UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI - CAMPUS DE ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CURSO DE MATEMÁTICA JULIANA MOTERLE TEOREMA DE PITÁGORAS ERECHIM 2010 1 JULIANA MOTERLE TEOREMA DE PITÁGORAS Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso de Matemática, Departamento das Ciências Exatas e da Terra da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. Profª. Orientador (a) Adriane Zago. ERECHIM 2010 2 Dedico o presente trabalho acadêmico a minha mãe e ao meu pai, pessoas maravilhosas que sempre estiveram ao meu lado me ajudando, apoiando e me ensinando a viver a vida com dignidade e honestidade. 3 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar devo agradecer a Deus que em todos os momentos de nossa vida está presente guiando-nos com sua luz divina. Aos meus pais, que compartilharam e alimentaram meus ideais, incentivando-me a prosseguir na jornada e a superar os obstáculos. À minha orientadora, profª. Adriane Zago, pelos conhecimentos e pela sua amigável convivência. 4 “A matemática apresenta invenções tão sutis que poderão servir não só para satisfazer os curiosos como, também para auxiliar as artes e poupar trabalho dos homens”. Descartes 5 RESUMO Ao transmitir determinado conteúdo, o professor é frequentemente questionado sobre qual origem ou finalidade da matéria a ser apresentada. Diante disso, muitos professores não têm conhecimento suficiente para responder tais perguntas feitas pelos alunos e apresentam o conteúdo de uma forma acabada não contextualizando com as suas origens. Neste trabalho tenho como objetivo principal resgatar a história de vida de um dos matemáticos mais famosos da época: Pitágoras, bem como relacionar e analisar a influência das contribuições de Pitágoras ao Ensino de Matemática. O estudo baseia-se em uma análise bibliográfica, onde foram levantados dados de livros, artigos e textos sobre o assunto. Com isso, pode-se dizer que este trabalho contribui para os professores de matemática, orientadores educacionais, alunos e a todos aqueles que acreditam que a matemática pode ser estudada relacionando o contexto histórico que foi produzido. Palavras-chave: Pitágoras. Ensino de Matemática. Relacionar descobertas. 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Símbolo da Escola Pitagórica.............................................................................17 Figura 2: Subdivisão das diagonais de um pentágono.......................................................18 Figura 3: Representação dos números pitagóricos.............................................................20 Figura 4: Representação da pirâmide pitagórica................................................................20 Figura 5: Representação dos números triangulares............................................................21 Figura 6: Modelo da corda de 13 nós.................................................................................23 Figura 7: Demonstração do Teorema de Pitágoras através do Quadrado Chinês..............24 Figura 8: Demonstração do Teorema de Pitágoras através de Bhaskara...........................25 Figura 9: Demonstração do Teorema de Pitágoras através de Triângulos Semelhantes....25 Figura 10: Demonstração do Teorema de Pitágoras através de Triângulos Semelhantes..26 Figura 11: Demonstração do Teorema de Pitágoras através de semicircunferências........27 Figura 12: Esquema da aplicação do Teorema de Pitágoras..............................................28 Figura 13: Triângulo inscrito em uma circunferência........................................................29 Figura 14: Imagem formada por um triângulo e três semicircunferências........................30 Figura 15: Áreas compreendidas entre as lúnulias e os catetos de um triângulo...............30 Figura 16: Modelo de uma escada, onde é aplicado o Teorema de Pitágoras....................31 Figura 17: Esquema da distância de uma escada em relação ao muro...............................32 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 8 2 IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA.......................................... 9 3 HISTÓRIA DA VIDA DE PITÁGORAS.................................................................. 11 4 A ESCOLA PITAGÓRICA........................................................................................ 16 5 DESCOBERTAS E CONTRIBUIÇÕES DE PITÁGORAS PARA MATEMÁTICA.............................................................................................................. 20 5.1 MISTICISMO SOBRE OS NÚMEROS.................................................................... 20 5.2 A DESCOBERTA DOS IRRACIONAIS.................................................................. 22 5.3 ALGUMAS DEMONSTRAÇÕES SOBRE O TOREMA DE PITÁGORAS.......... 23 6 APLICAÇÕES............................................................................................................. