UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento JACOB ELIAS MANCIO ADAPTAÇÕES CURRICULARES PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA PROPOSTAS PELA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO: UM ESTUDO SOBRE SUA IMPLANTAÇÃO Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento. Linha de pesquisa: Políticas e formas de atendimento. Orientador: Prof. Dr. Marcos José da Silveira Mazzotta São Paulo 2005 JACOB ELIAS MANCIO ADAPTAÇÕES CURRICULARES PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA PROPOSTAS PELA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO: UM ESTUDO SOBRE SUA IMPLANTAÇÃO Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento. Linha de pesquisa: Políticas e formas de atendimento. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Marcos José da Silveira Mazzotta Universidade Presbiteriana Mackenzie ________________________________________________________________________ Profª.Drª. Maria Letícia B. P. Nascimento Universidade Presbiteriana Mackenzie __________________________________________________________________________ Profª. Drª. Marieta Lúcia Machado Nicolau Universidade de São Paulo i Este trabalho é dedicado para duas pessoas que conseguiram suportar as minhas angústias e compartilhar das minhas satisfações: Andréa e Fátima, minhas grandes amigas. ii AGRADECIMENTOS A Deus, que sempre nos guia para encontrarmos o melhor caminho e pela presença constante em todos os momentos de nossa vida. Ao meu orientador prof. Dr. Marcos José da Silveira Mazzotta cuja paciência, dedicação e sabedoria me guiaram de forma segura e eficiente durante todo o trabalho. À Professora Reginalice, pela sua compreensão quando precisei ausentar-me de minha função. À direção das E.E. Profª Dinorah Silva Santos e da E.E. Coronel Miguel AbuYaghi, sempre dispostos a nos ajudar a conciliar o trabalho da escola com a pesquisa. À coordenação pedagógica e professores das escolas envolvidas na pesquisa, profissionais que favoreceram o desenvolvimento do estudo. À minha colega de mestrado com a qual compartilhei minhas aflições e sucessos: Márcia Carla. À minha mãe, pelo apoio, compreensão e colaboração pra que pudéssemos atingir mais esse objetivo. Aos amigos da Diretoria de Ensino, que me deram sempre aquela força que as vezes parecia ter perdido. À minha família, que sempre torce por mim. A todos aqueles que de alguma maneira contribuíram para a realização desta dissertação. iii RESUMO O presente estudo sobre adaptações curriculares para alunos com deficiência auditiva propostas pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, pretende contribuir na rede educacional regional para uma ampla reflexão sobre o que seja ensinar alunos com deficiência auditiva. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo analítico-descritiva, realizada por meio de entrevistas com 06 professores de duas escolas públicas estaduais do Ensino Fundamental de cidades diferentes, mas precisamente da Diretoria de Ensino de Registro, situada na Região Sul do estado de São Paulo. Os dados foram coletados nos períodos de março a maio de 2005. Norteia o estudo a hipótese de que através da discussão sobre a necessidade ou não de se adaptar um currículo para alunos com deficiência auditiva, seja ela leve, moderada ou severa, pode-se articular as estratégias que são próprias do ser humano nesta fase de seu desenvolvimento em função da aquisição de conhecimentos dentro da instituição escolar. Para a análise dos dados colhidos nas entrevistas o referencial teórico utilizado foi o oferecido por LÜDKE E ANDRÉ. Analisando os resultados podemos considerar que, o estudo sobre a implantação de adaptações para alunos deficientes auditivos, está acontecendo de forma gradual nas escolas investigadas. Para alguns professores envolvidos na pesquisa, falta ainda no sistema educacional, uma política que venha ao encontro de seus anseios e que atenda a todos, no que diz respeito às capacitações e formação dos professores. Palavras-Chave: Adaptações curriculares Deficiência auditiva Professores iv ABSTRACT The present study on curricular adaptations for pupils with auditory deficiency proposals for the Secretariat of Education of the State of São Paulo, intend to contribute in the regional educational net for an ample reflection on what it is to teach pupils with auditory deficiency. One is about a research of qualitative nature, the analytical-descriptive type, carried through by means of interviews with 06 professors of two state public schools of Basic Education of different cities, but necessarily of the Direction of Education of Registro, situated in the South Region of the state of São Paulo. The data had been collected in the periods of March the May of 2005. The hypothesis of that through the quarrel on the necessity or not of if adapting a resume for pupils with auditory deficiency, either it has led, moderate guides the study or severe, it can be articulated the strategies that are proper of the human being in this phase of its development in function of the acquisition of knowledge inside of the pertaining to school institution. For the analysis of the data harvested in the interviews the used theoretical referential was offered for LÜDKE and ANDRES. Analyzing the results we conclude that, the study on the implantation of adaptations for auditory deficient pupils, it is happening of gradual form in the investigated schools. For some involved professors in the research, it still lacks in the educational system, one politics that comes to the meeting of its yearnings and that it takes care of to all, in that says respect to the qualifications and formation of the professors. Key-words: Curricular adaptations Auditory Deficiency Teachers v SUMÁRIO Dedicatória...................................................................................................................i Agradecimentos..........................................................................................................ii Resumo.......................................................................................................................iii Abstract.......................................................................................................................iv Sumário........................................................................................................................v Relação dos Quadros................................................................................................vi Relação das Tabelas.................................................................................................vii Relação dos Anexos................................................................................................viii Epígrafe...............................................................................................................................................................xi INTRODUÇÃO.............................................................................................................1 CAPÍTULO 1 – COMPREENDENDO A CONCEPÇÃO DE CURRÍCULO...................8 1.1 – O currículo e suas multifacetas.................................................................8 1.2 – O currículo e suas representações...........................................................9 1.3 – O currículo e sua trajetória no Brasil.......................................................10 1.4 – A relação entre currículo, ideologia e cultura..........................................11 1.5 – O currículo e a produção do saber escolar.............................................12 1.6 – Algumas considerações sobre a educação na Espanha e no Brasil......15 1.7 – Sobre currículo o que diz nossa legislação............................................18 1.8 – Adaptações do currículo.........................................................................19 CAPÍTULO 2 – ALUNOS SURDOS E NECESSIDADES ESPECIAIS.......................25 2.1 – Definindo deficiência...............................................................................25 2.2 – Definindo e caracterizando a deficiência auditiva...................................29 2.3 – Alunos com necessidades educacionais especiais................................33 CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................35 3.1 – O universo da pesquisa de campo.........................................................38 3.1.1 – Identificação da Unidade Escolar A..........................................38 3.1.1.1 – Alunado.......................................................................38 3.1.1.2 – Recursos físicos e materiais........................................40 3.1.2 – Identificação da Unidade Escolar B..........................................41 3.1.2.1 - Alunado........................................................................42 3.1.2.2 - Recursos físicos e materiais........................................44 3.2 – A pesquisa de campo.............................................................................45 3.2.1 – Apresentação e descrição dos dados.......................................47 CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................63 vi RELAÇÃO DOS QUADROS QUADRO 1 – Grau de perda auditiva e significado para a educação.......................30 QUADRO 2 – Grau de perda dos alunos da Unidade Escolar A...............................39 QUADRO 3 – Grau de perda dos alunos da Unidade Escolar A...............................43 vii RELAÇÃO DAS TABELAS TABELA 1 – Orientações recebidas para implantação e implementação de adaptações curriculares.............................................................................................47 TABELA 2 – Facilidades levantadas para a efetivação de adaptações curriculares.................................................................................................................50 TABELA 3 – Dificuldades levantadas para a efetivação de adaptações curriculares.................................................................................................................54 TABELA 4 – Observações que os entrevistados consideram importantes para registrar......................................................................................................................56 viii RELAÇÃO DOS ANEXOS ANEXO I – Carta de Informação e Termo de Consentimento Livre ANEXO II - Termo de Autorização para a realização da pesquisa na unidade escolar ANEXO III – Roteiro para entrevista com o professor coordenador pedagógico ANEXO IV – Roteiro para entrevista com o professor da classe regular......71 ANEXO V – Roteiro recursos...................72 para entrevista com o professor da sala de ix A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsálas de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos e, tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso, com antecedência, para a tarefa de renovar um mundo comum. Hannah Arendt INTRODUÇÃO A perspectiva de uma educação para todos constitui um grande desafio, quando a realidade aponta para uma numerosa parcela de excluídos do sistema educacional sem possibilidade de acesso à escolarização, apesar dos esforços empreendidos para a universalização do ensino. Como professor da educação básica, que já se vão 18 anos, um aspecto sempre me incomodou: Como atender os alunos de forma que todos se desenvolvam como cidadãos participativos em uma sociedade extremamente excludente? Iniciei minha profissionalização na educação em escolas da zona rural trabalhando com classes multisseriadas, isto é, classes que possuem alunos de 1ª à 4ª série do ensino fundamental e que infelizmente ainda sobrevivem nos dias de hoje, como resquícios de uma época em que se achava que todos os alunos aprendiam de forma uniforme. Trabalhar com a diversidade, reconhecer que não existem turmas homogêneas, que tanto nós professores quanto os alunos chegamos à escola com saberes, valores, vivências culturais e expectativas profundamente diversificadas, tem representado um problema e um grande desafio a todos nós, professores. Segundo Perrenoud (2000): “Seja qual for o grau de seleção prévia, ensinar é confrontar-se com um grupo heterogêneo” ( do ponto de vista das atitudes, do capital escolar, do capital cultural, dos projetos das personalidades, etc.). Ensinar é ignorar ou reconhecer estas diferenças, sancioná-las ou tentar neutralizá-las, fabricar o sucesso ou o insucesso através da avaliação formal e informal, construir identidades e trajetórias. Porém, regra geral, as didáticas nada dizem sobre as diferenças: falam de um aluno “ médio ” ou de um sujeito epistêmico, desconhecem a dificuldade que há em fazer os alunos gostarem de certas disciplinas.” A falta de experiência colaborou para certas atitudes, que na época tomei como certas e hoje avalio como não tendo ajudado muito para o desenvolvimento dos alunos, como gostaria. Lembro-me que no ano de 1986, lecionava em uma escola rural da cidade de Registro/SP, tinha aproximadamente 22 alunos na sala de aula e no grupo havia uma aluna que aparentemente era deficiente. Esse aspecto já me incomodava, pois queria ajudá-la e não sabia como. Em 1990, na cidade de Bauru/SP, trabalhei numa escola de educação especial, só que dessa vez podia contar com uma equipe multidisciplinar. Nesse sentido, Robins e Finley (1997) destacam que as equipes só dão certo quando seus membros tomam conhecimento das expectativas de outros membros da equipe e do que desejam uns dos outros, o que preferem, em que são diferentes e quando começam a valorizar e a usar essas diferenças. Retornando à minha região de origem, trabalhando em salas de aulas, deparava-me, às vezes, com alunos que apresentavam algum tipo de deficiência. O incômodo ainda perdurava, pois os alunos estavam ali e eu não sabia o que fazer. No ano de 1999, mais uma vez encontrei em meu caminho profissional, alunos com deficiência. Foi quando assumi a função de Professor Coordenador Pedagógico numa escola que possuía uma classe especial para deficientes auditivos contando com nove alunos matriculados. A partir daí, percebi enquanto educador, que não poderia virar as costas para a questão que há tanto me acompanhava. Ciente das dificuldades que encontraria, busquei em livros, revistas, palestras, um alento para a minha angústia. Nos quatro anos em que exerci a função de Professor Coordenador Pedagógico1 nesta instituição escolar, senti a necessidade de buscar suporte teórico para mim e para a professora da classe, no sentido de minimizar o problema. Nessa época não me sentia sozinho, possuía uma companheira para dividirmos nossas dúvidas e angústias. Vale destacar a citação de Perrenoud (2000), quando diz que trabalhar individual ou coletivamente com referências e competências é dar-se os meios de um balanço pessoal e de um projeto de formação realista. Diz ainda que, a autoformação resulta, idealmente de uma prática reflexiva que se deve muito mais a um projeto pessoal ou coletivo do que a uma expectativa explícita da instituição. 1 Posto de trabalho da unidade escolar, criado pela Lei Complementar nº 836, de 30 de dezembro de 1997, cuja função é executar, acompanhar e avaliar as ações previstas no projeto pedagógico da escola. Hoje na função de Assistente Técnico Pedagógico2, junto à diretoria de Ensino de Registro, tenho a responsabilidade e necessidade de dar suporte teórico e pedagógico, subsidiando as escolas que possuem alunos matriculados em classes especiais e classes regulares da educação básica. Assim sendo, considero a grande necessidade de realizar uma pesquisa no sentido de colaborar para os avanços da educação de crianças com deficiência auditiva, na rede estadual de educação do Estado de São Paulo. A busca de conhecimentos, é que me motivou a freqüentar um curso de mestrado na área de distúrbios do desenvolvimento. Alguns alunos com necessidades educacionais especiais revelam não conseguir atingir os objetivos, conteúdos e componentes propostos no currículo regular que as escolas se propõem a desenvolver ou alcançar os níveis mais elementares da escolarização. Sabemos que tal situação pode decorrer de dificuldades orgânicas associadas a déficits permanentes e, muitas vezes, degenerativos que comprometem o funcionamento cognitivo, psíquico e sensorial, vindo a constituir deficiências leves, moderadas e até múltiplas graves. Acompanhando o trabalho com alunos deficientes auditivos, pude perceber a escassez de recursos oferecidos aos profissionais que trabalham com tais alunos, particularmente as classes comuns. Motivado pela observação desses problemas, busco investigar as facilidades e dificuldades para implantação e implementação das adaptações curriculares, propostas pela Diretoria de Ensino Regional, da qual é subordinada às normas emanadas da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE/SP). O curso de mestrado surgiu como um norteador de minhas ações enquanto educador. O trabalho mostra-se como um desafio, mas tenho certeza, que será desencadeador de muitas discussões. A despeito do quadro de dificuldades que envolvem o ensino público do país, a necessidade de implantação e implementação de adaptações curriculares para alunos com algum tipo de deficiência, representa uma conquista em direção à melhoria do desempenho das escolas. No entanto, tal proposta preconizada pela 2 Função regulamentada pela Resolução SE nº 57, de 10 de março de 1995 e tem como atribuições: subsidiar os supervisores de ensino no apoio técnico pedagógico aos integrantes das unidades escolares. Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE/SP), que ora mostra-se tão promissora, pode correr o risco de ser anulada, se não fizer acompanhar de medidas claras e coerentes. Só assim resultarão numa mudança substancial no encaminhamento do processo de ensino e aprendizagem. Espero obter através da pesquisa, as condições para contribuir na rede educacional regional, permitindo assim uma reflexão ampla sobre o que seja ensinar uma clientela que há muito tempo é excluída. Através da discussão sobre a necessidade ou não de se adaptar um currículo para alunos com deficiência auditiva, seja ela leve, moderada ou severa, pode-se articular as estratégias que são próprias do ser humano nesta fase de seu desenvolvimento em função da aquisição de conhecimentos dentro da instituição escolar. Portanto, isto requer, sem dúvida, um trabalho conjunto de toda equipe escolar. Tenho a oportunidade de me debruçar sobre esta tarefa em função de uma clientela que tem sido sistematicamente excluída dos benefícios da educação. Nesse sentido, ela traz em si um elemento renovador fundamental, que unido ao estipulado pela SEE/SP, poderá significar uma nova fase no processo de educação pública do Estado. Sabemos que a aquisição da linguagem para uma criança sem algum tipo de deficiência, muitas vezes, mostra-se complexa. Vejamos uma citação de Emília Ferreiro (2000): São muitas as questões que se colocam para os alunos quando eles têm que escrever e não estão alfabetizados: Quantas letras pôr? Quais letras pôr? Por que meu colega escreve tão diferente de mim? E muitas são também as questões que se colocam quando eles são convidados a ler a própria escrita: Por que é difícil ler o que escrevo? Por que sobram letras? Por que as letras parecem estar fora de ordem? Por que há tantas letras iguais em uma mesma escrita? Por que eu leio a mesma coisa de um jeito diferente de meu colega?... E assim por diante. Ou seja, escrever e tentar ler a própria escrita representam bons desafios quando ainda não se sabe ler. Ao escrever precisa tomar decisões sobre quantas e quais letras utilizar. Ao tentar ler a própria escrita é preciso justificar para si mesmo e para os outros as escolhas que foram feitas. Parece pouco, mas é assim que se aprende... É isso que faz a alfabetização um processo de análise sobre a língua, e não de memorização. Imaginemos agora, um aluno deficiente auditivo que, sem as condições necessárias para desenvolver sua linguagem oral e escrita, sem os respaldos necessários, esse aluno terá provavelmente grandes chances de ficar à margem da escolarização. A legislação brasileira, no que tange à educação, há décadas contempla a educação especial como algo que precisa ser atendido, mas infelizmente, o que se percebe na rede pública é que os alunos com deficiências na sua grande maioria ainda continuam segregados, sem um plano de ensino adequado para suas necessidades educacionais. A escola tem contribuído grandemente, ainda que de forma involuntária, para a produção do fracasso escolar, devido ao seu modo de atuação. A questão do fracasso escolar há anos vem se apresentando como uma constante na rede de ensino, podemos considerar isso como um aspecto que pode estar atrelado às práticas escolares. Vejamos alguns casos de práticas que se observam no dia-a-dia das salas de aulas: a prática dos remanejamentos, a prática dos encaminhamentos das crianças que começam a não aprender na escola, a expectativa de que as crianças de classes menos abastadas fracassam na escola. Todas essas práticas constituem um processo de produção do fracasso escolar dentro da própria instituição escolar. Azanha (1995) trata apropriadamente a questão da política pública educacional aí instalada, quando diz: “a estrutura administrativa da SEE/SP, hoje, são o gabinete do secretário e vários órgãos centrais, que teriam por obrigação cuidar da melhoria do ensino”. Ressalta ainda que a melhoria do ensino não é, e nem poderá ser uma questão político-partidária nem administrativa: é uma questão pedagógica e pública. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), PCNs como são chamados, preconizam a atenção à diversidade da comunidade escolar e se baseiam no pressuposto de que a realização das adaptações curriculares pode atender as necessidades particulares de aprendizagem dos alunos. Quando pensamos em uma comunidade escolar diversa, há que se pensar nessa diversidade como algo por onde passam não só os alunos com necessidades educacionais especiais, mas, também os indígenas, os negros, os homossexuais, as mulheres, os pobres, enfim, uma gama de excluídos que há muito tempo ficaram fora das políticas públicas que aí estão. Ao longo de minha vida profissional, em algumas situações, ficou evidente que o nosso sistema de ensino não sabe trabalhar com a diversidade, mesmo esta, sendo preconizada pelas políticas públicas. Do ponto de vista histórico, o Estado ao criar o sistema escolar o fez pensando a homogeneização a fim de atender determinadas camadas da população. Com o tempo, percebendo as diferenças individuais, buscou a criação de escolas diferentes para atender alunos diferentes, o que infelizmente ainda não conseguiu. Um ensino de qualidade parece estar longe dos objetivos por ele propostos. Para Imbernón (2000), a diversidade, termo inclusive já usual nos processos administrativos, não se pode alinhar com a burocracia e nem com a padronização que costuma agradar às administrações que regulam a educação, mas encontra seu verdadeiro caminho na diferenciação, no reconhecimento do outro. As manifestações de dificuldades de aprendizagem por parte de alunos com deficiência auditiva apresentam-se como um contínuo, desde situações leves e transitórias que podem se resolver espontaneamente no curso do trabalho pedagógico até situações mais graves e persistentes que requerem o uso de recursos especiais para sua solução. Atender a esse contínuo de dificuldades requer respostas educacionais adequadas envolvendo graduais e progressivas adaptações do currículo. O fracasso do processo de aquisição da linguagem por parte dos alunos com deficiência auditiva nas escolas, muitas vezes está associado à falha na formação dos professores, ao método de ensino que os mesmos desenvolvem, aos procedimentos que utilizam em sala de aula. Partindo desse pressuposto, verifica-se a necessidade de implantar ou implementar adaptações no currículo para o atendimento dos alunos e indicar conteúdos e procedimentos curriculares de caráter mais funcional e prático, levando em conta as características individuais. Sabemos que a escola, ao longo do tempo, tem enfrentado dificuldades e problemas inerentes ao currículo para crianças com deficiência auditiva. A intenção da pesquisa aqui relatada é desenvolver um estudo com professores do Ciclo I do ensino fundamental da rede estadual de ensino, mas precisamente da Diretoria de Ensino de Registro, situada na Região Sul do Estado de São Paulo. Para tanto, buscarei identificar e discutir criticamente algumas facilidades e dificuldades para implantação e implementação de adaptações curriculares para alunos com deficiência auditiva incluídos no ensino regular. Capítulo 1: COMPREENDENDO A CONCEPÇÃO DE CURRÍCULO O leitor pode estar se perguntando porque a discussão sobre currículo. Se estamos trabalhando com a questão de adaptações curriculares, não poderíamos deixar de enfocar em nosso trabalho, as concepções de currículo que permeiam as políticas públicas de educação no Estado de São Paulo, bem como as ações desenvolvidas nas escolas. 1.1 – O CURRÍCULO E SUAS MULTIFACETAS A palavra currículo aparece nos jornais, nos discursos políticos e nas conversas dos pais cujos filhos estão em idade escolar. Mas, afinal, o que é currículo? Pedra (1997, p. 28) escreve que, o currículo antes de ser entendido como uma questão técnica, deve ser percebido como uma modalidade de reinterpretação histórica de práticas e saberes que circulam no espaço escolar. O termo currículo ganhou notoriedade nos últimos anos, foi para além dos muros escolares e ganhou espaço na sociedade e poucos são os que sobre ele não tenham algo a dizer. Se, por um lado, é difícil estabelecer as razões de tal popularidade, é relativamente fácil, por outro lado, localizar na história da educação brasileira o momento em que o currículo deixa de ser um tema confinado a alguns poucos especialistas e passa para o domínio público. Tal momento, que de certo modo é o solo daquelas razões, tem suas raízes na década de 70 e prolonga-se por toda a década seguinte. Na década de 70, entrou em vigor a Lei 5692/71 (que introduziu e fixou um conjunto de expressões nas quais o currículo ora é substantivo ora é adjetivo: “currículo pleno”, “plano curricular”); a disciplina “Currículos e Programas” foi introduzida no conjunto das disciplinas obrigatórias para a formação do pedagogo e foram criados os primeiros cursos de pós-graduação que tomaram o currículo por área de concentração. 1.2 - O CURRÍCULO E SUAS REPRESENTAÇÕES As teorizações sobre currículo revelam, para além do que explicitam, um conjunto de representações que se ordenam, justificam-se e tomam unidade na situação histórica em que são ou foram construídas. Entender as teorias sobre o currículo como representações apresenta um obstáculo: toda representação tem seu objeto e, ainda, não se pode responder cabalmente a que o termo currículo efetivamente se refere. Tratar-se-ia de uma representação sem objeto? Seria impossível, pois, se representar é estar em lugar de alguma coisa (PEDRA, 1997), não se pode representar algo que não exista. Este, no entanto, não é o caso, pois não é o possível “objeto” currículo que é o representado, ele apenas dá título a uma determinada proposta educacional que, por sua vez, deriva de um conjunto de representações sobre o ser humano, como ser educável. Enquanto Dewey (1978 apud PEDRA, 997) entendia o currículo como algo dado para o professor, Bobbitt (1918 apud PEDRA, 1997) o entendia como algo dado para o aluno. O valor dos conhecimentos sistematizados no currículo, afirma Dewey, “está na possibilidade, que dá ao educador, de determinar o ambiente, o meio necessário à criança, e, assim, dirigir indiretamente a sua atividade mental” (1978 apud PEDRA, 1997). Ou seja, os conteúdos curriculares são, antes de tudo, sinalizações, “para mostrar ao mestre quais são os caminhos abertos à criança”. Currículo, diz Bobbitt (1971 apud PEDRA, 1997), “é aquele conjunto ou série de coisas que as crianças e os jovens devem fazer e experimentar a fim de desenvolver habilidades que os capacitem a decidir assuntos da vida adulta.” Segundo Pedra (1997, p.33) este rápido contraponto entre a perspectiva Deweyana e a de Bobbitt já é suficiente para desvelar uma característica exibida pelo termo “currículo” já em seu nascedouro: a polissemia. Os variados conceitos atribuídos ao termo currículo não descrevem realidades diferentes, apenas informam sobre a interpretação que determinado autor ou escola teórica deu-lhe. As ênfases são variadas: o conteúdo, as atividades ou a própria organização curricular, mas a realidade descrita não se modifica. É, então, uma questão de perspectiva e não propriamente de polissemia. Caswell e Campbell (1935 apud PEDRA, 1997) definem o currículo como um conjunto de experiências oferecidas aos alunos sob a orientação da escola. Bestor (1956 apud PEDRA, 1997) entende por currículo um programa de conhecimentos, válidos e essenciais, que se transmite sistematicamente na escola, para desenvolver a mente e treinar a inteligência. Johnson (1967 apud PEDRA, 1997) especifica: “Tendo em vista as deficiências da definição popular atual, diremos aqui que currículo é uma série estruturada de objetivos para a aprendizagem que se pretende alcançar”. Taba (1974 apud PEDRA, 1997) dirá que currículo é, em essência um plano de aprendizagem. Beauchamp (1968 apud PEDRA, 1997) avisa que o currículo é um documento escrito que circunscreve o âmbito e a estruturação do programa educativo projetado para uma escola. 1.3 - O CURRÍCULO E SUA TRAJETÓRIA NO BRASIL No Brasil, a trajetória do termo não foi muito diferente. teve suas peculiaridades e as marcas de pensamento transplantado. A inteligência nacional não conseguiu criar pensamento autônomo sobre o currículo, mesmo porque a tradição brasileira fora a de programas e não de currículo. Assim, não restaram alternativas senão buscar nos textos norte-americanos o conteúdo e a forma do pensar e fazer currículo (Pedra 1997, p. 33). As raízes teóricas do pensamento brasileiro sobre o currículo não são nativas e sim estrangeiras. A trajetória do pensamento curricular no Brasil tem início na década de 50 com a publicação do livro: Introdução ao estudo do currículo da escola primária, de Roberto Moreira. Nesse estudo, o autor diz que o currículo escolar é o conjunto organizado das atividades de aprender e ensinar, que se processam na escola Foi necessário esperar a década de 60 para vir a público, de autores brasileiros, duas outras obras: Problemas gerais do currículo, de Dalila Sperb (1966), e Como elaborar um currículo, de Marina Couto (1966). Eis o conceito de currículo: “A totalidade das experiências da criança na escola, dirigidas para os fins da educação” (Couto 1966 apud PEDRA, 1997). Para Sperb currículo é: O ambiente em Ação (1966, p. 244). Em 1984, Lina Traldi, uma outra autora brasileira define currículo como: “todas as experiências organizadas e supervisionadas pela escola, pelas quais, portanto, esta assume responsabilidade”. (Traldi 1984 apud PEDRA, 1997). 1.4 - A relação entre currículo, ideologia e cultura Souza faz a seguinte citação em seus estudos: “nas escolas não se aprendem apenas conteúdos sobre o mundo natural e social; adquirem-se também consciência, disposições e sensibilidades que comandam relações e comportamentos sociais do sujeito e estruturam sua personalidade” (Souza 1993 apud SANTOS E MOREIRA, 1995). Os primeiros estudos que se dedicaram à análise dos efeitos do currículo para além da aquisição de conhecimentos formais voltaram-se para o escrutínio da concepção de currículo oculto. Como buscou demonstrar Apple (1982, p.103), “além do currículo explícito, as escolas lidam com o currículo oculto, isto é, normas e valores que são implícitos, porém efetivamente transmitidos pelas escolas e que habitualmente não são mencionados na apresentação feita pelos professores dos fins e objetivos”. Por meio do currículo são transmitidas ideologias, concepções de mundo pertencentes a determinados grupos hegemônicos na sociedade e que servem para reproduzir as desigualdades sociais. Silva (1992, p.103), ampliando o conceito de currículo oculto, entende-o como todos os efeitos de aprendizagem não intencionais que dão como resultado de certos elementos presentes no ambiente escolar. Segundo este autor, a relevância deste conceito está na explicação que ele oferece para a compreensão de muitos aspectos que ocorrem no ambiente escolar. Além disso, questiona a aparente neutralidade do ambiente escolar, a forma com a qual os professores lidam com o conhecimento sem problematizá-lo, bem como suas atitudes em relação aos alunos. Na concepção crítica de currículo, a cultura não é vista como uma unidade homogênea, mas, como um campo de luta perpassada por conflitos e interesses sociais (relações de classe, gênero, raça). Por sua vez, o currículo escolar não transmite uma cultura neutra, mas impõe uma definição particular de cultura pertencente aos grupos dominantes (Silva e Moreira, 1995, p. 79). 