AVALIAÇÃO DO EFEITO DOS EQUIPAMENTOS ‘Agrocare’ DA AGROQUALITY NAS CÂMARAS FRIAS COM ATMOSFERA CONTROLADA NA QUALIDADE DE MAÇÃS ‘FUJI’. Equipe técnica: Dra Rosa Maria Valdebenito Sanhueza, Pesquisadora Vanderlei C. da Silva, Auxiliar de apoio à pesquisa Valdair S dos Santos, Auxiliar de apoio à pesquisa Instituição executora : Embrapa Uva e Vinho, E. Exp. de Vacaria. Vacaria, Rio Grande do Sul , Brasil, 2001 AVALIAÇÃO DO EFEITO DOS EQUIPAMENTOS ‘Agrocare’ DA AGROQUALITY NAS CÂMARAS FRIAS COM ATMOSFERA 1 CONTROLADA NA QUALIDADE DE MAÇÃS FUJI.(VACARIA, RS, 2001) Equipe técnica: Dra Rosa Maria Valdebenito Sanhueza, Pesquisadora Vanderlei C. da Silva, Auxiliar de apoio à pesquisa Valdair S dos Santos, Auxiliar de apoio à pesquisa Instituição executora : Embrapa Uva e Vinho, E. Exp. de Vacaria. Local : Vacaria, RS. Câmaras frias : Agropecuária Schio. Introdução As podridões de maçãs são responsáveis por grande parte das perdas de frutas durante o período de pós-colheita. No Brasil vários são os agentes causais destas doenças nos que se destacam fungos como Penicillium expansum, Botrytis cinerea e Alternaria alternata citados na ordem decrescente de importância(1). Os organismos citados são conhecidos como patógenos que iniciam a infecção das maçãs após o período de colheita. Contudo, além dos fungos citados, outros que infectam a fruta ainda no campo e induzem um processo de infecções latentes causam no Brasil perdas consideráveis quando os verões são quentes e chuvosos. Neste grupo se encontram os patógenos Cryptosporiopsis perennans/ Pezicula malicorticis, de importância crescente, e Botryosphaeria dothidea e Colletotrichum gloeosporioides/Glomerella cingulata.(1 ) A produção de maçãs no Brasil se concentra em duas cultivares, ‘Gala’ e ‘Fuji’ , mas, maiores perdas são constatadas na cv Fuji que tem mostrado maior suscetibilidade a estas doenças principalmente à podridão causada por P. expansum. Os métodos de controle dos patógenos proprios de pós-colheita - Penicillium, Botrytis e Alternaria- são bem conhecidos no Brasil e incluem medidas que assegurem a menor suscetibilidade da fruta às infecções e a menor pressão de inóculo. Nestas são listadas a colheita no ponto adequado para a cultivar, medidas de higiene nas embalagens, sacolas de colheita e nas instalações onde se manuseia as maçãs, a desinfestação da água de lavagem e do ambiente com produtos que contém cloro orgânico, a desinfestação das maçãs e da água com luz UV-C , o uso de fungicidas em pré e pós-colheita e a utilização de atmosfera controlada(2)(3). Embora o manejo integrado destas doenças reduza as perdas por podridões, a alta suscetibilidade das maçãs Fuji, a sua maior exposição no campo às infecções causadas pelos patógenos associados às doenças de verão por ser uma cv tardia e no período de conservação, por ser armazenada por 8 ou mais meses, faz desejável a 2 procura por métodos que diminuam mais ainda as perdas por essas podridões. Relatos prévios têm mostrado a eficacia do sistema ‘Agrocare’ para diminuir as podridôes de maçãs causadas por Botrytis e por Penicillium e para inibir o desenvolvimento desses patógenos mas esses trabalhos não estudaram o efeito do sistema na cv Fuji no desenvolvimento de podridões já iniciadas antes da frigorificação nem nas podridões de verão que são comuns no Brasil. Assim, o objetivo deste trabalho foi verificar nas condições do Sul do Brasil o impacto do uso do equipamento ‘Agrocare’ da empresa Agroquality, colocado em uma câmara de AC, na redução da contaminação do ambiente por Penicillium expansum, na diminuição de podridões desenvolvidas naturalmente nas maçãs e no avanço de podridões em maçãs Fuji inoculadas artificialmente. Descrição das atividades Duas câmaras frias com 1000 m 3 cada foram higienizadas e em uma delas foi instalado o