GAZETA DE PIRACICABA PIRACICABA, QUINTA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2015 CIDADE 3 Raízen Etanol 2G em 2017 Nova usina foi inaugurada ontem e contou com a presença da presidente Dilma Rousseff Fotos: Del Rodrigues JULIANA FRANCO UNICA Da Gazeta de Piracicaba [email protected] ão há contradição entre o Pré-Sal e a produção de etanol. Eles são complementares. E a inovação tecnológica é o caminho para o futuro do Brasil”, afirma a presidente Dilma Rousseff (PT). Ela esteve em Piracicaba, na manhã de ontem, onde participou da inauguração da usina de etanol de segunda geração (2G) da Raízen, joint-venture entre a Cosan e a Shell. Na ocasião, o presidente da companhia, Vasco Dias, informou que assim que o custo de produção do combustível for compatível ao de primeira geração, ele será comercializado no Brasil. Além disso, outras oito novas plantas passam a ser construídas. Cenário previsto para se concretizar em 2017. “Na usina Costa Pinto, é possível encontrar a tradição e a inovação. Ela agrega todas as etapas da produção do etanol, desde o plantio até a distribuição do combustível. Agora, inaugura planta que produz combustível 2G. O Brasil está dando um passo significativo em prol da sustentabilidade, principalmente em um momento no qual o mundo olha com preocupação para as questões climáticas”, diz Dilma Rousseff. Com investimento de R$ 237 milhões, sendo R$ 207,7 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a usina já funciona desde o ano passado, quando produziu um milhão de litros de etanol 2G. “Esta é a primeira unidade integrada do Brasil e a sétima no mundo. Quando a Raízen nasceu, em 2011, acreditamos e investimos em fontes de energia mais limpas. O etanol 2G é uma grande revolução no setor sucroenergético, ele combina qualidade adquirida por meio do subproduto da cana”, explica o presidente da Raízen, Vasco Dias. Para o presidente do Conselho de Administração do Grupo Cosan, acionista da Raízen, Rubens Ometto, a inauguração da unidade é uma prova que o Brasil é maior do que qualquer crise. “Hoje é um dia especial e carrega muito simbolismo para mim, pois praticamente nasci e fui criado na Usina Costa Pinto. Ao longo da sua história, a Cosan participou de todos os eventos significativos da matriz de etanol, no Brasil. Agora, vamos produzir 40 milhões de litros de etanol 2G por ano”, revela Ometto, que acrescenta: “Vamos continuar com foco no aumento da produção, mas sem perder de vista o retorno dos investimentos. Isto porque existem pessoas que sonham enquanto dormem. Já nós, trabalhamos e sonhamos acordados”, acrescenta. Retomar a rentabilidade “N ESTADO O setor sucroenergético emprega, no Estado de São Paulo, 500 mil profissionais e está presente em dois terços dos municípios. Durante a solenidade de inauguração da usina da Raízen, o governador Geraldo Alckmin (PS- Vasco Dias, Rubens Ometto e a presidente Dilma Rousseff durante a inauguração de usina da Raízen, ontem Dilma Rousseff visitou as instalações que estão na usina Costa Pinto e conheceu o processo do etanol 2G ECONOMIA Em busca do reequilíbrio Durante a solenidade, a presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou que o governo vai continuar adotando medidas para garantir o reequilíbrio das contas públicas, a retomada do crescimento e a expansão da classe média. "Estamos atualizando as bases da nossa economia e vamos voltar a crescer dentro do nosso potencial", disse. A petista disse ainda que o reequilíbrio das contas é "parte essencial para que a economia se recupere, na tentativa de garantir a atividade econômica e o ambiente de negócios mais amigáveis." Dilma também falou dos objetivos de ampliar e fazer esforços para manter os principais programas do governo em funcionamento, como o Minha Casa, Minha Vida. Por fim, a presidente assegurou que o país levará uma proposta e um compromisso à COP21, conferência sobre o clima que