1.5 - O CURRÍCULO E A PRODUÇÃO DO SABER ESCOLAR A literatura crítica no campo do currículo tem demonstrado que a escola não apenas reproduz o conhecimento como também se constitui numa esfera de produção de saberes. A este respeito Chervel (1990, p. 142) aponta as disciplinas escolares como criações espontâneas e originais do sistema escolar mostrando como todo conhecimento sofre a ação pedagógica, isto é, passa pelo processo de “transposição didática” para tornar o conhecimento transmissível e assimilável pelos alunos. As disciplinas escolares são, pois, constituídas de um corpus de conhecimentos (conteúdo explícito), uma metodologia de ensino (exercícios, motivação, atividades) e de uma avaliação. A escola produz um conhecimento como um formato escolar. O processo de “transposição didática” tem sido estudado por vários autores (Perrenoud, 1993, Forquin, 1993) e é relevante para uma melhor compreensão de natureza do trabalho docente em relação ao conhecimento, às disciplinas e ao currículo. Segundo Silva e Rocha (1973, p. 48, citado por Mazzotta, 1986) é à escola que cabe a última palavra sobre o seu currículo. Ao longo dos tempos, podemos perceber que o termo currículo trouxe pretensões pragmáticas. Conclui-se, portanto, que um currículo precisa ser executado. A perspectiva teórico-prática ressalta os contextos cotidianos do trabalho docente com o conhecimento e com o processo ensino e aprendizagem, contexto curricular complexo e problemático. Dessa maneira é que se pode perceber o currículo como um campo de confluência de múltiplas práticas no qual muitos agentes e forças concorrem para a sua configuração. Faz-se necessário, então, entender as diferentes instâncias desta objetivação do currículo de forma a ter claros os consensos estabelecidos, a possibilidade de intervenção e autonomia dos professores. Neste momento de mudanças de paradigmas sociais e educacionais no qual o professor é convocado a assumir grandes responsabilidades, uma devida compreensão sobre o currículo fundamentado nas teorias críticas, é fundamental para que ele possa lidar com os desafios dessa inovação do sistema educacional e apontar novos rumos para a escola pública atual. Consideramos que, antes de fecharmos o capítulo sobre currículo, valeria a pena nos atermos aos estudos de César Coll (1987) e Mazzotta (1986), que tratam da concepção de currículo com muita propriedade e servem de referência para este estudo. Para Cesar Coll (1987), o currículo desempenha um papel importante nas atividades educativas e tem como sua principal função, a de explicitar claramente o projeto, o objetivo, as intenções e o plano de ação que preside as atividades escolares. Ressalta também, que os componentes do currículo, podem se agrupar em quatro itens que são: O currículo proporciona informações sobre o que ensinar, que trata dos conteúdos e objetivos que deverão ser trabalhados nas escolas; O currículo proporciona informações sobre quando ensinar, que trata sobre a maneira de ordenar e dar seqüência aos conteúdos e objetivos; O currículo proporciona informações sobre como ensinar, que trata sobre a maneira de estruturar as atividades; O currículo proporciona informações sobre o que, como e quando avaliar. O autor deixa claro que a avaliação é um elemento indispensável que assegura a ação pedagógica das escolas. O mesmo autor observa que, o primeiro item está relacionado às intenções, enquanto os demais estão relacionados ao plano de ação a ser seguido de acordo com elas. César Coll destaca em seus estudos a sua preferência à concepção aberta de elaboração curricular, posto que ela apresenta uma maior flexibilidade, o que permite ao professor ser capaz de mudar suas estratégias no decorrer do processo educativo, mudando o plano curricular de acordo com as necessidades vigentes. Coll (1987 apud PEDRA, 1997) diz que currículo é o projeto que preside as atividades educativas escolares, precisa suas intenções e proporciona guias de ações adequadas e úteis para os professores que têm a responsabilidade direta de sua execução. Em 1996, o mesmo autor esclarece que o currículo é um elo entre a declaração de princípios gerais e sua tradução operacional e a prática pedagógica, entre o planejamento e a ação, entre o que é prescrito e o que realmente sucede nas salas de aula. Complementando as concepções de currículo, é preciso mencionar os estudos desenvolvidos por Mazzotta, pois o autor nos remete a um olhar mais aguçado do que seja currículo. “Da concepção de listagem de matérias, voltadas para a aquisição de conhecimento, o currículo evolui para uma perspectiva de formação integral do aluno. Na concepção atual de currículo, as situações de aprendizagem a serem organizadas e elaboradas ampliam-se com vistas à abranger o desenvolvimento social e psicológico do aluno.” (MAZZOTTA, 1987, p. 40). Em trabalho publicado em 1987, Mazzotta chamava atenção para que: Atualmente, o pensamento educacional tem apontado para a direção da elaboração de um currículo “especial” para cada escola, no sentido de que cada uma configura uma realidade específica, determinada pela combinação dos fatores internos e externos que atuam na sua organização e funcionamento. Tal currículo deve ser “especial”, no sentido de que deve ser elaborado para atender às necessidades únicas de cada escola do sistema de ensino, em função das reais necessidades de seus alunos, e não para atender categorias ou tipos idealizados de alunos. (Mazzotta,1987, p.119). Tal citação é oportuna por contemplar o verdadeiro sentido de currículo que as escolas por sua vez deveriam desenvolver. Ao longo dos tempos, podemos perceber que o termo currículo trouxe pretensões pragmáticas. Ao destacar a enorme contribuição de Mazzotta para o entendimento do que seja currículo, ainda me atenho a seus estudos sobre o tema, no qual diz: [...] Que mediante a organização do currículo, procura-se o estabelecimento de condições para que a aprendizagem de um componente reforce a de outros, de modo a haver efeito cumulativo. Na tarefa de organização, aceita-se a idéia de que o trabalho da escola, dirigido para a formação do educando, precisa atender aos requisitos da racionalização. Nesse sentido, dois pontos fundamentais se destacam: o primeiro é a organização vertical ou seqüência, que diz respeito à ordenação do conteúdo nos sucessivos períodos de tempo em que se desenvolve a educação escolar (distribuição por dias, meses, anos), de modo que em cada momento sejam preparados os conteúdos seguintes e facilitada sua aprendizagem; o segundo refere-se à organização horizontal ou integração, que significa o relacionamento entre as aprendizagens que se processam durante o mesmo nível ou o mesmo período de tempo, no domínio de cada um ou de diversos componentes curriculares (1987, p.44). O autor conclui, portanto, que um currículo precisa ser executado pelas escolas levando em conta as reais necessidades de seus alunos. 1.6 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO NA ESPANHA E NO BRASIL A partir de 1995 inaugurou-se um novo ciclo no sistema educacional espanhol. O que se observava eram algumas tentativas de reformas, mas, ainda assim, apareciam de formas isoladas e parciais, sem uma devida totalidade. Neste contexto, o Departamento de Ensino da Prefeitura da Catalunha, empreende uma série de iniciativas concretas que possuíam uma proposta de modelo de currículo. Em 1987, o Ministério de Educação e Ciência da Espanha torna pública uma proposta de reforma global referendada na proposta da Catalunha para o seu sistema educacional. Segundo César Coll (1987), considerado um precursor da Reforma Educacional Espanhola, a inovação curricular não consiste apenas em mudar, ou tentar mudar. Tão importante quanto o que ensinar e aprender é como se ensina e como se aprende. Partindo desses dados, podemos concluir que a Espanha organizou seu sistema de ensino a partir da década de 80, estabelecendo não um currículo prescritivo oficial, e sim um referencial de currículo, no qual estabelece o mínimo que deverá ser ensinado para todo o Estado espanhol e depois cada comunidade autônoma (que aqui no Brasil chamamos de Estados) concretizará seu currículo oficial com caráter prescritivo. Sabemos que César Coll, teve uma participação efetiva na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Brasil, trabalhando juntamente com um grupo designado pelo Ministério de Educação para elaboração dos PCNs. Era um grupo formado por representantes de universidades, secretários de educação dos estados e do professorado de diversas áreas. Nestes estudos no qual César Coll assumiu o papel de assessor técnico, eram discutidas as propostas educacionais dos estados e a partir daí buscou-se a elaboração de tal documento, visando a um consenso de idéias e um currículo com base comum para todo o Brasil, bem nos moldes do que ocorreu na Espanha. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Brasil (1997) consistem em um referencial para a Educação Básica de todo o país. Têm por objetivo orientar e garantir discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores de todos os Estados brasileiros. O conjunto de referenciais que compõe o documento constitui uma proposta flexível, a ser concretizada com as orientações regionais e locais. Com certeza, não poderia ser diferente, pois, se nos reportarmos para o início deste texto, poderemos observar que as mesmas estratégias utilizadas na Espanha foram utilizadas aqui. Para o MEC, órgão responsável pela sua elaboração e divulgação, tais referenciais não configuram um currículo homogêneo e impositivo, que se sobrepõe à diversidade social das diferentes regiões do país ou à autonomia de Estados e Municípios. Os PCNs procuram anunciar que, respeitadas as diversidades culturais, regionais, éticas, religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múltipla, a educação possa atuar no processo de construção da cidadania, tendo como princípio atingir o ideal de uma crescente igualdade de direitos entre os cidadãos. Segundo o MEC (1997), para compreender a natureza dos Parâmetros Curriculares Nacionais é necessário situá-los cm relação a quatro níveis de concretização curricular: 1º nível: Os PCNs são uma referência nacional para a educação básica; 2º nível: os PCNs poderão ser utilizados como recurso para adaptações ou elaborações curriculares pelos Estados ou Municípios; 3º nível: Os PCNs poderão ser utilizados como base para elaboração do projeto educativo de cada instituição escolar; 4º nível: Os PCNs auxiliam na programação das atividades de ensino e aprendizagem na sala de aula. Neste momento de mudanças de paradigmas sociais e educacionais no qual o professor é convocado a assumir grandes responsabilidades, uma devida compreensão sobre o currículo fundamentado em teorias críticas, é essencial para que ele possa lidar com os desafios dessa inovação do sistema educacional e apontar novos rumos para a escola pública atual. Por tal motivo é que se buscou um breve histórico da reforma educacional espanhola, para evidenciar as semelhanças das propostas. No sistema educacional brasileiro, assim como no espanhol, o currículo está organizado de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais. Os PCNs foram elaborados em consonância com a Constituição Federal de 1988, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394 de 1996 e com o Plano Decenal de Educação que afirma a necessidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros e capazes de orientar as ações educativas no ensino brasileiro. O termo “parâmetro” visa dar idéia de que, ao mesmo tempo em que se pressupõem e se respeitam as diversidades regionais, culturais e políticas existentes no Brasil, são construídos referenciais nacionais que expressam os pontos comuns característicos do fenômeno educativo no Brasil. Retomando o objeto de estudo deste capítulo, destacamos que, o termo currículo segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, assume vários significados: 1 - matérias constantes de um curso; 2 - programas de conteúdos de cada disciplina; 3 - expressão de princípios e metas do projeto educativo, suficientemente flexível para promover discussões e reelaborações em sala de aula, pois é o professor que traduz os princípios elencados em prática didática. Podemos considerar, com apoio em nossa experiência escolar, que a última concepção elencada é a que mais se aproxima do cotidiano das escolas. A abrangência nacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais visa criar condições que garantam a toda criança e ao jovem brasileiro o acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários para o exercício da cidadania. Constituem um referencial para fomentar a reflexão sobre currículos. Julgo ser importante e necessário que haja parâmetros pelos quais o sistema educacional se organize para garantir os princípios democráticos que definem a cidadania. Os PCNs não se apresentam como um currículo mínimo comum nem como um conjunto de conteúdos obrigatórios de ensino. Eles adotam como eixo, desenvolvimento de capacidades do aluno para as quais os conteúdos são meios. Podemos dizer que, através desse percurso que fizemos, buscando também na reforma espanhola a base de nossos estudos, que o conceito de currículo é difícil de se estabelecer, em face dos diversos ângulos envolvidos. É central para a escola e associa-se à própria identidade da instituição escolar, à sua organização e funcionamento e ao papel que exerce – ou – deveria exercer – a partir das aspirações e experiências da sociedade e da cultura em que se insere. 1.7 - SOBRE CURRÍCULO: O QUE DIZ NOSSA LEGISLAÇÃO Em meio a tantas concepções, entender o currículo dentro da legislação que fundamenta o nosso sistema de ensino apresenta-se como algo desafiador. Deste modo, evidencia-se a necessidade de compreender o conceito de currículo, não somente a partir dos teóricos, mas sim, a partir da legislação que está colocada na rede estadual de ensino. Segundo o Parecer CNE/CEB nº 04/1998, o currículo está colocado como um conceito que envolve outros três, que são: currículo formal (planos e propostas pedagógicas), currículo em ação (aquilo que efetivamente acontece nas salas de aula e nas escolas) e currículo oculto (o não dito, aquilo que tanto os alunos, quanto professores trazem, carregado de sentidos próprios, criando as formas de relacionamento, poder e convivência nas salas de aula). Ainda nos parece pertinente à análise do artigo nº 26 da atual LDBEN/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional promulgada em 20 de dezembro de 1996). Tal artigo coloca que os Currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, que se refere ao conjunto de conteúdos mínimos das áreas de conhecimento articulados aos aspectos da vida cidadã, a ser complementado, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. O inciso I, do artigo 26, afirma que os currículos devem abranger, obrigatoriamente o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil. Nesse caso, podemos considerar que o currículo é tomado como conteúdo. Quanto às Diretrizes Nacionais emanadas pelo MEC sobre a concepção de currículo, podemos nos reportar ao que consta nos PCNs (1997), já mencionados neste trabalho. 1.8 - ADAPTAÇÕES DO CURRÍCULO No Brasil, os procedimentos de adaptações curriculares estão respaldados pela Lei Nº 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no Capítulo V, artigo 59, o qual trata do assunto. Consta em tal artigo que: Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades. Percebemos que a educação inclusiva, entretanto não se esgota na observância da lei, que a reconhece e garante, mas requer uma mudança de postura, de percepção e de concepção dos sistemas educacionais. As modificações necessárias abrangem atitudes, perspectivas, organização e ações de operacionalização do trabalho educacional. Os PCNs (1997) constituem referências válidas para guiar a educação dos alunos com necessidades especiais e também para todos os demais alunos. Seus pressupostos, objetivos e indicações consideram questões pedagógicas atuais, admitindo a pluralidade de concepções pedagógicas e do fazer educativo, de forma a atender a diversidade dos alunos na escola e às particularidades de sua cultura. Tais medidas de adequação curricular requerem análise à parte. De modo geral, o currículo pode constituir um grande obstáculo para os alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular, especialmente quando ele impõe uma referência homogênea a ser alcançada por todos os educandos independentemente das condições particulares que possam apresentar. Com raras exceções, a competência acadêmica é exigida para todos de forma uniforme ou inflexível, enquanto o que se busca e se incentiva atualmente é a construção de um currículo aberto, transformador e com nova prescrição, de modo a contemplar os que possam não corresponder à expectativa de “normalidade” da comunidade escolar. Podemos nos reportar a uma decisão do Ministério da Educação e Ciência da Espanha, quando em 1992 publicou, uma proposta nacional de adaptações curriculares para seu país, como recurso a ser utilizado para dar respostas apropriadas às necessidades especiais dos alunos a partir do currículo regular. Os procedimentos de adaptações curriculares foram definidos como “O conjunto de modificações que se realizam nos objetivos, conteúdos, critérios e procedimentos de avaliação, atividades e metodologias para atender às diferenças individuais dos alunos”. Os procedimentos adaptativos mencionados aplicam-se aos seguintes elementos curriculares: objetivo, conteúdos, avaliação, metodologia e organização didática, temporalidade, organização curricular. Podemos dizer que, o Ministério de Educação e Desporto fundamentou-se em tais procedimentos quando elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais/1999 Estratégias para a Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais e, a partir daí, passou a utilizar as seguintes denominações: Adaptações organizacionais; Adaptações relativas aos objetivos; Adaptações relativas aos conteúdos; Adaptações relativas à avaliação; Adaptações relativas aos procedimentos didáticos; Adaptações na temporalidade. Tomaremos como objetos de estudo, somente os aspectos que se referem aos objetivos, conteúdos e procedimentos, pois acreditamos que tais aspectos nos permitirão vislumbrar a questão de adaptações curriculares em nossas escolas. Quando falamos em adaptações referentes aos objetivos propostos pelo MEC, podemos dizer que são aquelas que dizem respeito à: - seleção, inclusão e priorização de objetivos. Quando falamos em adaptações referentes aos conteúdos propostos pelo MEC, podemos que são aquelas que dizem respeito à: - seleção, priorização e seqüenciamento de áreas ou unidades de conteúdos que garantam funcionalidade e sejam essenciais e instrumentais para as aprendizagens posteriores; - eliminação e ao acréscimo de conteúdos, quando for necessário. Quando mencionamos adaptações referentes aos procedimentos didáticos propostos pelo MEC, podemos considerar que são aqueles que dizem respeito: - à alteração nos métodos adotados para o ensino dos conteúdos curriculares: - à introdução de atividades complementares ou alternativas, além das planejadas para a turma; - à alteração do nível de abstração e de complexidade das atividades, oferecendo recursos de apoio; - à seleção de materiais e sua adaptação. Achamos pertinente citar a questão de adaptações de acesso ao currículo, pois numa escola esse aspecto não pode deixar de ser considerado. O MEC trata do assunto considerando-o como certas providências ou recursos muitas vezes necessários aos alunos, tais como: - mobiliários adequados; - equipamentos específicos; - recursos materiais adaptados; - formas alternativas e ampliadas de comunicação; - modalidades variadas de apoio para participar das atividades escolares; - promoção de situações educacionais