ROSSELLA BISCOTTI & KEVIN VAN BRAAK * BUREAU D’ÉTUDES * STEFAN BRÜGGEMANN
* CAROLINA CAYCEDO * CHTO DELAT? * SAM DURANT * GARDAR EIDE EINARSSON *
MATIAS FALDBAKKEN * CLAIRE FONTAINE * ZACHARY FORMWALT * ANDREA GEYER
* SHILPA GUPTA * SHARON HAYES * GERT JAN KOCKEN * ASIER MENDIZABAL *
CARLOS MOTTA * TOM NICHOLSON * AHMET ÖGÜT * NIKOLAY OLEYNIKOV * RIGO 23
* ANDRÉ ROMÃO * PEDRO G. ROMERO * AHLAM SHIBLI * MARIANA SILVA *
ANTÓNIO DE SOUSA * JOÃO SOUSA CARDOSO * NICOLINE VAN HARSKAMP
* VANGELIS VLAHOS * DANH VO * SIMON WACHSMUTH
2 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011
Às Artes,
Cidadãos!
PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 3
A exposição “Às Artes, Cidadãos!” incide sobre algumas das intersecções
que a arte e o político, entendido como acção, representação ou referência,
manifestam na actualidade.
I
nspirado no refrão do “Chant de
guerre pour l’armée du Rhin”, o título da exposição Às Artes, Cidadãos!
contém em si um desejo de comunidade:
a criação de uma plataforma de debate,
um lugar onde se potencie a disponibilidade para um encontro entre artista e espectador, no qual se evidencie o poder comum a ambos.
Ligado sobretudo aos direitos e
deveres políticos, o conceito
de cidadania surge na Grécia e
está estritamente ligado à democracia, ou seja, à soberania do
povo. É nessa dimensão participativa que se procura inscrever
uma mostra que tem como pano
de fundo as comemorações dos
100 anos da República Portuguesa. A proposta é dar conta
de algumas das formas artísticas
actuais em que podem detectar
intersecções entre a arte e o político. Agora, ao contrário das
circunstâncias em que foi escrita a “A Marselhesa” não há uma
“horda inimiga” a combater: a vontade
é dar a conhecer, através de obras produzidas por trinta artistas e colectivos,
diferentes pontos de vista acerca de um
tema sempre em aberto.
T
omando como ponto de partida
a proposta de pensar as intersecções da arte com a política, cada
artista e colectivo convidado concebeu
a sua participação a partir de distintas
possibilidades: a produção de uma nova
pode ser interpretada a partir quer do
método dialéctico de Walter Benjamin ,
quer da perspectiva da memória colectiva, entendida esta enquanto categoria
central do pensamento de Aby Warburg.
Às Artes, Cidadãos! inclui assim
instantes que permitem uma reflexão sobre acontecimentos que
definiram a história universal
desde a antiguidade clássica até
à queda das torres gémeas, em
2001, em Nova Iorque. Neste capítulo, para o qual são essenciais
as noções de ideologia e de arquivo, podem nomear-se as obras de
Ahlam Shibli, Ahmet Öğüt, André Romão, Andrea Geyer, João
Sousa Cardoso, Mariana Silva,
Nicoline van Harskamp, Rosella
Biscotti, Sam Durant, Shilpa
Gupta, Simon Wachsmuth, Vangelis Vlahos e Danh Vo – muitos
outros participantes também podem ser incluídos neste núcleo,
como Pedro G. Romero e Gert
Jan Kocken, ambos aproximados, na ca-
O objectivo é sempre
o de revelar múltiplas
perspectivas de um tema
que convoca conceitos
como os de globalização,
democracia, activismo,
ideologia, memória,
exílio, revolução,
iconoclastia, comunidade.
D
ecidiu-se trabalhar com artistas nascidos a partir de 1961,
o ano marcado pelo surgimento do muro de Berlim, uma construção que, apesar de ter sido destruído em 1989, continua a projectar a sua
sombra no presente. É dessa grande cisão do século XX, que nascem muitas
das tensões actuais, as quais se reflectem nas obras dos nomes convidados a
participar na exposição. Os muros erguidos por razões políticas podem ser
lidos como materializações objectivas,
palpáveis, de uma divisão ideológica,
abstracta por definição: essas barreiras
têm uma dimensão física que oprime
e, na sua frieza, tornam mais desumana a existência quotidiana de todos
quantos com elas se têm de confrontar
seja no médio oriente, na América do
Sul ou em África.
obra, a apresentação de um ou vários
trabalhos já realizados ou a justaposição
de ambas as hipóteses. O percurso expositivo inclui salas dedicadas a um só
artista, mas também espaços onde houve a intenção de criar situações tanto de
diálogo como de tensão. O objectivo é
sempre o de revelar múltiplas perspectivas de um tema que convoca conceitos
como os de globalização, democracia,
activismo, ideologia, memória, exílio,
revolução, iconoclastia, comunidade.
C
onsiderando cada artista e colectivo na sua dupla condição de
singularidade e de pluralidade –
uma situação potenciada pela partilha de
um espaço comum, o museu –, Às Artes,
Cidadãos! procura sublinhar essa possibilidade de uma existência em comum sem
que tal condicione a afirmação individual de cada projecto. O facto de o tema
da exposição centrar-se nas intersecções
entre a arte e o político, faz com que um
número significativo de trabalhos se relacione com aquilo que se poderia designar como questões de história – a qual
Agora, ao contrário
das circunstâncias em
que foi escrita a “A
Marselhesa” não há
uma “horda inimiga” a
combater: a vontade é
dar a conhecer, através
de obras produzidas por
trinta artistas e colectivos,
diferentes pontos de
vista acerca de um tema
sempre em aberto.
pela da Casa de Serralves, pela atenção
dada ao tema da iconoclastia.
O
activismo político, seja assumido sob a forma de um colectivo,
seja protagonizado individu-
almente está presente nas propostas dos
Chto Delat?, de Carlos Motta, de Carolina Caycedo, de Tom Nicholson, de
Sharon Hayes , de Nicolai Oleynikov e
de Rigo 23. Outros artistas propõem trabalhos atravessados por questões que vão
da economia política, como é o caso de
Zachary Formwalt, à economia libidinal,
traduzida nas criações de Claire Fontaine. Há ainda as obras de Gardar Eide Einarsson e de Matias Faldbakken, que têm
como pano de fundo diferentes formas
de expressão habitualmente associadas às
subculturas. As preocupações ambientais
e o mapeamento da sociedade de controlo sistematicamente realizado pelo Bureau
d’études, a revisitação das vanguardas históricas efectuada por Stefan Brüggmann
e Asier Mendizabal, e as noções de biopolítica e de catástrofe em António de
Sousa são outras das linhas condutoras de
uma exposição que, apesar de assumir um
desejo de actualidade, que não deixa de
revisitar o passado.
Às Artes, Cidadãos! levantará questões
mais do que produzirá respostas; interpelará o visitante, convidando-o a reflectir
a partir de obras e ideias produzidas por
autores que constatam a necessidade da
arte ser uma possível plataforma para a
construção de uma consciência política.
Não deixará deste modo de dar continuidade a uma tradição republicana do museu, evidente desde que o Louvre abriu as
suas portas ao público em 1793, no ano
seguinte à criação da República Francesa.
Contudo, se no passado a referência política em arte no século XX, dos primeiros
modernismos às décadas de 1960 e 70,
foi também um modo de contestação e
de crítica institucional ao papel do museu
na sociedade, importa hoje interrogar o
lugar da referência política num mundo
onde a arte é também cada vez mais uma
evidência de uma sociedade globalizada
na sua economia e cultura.
Exerto do texto dos Comissários, Óscar Faria e João
Fernandes, publicado em Às Artes, Cidadãos!, Cat.
Exp., Porto: Fundação de Serralves 2010.
O primeiro volume do catálogo da exposição, que será
lançado na inauguração da mostra, conta com textos
originais de Peio Aguirre, Federico Ferrari, Brian Holmes, Sven Lütticken, Roberto Merril e Hito Steyerl.
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Às Artes,
Cidadãos!
Avenida da Boavista
Fundação de Serralves
R. da Regeneração
R. de João Rodrigues Cabrilho
Escola EB 1, Pasteleira
Rua Diogo Brandão
Teatro Nacional de São João
R. do Infante Dom Henrique
Inauguração
NA CIDADE
21 NOV (DOM)
20 NOV (SÁB)
Maus Hábitos
23h00 Tam (Dj)
02h00 Thomas Meinecke (Dj)
EM SERRALVES
EM SERRALVES
22h00 Abertura da exposição
“I want to live with no fear”, acção contínua
de Shilpa Gupta
“Deus Pobre”, de Carlos Motta
Leitura do texto “Mensagem sobre pedagogia e a libertação do espírito”, pelo artista
23h00 “As Fúrias”, acção de João Sousa
Cardoso com o Rancho Douro Litoral
Passos Manuel
“… MARCHAR, MARCHAR!”
23h00 Rui Maia (X-Wife) (Dj)
02h00 Move D (Dj)
Plano B
“YES WE CANCAN!”
00h30 Move D & Thomas Meinecke
apresentam “Work” (live)
01h30 Maxime Iko e Aurélie
(Collectif Cancan) (Dj)
10h30 “Deus Pobre”, de Carlos Motta
Leitura de textos do Padre António Vieira
pelo Padre José Martins Júnior (da Igreja de
Nossa Senhora do Amparo, Madeira)
11h30 Visita Oficial de Sua Excelência, o
Presidente da República
12h00 “As Fúrias”, acção de João Sousa
Cardoso com o Rancho Douro Litoral
16h00 “Solidariamente Convosco”,
performance de Nicoline van Harskamp,
em inglês
Projectos na Cidade
“Isto, o povo não esquece”,
de Rigo 23 , Escola EB1 da Pasteleira e Rua
do Infante Dom Henrique (Ribeira)
“Exclusão não é solução”,
de Sam Durant, Livraria Utopia
“Uma obra sem qualidades”,
de António de Sousa, mupi na Avenida da
Boavista (em frente ao edifício da SIC)
“Capitalism Kills Love”, de Claire
Fontaine, na Avenida Marechal Gomes da
Costa (muro da Fundação de Serralves)
“Operário, Camponesa, Bertolt
Brecht, Augusto Boal”,
de Nikolay Oleynikov, na Rua Diogo
Brandão (perto da Rua Miguel Bombarda)
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Actividades
Nov 2010 - Mar 2011
23 NOV (TER)
20h00 Apresentação “48 horas de vida
comunitária”, Chto Delat?