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 33 REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 35 8 1 INTRODUÇÃO Estudar a História da Matemática é de extrema importância tanto para nós futuros professores, quanto para os alunos, pois é através dela que podemos estimular os estudantes, fazendo com que realmente compreendam o conteúdo trabalhado e desenvolvam o espírito crítico. Acredita-se que se o professor tem um bom conhecimento sobre a história da matemática, terá melhores condições de entender as dificuldades enfrentadas pelos alunos. Através dela também percebemos que muitas das teorias que conhecemos hoje, resultaram de um longo processo de transformações e quase sempre numa ordem diferente daquela descoberta. Tudo, inclusive o que já nos parece trivial, custou esforço, erros, tentativas, até que um resultado fosse construído. Através da história, desses esforços permanente que se procura retratar. A matemática é um aspecto único do pensamento humano, e sua história difere na essência de todas as outras histórias. Sendo assim, o presente trabalho será um resgate da história, com o objetivo de verificar quais as descobertas de Pitágoras que estão presentes ainda hoje no ensino da Matemática. Na revisão de literatura deste estudo, primeiramente faz-se uma breve contextualização sobre a importância de estudar a história da matemática dentro do processo ensinoaprendizagem. Em um segundo momento é feito uma abordagem sobre a história da vida de Pitágoras, a trajetória de sua vida desde o nascimento até a sua morte. Ainda nesta seção é feito um levantamento de alguns pensamentos ou ditos que Pitágoras e seus discípulos pregavam por toda a Grécia. Logo após comenta-se sobre a Escola Pitagórica, fazendo-se um breve relato sobre as regras que deveriam ser seguidas e seus objetivos. Em seguida são apresentadas algumas contribuições e descobertas que Pitágoras fez em relação à Matemática, como por exemplo, os números irracionais e o Teorema de Pitágoras. E por último é feita uma relação destas descobertas e onde elas são aplicadas no nosso dia a dia. 9 2 IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA É muito comum em uma sala de aula, que o professor ao transmitir um determinado conteúdo, seja questionado pelos alunos em relação à origem daquele tópico da matéria. As perguntas mais frequentes que costumam surgir são: ”quem inventou isso?”; “como e quando surgiu esta idéia?”; “como eles conseguiram chegar a este resultado?”; “quem foi este matemático?”. Diante de perguntas como estas o docente nem sempre tem conhecimento suficiente para responder, ou seja, explicar que ao longo de um grande período passou por inúmeras transformações até chegar ao que conhecemos hoje. Diante de tudo isso, é preciso que o professor tenha domínio do conteúdo e, além disso, tenha conhecimentos sobre a história para não ensinar apenas o “para quê”, mas responder aos “porquês” dentro do processo de ensino. Nobre (1996) ressalta que é através da história que buscamos fundamentação aos conteúdos abordados: À busca das contradições das ciências [...] é que proponho um tratamento diferenciado à transmissão dos conhecimentos, ou seja, que se tente acompanhar o conceito a ser trabalhado a partir de seu desenvolvimento histórico. Desta forma, a educação assume um caminho diferente. Em vez de se ensinar à praticidade dos conteúdos escolares, investe-se na fundamentação deles. Em vez de se ensinar o para quê , ensina-se o porquê das coisas. (NOBRE,1996, p.31). A História da Matemática é de extrema importância, pois é através dela que se pode estimular o espírito crítico dos estudantes, fazendo com que compreendam o conteúdo apresentado. É muito importante lembrar que a História da Matemática, não é apenas uma narração de fatos já acontecidos, ela é muito mais que isso. Para D’Ambrósio (1996), ela não serve apenas para professores e alunos, mas para o público em geral, e a sua importância se revela nos mais diferentes aspectos, tais como: 10 a. Para situar a matemática como uma manifestação cultural de todos os povos em todos os tempos, como a linguagem, os costumes, os valores, as crenças e os hábitos, e como tal diversificada nas suas origens e na sua evolução; b. Para mostrar que a matemática que se estuda nas escolas é uma das muitas formas de matemática desenvolvidas pela humanidade; c. Para destacar que essa matemática teve sua origem nas culturas da Antiguidade mediterrânea e se desenvolveu ao longo da Idade Média e somente a partir do século XVII se organizou como um corpo de conhecimentos, com um estilo próprio; d. E desde então foi incorporada aos sistemas escolares das nações colonizadas e se tornou indispensável em todo o mundo em conseqüência do desenvolvimento científico, tecnológico e econômico. (D’AMDRÓSIO, 1996, p.10). As abordagens históricas feitas em sala de aula com os alunos podem servir como motivação para os estudantes. D’Ambrósio afirma que “torna-se cada vez mais difícil motivar os alunos para uma ciência cristalizada. Não é sem razão que a história vem aparecendo como um elemento motivador de grande importância.” (D’AMBRÓSIO, 1996, p. 31). Além disso, muitos pesquisadores acreditam que se o professor tem um bom conhecimento sobre a História da Matemática, ele terá condições de entender as dificuldades encontradas pelos estudantes e através disso desenvolver estratégias para que o aluno possa superar estas dificuldades. Portanto, na busca pela compreensão da matemática desde o seu início e de uma justificativa para o ensino desta é que se propõe o estudo mais detalhado da sua história, não apenas na tentativa de explicar suas origens, sua evolução ou suas aplicações no cotidiano de nossos alunos, mas a fim de ampliar as concepções de mundo dos alunos, de romper com o que é estático, e assim, possibilitar uma maior interação, ou seja, uma intervenção na sua realidade. Conhecendo a história da matemática percebemos que as teorias que hoje aparecem acabadas e elegantes resultaram sempre de desafios que os matemáticos enfrentaram e que foram desenvolvidas com grande esforço e, quase sempre numa ordem diferente daquela em que são apresentadas após todo o processo de descoberta. 