB MB HC 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 EC TB IFN-γ (pg/mL) MB HC EC TB HC EC TB NEC MB HC EC TB NEC P70 P69 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB NEC MB P68 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB PB NEC P67 P66 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB MB HC EC TB HC HC EC TB NEC EC TB NEC 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 MB MB P73 P71 PB PB NEC EC TB NEC PB MB HC Fig. 22 (continua) 65 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 P74 500 250 0 -250 500 250 0 -250 PB MB HC EC TB NEC PB MB HC EC TB NEC P77 P76 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 2500 2250 2000 170 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 500 250 0 -250 PB IFN-γ (pg/mL) P75 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 MB HC EC TB PB NEC P78 2000 1750 1500 1500 HC EC TB NEC HC EC TB NEC EC TB NEC P82 2500 2500 2250 2000 MB 2250 1750 1250 1250 1000 750 1000 750 500 500 250 0 -250 250 0 -250 PB 2500 MB HC EC TB PB NEC P85 P83 2250 MB 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 500 250 0 -250 250 0 -250 PB MB HC EC TB NEC PB MB HC Fig. 22 (continua) 66 IFN-γ (pg/mL) P86 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB MB HC P88 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 EC TB PB NEC MB P91 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 2500 2250 2000 1750 1500 500 250 0 -250 500 HC EC TB NEC P92 1250 1000 750 PB MB HC EC TB NEC 250 0 -250 PB MB HC EC TB NEC Figura 22 - Níveis de IFN-γ em resposta a peptídeos reconhecidos seletivamente por indivíduos infectados por M. leprae. PB, Pacientes Paucibacilares (n=10); MB, Pacientes Multibacilares (10); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=10); EC, Controles de área endêmica (n=10); TB, Pacientes com tuberculose (n=10), NEC, Controles de área não-endêmica (n=10). A linha pontilhada corresponde ao limite de detecção do ELISA (125 pg/ml). 67 Peptídeos sintéticos com reatividade cruzada 1250 1000 750 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 500 250 0 -250 2500 2250 P46 IFN-γ (pg/mL) 2000 1750 1500 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 PB MB HC EC TB 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 500 250 0 -250 PB 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 MB HC EC TB NEC P60 MB HC EC TB NEC MB HC EC TB NEC HC EC TB NEC P59 PB 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 500 250 0 -250 PB PB NEC P58 P57 MB P62 PB MB HC EC TB NEC Fig. 23 (continua) 68 P72 P79 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 PB MB HC EC TB 500 250 0 -250 NEC PB MB P84 2500 2250 2000 1750 1500 1250 IFN-γ (pg/mL) 1000 PB MB HC EC TB PB NEC 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 500 250 0 -250 MB HC MB EC TB NEC PB MB NEC HC EC TB NEC HC EC TB NEC TB NEC P94 P93 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 TB P90 P89 PB EC P87 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 750 500 250 0 -250 HC 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 250 0 -250 PB MB HC EC TB NEC PB MB HC EC Figura 23 - Níveis de IFN-γ em resposta a peptídeos sintéticos que mostraram reatividade cruzada, induzindo IFN-γ em indivíduos sadios de área endêmica e/ou com tuberculose. . PB, Pacientes Paucibacilares (n=10); MB, Pacientes Multibacilares (10); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=10); EC, Controles de área endêmica (n=10); TB, Pacientes com tuberculose (n=10), NEC, Controles de área não-endêmica (n=10). A linha pontilhada corresponde ao limite de detecção do ELISA (125 pg/ml). 69 Como podemos observar, a resposta de IFN-γ foi uniformemente negativa à todas as proteínas recombinantes e aos peptídeos sintéticos quando avaliamos o grupo controle de área não-endêmica (NEC). Na figura 17 observamos que os níveis de IFN-γ nas culturas não estimuladas (somente meio) de todos os grupos estudados apresentaram valores abaixo ou mesmo fora do limite de detecção. As células de todos os indivíduos produziram altos níveis de IFN-γ estimuladas com SEB. Observamos nas figuras 18, 19, 20 e 21 que a resposta das quatro proteínas recombinantes foi geralmente maior quando comparada com a dos peptídeos sintéticos, e que também menos específica, isto é, mais indivíduos dos grupos EC e TB responderam (responderam a ML0008, 6 EC e 2 TB; responderam a ML0126, 9 EC e 2 TB; responderam a ML1057, 10 EC e 1 TB e responderam a ML2567, 7 EC e nenhum TB). A resposta das PBMCs isoladas dos pacientes com hanseníase PB e MB e dos contatos dos pacientes multibacilares frente aos peptídeos mostrou uma notável especificidade, estimulando a produção de IFN-γ em 60% - 100% dos 10 pacientes BT (grupo PB) e em 50% - 100% dos 10 contatos (grupo HC). Entre um e quatro dos dez pacientes multibacilares (MB) responderam a certos peptídeos. Trinta e cinco dos peptídeos não causaram nenhuma resposta nos grupos TB ou EC, mas mostraram boa reatividade nos grupos PB e HC (peptídeos indicados com um asterisco na tabela do anexo 7.6). Já vinte e três dos peptídeos mostraram reatividade cruzada com os grupos TB e EC. Alguns desses peptídeos apresentavam homologia com M. tuberculosis, como p70 (gene fbpD Rv3803c, 80% de identidade), p93 (gene mce1C RV0171, 73% de identidade) e p72 (gene proS Rv2845c, 27% de identidade). Já outros peptídeos dentre os 23 que induziram resposta nos grupos EC ou TB apresentaram baixa ou nenhuma homologia com M. tuberculosis, como no caso dos peptídeos p57 e p60. A reação cruzada observada pode ser devida a epítopos presentes nestes peptídeos. Uma análise dos dados mostrados na figura 24 indica que no grupo PB a maioria dos indivíduos respondeu muito bem aos peptídeos produzidos a partir das proteínas recombinantes específicas de M. leprae (ML0008, ML0126, ML0394, ML1057 e ML2567) e que alguns dos indivíduos desse mesmo grupo 70 responderam fracamente ou não responderam a estes peptídeos. Quando analisamos os indivíduos do grupo EC e TB, observamos que a maior parte não respondeu a maioria dos peptídeos. Vale a pena mencionar que todos os indivíduos respondedores dos grupos analisados também responderam ao sonicado total de M. leprae. Figura 24 - Resposta individual de IFN-γ nos grupos PB, TB e EC contra as quatro proteínas Os recombinantes e seus respectivos peptídeos e aos peptídeos da proteína ML 0394. quadrados fechados indicam quantidades detectáveis de IFN-γ; quadrados abertos indicam níveis de IFN-γ < 125 pg/mL; quadrados com linhas diagonais indicam quantidade de IFN-γ que variou de 125299 pg/mL; quadrados com linhas horizontais indicam quantidade de IFN-γ que variou de 300-499 pg/mL; quadrados cinza escuro indicam quantidade de IFN-γ que variou de 500-999 pg/mL e quadrados totalmente pretos indicam quantidade de IFN-γ acima de 1000 pg/mL. Quatro dos seis peptídeos nanômeros apresentaram um bom potencial de especificidade. Três destes seis peptídeos estavam contidos dentro de peptídeos decapentâmeros analisados: p52 em p51 (ML1057), p61 em p59 (ML0398c) e o p69 em p65 (ML1419c). Os pares de peptídeos nanômeros e decapentâmeros produzidos a partir das proteínas ML1057 e ML1419c foram específicos, induzindo uma boa resposta nos grupos PB e HC e nenhuma 71 resposta nos grupos TB, EC e NEC. Quando analisamos os peptídeos produzidos a partir da proteína ML0398c observamos que o peptídeo nanômero mostrou ser mais específico que o peptídeo decapentâmero. Isto sugere que peptídeos nanômeros podem induzir ativação de linfócitos T CD8+ específicos ao antígeno e tem potencial de diagnóstico. 4.2.2 – Análise do fenótipo dos linfócitos T peptídeo específicos por citometria de fluxo. As freqüências de linfócitos T CD4+ e CD8+ ativados (CD69+) produtores de (decapentâmeros) IFN-γ e específico aos aos peptídeos peptídeos P51, P59 e P65 nanômetros (P52, P61 e P69 respectivamente) que estão contidos nos peptídeos decapentêmeros foram analisados no sangue de um paciente BT e determinadas por citometria de fluxo. Quando os peptídeos nanômeros e os decapentâmeros contendo na sua seqüência os peptídeos nanêmeros foram comparados, os peptídeos nanômeros preferencialmente ativaram linfócitos CD8+ e os peptídeos decapentâmeros induziram resposta em ambas as populações CD4+ e CD8+ (Figura 25). Estas observações confirmam prévios resultados, indicando que os peptídeos decapentâmeros ativam ambos os linfócitos T CD4+ e CD8+ (Maecker et al., 2001) e que os peptídeos nanômeros ativam preferencialmente linfócitos T CD8+. 72 Linfócitos T CD4+ Linfócitos T CD8+ P51 (15mer) 0.4 2.6 5.2 12.9 IFN-γ+ P52 (9mer) 0.2 0.8 0.2 4.6 2.0 2.0 Semestímulo 0.03 0.09 0.10 0.6 CD69+ CD69+/IFN-γγ + (%) 3 Linfócitos T CD4+ Linfócitos T CD8+ 3 2 2 1 0 1 P52 P51 P61 P59 P69 P65 Mix (9) (15) (9) (15) (9) (15) 0 P52 P51 P61 P59 P69 P65 Mix (9) (15) (9) (15) (9) (15) Figura 25 – Freqüência de linfócitos T CD4+ e CD8+ ativados (CD69+) e produtores de IFN-γ por peptídeos nanômeros (P52, P61, P69), decapentâmeros (P51, P59, P65) e a mistura deles. PBMC de um paciente PB foi mantida em cultura por 6 horas com os estímulos especificados, utilizando anticorpos monoclonais anti-CD28 e anti-CD49d como co-estímulo, com brefeldina A adicionada 1 hora após o início da cultura, e posteriormente marcadas com os anticorpos monoclonais de especificidades desejadas para moléculas de superfície (CD4, CD8, CD69) e intracelular (IFN-γ), após a permeabilização. A freqüência foi determinada utilizando a análise que está descrita na seção de Material e Métodos. 