O A da L i t e r a t u r a C o l o n i a l p o r t u g u e s a por Nestes últimos tempos, os observadores e os críticos vêm dedicando uma a t e n ç ã o maior à situação em que se encontra, após um longo período de propaganda e de c r i a ç ã o de estímulos, a nossa l i t e r a t u r a colonial. E , geralmente, são unânimes em concordar que todas as quimeras e todas a s certezas f a l h a r a m . A literatura colonial não é, hoje, o que h á dez ou h á vinte anos se esperava ou desejava que fosse. E talvez nem seque» nada justifique a s e p a r a ç ã o de um certo número de livros num sector particular da nossa bibliografia literária. - Passam, 6 verdade, de uma dezena os escritores que se reuniram ou foram reunidos no grupo dos intelectuais c o -lonlalistas. Poucos, porém, nas mostram toda uma obra orientada no sentido colonialista, embora nestes poucos ?e e n c o n t r e a única justificação admissível de uma l l t e r a t a r a . Julião Qulntinha, Gastão de S c u s a Dias, Maria Archer.. Os restantes fizeram literat u r a colonial impelidos por uma inquietação efémera, por uma inspiração facilmente esgotavel, por um Interesse de oídem material ou pela esper a n ç a de um êxito em c o n c u r sos, ou ainda, na maioria dos casos, po: uma imposição de ordem profissional, como seia a do jornalismo. Pinto Quartim, Julião Qulntinha, Jugo Roctha, Maria Arltíher, Luiz Teixeira e outras—o próprio autor deste artigo consider a - s e incluído neste grupo — fizeram jornalismo co'on:al. Só porque reuniram os seus artigos, crónicas e reportagens em livro passaram a ser Considerado:; escritores Jo!'onialistas. E frizemos desde j á que não nos referimos a a l guns autores que. por falta de talento, de inteligência, ae cuHura e d? rudimentares cor.hecimentos da a r t e de escrever, não podem ser classificados n ° m como escritores, nem como jornalistas. A l i t e r a t u r a colonial portuguesa tem. pois, a c a r a c e r i zá-la, em pumeiro lugar, i m a falta de escritores e a não comprovação de um alto valor mental na maioria daqueles que a têm querido fazer, especialmente daqueles qu3 se dedicam a pura c r i a ç ã o literária. Os motivos porque a c o n t e c e assim é que devem merecer a s atenções dos que se in'e.-ess a m pela actividade espiritual t, volta da nossa acção colonizadora e civilizadora em tocos os continentes. Eles não deixarão de surgir em plena evidência nos primeiros mof mentos de i.nàlise e terão a utilidade de nos demonstrar que nem tudo é Incapacidade mental, ausência de emotividade e de poder criacionisra. por p a r t e dos nossos intelectuais—mas sim o resultado ae factores de diversas categorias originados n a s contingências do ambiente intelectual português. C o n t r a essas contingências deve ser dirigida a luta a de;-• .nvolver p a r a a c r i a ç ã o de ,>ma verdadeira e eficiente espiritualidade colonial—capaz de nos dar os grandes escritores colonialistas e de provoc a r o movimento intelectual que seja a projecção no campo espiritual de uma a c ç ã o colonizadora e civilizadora com séculos de história. Quando se pensa no facto de não possuirmos uma liter a t u r a colonial em notável desenvolvimento, pregunta-se logicamente:—Quantos são os escritores portugueses que conhecem o U l t r a m a r ? E c o n clue-se que uma das c a u s a s do estado actual desta literatura está precisamente na n ã o realização de intercâmbios de intelectuais. Na generalidade, os escritores que têm dado lugar, bem ou mal, a o aparecimento de um sector na nossa literatura orientado p a r a a divulgação da vida e das paisagens do U l t r a m a r , conhecem, pelo menos, uma colónia. Mas, evidentemente, conhecer uma c o lónia ou todas não é o bast a n t e p a r a se fazer literatura colonial. E n t r e t a n t o , foi este conhecimento de uma ou de várias colónias que criou os r.ussos escritores colonialistas, visto que, se exceptuarmos G a s t ã o de Sousa Dias, Julião Quintinha. Pinto Quartim. Augusto Casimiro e poucos mais escritores e jornalistas, c h e gamos à conclusão de que os nossos escritores colonialistas vieram intelectuais de lugares p a r a jnde foram como simples funcionários ou como c o lonos. E, embora não seja deg r a d a n t e e nem sequer criticável, tudo isto é bem sintomático. L á fora, dá-se o c o n t r á r i o : Sabe-se que em países de grande actividade editorial, dirigida por Industriais inteligentes e mentalmente contemporâneos, a literatura com clima espiritual exótico é um pretexto para a deslocação das melhores escritores. Há modas nos ambientes literárias, como no vestuário, n a medicina, na filosofia. Hoje são Haiti ou Borneo os sugestivos ambientes do