Publicação Oficial Publicação Oficial da Confederação Nacional de Saúde Ano V • nº 12 • Outubro / Novembro / Dezembro 2010 Hospitais preparados para o desastre – como operar? Com o aumento de incidências naturais em todo o mundo, o Setor Saúde volta a preocupar-se como oferecer atendimento em situações de emergência. No Brasil, destaca-se a mobilização de profissionais e entidades na ajuda humanitária CNS e entidades definem propostas para a Saúde CNS entrega documento com 11 propostas para política de Saúde à candidatos à presidência Potencial da Saúde Suplementar está atrelado à regulação Em entrevista, o superintendente executivo do IESS, José Cechin, diz que é preciso modificar alguns aspectos da regulação do setor privado, sob o risco de engessar o segmento Editorial Preparando-se para superar novos desafios CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, HOSPITAIS, ESTABELECIMENTOS E SERVIÇOS. DIRETORIA TRIÊNIO 2010/2012 PRESIDENTE Dr. José Carlos de Souza Abrahão VICE-PRESIDENTES Farm. Tércio Egon Paulo Kasten Dr. Salomão Rodrigues Filho Dr. Eunivaldo Diniz Gonçalves Dr. Cláudio José Allgayer Dr. Dante Ancona Montagnana Dr. Renato Merolli Dr. Humberto Gomes de Melo DIRETORIA Dr. Yussif Ali Mere Júnior Dr. Elson de Souza Miranda Dr. Armando Carvalho Amaral Dr. Paulo Rassi Dr. Antônio Dib Tajra Dr. Pedro Bandarra Westphalen Dr. Mardônio de Andrade Quintas Dr. Breno Monteiro Dr. Antônio Eduardo Cunha Dr. Marcelo Moncorvo Brito DIRETORES SUPLENTES Dr. Radif Domingos Dr. José Carlos Barbério Drª. Miriam Unbehaun Silva Dr. Castinaldo Bastos Santos Dr. Raimundo Carlos de Souza Correia Dr. Benno Kreisel CONSELHO FISCAL Irmã Sandra Judite Roaris Dr. Luis Rodrigo Schruber Milano Dr. Antônio Magno de Souza Borba CONSELHO FISCAL SUPLENTE Dr. Guilherme Xavier Jaccoud Dr. Álvaro Felipe Amandi Nogueira Dr. Armando Piletti ASSESSORIA TÉCNICA Dr. Olympio Távora ASSESSORIA JURÍDICA Dr. Alexandre Zanetti Set/Out/Nov/2010 ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO Lenir Camimura – MTB 3339JP/DF 2 Endereço SRTV/S - Quadra 701, Conj. E Ed. Palácio do Rádio I Bl. 3, N° 130 - 5° Andar. Asa Sul - Brasília - DF - CEP: 70340-901 www.cns.org.br/ [email protected] Projeto gráfico e diagramação Duo Design Comunicação CNS N esta edição, procuramos trazer os pontos que têm sido discutidos na Saúde Mundial em relação aos desastres naturais e à transmissão de doenças infectocontagiosas que acometeram à população nos últimos anos, levando nossos serviços de saúde a desenvolver novos investimentos e treinamentos para enfrentar estes desafios. Mais recentemente, o Brasil e o mundo assistiram a ocorrência de calamidades naturais, como enchentes e terremotos; e o surgimento de epidemias, como a Gripe H1N1, que assustaram e despertaram a comunidade mundial para a necessidade de se estar preparado para vencer o desafio de manter a assistência à Saúde, mesmo diante da crise. Com este cenário, destacamos, ainda, a importância da parceria público-privada no controle de epidemias e no atendimento da população em situações de catástrofes. O treinamento de pessoal para este tipo de atendimento e a preparação de estabelecimentos de saúde que correspondam às necessidades urgentes foram pontuadas como foco das ações preventivas e de resposta às calamidades. O voluntariado e a mobilização social também aparecem como fortes aliados neste enfrentamento. Aproveitamos para ressaltar que, durante à época das eleições, procuramos, junto às demais entidades de representação nacional do Setor Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Confederação das Santas Casas de Misericórdia (CMB), Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Federação Nacional de Saúde José Carlos Abrahão Presidente da CNS Suplementar (FenaSaúde), União das Instituições de Autogestão em Saúde (UNIDAS) e Unimed construir propostas de sugestões para os principais candidatos presidenciáveis, dando, assim, nossa contribuição para com a construção de políticas de saúde. Além disso, estimulamos nossas Federações a realizar reuniões com os candidatos a governador dos principais Estados, a fim de discutir propostas para um melhor modelo de atenção à saúde de suas populações. Temos certeza de que esta postura faz parte da missão de nossas entidades. Gostaríamos, ainda, de agradecer, antecipadamente, à colaboração de todas as entidades que participaram deste trabalho e aos candidatos que permitiram que nossas lideranças pudessem ouvir suas propostas para este setor, que é fundamental à sociedade brasileira. Desejamos a todos uma boa leitura. Política CNS e entidades definem propostas para a Saúde Em encontro com a candidata do PT à presidência, Dilma Roussef, CNS entrega documento com 11 propostas para política de Saúde Candidata do PT Dilma Roussef recebe propostas de representantes da CNS e de outras entidades de Saúde para entregar um exemplar do livro “Radiografia da Tributação do Setor Saúde”, que traz o resultado do levantamento encomendado pela Confederação, apontando os resultados da alta arrecadação proveniente do Setor, destacando, ainda, a importância da criação do Sistema S da Saúde, para a capacitação e qualificação dos profissionais da Saúde. Confira as propostas gerais apresentadas pelo Setor: 1. Formulação participativa da Política Nacional de Saúde – aproveitando a experiência acumulada pela área de saúde privada no Brasil no campo das pesquisas, no desenvolvimento de produtos, equipamentos e serviços, na própria prestação de assistência à população; 2. Coordenação de ações entre setores Público e Privado – reestruturação do Sistema Nacional de Saúde, promovendo uma sinergia entre os setores e atores do sistema, para que cada um se dedique ao que produz de melhor para a sociedade, é essencial. 3. Regime tributário próprio para o Setor de Saúde – criar um tributo específico para o setor, justificado pela sua essencialidade, em proveito da totalidade dos usuários (governos e particulares) 4. Expansão do mercado privado de assistência à Saúde – esse mercado já comprovou sua capacidade criadora, dinamismo, eficiência e eficácia. Incorporar outros segmen- Set/Out/Nov/2010 om a chegada do período eleitoral, a Confederação Nacional de Saúde (CNS) em parceria com outras entidades do setor, definiu as principais propostas para o Setor Saúde a serem observadas pelos candidatos à presidência. Assinado em conjunto com a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Confederação das Misericórdias do Brasil (CMB), Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e União das Instituições de Autogestão em Saúde (UNIDAS), o documento reúne 11 propostas entre as quais destacam-se a importância do fortalecimento das parcerias público-privadas, o desenvolvimento de um regime tributário próprio para o Setor Saúde e de linhas de financiamento e recursos para o SUS, estímulo à acreditação dos prestadores e a criação do Sistema S da Saúde. O material foi entregue à candidata do PT, Dilma Roussef, pessoalmente; e enviado ao candidato do PSDB, José Serra. O presidente da CNS, Dr. José Carlos Abrahão, explicou o interesse dos representantes em apresentar seus pleitos, a fim de colaborar com a construção das políticas de Saúde do programa de governo. Ele reforçou, também, a questão da carga tributária que o Setor Saúde enfrenta, lembrando que o próprio governo arca com impostos do Setor. Durante o encontro com a candidata Dilma, o presidente da CNS aproveitou a oportunidade lenir camimura C 3 Política 5. Criação do Sistema “S” de Saúde – a CNS e as Entidades subscritoras do documento vêm batalhando há muito pela criação do sistema próprio do Setor Saúde (tanto público, quanto privado), na conformidade do Projeto de Lei nº.131/2001, que hoje tramita no Senado Federal. Não se trata de qualquer corporativismo, mas, sim, em virtude da enorme expansão econômica e social que a área de Saúde ganhou, impedindo que ela continue atrelada a outro sistema absolutamente diverso em termos de benefícios e serviços. Set/Out/Nov/2010 6. Linhas de financiamento – o Setor Saúde, dada a grande evolução tecnológica da área, necessita realizar investimentos vultosos para manter-se atualizada no bom atendimento a sua clientela. Entretanto, encontra enorme dificuldade de financiamento, notadamente em relação aos bancos oficiais de crédito e de fomento. A relevância constitucional do setor não encontra contrapartida nesses organismos, tantas são as exigências e burocracias que envolvem a operação. 