Auditório de Serralves
25 NOV (QUI)
21h30 Estreia do documentário “Nine
Days in Wahat al-Salam”, de Ahlam Shibli
Auditório de Serralves
27 NOV (SÁB)
10h30 “Deus Pobre”, de Carlos Motta
Leitura de textos do Padre António Vieira pelo
Padre João Lucas, no Mosteiro de Singeverga
16h00 “Política em exposição”, mesa-redonda com Chrissie Iles e Catherine David
Auditório de Serralves
02 DEZ (QUI)
16h30, 17h30, 18h30 “Como deveremos ser
chamados”, vídeo de Mariana Silva, 35’’
Teatro Nacional de São João
17h00, 18h00, 19h00 “Notações para a
descida do pano de cena”, Performance de
Mariana Silva.
Teatro Nacional de São João
(Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação
prévia junto do TNSJ)
04 DEZ (SÁB)
14h00-19h00 “World of Interiors”, Performance de Ana Borralho e João Galante
Museu de Serralves
05 DEZ (DOM)
09h30 “Deus Pobre”, de Carlos Motta
Leitura de textos de Leonardo Boff pelo
Padre José Alberto de Oliveira, na Capela
Sagrado Coração de Jesus,
14h00-19h00 “World of Interiors”,
Ana Borralho e João Galante
Museu de Serralves
09 DEZ (QUI)
18h00 Visita à exposição por Óscar Faria
e João Fernandes
Museu de Serralves
12 DEZ (DOM)
16h00 “Deus Pobre”, de Carlos Motta
Leitura de textos de Camilo Torres pelo Padre Agostinho Jardim Moreira, na Igreja da
Vitória
19 DEZ (DOM)
16h00 “Deus Pobre”, de Carlos Motta
Leitura de textos de Gustavo Gutierrez
e de excertos do livro “Sinfonia das palavras (íntimas) ”, da autoria de Almiro
Mendes pelo Padre Almiro Mendes, na
Igreja de Ramalde
09 JAN (DOM)
14h00 “Deus Pobre”, de Carlos Motta
Leitura de textos de Bartolomé de Las Casas
pelo Padre Manuel Correia Fernandes
Lago Romântico, Parque de Serralves
15 JAN (SÁB)
17h30 “Deus Pobre”, de Carlos Motta
Leitura de textos de Óscar Romero pelo
Padre António Bacelar, na Igreja das Antas
25-30 JAN (TER -DOM)
29 e 30 JAN (SÁB e DOM)
“Arte e activismo”, seminário com Gregg
Bordowitz (horário a anunciar)
Biblioteca de Serralves
08 e 09 FEV (TER e QUA)
18h30 “Como deveremos ser chamados”,
vídeo de Mariana Silva, 35’’
Teatro Nacional de São João
(Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação
prévia junto do TNSJ)
19h00 “Notações para a descida do pano
de cena”, Performance de Mariana Silva
Teatro Nacional de São João
(Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação
prévia junto do TNSJ)
10 FEV (QUI)
Fundação de Serralves
Rua de Dom João de Castro, 210
Igreja da Vitória
Rua de S. Bento da Vitória
Igreja das Antas
Rua de Naulila, 312
Igreja de Ramalde
Rua de Ramalde, 55
Livraria Utopia
Rua da Regeneração, 22
Maus Hábitos
Rua Passos Manuel, 178, 4º
12 e 13 FEV (SÁB e DOM)
Mosteiro de Singeverga
Roriz, Santo Tirso
“Economia Libidinal”, seminário com Claire
Fontaine (horário a anunciar)
Biblioteca de Serralves
26 FEV (SÁB)
16h00 “Política em exposição”, Conversa
com Hou Hanru
Auditório de Serralves
21h00 Conferência com Susan Buck-Morss
Auditório de Serralves
16h30, 17h30, 18h30 “SEM TÍTULO
(arco)”, instalação de Mariana Silva
Teatro Nacional de São João
12 e 13 MAR 2011 (SÁB e DOM)
11h00 “Notações para a descida do pano
de cena”, Performance de Mariana Silva
Teatro Nacional de São João
(Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação
prévia junto do TNSJ)
12h45 “Como deveremos ser chamados”,
vídeo de Mariana Silva, 35’’
Teatro Nacional de São João
28 JAN (SEX)
21h00 “Política em exposição”,
Conversa com Moacir dos Anjos
Auditório de Serralves
EB1 Pasteleira
Rua de João Rodrigues Cabrilho
18h30 Visita à exposição por Óscar Faria
e João Fernandes
15h00, 16h00, 17h00 “Como deveremos
ser chamados”, vídeo de Mariana Silva, 35’’
Teatro Nacional de São João
17h30 “Notações para a descida do pano
de cena”, Performance de Mariana Silva
Teatro Nacional de São João
(Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação
prévia junto do TNSJ)
Capela Sagrado Coração de Jesus
Rua António Nobre, 21, Leça da Palmeira
Informação regularmente actualizada
em www.serralves.pt
Passos Manuel
Rua Passos Manuel, 137
Plano B
Rua Cândido dos Reis, 30
Teatro Nacional de S. João
Praça da Batalha, 102
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Às Artes,
Cidadãos!
C
onfrontar no espaço público espectador e obra de arte é uma
das ideias fortes da exposição
Às Artes, Cidadãos!. Esta interpelação vai
ocorrer em diversos locais do Porto com
intervenções de natureza variada.
Neste contexto surge o mural de Nikolay
Oleynikov, artista russo que integra o colectivo Chto Delat?, que pode ser visto na
Rua Diogo Brandão, zona ligada ao contexto artístico da cidade. O artista apresenta uma pintura mural com referências
a uma escultura pública, em Moscovo, de
propaganda ao regime soviético. Esta referência ao realismo socialista num espaço
onde se comercializam objectos artísticos
indica uma deslocação de sentidos, pondo em diálogo o negócio da arte e a arte
como propaganda ideológica.
Outro dos espaços intervencionados
situa-se no centro histórico da cidade.
O artista português Rigo 23 mostra uma
tela de grandes dimensões – “Isto o Povo
não Esquece” –, na Rua do Infante Dom
Henrique, referente a um episódio protagonizado pela população de Ribeira
Seca, na Madeira (ler página 14).
O Museu de Serralves colabora também
com duas outras entidades – o Teatro Nacional de São João e a livraria Utopia. No
primeiro espaço, a artista Mariana Silva
apresenta um trabalho que reflecte sobre
a questão da revolta dos espectadores em
peças de teatro. Haverá uma visita guiada
ao teatro com um actor que irá nomear
diversos episódios históricos em que o
público se rebelou contra o que se estava
a passar em palco. Na boca de cena decorrerá outra acção, bem como uma projecção vídeo e a oferta de desdobráveis.
Na Utopia, livraria de teor libertário,
o artista norte-americano Sam Durant
apresenta uma das suas caixas de luz, especialmente concebida para este contexto, e que se enquadra na série “electric
signs” – em que o artista isola slogans
manuscritos hasteados em manifestações. Para esta iniciativa foi escolhida a
a frase “Exclusão não é solução” reivindicada por um grupo de manifestantes
imigrantes em Lisboa.
No muro que separa a Avenida Marechal Gomes da Costa do espaço de Ser-
ralves, Claire Fontaine propõe um néon
de grandes dimensões onde se lê “Capitalism Kills Love”. Nesta zona da cidade, caracterizada por contrastes sociais,
a frase sublinha a alienação provocada
pelo sistema de produção capitalista.
É também numa forte crítica ao capitalismo que surge o trabalho de Carlos
Motta, artista colombiano que trabalha
em Nova Iorque. Em “Deus Pobre”, vários padres portugueses irão ler textos,
na Fundação seu e em espaços da cidade, de activistas da Teologia da Libertação, nomeadamente dos padres Leonard
Boff, Gustavo Gutiérrez, Camilo Torres
Restrepo e Oscar Romero. Textos do padre António Vieira (1608–1697) e do
espanhol Bartolomé de las Casas (1474–
1566) serão também apresentados, pois
podem ser vistos como referência no
contexto desta corrente de inspiração
marxista desenvolvida principalmente
em países da América Latina a partir dos
anos de 1960.
O australiano Tom Nicholson apresenta
um projecto que revisita um momento
histórico. No passado dia 15 de Novembro, dois aviões sobrevoaram o Porto divulgando mensagens extraídas de panfletos da II Guerra Mundial (panfletos que
foram distribuídos na baixa da cidade),
iguais aos que o exército australiano lançou sobre Timor-Leste durante a ocupação japonesa, com o título “Os vossos
amigos não vos esquecem”. Este era um
agradecimento por muitos terem lutado
ao lado do exército australiano aquando
da invasão da Ilha. Por outro lado, a disponibilidade que o exército australiano
revelou durante a II Guerra não se repetiu
em 1975, quando Timor-Leste foi invadido pela Indonésia. O artista também
apresenta no Museu de Serralves o projecto “After actions for another library”, em
que os visitantes são convidados a doar livros para uma biblioteca em Timor-Leste
(ler página 15).
Às Artes, Cidadãos! propõe também a visita a uma barbearia, cujo proprietário é
paquistanês, localizada na Rua Cimo de
Vila, estabelecimento a partir do qual o
artista António de Sousa desenvolveu o
seu projecto para a exposição.
Tom Nicholson, Vista da acção na baixa da cidade do Porto,
15 de Novembro de 2010. Fotografia: Anabela Trindade
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DO MUSEU PARA O ESPAÇO PÚBLICO
8 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011
Às Artes,
Cidadãos!
