ROSSELLA BISCOTTI & KEVIN VAN BRAAK * BUREAU D’ÉTUDES * STEFAN BRÜGGEMANN * CAROLINA CAYCEDO * CHTO DELAT? * SAM DURANT * GARDAR EIDE EINARSSON * MATIAS FALDBAKKEN * CLAIRE FONTAINE * ZACHARY FORMWALT * ANDREA GEYER * SHILPA GUPTA * SHARON HAYES * GERT JAN KOCKEN * ASIER MENDIZABAL * CARLOS MOTTA * TOM NICHOLSON * AHMET ÖGÜT * NIKOLAY OLEYNIKOV * RIGO 23 * ANDRÉ ROMÃO * PEDRO G. ROMERO * AHLAM SHIBLI * MARIANA SILVA * ANTÓNIO DE SOUSA * JOÃO SOUSA CARDOSO * NICOLINE VAN HARSKAMP * VANGELIS VLAHOS * DANH VO * SIMON WACHSMUTH 2 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 Às Artes, Cidadãos! PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 3 A exposição “Às Artes, Cidadãos!” incide sobre algumas das intersecções que a arte e o político, entendido como acção, representação ou referência, manifestam na actualidade. I nspirado no refrão do “Chant de guerre pour l’armée du Rhin”, o título da exposição Às Artes, Cidadãos! contém em si um desejo de comunidade: a criação de uma plataforma de debate, um lugar onde se potencie a disponibilidade para um encontro entre artista e espectador, no qual se evidencie o poder comum a ambos. Ligado sobretudo aos direitos e deveres políticos, o conceito de cidadania surge na Grécia e está estritamente ligado à democracia, ou seja, à soberania do povo. É nessa dimensão participativa que se procura inscrever uma mostra que tem como pano de fundo as comemorações dos 100 anos da República Portuguesa. A proposta é dar conta de algumas das formas artísticas actuais em que podem detectar intersecções entre a arte e o político. Agora, ao contrário das circunstâncias em que foi escrita a “A Marselhesa” não há uma “horda inimiga” a combater: a vontade é dar a conhecer, através de obras produzidas por trinta artistas e colectivos, diferentes pontos de vista acerca de um tema sempre em aberto. T omando como ponto de partida a proposta de pensar as intersecções da arte com a política, cada artista e colectivo convidado concebeu a sua participação a partir de distintas possibilidades: a produção de uma nova pode ser interpretada a partir quer do método dialéctico de Walter Benjamin , quer da perspectiva da memória colectiva, entendida esta enquanto categoria central do pensamento de Aby Warburg. Às Artes, Cidadãos! inclui assim instantes que permitem uma reflexão sobre acontecimentos que definiram a história universal desde a antiguidade clássica até à queda das torres gémeas, em 2001, em Nova Iorque. Neste capítulo, para o qual são essenciais as noções de ideologia e de arquivo, podem nomear-se as obras de Ahlam Shibli, Ahmet Öğüt, André Romão, Andrea Geyer, João Sousa Cardoso, Mariana Silva, Nicoline van Harskamp, Rosella Biscotti, Sam Durant, Shilpa Gupta, Simon Wachsmuth, Vangelis Vlahos e Danh Vo – muitos outros participantes também podem ser incluídos neste núcleo, como Pedro G. Romero e Gert Jan Kocken, ambos aproximados, na ca- O objectivo é sempre o de revelar múltiplas perspectivas de um tema que convoca conceitos como os de globalização, democracia, activismo, ideologia, memória, exílio, revolução, iconoclastia, comunidade. D ecidiu-se trabalhar com artistas nascidos a partir de 1961, o ano marcado pelo surgimento do muro de Berlim, uma construção que, apesar de ter sido destruído em 1989, continua a projectar a sua sombra no presente. É dessa grande cisão do século XX, que nascem muitas das tensões actuais, as quais se reflectem nas obras dos nomes convidados a participar na exposição. Os muros erguidos por razões políticas podem ser lidos como materializações objectivas, palpáveis, de uma divisão ideológica, abstracta por definição: essas barreiras têm uma dimensão física que oprime e, na sua frieza, tornam mais desumana a existência quotidiana de todos quantos com elas se têm de confrontar seja no médio oriente, na América do Sul ou em África. obra, a apresentação de um ou vários trabalhos já realizados ou a justaposição de ambas as hipóteses. O percurso expositivo inclui salas dedicadas a um só artista, mas também espaços onde houve a intenção de criar situações tanto de diálogo como de tensão. O objectivo é sempre o de revelar múltiplas perspectivas de um tema que convoca conceitos como os de globalização, democracia, activismo, ideologia, memória, exílio, revolução, iconoclastia, comunidade. C onsiderando cada artista e colectivo na sua dupla condição de singularidade e de pluralidade – uma situação potenciada pela partilha de um espaço comum, o museu –, Às Artes, Cidadãos! procura sublinhar essa possibilidade de uma existência em comum sem que tal condicione a afirmação individual de cada projecto. O facto de o tema da exposição centrar-se nas intersecções entre a arte e o político, faz com que um número significativo de trabalhos se relacione com aquilo que se poderia designar como questões de história – a qual Agora, ao contrário das circunstâncias em que foi escrita a “A Marselhesa” não há uma “horda inimiga” a combater: a vontade é dar a conhecer, através de obras produzidas por trinta artistas e colectivos, diferentes pontos de vista acerca de um tema sempre em aberto. pela da Casa de Serralves, pela atenção dada ao tema da iconoclastia. O activismo político, seja assumido sob a forma de um colectivo, seja protagonizado individu- almente está presente nas propostas dos Chto Delat?, de Carlos Motta, de Carolina Caycedo, de Tom Nicholson, de Sharon Hayes , de Nicolai Oleynikov e de Rigo 23. Outros artistas propõem trabalhos atravessados por questões que vão da economia política, como é o caso de Zachary Formwalt, à economia libidinal, traduzida nas criações de Claire Fontaine. Há ainda as obras de Gardar Eide Einarsson e de Matias Faldbakken, que têm como pano de fundo diferentes formas de expressão habitualmente associadas às subculturas. As preocupações ambientais e o mapeamento da sociedade de controlo sistematicamente realizado pelo Bureau d’études, a revisitação das vanguardas históricas efectuada por Stefan Brüggmann e Asier Mendizabal, e as noções de biopolítica e de catástrofe em António de Sousa são outras das linhas condutoras de uma exposição que, apesar de assumir um desejo de actualidade, que não deixa de revisitar o passado. Às Artes, Cidadãos! levantará questões mais do que produzirá respostas; interpelará o visitante, convidando-o a reflectir a partir de obras e ideias produzidas por autores que constatam a necessidade da arte ser uma possível plataforma para a construção de uma consciência política. Não deixará deste modo de dar continuidade a uma tradição republicana do museu, evidente desde que o Louvre abriu as suas portas ao público em 1793, no ano seguinte à criação da República Francesa. Contudo, se no passado a referência política em arte no século XX, dos primeiros modernismos às décadas de 1960 e 70, foi também um modo de contestação e de crítica institucional ao papel do museu na sociedade, importa hoje interrogar o lugar da referência política num mundo onde a arte é também cada vez mais uma evidência de uma sociedade globalizada na sua economia e cultura. Exerto do texto dos Comissários, Óscar Faria e João Fernandes, publicado em Às Artes, Cidadãos!, Cat. Exp., Porto: Fundação de Serralves 2010. O primeiro volume do catálogo da exposição, que será lançado na inauguração da mostra, conta com textos originais de Peio Aguirre, Federico Ferrari, Brian Holmes, Sven Lütticken, Roberto Merril e Hito Steyerl. 4 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 Às Artes, Cidadãos! Avenida da Boavista Fundação de Serralves R. da Regeneração R. de João Rodrigues Cabrilho Escola EB 1, Pasteleira Rua Diogo Brandão Teatro Nacional de São João R. do Infante Dom Henrique Inauguração NA CIDADE 21 NOV (DOM) 20 NOV (SÁB) Maus Hábitos 23h00 Tam (Dj) 02h00 Thomas Meinecke (Dj) EM SERRALVES EM SERRALVES 22h00 Abertura da exposição “I want to live with no fear”, acção contínua de Shilpa Gupta “Deus Pobre”, de Carlos Motta Leitura do texto “Mensagem sobre pedagogia e a libertação do espírito”, pelo artista 23h00 “As Fúrias”, acção de João Sousa Cardoso com o Rancho Douro Litoral Passos Manuel “… MARCHAR, MARCHAR!” 23h00 Rui Maia (X-Wife) (Dj) 02h00 Move D (Dj) Plano B “YES WE CANCAN!” 