A CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA BRASILEIRA NA REDUÇÃO DAS PERDAS PELAS PODRIDÕES DE MAÇÃS Rosa M. V. Sanhueza1 A perda de frutas pelas podridões pode ser diminuída se cumpridos integralmente pelos técnicos e produtores os fatores apresentados a seguir: a qualidade da fruta; a presença do patógeno no pomar ; as condições climáticas no pomar e na planta; as práticas sanitárias executadas no pomar durante o ciclo; o momento e a qualidade do processo da colheita; o resfriamento rápido; as práticas sanitárias no packing e, por último, o uso preciso dos fungicidas recomendados para cada doença . Portanto a diminuição de perdas causadas pelas podridões de maçãs em pós colheita se consegue com integração das práticas de manejo da cultura em pré e pós colheita. O manejo integrado dessas doenças tem provado ser vantajoso quando é constatado que produtores que utilizam as práticas recomendadas , apresentam perdas de, no máximo, 5% a 8% de toda a fruta frigorificada. Este trabalho apresenta em forma resumida a contribuição de pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, Embrapa Clima Temperado. UFRGS, UDESC, UERGS e UCS com apoio finaceiro da Finep, Fapergs, CNPq , Capes e ABPM. Descrição e justificativas das práticas necessárias - situação e soluções I. Decada de 80: No ciclo de 1985 se constatava que a perda de maçãs causada quase exclusivamente pelo mofo azul (Penicillium expansum) e, no mês de julho já atingia ao redor de 40% na fruta frigorificada, mesmo se utilizando tiabendazole com ou sem cloreto de cálcio em pós colheita. Outras podridões constatadas eram podridão amarga e podridão por Alternaria, que são também controladas pelo iprodione. O estudo das causas dessa situação revelou que a) havia ocorrência maciça de isolados resistentes do patógeno aos benzimidazois o que causava a perda de controle do patógeno. b) a contaminação do maquinário e instalações do packing era altíssima e o uso de hipoclorito de sódio era insuficiente pela grande quantidade de matéria orgânica e ausência de aferição das concentrações de cloro livre c) foi constatado número elevado de estruturas do patógeno na epiderme da cv Fuji, e o aumento desse número com o avanço da maturação da fruta e a suscetibilidade da epiderme das maçãs maduras a apresentar machucaduras que eram infectadas . d) a contaminação das embalagens , a presença de folhas nos bins junto com a fruta colhida, a armazenagem de maçãs sem pré seleção no campo e a re utilização de bins previamente utilizados na colheita, para armazenar fruta pré selecionada contribuía para assegurar a presença de inóculo em contacto com a fruta e da presença de ferimentos e machucaduras nas maçãs que são os sítios de infecção para patógenos. Esses fatores eram particularmente importantes para o caso do Mofo azul, pois o fungo P expansum infecta, causa podridão e produz conídios na fruta durante a armazenagem das maçãs Soluções geradas: a) A alternativa à resistência de P. expansum foi a substituição do Tiabendazole pelo Iprodione com e sem cloreto de cálcio. b) Foram desenvolvidas ferramentas de monitoramento de Penicillium expansum e determinados os limites aceitáveis de contaminação da água e dos ambientes do packing (25 ufc por placa de petri com meio seletivo) c) Ênfase também foi dada na recomendação de cuidados para que o refugo constituído por fruta podre fosse removido/ mantido em condições que evitaram a dispersão de Penicillium expansum , à necessidade de limpeza e higienização diária do maquinário e, especialmente, das escovas e à manutenção do chão seco e limpo nos packings. d) Foi definida como essencial a colheita no estágio fisiológico recomendado como componente importante do importante do manejo da fruta para diminuição das perdas. e) Recomendação de o uso de desinfectantes com base a cloro orgânico para substituir o hipoclorito de sódio que tem numerosas desvantagens f) Se definiu como mais efetivos para diminuição da população que habita a epiderme o método de aspersão do desinfectante , o método para uso da luz ultravioleta (UV-C) e o potencial de uso do tratamento térmico para diminuição dos propágulos de P. expansum e se determinou maiores benefícios quando os processos são feitos logo antes da embalagem. g) Se confirmou também que os fungicidas disponíveis para pós colheita mantinham a proteção da fruta no máximo por 120 dias o que era insuficiente para armazenagens prolongadas das maçãs. Nesse ponto resultou evidente a necessidade de colheita e envio ao packing somente fruta sem defeitos e com ausência de folhas junto às frutas. Já o método de desinfecção dos bins foi descrito Formol e permanganato de potássio) iniciando o processo pela lavagem para retirar restos de fruta e terra para logo desinfectar. Na atualidade é necessário mudar o método sendo a única alternativa o uso de água quente acima de 70ºC. Essas práticas são ainda