4 7. Recursos para o SUS – o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional nº 29, de 2000, estabelecendo limites mínimos das receitas da União, dos Estados/DF e dos Municípios a serem aplicados, exclusivamente, em ações e serviços de saúde. Entretanto, até agora essa emenda não foi regulamentada, o que coloca o Brasil em posição extremamente indesejada, como um dos países com menos investimentos per capita em Saúde, abaixo até mesmo de países da América Central e da América do Sul. em P&D e inversão dos termos atuais da balança comercial da área. 8. Política remuneratória dos serviços prestados – especialmente os maiores prestadores de serviços ao SUS, como as Santas Casas e os Hospitais Filantrópicos, embora usufruam isenção tributária, estão apresentando um elevado endividamento, pois, em média, para cada R$ 100,00 gastos com o atendimento ao SUS, recebem tão somente R$ 65,00. A situação de penúria desses prestadores, agravada a cada ano, não difere da apresentada pelos demais prestadores, cuja remuneração percebida do SUS é quase simbólica, muito abaixo dos custos envolvidos. Essa situação terá que ser mudada rapidamente, sob pena de um agravamento insustentável do quadro. 10. Estímulo à acreditação dos prestadores de serviços de Saúde, tanto públicos como privados – a par da luta pela suficiência de recursos para a área de saúde, advogamos a criação de uma política de estímulo à acreditação dos prestadores de serviços de saúde, públicos e privados. Além disso, estabelece uma saudável competição entre os prestadores na busca de uma receita mais equilibrada, capaz de fazer face à sua imperiosa necessidade de investir na modernização de seus serviços. 9. Fomento à indústria nacional da área de Saúde – apesar de ser um importante mercado consumidor, em 2007, o Brasil importou R$ 11,5 bilhões na área de Saúde e exportou apenas R$ 2,2 bilhões. A criação de estímulos creditícios e tributários a essa indústria resultaria em benefícios, como o incentivo à produção nacional de insumos de Saúde, o desenvolvimento do parque industrial brasileiro, com investimentos geradores de empregos, renda, impostos, investimentos 11. Governança Corporativa – as unidades prestadoras de serviços de saúde (públicas e privadas) são, em sua grande maioria, de elevada complexidade, exigindo, portanto, para o êxito de sua nobre missão, um modelo de gestão que assegure níveis elevados de eficiência, eficácia, transparência e redução de custos. É comum se dizer que a área de saúde carece, além da severa escassez de recursos financeiros, de modelos mais apropriados de gestão. A CNS e Entidades subscritoras, portanto, dentro de sua tradicional linha de conduta, preconizam, simultaneamente, a expansão dos recursos e a melhoria da gestão. Os governos, especialmente, podem fazer muito nessa área. lenir camimura tos da população nos planos e seguros privados de assistência à saúde cumpre dois objetivos que se complementam mutuamente: atende os justos anseios de uma volumosa massa de pessoas interessadas em ter um plano/seguro de saúde e, de outro lado, reduzem a demanda dos serviços do SUS. Representantes do Setor Saúde definem propostas para compor a política de Saúde do próximo governo José Cechin divulgação iess Entrevista | Superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), José Cechin, acredita que é preciso modificar alguns aspectos da regulação do setor privado, sob o risco de engessar o segmento O hospital é remunerado pela comercialização de dispositivos; as operadoras reconhecem isto. Por conta disto, os pagamentos aos profissionais estão contidos. Os dois lados reconhecem que há problema nesta forma de remuneração. À frente do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) desde sua criação, José Cechin, acredita que esta é a hora de debater mudanças na forma de remuneração entre operadoras de planos de saúde e prestadores, mas alerta que não há um modelo único para resolver a questão. +Saúde – Como o IESS vê a mudança no cenário econômico? José Cechin – Vemos com bastante otimismo e uma pequena pontinha de ceticismo e reserva. Hoje temos um cenário de promoção das classes sociais de baixo para cima. E isto é algo fantástico, já que reduz a desigualdade que há no país. Se você olhar para a classe E, que é a mais pobre, ela está se esvaziando. Ela foi promovida para a classe D e muitas pessoas da classe D subiram para a classe C. É isto que nós queremos. Queremos ir jogando essas pessoas para cima e ir diminuindo as distâncias, que é uma coisa positiva. +Saúde – Então, este cenário positivo não se refletiu com tanta intensidade no mercado suplementar? JC – A medida que as pessoas são promovidas de classe e ganham renda, elas passam a ter mais possibilidade de ter plano de saúde, o que é uma coisa boa. O que aconteceu no Brasil de 2003 a 2008? Neste período houve um crescimento da renda importante, acho que na faixa de 16% a 17%. Mas, houve expansão igual no número de planos? O número que temos, produzido pelo IBGE, é de que o crescimento foi 14%. Mas os planos não estão crescendo ao nível da renda. E por que não está? Fomos investigar esta pergunta e descobrimos que o preço dos planos subiu. Entre 2003 e 2008, o preço médio aumentou 23%. Ou seja, continua difícil pagar o plano porque ele cresceu mais do que a renda. Também questionamos por que o preço cresceu tanto. E aí entramos num terreno mais especulativo, mas que Set/Out/Nov/2010 Potencial da Saúde Suplementar está atrelado à regulação 5 Set/Out/Nov/2010 Entrevista | 6 José Cechin acho que é plausível. O preço cresceu por causa da rigidez regulatória. Não quero dizer, com isso, que a culpada é a ANS, muito menos que ela faz isso intencionalmente, mas, veja, quando ela joga um novo rol de procedimentos, por exemplo, isto gera custo. e este custo foi repassado em parte para o consumidor. E isto ajudou a colocar o preço pra cima. Além disso, por conta da tecnologia, do envelhecimento populacional, do rol e de outros fatores, os planos vão ficando mais caros e seu preço crescendo mais do que a renda e isto estrangula e elitiza o mercado. +Saúde – Então, é preciso mudar a regulação? JC – Bom, até aqui a regulação não poderia ser diferente. Mas entrando na seara da rigidez regulatória, hoje, na prateleira de produtos de planos à venda, há três tipos: ambulatorial, hospitalar e o ambulatorial-hospitalar, com duas opções: com ou sem obstetrícia; e com ou sem odontologia. E é isto. E esses produtos são caros. Então, estamos começando a construir uma agenda propositiva que sugere a adequação de novos produtos nesta prateleira. Nós propusemos um plano com franquia. Esse é um plano de saúde mais barato. Além disso, a ideia é que se o contratante não a gasta, ela é depositada em uma conta poupança, numa conta de previdência, que seja capitalizada ano após ano. Assim, quando chegar aos 60 anos de idade, ele terá um bom fundo de reserva, feito com estímulo fiscal e tributário. Seria um “saúde-previdência”. Isto é, um plano de previdência pra você pagar saúde, que significa pagar médico, pagar hospital ou pagar o plano de saúde. Outra sugestão: poderia ter um plano só de consultas e alguns exames complementares. Este seria um plano muito barato e que desafogaria o SUS de atendimentos simples, mas que não podem esperar três meses na fila para serem avaliados. Sei que isto é mais polêmico, mas, por que não discutir esta proposta? +Saúde – A atuação da ANS hoje tem contribuído para o diálogo entre operadoras e prestadores? JC – Sim. Desde que eu entrei para a Saúde, há quatro anos, eu vejo os dois lados dizendo: o hospital é remunerado pela comercialização de dispositivos; as operadoras reconhecem isto. Por conta disto, os pagamentos aos profissionais estão contidos. Os dois lados reconhecem que há problema nesta forma de remuneração. Quando você paga por quantidade de serviço, o prestador fica interessado em vender maior quantidade possível. Ou seja, não há incentivos alinhados para produzir eficiência nas formas de remuneração. Isto é voz corrente no setor. Mudar isto é complicado. O setor privado por si só, embora haja fóruns de discussão a este respeito, não consegue dar o primeiro passo. Por isso a ANS tomou a iniciativa, atuando como coordenadora destas conversas. Eu vejo como muito salutar esta ação e torço para que deste diálogo saiam caminhos para melhorar as formas de remuneração. Que pague o hospital pelos serviços que ele produz e não como um distribuidor de dispositivos médicos. +Saúde – O IESS contribui com este debate? JC – Estamos pensando em ajudar estudando as várias formas de remuneração, com a seguinte preocupação: não há um modelo único que se sobrepuja a todos os outros. Você vai ter de conviver com a mistura e diferentes formas de remuneração do tipo fee