00h30 Move D & Thomas Meinecke apresentam “Work” (live) 01h30 Maxime Iko e Aurélie (Collectif Cancan) (Dj) 10h30 “Deus Pobre”, de Carlos Motta Leitura de textos do Padre António Vieira pelo Padre José Martins Júnior (da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, Madeira) 11h30 Visita Oficial de Sua Excelência, o Presidente da República 12h00 “As Fúrias”, acção de João Sousa Cardoso com o Rancho Douro Litoral 16h00 “Solidariamente Convosco”, performance de Nicoline van Harskamp, em inglês Projectos na Cidade “Isto, o povo não esquece”, de Rigo 23 , Escola EB1 da Pasteleira e Rua do Infante Dom Henrique (Ribeira) “Exclusão não é solução”, de Sam Durant, Livraria Utopia “Uma obra sem qualidades”, de António de Sousa, mupi na Avenida da Boavista (em frente ao edifício da SIC) “Capitalism Kills Love”, de Claire Fontaine, na Avenida Marechal Gomes da Costa (muro da Fundação de Serralves) “Operário, Camponesa, Bertolt Brecht, Augusto Boal”, de Nikolay Oleynikov, na Rua Diogo Brandão (perto da Rua Miguel Bombarda) PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 5 Actividades Nov 2010 - Mar 2011 23 NOV (TER) 20h00 Apresentação “48 horas de vida comunitária”, Chto Delat? Auditório de Serralves 25 NOV (QUI) 21h30 Estreia do documentário “Nine Days in Wahat al-Salam”, de Ahlam Shibli Auditório de Serralves 27 NOV (SÁB) 10h30 “Deus Pobre”, de Carlos Motta Leitura de textos do Padre António Vieira pelo Padre João Lucas, no Mosteiro de Singeverga 16h00 “Política em exposição”, mesa-redonda com Chrissie Iles e Catherine David Auditório de Serralves 02 DEZ (QUI) 16h30, 17h30, 18h30 “Como deveremos ser chamados”, vídeo de Mariana Silva, 35’’ Teatro Nacional de São João 17h00, 18h00, 19h00 “Notações para a descida do pano de cena”, Performance de Mariana Silva. Teatro Nacional de São João (Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação prévia junto do TNSJ) 04 DEZ (SÁB) 14h00-19h00 “World of Interiors”, Performance de Ana Borralho e João Galante Museu de Serralves 05 DEZ (DOM) 09h30 “Deus Pobre”, de Carlos Motta Leitura de textos de Leonardo Boff pelo Padre José Alberto de Oliveira, na Capela Sagrado Coração de Jesus, 14h00-19h00 “World of Interiors”, Ana Borralho e João Galante Museu de Serralves 09 DEZ (QUI) 18h00 Visita à exposição por Óscar Faria e João Fernandes Museu de Serralves 12 DEZ (DOM) 16h00 “Deus Pobre”, de Carlos Motta Leitura de textos de Camilo Torres pelo Padre Agostinho Jardim Moreira, na Igreja da Vitória 19 DEZ (DOM) 16h00 “Deus Pobre”, de Carlos Motta Leitura de textos de Gustavo Gutierrez e de excertos do livro “Sinfonia das palavras (íntimas) ”, da autoria de Almiro Mendes pelo Padre Almiro Mendes, na Igreja de Ramalde 09 JAN (DOM) 14h00 “Deus Pobre”, de Carlos Motta Leitura de textos de Bartolomé de Las Casas pelo Padre Manuel Correia Fernandes Lago Romântico, Parque de Serralves 15 JAN (SÁB) 17h30 “Deus Pobre”, de Carlos Motta Leitura de textos de Óscar Romero pelo Padre António Bacelar, na Igreja das Antas 25-30 JAN (TER -DOM) 29 e 30 JAN (SÁB e DOM) “Arte e activismo”, seminário com Gregg Bordowitz (horário a anunciar) Biblioteca de Serralves 08 e 09 FEV (TER e QUA) 18h30 “Como deveremos ser chamados”, vídeo de Mariana Silva, 35’’ Teatro Nacional de São João (Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação prévia junto do TNSJ) 19h00 “Notações para a descida do pano de cena”, Performance de Mariana Silva Teatro Nacional de São João (Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação prévia junto do TNSJ) 10 FEV (QUI) Fundação de Serralves Rua de Dom João de Castro, 210 Igreja da Vitória Rua de S. Bento da Vitória Igreja das Antas Rua de Naulila, 312 Igreja de Ramalde Rua de Ramalde, 55 Livraria Utopia Rua da Regeneração, 22 Maus Hábitos Rua Passos Manuel, 178, 4º 12 e 13 FEV (SÁB e DOM) Mosteiro de Singeverga Roriz, Santo Tirso “Economia Libidinal”, seminário com Claire Fontaine (horário a anunciar) Biblioteca de Serralves 26 FEV (SÁB) 16h00 “Política em exposição”, Conversa com Hou Hanru Auditório de Serralves 21h00 Conferência com Susan Buck-Morss Auditório de Serralves 16h30, 17h30, 18h30 “SEM TÍTULO (arco)”, instalação de Mariana Silva Teatro Nacional de São João 12 e 13 MAR 2011 (SÁB e DOM) 11h00 “Notações para a descida do pano de cena”, Performance de Mariana Silva Teatro Nacional de São João (Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação prévia junto do TNSJ) 12h45 “Como deveremos ser chamados”, vídeo de Mariana Silva, 35’’ Teatro Nacional de São João 28 JAN (SEX) 21h00 “Política em exposição”, Conversa com Moacir dos Anjos Auditório de Serralves EB1 Pasteleira Rua de João Rodrigues Cabrilho 18h30 Visita à exposição por Óscar Faria e João Fernandes 15h00, 16h00, 17h00 “Como deveremos ser chamados”, vídeo de Mariana Silva, 35’’ Teatro Nacional de São João 17h30 “Notações para a descida do pano de cena”, Performance de Mariana Silva Teatro Nacional de São João (Sessões limitadas a 7 pessoas, marcação prévia junto do TNSJ) Capela Sagrado Coração de Jesus Rua António Nobre, 21, Leça da Palmeira Informação regularmente actualizada em www.serralves.pt Passos Manuel Rua Passos Manuel, 137 Plano B Rua Cândido dos Reis, 30 Teatro Nacional de S. João Praça da Batalha, 102 6 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 Às Artes, Cidadãos! C onfrontar no espaço público espectador e obra de arte é uma das ideias fortes da exposição Às Artes, Cidadãos!. Esta interpelação vai ocorrer em diversos locais do Porto com intervenções de natureza variada. Neste contexto surge o mural de Nikolay Oleynikov, artista russo que integra o colectivo Chto Delat?, que pode ser visto na Rua Diogo Brandão, zona ligada ao contexto artístico da cidade. O artista apresenta uma pintura mural com referências a uma escultura pública, em Moscovo, de propaganda ao regime soviético. Esta referência ao realismo socialista num espaço onde se comercializam objectos artísticos indica uma deslocação de sentidos, pondo em diálogo o negócio da arte e a arte como propaganda ideológica. Outro dos espaços intervencionados situa-se no centro histórico da cidade. O artista português Rigo 23 mostra uma tela de grandes dimensões – “Isto o Povo não Esquece” –, na Rua do Infante Dom Henrique, referente a um episódio protagonizado pela população de Ribeira Seca, na Madeira (ler página 14). O Museu de Serralves colabora também com duas outras entidades – o Teatro Nacional de São João e a livraria Utopia. No primeiro espaço, a artista Mariana Silva apresenta um trabalho que reflecte sobre a questão da revolta dos espectadores em peças de teatro. Haverá uma visita guiada ao teatro com um actor que irá nomear diversos episódios históricos em que o público se rebelou contra o que se estava a passar em palco. Na boca de cena decorrerá outra acção, bem como uma projecção vídeo e a oferta de desdobráveis. Na Utopia, livraria de teor libertário, o artista norte-americano Sam Durant apresenta uma das suas caixas de luz, especialmente concebida para este contexto, e que se enquadra na série “electric signs” – em que o artista isola slogans manuscritos hasteados em manifestações. Para esta iniciativa foi escolhida a a frase “Exclusão não é solução” reivindicada por um grupo de manifestantes imigrantes em Lisboa. No muro que separa a Avenida Marechal Gomes da Costa do espaço de Ser- ralves, Claire Fontaine propõe um néon de grandes dimensões onde se lê “Capitalism Kills Love”. Nesta zona da cidade, caracterizada por contrastes sociais, a frase sublinha a alienação provocada pelo sistema de produção capitalista. É também numa forte crítica ao capitalismo que surge o trabalho de Carlos Motta, artista colombiano que trabalha em Nova Iorque. Em “Deus Pobre”, vários padres portugueses irão ler textos, na Fundação seu e em espaços da cidade, de activistas da Teologia da Libertação, nomeadamente dos padres Leonard Boff, Gustavo Gutiérrez, Camilo Torres Restrepo e Oscar Romero. Textos do padre António Vieira (1608–1697) e do espanhol Bartolomé de las Casas (1474– 1566) serão também apresentados, pois podem ser vistos como referência no contexto desta corrente de inspiração marxista desenvolvida principalmente em países da América Latina a partir dos anos de 1960. O australiano Tom Nicholson apresenta um projecto que revisita um momento histórico. No passado dia 15 de Novembro, dois aviões sobrevoaram o Porto divulgando mensagens extraídas de panfletos da II Guerra Mundial (panfletos que foram distribuídos na baixa da cidade), iguais aos que o exército australiano lançou sobre Timor-Leste durante a ocupação japonesa, com o título “Os vossos amigos não vos esquecem”. Este era um agradecimento por muitos terem lutado ao lado do exército australiano aquando da invasão da Ilha. Por outro lado, a disponibilidade que o exército australiano revelou durante a II Guerra não se repetiu em 1975, quando Timor-Leste foi invadido pela Indonésia. O artista também apresenta no Museu de Serralves o projecto “After actions for another library”, em que os visitantes são convidados a doar livros para uma biblioteca em Timor-Leste (ler página 15). Às Artes, Cidadãos! propõe também a visita a uma barbearia, cujo proprietário é paquistanês, localizada na Rua Cimo de Vila, estabelecimento a partir do qual o artista António de Sousa desenvolveu o seu projecto para a exposição. Tom Nicholson, Vista da acção na baixa da cidade do Porto, 15 de Novembro de 2010. Fotografia: Anabela Trindade PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 7 DO MUSEU PARA O ESPAÇO PÚBLICO 8 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 Às Artes, Cidadãos! Rosella Biscotti (Molfetta, Itália, 1978) trabalha a memória a partir de processos de reconstrução do passado, tendo como ponto de partida acontecimentos de carácter político e social. A memória colectiva surge assim como lugar fértil para a criação de múltiplas narrativas, nomeadamente aquelas que se prendem com um passado recente que, por razões várias, foi parcialmente apagado da história oficial. Um dos projectos agora apresentados resulta da colaboração com Kevin Van Braak, e consiste numa construção no interior da qual se encontram livros do período soviético. O Bureau d’études parte da ideia de um comunismo da natureza, em que homens, animais, plantas, partilham recursos – o mesmo ar, o mesmo sol, a mesma água -, para abordarem uma questão de grande actualidade: o desaparecimento das abelhas e os problemas relacionados com a polinização. Com o objectivo de contribuírem para uma possível solução, e em diálogo com especialistas, o colectivo criou uma nova colmeia, que resulta de dois modelos – o tradicional cortiço e a Warré (projectada pelo abade com o mesmo nome). Esta é a face visível de uma proposta que envolve diferentes departamentos, nomeadamente o educativo, tendo como desejo que escolas, associações e particulares adoptem a nova colmeia. Dois mapas e um vídeo completam a sua participação na exposição. Stefan Brüggemann (Cidade do México, 1975) propõe um trabalho em que “as palavras se transformam em pinturas” e as “pinturas em