diferenciadas; - recursos humanos especializados ou de apoio, adaptação espacial. Para o MEC, as adaptações curriculares não devem ser entendidas como procedimentos exclusivamente individuais ou decisões que envolvam apenas o professor e o aluno. Podem realizar-se em três níveis: no âmbito mais geral, envolvendo o projeto pedagógico da escola; no âmbito mais particular, envolvendo o currículo desenvolvido na sala de no nível individual. aula; Tais adaptações que, de fato, realizam-se de acordo com as necessidades de cada aluno, podem ser dispensadas ou aplicadas de forma reduzida, ou, ainda, em alguns casos, de forma intensiva dependendo das necessidades que forem identificadas. Para este estudo, nos referendamos em um documento intitulado de “Projeto Escola Viva”, distribuído pelo MEC no ano de 2000, tendo como sua consultora e elaboradora Aranha. Em tal coletânea a autora define adaptações curriculares como sendo respostas educativas que devem ser dadas pelo sistema educacional, de forma a favorecer a todos os alunos e, dentre estes, os que apresentam necessidades educacionais especiais. Aranha (2000), destaca que as necessidades especiais revelam que tipos de estratégias, diferentes das usuais, são necessárias para permitir que todos os alunos, inclusive as pessoas com deficiência, participem integralmente das oportunidades educacionais, com resultados favoráveis, dentro de uma programação tão normal quanto possível. Quanto às estratégias, a autora ainda ressalta que as mesmas podem ser de grande ou pequeno porte. Verificamos mais uma vez as influências da mencionada concepção espanhola. No documento original PCN – Adaptações Curriculares (1999) são chamadas Adaptações Curriculares Significativas (grande porte), assim como as adaptações de pequeno porte são chamadas de adaptações curriculares não significativas, mantendo-se a denominação na Espanha. No Estado de São Paulo tem sido adotadas as mesmas recomendações emanadas do MEC. A Secretaria de Estado da Educação está direcionando sua política educacional para, muito mais do que cumprir o que está determinado em lei, envolver seus profissionais no compromisso da educação dos alunos com necessidades educacionais especiais, reduzindo a distância entre os escritos e uma prática em contínuo aprimoramento. Através do Centro de Apoio Pedagógico Especializado (CAPE), criado em 2001 a SEE/SP busca oferecer suporte ao processo de inclusão escolar. O CAPE, sendo um órgão central da SEE/SP tem como objetivos: • Gerenciar as ações de educação especial no Estado; • Acompanhar e dar suporte às ações das 89 Diretorias de Ensino Regionais; • Capacitar continuamente os professores da rede; • Provisionar recursos: •Articular-se com a comunidade, procedendo orientações e encaminhamentos. Por ser um órgão responsável pelo desenvolvimento das políticas públicas no Estado de São Paulo, para inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, tem sido possível observar que o CAPE, ainda está se estruturando para responder de forma satisfatória a demanda, que ora se mostra necessitada de orientações para desenvolver um trabalho de qualidade. Os princípios que levaram a sua criação são de extrema relevância, mas, não se efetivam na realidade de nossas escolas. Tendo assumido a pasta de educação especial na função de ATP de uma Diretoria de Ensino, percebo as lacunas que o CAPE ainda não conseguiu fechar. Quanto às capacitações, elas acontecem de forma esporádica e não contemplam todos os envolvidos no processo de inclusão. Retomando a questão de adaptações curriculares pode-se afirmar que foi a partir de 2004 juntamente com Aranha, que tal órgão esboçou de forma tímida um interesse para desenvolver um trabalho com o tema. Houve apenas um encontro em 2004 e outro em 2005, na sede central do CAPE. O que se percebe ainda, é que, os profissionais que dão ou deveriam dar suporte teórico e prático para a rede de ensino, estão arraigados a modelos de documentos importados, mais precisamente da Espanha, assim como aconteceu quando da elaboração dos PCNs do Brasil na década de 90. Importante ressaltar que não se trata de oposição aos estudos desenvolvidos na Espanha, que serviram de base para nossas concepções, mas sim o entendimento de que o CAPE deveria pautar suas ações nas necessidades reais da rede educacional de São Paulo. Capítulo 2 - ALUNOS SURDOS E NECESSIDADES ESPECIAIS 2.1 – DEFININDO DEFICIÊNCIA QUANDO PENSAMOS EM DEFICIÊNCIA, PODEMOS FAZER UM PERCURSO HISTÓRICO DESSE TERMO ATRAVÉS DO TEMPO. AO LONGO DA HISTÓRIA OBSERVA-SE QUE A CONCEPÇÃO DE DEFICIÊNCIA RECEBEU VÁRIAS SIGNIFICAÇÕES VARIANDO DE ÉPOCA PARA ÉPOCA. ERA ASSIM DOMINADA: DOENÇA, LOUCURA, EXCEPCIONALIDADE, RETARDO E TANTAS OUTRAS. PODE-SE OBSERVAR QUE OS TERMOS UTILIZADOS DESDE OS PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE CARREGAVAM E AINDA CARREGAM UMA GRANDE SIGNIFICAÇÃO NEGATIVA. Se nos ativermos à história do mundo grego, deparar-nos-emos com o culto ao corpo, ao belo, ao perfeito de tal modo que a deficiência não cabe em tal sociedade. A deficiência representava uma ferida, uma afronta ao belo e muito mais que isso uma ameaça, um perigo. Segundo o MEC - Adaptações Curriculares em Ação (2002), Cada um de nós tem peculiaridades em seu modo de ser, de pensar, de agir, que fazem com que, embora nos assemelhemos a muitas outras pessoas, em muitos aspectos, o conjunto de características que nos identifica é único e nos faz singulares. Desta forma, a sociedade é constituída por indivíduos diferentes entre si, que se assemelham no anonimato do grupo. Os alunos de uma sala de aula, membros da sociedade como qualquer outra pessoa, também são aparentemente semelhantes, quando olhados como grupo, diferindo, entretanto, fundamentalmente, um do outro, nas peculiaridades de sua individualidade. Embora a seqüência das etapas do desenvolvimento seja a mesma para todos e o processo de construção de conhecimento envolva princípios e leis comuns a todos, a forma de vivência desses processos, bem como o ritmo com que são vivenciados, difere de um aluno para outro. Tais diferenças são produtos de um conjunto complexo de determinantes. Como exemplos pode-se citar: o aparato biológico de cada um, o contexto sóciocultural em que cada um se desenvolveu e no qual vive (trama de relações que constitui o contexto de sua existência), o conhecimento que já construiu no decorrer de sua história de vida, o nível de desenvolvimento real em que cada um se encontra, no tocante a cada momento de aprendizagem (tópico do conhecimento focalizado, funções exigidas, habilidades envolvidas), bem como peculiaridades vigentes em seu cotidiano (condições de saúde, de alimentação, de sono, de cansaço, condições emocionais, eventos sociais, experiências de significação subjetiva, etc.) Tais variáveis encontram-se, como em um caleidoscópio, em constante movimento e interação, determinando, através do processo de elaboração ativa do aluno, características de sua individualidade: algumas, mais consistentes e estáveis (conquanto em constante processo de desenvolvimento) enquanto que outras, mais circunstanciais e episódicas. Tais características determinam, então, necessidades educacionais específicas, peculiares a cada aluno. Quando pensamos em definição de deficiência, há que se refletir em como é que esse termo está colocado em nossa legislação. Vejamos um esquema utilizado por Mazzotta (2002, p.18) no qual escreve: a CIDID (Classificação das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens), complementando o esquema da CID (Classificação Internacional de Doenças), relativo a cada um dos três conceitos principais e define: DEFICIÊNCIA: no domínio da saúde, deficiência representa qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. INCAPACIDADE: No domínio da saúde, incapacidade corresponde a qualquer redução ou falta (resultante de uma deficiência) de capacidades para enxergar uma atividade de forma ou dentro dos limites considerados normais para o ser humano. DESVANTAGEM (Handicap): No domínio da saúde, desvantagem (handicap) representa um impedimento sofrido por um dado indivíduo, resultante de uma deficiência ou de uma incapacidade, que lhe impede o desempenho de uma atividade considerada normal para esse indivíduo, tendo em atenção a idade, o sexo e os fatores sócio-culturais, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (1989 apud MAZZOTTA, 2002). Para D’antino (2001), a atual concepção de deficiência é fruto de uma história recente, e ainda em curso, que deve ser creditada a seus protagonistas que, direta e/ou indiretamente vem percorrendo um caminho em direção à conquista dos seus direitos de cidadania plena. Se analisarmos as leis brasileiras no que tange às deficiências, observamos que aparecem como uma das legislações mais avançadas do mundo, mas a sua concretização emperra. O que está garantido em lei e o que realmente acontece, forma um verdadeiro antagonismo. O Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de dezembro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, dá outras providências e define algumas denominações relativas às pessoas portadoras de deficiência, tais como: Deficiência, como sendo, “toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”. Não poderíamos deixar de citar, uma publicação do Ministério da Justiça (1997 apud Samulski, 1995), que diz: A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, por sua vez, aprovou, através da Resolução 48/96 uma definição do termo deficiência, que em muito difere das definições usuais e que pode ser considerada um avanço social, educacional e jurídico. Segundo essa Resolução, deficiência “é a perda ou limitação de oportunidades de participar da vida comunitária em condições de igualdade comas demais pessoas”. Com isto desvinculouse a deficiência de um contexto exclusivamente terapêutico sendo deficiência associada a condições sociais e educacionais. Com esta definição, a Organização das Nações Unidas reconhece na escolarização, na qualificação profissional, na prática esportiva e na vida social , elementos vitais para o efetivo processo de reabilitação dos indivíduos. Já a Declaração de Cartagena das Índias sobre Políticas Integrais para Pessoas com Deficiências na Região Ibero-Americana, de 1992, definiu deficiência com sendo uma perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica” . Deficiência Permanente, como, aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que as altere, apesar de novos tratamentos. O Ministério da Educação, Cultura e do Desporto (1999, p. 36), objetivando a uniformização terminológica e conceitual, propõe as seguintes concepções referentes às deficiências e que vale a pena serem descritas aqui: Deficiência Mental: É caracterizada por apresentar um funcionamento intelectual geral abaixo da média, tendo sua origem no período de desenvolvimento, juntamente com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do sujeito em responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação; cuidados pessoais; habilidades sociais; desempenho na família e sociedade; independência na locomoção; saúde e segurança; desempenho escolar; lazer e trabalho. Deficiência Física: Apresenta-se como uma variedade de condições não sensoriais que afetam o sujeito em termos de mobilidade, de coordenação motora geral ou da fala, como decorrência de lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas, ou, ainda, de malformações congênitas ou adquiridas. Deficiência Auditiva: Perda total ou parcial, congênita adquirida, da capacidade de compreender a fala por intermédio do ouvido. Deficiência Visual: Redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho após correção ótica. Manifesta-se como cegueira ou visão reduzida. Deficiência Múltipla: É associação, na mesma pessoa, de duas ou mais deficiências (mental, visual, auditiva ou física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa. 2.2 – DEFININDO E CARACTERIZANDO A DEFICIÊNCIA AUDITIVA A grande importância da audição no desenvolvimento intelectual e na integração social do indivíduo é que, tanto a audição como a linguagem, são funções essenciais à comunicação oral entre os homens. É pela audição que se originam os processos e mecanismos da formação e desenvolvimento da linguagem. Daí o grande valor que deve ser dado à capacidade auditiva na educação, tendo em vista não só a criança surda, que não adquire espontaneamente a linguagem, que necessita de técnicas psicopedagógicas, professores, recursos e aparelhos especiais, mas também a criança hipoacúsica, com perdas moderadas e leves de audição, que lhe podem acarretar desajustamentos, distúrbios de linguagem oral e escrita, baixo aproveitamento escolar e ainda, sem razão, qualificada como deficiente mental. Se promover a perfeita integração intelectual e social do aluno é objetivo da educação, a audição, como função social dessa integração, assume maior importância e todos os recursos devem ser usados para prevenir, minorar ou solucionar os distúrbios dessa área. Segundo Kirk e Gallagher, (1987, p. 230), a audição é geralmente medida e descrita em decibéis (Db), uma medida relativa de intensidade do som. Quanto maior o número de decibéis necessários para que uma pessoa possa responder ao som, maior a perda auditiva. Em seus estudos Kirk e Gallagher (1987, p. 233) adotam a seguinte classificação para o grau de perda auditiva e significado para a educação: Quadro 01 – Grau de perda auditiva e significado para a educação Nível de perda Intensidade do som para a Implicações para a percepção educação Pode ter dificuldades em ouvir sons Leve 27 – 40 decibéis distantes. Pode precisar sentar-se em lugar preferencial e de terapia de fala. Compreende Moderada 41 – 55 decibéis conversa. a fala de uma Pode não acompanhar discussões em classe, pode precisar de aparelhos auditivos e de terapia especial. Precisará Moderadamente grave 56 – 70 decibéis treinamento de aparelho auditivo, auditivo, treinamento intensivo em fala e linguagem. Consegue Grave 71 – 90 decibéis ouvir somente sons próximos. Às vezes é considerado surdo. Precisa de educação especial intensiva, aparelhos auditivos, treinamento em fala e linguagem. Pode Profunda 91 decibéis + perceber sons altos e vibrações. confia mais na visão do que na audição para o processar de informações. Considerado surdo. Sabemos que uma das principais vias de construção de conhecimento sobre a realidade de que o homem dispõe, é a interação social, instância em que a pessoa compartilha experiências lingüísticas, mais ou menos significativas, por meio das quais apreende o significado e a função social dos objetos e dos fenômenos sociais. Considerando que toda aprendizagem é mediada pela linguagem, ela será muito melhor sucedida se a língua utilizada for compartilhada por todos que se encontram no processo educacional. Retomando a análise do DECRETO nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, verificamos que o mesmo considera pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas categorias por ela estipulada. A deficiência auditiva segundo este decreto é assim definida: Perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte: a) de 25 a 40 decibéis – surdez leve b) de 41 a 55 decibéis – surdez moderada c) de 56 a 70 decibéis – surdez acentuada d) de 71 a 90 decibéis – surdez severa Segundo o MEC/Secretaria de Educação Especial – Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: Deficiência Auditiva, (1997, p. 31), deficiência auditiva “é a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons, sendo considerado surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum, e parcialmente surdo, aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva”. Neste sentido, nos reportamos à concepção do MEC em seu documento normativo Parâmetros Curriculares Nacionais/1999, já citado neste trabalho, o qual adotou a seguinte definição para a deficiência auditiva: Perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala por intermédio do ouvido. Tal deficiência manifesta-se como: surdez leve / moderada: perda auditiva de até 70 decibéis, que dificulta, mas não impede o indivíduo de se expressar oralmente, bem como de perceber a voz humana, com ou sem a utilização de um aparelho auditivo. surdez severa / profunda: perda auditiva acima de 70 decibéis, que impede o indivíduo de entender, com ou sem aparelho auditivo, a voz humana, bem como de adquirir, naturalmente, o código da língua oral. Do ponto de vista educacional e com base na classificação do Bureau Internacional d’Audiophonologie – BIAP, e na Portaria interministerial nº 186 de 10/03/78, vale destacar tal conceituação utilizada pelo MEC, no tocante à deficiência auditiva. Neste sentido, considera-se: - Parcialmente surdo a) Portador de surdez leve – aluno que apresenta perda auditiva de até quarenta decibéis. Essa perda impede que o aluno perceba igualmente todos os fonemas da palavra. Além disso, a voz fraca ou distante não é ouvida. Em geral, esse aluno é considerado como desatento, solicitando, freqüentemente, a repetição daquilo que lhe falam. Essa perda auditiva não impede a aquisição normal da linguagem, mas poderá ser a causa de algum problema articulatório ou dificuldade na leitura e/ou escrita. b) Portador de surdez moderada – aluno que apresenta perda auditiva entre quarenta e setenta decibéis. Esses limites se encontram no nível da percepção da palavra, sendo necessário uma voz de certa intensidade para que seja convenientemente percebida. É freqüentes o atraso de linguagem e as alterações articulatórias, havendo, em alguns casos, maiores problemas lingüísticos. Esse aluno tem maior dificuldade de discriminação auditiva em ambientes ruidosos. Em geral, ele identifica as palavras mais significativas, tendo dificuldade em compreender certos termos de relação e/ou frases gramaticais complexas. Sua compreensão verbal está intimamente ligada à sua aptidão para a percepção visual. - Surdo a) Portador de surdez severa – aluno que apresenta perda auditiva entre setenta e noventa decibéis. Este tipo de perda vai permitir que ele identifique alguns ruídos familiares e poderá perceber apenas a voz forte, podendo chegar até quatro ou cinco anos sem aprender a falar. Se a família estiver bem orientada pela área educacional, a criança poderá chegar a adquirir linguagem. A compreensão verbal vai depender, em grande parte, de aptidão para utilizar a percepção visual e para observar o contexto das situações. b) Portador de surdez profunda – aluno que apresenta perda auditiva superior a noventa decibéis. A gravidade dessa perda é tal, que o priva das informações auditivas necessárias para perceber e identificar a voz humana, impedindo-o de adquirir naturalmente a linguagem oral. As perturbações da função auditiva estão ligadas tanto a estrutura acústica, quanto à identificação simbólica da linguagem. Um bebê que nasce surdo balbucia como um de audição normal, mas suas emissões começam a desaparecer à medida que não tem acesso a estimulação auditiva externa, fator de máxima importância para a aquisição da linguagem oral. Assim também, não adquire a fala como instrumento de comunicação, uma vez que, não a percebendo, não se interessa por ela, e não tendo “feedback” auditivo, não possui modelo para dirigir suas emissões. 