necessárias para reduzir as podridões de todos os tipos mas, especialmente para a causada por de Penicillium expansum em todos os packings de maçãs. Empresas que têm adotado a maior parte dessas práticas apresentam danos por de Penicillium expansum que atingem no máximo a 4 – 6% no fim do ciclo II - Década de 90 : surgiram outras doenças que apresentavam uma fase de infecção latente, assintomáticas na colheita e que desenvolviam as podridões durante a frigorificação, o transporte ou no mercado. As contribuições da pesquisa para que o setor diminuísse as perdas e danos nesse caso deram prioridade às práticas de manejo dos pomares devido às características epidemiológicas dessas doenças e a eficiência baixa do controle químico. Soluções geradas: a) Essas podridões foram identificadas e são, principalmente, a podridão branca (Botryosphaeria dothidea), a podridão amarga e a Mancha de Glomerella (Glomerella cingulata), a podridão olho de boi (Neofabraea spp/ Cryptosporiopsis) e, em alguns locais, a Fuligem e sujeira de mosca. b) No inicio do ciçlo as gemas continham estruturas da maioria desses patógenos. Isso é mais grave quando deixadas as maçãs no campo durante e após a colheita. Portanto, essa fruta deve ser retirada do pomar logo após a colheita. c) As folhas eram fontes de inóculo dos patógenos da macieira. A pesquisa demonstrou que se as folhas eram varridas para o centro da entrelinha e se após a trituração delas, aspergida uma calda com esterco de gado ou com solução de nutrientes de composição equivalente, diminuíam as podridões . d) Os ramos podados verde ou de inverno podem ser contaminados por Botryosphaeria spp. e, portanto , deviam ser retirados do campo e queimados para diminuição da podridão branca. Outras contribuições foram o desenvolvimento de um método de monitoramento e se validou um sistema de alerta (Sisalert) e se definiram os fungicidas eficientes. e) Para redução do inoculo de Neofabraea/Cryptosporiopsis, se demonstrou que tratamentos com calda sulfocálcica ou cúpricos usados em doses baixas, 20 d antes da quebra de dormência diminuíam o número de propágulos nas gemas abertas e, no fim do ciclo, isso se reflete na diminuição da podridão olho de boi. f) A partir da primavera e verão, a qualidade da fruta formada, a condução, poda, nutrição e vigor das plantas e o raleio das plantas interferem na qualidade das maçãs, eficiência dos tratamentos fungicidas e na duração do período de umidade foliar que contribui para ocorrer o inicio das infecções. A eficiência desses processos definirá o risco de infecções. Gemas de boa qualidade produzirá fruta com menor risco de podridão carpelar. Também, frutas com nutrição equilibrada e com taxa de crescimento normal formarão ceras de melhor qualidade e na quantidade necessária para não desenvolver rachaduras que propiciem a infecção da fruta. g) Definiu-se o inicio dos períodos de risco de infecção para todas as doenças de verão de maior importância para dar precisão ao uso de fungicidas: de plena flor em diante para a podridão amarga e a Mancha de Glomerella (Glomerella cingulata) e a fuligem e sujeira de mosca, e, a partir de dezembro para a podridão olho de boi (Neofabraea spp ) e para a podridão branca ( Botryosphaeria dothidea). h) Foi demonstrado que a proteção com fungicidas adequado durante os 40 a 45 dias e principalmente nos 21 das antes da colheita inclusive na cv. Gala, reduzem as infecções latente a eficiência desses fungicidas diminuirá , se o pomar apresenta histórico de alta infecção pelas doenças de verão devido entre outros fatores ao mau manejo e/ou à ocorrência de granizo que aumentou a infecção por exemplo por Neofabraea spp. (podridão olho de boi). Também se provou que o inóculo dos patógenos na epiderme das maçãs pode ser diminuído com sanitizantes em pré colheita, como complemento dos fungicidas. i) Encerram as práticas principais de um ciclo de controle das doenças de verão com a colheita das maçãs a que deve ser feita no ponto recomendado para cada cultivar. O atraso de 15 a 20 d do momento adequado poderá aumentar em 70% a podridão olho de boi. O processo de detecção precoce da infecção latente para diferentes lotes foi desenvolvido e pode ser feito se mantendo maçãs em câmara úmida a 22-25ºC durante 30d. j) Visto que os patógenos associados a essas doenças estão na superfície da epiderme e/ou nas lenticelas, o molhamento da fruta logo após a colheita pode estimular a germinação dos fungos e o inicio da infecção poderá ocorrer durante o pré resfriamento. Por essa razão, a água usada para molhar a fruta deve conter desinfectante na quantidade necessária e na condição apropriada para que ele atue sobre a estrutura do fungo. Assim. é recomendável que cada técnico/empresa faça um exercício de conferência das práticas listadas e das utilizadas nos pomares e packing . (Check List) para otimizar o controle das podridões de maçãs.