acontece no final do ano em Paris, na França, que poderá ampliar a demanda mundial pelo etanol. DB) reafirmou o compromisso com o setor. “O governo vai continuar a agir para apoiar o segmento que está entre os mais fortes da agroindústria. Reduzimos o ICMS do etanol de 25% para 12%, simplificamos o setor de tributação para facilitar a parceria entre produtores e usinas. O desenvolvimento é o novo nome da paz e não há paz sem emprego e oportunidades”. Segundo o prefeito Gabriel Ferrato (PSDB), a iniciativa mostra que Piracicaba tem uma dinâmica progressiva, que busca inovações. “É um avanço, mas seu desenvolvimento também depende das medidas da política nacional. Se o preço do combustível for favorável, a usina vai representar uma mudança importan- te a médio e longo prazo, pois deve gerar empregos e trazer investimentos”. retor executivo de produção da Raízen, Antonio Alberto Stuchi. Este é o primeiro projeto que utiliza tecnologias para conversão do bagaço e da palha da cana em escala industrial totalmente integradas ao processo de etanol convencional, obtido a partir do caldo da cana-de-açúcar. A Raízen é uma gigante do setor e faturou R$ 65,1 bilhões na safra passada (2014/2015). São cerca de 30 mil funcionários e capacidade de moagem de 66,8 milhões de toneladas de cana-deaçúcar por ano. Está entre as cinco maiores do país em faturamento. Entre seus planos, está a construção de mais oito fábricas de etanol de segunda geração até 2024. ETANOL 2G A nova usina da Raízen tem capacidade para produzir 40 milhões de litros de etanol por ano. O biocombustível de segunda geração é produzido a partir do bagaço, folhas, cascas e outros resíduos da produção de cana-deaçúcar. O consumo estimado é de 300 mil toneladas de biomassa. A tecnologia possibilita maior produtividade, sem a necessidade de expansão da área agrícola. “É possível aumentar em 40% a produção do combustível com a plantação dos mesmos hectares. Não é necessário grandes investimentos na lavoura”, afirma o di- De acordo com a presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, o setor sucroenergético vem de uma crise de cinco anos, que ficou ainda pior diante da política de preço de combustível e exoneração tributária da gasolina. “Apesar de medidas como a retomada parcial da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), do aumento da mistura do etanol na gasolina, que passou de 25% para 27,5%, do crescimento do financiamento para estocagem e renovação de canavial, ainda são ações insuficientes para a retomada de investimentos”, diz. “Precisamos da retomada de rentabilidade, por isto, quando falo de investimentos, me refiro à expansão da capacidade. Investimentos em variedade, etanol 2G, logística, entre outros, continuam sendo feitos”, acrescenta Elizabeth. Ainda segundo ela, é necessário estancar a hemorragia do setor, já que até o final de 2015 outras dez usinas devem deixar de funcionar. “A grande angústia do empresário é saber se as regras do governo vieram para ficar, de modo que o setor retome a rentabilidade, ou se com o retrocesso da inflação haverá mais subsídios à gasolina”. Por fim, a presidente da Unica afirma que a inauguração da usina é um passo importante ao Brasil. “É a concretização de um processo de investimento grande, com alto risco, afinal, todo o processo de inovação envolve incertezas e riscos. Mas a ação consolida o Brasil na liderança, ao lado dos Estados Unidos, na área de combustíveis renováveis líquidos”, opina. Sobre o etanol 2G, Elizabeth afirma que ele ainda precisa passar pela fase de implantação, resolver questões técnicas e encontrar o caminho econômico de sua viabilidade. “A grande expectativa, que foi apresentada, é sobre o ganho expressivo de produtividade. E produtividade é um dos meios para reduzir custos. Não é garantia, mas é um caminho necessário. Por isto, acredito que é fundamental continuar a investir nesta tecnologia”, finaliza.