palavras”. Neste sentido, questiona a ideia de transferência ou espelhamento de informação. A linguagem torna-se uma maneira de lembrar, de reflectir, de refractar eventos e situações. Uma das obras apresentadas baseia-se numa série de trabalhos de Dan Flavin dedicados ao construtivista russo Vladimir Tatlin, e aqui evocados através de um gesto que devolve aos objectos utilizados – lâmpadas fluorescentes – a sua funcionalidade. Um dos projectos apresentados pela colombiana Carolina Caycedo (Londres, UK, 1978) constitui um comentário acerca da geopolítica da imigração e do potencial do trabalho colectivo, tendo sido realizado em colaboração com um grupo de imigrantes residentes no Porto, todos eles trabalhadores na área cultural. A obra desta artista suscita a discussão em torno do conceito de fronteira, em dimensões distintas: entre produtores e consumidores, profissionais e amadores, privilegiados e carenciados, entre arte e sociedade. Caycedo interage com os seus interlocutores segundo o desejo de participação de cada um, de modo a eliminar - ou a melhor compreender - essas mesmas fronteiras. Os seus projectos incluem também acções de rua, mercados itinerantes e marchas públicas, encetando sempre diálogos com comunidades específicas. O colectivo russo Chto Delat?, fundado em 2003 em São Petersburgo, é uma plataforma crítica que integra artistas, filósofos e escritores, propondo a sua actividade uma espécie de fusão entre arte, activismo e teoria política. Chto Delat? – pergunta que, em russo, significa “Que Fazer?”, pode relacionar-se não só com a questão central no pensamento de Lenine, mas também com o título de um livro do revolucionário russo Nikolai Chernyshevsky, publicado em 1902. É na tradição do construtivismo, nascido no fervor revolucionário, que se enquadra a prática dos Chto Delat? No Museu, construíram um espaço com murais e projecções, onde é exibida a trilogia “Songspiel”, composta por trabalhos que colocam em evidência questões de ordem política pós-perestroika. “The Porto Atlas”, de Sam Durant (Seattle, EUA, 1961), consiste numa instalação composta por sete globos terrestres, com informação política e económica que remete para diversos períodos da história, do século XV à actualidade. A peça, concebida especificamente para a exposição, evoca Portugal como um dos lugares de origem da expansão colonial. Esta é uma história cartográfica do capitalismo e da globalização, com referências a uma sucessão de aventuras imperiais (que culminam com a dissolução do império britânico), até ao momento presente - enunciado sob o ponto de vista do domínio das instituições financeiras globais, ultrapassadas as fronteiras políticas e nacionais. O trabalho de Gardar Eide Einarsson (Noruega, 1976) vai buscar ao imaginário estético marginal – das subculturas ao mundo do crime – o seu enquadramento conceptual. Mais do que celebrar a atitude de combate à autoridade, de rebelião, o artista fala da frieza de sentimentos e da rejeição implícita no acto transgressor, desenvolvendo uma investigação sobre diferentes formas de subversão política. O seu trabalho combina pintura, objectos, vídeo, texto, fotografia música punk e grafitti. “Infinite crises”, título de uma banda desenhada, faz eco ao actual ‘estado das coisas’ numa apropriação que recontextualiza o sentido da frase. O artista e escritor norueguês Matias Faldbakken (Hobro, Dinamarca, 1973) desafia convenções sociais, numa prática artística em que os media, a cultura popular e todos os produtos associados a sistemas de ordem e de poder, não só constituem ponto de partida conceptual mas também ferramenta de trabalho. As suas instalações integram texto - a linguagem constitui componente central na sua obra –, pinturas, desenhos, e graffitis, dando origem a intervenções de grandes dimensões, num gesto de recusa sistemática que reproduz formas de vandalismo e caos, reivindicando uma atitude de radical niilismo. Fundado em 2004, o colectivo Claire Fontaine foi buscar o nome à famosa marca francesa de artigos escolares. A sua prática questiona a impotência política num mundo de subjectividades estandardizadas, assumindo diferentes formas: vídeo, néon, escrita, pintura. Claire Fontaine preconiza a possibilidade de interrupção do fluxo de actividade e consumo, através de uma “greve humana” – título de uma instalação realizada com cerca de 100.000 fósforos. Claire Fontaine afirma que esta greve designa “o mais genérico movimento de revolta contra qualquer condição opressiva”. E acrescenta: “A greve humana ataca as situações económicas, afectivas, sexuais e emocionais de que os indivíduos se encontram prisioneiros. (…). Não é um movimento social, embora encontre na revolta e na agitação um terreno fértil para se desenvolver e crescer”. A economia política é a disciplina inerente à obra de Zachary Formwalt (Albany, EUA, 1979), que procura as origens da fotografia para reflectir sobre as relações entre o capitalismo e a produção de ima- Chto Delat? , Clube activista, 2009. Fotografia: cortesia dos artistas gens. A crise económica, seja a hiperinflação da república de Weimar, em 1923, seja o pânico actual, constituem momentos explorados no seu trabalho. A investigação em arquivos permite-lhe trazer à superfície textos e imagens esquecidos, revelando novos aspectos de uma determinada realidade. Exemplo desta prática é a pesquisa realizada no Instituto Internacional de História Social de Amesterdão, nos arquivos de Marx e Engels, da qual resulta a publicação “Reading the Economist”. No âmbito do projecto “Spiral Lands”, Andrea Geyer (Freiburg, Alemanha, 1971) tem vindo a recolher material visual, oral e escrito, com o intuito de mapear a construção de identidades nacionais. Este trabalho começou com a investigação das vivências de imigrantes em Nova Iorque, tendo continuado com a problemática da cidadania nos EUA, em 2003, aquando da invasão do Iraque. A artista assume-se uma contadora de histórias, e centra-se agora em questões de identidade em relação à “terra”, bem como aos direitos que culturalmente sobre ela detemos. Elementos ficcionais, referências teóricas e entrevistas são articulados de forma fluida e em movimento constante, usando como exemplo o Sudeste americano, num trabalho que recorre à fotografia e ao texto. A indiana Shilpa Gupta (Mumbai, India, 1976) trabalha em diferentes meios – vídeo, som, escultura, fotografia, performance –, através dos quais evoca acontecimentos históricos relacionados com o seu país – o discurso que marca a independência da Índia, proferido por Jawahrlal Nehru em 1947, o conflito com o Paquistão devido à disputa da região de Caxemira, ou os confrontos entre hindus e muçulmanos em Gujarat, em 2002. Questões relacionadas com o conceito de fronteira, segurança, medo, religião, preconceito, atravessam a obra desta artista, de forma a activar uma consciência crítica. Sharon Hayes (Baltimore, EUA, 1970) desenvolve uma investigação que cruza história, política e discurso. O seu trabalho centra-se em estratégias PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 9 PERCURSO NA EXPOSIÇÃO que interrogam o presente contexto político, como momento sempre alegórico. A artista cria situações que expõem conflitos entre actividades colectivas e acções pessoais, encenando protestos, proferindo discursos e organizando manifestações, em que multidões e indivíduos são convidados a repensar os seus papéis na construção da opinião pública. A abordagem conceptual e metodológica da artista convoca diversos campos disciplinares: teatro, cinema, antropologia, linguística, jornalismo, numa prática que recorre ao vídeo, à performance e à instalação, de que é exemplo “In the Near Future”, onde apresenta a documentação fotográfica das suas acções. Gert Jan Kocken (Ravenstein, Países Baixos, 1971) reinterpreta momentos da História, associando fotografia e material documental. Numa série de trabalhos visíveis na exposição, o artista regressa a um dos momentos mais dramáticos da segunda guerra mundial: o lançamento de bombas atómicas sobre as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima. Jan Kochen apropria-se de imagens autografadas pelos pilotos dos bombardeiros e aproxima-as quer do certificado da morte de Enola Gay Tibbets (mãe de um dos aviadores), quer da Virgem de Nagasaki. Deste modo interroga passado e presente, história pessoal e colectiva, remetendo também para a fúria provocada pelo poder de imagens que instigaram gestos iconoclastas. Asier Mendizabal (Ordizia, País Basco, 1973) toma como ponto de partida universos que vão do punk ao marxismo, das vanguardas históricas à cultura popular. O trabalho do artista traduz os significantes e significados que um signo pode adquirir nas circunstâncias históricas em que é produzido, e naquelas em que posteriormente é lido. As suas exposições são “mais um dispositivo do que uma instalação”. Há assim uma construção no tempo, uma revisitação de lugares e acontecimentos, de formas estéticas carregadas de ideologias que se vão transformando num processo de esvaziamento dos sentidos originais. O conceito de democracia está subjacente aos dois trabalhos de Carlos Motta (Bogotá, Colômbia, 1978), que têm em comum o facto de resgatarem textos históricos, inserindo-se num projecto mais vasto em torno da relação da democracia com a religião, a sexualidade e a memória histórica. Na acção “Deus Pobre”, uma colaboração com um grupo de padres portugueses, serão lidos textos relacionados com a Teologia da Libertação, movimento que teve o seu epicentro na América Latina. Textos de Bartolomé da Las Casas, de António Vieira, entre outros autores seminais para o