2.3 – ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS Pensando-se em atender de forma adequada os alunos com necessidades educacionais especiais de nossas escolas, precisamos primeiro compreender quem são, de que necessitam, como são denominados na forma da lei e como a sociedade os vê. Através da literatura específica e de documentos que ao longo dos anos formaram uma coletânea, descobriu-se que tais alunos receberam inúmeras denominações. Claro que, dependendo da época, algumas traziam conotações pejorativas e, em outras, simplesmente mudava-se a palavra, mas o sentido continuava o mesmo, o da exclusão. Vale a pena fazer um percurso pelas novas legislações brasileiras, sejam elas em âmbito federal ou estadual, pois nelas aparecem esse alunado que tanto necessita de uma educação que o faça desenvolver-se dignamente, não meramente como siglas. De acordo com o artigo 5º da Resolução nº 02/2001 do Conselho Nacional de Educação, de 11 de setembro de 2001, são considerados educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagem e códigos aplicáveis; III – altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. Dentro desta classificação adotada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) - 2001 os deficientes auditivos, em sua maioria, situam-se no item II, na medida em que apresentam certas dificuldades no processo educacional em decorrência de limitações na sua comunicação. Podemos perceber que as denominações utilizadas emanam da esfera federal para estadual. A proposta do MEC perpassa vários caminhos, chegando à escola, mais precisamente até a sala de aula, diretamente na relação professoraluno. O Conselho Estadual de Educação de São Paulo através da deliberação CEE nº 05/00 fixa normas para a educação de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais na educação básica do sistema estadual de ensino. Por esta deliberação, são considerados alunos com necessidades educacionais especiais/deficientes auditivos, os que apresentam dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis. Das denominações utilizadas no país é pertinente ainda citar a Resolução SE/SP nº 95, de 21 de novembro de 2000, que considera, em seu artigo 1º, alunos com necessidades educacionais especiais aqueles que apresentam significativas diferenças físicas sensoriais ou intelectuais decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, de caráter permanente ou temporário, que resultem em dificuldades ou impedimentos no desenvolvimento de seu processo ensino-aprendizagem. Capítulo 3: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O estudo se propôs a desenvolver pesquisa teórica e de campo. A pesquisa envolveu um estudo bibliográfico em autores nacionais, estrangeiros e análise documental abrangendo legislação, normas nacionais e do Estado de São Paulo, caracterizando assim uma pesquisa qualitativa. Recentemente, com origem nas pesquisas sociais, aparecem novas propostas de investigação que valorizam a descrição, a indução e a percepção. De acordo com Bogdan & Biklen (1996 apud UENO, 2004), “a investigação qualitativa em educação assume muitas formas e é conduzida em múltiplos contextos. Consideramos importante destacar as características da investigação qualitativa, segundo esses autores. 1 - Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; 2 - A investigação qualitativa é descritiva; 3 - Os investigadores qualitativos tendem a analisar seus dados de forma indutiva; 4 - Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos; 5 - O significado é de importância vital na abordagem qualitativa. Em relação aos conceitos de pesquisa qualitativa, alguns autores merecem destaque pois, serviram de orientação para o presente trabalho. Chizzotti (1997), em estudo específico sobre pesquisa qualitativa, revela-nos que a pesquisa qualitativa é aquela na qual o pesquisador participa, compreende e interpreta. Fundamenta-se em dados reunidos em interações interpessoais, analisadas a partir da significação que os envolvidos dão aos seus atos. Outro aspecto importante, refere-se à análise documental, sobre a qual Lüdke e André (1986) destacam que os documentos constituem uma fonte poderosa de informações nas quais podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações e declarações do pesquisador. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto. Guba e Lincoln (1981 apud Lüdke e André, 1986) resumem as vantagens do uso de documentos, dizendo que uma fonte tão repleta de informações sobre a natureza do contexto nunca deve ser ignorada, quaisquer que sejam os outros métodos de investigação escolhidos. O presente estudo consiste em uma pesquisa que descreve e analisa a visão que um grupo de profissionais da educação de escolas públicas estaduais tem em relação às políticas públicas de implantação e implementação de adaptações curriculares para alunos deficientes auditivos. Foram tomados como fontes para revisão bibliográfica desta pesquisa o acervo da Biblioteca da Universidade Presbiteriana Mackenzie: Livros; Banco de teses e Periódicos. Legislação emanada das esferas federal, estadual e regional. Leituras realizadas nas disciplinas cursadas no Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do desenvolvimento e, especialmente, o trabalho de análise do Projeto Inicial de Pesquisa por parte dos docentes da Banca de Qualificação, bem como as sugestões de leitura, consideradas de extrema importância para o estudo. O universo que serviu de campo de investigação, corresponde a duas escolas públicas estaduais de Ensino Fundamental e Médio, localizadas em região administrativa, no litoral sul do Estado de São Paulo, em cidades diferentes. Trata-se de escolas públicas que recebem alunos entre 07 e 18 anos de idade em média, da 1ª série do Ciclo I até a 3ª série do Ensino Médio. Um aspecto de extrema importância e que não poderíamos deixar de citar, refere-se as duas escolas, as quais no estudo denominaremos de escola A e de escola B. As mesmas possuem em seu alunado, deficientes auditivos matriculados em classes regulares de ensino e que são atendidos em salas de recursos de acordo com a Resolução 95/2000, bem como alunos egressos de outras unidades escolares para serem atendidos nessas salas de recursos. Os critérios para a escolha dessas escolas foram os seguintes: As escolas ministram Ensino Fundamental e Médio e contam com alunos deficientes auditivos matriculados em classes regulares; As escolas possuem salas de recursos e professores com experiências em classes especiais para atender os alunos deficientes auditivos; As escolas recebem alunos egressos de outras unidades escolares para serem atendidos nas salas de recursos, conforme resolução já citada; O pesquisador conta com a anuência da equipe técnica e dos professores da escola para a realização da pesquisa. Sabendo que a discussão sobre as adaptações curriculares implica diretamente no cotidiano da escola, na adoção das mesmas como eixos no desenvolvimento de capacidade dos alunos, interferindo na forma de seleção e organização dos conteúdos curriculares, metodologias, procedimentos didáticos, enfim, em todo o trabalho docente e discente, objetivando o sucesso e o bom desenvolvimento de todo o grupo, levando-os às ações conscientes e responsáveis é que se buscou os sujeitos alvos deste estudo que são: 06 profissionais da educação, sendo 02 Professores Coordenadores Pedagógicos; 02 Professores de classe regular e 02 Professores de salas de recursos para deficientes auditivos. julgamos importante destacar a formação acadêmica destes profissionais, pois são sujeitos que estão diretamente ligados com o desenvolvimento das políticas públicas de educação do Estado de São Paulo e suas formações acadêmicas implicam diretamente no cotidiano das escolas. Unidade escolar A: Professor Coordenador Pedagógico – Habilitado em História e Geografia; Professor da classe comum – Habilitado em Língua Portuguesa; Professor da sala de recursos – Habilitado em História, possuindo curso de Educação Especial em nível de extensão cultural com carga horária de 150 horas, atualmente está cursando o curso de Pedagogia em forma de complementação e também um programa de pós-graduação (Lato Sensu) em educação especial Unidade escolar B: Professor Coordenador Pedagógico – Habilitado em Magistério nível médio e Normal superior, atualmente está cursando o curso de Pedagogia em forma de complementação; Professor da classe comum – Habilitado em Pedagogia; Professor da sala de recursos – Habilitado em Pedagogia, possuindo curso de Educação Especial em nível de extensão cultural com carga horária de 150 horas. 3.1 – O UNIVERSO DA PESQUISA DE CAMPO 3.1.1- Identificação da Unidade Escolar A A Unidade Escolar atende aos alunos de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental (Ciclo I) e de 1ª a 3ªsérie do Ensino Médio, com uma clientela de 625 alunos distribuídos em dois turnos em regime de Progressão Continuada3, com 3 A Deliberação CEE-SP 9/97 instituiu o regime de progressão continuada no Ensino Fundamental com a possibilidade de ser organizado o Sistema de Ensino do Estado de São Paulo em um ou mais ciclos. O regime de progressão continuada pede avaliação contínua do processo de aprendizagem dos alunos, que deve ser objeto de recuperação contínua e paralela a partir de resultados periódicos parciais e, se, necessário, no final de cada período letivo. duração de oito anos. Ministra também educação especial, na forma de sala de recursos4 para alunos deficientes auditivos, a partir de princípios da educação inclusiva em turmas específicas. É uma escola pública estadual e está localizada na periferia de uma das cidades da região sul do estado. 3.1.1.1 – Alunado De maneira geral os alunos são oriundos de famílias numerosas, de baixo poder aquisitivo, assalariados e muitas vezes chefiadas pela mãe. O nível de escolaridade dos pais corresponde ao do ensino fundamental incompleto. A maioria dos alunos reside em imóveis próprios, situados nas imediações do prédio escolar. As residências, de construção precária e, em inúmeros casos, inacabadas, situamse em áreas cujas ruas são asfaltadas ou calçadas. Buscando uma relação com o parágrafo acima, devemos lembrar que quando falamos em família na sociedade brasileira atual, é importante perceber as diferenças sócio-étnico-culturais presentes, assim como respeitar tais diferenças. É preciso evitar categorizações do tipo família “regular” ou “normal x família irregular” ou “desestruturada”, que acabam por revelar ou gerar preconceitos os quais, por sua vez, podem dificultar e até inviabilizar ações e programas com as crianças, filhas dessas famílias. Quanto ao alunado destacamos as características do grupo de alunos matriculados nas classes regulares do Ensino fundamental e que freqüentam a sala de recursos, no que concerne o grau de perda auditiva, pois são esses alunos que irão demandar adaptações curriculares ou não, por parte dos professores das duas escolas objetos deste estudo. Para tal caracterização utilizaremos apenas as iniciais dos nomes dos alunos. Quadro 02 – Grau de perda auditiva dos alunos: escola A 4 Serviço de apoio especializado, para atividades especializadas, desenvolvidas em sala de recursos específicos, com atendimento por professor especializado, em horários programados de acordo com as necessidades dos alunos, e, em período diverso daquele em que freqüentarem as classes comuns da própria escola ou de unidade diversa. O seu funcionamento diário será de, no mínimo, um turno de 5 horas diárias, para atendimento individuais ou de pequenos grupos com turmas entre 10 e 15 alunos, de modo a atender alunos de 2 ou mais turnos, de acordo com a Resolução SE nº 95, de 21 de novembro de 2000. ALUNOS GRAU DE PERDA M. A. - Matriculado na 5ª série - EF Profunda E - Matriculada na 6ª série - EF Profunda E - Matriculada na 5ª série - EF Profunda E - Matriculada na 1ª a 4ª série - Educação de Profunda Jovens e Adultos – começou a freqüentar a escola em novembro de 2004. Segundo relato da professora nunca havia freqüentado uma escola. O - Matriculado na 5ª série - EF Moderada – utiliza prótese auditiva T - Matriculada na 2ª série - EF Profunda – utiliza prótese auditiva J - Matriculado na 3ª série - EF Leve F - Matriculado na 1ª série - EF Profunda E - Matriculada na 1ª série a 4ª série - EJA Profunda Vale lembrar que nos referendamos para as análises, em estudos de Kirk e Gallagher (1987). Para chegarmos a esta caracterização de perda auditiva, realizamos uma análise em dados contidos nos prontuários dos alunos através das últimas audiometrias realizadas, com a autorização prévia dos diretores das escolas. A escola foi fundada em 1981. Foi a primeira escola criada na cidade. Trabalham nela 31 professores (7 titulares de cargo e 24 ofas 5), além do professor coordenador pedagógico, um diretor, um vice-diretor, um secretário, três oficiais administrativos, dois ajudantes de serviços e duas merendeiras. No período da manhã funcionam 10 salas atendendo aos alunos de 5ª a 7ª séries (Ciclo II) e no período da tarde também são ocupadas 10 salas atendendo alunos da 8ª série (Ciclo II) e alunos do Ensino Médio. 5 Professores ocupantes de função- atividade. São admitidos de acordo com a Lei 500 de 13 de novembro de 1974, que institui o Regime Jurídico dos Servidores Admitidos em Caráter Temporário e dá providências correlatas. 3.1.1.2 - Recursos Físicos e Materiais A escola possui 10 (dez) salas próprias para o atendimento à demanda do Ensino Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio. A maioria delas com construção datada de 1981 (ano de instalação da escola), apresenta área normal aos padrões atuais. As salas de aulas, comportam no máximo, 35 alunos/classe, impondo um certo limite ao atendimento à demanda. A definição de eventuais espaços pedagógicos específicos como Cantinho de Leitura, de Ciências, de Matemática, etc. reduz ainda mais essa capacidade. No total são 20 turmas acolhendo 625 alunos. A sala de recursos, instalada em um local que a princípio seria uma sala para o desenvolvimento de atividades de artes, está organizada para atender a demanda de alunos com deficiência auditiva da escola e de outras unidades escolares conforme a Resolução SE nº 95, de 21 de novembro de 2000, que dispõe sobre o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas da rede estadual de ensino. Contém duas mesas, um microcomputador, um aparelho de som, um espelho na parede, cartazes com o alfabeto em libras e listagem de palavras estudadas. A professora desta sala relata que não encontra nenhum problema para desenvolver seu trabalho. Existe também a sala multimeios que serve como apoio pedagógico. Para esse fim é utilizada uma sala de aproximadamente 40 m², onde estão instalados televisor, receptor de antena parabólica e vídeo. A sala é utilizada também pela Coordenação para reunião de htpcs. A escola conta com uma sala de leitura que também é utilizada para as aulas de artes. Nesse ambiente encontra-se material bibliográfico para os alunos e professores. O mobiliário específico de sala de aula apresenta desgaste natural: demanda substituição de algumas mesas e cadeiras de alunos. O atendimento atual é exclusivo à faixa etária dos alunos de 5ª série ao Ensino Médio. Ainda há necessidade de armários para professores e estantes abertas para melhor acomodação e acesso aos livros existentes. Quanto ao material pedagógico existente na escola, segundo o diretor, no momento apresenta-se em quantidade suficiente, com a redução dos recursos QESE6 a direção da escola teme que esse atendimento seja prejudicado. A diversidade desse material no momento contempla, com suficiência, quase todos os componentes curriculares, deixando a desejar o componente de Educação Física que está com falta de materiais como: cones, cordas, bastões, bolas de voleibol, de futebol e basquetebol. Equipamentos - Kit tecnológico (antena parabólica, vídeo e TV) – em boas condições, serve à sala multimeios e Kit informática (computador, impressora, scanner) em condições razoáveis; atende às necessidades de administração e da direção. 