karin Pró-Reitoria de Graduação Curso de (Nome do curso) Pró-Reitoria de Graduação Curso de Psicologia Trabalho de Conclusão de Curso II Trabalho de Conclusão de Curso OS OLHARES DOS PROFESSORES: REFLEXÃO DO SIGNIFICADO DO EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA. Autora: Karina Nascimento da Silva Orientadora: Professora Msc Andrea Dias Garzesi Souza Brasília - DF 2013 Karina Nascimento da Silva Os olhares dos professores: Reflexão do significado do exercício da docência. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Formação em Psicologia. Orientadora: Profª. Msc Andrea Dias Garzesi Souza. Brasília 2013 AGRADECIMENTOS A Deus, antes de tudo, o seu amor e amparo, a bênção todos os dias da minha vida e a oportunidade de realização, pois sem Ele nada do que foi feito se fez. Aos professores da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal que, enquanto sujeitos, contribuíram, com a sua prática, à coleta de informações, tornando possível a realização deste trabalho. À Profª Andrea Dias Garzesi Souza a orientação, prontamente me acolhendo com paciência e apoio no decorrer dessa elaboração. À Profª Ana Cláudia Almeida Machado a participação na banca examinadora, enriquecendo-a sobremaneira. A todos os professores que deixaram um pouco de si, a fim de contribuir para minha formação como psicóloga. Aos meus pais o apoio e a dedicação sem medirem esforços, mesmo em situações adversas, sempre acreditando e motivando-me na superação de barreiras encontradas pelo caminho. Ao Daniel, meu irmão, o carinho, a paciência e a prontidão em me ajudar na concretização de objetivos em minha vida. Ao Hilton, meu esposo, o amor, a presença, a paciência e o apoio durante esses seis anos de convivência e, principalmente, a compreensão nessa etapa da graduação. Aos meus familiares o incentivo e a certeza de que eu alcançaria meus projetos de vida. Às amigas Aline e Luciana que incondicionalmente me atenderam com todo carinho, tornando, com nossa amizade, nossas vidas mais felizes. Às amigas do curso de Psicologia, em especial: Jussara, Luana, Nívia, Raquel, Rosângela Meg e Roseane. Não encontro palavras que possam expressar toda gratidão e felicidade por concluirmos mais essa etapa de nossas vidas. A todas aquelas outras tantas pessoas tão especiais e essenciais na minha vida: amigos e colegas, que, com a contribuição de seus olhares, são co-autoras deste trabalho, por meio de suas palavras de incentivo, conforto e aprendizado, meu sincero e carinhoso MUITO OBRIGADA!!! RESUMO SILVA, Karina Nascimento da. Os olhares dos professores: Reflexão do significado do exercício da docência. 2013, 53 folhas. Curso de Psicologia - Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013. Estudos indicam que o ser humano dedica grande parte de seu tempo ao mundo do trabalho, e este passa a ocupar o centro da vida das pessoas (CANOVA & PORTO, 2010). Contudo, essa centralidade traz implicações de ordem física, psíquica e social para os trabalhadores, na medida em que pode proporcionar tanto satisfação, quanto escamotear problemas e situações que geram sofrimento e, conseqüentemente, adoecimento ao sujeito. Nesse sentido, pesquisas apontam que o estado prolongado de sofrimento no trabalho interfere no bem-estar psicológico e na qualidade de vida dos trabalhadores (MARIANO & MUNIZ, 2006; GRANDE, 2009). Relacionando-se à docência, é possível verificar que professores reconhecem a existência do risco de adoecimento relacionado ao trabalho, mas que utilizam estratégias para lutarem pela permanência no serviço, e que, apesar da existência do sofrimento, buscam formas de mobilizações que as permitem vivenciar também o prazer no exercício docente (MARIANO & MUNIZ, 2006). O objetivo deste trabalho foi analisar quais são as representações sociais construídas pelo corpo docente acerca do trabalho. A metodologia está baseada na pesquisa qualitativa, de acordo com a Teoria do Núcleo Central, conforme Abric (1998). Aplicou-se (1) questionário com identificação dos sujeitos participantes e evocação livre de palavras a partir do termo indutor trabalho, com justificativa dos termos evocados e descrição de vivências de prazer e sofrimento no exercício da docência. Os dados de identificação foram processados pelo programa Microsoft Excel 2010. Os dados de associação livre de palavras foram sistematizados pelo software EVOC (versão 2003 desenvolvida por Vergès no ano de 2000). O resultado da pesquisa revelou que os professores participantes ratificam pesquisas (Alves, 2009, 2012) ao manter a centralidade das representações sociais pautadas em amor e dedicação ao trabalho docente. Indicou que os professores fazem ampla associação entre prazer e possibilidade de concretização do trabalho prescrito conjuntamente aos benefícios trazidos pelo trabalho docente à aprendizagem dos seus alunos. Destacou, também, que as vivências de sofrimento no trabalho docente advém da falta de reconhecimento que o professor sofre no cotidiano escolar. Palavras-chave: Representações sociais. Trabalho. Prazer. Sofrimento. Professor. ABSTRACT SILVA, Karina Nascimento da. Looks teachers: reflection of the meaning of the teaching profession. 2013, 53 pages. Psychology Course - Catholic University of Brasilia, Brasilia, Brazil, 2013. Studies indicate that the people spends much of his time to the work, and this occupies the center of people's lives (CANOVA & PORTO, 2010). However, this centrality has physical, psychic and social implications to the workers, so that can provide satisfaction moments as well as hide suffering, and consequently subject him to working diseases. In this way, research suggest that the prolonged state of suffering at work affects the psychological welfare and quality of life of workers (MARIANO & MUNIZ, 2006; GRANDE, 2009). Relating to teaching, it is found that teachers recognize the existence of the risk of work-related illness, but they use strategies to fight for to stay in activity, and that despite the existence of suffering, seeking forms of mobilization that allow experience also delighted in teaching practice (MARIANO & MUNIZ, 2006). The aim of this study was to analyze what are the social representations constructed by the faculty on the work. The methodology is based on qualitative research, according to the Central Nucleus Theory as ABRIC (1998). Was Applied (1) questionnaire identifying the participating subjects and free recall of words from the inductive term work, with justification terms of evoked and description of experiences of pleasure and suffering in professional practice. The identification data were processed with Microsoft Excel 2010. The free word association data were systematized by EVOC (2003 version, developed by Vergès in 2000). The research results revealed that participating teachers ratify research (Alves, 2009, 2012) to maintain the centrality of social representations guided by love and dedication to teaching. Indicated that teachers make extensive association between pleasure and possibility of fulfillment of the prescribed work jointly to the benefits of the teaching learning of their students. Also, pointed out that the experience of suffering in teaching stems from the lack of recognition that the teacher suffers in school life. Keywords: Social Representations. Work. Pleasure. Suffering. Teacher. Sumário 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9 2.REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................ 12 2.1 O papel do professor ............................................................................................................ 12 2.2 Trabalho: vivências de prazer e sofrimento .......................................................................... 15 2.3 Teoria das Representações Sociais ....................................................................................... 18 3. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 22 3.1 Objetivo Geral ....................................................................................................................... 22 3.2 Objetivos Específicos ............................................................................................................ 22 4. DELINEAMENTO METODOLÓGICO ................................................................................ 23 4.1 Participantes ......................................................................................................................... 23 4.2 Local...................................................................................................................................... 24 4.3 Procedimento de coleta de dados .......................................................................................... 24 4.4 Instrumentos .......................................................................................................................... 25 4.5 Procedimento de análise de dados ........................................................................................ 25 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................ 29 6.CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 44 7. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 46 ANEXO I .................................................................................................................................... 49 ANEXO II ................................................................................................................................... 51 ANEXO III .................................................................................................................................. 53 9 1. INTRODUÇÃO O interesse pelo desenvolvimento deste trabalho parte de uma única grande razão: a condição da pesquisadora - professora interessada em conhecer as dinâmicas subjetivas que perpassam tanto o prazer, quanto o sofrimento de seus pares nas situações de trabalho. Ao contemplar palavras de incentivo e atitudes motivadoras de uns; ao ouvir queixas e ver o adoecimento de outros; e, principalmente, ao perceber, ora em um pólo, ora em outro, o desejo de analisar e compreender o que estudiosos tem construído acerca do trabalho e, especificamente o trabalho docente, veio como fonte motivadora para a realização desta pesquisa. Estudos indicam que o ser humano dedica grande parte de seu tempo ao mundo do trabalho, e este passa a ocupar o centro da vida das pessoas (CANOVA & PORTO, 2010). Contudo, essa centralidade traz implicações de ordem física, psíquica e social para os trabalhadores, na medida em que podem proporcionar tanto satisfação, quanto escamotear problemas e situações que geram sofrimento e, consequentemente, adoecimento ao sujeito. Nesse sentido, pesquisas apontam que o estado prolongado de sofrimento no trabalho interfere no bem-estar psicológico e na qualidade de vida dos trabalhadores (MARIANO & MUNIZ, 2006; CZEKSTER, 2007; GRANDE, 2009). Relacionando à docência, Mariano & Muniz (2006) identificaram uma relação existente entre trabalho e saúde mental das professoras da segunda fase do Ensino Fundamental da Rede Pública Municipal de João Pessoa – PB. O estudo evidenciou que o trabalho docente interfere na saúde do professor, entretanto, não necessariamente com adoecimento, mas, principalmente, com vivência de sofrimento no cotidiano de trabalho. A pesquisa mostrou que a vivência do sofrimento é expressa pelos sentimentos de angústia, desgosto, desesperança, raiva, estresse, e o acúmulo destes sentimentos, em alguns casos, potencializa-se, podendo desencadear doenças relacionadas com a situação de trabalho. Desta forma, ao reconhecer que o risco de adoecer existe, os professores participantes da pesquisa destacaram que utilizam de estratégias para lutarem por sua permanência no trabalho e que, apesar da existência