tema em discussão, serão também escutados durante estas leituras. Carlos Motta aborda o cruzamento da acção espiritual com a prática política, interrogando de que forma estas podem ser prolongadas na esfera artística. Já a vídeo-instalação “Six acts: an experiment in narrative justice”, mostra uma série de eventos performativos realizados em praças públicas de Bogotá, que colocam actores a ler discursos de paz de vários candidatos presidenciais colombianos, todos eles assassinados em campanha. Desde os tempos da Universidade, onde foi activista, que Tom Nicholson (Melbourne, Austrália, 1973) se comprometeu com a causa da independência de Timor-Leste. No Porto, o artista realizou uma acção que procurou lembrar um episódio ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando tropas australianas lançaram sobre o território de Timor Leste o panfleto intitulado “Os vossos amigos não vos esquecem”. Para além da distribuição deste panfleto na cidade do Porto, a instalação patente no Museu revisita este momento dramático na luta do povo Timorense pela sua independência. O trabalho de Ahmet Öğüt (Diyarbakir, Turquia, 1981) pode ser definido através da tensão entre o medo e o humor, numa ambiguidade de desarmante potência irónica que remete para a noção de espaço colectivo. Assumindo diferentes configurações – do vídeo, à instalação, da escultura à pintura – a sua obra recorre à provocação, para comentar os efeitos e as contradições da politização da vida, num quotidiano marcado por convulsões sociais e ameaças terroristas. Em “The Swinging Doors” (2009), o artista instala no espaço expositivo uma série de escudos anti-motim, utilizados pela polícia em manifestações e confrontos violentos, visando intimidar aqueles que protestam. Nikolay Oleynikov (Rússia, 1976) interessa-se pela relação entre arte, história e política, e pelas suas intersecções com processos e práticas educativas. Os dois murais que realizou podem ser vistos em Serralves, com o colectivo Chto Delat?, e na fachada de um prédio na Rua Diogo Brandão, no Porto. A inspiração para as figuras deste último surgiu de “Operário e Camponesa”, um conhecido monumento soviético realizado para o pavilhão da Exposição Internacional de Paris, em 1937, e alvo de controvérsia pelo facto de se situar frente ao pavilhão do Terceiro Reich. No Porto, a escultura foi reencenada com um grupo de estudantes de teatro e dança, e o rosto das duas figuras substituído pelo de Bertold Brecht e Augusto Boal, ambos criadores revolucionários, agora apresentados por Oleynikov como feministas radicais. Rigo 23 (Ilha da Madeira, 1966) evoca uma situação vivida aquando da visita do Papa Bento XVI a Portugal. Em celebração deste acontecimento, a imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima visitou todas as paróquias da ilha da Madeira, excepto a da Ribeira Seca, em Machico, onde ficou no cimo de uma colina, de costas voltadas para a fachada da igreja e para os fiéis. A situação, provocada pelo facto de as autoridades repudiarem as ideias do Padre Martins, acarinhado pela população local, levou a um abaixo-assinado que, em 24 horas, recolheu 800 assinaturas. “Isto, o Povo Não Esquece” resume a revolta dos habitantes, agora inscrita numa tela de grandes dimensões na Baixa do Porto. No Museu, o espectador é confrontado com uma escultura que cancela a expectativa de ser vista de frente, e com assinaturas bordadas pelas mulheres de Ribeira Seca. André Romão (Lisboa, 1984) tem-se dedicado a repensar os conceitos de Estado, de democracia, de retórica e de monumento. O seu trabalho – seja através de esculturas, instalações, vídeos, textos e performances – conjuga referências da Antiguidade Clássica (em particular o legado grego de organização da sociedade) e eventos políticos contemporâneos, como sejam a constituição de sindicatos, a organização de manifestações, os tumultos gerados por motins. O projecto para esta exposição consiste numa barricada improvisada, símbolo de protestos e de convulsões sociais, à qual se associa um texto que evoca o Massacre de Tlatelolco, ocorrido dias antes dos Jogos Olímpicos de 1968 na Cidade do México. Pedro G. Romero (Aracena, Huelva, Espanha, 1964) dá continuidade ao projecto que tem vindo a desenvolver na última década: “Arquivo F.X.”. Trata-se de uma reflexão que toma como ponto de partida imagens da destruição de igrejas e de objectos religiosos, de meados do século XIX até ao fim da II Guerra Mundial, com particular ênfase no período da guerra civil de Espanha. Na capela da Casa de Serralves, o artista reúne um conjunto de fichas e peças que se relacionam, propondo uma cartografia do arquivo a partir de três conceitos: “fetiche”, “barroco” e “chirigota” (termos de origem portuguesa), num trabalho onde é possível observar distintas formas de iconoclastia e de revolta ao longo do século XX. O trabalho de Ahlam Shibli (Palestina, 1970) remete para contextos relacionados com posições de poder, habitualmente definidas pelas dicotomias ocupante/ocupado, colonizador/colonizado, autóctone/imigrante. Seja para falar das condições de vida na Palestina, das crianças acolhidas em orfanatos na Polónia, ou do massacre perpetrado pelo exército alemão em 1944 na cidade francesa de Tulle, na série intitulada “Trauma”, as suas fotografias documentam situações que nos dão o retrato de uma sociedade dividida não só por classes, mas também por exclusões e ideologias dominantes. O filme agora apresentado intitulado “Nine Days in the Oasis of Peace”, coloca em situação de diálogo um grupo de israelitas e palestinianos. A referência ao teatro e aos seus protocolos tem sido uma constante no trabalho de Mariana Silva (Lisboa, 1983), como forma de questionar o papel do espectador e o seu grau de intervenção na recepção da arte. Nesta exposição, além de imagens de arquitecturas de teatros, a artista introduz uma peça sonora que remete para o momento de entrada e saída do público, numa sala de espectáculos. Já no Teatro de S. João, no Porto, a sua proposta conduz o espectador não só através de espaços habitualmente inacessíveis (salas de ensaio, camarins, etc), mas também de leituras que evocam momentos em que o público se revoltou contra o que estava a ser apresentado em palco. António de Sousa (Matosinhos, 1966) apresenta em Serralves um trabalho que aborda o tema da imigração, reflectindo sobre a identidade de uma comunidade afastada do seu contexto de origem. Uma barbearia no centro do Porto, na rua Cimo de Vila, dirigida por um paquistanês, inspirou uma investigação em torno das vivências desta comunidade residente no centro da cidade, num imaginário resgatado ao universo do próprio imigrante. Aos domingos de manhã, o barbeiro Nasir Ahmamad estará no Museu de Serralves para oferecer os seus serviços de corte de cabelo. É num palco/mesa que a acontece a proposta de João Sousa Cardoso (Vila Nova de Famalicão, Portugal, 1977), resultado de uma colaboração com o Rancho Douro Litoral. Neste espaço, para além das actuações quinzenais do Rancho, revisitam-se acontecimentos relacionados com a memória por- tuguesa do século XX. Utilizado quer pelo Estado Novo, quer pelos partidos no período pós-revolução, o rancho folclórico transporta consigo uma série de associações que, no território do museu, podem desencadear reacções de recusa ou de adesão, dependendo do campo em que nos colocamos. O interesse pelo universo das imagens em movimento, a miscigenação e reconfiguração das culturas populares, a dimensão sociológica do trabalho de campo e o cruzamento de disciplinas e práticas caracterizam a obra do artista. Nicoline van Harskamp (1975, Hazerswoude, Países Baixos) apresenta a peça “Solidariamente Convosco», realizada a partir dos arquivos do anarquista holandês Karl Max Kreuger. Um ficcional congresso anarquista é o mote para uma reflexão sobre o mundo pós queda do comunismo. Como devem os anarquistas devem assumir os seus ideais? O fortalecimento ou o abandono das suas características colectivistas, os desafios da liderança num movimento anti-hierárquico, ou o modo como se julga a integridade de um indivíduo neste contexto são algumas das questões que a obra coloca, recorrendo para isso à apresentação de documentação sobre o processo de trabalho, e propondo também um momento performativo. Na série “The differences between the parts are the subject of the composition», título baseado numa frase de Sol LeWitt, de 1966, Vangelis Vlahos (Atenas, Grécia, 1971) reúne diferentes maquetas e fotografias que dão conta de episódios relacionados com a história urbana, social e política da Grécia desde a época da junta militar (1967-1974). Em “Aircrafts on Ground”, uma série de imagens de arquivo, recolhidas em jornais gregos, o artista evoca situações em que aviões foram impedidos de levantar voo – relacionadas sobretudo com incidentes que ocorreram na Grécia nas últimas décadas, desde ataques terroristas, sequestros, visitas oficiais e acidentes. Danh Vo (1975, Ba Ria, Vietname) reflecte sobre o colonialismo e a religião enquanto instrumento de expansão territorial. Um dos trabalhos da exposição é uma cópia de uma carta escrita em 1861 pelo missionário católico francês São Teófano Venard a anunciar a proximidade da sua morte – dirigindo-se ao próprio pai –, que aconteceria dias depois, por decapitação, na então Indochina (território ocupado pelos franceses). Se, por um lado, se constata a leveza do texto face à situação descrita, por outro é possível apreciar o saber envolvido na reescrita caligráfica desta carta: o manuscrito, feito pelo pai de Danh Vo, sublinha o modo como a História e a biografia pessoal se cruzam na prática deste artista. Que imagem do passado construímos para nós próprios? É na confluência entre o oriente e o ocidente, entre passado e presente, que nasce o trabalho de Simon Wachsmuth (Hamburgo, Alemanha, 1964). Num desenvolvimento da instalação apresentada na última Documenta de Kassel, o artista prossegue a interrogação de imagens do passado, questionando o modo como a historiografia se constrói. Composto por filmes, objectos, recortes de jornal, fotografias e evocações do Atlas Mnemosine (Aby Warburg), este trabalho vê-se agora acrescido de documentação que remete para um arquivo sobre o Irão, justapondo a antiguidade persa e greco-romana. 