Rosella Biscotti (Molfetta, Itália, 1978) trabalha a
memória a partir de processos de reconstrução do
passado, tendo como ponto de partida acontecimentos de carácter político e social. A memória colectiva surge assim como lugar fértil para a criação
de múltiplas narrativas, nomeadamente aquelas que
se prendem com um passado recente que, por razões
várias, foi parcialmente apagado da história oficial.
Um dos projectos agora apresentados resulta da colaboração com Kevin Van Braak, e consiste numa
construção no interior da qual se encontram livros
do período soviético.
O Bureau d’études parte da ideia de um comunismo da natureza, em que homens, animais, plantas,
partilham recursos – o mesmo ar, o mesmo sol, a
mesma água -, para abordarem uma questão de
grande actualidade: o desaparecimento das abelhas e
os problemas relacionados com a polinização. Com
o objectivo de contribuírem para uma possível solução, e em diálogo com especialistas, o colectivo criou
uma nova colmeia, que resulta de dois modelos – o
tradicional cortiço e a Warré (projectada pelo abade
com o mesmo nome). Esta é a face visível de uma
proposta que envolve diferentes departamentos, nomeadamente o educativo, tendo como desejo que
escolas, associações e particulares adoptem a nova
colmeia. Dois mapas e um vídeo completam a sua
participação na exposição.
Stefan Brüggemann (Cidade do México, 1975)
propõe um trabalho em que “as palavras se transformam em pinturas” e as “pinturas em palavras”. Neste
sentido, questiona a ideia de transferência ou espelhamento de informação. A linguagem torna-se uma
maneira de lembrar, de reflectir, de refractar eventos
e situações. Uma das obras apresentadas baseia-se
numa série de trabalhos de Dan Flavin dedicados ao
construtivista russo Vladimir Tatlin, e aqui evocados
através de um gesto que devolve aos objectos utilizados – lâmpadas fluorescentes – a sua funcionalidade.
Um dos projectos apresentados pela colombiana Carolina Caycedo (Londres, UK, 1978) constitui um
comentário acerca da geopolítica da imigração e do
potencial do trabalho colectivo, tendo sido realizado
em colaboração com um grupo de imigrantes residentes no Porto, todos eles trabalhadores na área
cultural. A obra desta artista suscita a discussão em
torno do conceito de fronteira, em dimensões distintas: entre produtores e consumidores, profissionais e amadores, privilegiados e carenciados, entre
arte e sociedade. Caycedo interage com os seus interlocutores segundo o desejo de participação de cada
um, de modo a eliminar - ou a melhor compreender - essas mesmas fronteiras. Os seus projectos incluem também acções de rua, mercados itinerantes
e marchas públicas, encetando sempre diálogos com
comunidades específicas.
O colectivo russo Chto Delat?, fundado em 2003
em São Petersburgo, é uma plataforma crítica que
integra artistas, filósofos e escritores, propondo a sua
actividade uma espécie de fusão entre arte, activismo
e teoria política. Chto Delat? – pergunta que, em russo, significa “Que Fazer?”, pode relacionar-se não só
com a questão central no pensamento de Lenine, mas
também com o título de um livro do revolucionário
russo Nikolai Chernyshevsky, publicado em 1902.
É na tradição do construtivismo, nascido no fervor
revolucionário, que se enquadra a prática dos Chto
Delat? No Museu, construíram um espaço com murais e projecções, onde é exibida a trilogia “Songspiel”,
composta por trabalhos que colocam em evidência
questões de ordem política pós-perestroika.
“The Porto Atlas”, de Sam Durant (Seattle, EUA,
1961), consiste numa instalação composta por sete
globos terrestres, com informação política e económica que remete para diversos períodos da história, do século XV à actualidade. A peça, concebida
especificamente para a exposição, evoca Portugal
como um dos lugares de origem da expansão colonial. Esta é uma história cartográfica do capitalismo
e da globalização, com referências a uma sucessão
de aventuras imperiais (que culminam com a dissolução do império britânico), até ao momento presente - enunciado sob o ponto de vista do domínio
das instituições financeiras globais, ultrapassadas as
fronteiras políticas e nacionais.
O trabalho de Gardar Eide Einarsson (Noruega,
1976) vai buscar ao imaginário estético marginal –
das subculturas ao mundo do crime – o seu enquadramento conceptual. Mais do que celebrar a atitude de combate à autoridade, de rebelião, o artista
fala da frieza de sentimentos e da rejeição implícita
no acto transgressor, desenvolvendo uma investigação sobre diferentes formas de subversão política.
O seu trabalho combina pintura, objectos, vídeo,
texto, fotografia música punk e grafitti. “Infinite
crises”, título de uma banda desenhada, faz eco ao
actual ‘estado das coisas’ numa apropriação que recontextualiza o sentido da frase.
O artista e escritor norueguês Matias Faldbakken
(Hobro, Dinamarca, 1973) desafia convenções sociais, numa prática artística em que os media, a cultura popular e todos os produtos associados a sistemas de ordem e de poder, não só constituem ponto
de partida conceptual mas também ferramenta de
trabalho. As suas instalações integram texto - a linguagem constitui componente central na sua obra –,
pinturas, desenhos, e graffitis, dando origem a intervenções de grandes dimensões, num gesto de recusa
sistemática que reproduz formas de vandalismo e
caos, reivindicando uma atitude de radical niilismo.
Fundado em 2004, o colectivo Claire Fontaine foi
buscar o nome à famosa marca francesa de artigos
escolares. A sua prática questiona a impotência política num mundo de subjectividades estandardizadas, assumindo diferentes formas: vídeo, néon,
escrita, pintura. Claire Fontaine preconiza a possibilidade de interrupção do fluxo de actividade e
consumo, através de uma “greve humana” – título
de uma instalação realizada com cerca de 100.000
fósforos. Claire Fontaine afirma que esta greve designa “o mais genérico movimento de revolta contra qualquer condição opressiva”. E acrescenta: “A
greve humana ataca as situações económicas, afectivas, sexuais e emocionais de que os indivíduos se
encontram prisioneiros. (…). Não é um movimento
social, embora encontre na revolta e na agitação um
terreno fértil para se desenvolver e crescer”.
A economia política é a disciplina inerente à obra
de Zachary Formwalt (Albany, EUA, 1979), que
procura as origens da fotografia para reflectir sobre
as relações entre o capitalismo e a produção de ima-
Chto Delat? , Clube activista, 2009. Fotografia: cortesia dos artistas
gens. A crise económica, seja a hiperinflação da república de Weimar, em 1923, seja o pânico actual,
constituem momentos explorados no seu trabalho.
A investigação em arquivos permite-lhe trazer à superfície textos e imagens esquecidos, revelando novos aspectos de uma determinada realidade. Exemplo desta prática é a pesquisa realizada no Instituto
Internacional de História Social de Amesterdão, nos
arquivos de Marx e Engels, da qual resulta a publicação “Reading the Economist”.
No âmbito do projecto “Spiral Lands”, Andrea
Geyer (Freiburg, Alemanha, 1971) tem vindo a recolher material visual, oral e escrito, com o intuito
de mapear a construção de identidades nacionais.
Este trabalho começou com a investigação das vivências de imigrantes em Nova Iorque, tendo continuado com a problemática da cidadania nos EUA,
em 2003, aquando da invasão do Iraque. A artista
assume-se uma contadora de histórias, e centra-se
agora em questões de identidade em relação à “terra”, bem como aos direitos que culturalmente sobre
ela detemos. Elementos ficcionais, referências teóricas e entrevistas são articulados de forma fluida e
em movimento constante, usando como exemplo o
Sudeste americano, num trabalho que recorre à fotografia e ao texto.
A indiana Shilpa Gupta (Mumbai, India, 1976)
trabalha em diferentes meios – vídeo, som, escultura, fotografia, performance –, através dos quais
evoca acontecimentos históricos relacionados com o
seu país – o discurso que marca a independência da
Índia, proferido por Jawahrlal Nehru em 1947, o
conflito com o Paquistão devido à disputa da região
de Caxemira, ou os confrontos entre hindus e muçulmanos em Gujarat, em 2002. Questões relacionadas com o conceito de fronteira, segurança, medo,
religião, preconceito, atravessam a obra desta artista,
de forma a activar uma consciência crítica.
Sharon Hayes (Baltimore, EUA, 1970) desenvolve uma investigação que cruza história, política e
discurso. O seu trabalho centra-se em estratégias
PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 9
PERCURSO NA EXPOSIÇÃO
que interrogam o presente contexto político, como
momento sempre alegórico. A artista cria situações
que expõem conflitos entre actividades colectivas e
acções pessoais, encenando protestos, proferindo
discursos e organizando manifestações, em que multidões e indivíduos são convidados a repensar os seus
papéis na construção da opinião pública. A abordagem conceptual e metodológica da artista convoca
diversos campos disciplinares: teatro, cinema, antropologia, linguística, jornalismo, numa prática que
recorre ao vídeo, à performance e à instalação, de
que é exemplo “In the Near Future”, onde apresenta
a documentação fotográfica das suas acções.
Gert Jan Kocken (Ravenstein, Países Baixos, 1971)
reinterpreta momentos da História, associando fotografia e material documental. Numa série de trabalhos visíveis na exposição, o artista regressa a um
dos momentos mais dramáticos da segunda guerra
mundial: o lançamento de bombas atómicas sobre
as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima. Jan
Kochen apropria-se de imagens autografadas pelos
pilotos dos bombardeiros e aproxima-as quer do
certificado da morte de Enola Gay Tibbets (mãe de
um dos aviadores), quer da Virgem de Nagasaki.
Deste modo interroga passado e presente, história
pessoal e colectiva, remetendo também para a fúria
provocada pelo poder de imagens que instigaram
gestos iconoclastas.
Asier Mendizabal (Ordizia, País Basco, 1973) toma
como ponto de partida universos que vão do punk ao
marxismo, das vanguardas históricas à cultura popular. O trabalho do artista traduz os significantes e significados que um signo pode adquirir nas circunstâncias históricas em que é produzido, e naquelas em que
posteriormente é lido. As suas exposições são “mais
um dispositivo do que uma instalação”. Há assim
uma construção no tempo, uma revisitação de lugares
e acontecimentos, de formas estéticas carregadas de
ideologias que se vão transformando num processo de
esvaziamento dos sentidos originais.
