Metabolismo de lipídeos II Bioquímica para Enfermagem – Bloco III Prof. Olavo Amaral Junho de 2010 Lipídeos Na última aula... - Lipídeos são moléculas hidrofóbicas com diversas funções. - Representam a maior reserva energética do corpo. Ácidos graxos - Ácidos carboxílicos com cadeias longas de carbonos Grande cadeia apolar! Triglicerídeos - 3 ácidos graxos ligados por uma molécula de glicerol. TRIACILGLICEROL 3 ácidos graxos Glicerol Tecido Adiposo Principais funções : Reserva de energia na forma de triacilglicerol. Isolante térmico. Amortecedor de choques mecânicos. Função endócrina: síntese substâncias como hormônios citocinas. de e Hidrólise de triglicerídios A hidrólise dos Triacilgliceróis: - Mobilização dos ácidos graxos armazenados deve ocorrer no jejum. - Neste caso, entra em ação a lipase sensível a hormônios, ativada por glucagon e epinefrina através da PKA. β-oxidação - Um ácido graxo é quebrado em múltiplos acetil-CoA, gerando equivalentes redutores (NADH, FADH2) - Acetil-CoA pode entrar no ciclo de Krebs e ser oxidado a CO2 e gerando mais energia. Mas.. De onde vêm os ácidos graxos? Origem dos ácidos graxos - Dieta com transporte para os tecidos. Origem dos ácidos graxos Origem dos ácidos graxos - O que acontece com carboidratos e proteínas quando consumidos em excesso? Origem dos ácidos graxos - O que acontece com carboidratos e proteínas quando consumidos em excesso? = Origem dos ácidos graxos - O que acontece com carboidratos e proteínas quando consumidos em excesso? Reserva G kJ Triacilgliceróis (tecido adiposo) 9000 337000 Glicogênio (fígado) 90 1500 Gicogênio (músculo) 350 6000 Glicose (sangue e outros líquidos 20 320 extracelulares) Proteína (músculo principalmente) 8800 150000 Dias em jejum 34 0,15 0,6 0,03 14,8 Origem dos ácidos graxos - Precisamos ter uma forma de sintetizar ácidos graxos a partir de outros precursores, como carboidratos. Origem dos ácidos graxos - Precisamos ter uma forma de sintetizar ácidos graxos a partir de outros precursores, como carboidratos. TRIACILGLICEROL Origem dos ácidos graxos - Qual pode ser o intermediário? Origem dos ácidos graxos - Qual pode ser o intermediário? Origem dos ácidos graxos - Glicose forma acetil-CoA a partir da glicólise e da reação da piruvato desidrogenase Origem dos ácidos graxos - Aminoácidos formam acetil-CoA a partir da perda do grupo amina e da modificação da cadeia carbonada. Síntese de ácidos graxos - Onde e quando ocorre? Síntese de ácidos graxos - Onde e quando ocorre? Fígado Estado alimentado Tecido Adiposo Glândula Mamária Síntese de ácidos graxos - Fígado capta glicose em excesso através da hexoquinase-IV. - Glicólise está ativada pela relação insulina/glucagon e ATP/ADP. Síntese de ácidos graxos - Como sintetizar ácidos graxos a partir de acetil-CoA? Síntese de ácidos graxos Problema 1. - Acetil-CoA é sintetizado na mitocôndria. - Síntese de ácidos graxos ocorre no citosol. - Como tirar o acetil-CoA da mitocôndria? Síntese de ácidos graxos - Acetil-CoA é conjugado ao oxaloacetato e convertido em citrato, que é transportado para fora da mitocôndria. - Oxaloacetato retorna à mitocôndria como malato/piruvato. Gasto de ATP! Síntese de ácidos graxos - Qual o próximo passo? Síntese de ácidos graxos - Transformação de acetil-CoA em malonil-CoA através da acetil-CoA carboxilase. Gasto de ATP! Síntese de ácidos graxos - Depende de biotina como cofator. Síntese de ácidos graxos - Após a formação do malonil-CoA, todo o resto da síntese ocorre a partir de um único complexo multienzimático, a ácido graxo sintase. Síntese de ácidos graxos - Malonil-CoA é conjugado a um acil-CoA, gerando CO2 e água e oxidando NADPH em NADP+. Síntese de ácidos graxos - Repetindo o processo várias vezes, vamos formando ácidos graxos maiores. Síntese de ácidos graxos - Repetindo o processo várias vezes, vamos formando ácidos graxos maiores. OK, temos ácidos graxos - O que fazer com eles? OK, temos ácidos graxos - O que fazer com eles? TRIACILGLICEROL 3 ácidos graxos Glicerol Síntese de triglicerídeos Substratos: - Glicerol-3-fosfato - Ácidos graxos TRIACILGLICEROL 3 ácidos graxos Glicerol De onde vem o glicerol? De onde vem o glicerol? DHAP De onde vem o glicerol? - Glicerol-3-fosfato vem do DHAP (intermediário da glicólise) ou do glicerol derivado da hidrólise de triglicerídeos. Síntese de triglicerídeos - Ácidos