10 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 Às Artes, Cidadãos! CONFERÊNCIAS / SEMINÁRIOS / ENCONTROS A ctivismo, cidadania, revolução, utopia, democracia, comunidade, são alguns dos conceitos subjacentes a este programa, estruturado de modo a incluir diferentes formatos – conferências, seminários, conversas – na perspectiva de constituir uma plataforma de pensamento e de acção que cruza fronteiras disciplinares, geográficas e teóricas, sublinhando a relevância do político nas práticas artísticas na actualidade. Viver politicamente ou Sobre as relações entre teoria e prática O colectivo russo Chto delat?, fundado em 2003 em São Petersburgo, é uma plataforma crítica que integra artistas, filósofos e escritores, propondo a sua actividade a fusão entre arte, activismo e teoria política. Que lutas partilhamos? Como combinar teoria e arte com uma vida política militante? Usando o modelo de “peça didáctica” de Bertolt Brecht, a discussão em torno destas questões reunirá um grupo de trabalhadores culturais de diversos campos do conhecimento, e desenvolver-se-á ao longo de dois dias de seminário, terminando com uma apresentação pública no dia 23 Novembro às 20 horas. 48 Horas de vida comunitária “Educar, entreter, inspirar” Bertolt Brecht (…) No contexto das esferas cultural e política, há um vastíssimo número de eventos que ocorre com o propósito de abordar ideias em torno do colectivismo e do sujeito politizado. Lêem-se comunicações, realizam-se seminários e instalam-se exposições, mas nada é deveras posto em causa na maioria destes eventos; não existe qualquer sentimento de luta partilhada, nem se estabelece qualquer sentido de solidariedade. É nosso dever alterar este estado de coisas. O formato performativo que escolhemos para a nossa experiência deverá servir para contrariar a crescente profissionalização, normalização e academicização do conhecimento político e respectiva separação relativamente àquilo que se passa no exterior da esfera institucional. Nestes seminários, tentamos estabelecer uma intensidade de relações entre os participantes ao longo da sua exaustiva duração, através de debates performativos, do sono num espaço partilhado, de exercícios aeróbicos matinais, do cozinhar e comer em conjunto, do contacto-improvisação enquanto experiência colectiva de dança, da constante discussão livre de horário, e de projecções e performances nocturnas. Viver politicamente centrar-se-á no problema de como combinar teoria e arte com uma vida política militante. (…) Política em Exposição Os debates «Política em exposição» pretendem ser um espaço de apresentação e revisão crítica de um conjunto de exposições de referência que cruzaram a arte e a política. Para a sessão de 27 de Novembro foram convidadas Chrissie Iles e Catherine David. A primeira é curadora no Whitney Museum of Art, de Nova Iorque e foi comissária, em 2004 e 2006, da Bienal de Whitney. O seu trabalho destaca-se pela atenção que dá à relação entre questões políticas e prática artística. Uma das mostras que comissariou, intitulada Into the Light: The Projected Image in American Art 1964 – 1977 ganhou o prémio de melhor exposição de Nova Iorque de 2002, atribuído pela Associação Internacional de Críticos de Arte. Iles publicou já numerosos textos sobre o trabalho de artistas como Gary Hill, Paul McCarthy, Ana Mendieta, Douglas Gordon, Dan Graham, Sol LeWitt, Dan Flavin, Marina Abramovic, entre outros. É professora na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Claire Fontaine, instalação de Greve Humana (Interrompida), 2009, parede de gesso, c. de 90.000 fósforos, produto anti-inflamável, dimensões variáveis, cortesia do artista e Reena Spaulings Fine Art, New York PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 11 ARTE, POLÍTICA, GLOBALIZAÇÃO Chrissie Iles estará em diálogo com a francesa Catherine David, que foi curadora da Documenta de Kassel, em 1997, e directora do Centro de Arte Contemporânea de Roterdão Witte de With, entre 2002 e 2004. Desde 1998 que organiza «Tamáss – Representações Árabes Contemporâneas» um projecto que se desenvolve em diversas cidades e que junta exposições, seminários e publicações. O projecto promove o contacto entre o mundo árabe e o ocidente, problemática que tem estado presente no seu trabalho. Destaque-se o projecto “Di/ Visions: Culture and Politics of the Middle East”, onde desafiou artistas e intelectuais a reverem a “ideologia da divisão”, promovendo formas alternativas de olhar para a situação do Médio Oriente. Este ciclo de conferências vai prosseguir no início de 2011 com Moacir dos Anjos, curador da mais recente edição da Bienal de São Paulo, e Hou Hanru, curador da Bienal de Lyon em 2009. Uma semana de bondade - Arte, política e imoralismo estético Como devemos entender a relação entre o valor estético de uma obra de arte e o seu valor moral? Este seminário, orientado por Roberto Merrill – investigador em Filosofia Política do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho (e autor de um dos textos do catálogo da exposição) –, começa por formular o mapeamento teórico das relações entre o valor moral e o valor estético de uma obra de arte. A partir deste enquadramento, examinam-se as consequências políticas do imoralismo estético, posição segundo a qual em alguns casos o valor imoral das obras de arte pode ser condição necessária (embora não suficiente) do seu valor estético. Algumas dessas consequências políticas serão examinadas à luz de teorias sobre a emancipação individual e colectiva, a internacional situacionista, e o libertarismo de esquerda. (entre Janeiro e Março) Arte e Activismo Gregg Bordowitz é escritor, videoartista, realizador de cinema e activista. O seu trabalho, que pode ser relacionado com as primeiras manifestações do grupo ACT-UP em Nova Iorque, é um testemunho pessoal que combate a estigmatização dos porta- dores do vírus da sida. Escreveu vários ensaios – reunidos na publicação “The Aids Crisis is Ridiculous and Other Writings, 1986-2003” – e realizou uma série de irreverentes documentários, nomeadamente o aclamado “Fast Trip, Long Drop”, de 1993. Em Serralves, Bordowitz apresentará os seus filmes, ao que se seguirá uma conversa em que se relacionam morte e vida social, e em que se explora o papel das sexualidades alternativas enquanto potenciais formas de protesto contra a ordem estabelecida. (29 e 30 de Janeiro) Economia Libidinal O seminário proposto por Claire Fontaine toma como ponto de partida o conceito de greve humana: uma greve mais inclusiva e mais radical do que a greve geral. Aqui, a greve é entendida como uma forma de colocar a identidade própria à distância através de uma interrupção. Esta interrupção pode intervir no seio de uma greve política ou de um movimento social. A greve humana assinala que todas as relações produtivas em que nos envolvemos se prolongam e radicam na nossa vida afectiva e identidade. Uma vez que a linha entre vida e trabalho se torna cada vez mais indefinida, a greve humana é a forma contemporânea de luta destinada a romper com uma dinâmica política opressiva, com vista a transformar as relações sociais e a instaurar novos fluxos afectivos e materiais. Através da leitura de textos de autores como Benjamin, Foucault, Lyotard, Melville e excertos de arquivos feministas italianos, a artista explorará e articulará esta ideia (12 e 13 de Fevereiro). Susan Buck-Morss Conferência A norte-americana Susan Buck-Morss é professora na área de ciência política no Graduate Center da City University of New York. Especializou-se na obra dos autores da Escola de Frankfurt, nomeadamente na de Walter Benjamin. No seu livro mais recente Hegel, Haiti, and Universal History (2009), reinterpreta a dialéctica de Hegel, “senhor-escravo”, a partir de uma análise da revolução haitiana. Os seus livros The Origin of Negative Dialectics: Theodor W. Adorno, Walter Benjamin, and the Frankfurt Institute (1977) e The Dialectics of Seeing: Walter Benjamin and the Arcades Project (1989) são uma referência incontornável no campo da teoria da cultura. Outro importante livro é Thinking Past Terror: Islamism and Critical Theory on the Left (2003), que questiona o discurso dos intelectuais pós-11 de Setembro. As intercecções arte e pensamento, política e contemporaneidade serão a base para a conferência em Serralves. Arquivo e Iconoclastia Entre arquivo, iconoclastia e movimentos sociais, este seminário em díptico aborda as temáticas referidas a partir da obra de dois artistas: Pedro G. Romero e João Sousa Cardoso. O primeiro centrar-se-á na relevância de que se reveste a iconoclastia para uma série de práticas artísticas, sociais e políticas, como elemento constitutivo das formas de expressão de uma comunidade. O segundo revisitará momentos e imagens associados à memória colectiva portuguesa no século XX. (Março) Un Certain Avenir Um dos objectivos subjacentes ao projecto apresentado pelo Bureau d’etudes em Serralves é o de sensibilizar para o fenómeno do