INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS/ESCS/SES/DF CONVULSÕES Liana de Medeiros Machado Coordenação: Elisa de Carvalho, Paulo R. Margotto INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES HISTÓRIA CLÍNICA Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES PACIENTE • IDENTIFICAÇÃO - M.E.A.L., sexo feminino, 10 meses, natural, procedente e residente em São Sebastião – DF. • QUEIXA PRINCIPAL – “Molinha e diarréia há 1 dia da internação” Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES PACIENTE • HDA - 05 episódios de fezes líquidas, com odor fétido e muco, sem sangue. - Chorosa e irritada durante a noite, com temperatura de 37,5°C. Fez uso de Paracetamol, 8 gotas. - Pela manhã, a mãe encontrou a criança hipoativa, com o olhar fixo, sem tremores. - Hospital de São Sebastião: tremores de difícil controle, com liberação esfincteriana e olhar fixo. - No transporte: crise tônico-clônica generalizada. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES PACIENTE • HDA - Feito 03 doses de Diazepam(0,06ml/kg), Hidantal (20mg/kg/dose), Fenobarbital (15mg/kg/dose) e manitol (2ml/kg), com controle parcial. - Na chegada: hipotônica, taquicárdica, não responsiva, febril (38°C) e hidratada. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES ANTECEDENTES FISIOLÓGICOS - G2P2A0, 03 consultas pré-natal. - Gestação: ITU. - Parto: normal. Lactente a termo. - Peso: 3095, comp.: 48,5, PC: 35 - Desenvolvimento neuropsicomotor: Sentou com 6 meses, já engatinha, anda com apoio, sorri, brinca, segura objetos. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES ANTECEDENTES PATOLÓGICOS - Nega crise convulsiva anterior. - Nega internação, cirurgia ou tranfusão. - Vacinação: em dia. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES ANTECEDENTES FAMILIARES - Mãe, 22 anos, saudável. - Pai, 28 anos, saudável. - Irmão, 3 anos, sopro no coração. - Tia paterna com epilepsia. - Tia paterna com neoplasia de pulmão. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES EXAME FÍSICO Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES EXAME FÍSICO •Peso: 8 kg FC:140bpm FR:34ipm •Estado Geral: REG, normocorada, anictérica, acianótica, hidratada, eupnéica, afebril. •Aparelho respiratório: roncos de transmissão. •Aparelho cardiovascular: taquicardia. •Abdome: N.D.N. •Extremidades: perfundidas, sem edema ou tremores. •SNC: reativa a estímulos, sem tremores, pupilas isocóricas e fotorreagentes, sem hipotonia. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES EXAMES Manhã •Gasometria •pH:7,4 •pCO2:26 •pO2:191 •Hb:8,4 •O2:99 •Na: 149 •K: 4,1 •Ca: 1,73 •Cl: 110 •HCO3: 18,8 Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES EXAMES •Exame de sangue •Hem: 4,26 •Hgb: 9,2 •Hct: 28,4 •Leuc:6700 (seg:73/bast:01/linf:25/mono:01 eos:00/bas:00) •VHS: 5 •Glicose: 228 Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES EVOLUÇÃO • Nova crise convulsiva presumida, com cianose, movimentos tônico-clônicos de membros superiores e “ língua enrolada”. • Sala de emergência: O2 sob cateter, satO2: 98%, pupilas isocóricas e fotorreagentes, acianótica. • Solicitada punção lombar. •LCR: Leuc:0/mm3, Hem: 60/mm3, Cl: 118, Glicose: 83, Prot: 38. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES EXAME FÍSICO •Realizado EEG: normal •TC de crânio: marcada. •Não apresentou mais crises convulsivas. •Em uso de Fenobarbital 5 mg/kg/dia e Hidantal 5 mg/kg/dia. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CRISE CONVULSIVA NA CRIANÇA Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES DEFINIÇÕES • Convulsão : disfunção neurológica aguda, autolimitada e involuntária, secundária à descarga elétrica neuronal anormal do SNC. Pode ser desencadeada espontaneamente ou por situações como febre, distúrbios hidroeletrolíticos, intoxicações exógenas, etc. Pode ser caracterizada por fenômeno motor (tônico e/ou clônico), sensorial, autonômico e psíquico. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES DEFINIÇÕES •Epilepsia : condição onde duas ou mais crises convulsivas não provocadas se repetem, em um intervalo maior do que 24 horas. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES DEFINIÇÕES •Estado de mal epiléptico: atividade convulsiva com duração superior a 30 minutos, ou duas ou mais crises subseqüentes, sem recuperação da consciência entre os episódios neste período de tempo. •Convulsão febril: crise convulsiva na vigência de febre em criança entre três meses e cinco anos, sem história prévia de convulsão afebril e na ausência de infecção do SNC ou outra causa definida. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CLASSIFICAÇÃO •PARCIAL ou FOCAL: crises que têm origem localizada •Simples (sem perda da consciência) •Complexa (com perda da consciência) •Crises parciais evoluindo para crises generalizadas secundariamente. •GENERALIZADA: atividade generalizada bilaterais, simétricas, atípicas, com perda da consciência •CRISES NÃO CLASSIFICADAS Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CLASSIFICAÇÃO •PARCIAIS ou FOCAIS A. Crises parciais simples 1- Com sintomas motores 2- Com sintomas sensoriais 3- Com sintomas autonômicos 4- Com sinais psíquicos. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CLASSIFICAÇÃO •PARCIAIS ou FOCAIS B. Crises parciais complexas 1- Começa como parcial simples e progride com perda da consciência 2- Com alteração do estado de consciência desde o início C. Crises parciais secundariamente generalizadas. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CLASSIFICAÇÃO •GENERALIZADAS A. 1- Crise de ausência 2- Crise de ausência atípica B. Crises mioclônicas C. Crises clônicas D. Crises tônicas E. Crises tônico-clônicas F. Crises atônicas Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES ETIOLOGIA •Idiopáticas: geneticamente determinadas. •Criptogênicas: quando se supõem uma causa, mas não a encontramos nos exames complementares. •Sintomática aguda: infecções do SNC, toxinas, distúrbios metabólicos, TCE. •Sintomática remota: seqüela de eventos vasculares, traumáticos, infecciosos ou congênitos. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES DIANÓSTICO DIFERENCIAL •Síncopes de natureza cardíaca ou vasovagal; •Vertigem paroxística benigna; •Dores abdominais recorrentes; •Síncopes desencadeadas por vários fatores, como dor ou emoção; •Algumas manifestações que ocorrem durante o sono. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES DIANÓSTICO DIFERENCIAL •Obs: Nem toda perda de consciência significa convulsão complexa ou generalizada, e nem todo episódio de perda de consciência em pacientes epilépticos são crises convulsivas. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CRISES CONVULSIVAS EM NEONATOS Estima-se que ocorra em 2:1000 nascidos vivos. A taxa é maior quanto mais baixo peso e em prematuros. Mais frequente na primeira semana de vida, sendo que a maioria ocorre nos primeiros dias. CONVULSÕES NO RN Autor (s): Paulo R. Margotto Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CRISES CONVULSIVAS EM NEONATOS São menos freqüentemente de causa idiopática. As causas incluem: • Hemorragia intracraniana, • Erros metabólicos (erros inatos do metabolismo, deficiência de piridoxina, hipocalcemia, hipoglicemia, ou hipo – hipernatremia), • Infeccção intracraniana, • Anormalidades do desenvolvimento cerebral ou • Síndrome epiléptica neonatal. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CRISES CONVULSIVAS EM NEONATOS Podem ser: •A. FOCAIS: restrita a um grupo muscular da face ou extremidades. •B. MULTIFOCAIS: movimentos clônicos envolvendo vários grupos musculares em série ou simultaneamente. •C. TÔNICAS: com rigidez e hipertonia de tronco e extremidades, geralmente com desvio do olhar. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CRISES CONVULSIVAS EM NEONATOS •D. MIOCLÔNICAS: contrações súbitas como por um choque elétrico, geralmente em membros. •E. SUTIS: com manifestações como olhar fixo, desvios horizontais conjugados, tremores finos, desvios rítmicos do olhar ou nistagmo, piscar persistente, movimentos mastigatórios ou de sucção, salivação, movimentos de pedalar. •Apnéia pode ser a única manifestação ou se associar às outras. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES AVALIAÇÃO CLÍNICA DA CRISE CONVULSIVA Se paciente epiléptico: •Indagar sobre medicamentos usados e dose: se dentro do contexto clínico, ajustar dose e/ou dosar nível sérico. •Indagar sobre intercorrências, como vômito, diarréia, febre, infecção, jejum prolongado: se dentro do contexto clínico, rastrear infecção e distúrbio metabólico (glicemia, sódio, potássio, cálcio, fósforo e magnésio). Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES AVALIAÇÃO CLÍNICA DA CRISE CONVULSIVA Se primeira crise convulsiva afebril: • Indagar sobre: - Intoxicação exógena (simpaticomiméticos, álcool, ADT, anti-histamínicos, atropina, metais pesados, opiáceos) - TCE Distúrbio metabólico (vômito, diarréia, desidratação) - História sugestiva p/ processo expansivo (cefaléia e vômito progressivo, déficits neurológicos focais) * História familiar de epilepsia Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES AVALIAÇÃO CLÍNICA DA CRISE CONVULSIVA •Se convulsão febril: - Após a recuperação, procurar foco infeccioso de acordo c/ a clínica; - Afastar distúrbio metabólico, se necessário; Obs: a punção lombar está indicada se suspeita-se de meningoencefalite e, sempre, nos menores de 12 meses, onde rigidez de nuca e fontanela abaulada podem não estar presentes. - A história familiar ou pessoal de convulsão febril e o BEG da criança após a crise são fatores que reforçam o diagnóstico de convulsão febril. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES DIAGÓSTICO → Clínico - descrição da crise - fatores desencadeantes → Laboratorial - suspeita de distúrbio metabólico - dosagens sanguíneas - suspeita de meningite: LCR → Exames - EEG, Vídeo EEG e neuroimagem Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES TRATAMENTO • Na emergência: - Manter vias aéreas pérvias; - Acesso venoso para medicação e coleta de exames; - Monitorar sinais vitais; - Corrigir hipertermia, se existir; - Realizar HC, glicemia e eletrólitos; - Diazepam 0,3 mg/Kg , EV, ou 0,5 mg/Kg retal (máx. 20 mg) Tempo p/ ação : 3 a 10 min. - Infundir 2-4mL/Kg de glicose 10% , se hipoglicemia - Repetir Diazepam nas doses acima após 20 min. do primeiro. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES TRATAMENTO - Fenitoína 15-20mg/Kg , EV, diluída em SF 0,9%. Tempo p/ ação : 5-30 min. Iniciar 12h após, dose de manutenção de 5-7,5mg/Kg/dia , 12/12h. - Midazolam 0,1- 0,2mg/Kg em bolus; infusão contínua de 1-3 microgramas/Kg/min. - Se o estado de mal durar mais do que uma hora, podese iniciar Manitol 0,25- 0,5g/Kg/dose de 4/4 a 6/6h. - Piridoxina 100mg , EV, nos menores de 2 anos. - Outras possibilidades terapêuticas: Fenobarbital, Pentobarbital, Lidocaína, Propofol. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES TRATAMENTO - Na falha de todos esses medicamentos, anestesia geral : Tiopental ou halotano sob ventilação com bloqueador neuromuscular, se necessário. Nesta fase, UTI e EEG são mandatórios. - Realizar avaliação neurológica. - Investigar etiologia, infecção. - Realizar exames como EEG, TC, RM, LCR, etc. Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CONVULSÃO FEBRIL •3% de todas as crianças; •Entre 3 meses e 5 anos de idade; •Febre sem infecção intracraniana; •Excluídas crianças que já tiveram crises afebris. Recorrência em 40% dos casos – fatores de risco: - Idade menor de 15 meses, - anormalidades prévias - Parentes de primeiro grau epilépticos, no DNPM, - 1ª crise complexa, - hist. familiar de - Repetição da crise em 24h., convulsão afebril. - Livre de epilepsia – 95% - Epilepsia – 2a7% Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CONVULSÃO FEBRIL •Formas de apresentação: CF simples - Sempre generalizada - Menos de 15 min. de duração - Não recorrem em 24h - Não deixam alteração neurológica pós-ictal CF complexa - Parcial ou generalizada - Mais de 15 min. de duração - Recorrentes em 24h - Deixa anormalidade pós-ictal Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES CONVULSÃO FEBRIL •Tratamento: - rápida da temperatura, - Diazepam retal, - Tratamento intermitente c/ Diazepam retal ou oral, ao primeiro sinal de febre (?) - Tratamento intermitente c/ outros benzodiazepínicos (?) - Tratamento crônico c/ Fenobarbital ou Acido Valpróico (?) Liana de Medeiros Machado INTERNATO EM PEDIATRIA – HRAS CONVULSÕES OBRIGADA! Liana de Medeiros Machado