graxos são convertidos em acil-CoA, consumindo ATP. - Glicerol-3-fosfato + 2 acil-CoA formam ácido fosfatídico através da ação da acil-transferase. Síntese de triglicerídeos - Adição de mais um acil-CoA forma triacilglicerol. Síntese de triglicerídeos - Onde ocorre? Regulação da síntese Quando vamos querer sintetizar? Voltando aos ácidos graxos... Quando vamos querer sintetizar? Estado alimentado Regulação da síntese O que sinaliza o estado alimentado? Regulação da síntese O que sinaliza o estado alimentado? - Disponibilidade de substrato (e.g. acetil-CoA) - Disponibilidade de ATP - Relação insulina/glucagon Regulação da síntese - Passo chave da regulação: acetil-CoA carboxilase (transforma acetil-CoA em malonil-CoA). Regulação da síntese - Regulação da síntese está integrada com a regulação da degradação, de forma a prevenir “ciclos fúteis”. Uma pergunta... - Síntese de ácidos graxos usa NADPH como equivalente redutor. - De onde vem o NADPH? Uma pergunta... - Síntese de ácidos graxos usa NADPH como equivalente redutor. Uma pergunta... - Como o NADP+ é transformado de volta em NADPH? Mas…. De onde vem o NADPH? Via das Pentoses-Fosfato Mas…. De onde vem o NADPH? Via das Pentoses-Fosfato Ciclo das pentoses fostato - Via alternativa para a oxidação de glicose 6-fosfato Ciclo das pentoses Glicólise Ciclo das pentoses fostato Ramo oxidativo da via das pentoses - A partir de glicose 6-fosfato, produz ribose-5-fosfato e CO2, reduzindo 2 NADP+ a NADPH. - Tal processo é chamado de fase oxidativa do ciclo. Ciclo das pentoses fostato - A partir de glicose 6-fosfato, produz ribose-5-fosfato e CO2, reduzindo 2 NADP+ a NADPH. Ciclo das pentoses fostato Ramo oxidativo da via das pentoses - Para onde vai o NADPH? Ciclo das pentoses fostato Ramo oxidativo da via das pentoses 1. Síntese de ácidos graxos Ciclo das pentoses fostato Ramo oxidativo da via das pentoses 2. Redução da glutationa, um importante mecanismo de defesa antioxidante das células. Ciclo das pentoses fostato Ramo oxidativo da via das pentoses - Glutationa é capaz de de converter H2O2 em H2O, oxidando-se no processo e sendo regenerada pelo NADPH. Ciclo das pentoses fostato Ramo oxidativo da via das pentoses - Para onde vai a ribose-5-P? Ciclo das pentoses fostato Ramo oxidativo da via das pentoses - Para onde vai a ribose-5-P? Ciclo das pentoses fostato Ramo oxidativo da via das pentoses - Para onde vai a ribose-5-P? RNA DNA Ácidos nucléicos! Mas... - Algumas células precisam de muito NADPH (fígado, tecido adiposo, eritrócitos). - Outras células precisam de muita ribose (medula óssea, pele, mucosa intestinal) Mas... - Como fazer só um dos produtos? Mas... - Como fazer só um dos produtos? - Fase não-oxidativa! Fase não-oxidativa - Transforma duas pentoses (5 carbonos) em compostos de 6 e 3 carbonos que podem entrar na glicólise. - Também pode agir ao contrário (i.e. transformar compostos da glicólise em pentoses). Moral da história - Regulando as duas fases do ciclo das pentoses, podemos gerar apenas NADPH, apenas ribose, ou ambos. Regulação do ciclo - Relação NADPH/NADP+ regula fase oxidativa. - Concentração de ribose-5-P e glicose-6-P regulam fase não-oxidativa. - Assim, vamos produzir o que estiver faltando! OK? E os outros lipídeos? Fosfolipídeos Esfingolipídeos Esteróides E os outros lipídeos? Fosfolipídeos Esfingolipídeos Esteróides Metabolismo de colesterol, lipoproteínas e a formação da placa de ateroma Para que serve o colesterol? Para que serve o colesterol? - Componente de membranas biológicas - Formação de hormônios esteróides, ácidos biliares e vitaminas lipossolúveis De onde vem o colesterol? De onde vem o colesterol? - Dieta - Síntese endógena Como sintetizar o colesterol? Como sintetizar o colesterol? - Apesar de ser uma molécula complicada (27 carbonos!), todo o colesterol pode ser sintetizado a partir de acetilCoA! Síntese de colesterol 1. Síntese de mevalonato a partir de acetil-CoA Etapa comprometida da síntese (até o HMG-CoA, pode ir para corpos cetônicos) Síntese de colesterol 2. Conversão do mevalonato em isoprenos Síntese de colesterol 3. Síntese do esqualeno Síntese de colesterol 4. Conversão do esqualeno em colesterol Em resumo... Mas... - Nosso foco é a regulação! Mas... - Nosso foco é a regulação! Regulação da síntese de colesterol - HMG-CoA redutase (passo comprometido) é estimulada por insulina, e