for service, que é o pagamento por unidade; o DRG, que são os pacotes, ponderados ou não por risco; o captation que é por per capita; e pagamento por desempenho, que é a nova moda. Então, o desafio que temos na cabeça é: por que não estudarmos cada uma destas formas sob o seguinte aspecto: onde ela foi aplicada? Em que país? Em que tipo de procedimento médico ela foi aplicada? Que problemas resolveu e que outros ela criou? No balanço, ela é positiva? Seria transplantável para o Brasil? Em que modalidade de atendi- mento? Então, estou pensando se não deveríamos ter um estudo das diferentes formas sob o aspecto prático, não acadêmicos. Experiências concretas. Acho que seria uma boa contribuição que o IESS daria ao debate. +Saúde – Como o sr. vê o futuro da Saúde Suplementar? JC – Acho que é um setor que tem um enorme potencial de crescimento. As despesas em Saúde estão em ascensão. E no Brasil vão crescer, de forma particularmente rápida, porque nós estamos mudando a estrutura populacional, com aumento muito grande de pessoas idosas, que são usuárias mais frequentes e mais intensivas de serviços médicos mais complexos. De um lado, há um dever constitucional do setor público de atender, mas eu pergunto: ele tem capacitade? Quando a gente olha, então, para a carga tributária, já na faixa dos 35% do PIB; para a estrutura de gastos que o governo, especialmente o federal, tem hoje, eu não consigo ver, nos próximos 20 anos, uma mudança da carga tributária, na estrutura de gastos, suficiente para acomodar um crescimento importante das despesas do setor público. Se ele [governo] não pode, sobrou para o setor privado ter de atender à demanda, agregando, assim, oportunidades de negócios. Há uma perspectiva de grande crescimento. E isto atrai capitais estrangeiros que, apesar de não poderem investir nos hospitais – mas gostariam -, se voltam para as operadoras. Há muito capital em busca de boas aplicações. Mas o setor crescerá a depender da regulação. Se conseguirmos concretizar essa agenda de mudanças na política regulatória, acho que teremos uma saúde suplementar crescente e pujante. Se, contudo, ficar onde está, sem ousar, daí temo que este potencial todo não se materialize na intensidade que poderia e o resultado será uma pressão gigantesca sobre o SUS e uma insatisfação crescente para o lado dos consumidores. Acho que o futuro depende deste jogo. Matéria Especial CNS comemora 15 anos wilson eneas Celebrando sua consolidação e representantividade, CNS diploma nova diretoria e faz homenagens Presidente e vices-presidentes da CNS são diplomados durante a cerimônia de posse jantar em comemoração aos 15 anos da Confederação Nacional de Saúde, celebrado em maio, em Brasília, reuniu diversas entidades representativas, lideranças do Setor Saúde, autoridades e parlamentares. Durante a cerimônia, também foi realizada a diplomação da nova diretoria, para a gestão 2010-2012; a condecoração do ministro do trabalho, Carlos Lupi, com o Colar Mérito da Saúde do Brasil; e o lançamento de dois livros: “Radiografia da Tributação do Setor Saúde” e “História dos 15 anos da CNS”. O presidente da CNS, Dr. José Carlos Abrahão, que foi reconduzido ao cargo, agradeceu a presença de todos os participantes e evidenciou as conquistas da CNS nos últimos 15 anos. Em seu discurso, ele ressaltou a consolidação da entidade como representante do Setor e a manutenção de sua missão de congregar e zelar pelos interesses da Saúde. “Nesses 15 anos, a CNS tem participado ativamente de discussões junto ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário, além de fazer parte de Comissões e Câmaras Técnicas, em Ministérios, Agências Reguladoras e Congressos de Saúde, garantindo a representação do Setor. A Confederação teve – e tem – um papel importante na aproximação dos players, expandindo o diálogo, propiciando uma relação mais transparente, que, hoje, permite um olhar mais voltado para a qualidade do serviço que prestamos à sociedade, bem como uma melhor visão dos pacientes para o sistema de saúde brasileiro”, disse. Ele ressaltou, ainda, a participação da CNS no board da Federação Internacional de Hospitais (IHF) e na Federação Lationamericana de Hospitais, confirmando o prestígio e reconhecimento internacionais da entidade e da Saúde brasileira. O presidente lembrou que a CNS, no ensejo de buscar um padrão de qualidade para nortear as ações da entidade, garantindo, ainda, a modernização de sua gestão, adaptou-se às normas internacionais de qualidade e conquistou a certificação ISO 9001 de qualidade, atestando a preocupação em oferecer aos filiados o melhor serviço. “Nossa intenção é buscar, de forma contínua, o aprimoramento e otimização de nossas ações. Nesse sentido, nosso próximo passo será implementar os princípios de Governança Corporativa, a fim de garantir uma gestão ainda mais transparente e eficaz”. Diplomação A nova diretoria e o conselho fiscal da CNS receberam das mãos do 1º secretário da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, Rafael Guerra; e do presidente da Frente Parlamentar de Saúde, Darcísio Perondi, os diplomas de posse nos respectivos cargos. Dr. José Carlos disse que o principal objetivo desta nova gestão está em fortalecer, cada vez mais, a representação e a união do Setor. “Mais do que nunca, precisamos ter paciência, persistência e perseverança no diálogo para continuarmos galgando conquistas na construção do Sistema de Saúde do Brasil. Queremos demonstrar que a Saúde deve acompanhar a evolução do mundo atual e, assim, proporcionar uma assistência de qualidade à nossa população”disse. Depois da diplomação, os fundadores da CNS, Dr. Cláudio Allgayer, Dr. Ubiratan Dellape e Dr. José Francisco Set/Out/Nov/2010 O 7 Matéria Especial Composição da nova diretoria para o triênio 2010/2012 DIRETORIA Presidente Dr. José Carlos de Souza Abrahão Vice- Presidente Dr. Tércio Egon Paulo Kasten Vice- Presidente Dr. Salomão Rodrigues Filho Vice- Presidente Dr. Eunivaldo Diniz Gonçalves Vice- Presidente Diretor Dr. Castinaldo Bastos Santos Diretor Dr. Raimundo Carlos de Souza Correia Diretor Dr. Benno Kreisel SUPLENTES Diretor Dr. Radif Domingos Diretor Dr. José Carlos Barbério Diretora Drª. Miriam Unbehaun Silva SUPLENTES Conselheiro Fiscal Dr. Guilherme Xavier Jaccoud Conselheiro Fiscal Dr. Álvaro Felipe Amandi Nogueira Conselheiro Fiscal Dr. Armando Piletti CONSELHO FISCAL Conselheiro Fiscal Irmã Sandra Judite Roaris Conselheiro Fiscal Dr. Luis Rodrigo Schruber Milano Conselheiro Fiscal Dr. Antônio Magno de Souza Borba wilson eneas Dr. Cláudio José Allgayer Vice- Presidente Dr. Dante Ancona Montagnana Vice- Presidente Dr. Renato Merolli Vice- Presidente Dr. Humberto Gomes de Melo Diretor Secretário Geral Dr. Yussif Ali Mere Júnior Diretor Secretário Geral Adjunto Dr. Elson de Souza Miranda Diretor Financeiro Dr. Armando Carvalho Amaral Diretor Financeiro Adjunto Dr. Paulo Rassi Diretor Dr. Antônio Dib Tajra Diretor Dr. Pedro Bandarra Westphalen Diretor Dr. Mardônio de Andrade Quintas Diretor Dr. Breno Monteiro Diretor Dr. Antônio Eduardo Cunha Diretor Dr. Marcelo Moncorvo Brito Diretoria (esq.) e Conselho Fiscal (dir.) recebem certificados das mãos dos deputados Rafael Guerra e Darcísio Perondi Set/Out/Nov/2010 Schiavon foram homenageados com uma placa alusiva, em agradecimento ao trabalho e esforço para formar a Confederação Nacional de Saúde. 