Cliente: IESB Veículo: Correio Web Editoria: Gastronomia Data: 13.11.14 Vá comer batata-doce Febre entre os marombeiros, o tubérculo nutritivo tem preparo simples e chama a atenção pelo sabor diferenciado que dá às refeições Batata-da-terra, batata-da-ilha, jatica, jetica ou simplesmente batata-doce. O nome indica a variedade atrelada a esse tubérculo originário dos Andes, mas não revela o motivo de o alimento estar roubando a cena nas refeições, principalmente daqueles que buscam a boa forma. A batatainglesa, o arroz integral, o macarrão e muitos outros carboidratos começam a ser deixados de lado para serem substituídos pela raiz de sabor adocicado. É nesse novo cenário, portanto, que os cuidados gastronômicos devem ser redobrados. O gosto forte do vegetal pode deixar um entusiasta menos criativo na cozinha desanimado com a opção mais nutritiva em poucas semanas. A principal dica fica na harmonização. O gosto forte da batata-doce combina com alimentos suaves, mas, ao mesmo tempo, mais amargos e ácidos. A febre envolvendo esse tubérculo chegou às academias a partir de dietas prescritas por nutricionistas esportivos a pacientes que buscavam a redução de medidas e o ganho de músculos. Algumas propriedades do alimento justificam a indicação de consumo diário. A principal é o baixo índice glicêmico. Quando há um aumento do consumo de ingredientes que tem esse índice alto, a quantidade de insulina produzida segue o mesmo ritmo, levando a uma resistência ao hormônio e, em última instância, ao diabetes. O baixo valor glicêmico da batata-doce previne essa condição e ainda promove o emagrecimento da região da cintura. A alta quantidade de fibras encontrada nela proporciona saciedade, além da presença de um percentual elevado de vitamina A, que fortalece o sistema imunológico — em 100g há cerca de 650 microgramas, mesma quantidade encontrada em 23kg de batata comum. Grande presença de vitaminas B1 e B5, sais minerais como fósforo, cálcio, potássio, ferro e sódio complementam o pacote de benefícios. Sem muito mistério, a batata-doce pode ser submetida aos mesmos modos de preparo da inglesa: cozida apenas na água, sem óleo, açúcar ou qualquer outro tempero. Outra opção é consumi-la assada, cortando-a ainda crua em rodelas e levando ao forno. O resultado é um petisco do tipo chips. A batata-doce requer apenas um cuidado a mais. O alto teor de açúcar dela faz com que queime mais rápido que a comum. “Mas a grande diferença é o gosto. Ela tem um sabor doce e forte que é ressaltado com a fritura”, diz o chef Agenor Maia, do restaurante Olivae. Maia é responsável por uma batata-doce palha diferenciada. Segundo ele, de todas as batatas que têm menos amido — como a doce, o cará e a mandioca —, a primeira tende a manter melhor o sabor e a crocância nesse formato. “O choque térmico dá a crocância. Ao fatiar, os fios caem diretamente em um balde com água filtrada e bem gelada. São mantidos ali durante o serviço antes de atingir o óleo bastante quente, a 190°C”, detalha. À mesa, funciona perfeitamente como acompanhamento de carnes, em especial o churrasco. A protagonista É possível também transformar a batata-doce em prato principal. O professor de gastronomia do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) Maximiliano Sommo sugere um risoto em que o tubérculo é o protagonista. Curry e camarão completam a receita. O segredo para balancear os sabores marcantes é acrescentar à manteiga em que o tubérculo será refogado algumas gotas de essência de baunilha. “Mel, caramelo e açúcar caramelizado são bons para combinar com a batata-doce. Para que o risoto não fique muito adocicado, cortamos com um pouco de especiarias”, diz. O escolhido, o curry, ainda confere uma bonita coloração amarelada à refeição. O modo de preparo tem como parte mais trabalhosa o corte de um quilo de batata ainda crua em cubinhos pequenos, com cerca de 5 milímetros, pouco maiores que um grão de arroz. Eles são salteadas na manteiga, acrescidos de curry e caldo de vegetais. O risoto deve ser mexido com cuidado para que não se transforme em purê. Depois de bem reduzido, é preciso incorporar creme de leite, cream cheese e, por último, 250 gramas de camarões salteados no azeite. Também na linha das composições mais sofisticadas, o chef do restaurante Trio Gastronomia, Emerson Mantovani, adequou a brandade de bacalhau, típica da