do sofrimento, buscam formas de mobilização que os permitem vivenciar também o prazer no trabalho. Grande (2009), em trabalho recente, realizou uma pesquisa com objetivo de compreender como os professores extraem prazer do trabalho docente e como minimizam o sofrimento, verificando ainda quais os meios utilizados por eles para “reduzir” e até mesmo “transformar” o sofrimento em prazer. Entre seus principais 10 resultados evidencia-se, que quanto mais idade, conjugada ao “tempo de serviço na profissão, mais difícil fica a utilização de estratégias de defesa para ocultar/transformar o sofrimento em prazer” (p. 162). Contudo, a ideia de utilizar estratégias de defesa para ocultar/transformar o sofrimento em prazer, apresentada por Grande (2009), pode ser contraposta à ideia de Mendes (2003), pois para esta a utilização de estratégias de defesa propicia “proteção do sofrimento e manutenção do equilíbrio psíquico por possibilitar o enfrentamento e a eufemização das situações causadoras do sofrimento” (p. 65), e não a ocultação/transformação do sofrimento em prazer. É possível verificar que é através das estratégias de mobilização subjetiva que os trabalhadores têm a possibilidade de transformar concretamente as situações de trabalho, para que estas possam trazer benefícios à saúde mental. É válido destacar que é no processo de mobilização subjetiva que o trabalhador mobiliza seus recursos internos para superar as dificuldades, pois esta mobilização inclui a capacidade de suportar o sofrimento e investir em tentativas a fim de encontrar ou criar uma solução. (MENDES & ARAÚJO, 2012; MENDES, 1995). Grande (2009) apresenta dados acerca de um levantamento feito no Sistema Único de Gerenciamento de Recursos Humanos da Secretaria de Educação do Distrito Federal, no período compreendido entre 2005 e 2008, no qual constatou doenças funcionais e depressão como principais motivos de afastamento do trabalho no Distrito Federal. A autora ainda cita dados de uma pesquisa organizada pelo Sindicato dos Professores do Distrito Federal no ano de 2002, em que se apresenta a depressão como um dos problemas mais comuns entre os docentes. Naquela época, de acordo com o estudo, 38,7% dos professores que pediam licença para tratamento de saúde enfrentavam estresse, depressão e outros problemas emocionais, 21,9% tinham problemas nas articulações e 17,8% sofriam de problemas nas cordas vocais. Os dados obtidos na pesquisa de Grande (2009) se complementam ao estudo de Czekster (2007), em pesquisa realizada com docentes de uma escola pública do interior do Rio Grande do Sul, acerca de quais elementos, na organização do trabalho docente em escola pública, são capazes de produzir sofrimento ou prazer. Foi obtido como resultado a percepção de existência de fatores associados ao sofrimento no trabalho docente, em especial, referindo-se às relações com a clientela e com a estrutura burocrática de ensino, e como fatores associados ao prazer, o âmbito micro-escolar. A pesquisa revelou ainda que, diante do desafio de trabalhar sem reconhecimento, os professores mobilizam estratégias defensivas que ocultam o verdadeiro problema e, 11 logo, dificultam a sua resolução, resultando no adoecimento de professores que se mantém trabalhando ainda que apresentem essas dificuldades. Desta forma, este estudo terá como foco a teoria das representações sociais, que segundo Jodelet (2001), (re)produz e (re)orienta novos comportamentos e significados acerca da realidade do trabalhador, aqui aplicado à docência. Ainda, contribui para o entendimento tanto das relações sociais estabelecidas em âmbito escolar, quanto para as representações de trabalho construídas socialmente pelos professores. Também, fará referências acerca da compreensão do trabalho a partir da abordagem da psicodinâmica do trabalho, de acordo com Dejours (2004) e outros autores, entendendo que o significado que o sujeito constrói acerca do trabalho implica na sua relação de vivência de prazer e/ou sofrimento no exercício profissional. É intenção deste estudo, portanto, compreender a seguinte questão: Quais são as representações sociais construídas pelo corpo docente de uma escola pública da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal acerca do trabalho? 12 2. REVISÃO DA LITERATURA 2. 1 – O papel do professor Durante as décadas de 50 e 60 do século XX, a profissão de professor foi tratada com bastante prestígio na sociedade. Era notório o esforço dos pais em ensinar a seus filhos o sentido da disciplina, da cortesia, do respeito e não lhes permitiam o menor enfrentamento junto aos seus professores, além de mostrar, mesmo diante dos filhos, o apoio incondicional ao professor perante alguma situação de conflito. No entanto, o cenário atual demonstra que esse profissional foi desvalorizado pela sociedade, passando a ser comum a queixa por parte de muitos professores de que os pais não têm se ocupado em ensinar a seus filhos valores mínimos, acreditando ser essa uma obrigação que somente cabe aos professores, além de estarem dispostos a culpar estes profissionais, colocando-se ao lado do filho, perante qualquer situação de conflito, alegando que, no final das contas, se o filho é um mal-educado a culpa é do professor que não soube educá-lo (ESTEVE, 1999). Com vistas a caracterizar o cenário atual, Esteve (1999) apresenta em seu trabalho questões sobre a qualidade de vida e mal-estar docente no contexto espanhol. Contudo, destaca que a problemática não é exclusiva daquele contexto, mas se trata de um fenômeno vivenciado pelos diferentes países, demonstrado também em pesquisa realizada em contexto português, por Jesus (1998). O referido autor explicita que o malestar vem ocorrendo em maior intensidade na classe docente do que em outros profissionais, traduzindo a atualidade e a gravidade da problemática. Jesus (1998), em citação a Prick (1989), verifica que, independente da faixa etária, os profissionais que haviam exercido a docência no passado apresentam maior satisfação que os que a exercem no presente, destacando que essa investigação contou com a participação de professores de diversos países europeus – Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Holanda e Portugal. Esteve (1999) aponta que as transformações histórico-culturais, desde as mudanças na organização do trabalho passando pelo modelo fordista até o toyotista, não somente influenciaram os campos da economia, da política, como também da educação. Assim, entende-se que, além dessas mudanças terem contribuído para uma rápida transformação no contexto social, trouxeram, também, modificações ao papel do professor, o que pode implicar em fonte de mal-estar, visto que muitos não têm sabido ou aceitado acomodar-se às novas exigências. 13 Por mais que tenham acontecido avanços relacionados ao currículo, Esteve (1999) aponta que não houve mudanças significativas na formação profissional dos professores para que acompanhassem estas transferências e nem meios para que pudessem responder a essa nova demanda. Assim, é possível perceber que a ampliação do papel de professor causou um aumento das dúvidas no que se refere à capacitação de que o profissional necessitava e a quando e como deveria aplicá-la, produzindo um grande conflito com respeito à complexa e extensa função do professor. O autor cita os estudos de Claude Merazzi (1983), diretor de uma importante escola normal da Suíça, ao explicar três fatos fundamentais. O primeiro dos fatos fundamentais se refere à evolução e à transformação dos agentes tradicionais de socialização (família, ambiente cotidiano e grupos sociais organizados) que nos últimos anos, por diversas circunstâncias, reagiram, renunciando às responsabilidades que antigamente vinham desempenhando no âmbito educativo e exigindo das instituições escolares que ajudassem a ocupar um vazio que nem sempre tinham capacidade de preencher. O segundo fato fundamental diz respeito ao papel tradicionalmente designado às instituições escolares, com relação à transmissão de conhecimento (vista há algumas décadas como fonte quase exclusiva de informação), já que se viu seriamente modificado pelo aparecimento de novos agentes de socialização (meios de comunicação e consumo cultural de massa etc.) que se converteram em fontes paralelas de transmissão de informação e cultura. O terceiro fato apontado por Merazzi menciona o momento vivido (1999), no qual os professores se encontram com uma nova fonte de mal-estar ao pretenderem definir o que devem fazer, que valores vão defender; porque na atualidade perdeu-se o antigo consenso, ao que se sucedeu um processo de socialização conflitivo e fortemente divergente. Tedesco (2012) acrescenta aos três fatos causadores de mal-estar, apontados por Merazzi (1983) apud Esteve (1999), a questão da representação social segundo a qual a profissão docente sofreu um profundo processo de desprestígio, associado à desmoralização. Essas percepções contribuem para a massificação da profissão docente, como um fator significativo para a explicação do processo de deterioração da imagem do trabalho do educador, inclusive, por meio da expansão da cobertura escolar, pois com o intuito de melhorar a acessibilidade às escolas em determinadas regiões ou 14 grupos desfavorecidos, o magistério passou a ser, em diversos países, o principal setor do emprego público. Além da massificação, merece destaque a ampliação das possibilidades de trabalho para as mulheres, uma vez que, tradicionalmente, a docência era quase que a única possibilidade de carreira para as mulheres de classe média e alta. Atualmente, há uma grande variedade de setores do mercado de trabalho para as mulheres, que vão além da docência. Tedesco (2012) ainda associa a questão do desprestígio a estudos em diferentes regiões apresentando pontos comuns, como o fato da escolha da carreira docente ocorrer entre jovens de baixo desempenho acadêmico na escola secundária, ou que não obtiveram sucesso em alguma carreira, “ou ainda, que realizam sua formação para a docência paralelamente a outra carreira de maior prestígio, abandonando a docência tão logo possam exercer outra profissão” (p. 17). Percebe-se que esses estudos apontam a carreira docente como alternativa profissional provisória, como possibilidade viável em um determinado momento, desconsiderando, por vezes, as habilidades importantes ao exercício profissional do educador. Compreendendo os fatores associados às novas exigências ao trabalho docente, Silva (2010), em estudo sobre mal-estar docente em profissionais do Distrito Federal, faz um levantamento teórico apontando as contribuições de Severino e Pimenta (2003) ao afirmar que na sociedade brasileira contemporânea são acrescidos novos papéis ao trabalho do professor, exigindo-se que: exerçam as funções da família e outras instâncias sociais; atendam às necessidades de afeto dos alunos; resolvam as questões de violência, drogas e de indisciplina; restaurem a importância do conhecimento; e possuam saberes e conhecimentos que possibilitem à eles enfrentar desafios cada vez mais exigentes. Assim, Freitas (2006) acrescenta que essas novas demandas ao trabalho do professor podem causar a perda de identidade e, considerando que o processo educacional deixa de ser o centro, o docente passa a desenvolver atividades de assistente social, enfermeiro, psicólogo e outros, indo muito além de sua formação inicial. O estudo de Freitas (2006) também merece destaque por contribuir para o mapeamento do sofrimento no trabalho docente, ao investigar o processo de saúdeadoecimento dos professores que atuam em ambiente virtual. A amostra estudada foi composta de docentes que atuam na educação à distância mediada pela Internet, em 15 instituições de ensino superior, públicas e privadas, localizadas no Distrito Federal, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul. A pesquisa revelou que os professores experimentam prazer e sofrimento concomitantemente no trabalho. Vivenciam o prazer no orgulho pelo trabalho em uma área nova, pelo sentimento de serem valorizados pela instituição, pela autonomia para organizar o horário e as tarefas, pela confiança nos colegas e pela boa relação com os alunos. Já o sofrimento refere-se à auto-exigência no atendimento dos alunos, falta de autonomia para o planejamento dos conteúdos e atividades e estresse pelo intenso trabalho no computador. Assim, o estudo propõe que, não necessariamente, o progresso tecnológico e o consequente uso de novas tecnologias, tendem a proporcionar o aumento da saúde no trabalho. Nesse sentido, fica clara a importância de se compreender as representações que o próprio docente tem diante de seu trabalho, dos novos desafios e das exigências que lhe são colocadas para compreender a relação de vivência de prazer e sofrimento construído pelos profissionais no exercício da docência. 