aparelho ‘Agrocare’ modelo XES-485Rx (Agroquality S. A.) com objetivo de ionizar o oxigênio do ambiente. Os locais foram preenchidos durante aproximadamente dez dias com bins contendo maçãs ‘Fuji’ e, no momento de fechamento para preparo da atmosfera controlada (2/05/2001), foram colocadas nas câmaras, maçãs com podridões causadas pela inoculação artificial de Botrytis cinerea(104con/mL), Penicillium expansum(103con/mL),, Botryosphaeria dothidea (106con/mL) e Cryptosporiopsis perennans(106con/mL). A câmara considerada testemunha foi mantida somente com o tratamento de atmosfera controlada(AC) ------ e outra com AC mais o equipamento ‘Agrocare’. Cada tipo de podridão foi estabelecida em 4 repetições constituídas por 5 frutos, cada um com 4 ferimentos de 0,4 cm de diâmetro. Amostras de maçãs sadias com e sem ferimentos e sem inocular foram acrescentadas aos tratamentos. Nesta ocasião foi feita também a determinação da população de contaminantes ambientais nas duas câmaras de acordo ao método desenvolvido pela Embrapa Uva e Vinho ( Valdebenito Sanhueza, 1999) e determinada em 20 frutos de calibre 150 de cada local, a firmeza e os sólidos solúveis. 1. Avaliação inicial. A avaliação do avanço das podridões nas maçãs inoculadas foi feita no 1/08/2001 e as outras determinações conduzidas no21/08/2001( contaminação do ambiente e da qualidade das maçãs). 2.Avaliação final. Na abertura das câmaras feita no inicio de dezembro, foi avaliada em 20 maçãs de cada câmara a firmeza , os sólidos solúveis e nas maçãs presentes em 10 bins retirados do centro de cada uma das câmaras frias em estudo, a 3 quantidade e o tipo de podridão ou disturbio fisiológico Em cada câmara quantificou-se também a contaminação ambiental por Penicillium com o método citado na avaliação inicial. e com auxilio de um succionador de partículas Burkard que deposita amostras do ar em placas com meio de cultura de Martin. Os resultados obtidos foram submetidos a análise estatística e são apresentados nas Tabelas 1 a 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliação inicial. Após 4 meses de frigorificação, os dados obtidos mostraram que nas condições desta avaliação, não se observou efeito marcante do aparelho em estudo no avanço das podridões nas maçãs Fuji inoculadas e colocadas na câmara com podridão já estabelecida.(Tabela 1) Os resultados obtidos diferem dos relatados préviamente por Moggia et al. e por Pinilla et al., conduzidos com maçãs Royal Gala e Richared, respectivamente. Esta diferença pode ser devida à maior suscetibilidade da cv Fuji às podridôes mas tambem as diferenças metodológicas utilizadas no trabalho ora relatado. Neste caso foi medido o avanço de podridões desenvolvidas préviamente após 120 d de frigorificação, enquanto que nos trabalhos antes citados o desenvolvimento das podridões ocorreu durante a armazenagem e a avaliação do tamanho das lesões feita em até 90 dias. Esta diferença de resultados, portanto, não contradiz os dados obtidos pelos pesquisadores na avaliação destes equipamento mas informa que, quando os patógeno estão colonizando a polpa, fora do alcance do efeito do ozono, não há restrição das podridões. De igual forma, não se observou efeito positivo derivado do uso deste equipamento na contaminação ambiental das câmaras após 4 meses de frigorificação. Neste caso porém, considerou-se recomendável repetir a avaliação deste fator na avaliação final visto que, a execução das tarefas ficou prejudicada debido ao tempo exiguo permitido pela abertura das câmaras de AC e pelo fato de, em AC, a população de contaminantes ser naturalmente baixo fator que interfere na precisão da avaliação comparativa desta variável após 4 meses de frigorificação. Na avaliação da perda de peso e da firmeza foi também difícil estabelecer diferenças pela pouca variabilidade destes parâmetros na cv ‘Fuji’ após 4 meses de AC. Os dados obtidos são diferentes aos relatados por Moggia et al em trabalhos feitos com a cv Royal Gala e a diferença pode ser atribuido a menor suscetibilidade da cv ‘Fuji’ à desidratação, fator de alta relevância nas cvs do grupo das Gala. Somente verificou-se efeito positivo do uso deste tratamento nesta avaliação 4 quando considerada a percentagem de infecção de ferimentos não inoculados e a manutenção da quantidade de sólidos solúveis.