8 Colar Mérito da Saúde do Brasil Durante o evento, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, foi homenageado com o Colar Mérito da Saúde do Brasil por trabalhos desenvolvidos em prol do Setor e pelo apoio para que a CNS passasse a participar do conselho deliberativo do FAT (CODEFAT) e do Conselho Curador do FGTS, além de incentivar a representação do Setor Patronal da Saúde durante a Conferência da OIT em Genebra. Criado pela CNS especialmente para a ocasião da comemoração dos 15 anos da entidade, o Colar é uma homenagem às personalidades que se dedicam em prol da Saúde brasileira. Lançamento A CNS aproveitou a oportunidade para lançar os livros “História dos 15 anos da CNS”, que conta como a entidade foi criada e reúne artigos sobre temas relevantes do Setor, escrito pelos assessores jurídicos das Federações que compõem a CNS; e “Radiografia da Tributação do Setor Saúde”, que é resultado de estudo inédito encomendado pela CNS, em parceria com a Federação Brasileira de Hospitais (FBH), e realizado pelo Instituto de Planejamento Tributário (IBPT). Institucional CNS reativa Departamento de Saúde Suplementar Departamento vai acompanhar e repassar informações sobre decisões da ANS Dr. João Lucena coordena Departamento de Saúde Suplementar da CNS culiaridades de relacionamento dos prestadores com as operadoras em cada região e harmonizá-las”, explicou o coordenador. A primeira reunião do grupo foi realizada em agosto. Durante a reunião, o presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Dr. Aramicy Pinto, demonstrou interesse em fazer parte do grupo e anunciou a parceria com a CNS para acompanhar os trabalho da Saúde Suplementar. Entre as metas do departamento estão: a discussão sobre a criação de modelos de remuneração para procedimentos com final previsível; criação de modelo de qualificação dos hospitais e a escolha de indicadores para análise de desempenho; e a intenção em aprimorar e manter alto nível de relacionamento com as operadoras. “Este primeiro encontro demonstrou o interesse dos participantes em aprofundar o conhecimento sobre a Saúde Suplementar e o entusiasmo em participar da criação de modelos de remuneração, qualificação e avaliação de desempenho do Setor”, afirmou Dr. Lucena. De acordo com ele, o grupo deve ter uma sequência de encontros para permitir o cumprimento das metas e a apresentação de resultados entre os prestadores e os grupos técnicos da ANS. A CNS participa, hoje, de Grupos de Trabalho sobre remuneração médica e de honorários hospitalares, sessões técnicas, discussões sobre a padronização da Troca de Informações da Saúde Suplementar (TISS), da Tabela Unificada da Saúde Suplementar (TUSS) e em outras reuniões em que a entidade tenha assento. Set/Out/Nov/2010 á está funcionamento o Departamento de Saúde Suplementar da Confederação Nacional de Saúde (CNS). Reativado em virtude do aumento do número de portarias e resoluções da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o objetivo é transmitir informações de maneira mais rápida e efetiva aos prestadores e prestar suporte consultivo aos filiados da Confederação. Além disso, o novo departamento também deve verificar como se configura o relacionamento entre prestadores e operadoras de planos de saúde em cada região, comparando suas atividades, na tentativa de harmonizá-las. Coordenado pelo consultor João de Lucena, o departamento será composto por representantes técnicos de cada Federação e terá reuniões periódicas para troca e divulgação de informações referentes ao Setor. “A ANS está num momento de grande atividade normativa, emanando uma série de informações que não estão sendo absorvidas pelos prestadores com a rapidez necessária. Nosso objetivo é levar estas informações em tempo menor aos prestadores, elucidando qualquer dúvida referente às normas”, disse. De acordo com Dr. Lucena, o departamento deve produzir relatórios periódicos de atuação, provendo um follow up das reuniões e decisões de assuntos de interesse da Saúde Suplementar. “O departamento fará uma representação normativa e política junto à ANS e junto às operadoras de planos de saúde. A intenção é adequar as normas da ANS para as regiões, bem como levantar as pe- lenir camimura J 9 Institucional CNS participa da I Cimeira Lusofonia e Saúde O presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), Dr. José Carlos Abrahão, participou, em junho, da I Cimeira Lusofonia e Saúde, organizado pelo Fórum Hospital do Futuro, em Portugal. O evento reuniu representantes da Saúde advindos de Países de língua portuguesa, com o objetivo de debater as vantagens da língua na promoção, prevenção e qualidade da Saúde. Dr. José Carlos ressaltou que, apesar da língua, os países possuem situações distintas quanto aos seus sistemas de saúde, contudo, parabenizou a iniciativa. “A discussão promovida pelo fórum foi profícua e atendeu à realidade, uma vez que tratamos desde a formação médica até as parcerias públicoprivadas”, informou. Os debates focaram a gestão e administração, em níveis operacional e estratégico. Entre os temas abordados estavam: Recursos Humanos: Formação e Intercâmbio de Profissionais; Melhoria de Acesso a Cuidados de Saúde – Partilha de Boas Práticas; Acesso à Informação e Promoção de Saúde; e Certificação e Normativas de Qualidade. Summit IHF: CNS participa de encontro de lideranças A Federação Internacional de Hospitais (IHF) realizou o 2º Encontro de Lideranças de Hospitais e Saúde, em Chicago (EUA), em junho. O presidente da CNS e da IHF, Dr. José Carlos Abrahão, presidiu o encontro e foi o palestrante da mesa sobre as atividades e perspectivas de desenvolvimento da IHF. O evento, que reuniu 44 participantes representantes de 17 países entre os quais os membros da IHF, parceiros corporativos e outros representantes de hospitais, executivos e economistas do Setor Saúde, discutiu vários assuntos pertinentes à saúde global, como a ética e a gestão em saúde; acreditação para melhorar a qualidade; a globalização do cuidado e a crise dos recursos humanos; segurança hospitalar e a preparação em casos de desastres, entre outros. As discussões permitiram um link entre os temas e com as ques- tões diárias que as associações de Saúde enfrentam. Os debates também demonstraram o papel dos hospitais no sistema de Saúde e os diferentes elementos que compõem a oferta de cuidados. Os participantes concordaram com o fato de que é essencial considerar situações diferentes quando se está lidando com questões ligadas à realidade das instituições de saúde. Set/Out/Nov/2010 FEHOSPAR: Sindicato-fundador tem nova diretoria 10 O Sindipar, um dos sindicatos que formam a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (FEHOSPAR), empossou, em julho, sua diretoria para o triênio 2010/2013. Luis Rodrigo Milano, que também é diretor da CNS, foi reconduzido à presidência. A solenidade, realizada na sede da Federação, em Curitiba, foi conduzida pelo Presidente da Federação, Renato Merolli, coincidindo, ainda, com a posse da nova diretoria da Associação dos Hospitais do Paraná, dirigida pelo Dr. Benno Kreisel, também diretor da Confederação. O Sindipar completará 50 anos de atividades em novembro de 2011. FEHOESG: procurador fala sobre fiscalização em hospitais C om o apoio da FEHOESG, AHEG e SINDHOESG, o Fórum de Saúde e Segurança no Trabalho do Estado de Goiás promoveu, em maio, uma audiência pública sobre Segurança e Saúde no Trabalho nos Serviços Privados de Saúde. A Casa dos Hospitais foi representada pelo diretor Euclides Abrão, que ressaltou que, para as entidades, a promoção da saúde e segurança dos trabalhadores das unidades de saúde é primordial. O evento reuniu representantes dos hospitais goianos, do Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Estadual e Superintendência Regional do Trabalho em Emprego em Goiás. A Norma Regulamentado- ra número 32 (NR-32), que trata da segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos assistenciais de saúde, foi um dos temas abordados na audiência pública. Em entrevista, o coordenador do Fórum e procurador Regional do Trabalho da 18ª Regional, Januário Justino Ferreira, disse que existem algumas “irregularidades” em relação à NR 32, como as que envolvem o dimensionamento dos Ser viços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), sobretudo quanto à gradação do risco da atividade principal e ao número total de empregados do estabelecimento. De acordo com ele, o auditorfiscal do Trabalho que concluir que há uma violação da norma deve autuar o establecimento, a fim de evitar riscos à saúde do trabalhador. “Contudo, em determinadas condições a rigidez da lei não deve ser observada, porque é necessário prevalecer o bom senso da fiscalização para não só preservar o posto de trabalho como ainda garantir a segurança do trabalhador”, explicou. Januário Justino lembrou que, de acordo com a norma, os estabelecimentos que infringem as regras de segurança, demonstrando grave e iminente risco para o trabalhador, poderão ser, ainda, interditados. O setor de saúde mental reuniu-se no auditório da Faculdade de Medicina da PUC de Sorocaba, em julho, para debater o exercício da cidadania e o atendimento psiquiátrico no Estado de São Paulo. O evento aconteceu após audiências públicas realizadas na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa paulista. As iniciativas são frutos do trabalho desenvolvido pelo Grupo Supra-Institucional (GSI), formado pela FEHOESP, Sindhosp, Sindhosfil e Fehosp, Pró-Saúde Mental e Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo. Cerca de cem par ticipantes acompanharam os debates, que contaram com a presença de autoridades e profissionais da área. “Temos que deixar a ideologia de lado e discutir seriamente a saúde mental”, afirmou o secretário de Saúde de Sorocaba, Milton Palma, na abertura do evento. O responsável pela disciplina de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da