2.2 – Trabalho: vivências de prazer e sofrimento De acordo com Ferreira (2003) o termo trabalho, do latim tripalium, se origina no final da Idade Média na Europa, inicialmente associado ao conceito de sofrimento e sacrifício. O termo tripalium foi utilizado para explicação de uma máquina composta de três paus que era utilizado para dominar os cavalos que não se queriam deixar ferrar. No entanto, o sentido do termo foi modificado, saindo da imagem inicial de sofrer, para a ideia de esforçar-se, lutar e por fim, trabalhar, como uma atividade produtiva do ser humano. Ainda segundo Ferreira (2003), estudos antropológicos apresentam que a noção de trabalho em certas sociedades aparece com uma pluralidade de designações, ora com uma diversidade de palavras para designar o termo (na Grécia: ponos – esforço; ergon, ergasia - tarefa, obra; technê – conhecimento técnico especial; na Roma antiga: opus – trabalho efetuado; opera – atividade de trabalho; labor – trabalho militar, agrícola de parto), ora com distintas acepções daquela adotada nas sociedades capitalistas (na tribo amazônica colombiana: paa-rike- trabalho de feiticeiro; dialeto asteca: tequilt – trabalho de Deus, trabalho do homem...), e ora desprovida de significações de valorização ou desvalorização. É válido pontuar que, mesmo antes do verbete trabalho, o ser humano já desempenhava um conjunto de atividades destinadas a garantir sua sobrevivência 16 material, espiritual ou social. Assim, o “trabalho, enquanto atividade central é fundador da própria existência humana” (p.11). A categoria trabalho se faz presente também nas obras de Karl Marx. Soares (2009) apresenta uma breve explanação acerca do sentido do trabalho para Marx, indicando que o trabalho é, em gênese, o modo pelo qual seres humanos produzem a sua humanidade. O trabalho para Marx é, portanto, o elemento mediador da relação entre ser humano e natureza, independentemente de qualquer forma social determinada. Ao trabalhar, ao agir de forma intencional e consciente sobre a natureza com o propósito de transformá-la para atender as suas necessidades, os seres humanos se diferenciam dos animais e produzem histórica e coletivamente a sua cultura, ideias, crenças, valores, enfim, o conhecimento acerca da realidade. Grande (2010) menciona os estudos de Jacques (2002) acerca da compreensão histórica do trabalho. Para a autora, a tradição judaico-cristã contribuiu de tal forma no sentido de fortalecer a ideia de trabalho como castigo, que até mesmo tentativas posteriores de elevar o trabalho a categoria de purificador, defendidas pela escolástica daquela tradição, não conseguiram apagar do imaginário ocidental a associação entre trabalho e sofrimento. Por mais que Michel Foucault não tenha considerado a categoria trabalho em primeira ordem em suas publicações, o assunto é facilmente contemplado, mesmo que de forma marginal em suas obras. Em Vigiar e Punir: o nascimento da prisão, livro originalmente publicado em 1975 por Michel Foucault, por exemplo, é abordada a atuação dos mecanismos de normalização que funcionam dentro das unidades produtivas. O corpo é investido por relações de poder e dominação; mas em compensação sua constituição como força de trabalho só é possível se ele está preso num sistema de sujeição (onde a necessidade é também um instrumento político cuidadosamente organizado, calculado e utilizado); o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo corpo produtivo e corpo submisso (FOUCAULT, 1987 IN BATISTA & GUIMARÃES, 2009). O trabalho se mostra, então, como algo que atua diretamente na subjetivação do homem, já que o corpo apenas se apresenta como produtivo se torna um corpo submisso, agregando, portanto valores enobrecedores do homem. Batista e Guimarães (2009) apresentam contribuições no sentido de compreender a categoria trabalho por meio das concepções de Foucault. Os autores afirmam que é possível entender a articulação entre discurso acerca do trabalho e efeitos normativos engendrados por esse discurso, uma vez que os novos procedimentos de poder se 17 aplicam em níveis e formas diversas, encontrando-se para além do âmbito da produção, econômico ou mesmo do Estado. Assim, deve-se pensar no homem trabalhador para além das esferas econômicas, mas refletir acerca daquilo que afeta o homem no que tange o conjunto dos efeitos imprimidos aos corpos, aos comportamentos e às relações sociais por determinados aparelhos reguladores. Em relação ao trabalho atual, Mendes (2007) aponta os estudos de Dejours ao alegar que as novas formas de organização do trabalho revelam um modo de dominação social muito mais sofisticado e difícil de ser identificado, trazendo, por exemplo, uma banalização das injustiças e do mal, e ocasionando o surgimento de patologias sociais, exigindo dos trabalhadores a recomposição das defesas para dar conta do sofrimento que se instala. Assim, o sofrimento apresenta-se como uma reação da resistência e da insistência em viver em um ambiente precarizado; já a busca pelo prazer, via ressignificação do sofrimento, é o caminho que o trabalhador encontra para a estabilidade sociopsíquica e como possibilidade de expressar sua subjetividade de modo autêntico. Compreende-se, assim, que o prazer emerge quando o trabalho cria identidade, permitindo a elaboração de um fazer específico, por meio de criação, inovação e desenvolvimento de novas estratégias para a execução de uma tarefa. Mendes (2007) acrescenta que é possível vivenciar prazer mesmo em contextos precarizados, desde que seja possível ao trabalhador o desenvolvimento de três importantes ações, a saber: mobilização da inteligência prática, do espaço público da fala e da cooperação. Apontase que esse investimento para o desenvolvimento das três ações deve ser inserido num coletivo, já que, mesmo ocorrendo os investimentos individuais, estes não são suficientes para alterar a realidade do trabalho. Pensando em situações de vivências de sofrimento, Dejours (1982) em palestra proferida a trabalhadores, como parte de um ciclo de debates promovido pela Federação dos Trabalhadores da Metalurgia, da Confederação dos Trabalhadores Francesa propõe que, de acordo com a psicodinâmica do trabalho, quando se está numa situação de sofrimento psíquico no trabalho, com perda de entusiasmo, os trabalhadores encontram-se numa situação perigosa não somente para a cabeça, como também para o corpo, de modo que quando encontra-se em uma situação durável, em que não há mais desejo, o corpo pode adoecer mais facilmente. Nesse mesmo sentido, em uma visita ao Brasil, em julho de 1984, participando de um Colóquio Franco-Brasileiro sobre Divisão do Trabalho e Divisão dos Riscos de Saúde, Dejours destaca diante à fala dos brasileiros 18 deterem-se muitas vezes à questões primárias, que os trabalhadores do nosso país “estão sendo atingidos tanto em sua integridade física quanto psíquica, não havendo quem possa dizer que danos físicos causem mais sofrimento que danos mentais e que, portanto, sejam uns mais relevantes que outros” (1982, p. 7). Dejours afirma que as construções de prazer ou sofrimento ocorrem no âmbito dos sentimentos. Assim, trata o sofrimento como um espaço clínico intermediário que marca a evolução de uma luta entre funcionamento psíquico e mecanismo de defesa por um lado e pressões organizacionais desestabilizantes por outro lado, com o objetivo de conjurar a descompensação e conservar, apesar de tudo, o equilíbrio possível, mesmo se ele ocorre ao preço de um sofrimento, com a condição de que ele preserve o conformismo aparente do comportamento e satisfaça aos critérios sociais de normalidade (DEJOURS, 2004, p. 148.) Desta forma, pensar o trabalho do profissional docente diante de todas as pressões organizacionais requer a sensibilidade para as possibilidades que este educador tem de poder ver-se influenciado a manter-se em equilíbrio, mesmo que aparente, como forma de se enquadrar nos padrões de estabilidade emocional, mesmo diante dos desgastes físicos e psíquicos enfrentados no contexto escolar. Mendes (2007) acrescenta que a percepção de prazer e sofrimento acontece por meio de uma atribuição de sentido, construída baseada na relação que o sujeito trabalhador tem com sua realidade de trabalho, expressando-se nas formas de pensar, sentir e agir, individuais ou coletivos. Deste modo, o processo de atribuição de sentido vem como um instrumento de mediação entre o mundo real, vivido e o mundo interno, interpretado pelos sentidos do trabalhador. Assim, a partir desse processo de construção de sentido e através da interpretação que o trabalhador faz da sua organização de trabalho, que a realidade social do trabalhador é construída. Destaca-se que esse constructo vem por meio da representação social, que é produtora de novos comportamentos e de novos significados a realidade do trabalhador. 2.3 – Teoria das Representações Sociais A Teoria das Representações Sociais foi formulada e desenvolvida pelo psicólogo francês Serge Moscovici, a partir de seus estudos publicados em 1961, intitulado La psychanalyse, son image et son public, com objetivo de socializar a psicanálise, sua apropriação pela população parisiense, além do processo de sua transformação para servir a outros usos e funções sociais. Iniciando assim, o desenvolvimento de uma psicossociologia do conhecimento (SPINK, 1995). 