11 3 HISTÓRIA DA VIDA DE PITÁGORAS Místico, filósofo, físico e matemático, Pitágoras de Samos viveu em torno de 530 a.C. e morreu no início do século V a.C. Não há uma história completa da sua vida, obra e pensamentos, pois embora se tenha escrito muito de suas teorias, não há, em nenhuma obra, um relato satisfatório de sua vida. Mas acredita-se que tenha nascido na ilha de Samos. (PEREIRA, 2002). No século anterior ao nascimento de Pitágoras, Samos tornou-se a ilha mais rica do Egeu. Assim Pitágoras teria nascido no começo da idade de ouro da cultura grega antiga. Foi nesta época que começaram a surgir também os primeiros filósofos em Mileto, um deles Anaximandro, que viria a ser professor de Pitágoras. Mas este não foi o único professor que ele teve, Pitágoras primeiro trabalhou com a matemática e a aritmética e, depois, aderiu às práticas milagreiras do filósofo e fabulista Ferécidas. Enquanto Anaximandro era um filósofocientista, Ferécidas era um filósofo-feiticero, nenhum dos dois era matemático. (STRATHERN, 1998). Pitágoras era um dos maiores filósofos da Europa antiga, pouco se sabe sobre a sua juventude, a não ser que conquistou vários prêmios nos Jogos Olímpicos e era filho de um rico comerciante de Samos, Mnesarco. (PROF2000, 2010). Quando chegou a sua idade adulta, não estava satisfeito com os conhecimentos adquiridos em sua cidade natal, então deixou a ilha onde vivia e passou um longo período viajando a procura de novos conhecimentos. Sua peregrinação se estendeu ao Egito, Inostão, Pérsia, Creta e Palestina, em cada um destes lugares citados adquiriu nova sabedoria. (PROF2000, 2010). Quanto à matemática, Pitágoras parece ter aprendido mais nas viagens que fizera ao Egito. Ele aprendeu muito sobre os números e as figuras com as civilizações que estavam a ponto de declinar no Oriente próximo. Strathern em seu livro fala um pouco mais sobre isso: 12 Naquela época, as viagens ao Oriente eram consideradas uma forma de ampliar a mente, não de detoná-la. O Egito era considerado mais culto que a Grécia, e provavelmente devia ser ainda (embora não por muito mais tempo). Diz Aristóteles: “No Egito tiveram início as ciências matemáticas, pois lá a nação dos sacerdotes gozava de tempo livre”. Antes os gregos estiveram ocupados demais lutando uns com os outros para se importarem com as sutilezas do cálculo abstrato. (STRATHERN, 1998, p. 17). Mas em suas viagens não adquiriu apenas conhecimentos matemáticos, foi também uma busca religiosa. Pitágoras era sem dúvida uma grande cabeça que queria absorver tudo. (STRATHERN, 1998, p. 23). Finalmente com quarenta anos, Pitágoras regressa a Samos depois de suas viagens, lá ele encontrou uma recepção hostil da população. Percebendo isso ele concluiu que só seria ouvido se possuísse um grande aparato mitológico e em conseqüência disso partiu novamente para Delos e Creta, a fim de aprender sobre mistérios secretos. (PEREIRA, 2002). Em sua volta Pitágoras ganhou muito respeito e manteve uma áurea de admiração muito grande. Ele afirmava que era através de Apolo que mantinha o domínio sobre a matemática, ou seja, ele poderia transmitir seus conhecimentos através de poderes mágicos, isso fazia com que os jovens despertassem um interesse muito grande em segui-lo. Os pais preocupados com os seus filhos foram se queixar ao tirano de Samos, e este percebendo que Pitágoras poderia ser uma ameaça, resolveu bani-lo da ilha para sempre. Dirigiu-se então, juntamente com sua mãe e um discípulo para Crotona, na Magna Grécia, atual Itália. (PEREIRA, 2002). Segundo Strathern (1998), em Crotona Pitágoras definia-se como filósofo e após tornouse professor de matemática atraindo um grupo muito grande de seguidores que de início reconheceram suas qualidades. Pereira (2002) em seu livro também nos fala um pouco mais sobre a sua chegada em Crotona: Crotona estava “madura” para receber Pitágoras, pois havia sido derrotada pelos lócrios e o seu povo possuía o desejo de dominar Síbaris. Em virtude de sua situação após derrotas em brigas internas, estava em situação de completa miséria, buscando, então, nas coisas do espírito e no atletismo esperanças de dias melhores. A cidade estava frágil e vulnerável as idéias como as defendidas por Pitágoras, que pudessem iluminar os crotoniatas com seu evangelho de luz. Crotona já havia ouvido falar sobre a vida austera e os poderes mágicos atribuídos a Pitágoras, que, então, passou a ser olhado como aquele que poderia unir as facções da aristocracia dirigente a fim de ser empreendida a destruição da vizinha cidade de Síbaris. (PEREIRA, 2002, p. 49). 13 Posteriormente Pitágoras teria se casado com Teano, com a qual teve dois filhos e uma filha. Sua esposa teria sido a primeira a escrever a biografia do filósofo. Foi ele o primeiro a usar a palavra filosofia no sentido de expressar aquele que é amigo da sabedoria, também foi ele quem criou a palavra matemática. (STRATHERN, 1998). Foi em Crotona que ele começou a expressar em fórmulas matemáticas as leis da natureza; para ele a matemática era vista de uma forma diferente, conforme afirma Strathern (1998), em seu livro: [...] a matemática era mais que uma busca intelectual; parecia explicar o mundo. A harmonia, a proporção, as propriedades dos números, a beleza da simplicidade e de certas formas ─ tudo isso parecia falar de uma natureza numérica profunda que governava todas as coisas. O que ficou ainda mais evidente nos seus estudos de astronomia. (STRATHERN, 1998, p. 35). A astronomia que aplicamos hoje foi iniciada pelos babilônicos, que conheciam sete planetas, incluindo o sol e a lua e os consideravam de origem divina. Através das descobertas de Anaximandro, Pitágoras concluiu que os planetas produziam uma harmonia celestial, conforme afirma Strathern (1998): O movimento periódico dos corpos celestes reforçou a crença de Pitágoras na matemática. Desde o início, supôs-se naturalmente que a Terra fosse o centro do universo. Anaximandro foi o primeiro a perceber que os planetas estão mais perto da terra que as estrelas, e as observações que fez de seus movimentos convenceram-no de que