inibida por glucagon e colesterol. - Esta é a enzima inibida pela maior parte dos fármacos usados para diminuir o colesterol sanguíneo. OK, mas... - Então por que o colesterol tem uma fama tão má? Aterosclerose Aorta com placas de ateroma Coronária obstruída Aterosclerose - Deposição de lipídeos e outros materiais na parede dos vasos. - Sintomatologia crônica (e.g. angina, claudicação) por diminuição da luz dos vasos - Obstrução aguda (e.g. infarto, AVC), normalmente por trombose/embolia associada. Evidência epidemiológica Goldstein e Brown, Science, 2006 Aterosclerose - Como o colesterol circulante causa a formação da placa de ateroma? Aterosclerose - Como o colesterol circula? Transporte de lipídeos - Sendo insolúveis em água, lipídeos não podem ser transportados livremente no sangue. Transporte de lipídeos - Proteínas específicas estão envolvidas no transporte de lipídeos. Transporte de lipídeos - Proteínas específicas estão envolvidas no transporte de lipídeos. Quilomícrons (transportam lipídeos após a dieta) Albumina (transporta ácidos graxos no jejum) Transporte de lipídeos - Proteínas específicas estão envolvidas no transporte de lipídeos. Quilomícrons (transportam lipídeos após a dieta) Albumina (transporta ácidos graxos no jejum) Lipoproteínas - Conjunto de apolipoproteínas e dos lipídeos carregados por elas.. Lipoproteínas - Quilomícrons são a lipoproteína que leva os lipídeos do intestino para os tecidos que captam os triglicerídeos. E depois? - Remanescentes de quilomícrons, contendo apolipoproteínas, colesterol e alguns triglicerídios remanescentes, são captados pelo fígado. Remanescente Original E depois? - Parte do colesterol será utilizado, por exemplo, para a formação de ácidos biliares. E o excesso? - Fígado sintetiza ácidos graxos e triglicerídeos a partir de nutrientes em excesso da dieta. - Estes triglicerídeos, juntamente com o colesterol vindo dos quilomícrons, é exportado em um segundo tipo de proteína, o VLDL (Very Low Density Lipoprotein) VLDL - Quanto menos lipídeo, menor o tamanho e maior a densidade da lipoproteína. VLDL vs. quilomícrons - Menor tamanho. - Menos TAGs e mais colesterol. - Lipoproteínas diferentes. Quilomícron VLDL Destinos do VLDL - VLDL circula e cede triglicerídeos aos tecidos. - Remanescentes (Intermediate Density Lipoprotein) podem ser recaptados pelo fígado ou se converterem a Low Density Lipoprotein. Original Remanescente LDL - Ex-VLDL depletado de triglicerídeos, rico em colesterol e proteínas. LDL - Popularmente chamado de “colesterol mau”, pois níveis plasmáticos altos estão associados a doenças cardiovasculares. O que o LDL tem de mau? - LDL é internalizado pelos tecidos por endocitose mediada por receptores. O que o LDL tem de mau? - Em algumas circunstâncias (e.g. inflamação crônica), LDL sofre oxidação no plasma e tecidos. O que o LDL tem de mau? - LDL oxidada é captada por receptores de macrófagos, que captam grandes quantidades de colesterol formando “células espumosas” que se depositam nas paredes dos vasos. O que o LDL tem de mau? - Inflamação gerada pelas próprias células espumosas parece ajudar a perpetuar a placa, que passa a tornar-se obstrutiva. O que o LDL tem de mau? - Instabilização e ruptura da placa levam à formação de trombos e obstrução aguda (infarto, AVC, etc.) O que o LDL tem de mau? - Instabilização e ruptura da placa levam à formação de trombos e obstrução aguda (infarto, AVC, etc.) OK, mas quem é o colesterol bom? OK, mas quem é o colesterol bom? - High Density Lipoprotein. - Níveis sanguíneos inversamente relacionados com doença cardiovascular. HDL - Lipoproteína sintetizada no fígado, rica em proteínas e pobre em colesterol. - Capta colesterol dos remanescentes de quilomícrons e triglicerídeos, levando-os de volta ao fígado. HDL - Lipoproteína sintetizada no fígado, rica em proteínas e pobre em colesterol. - Capta colesterol dos remanescentes de quilomícrons/VLDL e dos tecidos periféricos, levando-os de volta ao fígado. HDL - Aparentemente este transporte reverso de colesterol é capaz de diminuir a formação de placas de ateroma. Conclusão Conclusão - “Perfil lipídico” (relação LDL/HDL) é um importante fator de predição de risco cardiovascular. - Perfis lipídicos desfavoráveis devem ser tratados a fim de modificar este risco. OK, chega... - Mais sobre estes assuntos no estudo dirigido!