19 Segundo Spink (1995), Moscovici declarava que sua ambição era redefinir os problemas e os conceitos da psicologia social a partir de um campo específico de estudo. Esta vertente proposta por Moscovici criticava a tradição norte-americana dominante, por preocupar-se basicamente com “os processos psicológicos individuais enquanto influenciados por algo tão vagamente social” (p. 20). Com o intuito de confrontar a perspectiva individualista instalada na psicologia social, Moscovici buscou, na tradição sociológica de Durkheim, o conceito de representações coletivas, entendidas pelo sociólogo como, Produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no tempo; para fazê-las, uma multidão de espíritos diversos associaram, misturaram, combinaram suas idéias e sentimentos; longas séries de gerações acumularam aqui sua experiência e saber. (DURKHEIM IN SPINK, p. 21, 1995). Contudo, a busca de Moscovici pela sociologia durkheimiana mostrou-se insuficiente ou inadequada para os propósitos de situar a psicologia nesse território limítrofe, em que se desenvolvem fenômenos de natureza dupla – psicológica e social. Desse modo, o autor propôs a necessária articulação entre diferentes questões e objetos, de forma a obter contribuições com informações e julgamentos valorativos colhidos nas mais variadas fontes e experiências pessoais e grupais. Formulando desta maneira, a Teoria das Representações Sociais como conjunto de conceitos, explicações e afirmações pelas quais se procede à interpretação e mesmo à construção das realidades sociais. Moscovici (2005) apresenta uma definição para representação social, como sendo (...)um sistema de valores, ideias e práticas, com dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambigüidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social. (2005, p. 21). Mais adiante, Denise Jodelet, principal colaboradora e continuadora dos trabalhos de Moscovici, elabora uma definição acerca das representações sociais, sendo uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Assim, compreende-se que as representações sociais são fenômenos sociais que, mesmo acessados a partir do seu conteúdo cognitivo, têm de ser entendidos a partir do seu 20 contexto de produção, a partir das funções simbólicas e ideológicas a que servem e das formas de comunicação nas quais circulam (JODELET, 2002). De acordo com Melo e Carvalho (2012), o estudo das representações sociais assume maior importância no campo educacional em geral, por permitir o acesso ao saber prático das representações partilhadas no grupo, constituindo-se tanto referência comum a todos, quanto apoiando e imprimindo a identidade e o sentido à prática social. Acrescenta-se ainda, que essa fundamentação teórica contribui não apenas para a compreensão das relações sociais estabelecidas em âmbito escolar, mas também para as representações de trabalho, prazer e sofrimento construídas socialmente pelos professores. Uma vez que se entende o significado que o sujeito constrói acerca do trabalho, implicar na sua relação de vivência de prazer e/ou sofrimento. Neste sentido, o mais importante é notar que as representações são construtos sociais, e como tal, estão em constante movimento e transformação, da mesma forma que toda construção humana. A partir da formulação inicial da teoria, o processo de construção das representações sociais inclui dois mecanismos básicos: a ancoragem e a objetivação. A ancoragem refere-se a classificar e nomear algo ou alguém. De acordo com Jodelet (1984, apud Sá 1993, p. 37) a ancoragem é a integração cognitiva do objeto representado a um sistema de pensamento social preexistente e nas transformações implicadas. Esse conceito refere-se a representações existentes que acolhem novas representações, ancorando a representação social e seu objeto, através da classificação e denominação. Já a objetivação refere-se ao tornar real “um esquema conceptual, com que se dê a uma imagem uma contrapartida material, resultado que tem, em primeiro lugar, flexibilidade cognitiva” (Moscovici, 1978 in Melo e Carvalho, 2012, p. 95). De forma que, por meio da objetivação, algo imaterial passa a ter em contato com a realidade, uma imagem concreta, constituindo-se num processo de concretização para a realidade. Considerando as representações sociais como construções altamente complexas, devido a sua constituição histórica e de saber prático, a teoria do núcleo central, proposta por Abric, vem atender a proposta de mapear as regularidades e organizar as representações em torno de um núcleo central, constituindo-se de outros elementos que o significam. Segundo Melo e Carvalho (2012), a teoria do núcleo central assegura à representação duas funções básicas que traduzem as normas e condutas sociais vigentes em um grupo: a função geradora e a função organizadora da representação. A função 21 geradora refere-se ao elemento que identifica e significa outros elementos que integram a identificação de uma representação social. Já a função organizadora da representação refere-se à continuidade ou permanência de uma representação, unificando os elementos entre si de maneira coerente e estável. 22 3. OBJETIVOS 3. 1 – Objetivo Geral Analisar quais são as representações sociais construídas pelo corpo docente acerca do trabalho. 3. 2 – Objetivos Específicos Compreender o significado do trabalho entre o corpo docente. Caracterizar situações associadas às vivências de prazer e sofrimento no trabalho. Identificar os elementos das representações sociais do corpo docente sobre trabalho. 23 4. DELINEAMENTO METODOLÓGICO A metodologia escolhida para a realização deste trabalho consiste na pesquisa com enfoque qualitativo, o que permite um processo dialógico orientado ao envolvimento ativo dos participantes da pesquisa, condição essencial para que os sentidos subjetivos possam emergir no processo (González Rey, 2005, 2010). Acrescenta-se que o estudo se fundamenta na Teoria das Representações Sociais, adotando a abordagem estrutural da Teoria do Núcleo Central proposta por Jean-Claude Abric. Nessa perspectiva, a representação é tida como um sistema composto de dois subssistemas, de acordo com Abric (1998), sendo: Núcleo Central (NC) e Sistema Periférico (SP). O Núcleo Central constitui-se de um número reduzido de elementos, responsável pelo significado, organização interna, estabilidade e permanência da representação, enfim, resulta da memória coletiva do grupo. Já o Sistema Periférico, constitui-se pelos demais elementos da representação e é dotado de grande flexibilidade, com as seguintes funções: formula a representação em termos concretos e compreensíveis; adapta as representações às mudanças no contexto; permite modulações individuais relacionadas à história de vida de cada um; permite o funcionamento da representação como guia de leitura de uma dada situação; e protege o Núcleo Central, absorvendo e reinterpretando as mudanças nas situações concretas. A coleta de dados envolveu um instrumental consolidado nos estudos da Teoria do Núcleo Central, que consistiu de um questionário para identificação dos sujeitos e o uso da técnica projetiva de evocação de palavras para acessar os elementos estruturantes de uma representação. A tentativa de acessar a subjetividade das representações exige atenção às relações estabelecidas, em que o movimento dialético e o respeito ao conteúdo exposto, quanto ao trabalho docente será priorizado. O estudo não busca uma verdade absoluta, até mesmo por considerar as multicausalidades presentes no campo de pesquisa, mas propicia uma produção reflexiva sobre os fenômenos evidenciados em dado momento estudado. 4. 1 – Participantes Por meio de uma amostra randômica foram selecionados trinta professores, com tempo de exercício docente compreendido entre 5 e 15 anos, de ambos os sexos, de uma 24 escola pública de Ensino Fundamental – Anos Iniciais da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. 4. 2 – Local A pesquisa foi realizada em uma escola pública de Ensino Fundamental – Anos Iniciais da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. A nomenclatura Anos Iniciais é utilizada para designar uma das fases na qual o Ensino Fundamental está dividido – Anos Iniciais (do 1º ao 5º ano) e Anos Finais (do 6º ao 9º ano). Os dados referentes ao local de pesquisa foram colhidos a partir de análise documental. A instituição foi inaugurada em janeiro de 2007 e atualmente atende cerca de mil e duzentos alunos, divididos em dois turnos: matutino e vespertino, totalizando cinquenta turmas. O quadro de funcionários da escola encontra-se composto da seguinte forma: um diretor; um vice-diretor; dois supervisores; um chefe de secretaria; cinco funcionários da carreira assistência; seis coordenadores; cinqüenta professores; um monitor; quatro merendeiras (empresa terceirizada); doze funcionários da limpeza (empresa terceirizada); quatro vigilantes (empresa terceirizada); uma orientadora educacional; um psicólogo; duas pedagogas; uma psicopedagoga; e seis monitores da Educação Integral. 4. 3 – Procedimento de coleta de dados O presente instrumento pretendeu coletar dados que permitissem analisar quais são as representações sociais construídas pelo corpo docente sobre o trabalho. Antes de iniciar a coleta de dados, foi apresentado aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (Anexo I). O TCLE se constitui de um documento necessário em toda pesquisa efetuada com seres humanos, que ao ser assinado, autoriza o pesquisador a realizar os procedimentos previstos na metodologia. O TCLE deve ser redigido em linguagem clara, acessível e objetiva ao participante da pesquisa, ou ao seu responsável legal. Tem como objetivo esclarecer e proteger o sujeito participante da pesquisa, além do próprio pesquisador, pois por meio deste se manifesta o respeito à ética no decorrer do trabalho (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, RESOLUÇÃO Nº 466/12). A coleta de dados foi realizada com base na aplicação de um questionário para identificação dos sujeitos e evocação livre de palavras (Anexo II), no qual foram solicitadas a evocação de no mínimo cinco palavras que lhe ocorriam à mente de forma 25 espontânea e imediata em relação ao termo indutor “trabalho”. Em seguida, foi solicitado que entre as cinco palavras fossem indicadas duas palavras mais significativas ao participante da pesquisa, acompanhada de explicação acerca do significado das palavras pontuadas como as mais importantes, a fim de aprofundar a compreensão dos elementos da representação social das variáveis investigadas. Por fim, foi solicitado ao participante que escrevesse situações que considera de prazer e sofrimento em seu exercício docente. Desta forma, por meio do termo indutor pode-se colocar em evidência universos semânticos de palavras que se agrupam por determinadas populações, permitindo a atualização de elementos implícitos ou latentes que seriam perdidos ou mascarados nas produções discursivas (ABRIC, 1998). O trabalho de análise dos questionários baseado em Abric (1998) utiliza como fundamento a idéia que toda representação está organizada em torno de um núcleo central, o princípio organizador dos elementos da representação e que lhe dá sentido. Assim, a partir do cruzamento de dados de freqüência e ordem de evocação dos termos, permitiu-se identificar o que é central e periférico na perspectiva dos docentes acerca de suas representações sobre trabalho. A aplicação dos questionários realizou-se na sala dos professores de uma escola pública de Ensino Fundamental – Anos Iniciais da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. 4. 4 – Instrumentos Para acessar os elementos constitutivos ou o conteúdo de uma representação foi aplicado pela entrevistadora um questionário de identificação dos sujeitos, seguido do Questionário de Evocação Livre de Palavras - EVOC (instrumento foi analisado pelo software EVOC versão 2003). 4. 5 – Procedimento de análise de dados A análise dos dados foi realizada em duas etapas: Etapa 1 – Procedimento de sistematização e análise dos dados de identificação. Esta etapa constituiu-se em análise descritiva com o auxílio do programa Microsoft Excel 2010 para manipulação dos dados e elaboração de tabelas. O objetivo dessa etapa foi a demonstração do perfil dos docentes participantes. As variáveis quantitativas relacionadas à identificação dos sujeitos participantes da 26 pesquisa (idade, sexo, estado civil, curso de graduação, nível de escolaridade, tempo de docência e tempo de docência na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal) constam em tabela com frequência e percentual na apresentação dos resultados. Etapa 2 – Procedimento de análise dos questionários de evocação livre de palavras. Os dados do questionário de evocação foram analisados dentro dos critérios do software EVOC 2003, criado pelo psicólogo suíço Vergès que, mediante uma série de passos de organização e hierarquização das palavras, separa os elementos que compõem o provável núcleo central dos elementos periféricos da representação, definidos a partir da intersecção. Dessa maneira, torna-se possível levantar os conteúdos e a estrutura das representações sociais dos docentes acerca do trabalho e consequente delimitação do que se constituiria o núcleo central e os elementos periféricos dessa representação. Simoneau & Oliveira (2011) defendem a utilização da evocação livre de palavras em pesquisas com representações sociais para a coleta de elementos constitutivos do conteúdo e da estrutura de uma dada representação. As pesquisadoras ainda destacam Oliveira (2005), ao afirmar que o uso dessa técnica em pesquisas científicas se justifica a duas razões principais: A primeira, por possibilitar a apreensão das projeções mentais de maneira descontraída e espontânea, revelando inclusive os conteúdos implícitos ou latentes que podem ser mascarados nas produções discursivas; a segunda, pelo fato de se obter o conteúdo semântico de forma rápida e objetiva, reduzindo as dificuldades e os limites das expressões discursivas convencionais. (OLIVEIRA, 2005 IN SIMONEAU & OLIVEIRA, 2011, p.05) A partir do cruzamento entre as frequências e as ordens médias de evocação, os resultados apontam elementos supostamente pertencentes ao núcleo central e periférico da representação social. Os resultados são apresentados em quatro quadrantes organizados em dois eixos: horizontal, que indica a freqüência dos termos evocados e vertical, que indica a ordem média de evocação dos termos, conforme mostra o Quadro do Quadrante das Quatro Casas. 