romance. A m a n h ã serão Honolulu ou Martinica. Depois serão B a t i P A U L O ou Nova-York, Viena ou o Rio de Janeiro. E depois a índia, a China ou a Etiópia... E os editores p r o c u T a m , p a r a os ambientes com actualidade, os escritores. P a g a m as vlaJens. Comercialmente, fazem intercâmbios espirituais com os países estrangeiros. As potências coloniais fazem-no também, assim, com os seus domínios ultramarinos. E a a c ç ã o oficial, sem se tornar desnecessária, é menos surpreendente no seu espirito negativo, isto é. quando por sua vez não auxilia igualmente esta espécie de intercâmbios. Recordo que Ferreira de Castro foi j á convidado a vis i t a r Timor—com o fim de escrever um romance de a m biente timorense. Não houve um convite de qualquer entidade oficial. Não recordo, porém, se partiu de um editor ou de um simples amigo ou admirador do escritor ou da colónia. Mas, fora de dúvida, p o d e m o s estar convencidos de que este caso passado com F e r r e i r a de Castro foi e é um c a s o único na vida intelectual portuguesa e de que temos de l a m e n t a r que o romancista da Selva não h a j a aquiescido ao extraordinário convite, pois t e r i a demonstrado ao país, às entidades oficiais e aos edito-, res a utilidades p a r a a criação intelectual do conhecimento das paisagens e dos climas esp i r i t u a i s distantes por parte de espiritualidades capazes de o s saberem observar, c o m p r e ender e sentir. Ora. uma outra c a r a c t e r í s tica da nossa literatura colonial está n a circunstância de nos dizer que a maioria dos nossos escritores colonialistas não soube ainda observar, compreender e sentir as paisagens e os climas distantes. De onde esta inferioridade? E' lógico que a atribuamo., à c a u s a j á citada de quási todos os nossos escritores colonialist a s terem sido, antes, simples funcionários. Surgiram e s u r gem Intelectuais — s e m um passado intelectual. E faltalhes, por isso, a cultura, a sensibilidade, a lição das horas, tranquilas ou revoltas, em que se medita sobre exemplos, se descobrem perspectivas e se definem propósitos. Depois, desta inexistência de cultura, de sensibilidade, de meditação demorada sobre os exemplos, de perspectivas e de propósitos derivam as deficiências dos trabalhos de liter a t u r a colonial portuguesa. Ela é uma literatura de p e r sonagens vagos em mundos incaracterísticos ou sem paisagens e sem climas espirituais. E \ por vezes, um c o n - BRAGA,* junto de ensaios de principiantes. E', outras vezes, uma simples fonte de esperanças irrealizáveis. E vai ao ponto de possuir livros sem g r a m á tica... Em Portugal, j á h á muito nos convencemos de que o jornalismo só se faz com Jornalistas - profissionais. Mas ainda não se pensa que uma literatura só se faz com escritores... Tudo isto é lamentável e c o n t r a tudo isto é imprescindível lutar-se. Um dos processos de luta estará na e x p o sição dos males a remediar. E eis a razão porque ao e s c r e vermos mais este artigo sobre a literatura colonial portuguesa não pensamos, desiludidos, que, como no pensamento de L a Bruyére, «tout est déjà dlt et nous arrlvons trop tard». E n t r e t a n t o , é provável que não esteja tudo dito! Conhecidas as realidades, temos de procurar os processos de as melhorarmos ou v a lorizarmos. O dos i n t e r c â m bios aparece-nos imprescindível. Proporcionar viajens aos escritores e jornalistas d a Metrópole equivalerá a concederlhes sugestões novas, possibilidades de trabalho, e x p a n são... Os laços políticos e morais que unem a Metrópole ao U l t r a m a r e as colónias entre sl t o r n a r - s e - ã o mais fortes. A vida mental portuguesa adquirirá horizontes mais vastos. P a r a a literatura surgirão novas realidades... E não é Isto que se deseja e se pede h á muitos anos, em artigos de jornal, em livros, em conferências, nos preâmbulos Justificativos dos concursos literários? E eis que se aproxima uma oportunidade p a r a se dar Início a esta política de intercâmbios... H á algum tempo que a I m prensa do U l t r a m a r , secundada por uma parte da I m prensa metropolitana, vem defendendo a ideia da realização de um Congresso da I m p r e n s a Colonial. A Iniciativa, ou, pelo menos, a faze actual da Iniciativa, encontrou e n t u siasmos incondicionais nos jornais de Moçambique e de Angola, o que nos leva a c r e r que o Congresso se realizará n u m a destas colónias, ou em ambas. Será pouco razoável desejar-se que a êle c o n c o r r a m escritores e jornalistas da Metrópole—não só os que se têm dedicado à literatura e ao jornalismo coloniais, mas também quaisquer outros de méritos comprovados? f continua na PAG. dolel