3.1.2 – Unidade Escolar B Assim como a escola A, esta unidade escola ministra Ensino Fundamental, em regime de Progressão Continuada, com duração de oito anos, organizado em dois ciclos, sendo que o ciclo I corresponde ao ensino das quatro primeiras séries e o ciclo II ao ensino das quatro últimas séries. Vale ressaltar que a Unidade Escolar atende apenas aos alunos do ciclo I (1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental) com uma clientela de 450 alunos distribuídos em dois turnos. Ministra também educação especial, na forma de sala de recursos para alunos deficientes auditivos, a partir de princípios da educação inclusiva em turmas específicas. É uma escola pública estadual e está localizada no centro de uma das cidades da região sul do estado. A escola foi fundada em 1933. Foi a primeira escola criada na cidade. Trabalham nela 16 professores (2 titulares de cargo e 15 OFAS), além do professor coordenador pedagógico, uma diretora, um secretário, cinco oficiais administrativos, quatro ajudantes de serviços e duas merendeiras. No período da manhã, assim como no período da tarde, são ocupadas oito salas. No total são 15 turmas acolhendo 450 alunos 6 Recurso financeiro repassado trimestralmente pela SEE/SP, podendo ser gasto apenas na compra de material de aluno. 3.1.2.1 – Alunado É constituído, em média, por alunos provenientes de lares de baixa renda, baixo nível sócio-cultural e de prole numerosa. A metade dos alunos é oriunda da zona rural, filhos de trabalhadores braçais. Não têm maiores opções de cultura, além da escola, e as de lazer também são extremamente limitadas. Quando os pais comparecem na escola, aparentemente demonstram reconhecer o valor da educação formal para o indivíduo mas, paradoxalmente, a participação de família no acompanhamento da vida escolar dos filhos não é uma realidade. Na verdade, em grande parte, eles esperam que a escola resolva os problemas: de materiais didáticos, alimentação, higiene, vestimentas, às vezes, e hábitos de estudo, além de garantir a efetividade daquela que deveria ser a educação do lar. O fato de existir um percentual tão significativo de alunos residentes na zona rural acarreta duas vertentes de problemas: a dificuldade de participação dos pais na escola (distância da residência, dificuldades de acesso e perda do dia de trabalho); a impossibilidade de atividade de reforço para o aluno em horário diferente de seu turno de estudo (horário de condução, alimentação e, eventualmente, complemento de mão de obra para melhoria da renda familiar). Szymanski (1998) diz que, na maioria das vezes pensa-se que cabe unicamente à escola, por especificidade, a obrigação de ensinar (bem) conteúdos específicos de áreas de saber escolhidos como sendo fundamentais para a instrução de novas gerações; assim como, apenas à família cabe dar acolhimento a seus filhos num ambiente estável, provedor, amoroso. Sabemos, ainda, que muitas escolas e famílias, infelizmente, não conseguem atingir seus objetivos por questões econômicas e/ou pessoais. Podemos perceber que a ação educativa dos pais difere da que é desenvolvida na escola (nos seus objetivos, conteúdos, métodos, no padrão de sentimentos e emoções, na natureza dos laços pessoais, nas circunstâncias que ocorrem). Quanto ao alunado da escola B, vale destacar assim como na escola A, as características do grupo de alunos matriculados nas classes regulares do Ensino Fundamental que freqüentam a sala de recursos, no que concerne o grau de perda auditiva. Utilizamos também apenas as iniciais dos nomes dos alunos. Quadro 03 – Grau de perda auditiva dos alunos: escola B ALUNOS GRAU DE PERDA D – Matriculado na 1ª série - EF Profunda C – Matriculada na 3ª série - EF Moderada – utiliza prótese auditiva R – Matriculado na 2ª série - EF Profunda – utiliza prótese auditiva esporadicamente A. P. – Matriculada na 2ª série - EF Profunda C – Matriculado na 2ª série - EF Profunda – utiliza prótese auditiva D - Matriculado na 3ª série - EF moderada - utiliza prótese auditiva E - Matriculada na 7ª série - EF Profunda – utiliza prótese auditiva D – Matriculado na 7ª série - EF Profunda – L - Matriculado na 8ª série - EF Profunda – Serviram de referência para as análises os estudos de Kirk e Gallagher (1987). Os procedimentos para a análise dos dados foram os mesmos utilizados para a escola A, citados anteriormente. 3.1.2.2 - Recursos físicos e materiais A escola possui 10 (dez) salas próprias para o atendimento à demanda do Ensino Fundamental – Ciclo I, a maioria delas com construção datada de 1947 (ano de instalação da escola), apresenta área inferior aos padrões atuais. Em seus 40,04 m² (7,70 m x 5,20 m) comporta, no máximo, 35 alunos/classe, impondo um certo limite no atendimento à demanda, comparativamente a outras escolas. A definição de eventuais espaços pedagógicos específicos como cantinho de leitura, de ciências, de matemática, etc. reduz ainda mais essa capacidade. A sala de recursos está organizada de acordo com a Resolução SE nº 95/2000 já citada. Contêm 10 carteiras dispostas em forma de círculo, um microcomputador, um aparelho de som, um espelho na parede, cartazes com o alfabeto em libras e listagem de palavras estudadas. A escola utiliza a sala multimeios como apoio pedagógico. É uma sala de 40 m², onde estão instalados televisor, receptor de antena parabólica e vídeo. É utilizada também pela Coordenação, assim como na escola A, para reunião de htpcs. A sala de leitura é um ambiente de 25 m², adequado para o desenvolvimento de atividades de incentivo ao hábito da leitura. Encontram-se nesse ambiente também, a bandinha rítmica, palco para fantoches e material bibliográfico para os professores. O mobiliário, assim como na escola A, apresenta desgaste natural: demanda substituição de algumas mesas e cadeiras de alunos. O atendimento atual é exclusivo à faixa etária dos alunos de 1ª a 4ª séries. Existe a necessidade de armários para professores e estantes abertas para melhor acomodação e acesso aos livros existentes. Quanto ao material pedagógico exclusivo para os alunos, no momento se apresenta em quantidade suficiente. A escola possui ainda um - Kit tecnológico (antena parabólica, vídeo e TV) – em boas condições, serve a sala multimeios e Kit informática (computador, impressora, scanner) - em condições razoáveis; atende às necessidades de administração, do núcleo pedagógico e da direção. 3.2 - A PESQUISA DE CAMPO Os primeiros contatos com as escolas aconteceram no ano de 2003, quando assumi a função de ATP junto à Diretoria de Ensino. A partir daí, percebemos que poderíamos desenvolver um trabalho com essas escolas, mesmo não tendo ainda definido o projeto de pesquisa, mas, conseguíamos vislumbrar alguma possibilidade de estudo. Através de conversas com os diretores das escolas e a freqüência em horas de trabalhos pedagógicos coletivos (htpcs) como são conhecidas e em algumas reuniões pedagógicas no ano de 2004, pudemos estabelecer um vínculo de confiança com os grupos de professores que provavelmente fariam parte dos estudos. Por conta deste aspecto, buscávamos a todo momento o distanciamento necessário entre o pesquisador e o ATP, pois em determinadas situações nos colocávamos muito próximos ao grupo, o que poderia interferir nos resultados da pesquisa. As entrevistas propriamente ditas foram realizadas nos meses de abril e maio de 2005. Para tanto, foram realizadas entrevistas com os seis profissionais mencionados Para Lüdke e André (1986, p.33) “ mais do que instrumentos de pesquisa, que em geral estabelecem uma relação hierárquica entre o pesquisador e o pesquisado, na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos”. As entrevistas foram agendadas com o Professor Coordenador Pedagógico das duas Unidades Escolares e realizadas em dias e horários distintos para cada professor, garantindo assim que cada um dos envolvidos fosse entrevistado sozinho de forma que não tivesse contato com os outros para não sofrer influências nas suas respostas. Sabíamos que, tratando-se de pesquisa sobre ensino para tais profissionais, não lhes estaríamos impondo uma problemática estranha, mas, ao contrário, tratando com eles de assuntos que lhes são muito familiares sobre os quais poderiam discorrer com certa facilidade. Ainda Lüdke e André (1986) destacam a importância da pessoa que está sendo entrevistada estar bem informada sobre os propósitos da entrevista e de que as informações fornecidas serão utilizadas para fins de pesquisa. Para tanto, foi encaminhado aos envolvidos na pesquisa uma carta contendo informações sobre o estudo e um termo de consentimento livre. (em Anexo I). Para a realização das entrevistas nas unidades escolares, que no estudo chamamos de A e B, pudemos contar com a colaboração dos professores coordenadores pedagógicos que disponibilizaram suas salas de trabalho, para que pudéssemos desenvolver a entrevista. Foi, portanto, nesse ambiente, de certa forma reservado e acolhedor que as entrevistas foram realizadas. Os profissionais entrevistados mostraram bastante disponibilidade durante o tempo em que estivemos juntos. Para a realização das entrevistas foi utilizado um roteiro previamente organizado (ANEXOS III, IV e V), explicado aos entrevistados sobre o seu propósito, solicitado o seu consentimento, conforme anexos já citados, bem como um gravador e um caderno para possíveis anotações que achamos necessário ter no momento da entrevista. Quanto ao registro das informações, Lüdke e André (1986) consideram que os mesmos quando feitos através de anotações durante a entrevista, deixam de revelar muitas das coisas relatadas pelo entrevistado, por isso optou-se pelo uso do gravador, pois assim, obtem-se a vantagem de registrar todas as expressões orais do entrevistado, permitindo ao entrevistador ter um tempo mais livre para observar o mesmo. Uma vez realizadas as entrevistas, foram as mesmas transcritas literalmente pelo pesquisador. Consideramos que, ao transcrevermos trechos das entrevistas, estamos proporcionando ao leitor e principalmente ao pesquisador um material bastante rico em informações, pois é através dele que o pesquisador norteará suas análises. Passamos então, a uma realização de leitura criteriosa para identificarmos os elementos mais significativos nas respostas dos professores, que evidenciassem de alguma maneira, a implantação e implementação de adaptações curriculares para alunos com deficiência auditiva das referidas escolas. Das transcrições dos depoimentos, os trechos mais significativos em relação aos itens levantados foram colocados em tabelas para uma melhor visualização dos pontos comuns e diferentes levantados pelos entrevistados. Tais conteúdos, organizados em tabela permitiram ao pesquisador uma análise critica, tendo como parâmetro, indicações obtidas no referencial teórico selecionado. 3.2.1 – APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS DADOS A seguir serão apresentados e descritos os dados das entrevistas, organizados em quatro tabelas, contemplando aspectos no que tange às orientações técnicas, facilidades e dificuldades para efetivação de adaptações curriculares e outras observações que os entrevistados julgaram importantes para serem registradas Com relação às orientações recebidas para implantação e implementação de adaptações curriculares para alunos deficientes auditivos, os entrevistados dentre outros aspectos levantaram os seguintes aspectos que merecem ser destacados: TABELA 01 - Orientações recebidas para implantação e implementação de adaptações curriculares Funç Escola A Escola B ão Professor Coordenador Pedagógico [...] Tenho, não com a freqüência e [...] Recebi algumas orientações em 2003, quando estive participando de orientações técnicas sobre a inclusão no CAPE em São Paulo e também pela Diretoria de Ensino. quantidade que necessito, através do ATP responsável pela educação especial na Diretoria de Ensino. [...] Acho ainda, que essas capacitações deveriam ser mais direcionadas para a formação do currículo. [...] As orientações recebidas tem sido [...] Estou na educação especial há 10 Professor da sala de recursos através de capacitações realizadas no anos e nesse tempo tivemos alguma CAPE em São Paulo, onde são tratados orientações em São Paulo no CAPE. [...] conteúdos de Língua Portuguesa para A sala especial foi transformada em sala Surdos. [...] Além disso recebi algumas de recursos em março deste ano (2005) e orientações de como estar elaborando um de lá pra cá não tivemos nenhuma visita, plano individualizado para os alunos com nenhum suporte, a sala de recursos está deficiências. há dois meses e meio funcionando e estamos tentando desenvolver um trabalho na medida do possível, sem [...] Como em nossa escola temos uma [...] Não recebi nenhum tipo de orientação, sala regular Professor da classe grandes informações. de deficientes recursos auditivos, para atender desde 2003 os apenas um treinamento na Diretoria de a Ensino de como trabalhar com alunos professora da sala tem nos auxiliado com deficiência auditiva, após estar quanto a nos comunicarmos com tais trabalhando a três meses com a aluna alunos. deficiente auditiva em minha sala. Através dos relatos dos professores, podemos destacar um aspecto que ficou evidente na maioria dos depoimentos. No que concerne às orientações técnicas, podemos observar que, sejam estas em nível estadual ou regional, estão sendo realizadas, ainda que de forma esporádica. Quando nos atemos nos depoimentos do professor coordenador pedagógico da escola A e da sua professora da sala de recursos, bem como nos depoimentos da professora da sala de recursos da escola B, podemos observar que os mesmos já receberam orientações realizadas pelo CAPE. Voltemos ao depoimento do professor coordenador pedagógico da escola A, quando relata que, foi no ano de 2003, que recebeu orientação técnica. Fica evidente a lacuna que tal órgão não consegue fechar. Considerando que as informações nos meios educacionais caminham numa velocidade enorme, podemos concluir que o CAPE, que tem como uma de suas funções a de capacitar continuamente os professores, mostra-se deficitário em suas ações. Percebemos através dos depoimentos e de visitas realizadas nas escolas que, muitos problemas existem e os professores buscam a todo o momento um suporte teórico e pedagógico, seja este em forma de capacitações ou formação continuada, como consta na LDB nº 9394/96, e não encontram. Observamos no relato da professora da sala de recursos da escola B que, as orientações técnicas aconteceram algumas vezes. Seu depoimento mostra-nos que a mesma está tentando desenvolver um trabalho, com o apoio da equipe escolar e da Equipe Técnica da Diretoria de Ensino. Em alguns momentos da entrevista, a professora deixa-se levar pela emoção e desabafa: “Me sinto tão sozinha, não tenho a quem recorrer. Isso tudo me dá um desespero. Às vezes tenho vontade de abandonar tudo, mas, penso nos meus alunos, aí fico.” Fica evidente em seu relato que, é no seu compromisso e no fazer pedagógico que está o sucesso de seus alunos, mesmo assim acredita que a formação contínua do profissional é necessária e fundamental para alcançar os objetivos propostos. Através destes depoimentos podemos nos referendar em Philippe Perrenoud (2000, p. 168) quando diz: A profissionalização não avançará se não for deliberadamente estimulada por políticas concentradas que digam respeito à formação dos professores, não avançará muito se essas políticas não encontrarem atitudes, projetos, investimentos de pessoas ou grupos. A despeito das orientações realizadas, vale ressaltar um aspecto: A professora da classe regular da escola A cita que, a professora da sala de recursos tem proporcionado nas htpcs, momentos para discutirem conteúdos, procedimentos didáticos, avaliação, para os alunos deficientes auditivos que freqüentam as classes regulares. Considerando que a professora da sala de recursos desta escola não possui curso em nível de especialização para atender aos deficientes auditivos, percebemos que ao trabalhar dessa maneira, esta professora considera a equipe escolar, antes de tudo, um grupo social, no qual ela está inserida e como tal, realiza atividades coletivas. Nesse momento a professora da sala de recursos, assume o papel de mediadora, proporcionando diferentes alternativas para a construção do conhecimento de seus colegas, referendada pelos anos de experiência em que trabalha com alunos deficientes auditivos. Reportando-nos ao artigo 12 da Resolução nº 95/2000, o qual no item IV e V estabelece que uma das funções do professor da sala de recursos é participar das htpcs e orientar a equipe escolar quanto aos procedimentos e estratégias de inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais, podemos observar que a professora da sala de recursos da escola A, já desenvolve tais atividades. Assim sendo, tais reuniões constituem um espaço privilegiado de interações onde se reproduzem as relações sociais em que os professores interagem com o objeto de conhecimento, juntamente com os colegas de grupo. Foi possível também, verificar através dos depoimentos, que a Equipe Técnica da Diretoria de Ensino está desenvolvendo um trabalho de capacitação junto aos professores no que diz respeito às adaptações curriculares para alunos com deficiência auditiva, não com a freqüência necessária para suprir as falhas na formação dos professores. Os professores sentem-se seguros com a Equipe Técnica, pois nos encontros, sejam eles através de orientação técnica realizada na própria Diretoria de Ensino ou através de visitas nas unidades escolares participando de horas de trabalho pedagógico coletivos, os mesmos têm um momento