culinária francesa, a uma versão com batata-doce. Originalmente, o prato é produzido com batata-inglesa e bacalhau. Com a troca de tubérculo, o peixe também precisou mudar. Mantovani optou pelo abadejo. “Faz diferença porque precisamos privilegiar a batata. Se usarmos o bacalhau, ele pode roubar um pouco do sabor dela. A ideia é privilegiá-la com dois elementos de sabores fortes e marcantes para termos um contraste”, explica. Por isso, entram na preparação a rúcula selvagem e a pancetta. Pouco mais amarga que a comum, a rúcula selvagem é salteada no óleo de ostra. “A brandade é tecnicamente simples. A batata foi amassada e o peixe, cozido no leite com tomilho e louro. Na frigideira, ele começa a secar e soltar”, explica o chef. Em seguida, o restante dos ingredientes são acrescentados à receita. “A ideia dos acompanhamentos é casar com o adocicado da batata, gerando um contraste.” Segundo Mantovani, também depende do tipo da batata usada. Há quatro tipos de batata-doce: a branca, um pouco mais seca; a amarela, que tem mais sabor adocicado; a roxa, a mais doce e preferida pelos cozinheiros; e avermelhada, também saborosa, mas não ultrapassa a roxa. Como o bacon Muito parecida com o bacon, a pancetta é um tipo de carne suína curada e seca. Foi criada na Itália e vem da barriga de porco curada no sal, temperada e seca por aproximadamente três meses. A pancetta industrializada pode vir na forma de rolo ou plana, com toda a gordura de um só lado. É servida em fatias finas, quando consumida sozinha, mas também utilizada para dar sabor a outros pratos, especialmente molhos para massas. Na Espanha, porções relativamente grossas são servidas como acompanhamento, muitas vezes fritas no azeite ou na própria gordura. Ovos fritos com chorizo e pancetta formam um café da manhã popular em algumas partes rurais do país. "Mel, caramelo e açúcar caramelizado são bons para combinar com a batata-doce. Para que o risoto não fique muito adocicado, cortamos com um pouco de especiarias” Maximiliano Sommo, professor de gastronomia do Iesb Receitas Batata-doce palha com maionese de Dijon e limão-siciliano servida com bife ancho Por Agenor Maia Ingrediente 300g de bife ancho 500g batata-doce Óleo de canola para fritar Sal grosso rosa no moedor a gosto Pimenta-do-reino a gosto 1 unidade de limão-siciliano 1 ramo de tomilho 1 colher de sopa de mostarda de Dijon 1 pitada de estragão seco 1 colher de sopa de maionese Preparo Batata-doce palha Com o auxílio de uma mandolina, faça fios da batata-doce já descascada e deixe em água bem fria por pelo menos 15 minutos. Frite a 180ºC em bastante óleo e reserve. Em uma vasilha, misture a mostarda de Dijon, o estragão, a maionese e esprema as pontas do limão-siciliano. Reserve. Bife ancho Esquente a frigideira com um fio de óleo, coloque o bife ancho sem sal e sem pimenta-do-reino. Sele por igual ambos os lados até o ponto desejado. Quando retirar do fogo, salgue a gosto e salpique a pimenta-do-reino. Rendimento Uma porção Brandade de batata-doce com abadejo e pancetta acompanhado de rúcula selvática em molho de ostra Por Emerson Mantovani Ingredientes » » » » » » » » » » » » » » » » » 400g de abadejo 2 dentes de alho 2 xícaras de chá leite Tomilho Folhas de louro Alecrim 1 xícara de chá azeite extravirgem 300g de batata-doce 100g de pancetta cortada em cubos pequenos e fritos 1 dente de alho picado 1 xícara de chá de creme de leite fresco 1 maço de rúcula-selvática 2 colheres de molho de ostra 1 colher de sopa de cebolinha-francesa picada Gotas de limão-siciliano Sal a gosto Pimenta a gosto Preparo Cozinhe a batata-doce descascada em água com sal. Após amassar e formar um purê, frite a pancetta até ficar bem crocante e reserve. Ferva o leite com dois dentes de alho, o tomilho, as folhas de louro e o alecrim. Coloque o abadejo no leite e desligue o fogo. Deixe por 15 minutos, desfie o peixe e seque no fogo com uma colher de azeite. Quando se formar uma pasta fina, acrescente o purê de batata-doce e o alho picado. Coloque devagar o resto do azeite e o creme de leite, junte a cebolinha-francesa, o sal, a pimenta e as gotas de limão. Lave a rúcula e aqueça uma frigideira com um fio de azeite e o molho de ostra. Salteie rapidamente a rúcula e corrija o sal. Sirva a brandade em um aro, coloque a pancetta por cima e, ao lado, a rúcula salteada. Rendimento Quatro porções