73 4.2.3 - Análise estatística da resposta dos diferentes grupos estudados aos peptídeos individuais. Os níveis de IFN-γ induzidos pelos peptídeos individuais nos diferentes grupos de indivíduos foram comparados usando o teste ANOVA para avaliação da significância estatística. Em adição ao teste ANOVA, o teste Tukey foi usado para avaliar diferenças significativas entre dois grupos. A figura 26 mostra a análise dos três padrões de resposta observados frente aos peptídeos específicos utilizados – aqui representados pela resposta aos peptídeos p67, p69 e p75. Figura 26 - ANOVA dos níveis de IFN-γ induzido por peptídeos sintéticos de M. leprae. O teste Tukey foi utilizado para avaliar a diferença significativa entre os grupos estudados. Os valores de p são mostrados nos gráficos. . PB, Pacientes Paucibacilares (n=10); MB, Pacientes Multibacilares (10); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=10); EC, Controles de área endêmica (n=10); TB, Pacientes com tuberculose (n=10), NEC, Controles de área não-endêmica (n=10). 74 Os gráficos mostram a média para cada grupo, e o intervalo de confiança de 0,95 foi ajustado pelo método dos quadrados mínimos para o modelo ANOVA. A resposta de IFN-γ ao peptídeo p69 foi significativamente maior no grupo HC (p = 0,02) e no grupo PB (p = 0,01) quando comparados aos grupos controles (TB e EC). Dos 35 peptídeos analisados, 29 mostraram este padrão de resposta. Em contraste, o peptídeo p75 induziu significativamente um nível de IFN-γ mais alto no grupo HC quando comparamos com o grupo PB (p = 0,04), MB (p = 0,001) e grupos controle (p = 0,001). Três outros peptídeos (p68, p91 e p92) induziram o mesmo tipo de resposta. Finalmente, a resposta de IFN-γ a p67 foi significativamente maior no grupo PB (p = 0,001) quando comparado com o grupo HC (p = 0,04), com o grupo MB (p = 0,01) e com os grupos controle (p = 0,01). 4.3 – Análise dos níveis de IFN-γγ produzidos nas culturas de sangue total estimuladas com peptídeos sintéticos M. leprae- específicos. Após análise dos resultados anteriores ficamos interessados em padronizar um teste mais simples e rápido – como o teste QuantiFERON-TB Gold que vem sendo utilizado para diagnóstico da tuberculose latente (Mazurek et al., 2005). Este teste apresenta algumas vantagens em relação a outros testes imunológicos, como por exemplo: utilização do sangue total não necessitando da purificação das células brancas, mede a resposta imune celular em 24 horas (produção de IFN-γ) e não necessita de equipamentos sofisticados para sua realização. Sendo assim, nesta etapa do trabalho utilizamos sangue total de pacientes (PB e MB), contatos de pacientes multibacilares e controles de área endêmica que foi cultivado com as proteínas de M. leprae (MLSA e MLCwA), PPD, peptídeo sintético (p69), pool 1 (p38 e p56), pool 2 (p85 e p51), pool 3 (p85, p51, p69 e p88), pool 4 (p69, p52 e p68) e o controle positivo (fornecido pelo kit). A produção de IFN-γ foi medida após 24 horas utilizando o kit QuantiFERON-CMI. Os níveis de IFN-γ em resposta ao controle positivo, PPD, MLSA e MLCwA são mostrados na figura 27. 75 PPD 400 150 IFN-γ (pg/mL) IFNγ (pg/mL) Controle Positivo 400 350 300 250 200 100 150 100 50 0 50 0 EC HC MB EC PB HC PB MLCwA 200 140 100 120 IFN-γ (pg/mL) IFNγ (pg/mL) MLSA MB 100 80 60 40 20 80 60 40 20 0 0 EC HC MB PB EC HC MB PB Figura 27 - Quantificação de IFN-γ nos plasma das culturas de sangue total estimuladas com mitógeno (controle positivo), PPD e as proteínas de M. leprae (MLSA e MLCwA). Culturas de 24 horas e quantificação de IFN-γ por QuantiFERON-CMI. A linha dos gráficos representa o cut-off (= 20pg/mL). . PB, Pacientes Paucibacilares (n=20); MB, Pacientes Multibacilares (20); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=20); EC, Controles de área endêmica (n=20). Já a resposta ao peptídeo p69 e aos pools de peptídeos pode ser observada na figura 28. Pool 1 Pool 2 Pool 3 76 100 80 80 IFNγ (pg/mL) IFNγ (pg/mL) POOL 1 P69 100 60 40 20 60 40 20 0 0 EC MB EC PB POOL 2 100 HC 80 60 40 20 MB PB POOL 3 100 IFN-γ (pg/mL) IFNγ (pg/mL) HC 80 60 40 20 0 0 EC HC MB EC PB MB PB POOL 4 100 IFNγ (pg/mL) HC 80 60 40 20 0 EC HC MB PB Figura 28 - Níveis de IFN-γ nos plasma das culturas de sangue total estimuladas com o peptídeo P69 e os pools1, 2, 3 e 4. As culturas foram mantidas por 24 horas e o plasma retirado para posterior quantificação de IFN-γ por QuantiFERON-CMI. A linha dos gráficos representa o cut-off (= 20pg/mL). PB, Pacientes Paucibacilares (n=20); MB, Pacientes Multibacilares (20); HC, Contatos de pacientes da forma multibacilar (n=20); EC, Controles de área endêmica (n=20). As culturas de sangue total estimuladas com o estímulo policlonal (controle positivo) e frações brutas micobacterianas produziram IFN-γ em níveis detectáveis. Na figura 28 observamos a reposta de IFN-γ às proteínas MLSA e MLCwA nos grupos PB, MB, HC e EC utilizando o QuantiFERON-CMI. Já o peptídeo p69 e os pools de peptídeos induziram baixos níveis de IFN-γ, sugerindo que as condições de estimulação de sangue total com os peptídeos de M. leprae precisam ser otimizadas. 77 V- Discussão Segundo recomendação dos Programas Nacionais de Controle da hanseníase e da tuberculose, duas ferramentas necessitam ser urgentemente desenvolvidas a fim de permitir o controle adequado destas endemias: 1) testes que possibilitem o diagnóstico específico destas infecções ainda num estagio precoce, permitindo desta maneira a interrupção da transmissão, e no caso da hanseníase, do aparecimento de incapacidade física; e 2) uma vacina mais eficaz que o BCG, a única atualmente disponível contra estas micobacterioses. Como as infecções por micobacterias induzem no hospedeiro uma resposta imune do tipo celular, um teste cutâneo, que classicamente mede este tipo de resposta, poderia ser o tipo de teste imunológico de escolha para avaliação de exposição previa e/ou infecção ativa por estes patógenos. De fato, o teste tuberculínico ou do PPD vem sendo utilizado há mais de 50 anos dando suporte ao diagnóstico da tuberculose. O PPD, contudo, constitui um extrato bruto de proteínas bacterianas, e assim, é de baixa especificidade. Já a hanseníase carece de um teste similar ao PPD que meça exposição previa/infecção ativa. O teste cutâneo da lepromina até hoje utilizado se baseia numa preparação antigênica purificada, e não constitui uma reação de DTH clássica, sendo lido com 21- 28 dias (teste de Mitsuda). O mesmo avalia a capacidade de desenvolver uma resposta imune celular contra M. leprae, mas não a exposição previa à bactéria. Idealmente um teste cutâneo para a hanseníase e tuberculose teria que ter como base antígenos espécie-especificos, não compartilhados com micobacterias ambientais ou com o BCG, tornando-os assim específicos para uma ou outra infecção. Este aspecto é particularmente importante no caso do Brasil, onde tanto a hanseniase como a tuberculose mostram altas prevalências, e onde a vacinação com BCG em neonatos é obrigatória (Benévolo-de-Andrade et al., 2005). O alto grau de reatividade cruzada observada entre as micobacterias tem dificultado a identificação de antígenos apropriados, tarefa esta que está sendo muito facilitada atualmente pela genômica comparada que, através de ferramentas de bioinformática, possibilita a comparação dos vários genomas micobacterianos, recentemente 78 seqüenciados, permitindo assim a identificação de genes e seqüências espécie-específicos (Brosh et al., 2000) A ausência de modelos experimentais que mimetizem a doença em humanos (Truman, 2005), representa historicamente uma importante limitação no desenvolvimento de ferramentas para o controle da hanseníase e igualmente impõe desafios no processo de seleção de novos antígenos específicos e apropriados para um teste cutâneo. Assim, a escolha dos melhores candidatos dependeria de ensaios de DTH em seres humanos, o que representaria um processo bastante complicado. Uma alternativa para solucionar este problema seria a avaliação dos novos antígenos através de testes in vitro (Dockrell et al., 2000). Nestes testes in vitro teriam que ser analisados parâmetros imunológicos que tivessem alta correlação com a reação de DTH observada in vivo, possibilitando assim uma formulação final adequada de um teste cutâneo novo e especifico para a hanseníase. Recentemente, a medição de alguns parâmetros de resposta imune in vitro vem sendo proposta como alternativa a um teste cutâneo na detecção de tuberculose latente (Pai et al 2006; Ferrara et al 2006). Estes parâmetros incluem a produção de IFN-γ por leucócitos de sangue periférico (determinada por ELISA), ou o número de linfócitos