cada um estava a uma distância diferente da Terra. O que levou Pitágoras a uma importante conclusão. Era como se os planetas e a Terra fossem de certa forma análogos a uma oitava musical. Os planetas (ou esferas, como eram chamados) eram com as sete cordas da lira e produziam uma harmonia celestial que Pitágoras chamou de “música das esferas”. (STRATHERN, 1998, p. 36). Ele acreditava que estes planetas tinham uma velocidade diferente uns dos outros, por isso os mais rápidos teriam uma nota mais alta e os mais lentos a nota mais baixa, estes estariam mais próximos da terra. A música é uma relação numérica se ela soa sem harmonia, é porque a relação entre os números não se encontra numa proporção justa. Concluiu que o movimento dos corpos celestes era cíclico, isso quer dizer que cada um dos corpos retornava ao mesmo lugar que havia saído, assim tudo o que ocorrera uma vez no mundo iria ocorrer novamente. 14 Também acreditava que a esfera era o mais belo dos sólidos e o círculo a forma mais bela. Foi ele quem sugeriu pela primeira vez que a Terra é globo giratório e através das suas observações Pitágoras calculou a ordem dos planetas em distância crescente da Terra: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Com isso ele chegou à conclusão de que tudo pode ser reduzido a formas geométricas, ou seja, tudo funciona de acordo com o número. (STRATHERN, 1998). Como resultado das suas crenças Pitágoras chegou a criar uma religião baseada em números, a qual ele mesmo era o líder, isso ocorreu logo depois dele se tornar professor. Esta religião era baseada em uma crença de que todas as almas haviam ocupado corpos diferentes em vidas passadas, onde cada membro deveria seguir inúmeras regras, como por exemplo, não comer carne de animais, pois acreditava-se que as almas dos mortos poderiam ter se reencarnado nos corpos destes animais. (PEREIRA, 2002). Strathern (1998), em seu livro cita mais algumas das proibições estabelecidas por Pitágoras: Entre as proibições constavam: comer feijão, dar a primeira mordida em pedaço de pão, deixar andorinhas fazerem ninho no próprio telhado, olhar num espelho à luz de vela e, especialmente, comer o próprio cachorro. Ao levantar-se da cama de manhã, o fiel devia desfazer a marca do corpo nos lençóis, e ao tirar a panela do fogo, devia revolver as cinzas para também remover a marca deixada. E muito, muito mais. (STRATHERN, 1998, p. 46). A religião pitagórica seguia muitas regras, mas todas eram de natureza religiosa e não civil, ou seja, fatos ligados a assuntos políticos só podiam ser tratados como um modo religioso de vida. Apesar disso, o pitagorismo passou a ser visto pelos governantes aristocráticos como uma espécie de revolucionários. Depois de trinta anos em Crotona Pitágoras e seus discípulos foram expulsos, isso ocorreu por volta de 500 a.C. Nesta época já tinha cerca de trezentos discípulos que diziam ser seus seguidores. Pitágoras juntamente com seus discípulos seguiram então para Metaponto que era outra cidade-colônia grega. Não muito depois da sua chegada a Metaponto Pitágoras faleceu. Segundo fontes ele teria morrido queimado em um incêndio na casa comunitária onde morava, o mesmo teria sido provocado por manifestantes antipitagóricos, nesta época Pitágoras devia ter em torno de sessenta anos. (STRATHERN, 1998). 15 Segundo texto encontrado no site da wikipédia (2010), Pitágoras tinha alguns pensamentos ou ditos que eram bem conhecidos pelas pessoas que conviviam com ele ou que por algum motivo tiveram contato. Os ditos mais conhecidos da época eram os seguintes: 1. Educai as crianças e não será possível punir os homens. 2. Não é livre quem não obteve domínio sobre si. 3. A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar é aproximar-se de Deus. 4. A vida é como uma sala de espetáculos: entra-se, vê-se e sai-se. 5. A evolução é a Lei da Vida, o Número é a Lei do Universo, a Unidade é a Lei de Deus. 6. Tudo é número. 7. Pensem o que quiserem de ti; faz aquilo que te parece justo. 8. Ajude teus semelhantes a levantar a carga, mas não a carregues. 9. Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer tudo e tudo fazer bem. 10. O que fala semeia; o que escuta recolhe. Através destes pensamentos pode-se ter uma idéia geral de como era o dia-a-dia de Pitágoras, quais eram as crenças ou mitos que acima de tudo ele fazia questão de priorizar. Podemos dizer que Pitágoras representava muito para o povo daquela época, ele era filósofo, astrônomo, matemático, santo, profeta, milagreiro e mágico. Seus seguidores cultivaram suas crenças por quase todo o mundo grego. Em nenhuma outra época a matemática teve um papel tão importante na vida e na religião como tinha entre os pitagóricos. (BOYER, 1996). 16 4 A ESCOLA PITAGÓRICA Fundada em Crotona a escola pitagórica era politicamente conservadora e mantinha um código de conduta muito rígido, ou seja, era uma irmandade estreitamente unida por ritos secretos e cerimônias, nenhum dos seus discípulos jamais violou a regra até mesmo depois da morte de Pitágoras e do fim da escola. Além disso, a escola era totalmente vegetariana, aceitando assim a doutrina da metempsicose, ou seja, transmigração das almas. Todas as proibições estabelecidas por Pitágoras em sua religião na escola eram seguidas com muito rigor. Era uma espécie de escola com caráter duplo, pois dedicava-se a questões espirituais e além disso aos estudos de Matemática, Astronomia e Música. (BOYER, 1996). Os pitagóricos tinham por costume atribuir todas as descobertas ao fundador, por isso hoje é tão difícil saber se foi realmente Pitágoras que fez estas descobertas ou se foram outros membros que na época eram chamados de seus seguidores. (EVES, 1997). Eves (1997), afirma que os pitagóricos em seus