desaparecimento das abelhas. Esta problemática tem um carácter global, não só pelo impacto a nível ambiental e humano, mas também económico. A importância das abelhas enquanto agentes polinizadores, a sua organização social, o modo como comunicam entre si e com os homens, bem como o paralelo entre ambas as sociedades, irão constituir o ponto de partida para uma leitura que cruza equilíbrios globais, inteligência colectiva, ética e estética, numa sessão de formação com os artistas e os seus convidados. O apelo deste colectivo vai exactamente no sentido de propor ao público a adopção de uma colmeia, valorizando a dimensão pedagógica deste processo que se inicia com a exposição mas que continua para além dela. Visitas à Exposição Mapeamento das problemáticas subjacentes à exposição Às Artes, Cidadãos!, sob orientação de Óscar Faria e João Fernandes, na perspectiva de reflectir sobre um conjunto Apelo: A favor de uma coligação ilimitada entre as espécies Um projecto do Bureau d’études, grupo de artistas O povo das abelhas está a faltar-nos. Em todo o mundo, o povo das abelhas está a morrer em massa; e o seu desaparecimento faz hoje parte dos numerosos alertas que, a cada dia, alimentam os meios de comunicação. A morte desta fauna teria graves consequências para a biosfera e, em particular, para a vida dos homens já que um terço da nossa alimentação e três quartos das espécies cultivadas dependem da polinização pelos insectos. Queremos dar uma resposta a este alerta porque o enxame de abelhas é o protótipo de qualquer civilização, não só da humana mas também daquela construída ENTRE as espécies. Queremos desenvolver a cooperação entre as espécies e encorajar um espaço social que se não restrinja aos humanos, Por isso é que o convidamos a acolher em sua casa uma colmeia e a adoptar um enxame de abelhas. Como fazer? Se for candidato, contacto a Fundação de Serralves. Se fizer parte dos 30 primeiros candidatos à adopção, a Fundação de Serralves oferece-me uma colmeia desenhada pelo grupo de artistas Bureau d’études, que me comprometo a instalar no jardim, na varanda ou no telhado... cujo ambiente terei previamente enriquecido com plantas melíferas. Comprometo-me a instalar um enxame de abelhas na minha colmeia. Frequento a formação profissional que a Fundação de Serralves me propõe e oferece, para adquirir os conhecimentos específicos sobre os cuidados a prestar às abelhas (a alimentação, a reprodução das abelhas selvagens, as doenças...), sobre a recolha do mel, a manutenção da colmeia e a sensibilização para a preservação da biodiversidade. Assino, com a Fundação de Serralves e com o grupo de artistas Bureau d’études, um acordo tripartido que precisa os direitos e deveres de cada uma das partes. Comprometo-me a participar, em 2011, no seminário sobre a polinização, para aí encontrar outros adoptantes e formar uma rede de partilha de conhecimento sobre a adopção de uma colmeia e uma outra rede dedicada à polinização em espaços urbanos e peri-urbanos, opondo à legislação actualmente em vigor um direito ambiental a constituir. Comprometo-me a praticar uma apicultura biológica definida, por protocolo, aquando da formação. Contacto: Carla Almeida, Telefone : 22 615 65 87 e-mail: [email protected] de obras produzidas por artistas que entendem a arte como uma possível plataforma para a construção de uma consciência política. (9 Dezembro e 10 de Fevereiro) 12 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 Às Artes, Cidadãos! MÚSICA / PERFORMANCE / TEATRO / CINEMA / VÍDEO Inauguração na cidade D epois da inauguração de Às Artes Cidadãos! no Museu de Serralves, com as acções “As Fúrias”, de João Sousa Cardoso, e a intervenção da artista indiana Shilpa Gupta, a programação continua em três espaços de referência da noite portuense: Maus Hábitos, Passos Manuel e Plano B. Destaque-se, neste último, o live act de apresentação do álbum “Work”, dos alemães Thomas Meinecke e Move D (David Moufang). Este trabalho, inicialmente criado para rádio e editado posteriormente em CD (pela Intermedium Records), foi considerado álbum do mês pela revista “De:Bug”, dedicada à música electrónica, em Novembro do ano passado. Aqui, os autores abordam uma cultura, ou subcultura, em que a palavra work tem uma conotação sexual de potencial político. Além de músico e autor de obras radiofónicas, Meinecke é escritor e jornalista. É membro do grupo F.S.K desde a sua fundação (em 1980) e actua como DJ na estação Bayern2. Colabora com Move D desde 1998 na criação de obras radiofónicas. De referir “Freud’s Baby”, “Flugbegleiter”, ou “übersetzungen/translations” (distinguida em 2007 com o Prémio Karl Sczuka para arte radiofónica). Move D é músico, produtor e Dj. Desde o início dos anos 1990 tem proporcionado quer em nome próprio quer nos projectos Deep Space Network (com Jonas Grossman), Reagenz (com Jonah Sharp) ou nas colaborações com Pete Namlook algumas das mais aventurosas incursões pelo techno espacial com ecos de Detroit, pelas experimentações com jazz “World of Interiors”, Ana Borralho e João Galante D esafiados a apresentar o seu trabalho “World of Interiors” em Às Artes, Cidadãos!, os portugueses Ana Borralho e João Galante seleccionaram uma série de textos do dramaturgo hispano-argentino Rodrigo García para montar uma performance onde a política ocupa o lugar central. “World of Interiors” surgiu a partir da leitura destes textos do Rodrigo García, ou foram buscar estes textos por- electrónico ou pelo onírismo deep house. A apresentação de “Work” integra-se na festa “Yes We Cancan!”, que contará com a presença dos Djs Maxime Iko e Aurélie. Os dois pertencem ao colectivo francês Collectif Cancan, responsável pelas festas gay “Cockorico” – onde revêem de forma simultaneamente lúdica e crítica os estereótipos associados à cultura gay – e pelas noites “Cancan” onde, ao som de house e tech house, ensaiam a revisitação do espírito parisiense no final do séc. XIX quando, em Montmartre, o Cancan era a dança de encerramento do espectáculo do Moulin Rouge, após a qual se encontravam na pista de dança pessoas dos mais diferentes quadrantes sociais: artistas, aristocratas, prostitutas, os patrões e a classe baixa, todos juntos com um propósito: a festa. No Passos Manuel, Rui Maia vai abrir a noite “… Marchar, Marchar!” com sonoridades pós-punk, disco, house e electro. De referir que este DJ é também músico (da banda electro-rock X-Wife) e uma importante referência na produção nacional. A ele segue-se Move D que assim terá a oportunidade de provar ser um dos mais hábeis e versáteis Djs europeus. Nos Maus Hábitos, a noite inicia-se com as escolhas do portuense Tam, alter-ego de João Santos, produtor/DJ, que irá apresentar um set de cariz político, não esquecendo, contudo, a componente dançante. Aqui, a noite continuará com Thomas Meinecke, que paralelamante à sua carreira literária se tem dedicado a animar vários bares e clubes alemães enquanto Dj. Todas estas iniciativas têm entrada gratuita. que eram os que melhor se enquadravam no que queriam tratar? Fomos buscar os textos do Rodrigo porque era neles que revíamos o que queríamos que fosse dito, e não só dito, mas sussurrado em tom de confissão, em tom de profecia. Tinha que ser alguém com uma visão política e muito lúcida do estado das coisas, que gritasse alto e em bom som os tempos que correm, e o Rodrigo di-lo sem rodeios e sem medo de incomodar. Os textos deste dramaturgo têm uma dinâmica/violência muito próprias. Isto parece contradizer a postura dos performers, que é bastante contida. Como foi trabalhada essa ligação? Thomas Meinecke & Move D WORK J á nos anos 1920 se podia notar nos Estados Unidos uma contaminação etimológica entre as esferas trabalho e amor, nomeadamente quando as chamadas working girls (jovens mulheres que trabalhavam, a maioria em escritórios, usavam saias curtas, cabelo ainda mais curto e fumavam em público) impulsionaram aquele primeiro movimento de mulheres mais alargado e impossível de ignorar que, com uma soberania até aí desconhecida, dispunham da sua sexualidade (e não apenas do ponto de vista sociológico), enquanto simultaneamente, num tom de linguagem vulgar, o termo working girl podia muitas vezes significar também prostituta. No jive subcultural, a sílaba work afirmava-se mais e mais Interessa-nos sempre a ideia do paradoxo, de dualidade, da contradição. Neste projecto a imagem apocalíptica – com tudo o que ela comporta –, de mortos que sussurram é, também, um jardim suspenso de pessoas que dormem, uma imagem de contemplação e meditação abalada por textos que nos segredam inevitabilidades com violência e ironia. Os nossos trabalhos têm sempre essa dualidade: por um lado são sedutores e cativantes, por outro, incomodam. Não nos interessa fazer espectáculos só agradáveis, mas em ter várias camadas de entendimento e profundidade e, se possível, contraditórias. A peça convida ao relaxamento, convida o espectador a deitar-se junto de outros corpos deitados, criando-se uma situação de intimidade. Mas depois, ao como um vocábulo para designar actividades auto-determinadas, não raras vezes sexualmente dissidentes, até finalmente se ter imposto como um termo central na subcultura predominantemente homossexual, sobretudo latino-americana (idealizada por Judith Butler e Madonna), dos salões de baile em moda do Harlem espanhol. You Better Work, rezava o refrão do super-êxito “Supermodel”, da drag queen Ru Paul, e a intenção não era exactamente apelar à ética de trabalho da sociedade branca anglo-saxónica protestante (WASP) dos Estados Unidos (o vídeo-clip correspondente foi filmado em Nova Iorque, no Meatpacking District, uma