PUC/Sorocaba, Antônio Fontana, lembrou que falta equilíbrio para as políticas públicas na área. “Os doentes mentais estão sendo cronificados porque não existem leitos especializados, milhares foram fechados nos últimos anos. Precisamos de CAPs, mas não podemos abrir mão dos hospitais psiquiátricos, isso é uma imbecilidade”, lamenta. Para o representante da FEHOESP, Paulo Rogich, os hospitais especializados na psiquiatria estão à margem da cadeia de assistência. Segundo dados do Sindhosp, 6% dos brasileiros têm problemas com álcool ou outras drogas; 12% apresentam quadros depressivos e ansiosos; 21% necessitam de atendimento em saúde mental; e 3% têm doenças mentais severas ou crônicas. Ao final do evento, as entidades que compõem o GSI entregaram às autoridades locais um documento com propostas para o setor, dentre as quais estão a criação de uma rede integral de atenção em saúde mental, estruturada e articulada, que inclua os hospitais especializados em psiquiatria; reavaliação e rediscussão do financiamento da saúde mental; e a presença dos conselhos de saúde na condução da nova política de saúde mental. Set/Out/Nov/2010 Evento debate cidadania e psiquiatria em São Paulo 11 Capa Hospitais preparados para o desastre – como operar? Com o aumento de incidências naturais em todo o mundo, o Setor Saúde volta a preocupar-se como oferecer atendimento em situações de emergência. No Brasil, destaca-se a mobilização de profissionais e entidades na ajuda humanitária O Set/Out/Nov/2009 Brasil e o mundo assistiram, desde o final do ano passado, a ocorrência de vários fenômenos naturais - como inundações, deslizamentos de terra, furacões e terremotos – e o surgimento de epidemias globais, que ultrapassaram fronteiras. Várias regiões sofreram com os resultados catastróficos causados por questões climáticas e pela propagação de doenças contagiosas, como a gripe H1N1. Com o agravamento das situações de emergência, os países voltaram a discutir a segurança e a preparação de 12 hospitais e profissionais de saúde, para atuarem sob tais circunstâncias. Em todo o mundo, centenas de hospitais e estabelecimentos de saúde são destruídos ou sofrem danos todos os anos por causa de desastres naturais. As consequências são devastadoras para as instituições de saúde. Estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que o hospital mais caro é aquele que falha, impondo um dos maiores fardos econômicos. Além disso, a população também sofre sob tais ocorrências, já que, além de perder casas e bens materiais, ainda é deixada sem o menor cuidado básico em situações de emergência. No Brasil, esse cenário tem se tornado mais recorrente desde o ano passado, quando vários casos de enchentes passaram a ser registrados, levando à destruição cidades inteiras e à perda de muitas vidas. Os temporais atingiram os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Alagoas e Pernambuco com maior intensidade. No Paquistão, a população também está enfrentando, nos últimos tempos, várias inundações e desolações, em decorrência das chuvas fortes e intermitentes. Em outras situações gravíssimas, os terremotos no Haiti e no Chile também demonstraram a importância de se ter uma política de saúde voltada para a preparação dos estabelecimentos para situações de emergência. Os países, sem condições de atender a toda a comunidade atingida pelos fenômenos sísmicos, contaram com a solidariedade mundial e com o trabalho voluntário de diversos profissionais, enviados especialmente para ajudar a restaurar os sistemas de emergência após as tragédias. “Sem participação da Saúde Suplementar, a infraestrutura e os recursos humanos da Saúde não suportariam a demanda” Dr. José Carlos Abrahão shutterstock ...não entra em colapso em situações de emergência, garantindo a sobrevivência de seus pacientes e equipes; ...pode continuar funcionando e prover seus serviços à comunidade quando for mais necessário; ...é organizado, com planos contingenciais e equipes treinadas para manter uma rede operacional. hospitais mais seguros durante grandes crises naturais. Além disso, a questão já foi tema da campanha mundial promovida pela OMS e pela Secretaria Internacional para Redução de Desastres (UNISDR), da Organização das Nações Unidas (ONU), entre 2008 e 2009. A ideia é que os estabelecimentos de saúde preocupem-se em reduzir as “vulnerabilidades”, que resultam numa perda maior de vidas e serviços hospitalares, além de enfatizar o alerta sobre por que e como redobrar os esforços para proteger os estabelecimentos de saúde e garantir que eles possam funcionar durante e depois dos desastres. Esta preparação, no entanto, não se trata apenas de um reforço na estrutura dos estabelecimentos, mas de medidas preventivas que garantam a manutenção do serviço, mesmo em situações drásticas. Além disso, hospitais que se mantêm em pleno funcionamento em situações de emerg ê n c i a to r n a m - s e símbolos de progresso social e um pré-requisito para a estabilidade e o desenvolvimento econômico de uma região. Desta forma, é imprescindível dar atenção especial para garantir a integridade física e funcional em condições de emergência. A boa notícia, conforme afirma a campanha da OMS, é que, com o conhecimento atual e um compromisso político forte, os países podem reduzir os riscos nos hospitais e estabelecimentos de saúde, fazendo-os seguros, reduzindo sua vulnerabilidade a perigos naturais, reforçando e capacitando suas equipes para atender às demandas referentes à epidemias. Gerenciamento de riscos nos hospitais Para atender a este contexto de crise, a palavra de ordem é“gestão”. Especialistas defendem que um gerenciamento fraco ou a falta de uma gestão de vulnerabilidade nos hospitais levam a perdas catastróficas nos serviços de países tanto de alta quanto de baixa renda. Para o Diretor Executivo da IHF, Eric de Roodenbeke, a parceria com a defesa civil e dos demais serviços de Hospitais de Campanha foram utilizados no atendimento às vítimas do terremoto no Haiti Set/Out/Nov/2009 Preparando os hospitais Neste sentido, a comunidade de Saúde Mundial se depara com a grande questão: como preparar hospitais e profissionais de saúde para manter a continuidade dos atendimentos em situações de desastres e epidemias? A fim de responder esta e outras questões, a OMS tem incentivado os países a adotarem leis e regulações para Um hospital preparado para desastres.... Imprensa da Aeronáutica O surto da gripe H1N1, também assustou o mundo no último ano. Com um alto índice de mortalidade, a doença foi reconhecida como pandemia pela OMS, exigindo uma atuação rápida e conjunta de países, vigilâncias sanitárias e sistemas público e privado de Saúde. No Brasil, a dengue também tem exigido um controle e campanhas que envolvem a sociedade, agentes comunitários e conta com a colaboração de hospitais privados para atender à população. Este cenário também foi verificado durante as várias campanhas de vacinação promovidas pelo governo brasileiro nos últimos anos. Para a CNS, a parceria públicoprivada é de fundamental importância para se vencer tais emergências, sem deixar que a população seja prejudicada. “Neste momento, confirmamos nossa defesa de que a Saúde é uma só, formada pelo braço público e privado. Sem participação da Saúde Suplementar, nestas situações de crise, a infraestrutura e os recursos humanos da Saúde, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, não suportariam a demanda”, argumentou o presidente da Confederação, Dr. José Carlos Abrahão. Além disso, ele destacou que os hospitais privados têm trabalhado com afinco em medidas preventivas, reforçando a necessidade de seus pacientes se conscientizarem quanto às vacinações e demais campanhas de orientação contra epidemias e surtos de doenças infectocontagiosas. “A participação do setor privado, tanto nas situações de epidemias, quanto nos casos de catástrofes naturais, tem sido fundamental nestes momentos”, lembrou. 13 Capa Set/Out/Nov/2010 14 Emergências no Brasil Com as atuais crises enfrentadas pelo Brasil, o Gabinete Permanente de Emergência do Ministério da Saúde tem atuado mais efetivamente, juntamente com a defesa civil, a fim de prover condições de atendimento à população atingida pelas catástrofes. De acordo com o coordenador do Gabinete, Dr. Clesio Mello, o país tem sistemas estaduais para lidar com tais situações. Além disso, há uma qualificação dos profissionais que atuam no SAMU, por exemplo, para reforço nas estruturas físicas e aplicação de no break para a informática, mantendo uma central em funcionamento contínuo, como acontece em São Paulo.