estudos, chegaram à conclusão de que “tudo é número”. Eles acreditavam que toda uma série de realidades e fenômenos naturais são traduzíveis por relações numéricas, como por exemplo, os fenômenos musicais, a periodicidade do movimento celeste e os fenômenos da vida, deduzia-se que os elementos dos números eram os elementos da realidade: A filosofia pitagórica baseava-se na suposição de que a causa última das várias características do homem e da matéria são os números inteiros. Isso levava a uma exaltação e ao estudo das propriedades dos números e da aritmética (no sentido de teoria dos números), junto com a geometria, a música e a astronomia, que constituíam as artes liberais básicas do programa de estudos pitagórico. Esse grupo de matérias tornou-se conhecido na Idade Média como quadrivium, ao qual se acrescentava o trivium, formado de gramática, lógica e retórica. Essas sete artes liberais vieram a ser consideradas como a bagagem cultural necessária de uma pessoa educada. (EVES, 1997, p. 97). Para entrar na escola o candidato era submetido a rudes provas, tanto psicológicas como físicas e se fosse aprovado nestes testes era chamado de “acusmático”, ou seja, era 17 obrigado a passar um período de cinco anos de contemplação, guardando perfeito silêncio. O site citado abaixo, nos fala um pouco mais sobre isso: O elemento da fé entrava a tal ponto na sua aprendizagem, que “autos efa”- ele disse- constituía uma destacada feição da Escola; por isso a sua afirmação “Um amigo meu é o meu outro eu” tornou-se um provérbio naquele tempo. O ensino era em grande parte secreto, sendo atribuídos a cada classe e grau de instruções certos estudos e ensinamentos; somente o mérito e a capacidade permitiam a passagem para uma classe superior e para o conhecimento de mistérios mais recônditos. (PROF2000, 2010). Pereira (2002) nos diz que em sua escola ele lutava a favor da aceitação do diferente, as mulheres que eram excluídas das escolas na época, tinham a mesma chance de conseguir uma vaga e, além disso, para conseguir entrar era preciso ter um certo nível de inteligência: [...] somente os que se mostravam capazes de se impor severas privações físicas e de alimentar seu pensamento eram considerados verdadeiros membros da confraria pitagórica. Ter descendência nobre ou exercer funções influentes não fazia com que alguém fosse admirado para as conferências de Pitágoras, pois os candidatos que não apresentassem um mínimo de inteligência, ou condições éticas mínimas, eram excluídos inapelavelmente. Quanto às mulheres, eram admitidas nas mesmas condições que o homem [...]. (PEREIRA, 2002, p. 50-51). O pentagrama, conforme figura 1, era o símbolo da Escola Pitagórica, que segundo Pitágoras possui muitas propriedades interessantes. Figura 1: Símbolo da Escola Pitágoras. Fonte: Wikipedia (2010) 18 Boyer (1996), diz que este pentagrama é obtido traçando as diagonais de um pentágono regular. Através das intersecções dos segmentos da diagonal se obtém um novo pentágono regular, que é proporcional ao original pela razão áurea ou secção áurea: Se começarmos com um polígono regular ABCDE (Fig. 2) e traçarmos as cinco diagonais, essas diagonais se cortam em pontos A’B’C’D’E’, que formam outro pentágono regular. Observando o triângulo BCD’, por exemplo, é semelhante ao triângulo isósceles BCE e observando também os muitos pares de triângulos congruentes no diagrama, não é difícil ver que os pontos A’B’C’D’E’ dividem as diagonais de um modo notável. Cada um deles divide uma diagonal em dois segmentos desiguais, tais que a razão da diagonal toda para o maior é igual à deste para o menor. Essa subdivisão das diagonais é a bem conhecida “secção áurea” de um segmento [...]. (BOYER, 1996, p. 34). Figura 2: Subdivisão das diagonais de um pentágono. Fonte: Boyer (1996) Eves (1997), nos diz sobre o fim da escola: “[...]com o tempo, a influência e as tendências aristocráticas da irmandade tornaram-se tão grandes que forças democráticas do sul da Itália destruíram os prédios da escola fazendo com que a confraria se dispersasse. [...]” , foi neste período que Pitágoras então foi expulso de Crotona e fugiu para Metaponto. Vários nomes que fizeram parte da escola pitagórica, entre eles alguns foram destaque: Filolaus de Tarento que nasceu por volta de c. 470 a.C. e morreu c. 390 a.C.; Arquitas de Tarento, nasceu em 428 a.C. e Hipasus de Metapontum que viveu por volta de 400 a.C.. Alguns séculos mais tarde, a Escola Pitagórica voltou a reviver e seus membros passaram a ser chamados então de neo-pitagóricos, um destes membros que mais se destacou foi Nicômaco de Gerasa, que viveu em torno do ano 100. A existência da Escola Pitagórica se prolongou por cerca de mil anos desde a sua fundação. (DM.UFSCAR, 2010) 19 Uma das grandes contribuições da escola pitagórica à matemática foi organizar algumas partes da geometria das paralelas, por meio do método demonstrativo, ou seja, por meio de teoremas. Mas apesar de sua importância, nenhum escrito sobre a escola pitagórica sobreviveu, as informações que conhecemos vieram de fontes indiretas muito posteriores. 