O conceito de democracia está subjacente aos dois
trabalhos de Carlos Motta (Bogotá, Colômbia,
1978), que têm em comum o facto de resgatarem
textos históricos, inserindo-se num projecto mais
vasto em torno da relação da democracia com a
religião, a sexualidade e a memória histórica. Na
acção “Deus Pobre”, uma colaboração com um
grupo de padres portugueses, serão lidos textos
relacionados com a Teologia da Libertação, movimento que teve o seu epicentro na América Latina. Textos de Bartolomé da Las Casas, de António
Vieira, entre outros autores seminais para o tema
em discussão, serão também escutados durante
estas leituras. Carlos Motta aborda o cruzamento
da acção espiritual com a prática política, interrogando de que forma estas podem ser prolongadas
na esfera artística. Já a vídeo-instalação “Six acts:
an experiment in narrative justice”, mostra uma
série de eventos performativos realizados em praças
públicas de Bogotá, que colocam actores a ler discursos de paz de vários candidatos presidenciais colombianos, todos eles assassinados em campanha.
Desde os tempos da Universidade, onde foi activista,
que Tom Nicholson (Melbourne, Austrália, 1973)
se comprometeu com a causa da independência de
Timor-Leste. No Porto, o artista realizou uma acção
que procurou lembrar um episódio ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando tropas australianas lançaram sobre o território de Timor Leste
o panfleto intitulado “Os vossos amigos não vos
esquecem”. Para além da distribuição deste panfleto
na cidade do Porto, a instalação patente no Museu
revisita este momento dramático na luta do povo
Timorense pela sua independência.
O trabalho de Ahmet Öğüt (Diyarbakir, Turquia,
1981) pode ser definido através da tensão entre o
medo e o humor, numa ambiguidade de desarmante
potência irónica que remete para a noção de espaço
colectivo. Assumindo diferentes configurações – do
vídeo, à instalação, da escultura à pintura – a sua
obra recorre à provocação, para comentar os efeitos e as contradições da politização da vida, num
quotidiano marcado por convulsões sociais e ameaças terroristas. Em “The Swinging Doors” (2009),
o artista instala no espaço expositivo uma série de
escudos anti-motim, utilizados pela polícia em manifestações e confrontos violentos, visando intimidar
aqueles que protestam.
Nikolay Oleynikov (Rússia, 1976) interessa-se
pela relação entre arte, história e política, e pelas
suas intersecções com processos e práticas educativas. Os dois murais que realizou podem ser vistos
em Serralves, com o colectivo Chto Delat?, e na
fachada de um prédio na Rua Diogo Brandão, no
Porto. A inspiração para as figuras deste último
surgiu de “Operário e Camponesa”, um conhecido
monumento soviético realizado para o pavilhão da
Exposição Internacional de Paris, em 1937, e alvo
de controvérsia pelo facto de se situar frente ao pavilhão do Terceiro Reich. No Porto, a escultura foi
reencenada com um grupo de estudantes de teatro
e dança, e o rosto das duas figuras substituído pelo
de Bertold Brecht e Augusto Boal, ambos criadores
revolucionários, agora apresentados por Oleynikov
como feministas radicais.
Rigo 23 (Ilha da Madeira, 1966) evoca uma situação vivida aquando da visita do Papa Bento XVI
a Portugal. Em celebração deste acontecimento,
a imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima
visitou todas as paróquias da ilha da Madeira, excepto a da Ribeira Seca, em Machico, onde ficou
no cimo de uma colina, de costas voltadas para a
fachada da igreja e para os fiéis. A situação, provocada pelo facto de as autoridades repudiarem as
ideias do Padre Martins, acarinhado pela população local, levou a um abaixo-assinado que, em 24
horas, recolheu 800 assinaturas. “Isto, o Povo Não
Esquece” resume a revolta dos habitantes, agora
inscrita numa tela de grandes dimensões na Baixa
do Porto. No Museu, o espectador é confrontado
com uma escultura que cancela a expectativa de ser
vista de frente, e com assinaturas bordadas pelas
mulheres de Ribeira Seca.
André Romão (Lisboa, 1984) tem-se dedicado
a repensar os conceitos de Estado, de democracia,
de retórica e de monumento. O seu trabalho – seja
através de esculturas, instalações, vídeos, textos e
performances – conjuga referências da Antiguidade
Clássica (em particular o legado grego de organização da sociedade) e eventos políticos contemporâneos, como sejam a constituição de sindicatos, a
organização de manifestações, os tumultos gerados
por motins. O projecto para esta exposição consiste
numa barricada improvisada, símbolo de protestos e
de convulsões sociais, à qual se associa um texto que
evoca o Massacre de Tlatelolco, ocorrido dias antes
dos Jogos Olímpicos de 1968 na Cidade do México.
Pedro G. Romero (Aracena, Huelva, Espanha,
1964) dá continuidade ao projecto que tem vindo a
desenvolver na última década: “Arquivo F.X.”. Trata-se de uma reflexão que toma como ponto de partida
imagens da destruição de igrejas e de objectos religiosos, de meados do século XIX até ao fim da II Guerra
Mundial, com particular ênfase no período da guerra civil de Espanha. Na capela da Casa de Serralves,
o artista reúne um conjunto de fichas e peças que se
relacionam, propondo uma cartografia do arquivo a
partir de três conceitos: “fetiche”, “barroco” e “chirigota” (termos de origem portuguesa), num trabalho
onde é possível observar distintas formas de iconoclastia e de revolta ao longo do século XX.
O trabalho de Ahlam Shibli (Palestina, 1970) remete para contextos relacionados com posições de
poder, habitualmente definidas pelas dicotomias
ocupante/ocupado, colonizador/colonizado, autóctone/imigrante. Seja para falar das condições de vida
na Palestina, das crianças acolhidas em orfanatos
na Polónia, ou do massacre perpetrado pelo exército alemão em 1944 na cidade francesa de Tulle,
na série intitulada “Trauma”, as suas fotografias documentam situações que nos dão o retrato de uma
sociedade dividida não só por classes, mas também
por exclusões e ideologias dominantes. O filme agora apresentado intitulado “Nine Days in the Oasis of
Peace”, coloca em situação de diálogo um grupo de
israelitas e palestinianos.
A referência ao teatro e aos seus protocolos tem sido
uma constante no trabalho de Mariana Silva (Lisboa,
1983), como forma de questionar o papel do espectador e o seu grau de intervenção na recepção da arte.
Nesta exposição, além de imagens de arquitecturas de
teatros, a artista introduz uma peça sonora que remete
para o momento de entrada e saída do público, numa
sala de espectáculos. Já no Teatro de S. João, no Porto,
a sua proposta conduz o espectador não só através de
espaços habitualmente inacessíveis (salas de ensaio,
camarins, etc), mas também de leituras que evocam
momentos em que o público se revoltou contra o que
estava a ser apresentado em palco.
António de Sousa (Matosinhos, 1966) apresenta
em Serralves um trabalho que aborda o tema da
imigração, reflectindo sobre a identidade de uma
comunidade afastada do seu contexto de origem.
Uma barbearia no centro do Porto, na rua Cimo
de Vila, dirigida por um paquistanês, inspirou uma
investigação em torno das vivências desta comunidade residente no centro da cidade, num imaginário
resgatado ao universo do próprio imigrante. Aos
domingos de manhã, o barbeiro Nasir Ahmamad
estará no Museu de Serralves para oferecer os seus
serviços de corte de cabelo.
É num palco/mesa que a acontece a proposta de
João Sousa Cardoso (Vila Nova de Famalicão,
Portugal, 1977), resultado de uma colaboração com
o Rancho Douro Litoral. Neste espaço, para além
das actuações quinzenais do Rancho, revisitam-se
acontecimentos relacionados com a memória por-
tuguesa do século XX. Utilizado quer pelo Estado
Novo, quer pelos partidos no período pós-revolução, o rancho folclórico transporta consigo uma
série de associações que, no território do museu,
podem desencadear reacções de recusa ou de adesão,
dependendo do campo em que nos colocamos. O
interesse pelo universo das imagens em movimento,
a miscigenação e reconfiguração das culturas populares, a dimensão sociológica do trabalho de campo
e o cruzamento de disciplinas e práticas caracterizam
a obra do artista.
Nicoline van Harskamp (1975, Hazerswoude,
Países Baixos) apresenta a peça “Solidariamente
Convosco», realizada a partir dos arquivos do anarquista holandês Karl Max Kreuger. Um ficcional
congresso anarquista é o mote para uma reflexão
sobre o mundo pós queda do comunismo. Como
devem os anarquistas devem assumir os seus ideais?
O fortalecimento ou o abandono das suas características colectivistas, os desafios da liderança num
movimento anti-hierárquico, ou o modo como se
julga a integridade de um indivíduo neste contexto
são algumas das questões que a obra coloca, recorrendo para isso à apresentação de documentação
sobre o processo de trabalho, e propondo também
um momento performativo.
Na série “The differences between the parts are the
subject of the composition», título baseado numa
frase de Sol LeWitt, de 1966, Vangelis Vlahos (Atenas, Grécia, 1971) reúne diferentes maquetas e fotografias que dão conta de episódios relacionados com
a história urbana, social e política da Grécia desde a
época da junta militar (1967-1974). Em “Aircrafts
on Ground”, uma série de imagens de arquivo, recolhidas em jornais gregos, o artista evoca situações em
que aviões foram impedidos de levantar voo – relacionadas sobretudo com incidentes que ocorreram
na Grécia nas últimas décadas, desde ataques terroristas, sequestros, visitas oficiais e acidentes.
Danh Vo (1975, Ba Ria, Vietname) reflecte sobre o
colonialismo e a religião enquanto instrumento de
expansão territorial. Um dos trabalhos da exposição é uma cópia de uma carta escrita em 1861 pelo
missionário católico francês São Teófano Venard a
anunciar a proximidade da sua morte – dirigindo-se
ao próprio pai –, que aconteceria dias depois, por
decapitação, na então Indochina (território ocupado
pelos franceses). Se, por um lado, se constata a leveza
do texto face à situação descrita, por outro é possível apreciar o saber envolvido na reescrita caligráfica
desta carta: o manuscrito, feito pelo pai de Danh Vo,
sublinha o modo como a História e a biografia pessoal se cruzam na prática deste artista.