no qual podem trocar experiências, falar de suas angústias, de seus anseios, medos e insegurança. Observamos nas falas dos entrevistados que existe um espírito de solidariedade e compromisso entre eles, profissionais preocupados com o desenvolvimento dos alunos. Com relação às facilidades por ventura existentes para a efetivação de adaptações curriculares propostas pela Diretoria de Ensino, os entrevistados levantaram aspectos que estamos destacando a seguir: TABELA 02 – Facilidades para a efetivação de adaptações curriculares Função Escola A Professor Coordenador Pedagógico [...] Eu vejo como Escola B uma facilidade a [...] A equipe da Diretoria de Ensino tem disponibilidade da equipe técnica da Diretoria procurado capacitar os professores das salas de Ensino em estar assessorando os de ensino regular e da sala de recursos, vejo trabalhos na unidade escolar. isso como uma facilidade. [...] Quando falamos em facilidades, é [...] Não vejo facilidades para efetivação de Professor da sala de recursos importante mudanças levar a em consideração serem efetuadas as adaptações curriculares para os meus no alunos. [...] Em nenhum momento foi dado atendimento desses alunos: em relação à um espaço, uma abrangência para essa avaliação, maneira de falar com esse aluno, discussão. utilização de Libras se necessário, local onde esse aluno deve se sentar para que possa ver o professor e fazer a leitura labial. [...] Vejo estes aspectos como facilitadores, pois contribuem para que sejam desenvolvidas as atividades propostas em sala de aula. classe regular Professor da [...] uma grande facilidade que vejo é quando [...] Não trabalho com adaptações os professores em htpc trocam experiências curriculares, meu plano é único e a aluna referentes aos alunos que estão incluídos na deficiente auditiva acompanha o mesmo sala regular. conteúdo. Nos depoimentos dos professores coordenadores pedagógicos e da professora da classe regular um aspecto realçado como facilitador foram as capacitações proporcionadas pela Equipe Técnica da Diretoria de Ensino. Percebese nos relatos desses professores que a equipe responsável pela educação especial em nível regional, vem abordando e discutindo questões oportunas e relevantes, tais como: Qual conteúdo desenvolver? Que procedimentos didáticos utilizar? Como avaliar tais alunos, conforme sugere a legislação? Vale lembrar aqui a atual LDBEN em seu artigo 59 que estabelece que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades educacionais especiais, professores capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns. Verificamos, então, que a Equipe Técnica da Diretoria de Ensino vem se pautando por esse propósito. Outro ponto que merece destaque refere-se ao apoio do fonoaudiólogo e do psicólogo, conforme citação feita pelo professor coordenador pedagógico da escola A. Quando o mesmo é questionado como é que se efetiva esse apoio, cita que, num primeiro momento tais profissionais são contatados por ele, pois além de morarem na mesma cidade e atenderem na rede municipal de saúde, o que podemos considerar como um aspecto facilitador, fazem parte do quadro de funcionários municipais mas, também atendem à rede privada, por isso a necessidade de se agendar com antecedência os atendimentos. Posteriormente são agendados os atendimentos, os quais os pais ficam responsáveis para levarem seus filhos até o centro de saúde. Segundo o professor coordenador tais profissionais, em algumas ocasiões, já participaram em reuniões realizadas na escola junto com o grupo de professores, para juntos, discutirem melhores maneiras de se trabalhar com tais alunos. Neste sentido, podemos considerar que uma parceria foi estabelecida, caracterizando-se como um arranjo mútuo de colaboração entre as partes. Pais, professores, comunidade, órgãos públicos, organizações não governamentais e a escola, quando colocam seus problemas uns aos outros, começa existir a partir daí uma grande possibilidade para a resolução dos problemas. Entendemos que uma parceria requer o estabelecimento de confiança e de uma visão compartilhada. Com relação ao depoimento da professora da sala de recursos da escola A, consideramos relevante a sua observação a respeito de outros recursos. Quando tal professora refere-se a outros recursos utilizados por ela em sala de aula, como um aspecto facilitador para efetivação das adaptações curriculares, podemos considerar que, seu destaque aponta os procedimentos didáticos e conteúdos especiais e comuns bem como a maneira de avaliar os alunos, conforme vem sendo desenvolvidos por ela. A professora, em seu relato, aponta alguns indicadores que podemos considerá-los como adaptações curriculares se comparados às diretrizes emanadas do MEC, já citadas neste trabalho, para atender a tais alunos. As frases abaixo ilustram a visão da professora sobre adaptações curriculares É importante levar em consideração as mudanças efetuadas em relação à avaliação dos alunos; Maneira de falar com este aluno; A utilização da Libras, se necessário; O local onde esse aluno deve sentar para que possa ver o professor e fazer a leitura labial. Quando o professor refere-se à maneira de falar com os alunos deficientes auditivos, bem como o lugar que estes devem ocupar na sala de aula, fica claro em suas palavras a preocupação que demonstra ao dirigir-se ao aluno, a fim de que o mesmo consiga desenvolver a leitura orofacial. Este professor coloca como algo facilitador a utilização da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, se necessário, mas, ao mesmo tempo considera que somente a utilização da Libras em sala de aula, pode levar o aluno a não desenvolver a linguagem oral. Sabemos que as escolas devem proporcionar aos alunos surdos o desenvolvimento da Língua brasileira de Sinais, como forma de expressão lingüística, de comunicação interpessoal e como suporte do pensamento e do desenvolvimento cognitivo. Por outro lado, o professor coloca que a utilização da Libras pode inviabilizar seu fazer pedagógico, considerando que a maioria das famílias dos alunos e a sociedade, desconhece e não utiliza a Libras. No tocante as orientações emanadas do MEC em seu documento intitulado de Parâmetros Curriculares Nacionais – Estratégias Para a Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais, de 1999, o qual estabelece que, as adaptações de acesso ao currículo são definidas como alterações ou recursos espaciais, materiais ou de comunicação que venham a facilitar a aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolver o currículo escolar, os procedimentos desenvolvidos por parte da professora da sala de recursos, podemos considerá-los como adaptações curriculares, pois vão ao encontro das necessidades educacionais dos alunos. Em contrapartida podemos observar mais uma vez, a lacuna por parte do sistema educacional do Estado para capacitar continuamente sua rede de ensino, quando a professora da sala de recursos da escola B relata que não vê nenhuma facilidade para a efetivação de adaptações curriculares e sim dificuldades.A mesma está reportando-nos à sua resposta da questão 1, quando diz que recebeu algumas orientações. Ainda na escola B, a professora da classe regular em seu relato aponta que não trabalha com currículo adaptado, seu plano é único para a classe toda. Nesta classe, uma 2ª série que funciona no período da tarde, a professora possui uma aluna com deficiência auditiva com perda moderada, segundo diagnóstico médico realizado através de uma audiometria, conforme quadro já apresentado neste trabalho. Tal aluna faz uso de prótese auditiva, está na faixa etária adequada para a série que cursa, realizando as atividades com total autonomia e satisfação diante dos objetivos propostos para a série que está freqüentando. Vale destacar ainda, um trecho do depoimento da professora que diz: C. não precisa de nada adaptado, ela entende bem o que falo, se comunica bem com os colegas, realiza a maioria das atividades sozinha, por isso não vejo a necessidade de fazer um plano individualizado ou adaptado para ela. Percebemos que as ações da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo no que tange a Educação Especial para capacitar os professores nessas escolas, ainda se mostram tímidas, apesar dos depoimentos dos professores da escola A, evidenciarem um trabalho de equipe, resultando em dados positivos. No que concerne às dificuldades por ventura existentes para a efetivação de adaptações curriculares propostas pela Diretoria de Ensino, os dados abaixo evidenciam os aspectos levantados pelos entrevistados. TABELA 03 – Dificuldades para a efetivação de adaptações curriculares Função Escola B Escola A Professor Coordenador Pedagógico [...] Um aspecto dificultador que poderia [...] O despreparo dos professores que não apontar é quanto ao número elevado de estão suficientemente capacitados para lidar alunos em sala de aula. com um aluno deficiente auditivo. recursos que atender um aluno com necessidades falta de orientações técnicas por parte do educacionais especiais, diante de uma sala nosso sistema, em nos proporcionar de 35 alunos. [...] por mais que haja capacitações sobre adaptações curriculares adaptações curriculares, é um dos para os alunos com deficiência auditiva. problemas que contribui de forma negativa. classe regular Professor da Professor da sala de [...] Vejo como dificuldade o professor ter [...] Quanto as dificuldades posso citar a [...] A dificuldade que encontro, é o número [...] Não posso apontar dificuldades, pois de alunos em sala. [...] Com 35 alunos é não trabalho diferente e não tive orientações impossível desenvolver um bom trabalho. para isso. Quanto ao número de alunos em sala de aula é importante ressaltar nesta análise o relato dos profissionais da escola A, nos quais os três envolvidos colocam como um aspecto dificultador para a efetivação de adaptações curriculares. Percebe-se que é um problema comum apontado apenas pelos professores da escola A. Em contrapartida, se analisarmos as respostas dos professores da escola B, tal aspecto não se evidencia. Tem sido possível observar que para a Secretaria Estadual de Educação esse aspecto não é levado em consideração, pois, a Resolução S.E. Nº 164, de 25 de Novembro de 1997 que dispõe sobre as diretrizes para o atendimento à demanda, no ano de 1998, na Rede estadual de Ensino, vigente até os dias de hoje, em seu artigo 17 estabelece: Na organização das classes, as unidades escolares deverão observar a média de 35 alunos para a classe de Ciclo I do Ensino Fundamental. Analisando esse artigo, podemos chegar a uma conclusão que os grandes burocratas de gabinetes desconsideram a realidade das nossas salas de aulas, onde os professores trabalham com número excessivo de alunos, muitas vezes até 42 alunos, obrigando-o a transformar-se em vários professores ao mesmo tempo. Sabemos que o número elevado de alunos nas classes torna impossível aos educadores dedicarem mais tempo e atenção para detectar as carências e sanar as dificuldades apresentadas pelo grupo. Observamos ainda, que as salas de aula possuem uma medida padrão, onde cada aluno ocupa aproximadamente um metro quadrado. Neste caso não é considerado o espaço da mesa do professor, bem como o seu espaço pra se locomover, inviabilizando o seu trabalho em sala de aula. Neste sentido o Projeto Pedagógico proposto para essa realidade, esbarra numa série de dificuldades relacionadas à inadequação da estrutura da rede pública. Outro aspecto que merece ser discutido refere-se ao despreparo dos professores para trabalharem com alunos deficientes auditivos. É algo que aparece como um aspecto dificultador nos relatos dos professores coordenadores pedagógicos e nos professores das salas de recursos das escolas A e B. Ficou evidente em suas colocações, a necessidade urgente de uma formação continuada em serviço, pois a inércia que ora se apresenta por parte da rede estadual, deixa-os muito angustiados. Se nos reportarmos às respostas dos envolvidos veremos o quanto a rede educacional do Estado de São Paulo necessita realizar capacitações para seus professores. Nesse aspecto reporto-me a PERRENOUD (2000), quando menciona com bastante propriedade que “A profissionalização do ofício do professor recruta parceiros entre os poderes organizadores da escola e ainda para que tal parceria se desenvolva, importa que o debate tenha início nos locais de formação contínua, por meio de um diálogo entre os profissionais”. Considerando que o CAPE, representante maior da rede estadual no que se refere à Educação Especial, podemos observar que tal órgão está capacitando de forma sutil seu contingente de professores. Cabe aqui ressaltar que só se buscará uma educação de qualidade, quando os órgãos competentes direcionarem seus olhares para a questão das capacitações dos professores, redução do número de alunos em sala de aula e disponibilidade de materiais específicos para as escolas que possuam alunos com necessidades educacionais especiais. Enfim, quando o sistema educacional considerar que as escolas têm problemas e que precisam ser solucionados com o envolvimento de todos no processo. Os dados a seguir, ilustram os pontos de vistas dos professores acerca de outras observações que consideram importantes para registrarem sobre adaptações curriculares. TABELA 04 – Observações importantes sobre adaptações curriculares Função Escola A Escola B que os resultados esperados já estão a inclusão dos alunos deficientes auditivos acontecendo, pedagógico Professor Coordenador [...] Eu acho importante deixar bem claro [...] Após alguns meses eu posso dizer que pois os alunos que em sala regular tem me surpreendido. [...] freqüentam a escola, apesar de todas as Percebo que a sala de recursos é viável e dificuldades, estão totalmente incluídos, que, se existe alguma orientação é por parte graças ao excepcional trabalho feito pela da equipe da Diretoria de Ensino. nossa professora da sala de recursos e com o total apoio do grupo de professores e da direção. nossa escola, creio que seria fundamental, Diretoria de Ensino capacitar todos os termos dentro da legislação, mudanças no profissionais envolvidos no processo de que diz respeito ao número de alunos em inclusão e não apenas alguns. salas de aulas. [...] Imagine um professor trabalhando com uma turma reduzida, com certeza teria muito mais tempo para atender aqueles alunos que precisassem de uma maior atenção. classe regular Professor da Professor da sala de recursos [...] Analisando o processo de inclusão em [...] Gostaria de registrar a importância da [...] Espero que consigamos ajudar esses [...] alunos, vontade não falta. Apesar de não trabalhar com adaptações curriculares, gostaria de receber orientações para atender de uma melhor forma esses alunos que estão chegando em nossa escola. Analisando os depoimentos dos professores, ficou evidente o trabalho de equipe desenvolvido na escola A. Apresenta-se como um aspecto relevante para o estudo e que merece ser destacado. Podemos observar nos depoimentos do professor coordenador pedagógico que, nessa escola, graças ao trabalho desenvolvido pela professora da sala de recursos, a despeito de sua formação já citada neste estudo, com o apoio da direção e o envolvimento de toda a equipe escolar, eles já começaram a colher os frutos. Entendemos esses frutos, como algo que realmente está acontecendo de forma positiva na escola. Tal resultado denota uma postura de compromisso de toda a equipe, indo ao encontro dos seus próprios anseios. É interessante destacarmos a questão do trabalho de equipe desenvolvido pela escola A e citado pelo seu professor coordenador pedagógico. Em trechos de seu depoimento fica claro como o trabalho é realizado. Vejamos: [...] Nas htpcs, a professora da sala de recursos é muito eficiente, ela senta com os outros professores, planejam as aulas com relação aos conteúdos que deverão ser desenvolvidos, ensina os colegas a fazer o treino articulatório de frente a espelho tão necessário para os alunos deficientes auditivos e ensina a melhor maneira do professor se dirigir a um aluno deficiente auditivo. [...] Eu vejo isso como uma maravilha e olha que a professora da sala de recursos não é especialista. Ainda o professor coordenador pedagógico relata, [...] não me preocupo cm a minha equipe, ela é muito boa. Em seus relatos o professor evidencia, de uma forma entusiasmada, o que acontece de fato e como acontece o trabalho coletivo em sua escola. Vemos que esse profissional compromete-se com a escola de tal forma que consideramos esse fator como o diferencial para as escolas atingirem seus objetivos. Neste sentido, referendamos-nos em um documento do CENPEC, intitulado de Raízes e Asas (1985) que trata da importância do trabalho coletivo na escola. Ao participar do trabalho coletivo, todos (diretor, professores, funcionários, pais, alunos, etc.) crescem; sentem-se mais fortalecidos, desenvolvem seu potencial de participação, espírito de cooperação, respeito mútuo, senso crítico e as capacidades de reflexão e organização do pensamento. Um outro aspecto considerável e que merece análise, é quanto a legislação. Quando um professor da escola A sugere a mudança da mesma, em relação ao número de alunos em sala de aula, mostra a sua preocupação em desenvolver um ensino de qualidade para todos. Fica evidente a necessidade de se ter um número reduzido de alunos por classe, principalmente naquelas que possuam alunos com necessidades educacionais especiais. Mas, o que se percebe é que os sistemas de ensino estão amparados por uma legislação já citada neste estudo, que define a demanda por classe. Se nos reportarmos à questão nº 03, verificamos que tal