20 5 DESCOBERTAS E CONTRIBUIÇÕES DE PITÁGORAS PARA MATEMÁTICA 5.1 MISTICISMO SOBRE OS NÚMEROS Para Pitágoras o mundo era formado por números, para mostrar isso eles reduziram tudo o que existe a figuras geométricas simples. O número 1 era representado como um ponto, o 2 uma linha, o 3 como uma superfície e o 4 como um sólido. (BOYER, 1996). Em resumo seria o seguinte: Figura 3: Representação dos números pitagóricos. Fonte: Strathern (1998) O mundo se traduz nesses números e em seus múltiplos, ele considerava o 10 como um número sagrado, ou seja, o mais adorado de todos, por ser a soma destes quatro números (1+2+3+4). (BOYER, 1996). Era considerado também como o primeiro exemplo de número perfeito (chamado de tetractis) e podia ser representado por uma pirâmide. Figura 4: Representação da pirâmide pitagórica. Fonte: Strathern (1998) 21 A pirâmide continha todos os números que faziam parte da harmonia fundamental da música, 2:1, 3:2, 4:3, portanto, segundo Strathern (1998), estava ligada à harmonia das esferas. Um outro exemplo de número perfeito, consiste nos números iguais à soma de seus divisores, incluindo o 1, mas excluindo o próprio número (STHATHERN,1998). Por exemplo: 6=1+2+3 28 = 1 + 2 + 4 + 7 + 14 Os outros números perfeitos conhecidos pelos pitagóricos eram o 496 e o 8128. Através dos números perfeitos, Pitágoras descobriu os números amigos que nada mais são do que pares numéricos em que cada número é igual a soma dos fatores de outro. Por exemplo: 220 pode ser dividido por 1, 2, 4, 5, 10, 11, 20, 22, 44, 55 e 110. A soma destes números dá 284, que por sua vez pode ser dividido por 1, 2, 4, 71 e 142, cuja soma dá 220. (STHATHERN, 1998). Sthathern (1998), afirma que além dos números perfeitos e dos números amigos, os pitagóricos também conheciam o número triangular, que consistia no seguinte: 1 1+2+1 1+2+3+2+1 1+2+3+4+3+2+1 1+2+3+4+5+4+3+2+1 = 1² = 2² = 3² = 4² =5² E assim sucessivamente Figura 5: Representação dos números triangulares. Fonte: Stathern (1998) Cada número tinha um significado diferente, por exemplo, o número 1 é o gerador dos números e representava a razão, 2 a opinião, o três era o número da harmonia, sendo composto de unidade e diversidade, 4 a justiça ou o ajuste de contas, 5 era associado ao casamento e também a natureza, porque quando multiplicado por si mesmo dá um resultado que termina em si mesmo, o 6 é o número da criação. (BOYER, 1996). Os números eram divididos em machos e fêmeas, e segundo Strathern (1998), para Pitágoras o primeiro número da numeração a ser considerado era o 3: 22 Os números dividem-se em machos (ímpares) e fêmeas (pares). Essa premissa básica trouxe-lhe, porém, certas dificuldades. O número 1 não poderia ser o primeiro porque realmente não era um número de fato ─ era todo indivisível e, nesse estado indivisível, avesso inteiramente à noção divisional dos números da matemática. Por outro lado, 2 certamente não podia ser o primeiro número, pois era fêmea. O céu proibia. Então Pitágoras decidiu que 3 era o primeiro número real ─ pela engenhosa razão de que era o primeiro número complexo, porque tinha começo, meio e fim. (STRATHERN, 1998, p. 42). Além dos pitagóricos, muitas outras civilizações primitivas também tinham como referência este tipo de numerologia, mas foram os pitagóricos que adotaram com mais seriedade a adoração dos números, chegando até mesmo a mudar seus modos de vida. (BOYER, 1996). 5.2 A DESCOBERTA DOS IRRACIONAIS A descoberta dos números irracionais foi um grande segredo que os pitagóricos da época fizeram questão de manter, pois até o momento eram conhecidos somente os números racionais e acreditava-se que estes eram capazes de explicar tudo, isso é o que Strathern (1998), afirma em seu livro: Outro grande segredo que os pitagóricos fizeram o máximo para preservar foi a descoberta dos números irracionais, como a raiz quadrada de 2, que não podem ser calculados. Significava que toda a estrutura da matemática, baseada em números racionais, simplesmente não podia explicar tudo. A teoria pitagórica nunca conseguiu superar essa devastadora descoberta, o que talvez explique por que os pitagóricos se esforçaram tanto para mantê-la em segredo. (STRATHERN, 1998, p. 54). Segundo a lenda, o pitagórico Hipaso teria sido lançado ao mar por ter revelado a pessoas estranhas o segredo dos irracionais ou segundo outra versão teria sido expulso da comunidade pitagórica e teria sido erguido um túmulo como se ele estivesse morto. (EVES, 1997). Essa descoberta foi uma conseqüência direta do teorema de Pitágoras, pois se um triângulo tem catetos de comprimento 1, sua hipotenusa terá um comprimento x satisfazendo: 23 x² = 1² + 1² → x² = 2, portanto a razão entre a hipotenusa e um cateto não será uma fração entre dois inteiros e sim um número irracional, raiz quadrada de 2. Essa descoberta era inconciliável com a teoria dos números pitagóricos. A matemática da época era sobretudo geometria. Os pitagóricos não podiam imaginar um número, cujo a representação era em forma de uma figura em uma dimensão sem fim. Na época os gregos ainda não conheciam o símbolo da raiz quadrada e diziam simplesmente “o número que multiplicado por si mesmo é 2”. Após algum tempo muitos outros números irracionais foram descobertos por Teodoro da Cirene como por exemplo √3, √5, √6, √7, √8, √10, √11, √12, √13, √14, √15 e √17. (EVES, 1997). 5.3 ALGUMAS DEMONSTRAÇÕES SOBRE O TOREMA DE PITÁGOAS Já é tradição atribuir a Pitágoras a descoberta de seu teorema que diz: Num triângulo retângulo, a área do quadrado construído sobre a hipotenusa é igual à soma das áreas dos quadrados construídos sobre os dois catetos. Mas pesquisas realizadas no campo da História da Matemática indicam que muito antes dos pitagóricos, na Babilônia, no tempo de Hamuradi, já se tinha conhecimento sobre este teorema. (EVES, 1997). Os antigos egípcios utilizavam uma corda com treze nós, de modo a determinar um ângulo reto, com os nós todos com a mesma distância em relação uns com dos outros e o primeiro nó com o décimo terceiro sobreposto. No entanto de acordo com Boyer (1996), acredita-se que a primeira demonstração desta relação foi dada por Pitágoras, no século VI a.C. Figura 6: Modelo da corda de 13 nós. Fonte: Boyer (1996) 24 A importância do Teorema de Pitágoras pode ser sentida nas mais diversas áreas, como por exemplo, em Arquitetura, em Agronomia, em Engenharia, em modelos matemáticos