Que imagem do passado construímos para nós próprios? É na confluência entre o oriente e o ocidente,
entre passado e presente, que nasce o trabalho de Simon Wachsmuth (Hamburgo, Alemanha, 1964).
Num desenvolvimento da instalação apresentada na
última Documenta de Kassel, o artista prossegue a
interrogação de imagens do passado, questionando
o modo como a historiografia se constrói. Composto por filmes, objectos, recortes de jornal, fotografias
e evocações do Atlas Mnemosine (Aby Warburg), este
trabalho vê-se agora acrescido de documentação que
remete para um arquivo sobre o Irão, justapondo a
antiguidade persa e greco-romana.
10 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011
Às Artes,
Cidadãos!
CONFERÊNCIAS / SEMINÁRIOS / ENCONTROS
A
ctivismo, cidadania, revolução,
utopia, democracia, comunidade,
são alguns dos conceitos subjacentes a este programa, estruturado de modo a
incluir diferentes formatos – conferências,
seminários, conversas – na perspectiva de
constituir uma plataforma de pensamento
e de acção que cruza fronteiras disciplinares, geográficas e teóricas, sublinhando a
relevância do político nas práticas artísticas
na actualidade.
Viver politicamente ou
Sobre as relações entre
teoria e prática
O colectivo russo Chto delat?, fundado
em 2003 em São Petersburgo, é uma plataforma crítica que integra artistas, filósofos
e escritores, propondo a sua actividade a
fusão entre arte, activismo e teoria política.
Que lutas partilhamos? Como combinar teoria e arte com uma vida política militante?
Usando o modelo de “peça didáctica” de
Bertolt Brecht, a discussão em torno destas questões reunirá um grupo de trabalhadores culturais de diversos campos do
conhecimento, e desenvolver-se-á ao longo
de dois dias de seminário, terminando com
uma apresentação pública no dia 23 Novembro às 20 horas.
48 Horas de vida
comunitária
“Educar, entreter, inspirar”
Bertolt Brecht (…)
No contexto das esferas cultural e política,
há um vastíssimo número de eventos que
ocorre com o propósito de abordar ideias em
torno do colectivismo e do sujeito politizado.
Lêem-se comunicações, realizam-se seminários e instalam-se exposições, mas nada
é deveras posto em causa na maioria destes
eventos; não existe qualquer sentimento de
luta partilhada, nem se estabelece qualquer
sentido de solidariedade.
É nosso dever alterar este estado de coisas.
O formato performativo que escolhemos
para a nossa experiência deverá servir para
contrariar a crescente profissionalização,
normalização e academicização do conhecimento político e respectiva separação relativamente àquilo que se passa no exterior da
esfera institucional. Nestes seminários, tentamos estabelecer uma
intensidade de relações entre os participantes ao longo da sua exaustiva duração, através de debates performativos, do sono num
espaço partilhado, de exercícios aeróbicos
matinais, do cozinhar e comer em conjunto, do contacto-improvisação enquanto experiência colectiva de dança, da constante
discussão livre de horário, e de projecções e
performances nocturnas.
Viver politicamente centrar-se-á no problema de como combinar teoria e arte com
uma vida política militante.
(…)
Política em Exposição
Os debates «Política em exposição» pretendem ser um espaço de apresentação e
revisão crítica de um conjunto de exposições de referência que cruzaram a arte e a
política. Para a sessão de 27 de Novembro
foram convidadas Chrissie Iles e Catherine David. A primeira é curadora no Whitney Museum of Art, de Nova Iorque e foi
comissária, em 2004 e 2006, da Bienal de
Whitney. O seu trabalho destaca-se pela
atenção que dá à relação entre questões políticas e prática artística. Uma das mostras
que comissariou, intitulada Into the Light:
The Projected Image in American Art 1964
– 1977 ganhou o prémio de melhor exposição de Nova Iorque de 2002, atribuído pela
Associação Internacional de Críticos de
Arte. Iles publicou já numerosos textos sobre o trabalho de artistas como Gary Hill,
Paul McCarthy, Ana Mendieta, Douglas
Gordon, Dan Graham, Sol LeWitt, Dan
Flavin, Marina Abramovic, entre outros. É
professora na Universidade de Columbia,
em Nova Iorque.
Claire Fontaine, instalação de Greve Humana (Interrompida), 2009, parede de gesso, c. de 90.000 fósforos, produto anti-inflamável, dimensões variáveis, cortesia do artista e Reena Spaulings Fine Art, New York
PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 11
ARTE, POLÍTICA, GLOBALIZAÇÃO
Chrissie Iles estará em diálogo com a francesa Catherine David, que foi curadora da
Documenta de Kassel, em 1997, e directora do Centro de Arte Contemporânea
de Roterdão Witte de With, entre 2002 e
2004. Desde 1998 que organiza «Tamáss –
Representações Árabes Contemporâneas»
um projecto que se desenvolve em diversas
cidades e que junta exposições, seminários
e publicações. O projecto promove o contacto entre o mundo árabe e o ocidente,
problemática que tem estado presente no
seu trabalho. Destaque-se o projecto “Di/
Visions: Culture and Politics of the Middle
East”, onde desafiou artistas e intelectuais
a reverem a “ideologia da divisão”, promovendo formas alternativas de olhar para a
situação do Médio Oriente.
Este ciclo de conferências vai prosseguir
no início de 2011 com Moacir dos Anjos,
curador da mais recente edição da Bienal de
São Paulo, e Hou Hanru, curador da Bienal de Lyon em 2009.
Uma semana de
bondade - Arte, política
e imoralismo estético
Como devemos entender a relação entre o
valor estético de uma obra de arte e o seu
valor moral? Este seminário, orientado
por Roberto Merrill – investigador em
Filosofia Política do Centro de Estudos
Humanísticos da Universidade do Minho
(e autor de um dos textos do catálogo
da exposição) –, começa por formular o
mapeamento teórico das relações entre o
valor moral e o valor estético de uma obra
de arte. A partir deste enquadramento,
examinam-se as consequências políticas do
imoralismo estético, posição segundo a qual
em alguns casos o valor imoral das obras de
arte pode ser condição necessária (embora
não suficiente) do seu valor estético.
Algumas dessas consequências políticas
serão examinadas à luz de teorias sobre
a emancipação individual e colectiva, a
internacional situacionista, e o libertarismo
de esquerda. (entre Janeiro e Março)
Arte e Activismo
Gregg Bordowitz é escritor, videoartista, realizador de cinema e activista. O seu
trabalho, que pode ser relacionado com as
primeiras manifestações do grupo ACT-UP
em Nova Iorque, é um testemunho pessoal
que combate a estigmatização dos porta-
dores do vírus da sida. Escreveu vários ensaios – reunidos na publicação “The Aids
Crisis is Ridiculous and Other Writings,
1986-2003” – e realizou uma série de irreverentes documentários, nomeadamente o
aclamado “Fast Trip, Long Drop”, de 1993.
Em Serralves, Bordowitz apresentará os
seus filmes, ao que se seguirá uma conversa
em que se relacionam morte e vida social, e
em que se explora o papel das sexualidades
alternativas enquanto potenciais formas de
protesto contra a ordem estabelecida.
(29 e 30 de Janeiro)
Economia Libidinal
O seminário proposto por Claire Fontaine
toma como ponto de partida o conceito de
greve humana: uma greve mais inclusiva
e mais radical do que a greve geral.
Aqui, a greve é entendida como uma
forma de colocar a identidade própria à
distância através de uma interrupção. Esta
interrupção pode intervir no seio de uma
greve política ou de um movimento social.
A greve humana assinala que todas as
relações produtivas em que nos envolvemos
se prolongam e radicam na nossa vida
afectiva e identidade. Uma vez que a linha
entre vida e trabalho se torna cada vez
mais indefinida, a greve humana é a forma
contemporânea de luta destinada a romper
com uma dinâmica política opressiva, com
vista a transformar as relações sociais e a
instaurar novos fluxos afectivos e materiais.
Através da leitura de textos de autores
como Benjamin, Foucault, Lyotard, Melville
e excertos de arquivos feministas italianos, a
artista explorará e articulará esta ideia (12 e
13 de Fevereiro).
Susan Buck-Morss
Conferência
A norte-americana Susan Buck-Morss
é professora na área de ciência política
no Graduate Center da City University
of New York. Especializou-se na obra
dos autores da Escola de Frankfurt,
nomeadamente na de Walter Benjamin.
No seu livro mais recente Hegel, Haiti,
and Universal History (2009), reinterpreta
a dialéctica de Hegel, “senhor-escravo”,
a partir de uma análise da revolução
haitiana. Os seus livros The Origin of
Negative Dialectics: Theodor W. Adorno,
Walter Benjamin, and the Frankfurt
Institute (1977) e The Dialectics of Seeing:
Walter Benjamin and the Arcades Project
(1989) são uma referência incontornável
no campo da teoria da cultura. Outro
importante livro é Thinking Past Terror:
Islamism and Critical Theory on the Left
(2003), que questiona o discurso dos
intelectuais pós-11 de Setembro. As
intercecções arte e pensamento, política
e contemporaneidade serão a base para a
conferência em Serralves.
Arquivo e Iconoclastia
Entre arquivo, iconoclastia e movimentos
sociais, este seminário em díptico aborda as
temáticas referidas a partir da obra de dois
artistas: Pedro G. Romero e João Sousa
Cardoso. O primeiro centrar-se-á na
relevância de que se reveste a iconoclastia
para uma série de práticas artísticas, sociais
e políticas, como elemento constitutivo das
formas de expressão de uma comunidade.