T periféricos produtores de IFN-γ através da técnica de ELISPOT, ambos avaliados em resposta a antígenos micobacterianos especificos (Pala, Hussell, Openshaw, 2000; Doherty et al., 2005; Hill et al., 2005). Visando contribuir neste aspecto do problema, na primeira etapa do nosso trabalho lançamos mão da técnica de citometria multiparamétrica (FACS-M) para definir parâmetros de resposta imune in vitro correlacionados com a induração cutânea (resposta in vivo) ao PPD, o único teste cutâneo disponível no contexto das micobacterioses e considerado “padrão ouro” em todos os estudos onde novos reagentes cutâneos são propostos. Esta metodologia permite a identificação fenotípica de subpopulações leucocitárias respondedoras a uma preparação antigênica e características funcionais relevantes destas células, como o perfil de produção de citocinas ou expressão de marcadores de “homing” (Gauduin, 2006). No nosso trabalho avaliamos simultaneamente a expressão em leucócitos sanguineos estimulados com PPD por curta duração (seis horas) de quatro marcadores considerados importantes 79 numa reação de DTH, a saber: o co-receptor de linfócitos CD4, o receptor de “homing” CLA, a molécula de superfície CD69 e IFN-γ intracelular (Pitzalis et al., 1996). Estes marcadores foram avaliados em amostras de sangue total. Alem da análise de citometria de fluxo, os níveis de IFN-γ em resposta ao PPD foram mensurados em sobrenadantes de culturas de PBMCs obtidas dos mesmos indivíduos estimuladas por um e cinco dias com o antígeno. Esta etapa do nosso trabalho foi realizada comparando cinco indivíduos reatores ao teste tuberculílico com cinco indivíduos PPD negativos. Apesar do numero pequeno de indivíduos analisados, os resultados obtidos mostraram-se claros e significativos. Os nossos dados indicaram: 1) freqüências significativamente maiores de linfócitos T de memória específicos ao PPD nos indivíduos PPD positivos (% de células expressando CD69 após seis horas de estímulo com PPD); 2) idem para linfócitos T de memória específicos ao PPD produtores de IFN-γ; e 3) que os linfócitos CD69+ produtores de IFN-γ responsivos ao PPD detectados nas condições de ensaio utilizados eram preferencialmente CD4+. Como esperado, a análise de CLA mostrou uma porcentagem dos linfócitos CD4+ PPD específicos expressando este marcador. As frequencias de células T CD4+/CLA+ PPD específicas ativadas (CD69+) ou ativadas produtoras de IFN-γ (CD69+/IFN-γ+) obtidas em nosso estudo sugerem um total de 1 a 10 milhões destas células no sangue, quantidade mais do que suficiente para gerar uma resposta inflamatória cutânea ao PPD. Quando os diferentes parâmetros avaliados foram comparados à reatividade ao teste cutâneo, uma forte correlação positiva e significativa foi observada entre o tamanho da induração e a freqüência de linfócitos T CD4+/CD69+/IFN-γ+ PPD específicos. Quando comparamos esta freqüência com os níveis de IFN-γ mensurados por ELISA nos sobrenadantes de cinco dias de PBMCs estimulados com PPD o primeiro se mostrou mais sensivel na discriminação entre indivíduos PPD positivos e negativos. Uma aplicação inicial da FACS-M, usando o PPD como antígeno, seria no auxilio ao diagnostico da tuberculose latente (TL), em substituição ao teste cutâneo. Esta substituição seria especialmente útil em grupos de indivíduos com risco reconhecidamente maior de apresentarem infecção latente ou tuberculose ativa, mas que não são reativos ao teste cutâneo. Entre estes 80 indivíduos incluem-se crianças (Shingadia & Novelli, 2003), indivíduos HIV+ (Maiano & Maecker, 2004) e indivíduos com tuberculose pulmonar (Tsao et al., 1999) que apresentam linfocitos T específicos ao M. tuberculose, mas com baixa ou nenhuma expressão de CLA e IFN-γ (Magnani et al, 2000). A FACS-M também poderia ser utilizada para monitorar pacientes com artrite reumatóide submetidos à terapia de imunossupressão, especialmente quando drogas que bloqueiam o TNF-α são usadas. Existe um forte risco de evolução da tuberculose do estado latente para a forma ativa nestes pacientes, que também passam a não responder ao teste tuberculínico devido ao estado de imunosuppressão (Horsburgh, 2004). Ativação dos leucócitos por PPD se correlacionou com a resposta ao teste cutâneo e esta foi associada com a produção de IFN-γ somente quando os linfócitos T CD4+ foram analisados em culturas de sangue total de pouca duração. Quando analisamos nestas culturas os linfócitos CD4-, observamos que estes não foram capazes de responder ao PPD em níveis apreciaveis, isto é, não foram capazes de produzir IFN-γ. A predominancia de linfócitos PPD especificos produtores de IFN-γ com o fenótipo CD4 era um resultado esperado uma vez que a resposta específica a antígenos exógenos, como o PPD, preferencialmente ativa linfócitos T CD4+ por peptídeos antigênicos associados à molécula MHC classe II. A detecção de linfócitos CD8+ antígeno-específico produtores de IFN-γ. A expressão de CD69+ induzida por PPD foi observada em todas as populações de leucócitos analisados. Esta expressão foi, contudo, marcadamente maior em indivíduos PPD positivos em relação aos negativos, somente quando a população de linfócitos T CD4+ foi analisada. Quando as outras populações de leucócitos foram analisadas, PPD foi capaz de estimular a expressão de CD69 em níveis similares, tanto nos invidíduos reatores ou não ao PPD. Este resultado é consistente com a indução da expressão de CD69 por mecanismos não antígeno-específico pela resposta imune inata mediada por citocinas ou outros estímulos (Atzeni et al., 2002). Estes resultados indicam que a detecção de linfócitos T CD4+ específicos para antígenos relevantes poderia ser realizada medindo-se a indução da expressão de CD69 81 como alternativa à mensuração de células produtoras de IFN-γ ou níveis de IFN-γ. A ausência no enriquecimento dos linfócitos T específicos ao PPD na população CLA+ pode ser explicado pelo fato de que a expressão de receptores de “homing” específicos para os tecidos é programada nas populações de linfócitos T virgens no ambiente de primagem, mantidos pelas células dendríticas (Lee et al., 2003). A rota mais conhecida da infecção por M. tuberculosis é a via aérea. Consequentemente, a micobactéria interage com o sistema imune em ambientes como o encontrado na boca, que é similar à pele na indução da expressão de CLA e nos receptores de quimiocinas, estes requeridos para o “homing” de pele. Outros ambientes dentro do hospedeiro induzem diferentes padrões de homing (Kunkel & Butche, 2002), como fenótipos efetores/memórias e perfis de produção de citocinas. O uso de FACS-M permite a avaliação simultânea de ativação, padrões de homing e perfis de citocinas das células imunocompetentes respondedoras a antígenos. Esta aproximação pode produzir vários parâmetros básicos que permitirá determinar in vivo diferentes funções nas populações celulares avaliadas induzidas por antígenos. A freqüência de linfócitos T CD4+/CLA+ ativados (CD69+ ou CD69+/IFN-γ+) específicos ao PPD observada em indivíduos PPD+ sugere que a taxa destas células encontradas no sangue é de 106 a 107. Este número de linfócitos T CLA+ circulante é específico ao antígeno e é suficiente para o desenvolvimento de uma reação cutânea, como uma resposta inflamatória. Numa segunda etapa deste trabalho, utilizamos um painel de antígenos recombinantes e peptídeos sintéticos de M. leprae identificados a partir da genomica comparada com ferramentas de bioinformatica na busca de reagentes apropriados para compor um teste imunológico específico para a detecção de infecção por M. leprae. O parâmetro imunológico de escolha foi a produção de IFN-γ, citocina classicamente induzida no hospedeiro em resposta a infecção por micobacterias (Kaufmann, 1991). Avaliamos a produção de IFNγ em culturas de PBMCs estimuladas por cinco dias com os novos antígenos micobacterianos por se tratar de uma metodologia mais simples e econômica que a FACS-M e guardar também boa correlação com a reação de DTH in vivo. 82 Para este estudo, incluímos indivíduos com diferentes graus de exposição ao M. leprae para avaliar tanto o grau de antigenicidade quanto a especificidade dos novos reagentes. Além dos pacientes de hanseníase com as diversas formas MB e PB, assim como contatos familiares de pacientes MB, grupos que exibem alta exposição ao bacilo, indivíduos com tuberculose pulmonar, indivíduos sadios de área endêmica com exposição previa desconhecida ao M. leprae e indivíduos sadios de área não endêmica foram estudados para avaliação do grau de reatividade cruzada dos novos antigenos. Quatro proteínas recombinantes e 58 peptideos sintéticos de decapentâmeros e nanômeros foram testados, e um dado surpreendente foi a alta antigenicidade dos mesmos, todos sendo reconhecidos por pelo menos alguns indivíduos infectados por M. leprae, sugerindo que os critérios utilizados para a escolha de moléculas antigenicas foram apropriados. De fato, estudos têm demonstrado que a bioinformática pode aumentar a eficiência de selecionar epítopos em antígenos micobacterianos (Vordermeier