27 Quadro 1 - Quadrante das Quatro Casas – Modelo de Análise das Evocações Frequência Ordem Média de Evocações 1º Quadrante 2º Quadrante Núcleo Central Sistema periférico – ATRIBUTOS COM ALTA 1ª periferia FREQUÊNCIA E ATRIBUTOS COM ALTA PRONTAMENTE EVOCADOS FREQUÊNCIA E TARDIAMENTE EVOCADOS 3º Quadrante 4º Quadrante Sistema periférico – Periferia distante – Zona de Contraste 2ª Periferia ATRIBUTOS COM BAIXA ATRIBUTOS COM BAIXA FREQUÊNCIA E FREQUÊNCIA E PRONTAMENTE EVOCADOS TARDIAMENETE EVOCADOS Fonte: Paixão(2009 In Neris, 2012) Para o processo de interpretação foram adotadas as orientações de Melo & Carvalho (2012), Neris (2012) e Simoneu & Oliveira (2011): No 1º quadrante - superior esquerdo, apresentam-se as evocações de maior frequência e de menor ordem média, que foram evocadas mais vezes e nas primeiras posições, mais próximas de 1. É nesse quadrante que se encontra o provável núcleo central, cujos elementos não se modificam, a não ser que a representação seja transformada. O 4º quadrante - inferior direito é o oposto do anterior, porque encontram-se as palavras com baixa freqüência e ordem de evocação mais distante do 1, caracterizando a segunda periferia. Os dois últimos quadrantes (o quadrante superior direito e o quadrante inferior esquerdo) podem estar mais próximos tanto da esfera central, quanto da esfera periférica, também denominada de periferia próxima. No 2º quadrante - superior direito, encontram-se as palavras com alta freqüência e ordem de evocação mais distante do 1, caracterizando a primeira periferia. No 3º quadrante inferior esquerdo, situam-se os elementos de contraste, encontrando-se palavras com baixa frequência e ordem de evocação mais próxima do 1, são de mais difícil 28 interpretação, podendo indicar mudanças em curso na representação ou existência de subgrupos. Bardin (2009) apresenta a análise de conteúdo se organizando em três momentos: pré-análise, exploração do material e apresentação dos resultados. Na pré-análise, que é a fase de organização do material, há também a divisão em três etapas: leitura flutuante com o objetivo de estabelecer contato com o material discursivo; seleção de material a ser analisado por categorias; e a análise de conteúdo buscando revelar o que aparentemente se esconde. Assim, antes da análise do conteúdo propriamente dita, deve-se realizar a análise por categorias, ou categorização. A qual pode ser entendida como classificação de elementos que compõem um conjunto por diferenciação, seguido de um reagrupamento efetuado em razão de características comuns a estes elementos. Bardin (2009) explica que, para a elaboração de categorias de boa qualidade, algumas questões devem ser observadas, como a exclusão mútua, a homogeneidade, a pertinência, a objetividade, a fidelidade e a produtividade. 29 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO O perfil da amostra pesquisada foi composta por trinta adultos, docentes de uma escola pública de Ensino Fundamental – Anos Iniciais da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. As variáveis quantitativas foram: sexo, idade, estado civil, curso de graduação, nível de escolaridade, tempo de docência e tempo de docência na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Os resultados dos dados de identificação dos sujeitos foram coletados a fim de delinear as situações sociais dos participantes da pesquisa. A frequência e o percentual do perfil dos participantes de acordo com os dados coletados mais relevantes seguem no quadro 2. Quadro 2 – Frequência e porcentagem do perfil dos participantes IDADE Frequência % SEXO Frequência % 25 – 30 6 20,00% M MASCULINO 31 – 35 12 40,00% F FEMININO 36 – 40 8 26,67% 41 – 45 4 13,33% ESTADO CIVIL 46 – 50 0 0,00% C CASADO 17 56,67% S SOLTEIRO 11 36,67% % D DIVORCIADO 1 3,33% V VIUVO 1 3,33% TEMPO DE DOCÊNCIA 01 – 05 Frequência 5 16,67% 25 83,33% Frequência % 4 13,33% 06 – 10 10 33,33% 11 -15 16 53,33% CURSO DE GRADUAÇÃO Frequência 16 – 20 0 0,00% P PEDAGOGIA 21 – 25 0 0,00% L LETRAS 2 6,67% 26 – 30 0 0,00% B BIOLOGIA 1 3,33% F FILOSOFIA 1 3,33% % G GEOGRAFIA 1 3,33% 19 63,33% H HISTÓRIA 1 3,33% 06 – 10 5 16,67% 11 -15 6 20,00% 16 – 20 0 0,00% NIVEL DE ESCOLARIDADE G GRADUAÇÃO 21 – 25 0 0,00% P 26 – 30 0 0,00% M TEMPO DE DOCÊNCIA NA SEEDF 01 – 05 Frequência PÓSGRADUAÇÃO: ESPECIALIZAÇÃO PÓSGRADUAÇÃO: MESTRADO % 24 80,00% Frequência % 14 46,67% 14 46,67% 2 6,67% 30 Contou-se com a participação de trinta (30) sujeitos para a realização da pesquisa. Professores de turmas dos anos iniciais, 25 (83,33%) do sexo feminino e 5 (16,67%) do sexo masculino, sendo 17 (56,67%) casados, 11 (36,67%) solteiros, 1 (3,33%) divorciado e 1 (3,33%) viúvo. A faixa etária variou entre 26 e 43 anos, com 20% dos participantes entre 26 e 30 anos (6 participantes do sexo feminino), 40% entre 31 e 35 anos (12 participantes, 9 do sexo feminino e 3 do sexo masculino), 26,67% entre 36 e 40 anos (8 participantes, 7 do sexo feminino e 1 do sexo masculino) e 13,33% entre 41 e 45 anos (4 participantes, 3 do sexo feminino e 1 do sexo masculino). Quanto ao curso de formação superior, 24 (80%) apresentam formação exclusiva em nível de graduação no curso de Pedagogia, 2 (6,67%) apresentam formação no curso de Letras, 1 (3,33%) apresenta formação no curso de Biologia, 1 (3,33%) apresenta formação no curso de Filosofia, 1 (3,33%) apresenta formação no curso de Geografia e 1 (3,33%) apresenta formação no curso de História. Destaca-se que os professores com formação em Letras, Biologia, Geografia e História apresentam o curso de Pedagogia como segunda graduação. Dentre os participantes do estudo, 14 (46,67%) possuem graduação, 14 (46,67%) pós-graduação em nível de especialização e 2 (6,67%) pós-graduação em nível de mestrado. O critério tempo de docência selecionado para o trabalho compreende de 5 a 15 anos, assim, dentro do grupo há 4 (13,33%) professores com 5 anos, 10 (33,33%) professores entre 6 e 10 anos e 16 (53,33%) professores entre 11 e 15anos de docência. Para o critério tempo de docência na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal tem-se 19 (63,33%) profissionais com até 5 anos, 5 (16,67%) profissionais entre 6 e 10 anos e 6 (20%) profissionais entre 11 e 15 anos de docência. O segundo momento foi marcado pela análise dos dados fornecidos pelos questionários de associação livre de palavras sistematizado pelo software EVOC (Ensemble de programmes permettant I’analyse dês evocations) - versão 2003 desenvolvida por Vergès no ano de 2000, para compreensão do Núcleo Central e Periférico. De acordo com Melo e Carvalho (2012) o instrumento descreve o conteúdo e a estruturação da representação de trabalho pelos sujeitos docentes participantes da pesquisa. Para a análise do teste de evocação livre de palavras foi utilizada a teoria do núcleo central das representações sociais, por esta permitir o cruzamento de dados referentes à freqüência (f) e à ordem média de evocação (OME), possibilitando a 31 identificação do que é central e periférico nas representações sociais na perspectiva de docentes em relação ao trabalho. A aplicação dessa técnica constituiu em solicitar aos sujeitos que evocassem no mínimo cinco palavras que lhes ocorressem imediatamente à mente sobre o termo indutor: trabalho. A seguir serão apresentados os resultados e as análises referentes aos elementos das representações sociais, coletadas através do programa EVOC. Quadro 3- Elementos da representação social, com termo indutor: Trabalho. OME <= 4 Freq. Med. OME > 4 Termo Freq. OME evocado 1º Quadrante - Núcleo Central 2º Quadrante – 1ª Periferia Alta frequência e pronta evocação Alta frequência e tardia evocação Trabalho Alegria 4 3,25 3 5,00 árduo Amor 9 1,89 Aprendizado 3 3,33 Compromisso 6 1,50 3 3,00 Freq. >= 3 Crença Dedicação 7 2,86 Desafio 3 3,00 Esperança 4 3,00 Necessidade 3 2,00 Planejamento 5 3,00 Responsabilidade 6 2,50 Vontade 3 3,33 3º Quadrante – Zona de Contraste 4º Quadrante – 2ª Periferia Baixa frequência e pronta Baixa frequência e tardia evocação evocação Acúmulo de Dinamismo 2 3,50 2 4,00 trabalho Dom 2 1,00 Avaliação 2 4,50 Ética 2 3,00 Criatividade 2 5,00 Felicidade 2 3,50 Desempenho 2 5,00 2<= Freq. <2 Formação 2 3,00 Esforço 2 4,50 Obrigação 2 2,00 Estressante 2 4,50 Prazer 2 2,50 Mudança 2 4,50 Qualidade 2 2,00 Organização 2 4,00 Realização 2 2,50 Remuneração 2 4,00 Respeito 2 3,00 Satisfação 2 2,00 Valorização 2 3,50 Termo evocado Freq. OME 32 Palavras citadas: 160 Palavras diferentes: 93 No quadro acima, observa-se que no primeiro quadrante, superior esquerdo, as evocações alegria, amor, aprendizado, compromisso, crença, dedicação, desafio, esperança, necessidade, planejamento, responsabilidade e vontade aparecem como elementos do núcleo central. No quadrante superior direito, situa-se o elemento de primeira periferia: trabalho árduo. No quadrante inferior esquerdo, situam-se as seguintes evocações compondo os elementos de contraste: dinamismo, dom, ética, felicidade, formação, obrigação, prazer, qualidade, realização, respeito, satisfação e valorização. No quadrante inferior direito, encontram-se os componentes acúmulo de trabalho, avaliação, criatividade, desempenho, esforço, estressante, mudança, organização e remuneração, que se constituem elementos da segunda periferia. Dos elementos elencados para o possível núcleo central, constatou-se que o elemento que apresentou maior freqüência de evocações e entre os termos evocados mais prontamente, foi amor. Esse elemento foi evocado nove vezes, seguido dos termos dedicação (evocado sete vezes), compromisso (evocado seis vezes), responsabilidade (evocado seis vezes), planejamento (cinco vezes), alegria (quatro vezes), esperança (quatro vezes), aprendizado (três vezes), crença (três vezes), desafio (três vezes), necessidade (três vezes) e vontade (três vezes). De acordo com Sá (1998), em análise dos elementos do núcleo central como fortemente compartilhados da representação social de um grupo, ligados a sua memória coletiva, percebe-se que os dados apresentados corroboram com pesquisas realizadas por Alves-Mazzotti (2007, 2008 in 2012) acerca da presença recorrente dos termos amor e dedicação como vinculados ao trabalho e à identidade docente. Alves-Mazzotti & Maia (2012) apresentam as contribuições de Faria Filho (2005) que chamam a atenção para a longa associação entre afetividade e feminino na representação do trabalho de professoras de anos iniciais, afirmando que essas construções foram “naturalizadas ao longo dos anos, podendo ser encontradas em documentos