aspecto já aparece como algo dificultador para os professores da escola A. Portanto, tal preocupação por parte dos professores requer dos órgãos competentes uma atenção especial, merecendo ser discutido, a fim de que se possa ocorrer mudanças nessa legislação. O que ficou evidente nestas análises, dentre outras questões dignas também de discussões, refere-se a questão da capacitação dos professores. Em algumas situações, observamos o professor relatar que vê a sala de recursos como algo viável, em outras, relata que, espera atender de forma satisfatória aos alunos, pois vontade não falta. Consideramos que deveria ser primordial para as políticas públicas que tratam da educação especial no Estado, neste momento, voltar seu olhar para a formação dos professores, pois percebemos que muitos estão sozinhos, clamando por um socorro, mas, mesmo assim não desistem e encaram a educação especial como um grande desafio a ser vencido por todos. Capítulo 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Iniciamos esta pesquisa com o objetivo de identificar e discutir criticamente algumas facilidades e dificuldades para implantação e implementação de adaptações curriculares para alunos com deficiência auditiva incluídos no ensino regular. Sem pretendermos generalizar e, partindo dos resultados desta pesquisa que descrevem a realidade de duas escolas, foi possível verificarmos que os professores envolvidos nela expressam um sentimento de abandono, quando se trata de facilidades e dificuldades para a efetivação de adaptações curriculares, pois tais profissionais anseiam pela formação contínua, para darem respostas positivas ao alunado que ora se encontra no interior das escolas. Podemos considerar que a estrutura educacional estadual analisada dentro dos parâmetros legais a partir da LDB nº 9394/96, do Decreto nº 3298/99, da Resolução SE nº 95/2000 e de tantas outras legislações, revela-nos que as políticas públicas direcionadas para a educação, no que tange a capacitação dos professores, estão bem claras nas formas da lei, mas descobrimos uma grande lacuna entre o que está escrito e o que realmente acontece nas escolas. Os dados das entrevistas foram analisados à luz do referencial teórico consultado e possibilitaram verificar através dos conteúdos extraídos das respostas, alguns indicadores de adaptações curriculares nas escolas, objetos deste estudo. Analisando as questões 02 e 03, podemos observar que surgiram por parte dos entrevistados da escola A, tais indicadores de adaptações curriculares ao avaliarem as facilidades e dificuldades para a efetivação das adaptações propostas pela Diretoria de Ensino. Considerando os resultados obtidos, vale ressaltar o exemplo da escola A, no qual os entrevistados indicam três aspectos que podemos considerá-los como uma adaptação curricular. São eles: conteúdo, avaliação e procedimentos. Se nos ativermos ao que se propõem Lüdke e André (1986) quando dizem: “Numa análise não podemos nos restringir ao que está explícito no material e sim, ir mais a fundo, desvelando mensagens implícitas”, podemos verificar nos relatos dos professores entrevistados da escola A, tais mensagens. Os professores já consideram o conteúdo como algo que deva ser visto como um meio para que os alunos desenvolvam capacidades que lhes permitam produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e econômicos, conforme preconizam os Parâmetros Curriculares Nacionais. Nos reportando às orientações emanadas pelo MEC, através de seu documento normativo de 1999, já citado neste trabalho e conseqüentemente às orientações emanadas do CAPE, vale dizer que as adaptações curriculares já acontecem. No que se refere ao conteúdo, para a professora da sala de recursos, a utilização da Libras apresenta-se como uma facilidade, pois a mesma terá um instrumento a mais, podendo utilizá-lo para desenvolver a comunicação do aluno com deficiência auditiva. A professora relatou que apenas a utilização da Libras pode ser um problema, pois a sociedade em geral não conhece a Língua Brasileira de Sinais e que a escola não pode centrar seu trabalho somente na Libras. Sendo assim, apresenta-se também como uma dificuldade para a efetivação das adaptações curriculares. Percebemos que essa professora coloca-se a favor da utilização da Libras e também em oposição à mesma, levando-nos a crer que o seu trabalho não é somente voltado para a utilização de um só instrumento. Um outro aspecto que diz respeito aos conteúdos, refere-se à leitura orofacial. Para os professores tal aspecto apresenta-se como uma facilidade, pois permite o desenvolvimento da comunicação por parte do deficiente auditivo. Ainda assim, a leitura orofacial apresenta também aspectos dificultadores, pois nem todos os professores conseguem falar de maneira clara e de forma que seu aluno veja seu rosto para fazer a leitura orofacial. Em relação à produção de textos que também diz respeito aos conteúdos, a professora considera como uma facilidade, pois a escrita é necessária, levando-se em conta que a comunicação na sociedade não é apenas oral. O relato do professor nos reporta aos estudos de Geraldi (2000) que considera a produção de textos (orais e escritos), como ponto de partida (e de chegada) de todo o processo de ensino e aprendizagem da língua, sobretudo porque é no texto que a língua se revela em sua totalidade, quer enquanto conjunto de formas e de seu reaparecimento, ou enquanto discurso que remete a uma relação intersubjetiva marcada pela temporalidade e suas dimensões. Ainda nos revela que, centrar o ensino no texto, é ocupar-se e preocupar-se com o uso da língua. Os entrevistados ressaltam que muitos professores consideram que o aluno deficiente auditivo apresenta uma escrita comprometida, tornando-se a questão da produção de texto um aspecto dificultador, por exemplo: No início do processo da aquisição da escrita, assim como outros alunos, o deficiente auditivo quando solicitado a escrever, vai omitir artigos, preposições e outros elementos de ligação que darão coesão na frase. É importante considerar a necessidade deste aluno estar refletindo sobre o sistema de escrita. Tal aspecto reporta-nos aos estudos de Telma Weisz (2000), quando cita que colocar a criança freqüentemente em situações de escrita, é oferecer-lhe oportunidades para pensar sobre a escrita, elaborar hipóteses, testá-las e reconstruí-las progressivamente, apoiando-a em seu esforço para aprender a ler e a escrever. No que concerne às adaptações curriculares com relação à avaliação, os professores apontam como um aspecto facilitador, avaliar o aluno com deficiência auditiva sob um outro olhar, uma nova postura de avaliador. Consideram ainda que o aluno com deficiência auditiva, numa situação de produção de texto escrito, omitirá artigos, preposições, verbos e outros elementos de ligação necessários a um texto. Quanto a esse “novo olhar” que o professor deve ter, vale a pena citar as orientações emanadas do MEC em relação à avaliação desse aluno, em seu documento intitulado: Adaptações Curriculares – Estratégias para a Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais 1999 que estabelece: “O professor deve eliminar critérios de avaliação, definidos para o grupo de referência do aluno, em razão de sua deficiência ou limitações pessoais. A supressão destes critérios de avaliação da programação educacional regular não deve causar prejuízo para a sua escolarização e promoção acadêmica”. Nesse sentido a avaliação é compreendida como um conjunto de atuações que tem a função de alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Deve acontecer contínua e sistematicamente através da interpretação qualitativa do conhecimento construído pelo aluno. Alguns professores, ainda de acordo com as entrevistas, não levam em consideração que o aluno deficiente auditivo além de ter de ser avaliado de maneira diferente, tem o seu tempo para realizar as atividades propostas em sala de aula, apontando a avaliação como um aspecto dificultador. Quanto à temporalidade do aluno, podemos ainda nos referendar ao documento do MEC citado anteriormente, que esta sugere: O professor deve mudar a temporalidade dos objetivos, conteúdos e critérios de avaliação, isto é, considerar que o aluno com deficiência auditiva pode alcançar objetivos comuns ao grupo, mesmo que possa requerer um período mais longo de tempo. Quanto aos procedimentos didáticos desenvolvidos pela professora da sala de recursos da escola A, que ora estamos tomando como adaptações curriculares, devemos entender, segundo os PCNs (1997), que os procedimentos didáticos em sala de aula expressam um saber fazer que envolvem decisões e ações de forma ordenada, para atingir certos objetivos. Através do tratamento que tais professores dão a esse aspecto, o mesmo assume um papel central, já que é por meio dos procedimentos didáticos que os objetivos da escola são operacionalizados. Para os professores apresentam-se como aspectos facilitadores: a maneira de falar com o aluno, o uso de prótese auditiva, gestos naturais utilizados pelo professor, movimentos corporais e utilização de materiais concretos. Julgo interessante citar uma fala do professor de Língua Portuguesa da classe regular, quando é questionado sobre os aspectos facilitadores, acerca dos procedimentos didáticos utilizados em sala de aula: Quando o M. A. (aluno da 5ª série), não está entendendo a minha explicação, eu faço de tudo. Primeiramente eu falo de frente para ele, se o mesmo demonstrar que ainda não entendeu, aí eu faço gestos, peço para um colega ajudar. Enfim, eu não sossego enquanto meu aluno não demonstrar que está entendendo. É uma grande satisfação quando vejo o sorriso em seus lábios, demonstrando que entendeu o conteúdo. Por isso, eu acho que a maneira de o professor agir em sala de aula é muito importante. Não podemos considerar que todos esses aspectos são reconhecidos como facilitadores. Para os professores desta escola, com exceção do professor da sala de recursos, os mesmos não consideram todos os aspectos citados acima como tal. Relatam que para trabalhar dessa maneira com o aluno deficiente auditivo em classe regular, enfrentam grandes dificuldades. Em contrapartida, as respostas dadas pelos professores da escola B, demonstram que os mesmos ainda não realizam adaptações curriculares. Podemos considerar, a partir desta observação, que as orientações técnicas realizadas pelo CAPE ou pela Diretoria de Ensino, ainda não atenderam de forma satisfatória os profissionais desta escola. O contexto social, no qual estamos inseridos, exige a formação continuada. Exige a busca constante de novos conhecimentos, pois devemos considerar que a formação acadêmica do professor realiza-se durante toda a vida. O que percebemos no interior das escolas é um espírito solidário, de companheirismo, de busca de novas concepções a respeito dos diferentes aspectos do contexto escolar. Cabe ressaltar que não basta a legislação vigente deliberar, é preciso investimento em ações concretas, que valorizem o professor, pois o que constatamos é que os professores estão à deriva, sendo eles os personagens principais da ação educativa dentro e fora da sala de aula. Quando nos referimos às ações concretas, pautamo-nos em ações consistentes, que levam o professor à aquisição de novos conhecimentos e a uma reflexão crítica sobre a prática. Faz-se necessário o estabelecimento de políticas públicas capazes de realmente atender às necessidades dos professores. A análise dos dados revela os desejos dos professores em ter uma escola de qualidade, onde possam atender de maneira satisfatória a todos que dela precisem. Revelam ainda que, as adaptações curriculares só se efetivarão na sua totalidade, quando os órgãos competentes investirem de forma real em capacitações para professores, na reestruturação dos prédios escolares, nas mudanças das leis quanto ao número de alunos em sala de aula, enfim, quando houver um respeito entre os envolvidos. Assim sendo, os problemas encontrados nas escolas serão amenizados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APPLE, Michael. Ideologia e currículo. São Paulo: Brasiliense, 1992. AQUINO, Júlio Groppa. 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São Paulo: Brasiliense, 1995. _____. Resolução SE Nº 95, de 21 de novembro de 2000. Dispõe sobre o atendimento de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas da rede estadual de ensino e dá providências correlatas. ROBBINS, Harvey; FINLEY, Michael. Por que as equipes não funcionam. 2 edição. Rio de Janeiro: Campus,1997. SACRISTÁN, J.G. O currículo – uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed editora, 2000. SÃO PAULO. Deliberação CEE nº 05, de 11 de maio de 2000. Fixa normas para a educação de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais na educação básica do sistema estadual de ensino. SAVIANI, N. Saber escolar, currículo e didática. Problema da unidade conteúdo/método no processo pedagógico. Campinas: Autores Associados, 1998. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. ver. e ampl. São Paulo: Cortez, 2002. SILVA, T.T. e MOREIRA, A F. Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1995. SZYMANSKI, Heloísa. 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No roteiro da entrevista constam quatro (4) perguntas, cujo objetivo é colher dados relativos às facilidades e dificuldades para implantação e implementação de adaptações curriculares para alunos deficientes auditivos propostas pela Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. A pesquisa tem como Orientador o Prof. Dr. Marcos José Silveira Mazzota e Orientando Jacob Elias Mancio, aluno do programa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o (a) senhor (a) __________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta. Fica claro que o sujeito da pesquisa ou seu representante legal podem a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional. São Paulo, ____de____________de 2005. ANEXO II TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA NA UNIDADE ESCOLAR Eu, Jacob Elias Mancio, aluno do programa de pós-graduação – Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, venho por meio desta solicitar de vossa senhoria permissão para coleta de informações nesta Unidade Escolar. O objetivo da pesquisa é levantar junto aos professores às facilidades e dificuldades para implantação e implementação de adaptações curriculares para alunos com deficiência auditiva propostas pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. Todos os dados obtidos serão mantidos em sigilo e utilizados apenas para este sentido. Não serão divulgados os nomes ou qualquer outra informação que identifique o entrevistado. A participação na pesquisa é voluntária e não haverá nenhum tipo de prejuízo para o participante que poderá abandonar a pesquisa a qualquer momento, se assim o desejar. Coloco-me à disposição para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários. Jacob Elias Mancio ANEXO III ROTEIRO PARA A ENTREVISTA COM O PROFESSOR COORDENADOR PEDAGÓGICO Escola _____________________________________________________________ Nome do entrevistado: _______________________________________________ Local da entrevista: __________________________________________________ Data e horário da entrevista: ___/___/_____ ___horas 1 - Você tem recebido orientações sobre a implantação e implementação de adaptações curriculares para os alunos com deficiência auditiva da sua escola? De que forma e de quem? 2 - Que facilidades você poderia levantar para a efetivação de adaptações curriculares na sua escola, propostas pela Diretoria de Ensino? 3 - Que dificuldades você poderia levantar para a efetivação de adaptações curriculares na sua escola, propostas pela Diretoria de Ensino? 4 - Que outras observações você considera importantes para registrar sobre essa questão, nesse momento? ANEXO IV ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM O PROFESSOR DA CLASSE REGULAR Escola ____________________________________________________________ Nome do entrevistado: _______________________________________________ Série em que leciona _________________________________________________ Local da entrevista: __________________________________________________ Data e horário da entrevista: ___/___/____ ____horas 1 - Você tem recebido orientações para implantação e implementação de adaptações curriculares para os alunos com deficiência auditiva da sua sala de aula? De que forma e de quem? 2 - Que facilidades você poderia levantar para a efetivação de adaptações curriculares na sua sala de aula, propostas pela Diretoria de Ensino? 3 - Que dificuldades você poderia levantar para a efetivação de adaptações curriculares na sua sala de aula, propostas pela SEE? 4 - Que outras observações você teria para registrar sobre essa questão? ANEXO V ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM O PROFESSOR DA SALA DE RECURSOS Escola _____________________________________________________________ Nome do entrevistado: _______________________________________________ Local da entrevista: __________________________________________________ Entrevista realizada em: ____/____/____ 1 - Você tem recebido orientações suficientes para implantar e implementar adaptações curriculares para alunos com deficiência auditiva da sua sala de aula? De que forma e de quem? 2 - Que facilidades você poderia levantar para a efetivação de adaptações curriculares na sua sala de aula, propostas pela SEE? 3 - Que dificuldades você poderia levantar para a efetivação de adaptações curriculares na sua sala de aula, propostas pela SEE? 4 - Que outras observações você teria para registrar sobre essa questão?