et al., 2001). Vários programas, como TEPITOPE, Algoritmo e ProPred têm sido utilizados para identificar peptídeos capazes de se ligar a moléculas de MHC. Os programas TEPITOPE e ProPred foram utilizados para identificar ligantes de HLA-DR derivados de tumor e proteínas endógenas envolvidos em doenças auto-imune (Manici et al., 1999). Apesar de antigênicas, as proteínas recombinantes testadas no nosso estudo também foram reconhecidas por pacientes com tuberculose e sadios de área endêmica, provavelmente por conter epitopos comuns a moléculas presentes em outros organismos. De fato, no inicio do estudo, em 2002, as quatro proteínas recombinantes utilizadas figuravam como especificas para M. leprae (http://sanger.ac.uk). Contudo, na época da conclusão deste trabalho, em 2005, uma nova busca em banco de seqüências já mostrava que, embora ML0008, ML1057, e ML2567 ainda preservassem seu caráter espécieespecífico, um gene com 69% de identidade com ML0126 havia sido identificado no genoma de M. ulcerans (http://genopole.pasteur.fr/Mulc/Burulist.html). Contudo, a resposta à maioria dos peptídeos (35 dos 58, ou 60%) foi surpreendentemente freqüente e específica, só sendo observada praticamente entre os indivíduos previamente expostos ao M. leprae. Dentre os doentes, essencialmente só os indivíduos com as formas PB responderam aos 83 peptídeos, resultado este esperado em vista da ausência de resposta celular especifica a M. leprae nos pacientes com as formas MB. A maioria dos peptídeos induziu níveis comparáveis de IFN-γ tanto nos doentes (PB) como nos contatos sadios (HC), diferenciando assim estes dois grupos do resto da população. Uma observação interessante foi o comportamento de alguns peptídeos (p67, p68, p75, p91 e p92) em termos da sua capacidade de discriminar indivíduos doentes (pacientes PB) dos indivíduos sadios, mas expostos (HC). Uma explicação para a detecção de um nível maior de resposta no grupo HC em comparação ao grupo PB pode estar no fato de que os antígenos em teste são preferencialmente expressos durante o período de latência da infecção. Antígenos potencialmente marcadores de infecção latente, mas não da infecção ativa vêm sendo igualmente descritos no contexto da tuberculose (Temmerman et al., 2005). Estudos futuros com estes peptídeos usando um número maior de indivíduos por grupo serão necessários para determinar se os mesmos mantêm este padrão de resposta. Nossas observações mostram que tanto peptídeos nanômeros (selecionados com base na sua ligação com alta afinidade à moléculas MHC classe I) como decapentâmeros (selecionados com base na sua ligação com alta afinidade à moléculas MHC classe II) induziram a produção de IFN-γ especificamente em indivíduos infectados com M. leprae. A análise fenotípica das células respondedoras a estes peptídeos mostrou como esperado, uma ativação preferencial de linfócitos T CD8+ por peptídeos nanômeros e uma ativação preferencial de linfócitos T CD4+ por peptídeos decapentâmeros. Apesar da grande dificuldade de selecionar peptídeos nanômeros para uso in vitro, já que estes a apresentam uma grande homologia com as seqüências de outros genes, a resposta especifica observada em nosso trabalho a estes peptídeos indica que células T CD8+ específicas são geradas durante a exposição a M. leprae e que estas células podem ter um potencial diagnóstico. Ultimamente, o papel do linfócito T CD8+ nas infecções micobacterianas tem recebido mais atenção. Estudos recentes têm sugerido que antígenos de patógenos localizados no interior de vacúolos podem ter acesso ao citoplasma da célula infectada e assim ser apresentados por moléculas MHC de classe I (Flynn et al., 2004). Os Linfócitos T CD8+ podem agir como células citotóxicas 84 e como produtoras de citocinas (IFN-γ, por exemplo) em infecção por micobactérias. Estes linfócitos também têm sido relacionados à proteção na fase crônica da infecção por micobactérias (Orme, 2004). Esta população de linfócitos T também reconhece vários antígenos que não são apresentados pela via clássica de MHC de classe I, mas apresentados por um grupo de moléculas próximas, as chamadas moléculas de classe Ib. Neste grupo estão incluídas as CD1 bem como as H2-M3. Moléculas CD1 apresentam antígenos lipídicos, e quando células infectadas por micobactérias, como o M. tuberculosis, por exemplo, morrem, elas podem liberar vesículas que podem carregar antígenos lipídicos. Estes podem ser fagocitados por células dendríticas que podem apresentar então estes antígenos a linfócitos T CD8+ e a células NK/NKT via moléculas MHC de classe I ou CD1 (Flynn, 2004; Orme, 2004). Esta via de apresentação antigênica, provavelmente, tem grande relevância na defesa do hospedeiro contra micobactérias em geral, principalmente pela produção de IFN-γ por estas células. Comparando a população de linfócitos T CD8+ com a população de linfócitos T CD4+ observamos que linfócitos T CD4+ requerem a presença do antígeno para proliferação no curso da resposta inflamatória. Este dado sustenta a idéia de utilizar a freqüência de linfócitos T CD4+ específicos para os antígenos de M.leprae como uma ferramenta para detecção das infecções latente e ativa por este microrganismo. Por outro lado, o contato com o antígeno pelo linfócito T CD8+ induz atividade citotoxica antígeno-específica, expressão de receptores de citocinas e produção de citocinas como o IFN-γ, bem como proliferação. A interação dos linfócitos T CD8+ com a célula apresentadora do antígeno (APC) leva, quando a célula T CD8+ tem sua função citotóxica ativada, à destruição da APC. Assim, surge um primeiro elemento que associa a resposta da célula T CD8+ à concentração do antígeno reconhecido por esta célula, e no caso de um bacilo, à carga bacilar (Sud et al., 2006). Quando linfócitos T CD4+ são ativados, uma mesma APC pode ativar diversas células, reduzindo neste aspecto a correlação entre quantidade do antígeno e magnitude de resposta, em comparação com os linfócitos T CD8+. Além disto, já foi demonstrado previamente que linfócitos T CD8+ exigem níveis crescentes de ocupância de receptor e tempos também 85 progressivamente crescentes de contato com a APC, quando se compara os níveis que induzem função citotóxica, síntese de IFN-γ e proliferação (Valittuti et al., 1996; Sad, Kagi & Mosmann, 1996; Nancey et al., 2006). As características funcionais já apontadas para os linfócitos T CD8+ podem ser comparadas com os níveis de IFN-γ produzidos por estas células, que são proporcionais à carga bacilar dos indivíduos infectados por M. leprae, desde que, o antígeno de M. leprae reconhecido aumente seus níveis no organismo. Tomadas em conjunto, estas observações sugerem que epítopos M. leprae-específicos, reconhecidos por linfócitos T CD8+, têm grande potencial para utilização no diagnóstico precoce da infecção latente por M. leprae, e na determinação do nível de exposição a este bacilo. Nas décadas passadas, os peptídeos sintéticos foram amplamente usados como imunógenos e na confecção de "kits" de diagnósticos, mas nos últimos anos surgiu o interesse em tentar controlar alergias, doenças infecciosas e o crescimento de determinados tumores através de vacinas constituídas por estas biomoléculas. É o caso do sarampo, da malária, da infecção causada pelo vírus sinctial respiratório humano e do melanoma. Os peptídeos têm sido utilizados para o desenvolvimento de vacinas e testes de diagnóstico para indivíduos infectados com HIV (Xu et al., 2003), como também para o diagnóstico de doenças autos imunes (Hayer et al., 2005). O uso de peptídeos sintéticos para o diagnóstico da tuberculose tem sido bem empregado em humanos e bovinos, como também na utilização de uma vacina protetora para camundongo (Mustafa, 2000). Coquetéis de peptídeos sintéticos derivados das proteínas ESAT-6 e CFP-10 foram utilizados no sangue total de indivíduos sadios utilizando o teste Quantiferon CMI. Este distinguiu indivíduos não vacinados de indivíduos infectados e indivíduos vacinados com BCG (Streeton, Desem & Jones, 1998). A sensibilidade do ensaio de detectar tuberculose foi de 77,9%, com uma especificidade de 100%. Estes resultados demonstraram que coquetéis de peptídeos podem discriminar a infecção por M. bovis e à vacinação com BCG com alto grau de sensibilidade e especificidade (Vordermeier,et al, 2001). Também vem sendo utilizada a técnica ELISPOT, que é eficiente em estimar a freqüência de células 86 produtoras de citocinas relevantes (Pala, Hussel & Openshaw, 2000; Doherty et al., 2005; Hill et al., 2005). Para designar um teste diagnóstico que seja altamente sensitivo e específico para hanseníase, será necessário incorporar ao teste uma mistura de peptídeos ou uma poliproteína, isto porque tem sido mostrado que o uso de antígenos múltiplos aumenta a freqüência de resposta de indivíduos infectados. Fatores que influenciam a resposta a componentes individuais de uma mistura incluem os marcadores genéticos (polimorfismo de MHC) de um indivíduo e um determindado peptídeo que pode ser apresentado diferentemente às moléculas de MHC de uma pessoa