zona de má reputação devido às suas prostitutas decadentes). Até hoje, a Underground House Music de Nova Iorque, o Booty Bass de Chicago ou o Ghetto-Tech de Detroit utilizam o vocábulo no contexto de metáforas sexuais quase indisfarçadas (work my body over), mas que aqui, muitas vezes codificadas de modo bipolar, não estão ao serviço do habitual sexismo (comum no negócio), antes desenvolvem (no triângulo difamatório raça, classe e género) um potencial crítico. David Moufang e Thomas Meinecke re-trabalharam o repertório desta música empolgante, e a partir de inúmeros samples, a par com testemunhos de pessoas directamente envolvidas (dance veterans, drag queens, DJs), mas também a partir das suas próprias vozes e instrumentos, criaram um mix hipnótico. Outros espaços, outras vozes. escutar os textos, o espectador faz uma descida aos infernos, já que estes são como um murro no estômago; deixam-nos a pensar no que andamos na realidade aqui a fazer. O público, quando é provocado e incomodado, pensa mais no que lhe estão a propor. Quando a coisa é apenas agradável, vai para casa contente mas não pensa mais no assunto. Tentamos sempre criar um dispositivo para que no meio dessa sedução o público possa agir. Aqui, é o espectador que tem de ir à procura das palavras, à procura da acção. Pode isso ser uma metáfora sobre a forma de participação política nas sociedades actuais? PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 13 ARTE, POLÍTICA, GLOBALIZAÇÃO Antes de mais, não acreditamos que a forma de participação política das sociedades actuais seja activa. Somos permanentemente manipulados. O modelo político capitalista fracassou e continuamos a ser governados sob as ordens dos mesmos do costume. E o que fazemos? Nada... Os textos do Rodrigo tanto apontam o dedo ao estado, como ao indivíduo. O Estado somos todos, somos nós que permitimos que uns quantos, lá do seu pedestal, nos digam como se vai fazer as coisas. Deixamos as coisas chegar a situações, às vezes, completamente incontornáveis, a ponto de, aparentemente, não existir saída alguma. Como o Rodrigo diz num dos seus textos “Domina-se a natureza chama-se Parque. Domina-se o Homem chama-se Estado”. Não devemos continuar a aceitar este domínio... e os nossos espectáculos tentam precisamente que o público sinta que é ele que tem que traçar o seu caminho. De certo modo, em todas as nossas performances há uma preocupação de colocar o espectador a decidir e a assumir as suas decisões, a ser responsável pelas suas decisões, a decidir o seu papel no interior da trama. Pode ficar só de fora a ver ou pode participar tomando a decisão de se envolver e confrontar directamente com a proposta, tornando-se deste modo, muita vezes, ele próprio, em performer. Confrontar o espectador é, então, uma forma de “intervenção” com traços políticos? Completamente. O público, ao ser confrontado pensa/age. Ou pelo menos assim queremos que aconteça. Ao confrontar o público, ele é imediatamente colocado no Aqui e Agora. Num determinado espaço, com determinadas pessoas, num determinado momento e com a responsabilidade de tomar decisões dentro desse contexto. Assim, a ideia anarquista sobre a responsabilidade do indivíduo é chamada a debate. Programação Janeiro-Março 2011 P artindo das linhas de orientação de Às Artes, Cidadãos!, desenvolveu-se uma programação vasta que engloba performance, teatro, música, cinema e vídeo e onde temas como os direitos humanos, direitos civis e a liberdade de pensamento são preponderantes. As acções iniciam-se no dia 20 de Novembro e prosseguem até 13 de Março, acompanhando a exposição. Entre as participações confirmadas estão Olive Martin e Patrick Bernier, artistas que aliam o seu trabalho artístico ao compromisso político e que intervêm com “Plaidoirie pour une jurisprudence”, projecto onde se reivindica o direito de habitar um território no contexto da imigração, através da criação real da defesa em tribunal de um processo de deportação, implicando os juristas especialistas Sylvia PreussLaussinotte e Sébastien Canevet e o público assistente. O convite destes artistas será também uma oportunidade para conhecer a sua filmografia realizada em consequência da militância pelos direitos dos imigrantes. político, traduzindo-as numa linguagem expressiva, irónica e mordaz. A partir do livro Noise & Capitalism, o músico basco Mattin, defensor do software livre e questionador da noção de propriedade intelectual, convida vários artistas a integrarem um programa de performances onde se interroga o potencial da improvisação e do “ruído” enquanto agentes destabilizadores da sociedade capitalista. A dupla portuguesa Calhau!, com um trabalho pautado pela experimentação e cruzamento de música, performance e cinema, irá apresentar um projecto pensado especificamente para o contexto da exposição, no âmbito deste programa que, futuramente, será apresentado na sua globalidade. Esta problemática vai ser igualmente aprofundada pelos Ultra-Red na forma de seminários e trabalho de campo. Membros deste colectivo artístico activista irão apresentar projectos realizados com algumas comunidades e estratégias radicais de pedagogia, particularmente no que diz respeito às possibilidades oferecidas pela acção sonora, quer na tomada de consciência quer na intervenção social e política, ligadas às questões da mobilidade humana e do racismo. A encenadora Lina Saneh apresenta com o artista e cúmplice Rabih Mroué “Appendice”, peça que aborda a problemática do direito ao uso e destino do corpo individual na cultura islâmica. As preocupações sociais e políticas destes artistas libaneses, como a vida artística no Líbano contemporâneo depois da guerra civil e a dificuldade da construção de uma identidade árabe numa democracia débil, manifestam-se também na sequência dos seus filmes e vídeos exibidos neste programa. © Ana Borralho & João Galante. Fotografia: Vasco Célio O Auditório vai ainda receber Los Torreznos, dupla espanhola que pesquisa experiências enraizadas no nosso quotidiano para fazer explorações conceptuais nos terrenos social e Stills do video “Old house”, Rabih Mroué, 2006 14 | PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 Às Artes, Cidadãos! “Isto, o povo não esquece”, Rigo 23 Q uando, em Maio de 2010, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima passou ao lado da igreja da Ribeira Seca (Machico, Região Autónoma da Madeira) e de costas voltadas para ela, reacenderam-se na paróquia crispações antigas com o poder instituído. Com um historial de resistência ao fascismo, a Ribeira Seca é já há muito tempo uma referência para Rigo 23 (Ricardo Gouveia), artista plástico nascido na Ilha da Madeira, em 1966, que vive em São Francisco desde meados dos anos de 1980, e que desenvolve um trabalho artístico, principalmente em espaços públicos, de grande projecção. Ao ser convidado a participar em Às Artes, Cidadãos!, o madeirense de 44 anos recordou uma antiga promessa feita ao padre de Ribeira Seca – Martins Júnior – quando, em 1985, um grupo de polícias tentou entrar na igreja local para expulsar o padre que há 32 anos está suspenso pela hierarquia católica – embora continue, à revelia da instituição e com o apoio da população, a celebrar a missa e a ministrar sacramentos. Rigo 23 lembra como era Ribeira Seca no início dos anos de 1980: “Muitos músicos de intervenção portugueses iam à Madeira tocar no Teatro Municipal do Funchal. O bilhete custava 200 escudos. No dia seguinte, tocavam gratuitamente na Ribeira Seca, o que demonstrava que se identificavam com o que lá se passava”. O ambiente nesses concertos ”era festivo” e havia uma espécie de “relação utópica com o campo, muito típica do início dos anos de 1980”. A população era “muito aguerrida e destoava do resto na Ilha, era quase como a aldeia do Ásterix”. Martins Júnior é, de resto, um político ligado à extrema-esquerda (foi eleito, em 1989, presidente da Câmara de Machico pela UDP - União Democrática Popular, cargo que exerceu até 1997). Ribeira Seca continua a ter um “carácter especial” e Rigo 23 desejava fazer um trabalho sobre o cerco à Igreja que aconteceu em 1985. Mesmo não tendo vivido aquele acontecimento, admite que há uma imagem “mítica” que não lhe sai da cabeça: “as bordadeiras de mãos dadas a fazerem um cordão para protegerem o templo da polícia”. A ideia de trabalhar sobre esses acontecimentos acabou por dar lugar a outra, pois 25 anos mais tarde, as crispações entre a paróquia e a hierarquia da Igreja Católica madeirense voltaram a manifestar-se, três meses depois do momento “traumatizante” que foram as cheias de Fevereiro. houve um que me tocou especialmente, a mim e aos jovens com quem estava a trabalhar. Nele havia uma forma oval cor-de-rosa encimada pela frase: «Há aqui dentro um tesouro guardado». Pa- “Geralmente, quando há um desastre natural as pessoas ficam mais unidas pois passam a ser sobreviventes da mesma coisa”. Decidiu então abordar esse acontecimento. “Os habitantes de Ribeira Seca ficaram indignados quando, a propósito da vinda do papa Bento XVI a Portugal, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima passou por todas as igrejas madeirenses menos pela sua. Além de não ir ao adro e passar longe, passou de costas voltadas para a população”. “Isto, o povo não esquece”, escreveu no «Diário de Notícias» madeirense uma habitante indignada. O artista considera que este foi “um pequeno momento, mas revelador”, tanto mais por ter acontecido no ano do centenário da implantação da República. “Um dos aspectos problemáticos da monarquia era a não renovação dos líderes políticos. Acontece que na Madeira temos o mesmo líder há 32 anos”. 