O segundo revisitará momentos e imagens
associados à memória colectiva portuguesa
no século XX. (Março)
Un Certain Avenir
Um dos objectivos subjacentes ao projecto
apresentado pelo Bureau d’etudes em
Serralves é o de sensibilizar para o fenómeno
do desaparecimento das abelhas. Esta
problemática tem um carácter global, não só
pelo impacto a nível ambiental e humano,
mas também económico. A importância
das abelhas enquanto agentes polinizadores,
a sua organização social, o modo como
comunicam entre si e com os homens, bem
como o paralelo entre ambas as sociedades,
irão constituir o ponto de partida para
uma leitura que cruza equilíbrios globais,
inteligência colectiva, ética e estética, numa
sessão de formação com os artistas e os
seus convidados. O apelo deste colectivo
vai exactamente no sentido de propor
ao público a adopção de uma colmeia,
valorizando a dimensão pedagógica deste
processo que se inicia com a exposição mas
que continua para além dela.
Visitas à Exposição
Mapeamento das problemáticas subjacentes
à exposição Às Artes, Cidadãos!, sob orientação de Óscar Faria e João Fernandes, na
perspectiva de reflectir sobre um conjunto
Apelo:
A favor de uma
coligação ilimitada
entre as espécies
Um projecto do Bureau
d’études, grupo de artistas
O povo das abelhas está a faltar-nos. Em todo o
mundo, o povo das abelhas está a morrer em massa;
e o seu desaparecimento faz hoje parte dos numerosos alertas que, a cada dia, alimentam os meios
de comunicação. A morte desta fauna teria graves
consequências para a biosfera e, em particular, para a
vida dos homens já que um terço da nossa alimentação e três quartos das espécies cultivadas dependem
da polinização pelos insectos.
Queremos dar uma resposta a este alerta porque o
enxame de abelhas é o protótipo de qualquer civilização, não só da humana mas também daquela construída ENTRE as espécies.
Queremos desenvolver a cooperação entre as espécies e encorajar um espaço social que se não restrinja
aos humanos,
Por isso é que o convidamos a acolher em sua casa
uma colmeia e a adoptar um enxame de abelhas.
Como fazer?
Se for candidato, contacto a Fundação de Serralves.
Se fizer parte dos 30 primeiros candidatos à adopção,
a Fundação de Serralves oferece-me uma colmeia desenhada pelo grupo de artistas Bureau d’études, que
me comprometo a instalar no jardim, na varanda ou
no telhado... cujo ambiente terei previamente enriquecido com plantas melíferas.
Comprometo-me a instalar um enxame de abelhas
na minha colmeia.
Frequento a formação profissional que a Fundação
de Serralves me propõe e oferece, para adquirir os conhecimentos específicos sobre os cuidados a prestar
às abelhas (a alimentação, a reprodução das abelhas
selvagens, as doenças...), sobre a recolha do mel, a
manutenção da colmeia e a sensibilização para a preservação da biodiversidade.
Assino, com a Fundação de Serralves e com o grupo
de artistas Bureau d’études, um acordo tripartido que
precisa os direitos e deveres de cada uma das partes.
Comprometo-me a participar, em 2011, no seminário sobre a polinização, para aí encontrar outros
adoptantes e formar uma rede de partilha de conhecimento sobre a adopção de uma colmeia e uma outra rede dedicada à polinização em espaços urbanos
e peri-urbanos, opondo à legislação actualmente em
vigor um direito ambiental a constituir.
Comprometo-me a praticar uma apicultura biológica definida, por protocolo, aquando da formação.
Contacto: Carla Almeida, Telefone : 22 615 65 87
e-mail: [email protected]
de obras produzidas por artistas que entendem a arte como uma possível plataforma
para a construção de uma consciência política. (9 Dezembro e 10 de Fevereiro)
12 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011
Às Artes,
Cidadãos!
MÚSICA / PERFORMANCE / TEATRO / CINEMA / VÍDEO
Inauguração na cidade
D
epois da inauguração de Às Artes Cidadãos! no Museu de Serralves, com
as acções “As Fúrias”, de João Sousa Cardoso, e a intervenção da artista indiana
Shilpa Gupta, a programação continua em
três espaços de referência da noite portuense:
Maus Hábitos, Passos Manuel e Plano B.
Destaque-se, neste último, o live act de
apresentação do álbum “Work”, dos alemães Thomas Meinecke e Move D (David Moufang). Este trabalho, inicialmente
criado para rádio e editado posteriormente
em CD (pela Intermedium Records), foi
considerado álbum do mês pela revista
“De:Bug”, dedicada à música electrónica, em Novembro do ano passado. Aqui,
os autores abordam uma cultura, ou subcultura, em que a palavra work tem uma
conotação sexual de potencial político.
Além de músico e autor de obras radiofónicas, Meinecke é escritor e jornalista. É
membro do grupo F.S.K desde a sua fundação (em 1980) e actua como DJ na estação Bayern2. Colabora com Move D desde
1998 na criação de obras radiofónicas. De
referir “Freud’s Baby”, “Flugbegleiter”, ou
“übersetzungen/translations” (distinguida
em 2007 com o Prémio Karl Sczuka para
arte radiofónica). Move D é músico, produtor e Dj. Desde o início dos anos 1990
tem proporcionado quer em nome próprio
quer nos projectos Deep Space Network
(com Jonas Grossman), Reagenz (com Jonah Sharp) ou nas colaborações com Pete
Namlook algumas das mais aventurosas
incursões pelo techno espacial com ecos de
Detroit, pelas experimentações com jazz
“World of Interiors”,
Ana Borralho
e João Galante
D
esafiados a apresentar o seu
trabalho “World of Interiors”
em Às Artes, Cidadãos!, os portugueses Ana Borralho e João Galante
seleccionaram uma série de textos do
dramaturgo hispano-argentino Rodrigo
García para montar uma performance
onde a política ocupa o lugar central.
“World of Interiors” surgiu a partir da
leitura destes textos do Rodrigo García, ou foram buscar estes textos por-
electrónico ou pelo onírismo deep house.
A apresentação de “Work” integra-se na
festa “Yes We Cancan!”, que contará com
a presença dos Djs Maxime Iko e Aurélie.
Os dois pertencem ao colectivo francês
Collectif Cancan, responsável pelas festas
gay “Cockorico” – onde revêem de forma
simultaneamente lúdica e crítica os estereótipos associados à cultura gay – e pelas
noites “Cancan” onde, ao som de house e
tech house, ensaiam a revisitação do espírito parisiense no final do séc. XIX quando,
em Montmartre, o Cancan era a dança de
encerramento do espectáculo do Moulin
Rouge, após a qual se encontravam na pista
de dança pessoas dos mais diferentes quadrantes sociais: artistas, aristocratas, prostitutas, os patrões e a classe baixa, todos juntos com um propósito: a festa.
No Passos Manuel, Rui Maia vai abrir a
noite “… Marchar, Marchar!” com sonoridades pós-punk, disco, house e electro. De
referir que este DJ é também músico (da
banda electro-rock X-Wife) e uma importante referência na produção nacional. A
ele segue-se Move D que assim terá a oportunidade de provar ser um dos mais hábeis
e versáteis Djs europeus.
Nos Maus Hábitos, a noite inicia-se com
as escolhas do portuense Tam, alter-ego de
João Santos, produtor/DJ, que irá apresentar um set de cariz político, não esquecendo,
contudo, a componente dançante. Aqui, a
noite continuará com Thomas Meinecke,
que paralelamante à sua carreira literária se
tem dedicado a animar vários bares e clubes
alemães enquanto Dj. Todas estas iniciativas têm entrada gratuita.
que eram os que melhor se enquadravam no que queriam tratar?
Fomos buscar os textos do Rodrigo porque era
neles que revíamos o que queríamos que fosse
dito, e não só dito, mas sussurrado em tom de
confissão, em tom de profecia. Tinha que ser
alguém com uma visão política e muito lúcida do estado das coisas, que gritasse alto e em
bom som os tempos que correm, e o Rodrigo
di-lo sem rodeios e sem medo de incomodar.
Os textos deste dramaturgo têm uma
dinâmica/violência muito próprias.
Isto parece contradizer a postura dos
performers, que é bastante contida.
Como foi trabalhada essa ligação?
Thomas Meinecke
& Move D
WORK
J
á nos anos 1920 se podia notar nos
Estados Unidos uma contaminação
etimológica entre as esferas trabalho e amor, nomeadamente quando
as chamadas working girls (jovens mulheres que trabalhavam, a maioria em
escritórios, usavam saias curtas, cabelo
ainda mais curto e fumavam em público) impulsionaram aquele primeiro
movimento de mulheres mais alargado e impossível de ignorar que, com
uma soberania até aí desconhecida,
dispunham da sua sexualidade (e não
apenas do ponto de vista sociológico),
enquanto simultaneamente, num tom
de linguagem vulgar, o termo working
girl podia muitas vezes significar também prostituta. No jive subcultural,
a sílaba work afirmava-se mais e mais
Interessa-nos sempre a ideia do paradoxo,
de dualidade, da contradição. Neste projecto a imagem apocalíptica – com tudo o que
ela comporta –, de mortos que sussurram é,
também, um jardim suspenso de pessoas que
dormem, uma imagem de contemplação e
meditação abalada por textos que nos segredam inevitabilidades com violência e ironia.
Os nossos trabalhos têm sempre essa dualidade: por um lado são sedutores e cativantes, por
outro, incomodam. Não nos interessa fazer
espectáculos só agradáveis, mas em ter várias
camadas de entendimento e profundidade e,
se possível, contraditórias. A peça convida ao
relaxamento, convida o espectador a deitar-se junto de outros corpos deitados, criando-se
uma situação de intimidade. Mas depois, ao
como um vocábulo para designar actividades auto-determinadas, não raras vezes sexualmente dissidentes, até
finalmente se ter imposto como um
termo central na subcultura predominantemente homossexual, sobretudo
latino-americana (idealizada por Judith Butler e Madonna), dos salões de
baile em moda do Harlem espanhol.