para outra; o estado imune de um indivíduo, como a não reposta em pacientes infectados pelo HIV; doenças induzidas por anergia; e a variação de linfócitos T respondedores a um antígeno em particular durante o curso da infecção, que é provavelmente muito importante para pacientes com a forma paucibacilar versus multibacilar da hanseníase. Atualmente, nós temos examinado a resposta de um grande número de pacientes hansenianos e grupo controles com a mistura dos peptídeos e, surpreendentemente, foi observado um aumento na resposta dos pacientes PB e no grupo HC. Por outro lado, aumentou a percentagem de respondedores no grupo MB, embora conservando alto nível de especificidade. Isto é importante no contexto de países endêmicos, principalmente examinando a resposta dos controles sadios de área endêmica. A combinação dos peptídeos poderia formular um teste da resposta celular com especificidade e sensibilidade que possa futuramente servir para um teste precoce e rápido para hanseníase. Um dado interessante do nosso estudo foi a observação de que peptídeos decapentâmeros que continham na sua seqüência os peptídeos nanômeros também mostraram um comportamento específico. Os nossos resultados sugerem que peptídeos que contêm seqüências reconhecidas por moléculas MHC das classes I e II poderiam gerar testes de diagnostico com maior sensibilidade, uma vez que tanto linfócitos T CD4+ como T CD8+ específicos ao antígeno são ativados por tal seqüência. Uma outra estratégia para aumentar a sensibilidade seria a utilização de peptídeos denominados permissíveis ou promíscuos, ou seja, capazes de se ligar a diversos alelos de MHC do tipo HLA-DR. Do ponto de vista epidemiológico, a utilização de testes contendo pools de peptídeos promíscuos permitiria, potencialmente, identificar 87 a exposição/infecção a M. leprae em indivíduos de diferentes grupos étnicos, com diferentes tipos de moléculas HLA. Finalizando, nossos resultados sugerem que peptídeos específicos derivados da seqüência do genoma de M. leprae poderão ser úteis no desenvolvimento de testes in vivo ou in vitro, específicos para a detecção de infecção por M. leprae. A disponibilidade da seqüência completa de genomas de diversos organismos, as ferramentas de bioinformática disponíveis que permitem selecionar proteínas ou regiões protéicas específicas e potencialmente antigênicas e a avaliação através de FACS-M da resposta imunonológica a estes novos antígenos abrem uma boa perspectiva de desenvolvimento, em curto prazo, de novas ferramentas para o controle de doenças infecciosas. 88 VI – CONCLUSÃO 6.1 - Primeira Etapa: 1. A freqüência de linfócitos T CD4+/CD69+ e CD4+/CD69+/IFN-γ+ presentes em amostras de sangue total estimuladas com PPD correlacionou-se com a reatividade do paciente ao PPD in vivo. 2. Esta correlação também foi observada quando analisamos as subpopulações de linfócitos T CD4+/CLA+. 3. A freqüência de células produtoras de IFN-γ entre os linfócitos T CD4- foi irrelevante, confirmando que a população de linfócitos T CD4+ PPDespecíficos são as células relevantes na produção de IFN-γ induzida por PPD. 4. Os níveis de IFN-γ nos sobrenadantes de culturas de PBMC estimuladas com PPD por cinco dias correlacionaram-se com a reatividade ao teste tuberculínico in vivo. 5. Quando comparamos o ensaio ELISA e o FACS-Multiparamêtrico, este se mostrou com maior sensibilidade para discriminar indivíduos PPD + dos PPD-, e produzir informações relevantes além da freqüência de linfócitos T específicos ao antígeno ou do nível de resposta. 6.2 – Segunda Etapa: 1. Os indivíduos de área não endêmica (EUA) produziram IFN-γ abaixo dos níveis detectados pelo ELISA frente a todos os antígenos de M. leprae. 2. As proteínas recombinantes específicas mostraram um alto grau de reatividade cruzada, demonstrando assim, baixa potencialidade de utilização num futuro teste para o diagnóstico específico da hanseníase. 89 3. Já a maioria dos peptídeos sintéticos (35) gerou uma resposta específica, sendo capaz de discriminar paciente ( forma paucibacilar) e contatos (população infectada com M. leprae) do resto da população. 4. Foi observada uma freqüência alta de linfócitos T CD4+ e T CD8+ produtores de IFN-γ frente aos peptídeos decapentâmeros, nos peptídeos nanômeros e à mistura deles. 5. Os peptídeos decapentâmeros foram eficientes na indução da produção de IFN-γ em ambas as populações, linfócitos T CD4+ e CD8+. 6. Os peptídeos de 9 mer induziram preferencialmente a produção de IFNγ nos linfócitos T CD8+. 7. A produção de IFN- γ por linfócitos T CD8+ em resposta a epítopos M. leprae-específicos, associados à molécula HLA de classe II, tem potencial para uso na determinação de nível de exposição/carga bacilar durante a infecção latente pelo M. leprae. 8. As culturas de sangue total estimuladas com o estímulo policlonal (controle positivo) e frações brutas micobacterianas produziram IFN-γ em níveis detectáveis pelo QuantiFERON-CMI. 9. Já o peptídeo p69 e os pools de peptídeos induziram baixos níveis de IFN-γ, sugerindo que as condições de estimulação de sangue total com os peptídeos de M. leprae precisam ser otimizadas. 90 VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABBAS, AK & LICHTMAN, AH. Cellular and Molecular Immunology. EUA: SAUNDERS. 2003; 4o edição: 1 – 562. 2. ALMEIDA, EC., MARTINEZ, AN., MANIEROM VC., SALES, AM., DUPRE, NC., SARNO,EN., SANTOS, AR, MORAES, MO. Detection of mycobacterium leprae DNA by polymerase chain reaction in the blood and nasal secretion of Brasilian household contacts. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 2004. 99: 509-511. 3. ARAOZ R, HONORE N, CHO S, KIM JP, CHO SN, MONOT M, DEMANGEL C, BRENNAN PJ, COLE ST. Antigen discovery: a postgenomic approach to leprosy diagnosis. Infect. Immun. 2006; 74(1):175-82. 4. 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Nós solicitamos que você participe do estudo porque 1) você tem hanseníase, 2) você está ou esteve em contato com pessoas com hanseníase por muitos anos ou 3) você não tem essa doença e também não conhece quem tenha. Em qualquer caso, se a resposta das células do seu sangue for positiva, isso não significa que você esteja com a doença ou que esteja piorando, mas sua participação será importante para encontrarmos uma substância que possa ser usada como vacina ou como teste de diagnóstico da hanseníase. Para participar desse estudo, precisaremos que você responda a um questionário e que você permita a uma coleta de 20 ml do seu sangue. É possível, para confirmar resultados, que peçamos a você mais uma coleta de sangue em outro dia. Além disso, você (dá) (não dá) permissão para guardar as suas células que sobrarem para fazer estudos futuros sem entrarmos em contato com você. Se você optar por permitir guardar suas células, os pesquisadores que decidirem realizar uma nova pesquisa com seu material se comprometem a só fazê-lo se houver consentimento do Comitê de Ética, sempre mantendo o sigilo sobre sua identidade. Para retirar seu sangue, uma pessoa bem treinada fará a punção da veia do seu antebraço, no ambulatório Souza Araújo, Fundação Oswaldo Cruz. Esse procedimento dura, no máximo, dez minutos, e pode causar, embora muito raramente, dor, rouxidão ou infecção no local da punção. As pessoas que vão puncionar o seu sangue e os pesquisadores deste estudo se comprometem a não revelar sua identidade, embora os resultados dos seus testes possam vir a ser divulgados no meio científico. Você não terá nenhum benefício direto em participar desse estudo, mas sua participação será importante já que o resultado do seu sangue pode contribuir para o desenvolvimento de um teste de diagnóstico para a hanseníase, e assim prevenir melhor a população. Sua participação neste estudo é inteiramente voluntária, e você é livre para decidir se quer ou não participar deste estudo, bem como a se retirar em qualquer etapa da pesquisa, sem que isso cause qualquer problema no seu atendimento ou tratamento neste ambulatório. NOME: ASSINATURA: DATA: ASSINATURA DO RESPONSÁVEL: Nome e telefone de contato para questões e problemas: Maria Cristina Vidal Pessolani, Ph.D., 55-21-22709997 103 7.2 – Tabela com os dados dos indivíduos com diferentes graus de exposição a M. leprae que participaram da avaliação da resposta dos antígenos específicos de M. leprae (peptídeos sintéticos e proteínas recombinantes) em células mononucleares. Nome A.J.S D.R.S.A M.C N.R.P N.L Z.C.P D.P R.F.C D.P.R R.O.L V.G.C.A J.H.M.M M.J.H D.P M.F.G.F O.G.O L.F.N A.G.A C.A.M A.O A.C.S L.F.O H.G.S C.S.P.C L.C.S M.M.A C.L.C H.G O.F.S J.C E.T M.C J.G J.L.L.S S.R.C S.M M.F.M C.D J.F M.V.L A.C.C N.P J.P.F G.C.N A.L.L.F B.F.B.F J.B.C.M M.V R.M C.B.L Sexo F F F M F F M M F F F M F F F F M F F F F F F F F M F M M M F F M M F F M M M M F F F M F M M M F F Idade 55 25 23 51 48 35 19 23 32 42 41 32 42 23 38 50 47 25 37 32 52 46 31 37 44 50 34 47 43 39 45 37 30 28 19 32 41 44 41 36 19 19 17 18 18 19 18 20 18 17 Grupo HC HC HC HC HC HC HC HC HC HC BT BT BT BT BT BT BT BT BT BT TB TB TB TB TB TB TB TB TB TB BL BL BL BL LL BL BL LL BL LL EC EC