MARGENS POSITIVAS EM TUMORES DE PELE NÃO-MELANOMA: LATERAL, PROFUNDA OU AMBAS – EXISTE DIFERENÇA? POSITIVE MARGINS IN NOM-MELANOMA SKIN CANCER: LATERAL, DEEP OR BOTH – IS THERE A DIFFERENCE? LUCAS PEREIRA LIMA Médico residente do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre MARCELO FAURI Médico residente do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre GUSTAVO PEREIRA-FILHO Médico residente do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre RAFAEL NETTO Médico residente do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre ANDRÉ ALVES VALIATI Médico residente do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre FERNANDA SAMPAIO Médica residente do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre ROBERTO CORREA CHEM Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Trabalho realizado pelo Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre, Disciplina de Cirurgia Plástica da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Rua Comendador Rheingantz 303/402 - Auxiliadora - Porto Alegre – RS CEP 90450-020 Fone: (51) 9961-5776 - E-mail: [email protected] DESCRITORES CARCINOMA BASOCELULAR, CARCINOMA ESPINOCELULAR, TUMORES. KEYWORDS BASAL CELL CARCINOMA, MARGINS, SURGICAL TREATMENT, SQUAMOUS CELL CARCINOMA, NEOPLASMS. RESUMO Introdução: A presença de neoplasia residual (margens positivas) em tumores de pele nãomelanoma representa um grande problema no tratamento desta afecção. Alguns autores preferem o seguimento desses pacientes, enquanto outros são a favor da re-intervenção. Objetivo: Analisar as margens positivas das neoplasias ressecadas e correlacioná-las com a presença ou não de tumor residual nas re-intervenções. Métodos: Foi realizada uma avaliação retrospectiva de 527 pacientes, todos com diagnóstico histológico de carcinoma basocelular (CBC) ou carcinoma espinocelular (CEC). As lesões com margens positivas e que foram submetidas a reintervenção, foram divididas em grupos de acordo com o comprometimento de suas margens – lateral (grupo 1), profunda (grupo 2) ou ambas (grupo 3) – e comparadas. Resultados: Foram realizadas 527 cirurgias para exérese de tumores cutâneos (327 CBC; 130 CEC), encontrandose 49 (9,3%) margens positivas. Destas, vinte e nove (60%) foram submetidas a re-intervenção, verificando-se tumor residual em 23 (79,3%) delas. Comparando-se os grupos, houve associação significativa entre os grupos 2 e 3 (p=0,044), ou seja, há maior probabilidade de encontrar neoplasia residual quando ambas as margens estiverem comprometidas. Conclusão: a presença de neoplasia residual nas re-intervenções é mais provável quando a margem profunda e lateral estiver comprometida. ABSTRACT Background: The presence of residual tumor (positive margins) in non-melanoma skin cancer represents a major problem in the treatment of this neoplastic condition. Some authors prefer clinical follow-up, whereas others choose re-excision. Objective: to correlate the presence of residual tumor in re-excised lesions with the location of the positive margin on the first excision. Methods: a retrospective evaluation of 527 histology confirmed basal cell carcinoma (BCC) and squamous cell carcinoma (SCC) was performed. Lesions that presented positive margins on the first excision and that were submitted to re-excision were subdivided into three subgroups according to margin compromise – lateral (group 1), deep (group 2) or both (group 3) – and compared. Results: Fourty-nine (9,3%) out of 527 (327 BCC; 130 SCC) specimens presented with positive margins. Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 81 Twenty-nine (60%) out of these 49 lesions were submitted to re-excision, and residual tumor was found in 23 (79,3%) of them. When comparing the groups, we found a statistically significant association between group 2 and 3 (p=0,004), confirming that the presence of residual tumor is more likely when both margins are compromised. Conclusions: the presence of residual tumor in re-excised specimens of non-melanoma skin cancer is more probable when deep and lateral margins are positive. grupos, de acordo com a margem comprometida na primeira intervenção (tabela 1). O grupo 1 apresentou tumor residual em 11 (78,6%); o grupo 2 em 3 (50%); e o grupo 3 em 