da física e outros. Abaixo são citadas algumas das demonstrações deste teorema. Demonstração 1: (Quadrado Chinês) Esta é considerada uma das demonstrações mais elegantes do Teorema de Pitágoras Figura 7: Demonstração do Teorema de Pitágoras através do Quadrado Chinês. Fonte: Furuya (1998) O primeiro é composto por seis figuras: um quadrado de lado a, um quadrado de lado b e quatro triângulos retângulos de catetos a e b. Se chamarmos de S a área de um desses triângulos e sendo a área total da figura (a + b)², temos: (a + b)² = a² + b² + 4S O segundo quadrado também é composto por quatro triângulos retângulos iguais e de um quadrado de lado c, equivalente à hipotenusa dos triângulos. Logo, neste quadrado temos: (a + b)² = c² + 4S Igualando os segundos membros das duas equações temos: c² + 4S = a² + b² + 4S Cancelando 4S dos dois lados da equação acima resulta: c² = a² + b² 25 Demonstração 2: (Bhaskhara) Esta é uma outra demonstração obtida através da decomposição de um quadrado. Quem fez esta demonstração foi o matemático Bhaskara do século XII. Segundo fontes ele teria apenas desenhado a figura e escrito “Veja!”. Figura 8: Demonstração do Teorema de Pitágoras através de Bhaskara. Fonte: Furuya (1998) O quadrado maior de lado c, é decomposto em quatro cópias do triângulo e mais um pequeno quadrado de lado a – b. Demonstração 3: (Semelhança de Triângulos) Figura 9: Demonstração do Teorema de Pitágoras através de Triângulos Semelhantes. Fonte: Oliveira (2008) 26 Vamos considerar o triângulo acima de catetos b e c e hipotenusa a. A altura AH, relativa a base BC, divide este triângulo em dois outros: BHA e CHA. Como os ângulos agudos de um triângulo retângulo somam 90°, os triângulos retângulos ABC, HBA e HAC, possuem os mesmos ângulos, logo são semelhantes. Figura 10: Demonstração do Teorema de Pitágoras através de Triângulos Semelhantes. Fonte: Oliveira (2008) Como os triângulos ABC e HBA são semelhantes obtemos: BC/BA = BA/BH a/c = c/m c² = ma Como os triângulos ABC e HAC são semelhantes obtemos: BC/AC = AC/HC a/b = b/n b² = na Logo temos: b² + c²= na + ma b² + c²= (n + m) a b² + c²= a. a b² + c²= a² 27 Demonstração 4: (Semicircunferências) Figura 11: Demonstração do Teorema de Pitágoras através de semicircunferências. Fonte: Autor (2010) Seja A1 a área da semicircunferência formada sobre a hipotenusa “a” do triângulo; A2 a área sobre o cateto “b” e A3 sobre o cateto “c”. Aplicando a fórmula da área da circunferência que é: A = π r² e dividindo por dois, pois temos a metade de uma circunferência ficamos com: A1 = ( π a²/4 )/2 A2 = ( π b²/4 )/2 A3 = ( π c²/4 )/2 A1 = π a²/8 A2 = π b²/8 A3 = π c²/8 Para provar a teorema temos que mostrar que A1 = A2 + A3, logo: π a²/8 = π b²/8 + π c²/8 Cancelando π /8 de ambos os lados da igualdade ficamos com: a² = b² + c² Existem inúmeras demonstrações do Teorema de Pitágoras. Em 1940 o americano matemático Elisha Scott Loomis, em seu livro “The Pythagorean Proposition”, publicou cerca de 367 demonstrações. 28 6 APLICAÇÕES Exemplo 1 O Teorema de Pitágoras possui inúmeras aplicações nas diversas áreas de atuação do homem. Por exemplo, a área de transportes que é considerado muito importante para o desenvolvimento do país e o Teorema de Pitágoras está presente no intuito de dinamizar cada vez mais o setor. Vamos considerar a seguinte situação abaixo: Dois navios A e B partem em sentidos diferentes: o primeiro para o norte e o segundo para o leste, o navio A com velocidade constante de 30 Km/h e o navio B com velocidade constante de 40 Km/h. Qual será a distância entre eles após 6 horas? Distância percorrida pelo navio A após 6 horas: D = 30.6 = 180 km Distância percorrida pelo navio B após 6 horas: D = 40.6 = 240 km Veja o esquema, aplicando a Teorema de Pitágoras: Figura 12: Esquema da aplicação do Teorema de Pitágoras. Fonte: Mundoeducacao (2010) Logo a distância entre eles será de 300 km 29 Exemplo 2 Como determinar o raio de uma circunferência circunscrita em um triângulo isósceles de base 8 e altura 10? Na figura a seguir temos o triângulo isósceles ABC de base BC = 8 e altura AM = 10, inscrito em uma circunferência de centro O e raio R. Figura 13: Triângulo inscrito em uma circunferência. Fonte: Oliveira (2008) Como OB = OC = R, o ponto O está na mediatriz de BC, que é a altura AM. Os pontos A, O e M estão alinhados e OM = AM – AO = 10 – R Logo aplicando o Teorema de Pitágoras no triângulo OBM, temos: R² = 4² + (10 – R)² R² = 16 + 100 – 20R + R² 20R = 116 R = 116/20 R = 5,8 Portanto o raio será de 5,8 Exemplo 3: Lunúlias de Hipócrates: 30 Seja dado um triângulo retângulo e três semicircunferências tendo os lados desse triângulo como diâmetro. Conforme a Figura a seguir: Figura 14: Imagem formada por um triângulo e três semicircunferências. Fonte: Mat.ufg (2010) Neste caso, a soma das áreas das duas lúnulas hachuradas na figura é igual à área do triângulo. Seja T a área do triângulo. Sejam P e Q as áreas das lúnulas hachuradas. Sejam U e V as áreas compreendidas entre as lúnulias e os catetos do triângulo, conforme a figura a seguir: Figura 15: áreas compreendidas entre as lúnulias e os catetos do triângulo. Fonte: Mat.ufg (2010) Através da aplicação do Teorema de Pitágoras conclui-se que: a área do semicírculo construído sobre a hipotenusa é igual a soma das áreas dos semicírculos construídos sobre os catetos, então temos: 31 T + U + V = (P + U) + (Q + V), ou seja, T=P+Q A partir de então conclui-se que: a soma das áreas das duas lúnulias é igual à área do triângulo. Exemplo 4: O Teorema de Pitágoras é um dos conteúdos que mais costuma ser mencionado em vestibulares, concursos ou algo deste gênero, por exemplo, problema a seguir foi cobrado na prova do ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio) em 2006, que consistia no seguinte: A figura abaixo, que representa o projeto de uma escada com 5 degraus de mesma altura, o comprimento total do corrimão é igual a: a) 1,8m b) 1,9m c) 2,0m d) 2,1m e) 2,2m Figura 16: Modelo de uma escada, onde é aplicado o Teorema de Pitágoras. Fonte: Enem (2006) Se cada degrau tem 24 cm, o comprimento total em “linha reta” da base do triângulo formado mede: 24 . 