“Não temos um “Preparar um hospital custa dinheiro extra, de forma a capacitá-lo para enfrentar o risco” Eric de Roodenbeke preparo para terremoto, por exemplo, porque não é uma ocorrência no Brasil, mas temos um preparo mais forte do que no Haiti. Mesmo assim, não basta ter só uma estrutura hospitalocêntrica. Em casos de crise, o ideal é contar com uma rede de atendimento, que vai garantir o funcionamento dos serviços, mesmo em casos de desastre”, disse. É preciso ainda posicionar os estabelecimentos de saúde em locais estratégicos, com sistema de segurança com geradores, conforme ensina Dr. Clésio Mello. “Temos registrado uma evolução na preparação dos hospitais para situações de emergências. Estabelecimentos menores têm mais dificuldades, mas têm evoluído e sobrevivido às intempéries. O que temos feito é nos reunir com várias áreas para sanar os problemas emergenciais e continuar atendendo”, afirmou. A integração com outras áreas da defesa civil, por exemplo, é uma necessidade, segundo o coordenador de Urgência e Emergência. De acordo com ele, foi possível aprender muito com a experiência de ajuda humanitária no Haiti, após o terremoto. Dr. Clésio disse que, em uma situação de calamidade, é importante se desenvolver trabalhos em conjunto, uma vez que é mais difícil discutir saúde sozinhos. “É preciso, numa situação assim, ter uma estrutura assistencial rápida. Assim, estabelecemos pontos estratégicos para levantar os hospitais de campanha, além de contar com veículos robustos, que consigam atravessar terrenos mais complicados”, explicou. Somente para o Haiti, no qual o Ministério da Saúde brasileiro teve participação ativa, foram enviados 400 toneladas de medicamentos, insumos e produtos de Saúde, o equivalente a US$ 8,4 milhões, segundo dados do Ministério. Dentre os insumos, estavam 220 doses de vacinas anti-rábicas, 70 de febre tifóide, 1.400 de hepatite A e 3.300 contra a Gripe H1N1, além de material informativo e técnico para os militares, sobre as vacinas. Também foram enviados 22 profissionais: um de saúde, dois do SAMU, 4 para diagnósticos, 11 médicos para um navio-hospital, 2 técnicos da Funasa para verificar a qualidade da água e Secretaria de estado de Saúde de Alagoas emergência - como polícia, bombeiros e, claro, os estabelecimentos de saúde – é uma necessidade premente. “Para que tudo funcione como se espera, é necessário saber quem está fazendo o que e trabalhar em parceria. Mas para desenvolver parcerias entre diferentes setores, como defesa civil e saúde, depende de como cada país lida com a situação”, disse. A IHF mantém, hoje, parceria com a OMS, a fim de estimular a comunidade de Saúde, em todo o mundo, a buscar estratégias, treinamento e melhores condições estruturais para que os estabelecimentos de saúde possam oferecer segurança a seus pacientes, sem suspender o atendimento em situações de crise. Para ele, há alguns aspectos que devem ser levados em consideração: em primeiro lugar, é preciso aumentar o nível político das preocupações para se ter uma atitude preventiva, considerando as necessidades para atender à situação. Depois, é preciso rever o mecanismo de criação de um fundo de investimentos para situações de emergência. “Os governos devem estabelecer e separar um orçamento para atender este cenário. Até porque preparar um hospital custa dinheiro extra, de forma a capacitá-lo para enfrentar o risco”, afirmou Roodenbeke. SAMU de Alagoas recorreu aos contêineres de metal para proteger pacientes, materiais e medicamentos das chuvas Estratégia Nacional Para sistematizar as ações em situações de crise, o Ministério da Defesa aprovou o regimento interno do Sistema Nacional de Mobilização (Sinamob), que está sendo implantado no País. A medida visa a enfrentar situações catastróficas, de crise internacional e de ameaças à soberania do país. Para isso, vai desenvolver planos estratégicos e utilizar os recursos humanos do Estado, como as Forças Armadas e defesas civis e até a população, em caso de necessidade. A estrutura do Sinamob reúne dez ministérios, a Casa Civil e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Cada órgão tem uma responsabilidade específica. Nos casos de catástrofe natural, a mobilização de meios adicionais será acionada quando o uso da logística não atender mais à necessidade do país. Um exemplo é o transporte de pessoas em regiões atingidas por enchentes, como foi o caso dos estados de Alagoas e Pernambuco recentemente. A ideia é utilizar ferramentas já existentes para atuar na emergência. Por exemplo, se houver uma ferrovia que transporta minérios, o transporte de minérios será interrompido e utilizado para tirar as pessoas do local. Esta e outras medidas é que têm permitido ao Ministério da Saúde e à defesa civil uma atuação mais efetiva e rápida durante as crises de emergência pela qual o Brasil tem passado. “Para uma situação assim, é necessário estar preparado para receber um maior número de pacientes com uma estrutura mínima, maior potencial de leitos e ter criatividade, para, por exemplo, transformar salas contíguas para serem utilizadas para atendimento hospitalar. Assim, é preciso ter visões sistêmicas de rede e avançar mais em ações preventivas para momentos de crises”, acredita o coordenador de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde. Responsabilidade Social Uma outra característica que se destaca em situações de urgência e emergência é o crescimento do voluntariado. Especialmente no Brasil, há uma grande participação de profissionais e grupos de saúde que se mobilizam para ajudar populações atingidas por desastres naturais. Nos casos ocorridos dentro do Brasil, vários Estados cederam pessoal e deram suporte de logística. Entidades de especialidades também se mobilizam e alistam seus profissionais. As últimas campanhas de emergência, tanto no interior do país, quanto nos países em que a participação do Brasil foi efetiva, muitos profissionais se cadastraram como voluntários para ajudar a recuperar a comunidade e atender à população, da melhor maneira possível, dentro dos limites impostos pela situação de crise. “O povo brasileiro ajuda muito. Há um sentimento da contribuição voluntária latente no nosso povo. Há uma sensibilização real, que nos faz querer ajudar e minimizar o sofrimento alheio. Este é um dom do brasileiro”, afirmou Dr. Clésio Mello. Campanha OMS O Hospital Seguro é um estabelecimento de saúde, cujos serviços permanecem acessíveis e funcionando em sua capacidade máxima, e com a mesma infraestrutura, imediatamente após a ocorrência de fenômenos naturais destrutivos, provocados pelo homem ou mistos. “Há uma sensibilização real no brasileiro, que nos faz querer ajudar e minimizar o sofrimento alheio” Dr. Clésio Mello Serviço Para mais informações sobre a campanha da OMS/ONU visite o website: www.safehospitals.info Set/Out/Nov/2010 2 profissionais para realizarem a imunização contra a gripe A. Já nos municípios brasileiros atingidos pela chuva, em Pernambuco e Alagoas, por exemplo, o Ministério contou com médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e equipes voluntárias da Rede Hospitalar Federal, do Rio de Janeiro; e do Grupo hospitalar Conceição, do Rio Grande do Sul. Os voluntários atuaram no reforço das equipes de atendimento hospitalar e atenção básica. Esta participação de profissionais, acrescida dos kits de emergência – que, por unidade, atendem a 500 pessoas por três meses -, mais o montante de recursos remanejado pelo Ministério da Saúde, foram importantes para aplacar os efeitos causados pelas chuvas. Tanto em catástrofes, quanto nas campanhas de vacinação e controle de epidemias, foram montadas tendas de saúde e hospitais de campanha para atender a toda a população, contando com a participação de hospitais privados, verticalizados e conveniados. A preparação dos profissionais para este tipo de atendimento também surge como um fator primordial. O Gabinete Permanente de Emergência tem trabalhado com os Estados, desde 2007, provendo treinamento para os profissionais de saúde. A partir de 2008, esta capacitação passou a atingir vários planos de atenção aos desastres regionais. 