brasileiros desde o século XIX” (Alves-Mazzotti & Maia, 2012, p.80). As justificativas do grupo de docentes para os termos amor e dedicação perpassam um sentido além da afetividade, mas traz uma necessária motivação para a superação das dificuldades no cotidiano docente: Motivo pelo qual podemos trabalhar com alegria e motivação. Não deixar morrer o amor e o carinho pela profissão. (Professor 24) 33 O educador para exercer um bom desempenho no trabalho tem que amar o que faz e buscar sempre aprimorar seus conhecimentos, para adaptá-los as novas exigências da educação e sociedade em geral. (Professor 21) Quando assumo um trabalho me dedico ao que faço, busco fazer o melhor. Planejo e mantenho uma disciplina nas tarefas para não perder o foco. (Professor 29) A partir da observação dos elementos periféricos, Sá (1998) destaca que estes elementos têm a função de promover a adaptação à realidade concreta e proteção do núcleo central. Ainda se destacam por serem flexíveis, evolutivos e sensíveis ao contexto imediato. Em análise ao elemento mais próximo ao núcleo central, tem-se a 1ª periferia, quadrante superior direito, em que a evocação do termo trabalho árduo (evocado três vezes) confirma um posicionamento em sua maioria comum ao grupo de professores. Os dados convergem com os estudos de Freitas (2006) acerca do ritmo excessivo de trabalho dos docentes. A autora destaca que o trabalho docente inclui seleção e organização do conteúdo, reflexão sobre metodologias adequadas e construção de formas de organizar e gerenciar o processo de aprendizagem dos alunos. Assim, percebe-se a existência de um excesso de atividades que os professores precisam realizar para conseguir êxito em sua prática pedagógica, conforme uma das justificativas apresentadas pelos professores: O trabalho docente é desgastante e árduo não somente em sala de aula, mas também fora dela. São cursos, planejamentos, questões burocráticas e relações sociais com pais, que consomem as emoções do professor. (Professor 14) Em relação aos elementos constituintes da zona de contraste, quadrante inferior esquerdo, verifica-se que apresentam baixa frequência, mas prontamente evocados. De acordo com Abric (1998) este quadrante pode revelar tanto a existência de um subgrupo, com uma representação diferente, como pode ser composto de elementos complementares à 1ª periferia. Especificadamente, estes docentes apresentaram, em sua maioria, a existência de uma representação pautada mais em aspectos positivos, adotando uma diferenciação em relação ao conteúdo do núcleo central, com representações de trabalho que se seguem: dinamismo, dom, ética, felicidade, formação, obrigação, prazer, qualidade, realização, respeito, satisfação e valorização, tendo sido todos os elementos evocados duas vezes, mas prontamente evocados. 34 Quando não há o dom e nem a dedicação o trabalho não atinge sua excelência e com isso as frustrações aparecem. (Professor 22) Acredito que a felicidade é o fim último do ser humano e, portanto, quanto mais feliz estivermos naquilo que fizermos melhor é o resultado que obtemos. Entendo por felicidade a superação de todas as fases de nossa vida, evoluindo como seres humanos e, muitas vezes, ultrapassando por momentos bons e ruins onde pressupõe-se algum sofrimento no processo da procura desta. Esta dicotomia está presente em todos os processos da vida. Em contrapartida, minhas frustrações não podem interferir na realização da felicidade do outro que seria o seu crescimento humano e social. (Professor 9) Freitas (2006) destaca que o trabalhador, a partir de sua intersubjetividade, procura construir suas estratégias de defesa para suportar o sofrimento gerado no trabalho. Assim, percebe-se que a justificativa de que a ausência de dom e dedicação são as responsáveis pelo aparecimento das frustrações aparecem como estratégias de defesas. Ao utilizar essas defesas, o docente pode neutralizar o sofrimento, e seguir por um processo de alienação, dificultando mudanças reais nas situações de trabalho. No quadrante inferior direito, os elementos mais distantes do núcleo central, compõem dados importantes das representações sociais, pois se relacionam à questões práticas da vida cotidiana, de acordo com Flament (2001) citado por Neres (2012). Para o grupo de docentes, apresenta-se nesse quadrante elementos relacionados, prioritariamente, aos aspectos desfavoráveis do trabalho, como acúmulo de trabalho, avaliação, necessária criatividade e organização, altos níveis de desempenho e esforço, aspectos estressantes, adaptação a mudança e baixa remuneração, todos esses aspectos tendo sido evocados duas vezes e tardiamente. Vivemos em um mundo capitalista em que há necessidade de se gerar bem financeiro para se manter e a responsabilidade na busca do desenvolvimento de um trabalho eficiente e eficaz. (Professor 13) A valorização dos professores(as) é condição necessária e primordial para que educação formal avance em termos qualitativos. OBS: valorização financeira e valorização das condições de trabalho (melhorar as condições de trabalho). (Professor 5) O professor precisa ser mais valorizado e respeitado, pois ainda é visto como um mero transmissor de conhecimento. Educar é um ato de amor, porém é preciso que as condições de trabalho favoreçam a aprendizagem e a prática docente. (Professor 19) Entretanto, o fato de esses elementos se posicionarem distantes do núcleo central não deve ser menosprezado para a análise, uma vez que podem se constituir como estruturantes para o não adoecimento dos sujeitos. Aspectos como acúmulo de trabalho, estressante e remuneração são claramente apontados como favoráveis às vivências de 35 sofrimento no ambiente de trabalho e potencialmente causadores de adoecimento nos sujeitos. Contudo, a instituição deve atentar-se também aos termos criatividade, organização e mudança como uma forma de se colocar em prática a inteligência criativa do trabalhador, ressignificando, dessa forma, o sofrimento. Neste sentido, Mendes (2008) aponta que quando o sujeito trabalhador entende o trabalho apenas como um meio de subsistência, este não o satisfaz. Assim, é necessário que o sujeito compreenda e vivencie o trabalho como expressão de sua subjetividade e tenha o controle das causas do que lhe faz sofrer, para que desta maneira, possa se colocar “como sujeito profissional e social e ter no trabalho uma das fontes de prazer” (p. 11). Em complemento à análise dos cruzamentos de dados entre freqüência e ordem média de evocação, buscou-se apreciar também o material discursivo acerca das justificativas dos elementos evocados como representações sociais a partir do termo indutor trabalho, assim como das descrições dos momentos em que o trabalho proporciona momentos de prazer e sofrimento para os docentes. Sá (1998) traz sua contribuição afirmando que a teoria geral das representações sociais não se vincula obrigatoriamente a nenhum método, mas que dado a origem dos objetivos cabe empregar os métodos que sejam mais apropriados. Nesse sentido, a utilização de entrevistas complementares a partir da teoria do núcleo central encontra uma forma privilegiada e indispensável de acontecer para qualquer pesquisa sobre representações sociais. O mesmo autor aponta que a prática articulada mais comumente utilizada em pesquisa das representações sociais combina os dados coletados por meio de entrevista com a técnica de análise de conteúdo para o tratamento do material verbal, proposta por Laurence Bardin (Sá, 1998). Assim, para a análise do material discursivo acerca das justificativas e descrições dos momentos em que o trabalho proporciona momentos de prazer e sofrimento no exercício profissional de docentes foi utilizada a análise de conteúdo, por meio do estabelecimento de categorias criadas a partir das respostas dos sujeitos, segundo Bardin(2009). Segundo Bardin (2009), a análise de conteúdo é: Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (Bardin, 2009, p. 44) 36 A autora propõe que a análise seja o recurso utilizado ao se intentar compreender o que foi dito pelos sujeitos para além dos significados imediatos, buscando um afastamento de compreensões espontâneas. A autora traz a fala de P. Henry e S. Moscovici ao afirmar que “tudo o que é dito ou escrito é susceptível a uma análise de conteúdo” (p. 34). Apresenta ainda, duas funções da análise de conteúdo, que na prática podem dissociar-se, ou não: função de enriquecer a tentativa exploratória e a função de verificação ou confirmação de hipóteses. A partir da leitura flutuante do material discursivo dos participantes, foi possível elaborar categorias que representam as concepções dos docentes acerca do trabalho e dos momentos em que o trabalho proporciona vivências de prazer e sofrimento no exercício profissional. Segue as categorias elaboradas em relação às representações sociais de docentes acerca do trabalho. Categorias Sentimento Elementos Amor, dedicação, satisfação, alegria, gratificante, motivação, árduo, orgulho, valorização, importante, preocupação, dignidade, insatisfação, diversão, tristeza, disposição, ansiedade, sem arrependimento e tranqüilidade. Atitude Compromisso, responsabilidade, eficiência, qualidade, criatividade, respeito, organização, esforço, dinamismo, ética, perseverança, persistência, paciência, flexibilidade, disciplina, doação, capacidade, preparo, planejamento, reciprocidade, determinação e profissionalismo. Subsistência Necessidade financeira, independência, remuneração, obrigação, família, sustento e estabilidade. Desenvolvimento Socialização, aprendizagem, conhecimento, avaliação, Pessoal formação e inclusão. Contexto de Trabalho Violência, acúmulo de trabalho, condições de trabalho, falta de recursos, estressante, falta de reconhecimento, descaso, cansaço e acordar cedo. Perspectiva Esperança, desafio, crença, Deus e futuro. Função Mudança social, base do ser humano, desenvolvimento. Inato Dom, vocação. 37 O quadro acima mostra as seguintes categorias elaboradas a partir das verbalizações dos sujeitos: sentimento (apresentando 19 termos relacionados à emoções e sensações vivenciados pelos docentes), atitude (apresentando 22 termos relacionados à valores positivos), subsistência (apresentando 7 termos relacionados à recursos materiais importantes para a vida), desenvolvimento pessoal ( apresentando 6 aspectos relacionados ao desenvolvimento do potencial humano), contexto de trabalho (apresentando 9 termos relacionados à aspectos que causam incômodo na organização e condição de trabalho), perspectiva (apresentando 5 termos relacionados a uma expectativa a partir de um ponto de vista), função (apresentando 3 aspectos relacionados à finalidade do trabalho) e inato (apresentando 2 termos relacionados ao nascer com capacidade para a docência). Analisando a categoria sentimento, tem-se a contribuição de Ribeiro e Jutras (2006) ao afirmar que a expressão dos sentimentos e emoções impulsionam o desenvolvimento da dimensão afetiva no trabalho pedagógico, e trabalham como agentes de potencialização da aprendizagem cognitiva dos alunos. Amor e dedicação, por exemplo, têm sido sentimentos expressos no cotidiano docente que, para além dos benefícios ao trabalho em sala de aula, demonstram um cuidado com a formação integral dos alunos, como expressa nas falas a seguir. Uma profissão gratificante onde sinto que posso contribuir na formação de uma criança e isso me proporciona orgulho. (Professor 2) Alegria, pois a considero fundamental para a própria vida(...). (Professor 1) A categoria atitude apresentou-se composta de atitudes e valores positivos em relação ao trabalho pedagógico, como devendo ser realizado com compromisso, responsabilidade, eficiência, entre outros termos referentes ao modelo que os professores entendem dever seguir como fundamentais para desenvolverem