1. Essa frase de revolta poderá ser vista numa tela gigante no centro histórico do Porto. No Museu de Serralves, poderá ver-se uma instalação com uma reinterpretação da estátua peregrina de Nossa Senhora de Fátima e a imagem da igreja madeirense. A par deste trabalho sobre a Ribeira Seca, Rigo 23 realizou um projecto de intervenção urbana com jovens do Porto, uma colaboração entre a Agência de Desenvolvimento Integrado de Lordelo do Ouro (ADILO) e o Serviço Educativo de Serralves. Na escola EB1 da Pasteleira, pintaram uma série de murais cujo mote foi o desenho de uma das crianças da própria escola. “As crianças fizeram vários desenhos e 2. receu-me uma metáfora fantástica para uma escola básica”. À volta desse primeiro painel nasceu o resto, incluindo um retrato do planeta Terra que situa o Bairro da Pasteleira no mundo. PORTO, 21 NOVEMBRO 2010 A 13 MARÇO 2011 | 15 ANTES DA INAUGURAÇÃO “Experiências de imigração”, Carolina Caycedo A bordar o tema das migrações contemporâneas tendo como ponto de partida uma reflexão colectiva sobre vários textos foi o que se propôs fazer Carolina Caycedo com o seu workshop/sitespecific “Diáspora”3. Nascida em Londres em 1978, de pais colombianos, e residente em Porto Rico, a artista trabalhou durante cinco dias, no Porto, com imigrantes que exercem profissões na área cultural. “Tinha de trabalhar com pessoas que tivessem algo em comum comigo”, explica, até porque “os textos a abordar nas sessões requeriam um certo grau de conhecimentos”. Com um arquitecto (italiano), dois artistas (um brasileiro e uma argentina), uma historiadora de arte (espanhola) e um coreógrafo (japonês), a artista partilhou e debateu os ensaios que, na sua opinião, melhor reflectem sobre como se tem “reconfigurado a ideia de cidadania e de identidade através da imigração contemporânea”. O escritor Hakim Bey, a jornalista portuguesa a viver em Madrid Rita Gomes Faria, o sociólogo e antropólogo italiano Sandro Mezzadra foram os autores estudados. De grande importância foi também o texto colectivo “Carta dos Imigrantes”, onde se fala dos seus direitos e deveres, e cuja mais recente versão foi redigida em Quito, Equador, como marco do IV Fórum Social Mundial das Migrações, que se realizou este ano. Esta experiência terminou com o visionamento do filme “Blackboards” (Takhté siah, 2000), da iraniana Samira Makhmalbaf, que aborda a situação fronteiriça entre Irão e o Iraque através das histórias de um grupo de professores curdos que se move entre as duas fronteiras. O colectivo começou por pensar em si próprio, um grupo de “imigrantes com um melhor estatuto do que os ilegais, os refugiados, ou dos que emigraram por não terem outra opção”. Na verdade, considera Caycedo, “somos um grupo intermédio – estamos entre os que não têm nenhum status e os cidadãos reais de um país”. A artista quis tomar como ponto de partida as suas vivências, pois muitas vezes “é difícil articular a própria experiência”. É, assim, necessário “partilhar e confrontar os outros com ela para que comece a fazer sentido”. Enquanto imigrantes, diz, “estamos numa posição confortável, sentimos que não nos podemos queixar”. No entanto, “ao conversarmos com pessoas que estão na mesma posição, conseguimos articular os problemas e sentimo-nos aliviados da sensação de culpa, das frustrações”. Outra das ideias que se tornou clara foi a da existência de obstáculos. “Apesar de alguns dos participantes já viveram cá há vários anos e serem cidadãos europeus, ocasionalmente depararam-se com situações que funcionam como uma espécie de “parede” que interrompe o fluxo normal da vida, o que não aconteceria se vivessem no seu próprio país”, considera. O grupo abordou também o “sentido de perda” e, simultaneamente, “o sentido de pertença”. Caycedo acredita que os emigrantes podem estar encurralados entre duas culturas, mas “têm o direito de esquecer” a cultura que deixaram. Considera ainda que “uma das características que une os emigrantes, sejam legais ou ilegais, é a coragem. Existe uma valentia implícita no acto de emigrar”. O trabalho de reflexão colectiva traduziu-se na criação de frases – conclusões, perguntas, reivindicações, intervenções, “espelhos das experiências dos participantes” – que estão expostas nas escadas que conduzem ao piso inferior do Museu de Serralves. “Pensei desde o início utilizar as escadas pois são a metáfora perfeita para a ideia de movimento, de transição. As escadas são elementos arquitectónicos desenhados como espaço de trânsito, por isso é importante que as frases estejam aí inscritas, para se reforçar a ideia do movimento geográfico”, conclui. 1. Escola Básica do 1º ciclo com Jardim de Infância da Pasteleira, workshop com Rigo 23, de 30 de Outubro a 4 de Novembro, com um grupo de jovens entre os 16 e os 21 anos, numa colaboração com a Agência para o Desenvolvimento Integrado de Lordelo do Ouro: com Tatiana Miller, Jonas Oliveira, Nuno Canossa, Renato Carvalho, Emanuel Cardoso, Claudia Gomes, Tiago Gomes, Diogo Silva. Apoio técnico de Patrícia Costa, Pedro Santos, Elisabete Lopes (Adilo) e Liliana Abreu (Escola da Pasteleira). 2. Carolina Caycedo, Os imigrantes influenciam as culturas dos países de acolhimento, 2004, Marcha pública e cartaz em vinil, 600 x 100 cm (cartaz / banner), Cortesia da artista, Fotografia: Pablo Bernabé. 3. Carolina Caycedo (Colômbia) em co-autoria com Gisela Diaz (Espanha), Hajime Fujita (Japão), Lorenzo Martinelli (Itália), Cláudia Mel (Argentina), Igor Vasconcelos (Brasil). “Acção para outra biblioteca”, Tom Nicholson A instalação de Tom Nicholson After action for another library convida-o a dar o seu contributo ao projecto agora em curso de reunir livros para a Biblioteca da Universidade Nacional de Timor-Leste (Universidade Nacional de Timor-Lorosae). Na exposição será convidado a levar um exemplar de After action for another library, um resíduo do projecto em forma de livro de artista. Em troca, poderá deixar um livro que queira doar à biblioteca, em Díli. Gostaríamos de sugerir que traga consigo para o Museu um livro para doar, que pode ser novo ou em segunda-mão e deve corresponder às seguintes directivas, fornecidas por leitores da Universidade de Díli: 1. Livros sobre a história e a política de Timor-Leste; 2. Livros sobre países da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] de natureza política, histórica ou antropológica; 3. Livros de língua portuguesa, em especial gramáticas e dicionários; 4. Livros antigos e recentes sobre teoria e prática políticas, em especial incidindo sobre socialismo, educação popular, história política em situações análogas, por exemplo na América Latina, ou temas da actualidade, como ecologia, globalização, tecnologias energéticas e economias alternativas. 5. Livros sobre o estudo da paz, em especial os que usem conflitos actuais ou recentes como exemplo, como os do Afeganistão, Iraque, Palestina/Israel e reformas das Nações Unidas nesta área. 6. Livros sobre estudos de desenvolvimento alternativo provenientes de outras regiões do mundo, como Kerala, na Índia, Cuba, ou Venezuela. Embora os estudos académicos nestas áreas sejam os mais directamente úteis para a Biblioteca da Universidade, os visitantes da exposição são também convidados a responder a estas directivas doando obras de ficção, ou outro material que considerem importante ou relevante. Se os visitantes tiverem os meios necessários, ou ligações relevantes a bibliotecas e livrarias, doações de mais de um livro serão também muito apreciadas. Ficha técnica Visitas guiadas Como chegar a Serralves Exposição Às Exposições Sábados/Saturdays: 17h00-18h00 Domingos/Sundays: 12h00-13h00 Autocarro STCP: 201, 203, 207, 502, 504 e Circuito Turístico Aos espaços Arquitectónicos Domingos/Sundays: 15h00-16h00 Metro Saída estação Casa da Música, com ligação dos autocarros 201, 203, 502 e 504 na Rotunda da Boavista. Comissariado Óscar Faria João Fernandes Coordenação Isabel Sousa Braga Paula Fernandes Programação de Conferências e Seminários Óscar Faria João Fernandes Sofia Victorino Produção Diana Cruz Manuela Ferreira Programação de Artes Performativas Cristina Grande Pedro Rocha Produção Ana Conde Gisela Díaz Horários Museu/Casa Ter a Sex: 10h00-17h00 Sáb, Dom e Feriados: 10h00-19h00 Comboio Os comboios Urbanos ligam o Porto às cidades de Aveiro, Ovar, Espinho, Ermesinde, Valongo, Paredes, Famalicão, Braga, Santo Tirso e Guimarães. Parque Ter a Dom: 10h00-19h00 Para mais informações: 808 208 208 ou www.cp.pt Loja Todos os dias: 10h00-19h00 À chegada dirija-se à estação de Metro de Campanhã utilizando as linhas A, B, C, ou E até à estação de Metro da Casa da Música. Livraria Todos os dias: 10h00-19h00 Restaurante Serviço de Cafetaria Seg a Sex: 12h00-19h00 Sáb e Dom: 10h00-19h00 Serviço de Restaurante Ter a Sab: 20h00-24h00 Reservas: 226 170 355 Jornal da Exposição Descontos CP mediante a apresentação do bilhete de Serralves: 25% Desconto nos serviços Alfa Pendular e Intercidades na Classe Conforto/ 1ª Classe na aquisição de bilhetes de ida e volta com destino às estações de Porto Campanhã ou Vila Nova de Gaia. 20% Desconto na Classe Turística/ 2ª Classe na aquisição de bilhetes de ida e volta com destino às estações de Porto Campanhã ou Vila Nova de Gaia. Consulte todas as condições em www.serralves.pt Coordenação e edição Sofia Victorino Ricardo Nicolau Apoio Institucional Concepção gráfica da capa: Nuno Bastos Textos Óscar Faria João Fernandes Luísa Marinho Sofia Victorino Apoios Apoio à Divulgação Apoio nas Estadias Seguradora Parceria Apoio - Exposição Integrada nas Comemorações do Centenário da República Mecenas Exclusivo do Museu e da Exposição