You Better Work, rezava o refrão do super-êxito “Supermodel”, da drag queen
Ru Paul, e a intenção não era exactamente apelar à ética de trabalho da sociedade branca anglo-saxónica protestante (WASP) dos Estados Unidos (o
vídeo-clip correspondente foi filmado
em Nova Iorque, no Meatpacking District, uma zona de má reputação devido às suas prostitutas decadentes). Até
hoje, a Underground House Music de
Nova Iorque, o Booty Bass de Chicago
ou o Ghetto-Tech de Detroit utilizam
o vocábulo no contexto de metáforas
sexuais quase indisfarçadas (work my
body over), mas que aqui, muitas vezes
codificadas de modo bipolar, não estão
ao serviço do habitual sexismo (comum no negócio), antes desenvolvem
(no triângulo difamatório raça, classe
e género) um potencial crítico. David
Moufang e Thomas Meinecke re-trabalharam o repertório desta música empolgante, e a partir de inúmeros samples, a par com testemunhos de pessoas
directamente envolvidas (dance veterans, drag queens, DJs), mas também
a partir das suas próprias vozes e instrumentos, criaram um mix hipnótico.
Outros espaços, outras vozes.
escutar os textos, o espectador faz uma descida
aos infernos, já que estes são como um murro
no estômago; deixam-nos a pensar no que andamos na realidade aqui a fazer.
O público, quando é provocado e incomodado, pensa mais no que lhe estão a
propor. Quando a coisa é apenas agradável, vai para casa contente mas não
pensa mais no assunto. Tentamos sempre criar um dispositivo para que no
meio dessa sedução o público possa agir.
Aqui, é o espectador que tem de ir à
procura das palavras, à procura da acção. Pode isso ser uma metáfora sobre
a forma de participação política nas
sociedades actuais?
PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 13
ARTE, POLÍTICA, GLOBALIZAÇÃO
Antes de mais, não acreditamos que a forma de participação política das sociedades
actuais seja activa. Somos permanentemente
manipulados. O modelo político capitalista
fracassou e continuamos a ser governados sob
as ordens dos mesmos do costume. E o que
fazemos? Nada... Os textos do Rodrigo tanto
apontam o dedo ao estado, como ao indivíduo. O Estado somos todos, somos nós que
permitimos que uns quantos, lá do seu pedestal, nos digam como se vai fazer as coisas.
Deixamos as coisas chegar a situações, às vezes, completamente incontornáveis, a ponto
de, aparentemente, não existir saída alguma.
Como o Rodrigo diz num dos seus textos “Domina-se a natureza chama-se Parque. Domina-se o Homem chama-se Estado”. Não
devemos continuar a aceitar este domínio...
e os nossos espectáculos tentam precisamente
que o público sinta que é ele que tem que traçar o seu caminho. De certo modo, em todas
as nossas performances há uma preocupação
de colocar o espectador a decidir e a assumir
as suas decisões, a ser responsável pelas suas
decisões, a decidir o seu papel no interior da
trama. Pode ficar só de fora a ver ou pode
participar tomando a decisão de se envolver
e confrontar directamente com a proposta,
tornando-se deste modo, muita vezes, ele próprio, em performer.
Confrontar o espectador é, então, uma forma de “intervenção” com traços políticos?
Completamente. O público, ao ser confrontado pensa/age. Ou pelo menos assim queremos
que aconteça. Ao confrontar o público, ele é
imediatamente colocado no Aqui e Agora.
Num determinado espaço, com determinadas pessoas, num determinado momento e com a responsabilidade de tomar decisões dentro desse contexto. Assim, a ideia
anarquista sobre a responsabilidade do
indivíduo é chamada a debate.
Programação
Janeiro-Março 2011
P
artindo das linhas de orientação de Às
Artes, Cidadãos!, desenvolveu-se uma
programação vasta que engloba performance, teatro, música, cinema e vídeo e
onde temas como os direitos humanos, direitos civis e a liberdade de pensamento são
preponderantes. As acções iniciam-se no dia
20 de Novembro e prosseguem até 13 de
Março, acompanhando a exposição.
Entre as participações confirmadas estão Olive Martin e Patrick Bernier, artistas que aliam o seu trabalho artístico ao
compromisso político e que intervêm com
“Plaidoirie pour une jurisprudence”, projecto onde se reivindica o direito de habitar
um território no contexto da imigração,
através da criação real da defesa em tribunal
de um processo de deportação, implicando os juristas especialistas Sylvia PreussLaussinotte e Sébastien Canevet e o público assistente. O convite destes artistas será
também uma oportunidade para conhecer
a sua filmografia realizada em consequência
da militância pelos direitos dos imigrantes.
político, traduzindo-as numa linguagem expressiva, irónica e mordaz.
A partir do livro Noise & Capitalism, o músico basco Mattin, defensor do software livre
e questionador da noção de propriedade
intelectual, convida vários artistas a integrarem um programa de performances onde se
interroga o potencial da improvisação e do
“ruído” enquanto agentes destabilizadores da
sociedade capitalista.
A dupla portuguesa Calhau!, com um trabalho pautado pela experimentação e cruzamento de música, performance e cinema, irá
apresentar um projecto pensado especificamente para o contexto da exposição, no âmbito deste programa que, futuramente, será
apresentado na sua globalidade.
Esta problemática vai ser igualmente aprofundada pelos Ultra-Red na forma de seminários e trabalho de campo. Membros deste
colectivo artístico activista irão apresentar
projectos realizados com algumas comunidades e estratégias radicais de pedagogia, particularmente no que diz respeito às possibilidades oferecidas pela acção sonora, quer na
tomada de consciência quer na intervenção
social e política, ligadas às questões da mobilidade humana e do racismo.
A encenadora Lina Saneh apresenta com o
artista e cúmplice Rabih Mroué “Appendice”, peça que aborda a problemática do
direito ao uso e destino do corpo individual na cultura islâmica. As preocupações
sociais e políticas destes artistas libaneses,
como a vida artística no Líbano contemporâneo depois da guerra civil e a dificuldade da construção de uma identidade árabe numa democracia débil, manifestam-se
também na sequência dos seus filmes e
vídeos exibidos neste programa.
© Ana Borralho & João Galante. Fotografia: Vasco Célio
O Auditório vai ainda receber Los Torreznos,
dupla espanhola que pesquisa experiências
enraizadas no nosso quotidiano para fazer
explorações conceptuais nos terrenos social e
Stills do video “Old house”, Rabih Mroué, 2006
14 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011
Às Artes,
Cidadãos!
“Isto, o povo não
esquece”, Rigo 23
Q
uando, em Maio de 2010, a
imagem peregrina de Nossa
Senhora de Fátima passou ao
lado da igreja da Ribeira Seca (Machico,
Região Autónoma da Madeira) e de costas voltadas para ela, reacenderam-se na
paróquia crispações antigas com o poder
instituído. Com um historial de resistência ao fascismo, a Ribeira Seca é já há
muito tempo uma referência para Rigo
23 (Ricardo Gouveia), artista plástico
nascido na Ilha da Madeira, em 1966,
que vive em São Francisco desde meados
dos anos de 1980, e que desenvolve um
trabalho artístico, principalmente em espaços públicos, de grande projecção.
Ao ser convidado a participar em Às Artes, Cidadãos!, o madeirense de 44 anos
recordou uma antiga promessa feita ao
padre de Ribeira Seca – Martins Júnior
– quando, em 1985, um grupo de polícias tentou entrar na igreja local para
expulsar o padre que há 32 anos está suspenso pela hierarquia católica – embora
continue, à revelia da instituição e com
o apoio da população, a celebrar a missa
e a ministrar sacramentos.
Rigo 23 lembra como era Ribeira Seca no
início dos anos de 1980: “Muitos músicos
de intervenção portugueses iam à Madeira tocar no Teatro Municipal do Funchal.
O bilhete custava 200 escudos. No dia seguinte, tocavam gratuitamente na Ribeira
Seca, o que demonstrava que se identificavam com o que lá se passava”.
O ambiente nesses concertos ”era festivo” e havia uma espécie de “relação utópica com o campo, muito típica do início dos anos de 1980”. A população era
“muito aguerrida e destoava do resto na
Ilha, era quase como a aldeia do Ásterix”.
Martins Júnior é, de resto, um político
ligado à extrema-esquerda (foi eleito, em
1989, presidente da Câmara de Machico
pela UDP - União Democrática Popular,
cargo que exerceu até 1997).
Ribeira Seca continua a ter um “carácter especial” e Rigo 23 desejava fazer um
trabalho sobre o cerco à Igreja que aconteceu em 1985. Mesmo não tendo vivido aquele acontecimento, admite que há
uma imagem “mítica” que não lhe sai da
cabeça: “as bordadeiras de mãos dadas a
fazerem um cordão para protegerem o
templo da polícia”.
A ideia de trabalhar sobre esses acontecimentos acabou por dar lugar a outra, pois
25 anos mais tarde, as crispações entre a
paróquia e a hierarquia da Igreja Católica
madeirense voltaram a manifestar-se, três
meses depois do momento “traumatizante” que foram as cheias de Fevereiro.
houve um que me tocou especialmente,
a mim e aos jovens com quem estava a
trabalhar. Nele havia uma forma oval
cor-de-rosa encimada pela frase: «Há
aqui dentro um tesouro guardado». Pa-
“Geralmente, quando há um desastre natural as pessoas ficam mais unidas pois
passam a ser sobreviventes da mesma coisa”. Decidiu então abordar esse acontecimento. “Os habitantes de Ribeira Seca
ficaram indignados quando, a propósito
da vinda do papa Bento XVI a Portugal,
a imagem peregrina de Nossa Senhora de
Fátima passou por todas as igrejas madeirenses menos pela sua. Além de não ir ao
adro e passar longe, passou de costas voltadas para a população”.
“Isto, o povo não esquece”, escreveu no
«Diário de Notícias» madeirense uma
habitante indignada. O artista considera que este foi “um pequeno momento,
mas revelador”, tanto mais por ter acontecido no ano do centenário da implantação da República. “Um dos aspectos
problemáticos da monarquia era a não
renovação dos líderes políticos. Acontece
que na Madeira temos o mesmo líder há
32 anos”.
1.
Essa frase de revolta poderá ser vista
numa tela gigante no centro histórico
do Porto. No Museu de Serralves, poderá ver-se uma instalação com uma
reinterpretação da estátua peregrina de
Nossa Senhora de Fátima e a imagem da
igreja madeirense.