um trabalho de qualidade. Como se mostra, Antes de qualquer coisa tenho um imenso prazer em executar o meu trabalho. Isso me leva a procurar desempenhá-lo com profissionalismo para ver os reais resultados para os envolvidos. (Professor 15) Nós, professores, devemos ter a responsabilidade de ensinar e aprender com os nossos alunos, não deixando de lado nenhum conhecimento necessário para seu crescimento. (Professor 16) A categoria subsistência foi elaborada a partir de falas acerca da importância dos recursos materiais para os profissionais. Destaca-se que questões referentes à 38 remuneração são fundamentais para qualquer profissional, e não é diferente quando se remete ao docente, como se apresenta abaixo. Acredito que todo ser humano trabalha para ter condições de dar a sua família o máximo de qualidade de vida possível. (Professor 4) Todos nós trabalhamos primeiramente por necessidade financeira e pessoal, de autorrealização. É importante trabalhar, pois, o trabalho enobrece, nos dignifica enquanto seres humanos. É importante para a autoestima, para a moral, para conquistas, para a família, para a ética, etc. (Professor 8) Para a categoria desenvolvimento pessoal, Dejours (2009) traz sua importante contribuição quando afirma que o trabalho pode ser uma possibilidade de instrumento terapêutico essencial para pessoas que sofrem com questões psicopatológicas crônicas. Assim, não necessariamente o trabalho é fonte de sofrimento, mas pode se expressar como uma forma de sentir-se participante e também agregando conhecimento com o exercício profissional, conforme a fala abaixo de um profissional em processo de readaptação funcional devido à comprometimento em seu quadro psicológico. Sentir-se bem ao executar as tarefas do trabalho. Estar incluída no mercado de trabalho, fazendo parte da sociedade, sendo útil. (Professor 27) Na categoria contexto de trabalho, percebe-se o apontamento de questões que geram sofrimento ao docente em seu exercício profissional, devido à questões relacionadas à organização e às condições de trabalho. Os dados convergem com a pesquisa de Freitas (2006) ao identificar que questões relacionadas à rigidez da organização do trabalho, associadas a precárias condições de trabalho e a falta de reconhecimento são amplamente relacionadas a situações de sofrimento no trabalho. Esteve (1999) destaca que interação do professor em sala de aula pode levá-lo a sofrer, uma vez que a ação do educador em sala gera tensões, emoções e sentimentos muitas vezes negativos em relação aos alunos, às condições ambientais e em relação ao próprio contexto escolar, devido ao desgaste no trabalho e a constantes exigências, tanto das famílias, quanto institucionais para que o professor seja amigo, companheiro dos alunos e que sempre lhes ofereçam apoio, e até mesmo ajuda para o desenvolvimento pessoal. Insatisfações estas representadas nas falas dos docentes abaixo: As condições de trabalho nem sempre são favoráveis, tanto no âmbito público como privado. O uso da voz é desgastante. O trabalho se dá em sua maior parte em pé, sobrecarregando o sistema vascular. Falta apoio médico no processo de ensino aprendizagem que não cabe exclusivamente ao professor. Em sua grande maioria, as escolas não têm estrutura física adequada. O processo de inclusão dos alunos com deficiência não é eficiente. E tudo isso compromete o processo, fazendo com que o profissional se sinta 39 insatisfeito com o resultado final, o que o compromete psicologicamente, consequentemente. (Professor 18) O que me deixa mais estressada é a constante cobrança das famílias, jogando para a escola o papel de educar seus filhos. Assim como a desvalorização do educador, não só na parte financeira, como também no respeito, no reconhecimento. (Professor 25) A categoria perspectiva, englobando termos como esperança, desafio, crença entre outras expectativas, traz uma visão do trabalho docente, por meio da educação, como uma possibilidade de se ter um futuro melhor. Adotando uma visão comumente relatada em meios midiáticos, de que o futuro da nação depende da educação. Defendo a educação, pois acredito que a educação é a única porta para o crescimento, formação do indivíduo como um todo. A educação e os responsáveis por ela tem a necessidade de se comprometer a repassá-la com excelência. (Professor 3) A categoria nomeada função aponta para a representação social do docente associada a questões sociais mais amplas, como responsável pela construção da cidadania, favorecimento a criticidade dos alunos e reflexão acerca das transformações sociais, de forma que o profissional contribua para uma mudança qualitativa da sociedade, como expressa a fala seguinte A educação é a base para a formação de um cidadão crítico e mais completo. E é, para mim, não só um trabalho, mas uma forma de crescer como ser humano. (Professor 10) A categoria inato, neste caso, refere-se a dom, vocação para o magistério. Visão também relatada pelos meios midiáticos e bastante adotada socialmente. Santos e Machado (2010) contribuem afirmando que esse constructo se relaciona altamente à dedicação, abnegação pela fé, além de ser um conceito socialmente construído. Acrescentam que a idéia de dom, vocação é fortemente herdada das escolas normais e que continuam sendo bastante representantes na formação da representação social do professor, como expresso: Desenvolvido com amor (dom). Vidas são sementes e devem ser cultivadas (esperança). (Professor 26) Referindo-se à caracterização das situações associadas às vivências de prazer e sofrimento no trabalho docente e tomando como referencial teórico a psicodinâmica do trabalho, dividiu-se a análise a seguir em duas categorias: prazer e sofrimento no trabalho. Buscando-se compreender como os sentimentos advindos dessas duas categorias interferem na história de vida desses sujeitos participantes da pesquisa. 40 Grande (2009, p. 41) traz as contribuições de Dejours (1994) ao referir-se como prazer e sofrimento “vivências subjetivas, que implicam um ser de carne e um corpo onde o homem se exprime e se experimenta, da mesma forma que a angústia, o desejo, o amor”. Diante do exposto, entende-se que a subjetividade constituída dessas vivências são construídas a partir da história pessoal de cada sujeito, manifestadas de acordo com as particularidades de cada um e contribuem como um espaço de construção da identidade do sujeito. Ainda, segundo Grande (2009) citando Dejours (1994), destaca-se a possibilidade de ter o trabalho gerando, em termos individuais ou grupais, satisfação ou insatisfação a depender de alguns fatores como: rigidez na organização do trabalho; infraestrutura adequada ou não às reais condições de trabalho; e o reconhecimento social evocado por esse trabalho. Em relação à organização do trabalho, Mendes (2008) pontua que quando esta é saudável, oferece oportunidades para o trabalhador ajustar a “realidade de trabalho aos seus desejos e necessidades e as relações socioprofissionais são abertas, democráticas e justas, é possível o processo de reconhecimento, prazer e transformação do sofrimento” (p. 2). Contudo, quando a organização do trabalho dificulta a negociação, tornam-se mais problemáticas a superação do sofrimento, podendo gerar comportamentos patológicos, como violência no trabalho e práticas de assédio moral. A análise que se segue adota a perspectiva da psicodinâmica do trabalho, em duas categorias: prazer e sofrimento no trabalho docente. Dentre os participantes da pesquisa, as concepções de prazer no trabalho docente perpassaram em grande maioria a idéia de contribuição na aprendizagem dos alunos, como principal fonte de prazer no exercício profissional, como mostra-se nos relatos abaixo: Quando o planejamento pensado atinge o objetivo fundamental que é proporcionar o aprendizado para o estudante. (Professor 5) No progresso de um aluno, no carinho deles para comigo, no ato de ensinar e aprender sempre (praxis), em poder contribuir com o construtivismo na vida de cada aluno meu, fazendo dos seus dias em sala de aula um momento prazeroso e feliz, e não uma obrigação. (Professor 25) Quando alcanço juntamente com os meus alunos os objetivos propostos, quando percebo os avanços na aprendizagem do meu aluno, momentos de leitura compartilhada, rodinhas de conversas, momentos de ludicidade com os alunos, sentir-se importante na vida escolar do meu aluno. (Professor 19) 41 Ao ver as crianças entendendo o que ensinei e utilizando em sua vida. (Professor 12) Quando percebo que meu aluno aprendeu de verdade e quer exercitar mais o conhecimento. Quando aprendo algo novo e palpável, ou seja, quando aplico no meu dia-a-dia. (Professor 9) Verificou-se que as concepções dos professores 5 e 19 destacam a questão do prescrito e do real do trabalho. De forma que associam as situações de prazer às possibilidades de concretização do trabalho prescrito, pois, como aponta Mendes (2007) quanto menor for a distância entre o prescrito e o real, menor será o custo humano, potencializando vivências de prazer e favorecendo a sensação de bem-estar, motivação e satisfação do trabalhador. No entanto, é válido mencionar que para Dejours o trabalho somente existe quando há distância entre o prescrito e o real. Quando as prescrições falham é que surge o trabalhar. Neste mesmo sentido, Freitas (2006) cita Guérin et al. (2001), ao afirmar que é no trabalho real que ocorrem as adaptações à situação de trabalho, é o espaço em que o trabalhador viabiliza a tarefa e diminui a discrepância entre o trabalho prescrito e o trabalho real. Destaca-se ainda que em todas as falas descritas os professores conseguem constatar os benefícios de seu trabalho, de maneira que apresentam satisfação “ao ver as crianças entendendo o que ensinei e utilizando em sua vida” e ao perceber que o “aluno aprendeu de verdade”, por exemplo. É importante destacar esse aspecto, de que o docente sente-se importante na vida do aluno, sente-se realizado ao constatar a aprendizagem do aluno. Aponta-se que esse é um dado coerente com uma pesquisa realizada por Alves (2010) acerca da motivação para profissionais docentes do 1º Ciclo do Ensino Básico do Conselho de Caldas da Rainha, Lisboa – Portugal, no ano letivo 2006/2007 ao concluir que a satisfação no trabalho é um estado psicológico resultante da percepção do sujeito sobre até que ponto as atividades por ele desenvolvidas atendem ou não a valores que considera importantes, permitindo refletir que possivelmente o processo ensino aprendizagem seja de fato, reconhecido pelos participantes como um valor, ou seja, como a razão de ser da profissão docente. Já em relação às concepções de sofrimento no trabalho docente, os professores destacaram uma gama de realidades que os fazem sofrer, incluindo tanto a falta de infraestrutura adequada para a realização do trabalho docente, quanto a falta de reconhecimento social do professor, perpassando também a falta de respeito e de 42 interesse dos alunos nas atividades desenvolvidas pelo educador, conforme se mostra nos relatos abaixo: Quando os alunos demonstram desânimo, falta de interesse. Quando vejo que os pais não se preocupam com o processo de ensino-aprendizagem. Quando falta apoio e compreensão. Quando me sinto só na arte de educar. Quando trabalho doente. Quando ninguém reconhece o meu esforço e dedicação. Quando faço varias intervenções e não alcanço sucesso. Quando estou cansada e não tenho atenção dos meus alunos. Quando eles não demonstram comprometimento, parece que é em vão o meu trabalho. Mas com todo sofrimento, sei que essa é a minha vocação, e acredito no meu trabalho, e sei que direta ou indiretamente, contribuo significativamente na formação do caráter e cognitivamente. Continuo sonhando com uma educação de qualidade e sempre estou disposta a contribuir para que esta