15 América Latina “Os países devem aprender com o Brasil” Set/Out/Nov/2010 E 16 m visita ao Brasil, o presidente da Federação Lationamericana de Administradores da Saúde (FLAS) e do Colégio Uruguaio de Administradores de Serviços de Saúde (CUDASS), do Uruguai, Dr. Oscar Ressia, disse que o Brasil é um produtor de conhecimento e já se destaca como um dos países modelo na América Latina. Ele destacou, também, as diferenças entre o Sistema de Saúde brasileiro e o uruguaio, explicando que, em seu país, a parceria público-privada na Saúde foi estabelecida por meio de lei referente ao Sistema Nacional Integrado de Saúde. “O setor público, através da realização de contratos com o Fundo Nacional Integrado de Saúde, estabelece e cobra as prestações dos usuários que, através do Sistema Nacional Integrado de Saúde, passam ao setor privado”, informou. Por outro lado, o Ministério de Saúde Pública do Uruguai, que também funcionava como prestador, por meio de todos os hospitais que havia no país, por causa da lei, deixou de ser vinculado à assistência, passando a atuar apenas como administrador. “O Ministério passou a ser o órgão diretor da Saúde no Uruguai, deixando de ser um prestador de assistência à Saúde. Desta forma, criou-se um serviço público independente e um setor privado que trabalha podendo vender ao Estado todos os demais serviços”, explicou. Quanto ao Brasil, Dr. Ressia alegou que o país é uma potência que vai se destacar como “um dos melhores do mundo”. “Não há o que dizer em relação à América do Sul, porque já é uma potência. Tenho notado grandes mudanças no País. E para melhor, para o progresso”, afirmou. Para ele, o desenvolvimento do país se desenvolve em círculos. “Quanto melhor está a sociedade, melhor se pode crescer”, argumentou. A questão política também foi observada. Para ele, é preciso fazer uma projeção para longo prazo. “Com os políticos, há uma previsão de curto prazo, de cinco anos, mas se não se focar no futuro, com uma projeção para 30, 50 anos, não há como garantir que as gerações que virão vão continuar vivendo bem e que tenham uma saúde boa”, disse. O dirigente ressaltou, ainda, que os políticos geralmente vêem a Saúde como um gasto. “Eu interpreto que se há um gasto, é a melhor invenção que se pode fazer. Porque é muito diferente governar em saúde. Primeiro, porque o hospital é muito mais complexo. Há uma diversidade de elementos com os quais tem-se que trabalhar e administrar. Não é como uma empresa ou uma indústria, que se processa e na outra porta sai o produto. Na Saúde não é assim. Você entra com o produto no hospital, que é o enfermo. Se faz o processo e no final se tem uma pessoa saindo, é porque está com uma saúde melhor. E como medir o valor da Saúde? Mede-se, de certa forma, se a pessoa tratada puder voltar para a sociedade. Mas o valor da Saúde é intangível”, argumentou. O presidente do CUDASS afirmou, ainda, que o Brasil está no mesmo caminho de todos os outros países: buscando reformas, com vi- divulgação cudass Para Dr. Oscar Ressia, com recursos e planejamento político, Saúde brasileira pode se destacar ainda mais sões de futuro e caminhando de forma firme. “Eu vejo o Brasil com muitas possibilidades, até porque é um país que tem recursos, tanto de pessoal e financeiro, quanto de patrimônio natural. Um país sem dinheiro e sem recursos não pode comprar materiais para melhorar a Saúde e não há como ter um bom resultado nesta área. Mas o Brasil tem encontrado novos poços de petróleo e tem riquezas para aplicar no setor”, acredita Dr. Ressia. Ele ressaltou também que os outros países devem aprender com o Brasil, especialmente no que concerne à sua postura humanitária. “Há muitos outros países irmãos que atuam de forma pouco solidária e pouco integracionista, olhando apenas para si mesmo e não para os demais. E há governantes que só saem em defesa de sua gente na televisão e no rádio, mas não fazem nada por eles. Estes são os resultados: países cada vez mais empobrecidos, com povo cada vez mais pobre”, concluiu. Artigo Jurídico Decisão do STF sobre acomodação diferenciada pode alterar A decisão do Supremo Tribunal Federal, por hora válida apenas para o Município de Giruá, interior do Rio Grande do Sul, pode alterar o panorama da saúde no País. Isso porque será inevitável a alteração do mercado com relação ao atendimento prestado pelo SUS, mas não será somente isso. Recapitulando: decisão vem ao encontro do que os advogados do sistema sindical sustentavam de que a Resolução 283 do extinto INAMPS não continha em seu texto nenhuma menção em relação a não possibilidade de cobrança por acomodação diferenciada, mas somente em internação nas enfermarias, e ainda assim, aquelas definidas como tais pelo Ministério da Saúde e, desta forma, permite que o paciente atendido pelo SUS opte por condições especiais de internação, como quarto exclusivo ou médico de sua preferência, desde que pague a diferença em relação ao valor pago pelo Sistema Único de Saúde, a chamada “diferenciação de classe”. Assim, num exercício de que inúmeros estabelecimentos de saúde, médicos, e usuários buscarão a extensão da decisão, teremos quatro partes que poderão sofrer alteração de mercado: »» Usuário: poderá optar por usar o mínimo que a Constituição Federal lhe assegura, e ao mesmo tempo optar por pagar, às suas expensas, melhores acomodações e atendimento, inclusive no que diz respeito à padronização dos medicamentos e exames. Como complemento de raciocínio, se o usuário pode optar por essa complementação somente quando efetivamente está necessitando de internação, por que tem de pagar plano de saúde? »» Operadoras de planos de Saúde: deverá haver uma mudança no sentido de estímulo aos planos ambulatoriais em detrimento dos que prevêem internação a custo mais barato. Essa faixa de mercado migrará para a acomodação diferenciada. Tal mudança provocaria a redenção ou o fechamento dos planos de saúde que hoje se encontram em dificuldade financeira. Somente o tempo dirá como esse mercado se comportará, e se manterá a tendência de extinção das operadoras menores e o domínio do mercado das maiores e tradicionais. »» Prestador de serviço: sem adentrar à discussão ética no tocante aos valores do serviço médico no SUS – se são ou não mais caros ou com acomodação diferenciada-, contudo, fica evidente que o atendimento hospitalar poderá ter um incremento de receita e, para se ter um pensamento linear, deve haver a diminuição de faturamento pelas operadoras e um aumento de pagamento particular por causa da acomodação diferenciada. »» SUS: quanto a este ente, a decisão do Supremo confere mudanças significativas. A demanda vai aumentar, o interesse dos usurários pelo SUS vai aumentar, fomentan- Assessor Jurídico CNS/FEHOSUL do novas discussões quanto à oferta de leitos e serviços em um maior número de demandas judiciais na busca do que a Constituição Federal assegura ao cidadão: Saúde que é um dever do Estado. Esse sempre foi o entendimento emanado de nossas Federações e Sindicatos, sobretudo pelo grande número de pareceres expedidos por nossas Assessorias Jurídicas. Sempre foi assentada a tese no princípio constitucional que assegura o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde dos cidadãos brasileiros, sendo garantido pelo Ministério da Saúde um mínimo, a saber, a internação em enfermarias, totalmente gratuito. Não poderíamos discordar do entendimento, no sentido de que, nas situações em que o paciente ou seus familiares, livremente, optarem por acomodações outras, que não sejam aquelas garantidas pela gratuidade do sistema. Sempre defendemos a idéia de que Inócuo é o posicionamento em sentido contrário. Eis que, ao se considerar o princípio constitucional da liberdade do cidadão, inserido no artigo 5º, caput, mediante o qual se entende pela impossibilidade de vir um ato governamental cercear tal liberdade, ao se optar livremente por acomodações de conforto superior, quando de um internamento eletivo, esta decisão deveria fazer o Ministério Público revisar seus equivocados posicionamentos, inúmeros processos, procedimentos e condenações. Set/Out/Nov/2010 mercado de Saúde Alexandre Venzon Zanetti 17 Capacitação CNS, IHF e ENSP realizam seminário sobre tuberculose Trabalho em conjunto e parceria público-privada foram apontadas como estratégias para sucesso de programas contra TBMR Set/Out/Nov/2010 18 om o objetivo de discutir alternativas e meios para a orientação e tratamento da tuberculose, a Confederação Nacional de Saúde (CNS) realizou, em parceria com a Federação Internacional de Hospitais (IHF) e a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-Fiocruz), o seminário “Capacitação em TBMR para Gestores”, em julho, no Rio de Janeiro. Contando com a troca de experiência, os participantes puderam partilhar das estratégias que têm sido utilizadas no Brasil, Índia, China e Estados Unidos para o controle e tratamento da TB multirresistente. Para a coordenadora do evento, Dra. Thelma Bataglia, os países representados no encontro possuem problemas comparáveis, especialmente em relação à desasistência da população. "Acho que isto marca os três países de uma mesma maneira. Agora, quanto