Um mundo melhor com mais enfermeiros O ano de 2012, que está prestes a terminar, foi um ano muito difícil, para a Saúde e para a Enfermagem em particular. Um ano em que os enfermeiros, apesar das adversidades, não baixaram os braços, a todos eles a Secção Regional da Madeira da Ordem dos Enfermeiros, faz aqui um agradecimento muito especial. O êxodo… Ao longo do ano foi notória uma mudança de paradigma nos cuidados de Enfermagem. Muitos foram os enfermeiros que deixaram os cuidados de saúde primários para poder colmatar a carência de enfermeiros altamente diferenciados que saíram das unidades e serviços hospitalares. Uma verdadeira fuga de talentos, de peritos e de especialistas, uma saída daqueles que são os modelos de exercício para os mais novos, que noutras paragens distantes, buscam o direito ao trabalho com dignidade e reconhecimento. Neste ano, continuou a não haver contratações de Enfermeiros, e a nível regional, foram para a aposentação 8 enfermeiros e pediram Declaração Europeia com vista à imigração, 126 enfermeiros. E nós como ficamos…com jovens enfermeiros, sem tempo para pensar e consequentemente melhorar, sem segurança para dizer não e tudo fazer… aceitar… sem pestanejar… sem denunciar. O número de denúncias efetuadas em 2012, por enfermeiros, relativa a deficiências nos cuidados de enfermagem, foi residual, apenas duas… e nenhuma por parte de utentes. Será que está tudo assim tão bem, certamente que não… Relembremos uma das alíneas do nosso código deontológico… “Artigo 88º - Da excelência do Exercício, o dever de : Alínea d) Assegura, por todos os meios ao seu alcance, as condições de trabalho que permitam exercer a profissão com dignidade e autonomia, comunicando, através das vias competentes as deficiências que prejudiquem a qualidade dos cuidados.” EOE Relembremos também que “Dotações seguras de enfermeiros salvam vidas” (ICN), e os enfermeiros que estão hoje no desemprego são absolutamente necessários para o retomar do normal funcionamento dos serviços. A saúde dos cidadãos exige essa contratação face a outras prioridades, pois só com saúde é que podemos sair da crise social e económica que nos consome. Os ataques à nossa autonomia e dignidade profissional foram constantes a nível regional e nacional, e foram muitos os sucessos e insucessos da intervenção da OE. Mas estamos conscientes de tudo termos feito para o cumprimento do desígnio fundamental da Ordem dos Enfermeiros: “…Promover a defesa da qualidade dos cuidados de enfermagem prestados à população, bem como o desenvolvimento, a regulamentação e o controlo do exercício da profissão de enfermeiro, assegurando a observância das regras de ética e deontologia profissional.” Uma postura de diálogo… Apesar da Ordem dos Enfermeiros ter assumido uma postura de diálogo aberto e construtivo, muitos foram os eventos de saúde em que a mesma não foi convidada a participar, por razões que a razão desconhece… Urge perguntar, será que queremos uma saúde sem ordem? Digo, sem as Ordens Profissionais da Saúde. O autismo e a autocracia, são inimigas do progresso das organizações, e é nos momentos difíceis que devemos ser mais verdadeiros e transparentes e dar as mãos para uma saúde melhor. A saúde está doente…a sua resposta não está adequada face a um estado social em escombros… A saúde está refém, de decisões políticas centrais, estéreis e economicistas, em que a governação clínica não tem poder executivo, a saúde tem um problema de dependência e para alguns mais cépticos sem potencial de readaptação funcional. A saúde está apenas acessível a alguns… taxas moderadoras, falta de dinheiro para medicamentos, esperas inconcebíveis para cirurgia programada, falta de dinheiro para o autocarro ou para o parque do hospital face à surpresa no momento do pagamento…diminuição das visitas domiciliárias preventivas…impossibilidade do familiar levar o seu idoso dependente para casa… pobreza… desemprego… fome e exclusão social. A saúde está cada vez com menos recursos humanos e materiais, impera a improvisação e a gestão contingencial, face às adversidades… fazendo-se autênticos “milagres” por vezes é o adiamento ou alternativa do tratamento…é o “banco de lona”, num “carro de luxo”. A pergunta central impõe-se, estaremos, nós profissionais de saúde verdadeiramente centrados no utente? Da nossa parte reafirmamos mais uma vez que os modelos de organização dos cuidados de enfermagem devem ter a sua prioridade nos cuidados de saúde primários, num reforçar de uma enfermagem familiar e de proximidade, na formação contínua dos seus profissionais e na participação ativa do utente nos seus cuidados. É possível fazer melhor com menos custos, basta ouvir a voz dos enfermeiros. Afirmamos ainda que, se queremos melhorar, temos de ouvir os utentes e as suas sugestões. Reiteramos mais uma vez que a gestão das unidades de saúde terá de ser uma gestão participativa, para construirmos organizações de saúde que aprendem. A Ordem dos Enfermeiros, lança este grito de alerta em nome da Qualidade dos Cuidados de Saúde e de Enfermagem da população da Madeira e do Porto Santo, não pretendendo ser um problema mas sim parte da solução. Podem contar connosco, estamos disponíveis e temos propostas. A todos um Feliz Ano Novo, com a esperança de um mundo com mais enfermeiros nos serviços de saúde. O Presidente do Conselho Diretivo da S.R. da Madeira da Ordem dos Enfermeiros Enfº Ricardo Silva