EC EC EC EC EC EC EC EC Cor NEGRA NEGRA PARDA PARDA PARDA PARDA NEGRA PARDA NEGRA PARDA PARDA BRANCA PARDA NEGRA PARDA PARDA PARDA PARDA NEGRA PARDA PARDA BRANCA PARDA PARDA PARDA PARDA PARDA PARDA NEGRA PARDA PARDA PARDA PARDA PARDA PARDA PARDA NEGRA PARDA PARDA PARDA PARDA BRANCA PARDA PARDA PARDA BRANCA BRANCA PARDA PARDA BRANCA 104 7.3 - Tabelas com valores de IFN-γ (pg/mL) obtidos por ELISA para a elaboração dos gráficos que estão apresentados na seção de resultados (4.2.1). Valores dos níveis de IFN-γγ detectados nos Contatos de pacientes da forma multibacilar (HC). Individuos A.J.S D.R.S.A M.C N.R.P N.L Z.C.P D.P R.F.C D.P.R R.O.L 37 379 409 284 0 0 429 291 252 284 278 38 368 435 198 0 0 419 757 283 862 0 39 520 495 178 715 0 549 462 234 1120 490 40 519 481 740 1496 0 576 317 279 776 0 41 452 440 153 974 0 312 316 266 0 143 42 811 395 339 0 0 419 389 339 0 0 43 306 452 166 135 0 397 268 186 0 0 44 287 442 131 0 0 432 187 139 0 0 45 393 444 0 495 0 518 229 382 365 0 46 451 372 523 209 0 623 334 232 0 135 47 502 356 349 0 0 884 433 253 0 0 48 547 384 263 0 0 691 351 578 0 204 49 251 455 242 0 0 261 384 168 0 272 50 311 461 260 235 0 246 210 229 757 135 51 435 401 192 491 0 753 1754 197 2612 231 52 699 426 306 413 0 1068 313 226 863 189 53 335 395 476 208 0 300 394 273 0 216 54 487 453 261 1991 0 255 442 343 0 0 55 273 528 200 45 0 467 353 150 0 136 56 369 540 0 0 0 947 228 403 266 0 57 291 414 0 799 0 857 1361 181 1975 419 58 766 403 424 604 0 675 740 275 0 258 59 491 583 604 448 0 415 535 206 0 142 60 499 369 136 169 0 428 545 280 0 383 61 285 394 151 425 0 728 228 220 0 201 62 383 361 0 147 0 441 320 310 0 0 63 464 351 0 254 0 1354 388 292 0 164 64 871 333 339 308 0 1137 617 163 137 205 65 377 507 288 219 0 645 491 329 0 0 66 514 67 296 68 368 69 296 70 843 71 316 72 497 73 652 74 355 75 395 105 321 222 0 0 454 211 387 342 192 342 230 133 0 679 277 191 0 0 402 0 206 0 600 418 166 0 166 329 0 340 0 2117 828 0 1340 219 381 483 417 0 1073 917 169 1366 427 251 0 274 0 946 234 196 632 0 1804 314 163 0 739 529 295 555 0 373 310 392 526 135 366 319 410 164 414 612 160 206 0 0 194 739 0 524 602 283 178 441 337 0 651 200 76 497 502 487 172 0 403 220 215 265 0 77 225 356 1296 0 156 0 0 0 359 0 78 262 398 275 172 181 143 219 340 258 163 79 204 291 502 143 523 0 194 145 926 275 80 254 370 359 299 356 0 0 0 646 0 81 220 312 618 341 217 289 526 0 1959 554 82 708 280 598 516 212 223 236 0 539 301 83 151 314 734 0 180 0 182 0 0 217 84 432 331 354 162 205 0 278 147 873 335 85 326 320 1033 294 453 0 152 1488 1007 157 86 271 285 426 206 284 76 230 0 748 249 87 215 419 860 416 182 308 618 0 2389 301 88 198 284 1172 156 209 220 622 0 906 0 89 221 314 410 0 172 136 0 0 0 152 90 514 310 576 132 196 346 353 293 0 190 91 426 320 907 192 315 0 223 183 802 171 92 295 304 487 197 232 215 0 235 778 383 93 249 341 709 1131 160 792 1310 0 1367 321 94 474 337 1741 277 232 611 309 0 1711 222 0008 1193 310 560 199 736 1222 0 508 1840 1853 0126 369 280 7581 526 192 138 139 139 461 387 1057 527 405 505 206 327 131 655 130 2557 315 2567 1011 311 5100 641 240 1145 378 0 4187 1253 ML 1107 282 1104 1121 2113 870 752 146 1280 534 Valores dos níveis de IFN-γγ detectados nos pacientes da forma paucibacilar (PB). 106 Individuos V.G.C.A J.H.M.M M.J.H D.P M.F.G.F O.G.O L.F.N A.G.A C.A.M A.O 37 615 483 0 154 157 416 139 414 143 204 38 675 342 306 277 151 255 411 0 426 316 39 683 441 441 422 128 221 0 0 664 138 40 863 478 1015 128 0 149 486 357 0 273 50 736 590 387 236 139 243 357 151 423 481 41 679 331 338 245 146 213 534 0 0 302 51 1200 439 1065 2151 0 162 153 183 0 358 42 527 412 512 0 145 346 288 313 0 279 52 762 320 1152 1060 142 157 0 469 0 159 43 744 577 257 205 133 393 0 606 431 361 53 642 503 435 407 148 168 550 171 0 418 44 503 547 501 128 132 215 0 183 769 182 54 834 769 635 570 143 248 219 135 228 284 45 1512 629 573 650 146 172 284 0 0 252 46 906 432 1214 587 171 182 294 471 302 194 47 798 426 583 151 0 205 0 0 0 288 48 1034 731 520 652 139 296 272 211 0 389 49 693 518 513 353 143 349 159 954 185 261 56 860 415 223 0 133 170 147 0 460 316 57 1638 474 392 0 139 169 436 395 0 174 58 1303 390 1078 151 166 201 224 404 0 295 59 802 310 704 0 368 230 566 806 642 275 60 479 279 626 206 135 314 0 433 765 364 61 698 458 194 0 319 246 0 381 128 206 62 656 429 160 0 325 209 421 772 414 358 63 1466 703 0 484 518 221 136 623 130 271 64 539 565 815 273 1065 166 350 219 559 439 65 698 460 461 294 3976 243 528 339 0 259 66 842 321 1237 582 162 283 216 451 0 390 67 660 607 201 130 5176 195 504 745 3978 493 68 1059 523 249 133 3216 282 349 647 2175 295 69 1646 704 826 571 152 188 522 348 789 317 70 908 464 862 558 2871 202 195 987 1682 206 71 501 453 419 364 2366 205 0 558 0 351 72 733 346 522 594 2152 272 145 609 2685 492 73 655 341 1360 0 0 316 1771 564 575 502 74 390 212 424 0 135 148 147 319 558 320 75 467 158 201 522 129 0 0 348 0 169 76 405 77 490 78 663 79 724 80 761 81 1138 82 695 83 484 84 725 85 616 107 55 536 678 281 0 138 188 537 0 906 629 1043 228 235 0 0 336 251 289 285 281 442 0 0 0 334 868 154 405 272 580 0 1121 147 0 588 344 258 356 1107 0 0 0 0 431 753 158 333 212 0 0 0 310 421 973 301 198 892 294 0 0 415 180 434 381 576 0 141 0 0 632 336 692 149 560 0 0 0 0 298 444 136 265 263 0 331 0 202 637 599 400 410 348 1233 0 0 414 0 394 674 206 86 1659 242 399 0 0 170 0 302 1041 369 87 1944 160 1408 297 0 130 0 351 372 274 88 1952 717 0 0 0 0 0 247 439 204 89 3453 508 188 0 0 0 468 1817 240 197 90 3472 230 0 332 0 0 446 762 554 322 91 1063 410 1746 285 3453 262 842 506 613 375 92 2030 275 463 243 3368 0 0 510 1335 275 93 2191 123 1327 1198 3201 0 327 240 453 352 94 2174 773 3214 389 3334 0 144 246 269 384 0008 3614 405 6126 0 3358 220 505 1191 2006 1750 0126 2446 290 1334 0 3467 0 697 158 1062 501 1057 2973 312 2598 160 3358 128 0 0 441 371 2567 2209 4242 3060 0 3266 0 1769 1393 3050 3501 ML 2682 200 914 397 85 134 1606 4498 2133 1720 108 Valores dos níveis de IFN-γγ detectados nos pacientes com tuberculose (TB). Indivíduos 37 ACS LFO HAP CS LCS MM C.L.C HG OFS JC 0 1336 0 1347 807 1400 1028 1294 629 0 46 47 0 0 355 0 0 0 0 0 0 0 56 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 162 0 0 0 49 58 68 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1049 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 51 0 0 0 0 0 0 163 0 0 0 52 61 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 646 0 0 0 45 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 54 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 63 0 0 0 0 0 0 617 0 0 0 72 44 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 53 62 71 43 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 331 0 559 0 372 508 0 0 0 70 42 0 0 0 0 0 0 852 639 0 0 0 0 0 0 0 0 257 0 0 0 60 69 41 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 50 59 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 40 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 482 0 0 172 0 0 0 67 39 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 48 57 66 38 55 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 64 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 73 0 0 0 0 0 0 141 0 0 0 65 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 74 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 155 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 75 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 109 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 76 77 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 86 78 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 87 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0126 189 134 0 0 0 0 0 0 0 0 79 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 88 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1057 0 160 0 0 0 0 0 0 0 0 80 0 0 0 0 0 183 0 0 0 0 89 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2567 81 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 90 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 82 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 91 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 83 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 92 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 84 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 93 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 85 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 94 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0008 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ML 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 385 0 0 0 0 0 2989 1740 3064 110 1731 0 0 0 0 0 0 0 738 0 Valores dos níveis de IFN-γγ detectados nos pacientes da forma multibacilar (MB). Indivíduos 37 ET MC JG JL SC SM MF CD JF MV 0 637 0 0 335 0 295 137 0 0 46 47 264 0 134 129 0 0 0 0 0 0 56 57 66 194 217 0 0 0 0 306 0 0 0 268 0 0 0 0 0 0 0 0 0 67 68 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 186 0 0 0 0 0 0 0 0 59 0 0 0 0 0 0 0 417 0 0 159 0 0 0 0 0 0 0 0 0 41 0 131 0 0 0 0 0 0 0 0 50 60 0 317 0 0 0 0 0 0 0 0 61 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 