A par deste trabalho sobre a Ribeira
Seca, Rigo 23 realizou um projecto de
intervenção urbana com jovens do Porto, uma colaboração entre a Agência de
Desenvolvimento Integrado de Lordelo
do Ouro (ADILO) e o Serviço Educativo de Serralves. Na escola EB1 da
Pasteleira, pintaram uma série de murais cujo mote foi o desenho de uma das
crianças da própria escola.
“As crianças fizeram vários desenhos e
2.
receu-me uma metáfora fantástica para
uma escola básica”. À volta desse primeiro painel nasceu o resto, incluindo um
retrato do planeta Terra que situa o Bairro da Pasteleira no mundo.
PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 15
ANTES DA INAUGURAÇÃO
“Experiências de
imigração”,
Carolina Caycedo
A
bordar o tema das migrações contemporâneas tendo como ponto
de partida uma reflexão colectiva
sobre vários textos foi o que se propôs fazer
Carolina Caycedo com o seu workshop/sitespecific “Diáspora”3. Nascida em Londres
em 1978, de pais colombianos, e residente
em Porto Rico, a artista trabalhou durante
cinco dias, no Porto, com imigrantes que
exercem profissões na área cultural.
“Tinha de trabalhar com pessoas que tivessem algo em comum comigo”, explica, até
porque “os textos a abordar nas sessões requeriam um certo grau de conhecimentos”.
Com um arquitecto (italiano), dois artistas
(um brasileiro e uma argentina), uma historiadora de arte (espanhola) e um coreógrafo
(japonês), a artista partilhou e debateu os
ensaios que, na sua opinião, melhor reflectem sobre como se tem “reconfigurado a
ideia de cidadania e de identidade através
da imigração contemporânea”.
O escritor Hakim Bey, a jornalista portuguesa a viver em Madrid Rita Gomes Faria,
o sociólogo e antropólogo italiano Sandro
Mezzadra foram os autores estudados. De
grande importância foi também o texto colectivo “Carta dos Imigrantes”, onde se fala
dos seus direitos e deveres, e cuja mais recente versão foi redigida em Quito, Equador,
como marco do IV Fórum Social Mundial
das Migrações, que se realizou este ano.
Esta experiência terminou com o visionamento do filme “Blackboards” (Takhté
siah, 2000), da iraniana Samira Makhmalbaf, que aborda a situação fronteiriça entre
Irão e o Iraque através das histórias de um
grupo de professores curdos que se move
entre as duas fronteiras.
O colectivo começou por pensar em si
próprio, um grupo de “imigrantes com
um melhor estatuto do que os ilegais, os
refugiados, ou dos que emigraram por não
terem outra opção”. Na verdade, considera
Caycedo, “somos um grupo intermédio –
estamos entre os que não têm nenhum status e os cidadãos reais de um país”.
A artista quis tomar como ponto de partida
as suas vivências, pois muitas vezes “é difícil
articular a própria experiência”. É, assim,
necessário “partilhar e confrontar os outros
com ela para que comece a fazer sentido”.
Enquanto imigrantes, diz, “estamos numa
posição confortável, sentimos que não nos
podemos queixar”. No entanto, “ao conversarmos com pessoas que estão na mesma posição, conseguimos articular os problemas e sentimo-nos aliviados da sensação
de culpa, das frustrações”.
Outra das ideias que se tornou clara foi a da
existência de obstáculos. “Apesar de alguns
dos participantes já viveram cá há vários
anos e serem cidadãos europeus, ocasionalmente depararam-se com situações que
funcionam como uma espécie de “parede”
que interrompe o fluxo normal da vida, o
que não aconteceria se vivessem no seu próprio país”, considera.
O grupo abordou também o “sentido de
perda” e, simultaneamente, “o sentido de
pertença”. Caycedo acredita que os emigrantes podem estar encurralados entre
duas culturas, mas “têm o direito de esquecer” a cultura que deixaram. Considera
ainda que “uma das características que une
os emigrantes, sejam legais ou ilegais, é a
coragem. Existe uma valentia implícita no
acto de emigrar”.
O trabalho de reflexão colectiva traduziu-se
na criação de frases – conclusões, perguntas,
reivindicações, intervenções, “espelhos das
experiências dos participantes” – que estão
expostas nas escadas que conduzem ao piso
inferior do Museu de Serralves. “Pensei desde o início utilizar as escadas pois são a metáfora perfeita para a ideia de movimento,
de transição. As escadas são elementos arquitectónicos desenhados como espaço de
trânsito, por isso é importante que as frases
estejam aí inscritas, para se reforçar a ideia
do movimento geográfico”, conclui.
1. Escola Básica do 1º ciclo com Jardim de Infância da Pasteleira, workshop com Rigo 23, de 30 de Outubro a 4 de Novembro, com um
grupo de jovens entre os 16 e os 21 anos, numa colaboração com a Agência para o Desenvolvimento Integrado de Lordelo do Ouro:
com Tatiana Miller, Jonas Oliveira, Nuno Canossa, Renato Carvalho, Emanuel Cardoso, Claudia Gomes, Tiago Gomes, Diogo Silva.
Apoio técnico de Patrícia Costa, Pedro Santos, Elisabete Lopes (Adilo) e Liliana Abreu (Escola da Pasteleira).
2. Carolina Caycedo, Os imigrantes influenciam as culturas dos países de acolhimento, 2004, Marcha pública e cartaz em vinil, 600 x
100 cm (cartaz / banner), Cortesia da artista, Fotografia: Pablo Bernabé.
3. Carolina Caycedo (Colômbia) em co-autoria com Gisela Diaz (Espanha), Hajime Fujita (Japão), Lorenzo Martinelli (Itália),
Cláudia Mel (Argentina), Igor Vasconcelos (Brasil).
“Acção para outra
biblioteca”,
Tom Nicholson
A instalação de Tom Nicholson After action for another
library convida-o a dar o seu contributo ao projecto
agora em curso de reunir livros para a Biblioteca da
Universidade Nacional de Timor-Leste (Universidade
Nacional de Timor-Lorosae). Na exposição será convidado a levar um exemplar de After action for another
library, um resíduo do projecto em forma de livro de
artista. Em troca, poderá deixar um livro que queira
doar à biblioteca, em Díli. Gostaríamos de sugerir que
traga consigo para o Museu um livro para doar, que
pode ser novo ou em segunda-mão e deve corresponder
às seguintes directivas, fornecidas por leitores da Universidade de Díli:
1. Livros sobre a história e a política de Timor-Leste;
2. Livros sobre países da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] de natureza política, histórica ou antropológica;
3. Livros de língua portuguesa, em especial gramáticas
e dicionários;
4. Livros antigos e recentes sobre teoria e prática políticas, em especial incidindo sobre socialismo, educação
popular, história política em situações análogas, por
exemplo na América Latina, ou temas da actualidade,
como ecologia, globalização, tecnologias energéticas e
economias alternativas.
5. Livros sobre o estudo da paz, em especial os que usem
conflitos actuais ou recentes como exemplo, como os do
Afeganistão, Iraque, Palestina/Israel e reformas das Nações Unidas nesta área.
6. Livros sobre estudos de desenvolvimento alternativo
provenientes de outras regiões do mundo, como Kerala,
na Índia, Cuba, ou Venezuela.
Embora os estudos académicos nestas áreas sejam os
mais directamente úteis para a Biblioteca da Universidade, os visitantes da exposição são também convidados
a responder a estas directivas doando obras de ficção,
ou outro material que considerem importante ou relevante. Se os visitantes tiverem os meios necessários, ou
ligações relevantes a bibliotecas e livrarias, doações de
mais de um livro serão também muito apreciadas.
Ficha técnica
Visitas guiadas
Como chegar a Serralves
Exposição
Às Exposições
Sábados/Saturdays: 17h00-18h00
Domingos/Sundays: 12h00-13h00
Autocarro
STCP: 201, 203, 207, 502, 504
e Circuito Turístico
Aos espaços Arquitectónicos
Domingos/Sundays: 15h00-16h00
Metro
Saída estação Casa da Música, com ligação
dos autocarros 201, 203, 502 e 504 na
Rotunda da Boavista.
Comissariado
Óscar Faria
João Fernandes
Coordenação
Isabel Sousa Braga
Paula Fernandes
Programação de
Conferências e Seminários
Óscar Faria
João Fernandes
Sofia Victorino
Produção
Diana Cruz
Manuela Ferreira
Programação de
Artes Performativas
Cristina Grande
Pedro Rocha
Produção
Ana Conde
Gisela Díaz
Horários
Museu/Casa
Ter a Sex: 10h00-17h00
Sáb, Dom e Feriados: 10h00-19h00
Comboio
Os comboios Urbanos ligam o Porto
às cidades de Aveiro, Ovar, Espinho,
Ermesinde, Valongo, Paredes, Famalicão,
Braga, Santo Tirso e Guimarães.
Parque
Ter a Dom: 10h00-19h00
Para mais informações: 808 208 208 ou
www.cp.pt
Loja
Todos os dias: 10h00-19h00
À chegada dirija-se à estação de Metro de
Campanhã utilizando as linhas A, B, C, ou
E até à estação de Metro da Casa da Música.
Livraria
Todos os dias: 10h00-19h00
Restaurante
Serviço de Cafetaria
Seg a Sex: 12h00-19h00
Sáb e Dom: 10h00-19h00
Serviço de Restaurante
Ter a Sab: 20h00-24h00
Reservas: 226 170 355
Jornal da Exposição
Descontos CP mediante a apresentação do
bilhete de Serralves:
25% Desconto nos serviços Alfa Pendular e
Intercidades na Classe Conforto/ 1ª Classe
na aquisição de bilhetes de ida e volta com
destino às estações de Porto Campanhã ou
Vila Nova de Gaia.
20% Desconto na Classe Turística/ 2ª Classe
na aquisição de bilhetes de ida e volta com
destino às estações de Porto Campanhã ou
Vila Nova de Gaia.
Consulte todas as condições em
www.serralves.pt
Coordenação e edição
Sofia Victorino
Ricardo Nicolau
Apoio Institucional
Concepção gráfica da capa: Nuno Bastos
Textos
Óscar Faria
João Fernandes
Luísa Marinho
Sofia Victorino
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