9 (100%). Quando comparamos os grupos entre si, encontramos associação significativa entre os grupos 2 e 3 (p=0,044), ou seja, há maior probabilidade de encontrar neoplasia residual quando as margens profunda e lateral estiverem comprometidas. As demais associações não tiveram resultados significativos (Figura 2). INTRODUÇÃO A presença de neoplasia residual (margens positivas) em tumores de pele não-melanoma representa dúvida ao cirurgião, e angústia ao paciente. Afinal, não existe consenso na literatura sobre a conduta frente a um diagnóstico histológico, e não clínico. Alguns autores preferem o seguimento desses pacientes, enquanto outros são a favor da re-intervenção1. OBJETIVO Analisar as margens positivas das neoplasias ressecadas e correlacioná-las com a presença ou não de tumor residual nas re-intervenções. MÉTODO Foi realizada uma avaliação retrospectiva de 527 pacientes operados no Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre entre janeiro de 2006 a junho de 2008, todos com diagnóstico histológico de carcinoma basocelular (CBC) ou carcinoma espinocelular (CEC). As lesões com margens positivas e que foram submetidas a reintervenção, foram divididas em grupos de acordo com o comprometimento de suas margens – lateral, profunda ou ambas. Na figura 1 está um esquema gráfico do estudo. Esses dados foram relacionados e analisados com o teste exato de Fischer. RESULTADOS Foram realizadas 527 cirurgias para exérese de tumores cutâneos (327 CBC; 130 CEC), encontrando-se 49 (9,3%) margens positivas. Destas, vinte e nove (60%) foram submetidas a re-intervenção, verificando-se tumor residual em 23 (79,3%) delas. Assim, foram divididas em 3 82 DISCUSSÃO O tratamento individualizado dos tumores de pele não-melanoma com margens positivas deve ser a regra, pois uma série de fatores são relevantes2. Entre eles podemos citar a idade avançada dos pacientes, suas comorbidades e, é claro, o seu livre arbítrio em ser ou não operado. Somente o seguimento desses pacientes, aguardando uma recidiva clínica, já é bem fundamentado3. Alguns estudos ainda mostram que, seguindo pacientes com margem positiva, o índice de recidiva em longo prazo varia de 19% a 67%4. A pergunta que segue, então, é se valeria a pena re-intervir em todos os tumores com margem positiva? Nosso trabalho demonstrou um índice semelhante de margens positivas na primeira intervenção em relação a literatura, mas um número bem mais significativo de tumor residual nas re-intervenções5. Somado a isso, quando verificamos a presença de neoplasia residual de acordo com as margens afetadas, obtivemos uma probabilidade ainda maior de encontrar tumor em determinada situação. Assim sendo, corroborando com a literatura, seria de bom alvitre re-intervir Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 nos pacientes que possuírem ambas as margens comprometidas. CONCLUSÃO A presença de neoplasia residual nas reintervenções é mais provável quando a margem profunda e lateral for positiva. Sendo assim, levando-se em consideração a localização da margem comprometida, e os resultados deste e de outros trabalhos da literatura, a re-intervenção pode ser a melhor opção. REFERÊNCIAS 1. Hallock GG, Lutz DA. A prospective study of the accuracy of the surgeon’s diagnosis and significance of positive margins in nonmelanoma skin cancers. Plast Reconstr Surg. 2001 Apr 1;107(4):942-7. 2. Zbar RI, Canady JW. MOC-PSSM CME article: Nonmelanoma facial skin malignancy. Plast Reconstr Surg. 2008 Jan;121(1 Suppl):1-9. 3. Nagore E, Grau C, Molinero J, Fortea JM. Positive margins in basal cell carcinoma: relationship to clinical features and recurrence risk. A retrospective study of 248 patients. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2003 Mar;17(2):167-70. 4. Dellon AL, DeSilva S, Connolly M, Ross A. Prediction of recurrence in incompletely excised basal cell carcinoma. Plast Reconstr Surg. 1985 Jun;75(6):860-71. 5. Fernandes JD, de Lorenzo Messina MC, de Almeida Pimentel ER, Castro LG. Presence of residual basal cell carcinoma in re-excised specimens is more probable when deep and lateral margins were positive. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2008 Jun;22(6):704-6. 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