70 0 284 0 0 0 0 0 0 0 0 71 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 42 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 51 486 0 0 0 0 0 224 0 0 0 0 132 0 0 0 0 0 0 0 0 69 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 40 629 0 451 0 179 0 0 0 0 0 49 58 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 39 972 361 0 0 274 0 0 0 0 0 48 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 251 0 0 147 191 0 0 38 0 0 0 496 0 0 0 0 0 0 43 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 52 0 0 0 0 0 0 163 0 0 0 62 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 53 63 205 142 0 0 0 0 0 0 0 0 0 197 264 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 65 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 74 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 155 0 0 0 55 64 73 45 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 54 0 0 302 0 0 0 0 0 0 0 246 304 0 0 0 0 0 0 0 0 72 44 0 239 0 0 0 0 0 0 0 0 75 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 111 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 76 77 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 86 78 303 0 0 294 0 0 0 0 0 0 87 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0126 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 88 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1057 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 79 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 89 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2567 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 80 0 0 491 0 0 0 0 0 0 0 81 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 90 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 82 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 91 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 83 0 275 0 0 0 0 0 0 0 0 92 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 84 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 93 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 159 0 0 0 0 0 0 0 0 85 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 94 164 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ML 0 0 0 0 0 0 989 1698 0 0 112 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0008 0 0 641 0 0 0 1855 215 0 0 Valores dos níveis de IFN-γγ detectados nos indivíduos sadios (controles de área endêmica). Indivíduos 37 ACC NP JPF GCN ALLF BFBF JBCM MV RM CBL 345 1646 1470 2084 0 1544 1743 1479 1096 927 46 47 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 56 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 66 0 224 239 444 0 0 329 197 548 330 67 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 219 0 39 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 48 57 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 38 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 49 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 58 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 68 69 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 70 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 534 0 53 62 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 175 0 0 251 211 390 497 299 73 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 183 0 65 0 0 0 0 0 0 0 221 0 0 74 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 298 0 0 55 64 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 45 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 54 63 72 44 0 0 0 0 0 0 142 0 225 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 203 0 0 0 71 43 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 52 61 0 175 134 164 0 0 396 0 1226 222 42 0 0 176 0 0 231 160 157 241 0 51 60 0 132 0 0 0 0 0 0 156 0 41 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 50 59 0 228 0 0 0 0 0 1381 223 0 40 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 75 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 113 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 76 77 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 86 0 0 0 0 0 0 0 220 0 0 0126 1270 996 147 552 287 0 211 1299 260 245 78 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 87 0 0 0 0 0 0 1417 0 681 0 1057 1200 908 1450 3197 510 2135 360 4217 5876 976 0 148 0 0 0 0 0 163 0 0 88 0 0 0 0 0 0 0 0 3219 0 2567 1424 0 0 3048 0 2722 269 4180 6299 2564 79 80 0 0 0 0 0 0 130 0 349 0 89 0 0 0 3169 0 0 1363 2022 1851 1249 81 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 90 0 0 0 2977 0 0 1332 4176 6028 2704 82 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 91 0 0 0 0 0 0 0 0 193 0 83 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 92 0 0 0 0 0 0 0 218 0 0 84 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 93 0 0 0 257 0 0 817 3708 2280 0 0 0 0 0 0 0 175 0 427 0 94 0 0 0 0 0 0 0 3813 0 0 ML 2813 3475 0 0 2579 0 3460 0 0 0 114 85 0 0 0 0 0 0 0 0 572 0 0008 1551 2515 0 193 0 0 2780 1390 350 0 7.4- Tabela com os dados dos indivíduos com diferentes graus de exposição ao M. leprae de Fortaleza que participaram da avaliação da resposta dos peptídeos sintéticos em cultura de sangue total utilizando o QuantiFEROM-CMI. NOME M.P.L E.P.L W.S.A C.C.S P.C.S O.M.R A.A.P F.G.S.P D.M.D.C H.F.N J.U.A.A M.C.C.R A.S.B F.C.S M.P.C F.M.P.P R.S.C.P M.G.NS J.N.F J.M.S A.M.S A.G.F U.F.S A.F.S M.L.R.S A.A.R.A F.A.A.O F.M.S R.N.L.S J.J.M.P M.L.F.L T.M.M.L F.A.N M.F.F.A F.F.A.S R.G.C T.C.F F.A.O.M M.V.S M.F.C.P SEXO F M M F M M M M F M M F M M F M F F F F F F M M F F F M M M F F M F F F F M F F IDADE 44 37 31 23 19 21 25 21 20 39 41 37 43 22 35 38 28 45 19 39 51 43 39 32 46 28 34 27 41 38 51 27 32 29 10 31 43 46 28 43 GRUPO BL HC BT EC EC EC EC EC EC BL BT TT BT TT HC HC HC BL BT BL HC BL HC LL BL HC HC BL BL TT BT HC LL HC BT TT EC EC EC EC COR PARDA PARDA PARDA PARDA PARDA BRANCA BRANCA BRANCA BRANCA PARDA BRANCA BRANCA PARDA PARDA BRANCA BRANCA BRANCA PARDA PARDA BRANCA BRANCA BRANCA PARDA PARDA PARDA PARDA PARDA PARDA BRANCA PARDA PARDA BRANCA PARDA PARDA BRANCA BRANCA BRANCA BRANCA PARDA BRANCA PGL-1 +FORTE NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIV O NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO +FORTE NEGATIVO +FRACO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO +FORTE +FRACO +FRACO +FRACO +FORTE +FORTE +FRACO +MODERADO +FORTE +MODERADO NEGATIVO NEGATIVO +FORTE NEGATIVO +FRACO +FRACO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO NEGATIVO BCG NENHUMA 1º DOSE NENHUMA 1º DOSE NENHUMA 1º DOSE NENHUMA 1º DOSE NENHUMA NENHUMA NENHUMA 1º DOSE 1º DOSE 1º DOSE NENHUMA NENHUMA 1º DOSE NENHUMA NENHUMA 1º DOSE 1º DOSE NENHUMA NENHUMA 1º DOSE NENHUMA NENHUMA 1º DOSE 1º DOSE NENHUMA NENHUMA NENHUMA 1º DOSE 1º DOSE NENHUMA NENHUMA 1º DOSE 2º DOSE ID B001 B002 B003 B004 B005 B006 B007 B008 B009 B010 B011 B012 B013 B014 B015 B016 B017 B018 B019 B020 B021 B022 B023 B024 B025 B026 B027 B028 B029 B030 B031 B032 B033 B034 B035 B036 B037 B038 B039 B040 115 7.5 - Tabelas com valores de IFN-γ (pg/mL) obtidos por QuantiFERON para a elaboração dos gráficos apresentados na seção de resultados (4.3). CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 B001 1 1,597 0 0,036 1,187 0 0,099 0 0 B001 2 1,605 0 0 0,014 0 0 0 0 B001 Média 1,601 0 0 0,014 0 0 0 B001 IFN g 7,179 0 0 0,063 0 0 0 0 B002 1 0,908 0,495 0,35 0,296 0,368 0,613 0,389 0,303 B002 2 0,856 0,306 0,236 0,671 0,764 0,348 0,387 0,694 B002 Média 0,882 0,4005 0,293 0,296 0,368 0,348 0,388 0,303 B002 IFN g 3,955 1,796 1,313 1,327 1,650 1,560 1,739 1,358 POOL 4 P69 0 0 0 0,024 0 0 0 0 0,357 0,336 0,382 0,418 0,3695 0,377 1,657 1,690 0 0 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B004 1 0,539 0 0,268 0,049 0,017 0 0,021 0,003 0 0,01 B004 2 0,524 0,003 0,243 0,123 0,019 0 0 0,002 0 0,002 B004 Média 0,5315 0,0015 0,2555 0,049 0,018 0 0 0,0025 0 0,002 B004 IFN g 3,784 0,010 1,819 0,348 0,128 0 0 0,017 0 0,014 B005 1 xx 0,616 0 0 0 0 0 0 0 0,026 B005 2 xx 0 0 0,008 0 0 0 0 0,236 0,034 B005 Média xx 0 0 0,004 0 0 0 0 0 0,03 B005 IFN g xx 0 0 0,017 0 0 0 0 0 0,134 B006 1 2,046 0 0,031 0,008 0,007 0,009 0 0 0 0,002 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B007 1 2,415 0,007 0,366 0,04 0,048 0,005 0,006 0 0 0,008 B007 2 2,406 0,015 0,374 0,038 0,031 0,006 0 0 0,007 0,01 B007 B007 B008 Média IFN g 1 2,4105 17,165 xx 0,011 0,078 0,004 0,37 2,634 0,31 0,039 0,277 0,013 0,0395 0,281 0,019 0,0055 0,039 0,003 0 0 0,002 0 0 0 0 0 0,002 0,009 0,064 0,005 CP B010 1 xx B010 2 xx B010 Média xx 0 B010 IFN g xx B011 1 xx B003 Média 0,756 0,05 0 0 0 0 0 0 B003 IFN g 3,390 0,224 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 B006 2 1,96 0 0,033 0,006 0,009 0 0,004 0 0,003 0,002 B006 Média 2,003 0 0,032 0,007 0,008 0 0 0 0 0,002 B006 IFN g 14,26 0 0,227 0,049 0,056 0 0 0 0 0,014 B008 2 xx 0,001 0,316 0,014 0,019 0,002 0,007 0,001 0,005 0,011 B008 B008 B009 B009 B009 Média IFN g 1 2 Média xx xx 0,867 0,901 0,884 0,0025 0,017 0,042 0,075 0,0585 0,313 2,228 0,306 0,297 0,3015 0,0135 0,096 0,133 0,113 0,123 0,019 0,13529 0,11 0,098 0,104 0,0025 0,017 0,024 0,031 0,0275 0,002 0,014 0,035 0,049 0,042 0 0 0,039 