5 = 120 cm 32 Aplicando o Teorema de Pitágoras no triângulo formado, para obter a medida da hipotenusa, temos: x² = 90² + 120² x² = 8100 + 14400 x² = 22500 extraindo a raiz quadrada de ambos os lados: x = 150 cm Logo a medida do corrimão é: 150 cm + 30 cm + 30cm = 210 cm Transformando para metros, resulta em 2,1 m Exemplo 5: Uma escada com 6 metros de comprimento, está encostada a um muro com 4,47 metros de altura, de modo que uma das extremidades da escada esta encostada à parte de cima do muro, conforme a figura abaixo. Qual a distância da escada ao muro, medida sobre o chão? Figura 17: Esquema da distância de uma escada em relação ao muro. Fonte: Educ.fc.ul (2010) Aplicando o Teorema de Pitágoras: 6² = (4,47)² + p², logo: p² = 16,0191 Aplicando a raiz quadrada p, vem: p = 4,0024 Portanto a distância da escada ao muro é de 4,0024m 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pitágoras além de ter sido místico, filósofo e matemático, fez descobertas as quais muitas delas ainda hoje estão presentes no ensino da matemática, como por exemplo os números irracionais e o Teorema de Pitágoras. Mas para chegar a certas conclusões muitos estudos e viagens em busca de novos saberes foram realizados. A dificuldade apresentada pelo número irracional deve-se ao fato de que a Matemática, na época, era sobretudo geometria. Utilizando-se sempre de recursos geométricos, os pitagóricos não podiam compreender um número cuja representação em uma figura apresentasse uma dimensão sem fim. Diante desses impasses, o pitagorismo apresentou uma grande flexibilidade de pensamento. Nisto também ele é uma seita diferente das outras, que tendem mais a se fechar em seus dogmas e evitar os problemas não previstos. Desenvolvendo constantemente suas investigações os pitagóricos difundiram suas idéias por toda a Grécia, influenciando todo o pensamento científico e filosófico posterior, que encontraria na Matemática um dos seus modelos preferidos de raciocínio. As idéias de Pitágoras estão muito além do pensamento racional que havia surgido na Jônia. Por outro lado, porém o pitagorismo representa um marco decisivo no desenvolvimento do pensamento racional e científico por ter elevado à condição divina uma das realizações mais racionais do homem: a Matemática. Com os pitagóricos, a Matemática libertou-se da condição de mera técnica que atendia às necessidades práticas de agrimensura, para constituirse em uma ciência pura, ainda que revestida de uma religiosidade. O Teorema de Pitágoras, como podemos analisar é de grande importância na resolução de problemas do dia a dia e, além disso, serve de base para as mais diversas demonstrações de conceitos matemáticos, como Trigonometria e Geometria Analítica. Porém este conteúdo ao longo do tempo tem sido abordado pelos profissionais como simples memorização de fórmulas e aplicações mecânicas, sem promover ao aluno uma aprendizagem significativa, tornando o assunto desmotivado, sem expressar o valor e a relevância que tivera na construção da Matemática. 34 Ao concluir este trabalho pode-se dizer que contextualizar o período histórico de sua construção, conhecer o seu criador, suas idéias, suas demais produções é um fator motivador ao estudo por parte dos alunos. Não basta apenas ensinar ao aluno um determinado conteúdo de uma maneira acabada é preciso mostrar a ele como e quando surgiu esta idéia, para que assim possamos responder os “porquês” dentro do processo ensino aprendizagem. 35 REFERÊNCIAS BOYER, C. História da Matemática. 2. ed. São Paulo: Edgart Blücher, 1996. D’AMBRÓSIO, U. História da Matemática e Educação. Cadernos CEDES – História e Educação Matemática, São Paulo: Papirus, 1996. DM.UFSCAR. Pequena Bibliografia. Disponível em: < www.dm.ufscar.br/hp/hp0/hp0.html>. Acesso em: 18 jan. 2010. EDUC.FC.UL - Aplicações do Teorema - Disponível em: < http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm98/icm14/aplicacoes.htm> Acessado em: 18 jan. 2010. ETAPA-ENEM 2006- Disponível em: <www.etapa.com.br/gabaritos/resolucao_pdf/enem/.../enem2006.pdf > Acessado em: 18 jan. 2010. EVES, H. Introdução à História da Matemática. 2. ed. São Paulo: Unicamp, 1997. FURUYA, Y. K. S. Programa de geração da Árvore de Pitágoras bidimensional. 1998, UFSCar. MAT.UFG. Disponível em: <http://www.mat.ufg.br/docentes/jhcruz/ensino/Pitagoras.htm> Acessado em: 18 jan. 2010. MUNDOEDUCAÇÃO - O Teorema de Pitágoras no Cotidiano. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/matematica/o-teorema-pitagoras-no-cotidiano.htm> Acessado em: 18 jan. 2010. NOBRE, S. Alguns “porquês” na História da Matemática e suas contribuições para a educação matemática. Cadernos CEDES – História e Educação Matemática. São Paulo: Papirus, 1996. OLIVEIRA, J. A. Teorema de Pitágoras. 2008. Disponível em: < http://www.mat.ufmg.br/~espec/monografiasPdf/Monografia_Juliane.pdf> Acessado em: 18 jan.2010. 36 PEREIRA, L. H. F. Teorema de Pitágoras: lembranças e desencontros da matemática. Passo Fundo: UPF, 2002. PROF2000. Quem foi Pitágoras? Disponível <www.prof2000.pt/users/paulap/pitagoras.html> Acesso em 18 jan. 2010. em: STRATHERN, P. Pitágoras e o seu Teorema em 90 minutos. 1. Ed. Rio de Janeiro: J. Z. E, 1998. WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. 2010. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Pit%C3%A1goras>. Acesso em: 18 jan. 2010.