aconteça. (Professor 8) Quando há desrespeito por parte dos colegas de trabalho ou dos pais/responsáveis; falta de compromisso com o trabalho. (Professor 5) As salas de aula deveriam ser mais equipadas com recursos audiovisuais que auxiliem o trabalho docente, maior apoio dos pais no acompanhamento da vida escolar dos filhos, maior valorização do trabalho docente, quando o aluno mostra-se desinteressado e desmotivado, casos de indisciplina na sala de aula. (Professor 19) Quando desacreditam em nosso trabalho. Quando vejo um aluno desinteressado e faltoso (me sinto impotente). Quando bate um cansaço emocional. Baixa remuneração. (Professor 17) A falta de reconhecimento é manifesta na fala de docentes que especificaram o sofrimento causado pelo não reconhecimento ao afirmarem sofrer quando ninguém reconhece o esforço e dedicação empenhados pelo profissional. Por meio das falas apresentadas verifica-se que o trabalho do professor é marcado de situações que lhes geram sofrimento, pois são pressões advindas de alunos, pais, colegas e uma cobrança de si mesmo por melhores desempenhos, ainda que o próprio profissional tente trazer um acalanto, de que esta é sua vocação. Assim, o reconhecimento vem como uma via de prazer utilizado para o profissional conseguir manter um nível de compromisso adequado para a concretização do trabalho, uma forma de permitir transformar o sofrimento em prazer, de acordo com Dejours (2009). Nas falas apontadas verifica-se a existência de diversas queixas, relacionadas ao cansaço, insatisfação salarial, ausência de recursos adequados, situações de desrespeito. Contudo, essas falas corroboram com as idéias de Aguiar e Almeida (2006) de que os docentes podem assumir uma postura de queixar-se constantemente e em todos os sentidos, devido às exigências da profissão, porém, na realidade, essas queixas repetidas seriam uma maneira de pedir reconhecimento por meio do sofrimento. 43 Os resultados dessa pesquisa propiciaram analisar um conjunto de opiniões de um grupo de professores dos anos iniciais que reforçam as suas práticas e representações acerca do trabalho. 44 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS As concepções acerca do trabalho e vivências de situações de prazer e sofrimento no exercício profissional constituem um conjunto cujos elementos estão intimamente ligados. Por isso, conhecer a maneira como os profissionais docentes representam o trabalho foi o que se buscou neste estudo. Segundo Tedesco (2012) ensinar seriamente é colocar as mãos no que há de mais vital do ser humano, é tentar acessar o que há de mais sensível e íntimo da integridade de outro ser humano. Assim, é importante identificar o que esses sujeitos docentes pensam acerca de seu ofício, para além do que pensa o coletivo social. O presente estudo teve como objetivo analisar um conjunto de opiniões acerca de quais são as representações sociais construídas pelo corpo docente sobre o trabalho. Foram observadas, ao longo deste trabalho, nas evocações feitas pelos professores acerca do trabalho, formas de expressões importantes para se pensar em como essas representações na sociedade em geral. Assim, a aproximação e o diálogo com os professores, no sentido dar-lhes voz e sentirem-se com suas angústias e sofrimentos acolhidos pode ser uma forma de minimizar os desgastes físicos e psíquicos percebido nos docentes. A pesquisa revelou que os professores participantes ratificam pesquisas (Alves, 2009, 2012) ao manter a centralidade das representações sociais pautadas em amor e dedicação ao trabalho docente, atribuindo o amor e a dedicação como elementos necessários de motivação para a superação das dificuldades no cotidiano profissional. Os dados indicam também que os professores fazem ampla associação entre prazer e possibilidade de concretização do trabalho prescrito, como aponta Mendes (2007). Outro dado a ser destacado refere-se ao prazer associado à constatação dos benefícios trazidos pelo trabalho docente à aprendizagem dos seus alunos, corroborando com estudos de Alves (2010). Um último ponto a ser destacado refere-se às vivências de sofrimento no trabalho docente advindas da falta de reconhecimento que o professor sofre no cotidiano escolar. Essa falta de reconhecimento, tanto dos alunos, quanto dos pais, quanto dos colegas de trabalho pode se tornar barreiras para a sustentação do trabalho de qualidade do docente. Esses resultados atestam a importância da abordagem das representações sociais para a compreensão de aspectos históricos e psicossociais que orientam as 45 práticas docentes. Mostram também a importância de associar a técnica discursiva à abordagem estrutural, para aprofundamento dos sentidos atribuídos às palavras evocadas. No que se refere à pesquisa, entende-se que o trabalho possui limitações. Destaca-se que a possibilidade de investigar o adoecimento entre esses professores, haja vista as estratégias de defesa utilizadas pelos mesmos não serem suficientes para mantêlos em atividade laborativa por muito tempo. Ainda, considera-se que a coleta de dados no futuro poderá ser ampliada para abarcar professores de outros níveis e modalidade de educação, por exemplo, de forma a contribuir com relatos mais aprofundados sobre o tema com o desvelamento dos reais sentimentos que estão por trás dessas vivências dos professores. Ao finalizar esta pesquisa, constata-se que as representações sociais apontadas pelos docentes acerca de seu próprio trabalho se colocam como um pedido de ajuda às instituições e à sociedade num geral para que minimizem a distância entre o real e o prescrito e que valorizem o trabalho docente. 46 7. REFERÊNCIAS ABRIC, Jean-Claude. A abordagem estrutural das representações sociais. In: A. S. P. MOREIRA; D. C. OLIVEIRA (orgs.). Estudos Interdisciplinares de Representação Social. Goiânia: AB, 1998, p. 27-38. AGUIAR, Rosana Márcia Rolando; ALMEIDA, Sandra Francesca Conte de. Professores sob pressão: sofrimento e mal-estar na educação. 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Curitiba: Champagnat; São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 2012. p. 15-32. 49 ANEXO I Termo de Consentimento Livre e Esclarecido “OS OLHARES DOS PROFESSORES: REFLEXÃO DO SIGNIFICADO DO EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA” Prezado(a) Senhor(a): Gostaríamos de convidá-lo (a) a participar da pesquisa acima citada que será realizada na Universidade Católica de Brasília - UCB. Cujo objetivo é estudar as representações sociais dos professores, com tempo de exercício profissional compreendido entre cinco e quinze anos, acerca do trabalho docente. A sua participação é muito importante e ela se daria da seguinte forma: Uma entrevista semiestruturada relacionada com o tema trabalho a qual será registrada para fins de estudo na qual somente terão acesso às mesmas a pesquisadora e a professora orientadora Msc. Andrea Dias Garzesi Souza. Gostaríamos de esclarecer que sua participação é totalmente voluntária, podendo você: recusar-se a participar, ou mesmo desistir a qualquer momento sem que isto acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. Sua participação não é obrigatória, e a qualquer momento você poderá desistir de participar e retirar seu consentimento até a data prevista para a publicação do mesmo, sem necessidade de justificar os motivos. Se você sentir certa apreensão ou receio com as perguntas você pode se recusar a responder e mesmo desistir da entrevista, podendo também conversar e expressar suas questões junto à entrevistadora e sua orientadora. Informamos ainda que as informações serão utilizadas somente para os fins desta pesquisa e serão tratadas com o mais absoluto sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a sua identidade. Informamos que o(a) senhor(a) não pagará nem será remunerado por sua participação. Caso você tenha dúvidas ou necessite de maiores esclarecimentos pode nos contactar através do [email protected] telefone (Karina 92421330 Nascimento). Este ou termo pelo email deverá ser preenchido em duas vias de igual teor, sendo uma delas, devidamente preenchida e assinada entregue a você Eu,____________________________________RG______________, declaro que li as informações contidas nesse documento, e fui devidamente informado (a) e esclarecido (a) sobre a pesquisa citada nesse termo. Declaro ainda que recebi uma cópia desse 50 Termo de Consentimento e concordo em participar voluntariamente da pesquisa acima citada. Brasília, _____de______________de 2013 Data de nascimento: _____/_____/_____ Endereço: _______________________________ Cidade: ______________________CEP:_____________Tel:____________ 51 ANEXO II Universidade Católica de Brasília Nome (iniciais): ____________Idade: _________ Sexo: ( ) F ( )M Estado civil:_________________ Curso de graduação: Nível de escolaridade: ________________ Tempo de docência:____________ Tempo de docência na SEDF: 1) Escreva no mínimo cinco palavras/termos/frases que lhe vem à mente quando pensa em seu trabalho. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2) Coloque as palavras/termos/frases em ordem de importância, considerando as que são mais significativas para você. ( )________________________________________________________________ ( )________________________________________________________________ ( )________________________________________________________________ ( )________________________________________________________________ ( )________________________________________________________________ 3) Explique as duas primeiras sentenças escolhidas 52 4) Em quais momentos o seu trabalho lhe proporciona sentimentos de prazer? 5) Em quais momentos o seu trabalho lhe proporciona sentimentos de sofrimento? 53 ANEXO III Perfil dos participantes SUJEITO IDADE SEXO ESTADO CIVIL TEMPO TEMPO DE DE NÍVEL DE GRADUAÇÃO DOCÊNCIA SEEDF ESCOLARIDADE (em anos) (em anos) 1 31 M CASADO HISTÓRIA MESTRADO 5 3 2 32 F SOLTEIRA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 5 5 3 41 F SOLTEIRA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 13 13 4 30 F CASADA BIOLOGIA ESPECIALIZAÇÃO 6 3 5 32 F SOLTEIRA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 13 8 6 38 F CASADA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 5 5 7 30 F SOLTEIRA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 6 6 8 30 F CASADA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 10 10 9 31 M SOLTEIRO FILOSOFIA ESPECIALIZAÇÃO 13 3 10 26 F SOLTEIRA LETRAS GRADUAÇÃO 8 3 11 33 F SOLTEIRA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 12 1 12 43 F CASADA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 15 15 13 31 F DIVORCIADA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 13 4 14 30 F CASADA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 12 3 15 38 M SOLTEIRO PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 10 1 16 32 F CASADA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 12 1 17 29 F CASADA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 9 1 18 36 F VIUVA PEDAGOGIA MESTRADO 11 1 19 36 F CASADA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 15 4 20 37 F CASADA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 15 1 21 31 F CASADA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 10 4 22 34 F CASADA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 12 12 23 38 F SOLTEIRA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 15 13 24 43 M CASADO GEOGRAFIA GRADUAÇÃO 15 15 25 34 F CASADA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 5 1 26 43 F SOLTEIRA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 8 1 27 35 F CASADA PEDAGOGIA GRADUAÇÃO 7 7 28 35 M CASADO LETRAS ESPECIALIZAÇÃO 15 8 29 36 F SOLTEIRA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 15 14 30 36 F CASADA PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO 9 1