0,04 0,0395 0,002 0,014 0,09 0,069 0,0795 0,008 0,056 0,119 0,065 0,092 B009 IFN g 4,90 0,324 1,672 0,682 0,576 0,152 0,233 0,219 0,441 0,510 B011 2 xx B011 Média xx B012 IFN g 15,31 B011 IFN g xx B003 B003 1 2 0,807 0,705 0,542 0,05 0 0 0 0 0,11 0 0 0 0 0 0,076 0 B012 B012 1 2 2,751 2,771 B012 Média 2,761 116 CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 0,037 0,108 0,09 0,094 0,036 0,044 0,061 0,098 0,113 0,064 0,104 0,072 0,134 0,044 0,054 0,068 0,081 0,094 0,037 0,205 0,106 0,588 0,081 0,449 0,114 0,632 0,04 0,221 0,049 0,271 0,0645 0,357 0,0895 0,496 0,1035 0,5742 0,121 0,299 0,134 0,122 0,036 0,062 0,063 0,087 0,108 0,161 0,282 0,133 0,16 0,059 0,071 0,08 0,093 0,082 0,141 0,782 0,2905 1,61 0,1335 0,740 0,141 0,782 0,0475 0,263 0,0665 0,368 0,0715 0,396 0,09 0,499 0,095 0,52704 0,029 0,547 0,209 0,34 0,041 0,059 0,07 0,107 0,117 0,04 0,499 0,203 0,369 0,067 0,064 0,103 0,09 0,138 0,0345 0,523 0,206 0,3545 0,054 0,0615 0,0865 0,0985 0,1275 0,191 2,901 1,142 1,966 0,299 0,341 0,479 0,546 0,707 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B013 1 0,852 xx 0,072 0,041 0,059 0,01 0,028 0,072 0,077 1,107 B013 2 0,935 0,03 0,031 0,107 0,088 0,069 0,233 0,409 0,08 0,135 B013 Média 0,8935 0,03 0,031 0,041 0,0735 0,01 0,028 0,072 0,0785 0,135 B013 IFN g 5,272 0,177 0,182 0,241 0,433 0,059 0,165 0,424 0,463 0,796 B014 1 xx 0,034 0,457 0,483 0,28 0,044 0,437 0,076 0,489 0,415 B014 2 xx 0,09 0,51 0,266 0,205 0,022 0,089 0,038 0,063 0,398 B014 Média xx 0,034 0,4835 0,266 0,2425 0,022 0,089 0,038 0,063 0,4065 B014 IFN g xx 0,200 2,852 1,569 1,430 0,129 0,525 0,224 0,371 2,398 B015 1 0,036 0,035 0,507 0,11 0,124 0,036 0,081 0,077 0,067 0,096 B015 B015 2 Média 0,024 0,03 0,116 0,035 0,907 0,507 0,131 0,1205 0,359 0,124 0,079 0,036 0,368 0,081 0,061 0,069 0,064 0,0655 0,393 0,096 B015 IFN g 0,177 0,206 2,991 0,710 0,731 0,212 0,477 0,407 0,386 0,566 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B016 1 0,046 0,071 0,231 0,169 0,143 0,028 0,048 0,081 0,072 0,107 B016 2 0,084 0,054 0,652 0,204 0,428 0,149 0,166 0,093 0,11 branco B016 Média 0,065 0,0625 0,231 0,1865 0,143 0,028 0,048 0,087 0,091 0,107 B016 IFN g 0,383 0,368 1,362 1,100 0,843 0,165 0,283 0,513 0,536 0,631 B017 1 xx 0,043 0,385 0,122 0,087 0,005 0,003 0,011 0,016 0,025 B017 2 xx 0,017 0,364 0,133 0,13 0 0,007 0,016 0,008 0,025 B017 Média xx 0,017 0,3745 0,1275 0,1085 0 0,003 0,0135 0,012 0,025 B017 IFN g xx 0,106 2,341 0,797 0,678 0 0,018 0,084 0,075 0,156 B018 1 xx 0 0,159 0,013 0,008 0,006 0 0 0 0 B018 B018 2 Média xx xx 0,005 0 0,128 0,1435 0 0 0,014 0,011 0 0 0 0 0 0 0,008 0 0 0 B018 IFN g xx 0 0,897 0 0,068 0 0 0 0 0 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B019 1 2,143 0 0,423 0,661 0,543 0 0 0 0 0 B019 2 2,084 0,154 0,405 0,708 0,564 0 0 0 0,01 0,006 B019 B019 B020 Média IFN g 1 2,1135 13,215 1,779 0 0 0 0,414 2,588 0,016 0,6845 4,279 0 0,5535 3,460 0,009 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,003 0,0187 0,007 58 B020 2 1,655 0 0,018 0,003 0,019 0 0,002 0 0 0,005 B020 Média 1,717 0 0,017 0,0015 0,009 0 0,001 0 0 0,006 B020 IFN g 10,73 0 0,106 0,009 0,056 0 0,006 0 0 0,037 B021 1 1,368 0,218 0,125 0,054 0,077 0,021 0,039 0,077 0,202 0,135 B021 B021 2 Média 1,407 1,3875 0,029 0,029 0,105 0,115 0,078 0,066 0,052 0,0645 0,039 0,03 0,178 0,039 0,177 0,077 0,079 0,079 0,057 0,057 B021 IFN g 7,896 0,165 0,654 0,375 0,367 0,170 0,221 0,438 0,449 0,324 CP B022 1 1,365 B022 2 1,343 B022 Média 1,354 B023 2 2,586 B023 Média 0,987 B023 IFN g 5,616 B024 B024 1 2 0,915 0,893 B022 IFN g 7,705 B023 1 0,987 B024 Média 0,904 117 B024 IFN g 5,144 CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 0,074 0,434 0,053 0,077 0,004 0,352 0,028 0,031 0,077 0,094 0,415 0,055 0,04 0 0 0,034 0,056 0,026 0,084 0,4245 0,054 0,0585 0,002 0 0,031 0,0435 0,026 0,478 2,415 0,307 0,332 0,011 0 0,176 0,247 0,147 0 0,057 0,054 0,081 0 0 0,045 0,009 0,041 0 0,033 0,046 0,075 0 1,644 0,001 0,023 0,043 0 0,045 0,05 0,078 0 0 0,001 0,009 0,042 0 0,256 0,284 0,443 0 0 0,005 0,0512 0,239 0,087 0,17 0,167 0,18 0,116 0,104 0,684 0,159 0,165 0,105 0,137 0,145 0,176 0,087 0,129 0,116 0,166 0,145 0,096 0,1535 0,156 0,178 0,1015 0,1165 0,116 0,1625 0,155 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B025 1 1,83 0 0,009 0 0 0 0,032 0 0,258 0,013 B025 2 1,878 0 0,013 0,005 0 0,014 0 0,333 0,003 0 B025 B025 B026 Média IFN g 1 1,854 11,111 1,571 0 0 0,002 0,011 0,065 0,213 0,0025 0,014 0,95 0 0 0,113 0 0 0 0 0 0 0 0 0,015 0,003 0,017 0,318 0 0 0,006 B026 2 1,567 0,028 0,232 0,044 0,032 0 0 0,057 0,019 0 B026 Média 1,569 0,002 0,2225 0,044 0,032 0 0 0,015 0,019 0 B026 IFN g 9,403 0,012 1,333 0,263 0,191 0 0 0,089 0,113 0 B027 1 xx 0,021 0,042 0,177 0,131 0,051 0,071 0,102 0,016 0,021 B027 B027 B027 2 Média IFN g xx xx xx 0 0 0 0,115 0,042 0,251 0,083 0,083 0,497 0,122 0,1265 0,758 0,02 0,02 0,119 0,016 0,016 0,0955 0,026 0,026 0,155 0,025 0,0205 0,122 1,088 0,021 0,125 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B028 1 1,321 0 0,034 0,823 0,001 0,008 0,009 0,015 0,02 0,016 B028 2 1,265 0,017 0,349 0,017 0,974 0,361 0,023 0,01 0,004 0,075 B028 Média 1,293 0 0,034 0,017 0,001 0,008 0,009 0,0125 0,004 0,016 B028 IFN g 7,749 0 0,203 0,101 0,005 0,047 0,053 0,074 0,023 0,095 B029 1 1,544 0 0,013 0,002 0 0 0,547 0,018 0,068 0,009 B029 2 1,573 0 0,018 0 0,017 0 0 0 0 0,004 B029 Média 1,5585 0 0,0155 0,001 0 0 0 0 0 0,004 B029 IFN g 9,141 0 0,090 0,005 0 0 0 0 0 0,023 B030 1 2,806 0,134 0,407 0,099 0,032 0 0 0 0,028 0 B030 B030 2 Média 2,826 2,816 0 0 0,442 0,4245 0,135 0,117 0,047 0,0395 0 0 0 0 0 0 0,008 0,008 0 0 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B031 1 2,452 0,027 0,201 0,067 0,062 0 0 0 0,008 0,008 B031 2 2,21 0,006 0,223 0,078 0,068 0 0,036 0,03 0 0,009 B031 Média 2,331 0,006 0,212 0,0725 0,065 0 0 0 0 0,0085 B031 IFN g 13,67 0,035 1,243 0,425 0,381 0 0 0 0 0,049 B032 1 0,835 0,065 0,106 0,062 0,034 0,089 0,036 0,023 0 0,102 B032 2 0,775 1,037 0,105 0,023 0,093 0,111 0 0,003 0 0,099 B032 Média 0,805 0,065 0,1055 0,023 0,034 0,1 0 0,003 0 0,1005 B032 IFN g 4,722 0,381 0,618 0,134 0,199 0,586 0 0,017 0 0,589 B0034 B0034 B0034 B0034 1 2 Média IFN g 0,282 0,306 0,294 1,810 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,13 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 CP B0035 1 1,124 B0035 2 1,147 B0035 B0035 B0036 B0036 Média IFN g 1 2 1,1355 6,994 2,276 2,424 B0036 Média 2,35 B0036 B0037 B0037 B0037 B0037 IFN g 1 2 Média IFN g 14,47 1,031 0,945 0,988 6,085 118 0,546 0,873 0,887 1,012 0,577 0,662 0,660 0,924 0,882 B030 IFN g 16,52 0 2,490 0,686 0,231 0 0 0 0,046 0 CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 0 0,363 0,056 0,018 0,001 0 0 0 0 0 0,38 0,056 0,054 0 0 0 0 0 0 0,3715 0,056 0,018 0 0 0 0 0 0 2,288 0,344 0,110 0 0 0 0 0 CP CN PPD MLSA MLCwA POOL 1 POOL 2 POOL 3 POOL 4 P69 B0038 1 0,63 0 1,981 0,341 0,442 0 0 0,001 0,005 0,017 B0038 2 0,609 0,192 1,943 0,377 0,478 0 0 0,009 0,008 0,015 B0038 B0038 Média IFN g 0,6195 3,755 0 0 1,962 11,895 0,359 2,176 0,46 2,788 0 0 0 0 0,001 0,006 0,0065 0,039 0,016 0,097 0 0,324 0 xx 0 0 0 0 xx 0,213 0,043 0 0 0 0 0 0 0 0 0,043 0 0 0 0 0 0 0 0 0,264 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 B0039 B0039 1 2 1,43 1,39 0,005 0 0,167 0,165 0,031 0,019 0,022 0,047 0,001 0,697 0,026 0,022 0,012 0,052 0,004 0,007 0,014 0,16 B0039 Média 1,41 0 0,166 0,025 0,022 0,001 0,024 0,012 0,0055 0,014 B0039 B0040 B0040 B0040 B0040 IFN g 1 2 Média IFN g 8,548 1,412 1,355 1,3835 8,387 0 0,007 0,006 0,0065 0,039 1,006 0,17 0,171 0,1705 1,033 0,15 0,033 0,033 0,033 0,200 0,133 0,042 0,06 0,051 0,309 0,006 0,004 0,029 0,004 0,024 0,145 0,01 0,016 0,013 0,078 0,072 0 0 0 0 0,033 0 0,003 0,0015 0,009 0,08 0,011 0,016 0,0135 0,081 119 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7.5 - Anexo 4: Tabela com os resultados da análise de citômetria de fluxo que definiu o fenótipo da células T responsável pela produção de IFN-γγ em resposta aos peptídeos sintéticos. CD4 CD8 Ag TN CD69 CD69 IFNγ IFNγ ΤΝ NS 6 S 0.1 0.03 31 S 0.64 0.09 7 Iso 0.04 0.04 32 Iso 0.04 0.14 SEB 8 S 27.56 2.98 33 S 29.52 3.54 9 Iso 0.45 0.09 34 Iso 0.03 0.13 Mix 10 S 9.72 0.94 35 S 15.64 1.82 11 Iso 0.22 0.03 36 Iso 0.39 0.25 p51 12 S 5.23 0.44 37 S 12.89 2.64 13 Iso 0.22 0.04 38 Iso 0.02 0.09 P52 14 S 1.99 0.21 39 S 4.55 0.77 15 Iso 0.01 0.15 40 Iso 0.39 0.25 P61 16 S 1.59 0.1 41 S 4.74 0.88 17 Iso 0.01 0.03 42 Iso 0.01 0.05 P59 18 S 4.19 0.31 43 S 5.17 0.79 19 Iso 0 0.03 44 Iso 0.03 0.12 P69 20 S 4.52 0.38 45 S 4.5 0.97 21 Iso 0.01 0.05 46 Iso 0.1 0.06 P65 22 S 5.7 0.42 47 S 3.9 0.71 23 Iso 0.02 0.02 48 Iso 0.11 0.11 PPD 24 S 2.33 0.09 25 Iso 0 0.04 NS= Não estimulado, S = Marcado com anticorpo específico, I = Controle de isotipo, TN = Número dos tubos -p65 (decapentâmero) contém p69 (nanômetro) -p59 (decapentâmero) contém p61 (nanômetro) -p51 (decapentâmero) contém p52 (nanômetro) 120 7.6 - Tabela com a listagem dos peptídeos sintéticos específicos de M. leprae utilizados para avaliar a produção de IFN-γγ nas culturas de PBMC e sangue total. 121 7.7 – ARTIGO 1 122 7.8 – ARTIGO 2 123