à organização do sistema público no Brasil, eu vejo ainda como bastante superior. Nós somos organizados, descentralizamos as ações, temos protocolos de como conduzir os casos. Neste sentido, a gente mostra um pouco mais de organização do que os países amigos", afirmou. Dra. Thelma também disse que o sistema de saúde brasileiro conta com uma participação efetiva do setor privado "Ele é bastante complementar e bastante suplementar. Então eu acho que o Brasil é um dos raros casos de sucesso de um mix público-privado. Isto possibilita que haja uma soma de esforços e quem sai lucrando é a população e todos lenir camimura C Dra. Quing Zhang, da China; Dr. Jayant Banavaliker, da India; Dr. José Carlos, do Brasil; Sheila Anazonwu, da IHF; e Ken Hekman, da HDI, mediador do debate nós". Ainda assim, ela acredita que é possível haver mais investimento no controle e tratamento da TBMR. A realização do encontro propôs, ainda, que haja um reforço na pesquisa em Tuberculose, incentivando a gestão e a apresentação do campo epidemiológico nos centros acadêmicos. A idéia é que se pudessem responder questões como, por exemplo, diminuir as estatísticas da tuberculose; o que deve ser feito para cuidar dos pacientes; e como fazer para que a equipe sinta-se responsável pelos estudos neste sentido, entre outras. Para tanto, foi reforçada a necessidade de se ter um programa de avaliação e monitoramento contínuo dos projetos ligados à TBMR, criando um círculo de atividades que envolvesse a criação de estratégias e seu acompanhamento. Para o presidente do Health Development International (HDI), Ken Hekman, que atuou como mobilizador do evento, a principal maneira para se conseguir resultados positivos em relação ao combate à doença é a atuação em conjunto. “Temos hoje muitas situações complicadas, em todos os países, que podem afetar o quadro de controle e combate de doenças, como o desconhecimento, o descomprometimento de governos, poucos leitos ou investimento. Mas se temos medicamentos e pessoas aplicadas ao problema, por que não vencemos a doença? Para superar tudo isso, precisamos reforçar uma estratégia, que é a de trabalhar em conjunto”, disse. Patrocinado pela empresa Eli Lilly, o evento reuniu 40 participantes de várias regiões do país, alem de ter, como convidados especiais, o Dr. Jayant Banavaliker, que compartilhou sua experiência na Índia; e a Dra. Qing Zhang, que falou sobre as estratégias chinesas para controle e tratamento da TBMR. Opinião Afinal, o que é estratégia? É a arte de aplicar meios disponíveis e explorar condições favoráveis com o fim de alcançar objetivos específicos, de acordo com o dicionário Aurélio. A consolidação dos planos de saúde com a Lei 2629 de 28.01.2000, em conjunto com outras mudanças na legislação e ainda, o aumento da complexidade dos procedimentos e o acirramento da concorrência, interferiu fortemente na necessidade da gestão profissional. A Governança Corporativa vem sendo adotada também na gestão dos hospitais, principalmente, os de propriedade de grupos familiares e até filantrópicos e lucrativos. Nas administrações familiares, os herdeiros perceberam a importância da gestão profissional e empresarial e estão trabalhando para a adoção deste modelo. O movimento em direção à implantação da governança corporativa aparece claramente em destaque. A gestão passa a ser delegada aos profissionais, com integração de todas as partes interessadas - stakeholders, e compreensão dos papéis de cada um atuando a partir de objetivos e metas previamente definidos e negociados. A profissionalização especializada é responsável direta pela gestão orientada à estratégia e o vínculo desta com os processos que serão avaliados por indicadores, selecionados e negociados com os gestores para o acompanhamento completo do desempenho do Hospital. Para que a gestão profissional funcione de forma sinérgica, além de rever os processos e definir os indicadores, importante que sejam considerados alguns aspectos: »» Integração da assistência. »» Plano diretor de medicina. »» Plano diretor de tecnologia da informação. »» Gestão de recursos humanos. Os hospitais não poderão mais pretender ser bons em todas as especialidades, devem definir e decidir quais áreas da medicina que serão contempladas. Inevitavelmente precisam segmentar seus atendimentos. O que vai diferenciar um hospital do outro é a assistência Genésio Körbes Administrador Hospitalar Sócio da Korbes Consulting integrada que ele oferece. A instituição deve buscar ser referência em poucas especialidades e prestar estes serviços de forma diferenciada, com alta qualidade e segurança, agregando valores perceptíveis pelos clientes. Isto pode dar-se a partir da composição de uma equipe multiprofissional qualificada e motivada. Com a implantação da gestão estratégica com profissionalismo, os hospitais serão naturalmente escolhidos pelo cliente-paciente e pelas operadoras, especialmente aqueles com certificação. Este é o cenário: os mais ágeis e arrojados, competentes e visionários conquistarão os melhores resultados e os melhores lugares. É imprescindível e necessário que saibamos cada vez mais: Qual é realmente o nosso negócio? Qual a visão de futuro? Que ferramentas usaremos para transformar os sonhos em realidade? Peter Drucker, guru da administração, costumava dizer: “A melhor maneira de predizer o futuro é criá-lo”. E tudo começa com a elaboração de um plano estratégico para o Hospital... Rua XV de Novembro, 297 conj. 810/811 Curitiba - Paraná - Brasil Fone: (41) 3222-0174 - www.cebramed.com.br | e-mail: [email protected] Set/Out/Nov/2010 A arte da gestão estratégica em Hospitais 19 Internacional OIT aprova norma sobre AIDS Representando os empregadores, CNS participa da construção da primeira recomendação da OIT sobre as condições de trabalho para soropositivos Set/Out/Nov/2010 A 20 Confederação Nacional de Saúde participou dos trabalhos da Comissão HIV/AIDS realizados durante a 99ª Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, que resultaram na construção da primeira norma trabalhista internacional sobre a AIDS adotada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). A CNS foi representada na Comissão por seu assessor jurídico, Alexandre Zanetti. A norma adotada pela OIT tem o objetivo de melhorar as condições dos soropositivos, particularmente nos países em desenvolvimento onde, segundo a entidade, a discriminação persiste. A recomendação pretende fomentar a integração dos soropositivos no trabalho e de proibir práticas discriminatórias durante a contratação. A medida foi construída com a participação de representantes sindicais, empresários e governos que fazem parte da OIT. Apesar de não ser vinculante, a recomendação adotada obriga os parlamentares dos 178 Estados membros da OIT a debater o texto e propor medidas concretas que permitam fazer avançar os direitos dos doentes de AIDS no mundo do trabalho. Com essa norma, a OIT espera, ainda, “encontrar a forma de fazer frente ao estigma e à discriminação que ainda geram a supressão de empregos e dificultam o acesso de pessoas que vivem com o HIV”. A OIT recomenda aos empresários propôr novas formações aos soropositivos que, devido à doença, não podem cumprir seus horários ou determinadas funções. Cerca de 33,4 milhões de pessoas são soropositivas e, a cada ano, aparecem 2,7 milhões de novos casos de infecção por HIV, segundo a ONUAIDS, cujos últimos dados são do ano 2008. Ministério do Trabalho O presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), Dr. José Carlos Abrahão, acompanhou o ministro do Trabalho brasileiro, Carlos Lupi, durante sua apresentação na 99ª Conferência Internacional do Trabalho. O ministro Lupi fez um discurso durante a Discussão do Informe da presidente do Conselho e Administração da OIT, salientando a importância dos benefícios sociais como gerador de tranquilidade para que o país retome o caminho da “empregabilidade e da estabilidade econômica, após a crise de 2008”. O ministro informou, ainda, que no ano passado, no Brasil, foram gerados cerca de um milhão de empregos, com aumento real do salário mínimo. A expectativa, agora, é que se tenha um crescimento do número de empregos neste ano, chegando à margem de 1,2 milhão de postos de trabalho. Em conversa com o ministro do trabalho, Dr. José Carlos comentou sobre o crescimento da CNS, a importância da participação da entidade na OIT e a representatividade que o Setor Saúde tem conseguido nos últimos anos. Para o presidente da CNS, este crescimento é sustentado pelo desempenho da Saúde, que representa um número expressivo de trabalhadores e sua participação no PIB nacional.