(Tabela 1 e 2). Avaliação final. Após 8 meses de frigorificação os dados obtidos na abertura das câmaras mostraram que o uso do equipamento reduziu em 58% a quantidade de maçãs com podridões nos bins avaliados (Tabela 4, Fig 1.) e em 93,6 % da contaminação ambiental por Penicillium (Tabela 5, Fig 2) . Nas podridões por Penicillium , por Alternaria e na podridão amarga ( C. gloeosporioides/G. cingulata), verificou-se a redução da quantidade de frutos com lesões , porém , não se detectou diferença estatística significativa do número de frutos das duas câmaras. Entretanto, nas podridões por Botrytis e por Cryptosporiopsis que constituem a maior parte dos frutos perdidos, a quantidade de maçãs infectadas foi reduzida significativamente (Tabela 3, Fig 3). No caso da podridão carpelar que é uma doença de etiologia complexa, houve também uma redução da fruta afetada. Os resultados relacionados à redução das podridão por B. cinerea desenvolvida durante a frigorificação coincidem com os relatos de Garcia et al sobre a inibição deste patógeno nas câmaras com o sistema ‘Agrocare’ e da redução do desenvolvimento desta podridão quando iniciada durante a frigorificação. No caso de Penicillium porém o efeito inibidor citado por não foi claramente demostrado provavelmente porque neste caso avaliou-se fruta naturalmente infectada e no relato citado a inoculacão foi artificial. De acordo aos dados levantados, este é o primeiro estudo em caracterizar o impacto do sistema ‘Agrocare’ na perda por podridões nas maçãs ‘Fuji’ sob condições de manejo comercial de fruta . O equipamento sob avaliação não afetou significativamente a firmeza das maçãs ‘Fuji’, confirmando-se a tendência observada na avaliação feita após quatro meses de armazenagem , mas manteve em nível menor os sólidos solúveis fato que pode ser uns dos fatores relacionados com a menor incidência de podridões. É conhecido que, na medida que a quantidade de sólidos solúveis aumenta na fruta, o desenvolvimento de infecções latentes se vê favorecido. A redução da população de Penicillium verificada na câmara de AC com o equipamento não resultou em uma redução marcante deste tipo de podridão, provavelmente porque nas condições de atmosfera controlada a fruta armazenada apresenta menos ferimentos ou ferimentos cicatrizados e, portanto, novos processos de infecção deverão ser pouco frequentes. A redução das podridões causadas por Cryptosporiopsis e pela podridão carpelar pelo uso do sistema ‘Agrocare’ é de grande importância para reduzir 5 perdas de pós-colheita nas condições do Brasil visto que estas podridões têm sido as mais freqüentes nas últimas duas safras e não se dispõe para elas de outro tipo de controle(Valdebenito Sanhueza, 2001). Tabela 1.Podridões de maçãs inoculadas nas câmaras com e sem o equipamento ‘Agrocare’( Vacaria 01/08/2001) Tratamento Fruto s/ ferimento Fruto c/ ferimento(FF) Câmara Tratada Frutos Ferimentos % % 0 0 0 0 Lesões cm 0 0 Câmara Testemunha Frutos Ferimentos % % 0 0 15 8,7 F.F.+ P. expansum FF.+ B. cinerea FF.+ C. perennans FF.+ Botryosphaeria 100 100 90 70 5,5 5,5 0,43 1,1 100 100 100 30 97,5 100 85 39 Tabela 2 Efeito do ‘Agrocare' na contaminação ambiental e nas características fisiológicas de maçãs Fuji em Vacaria, RS, Brasil Variável avaliada 1.Contaminação ambiental 2. Peso 3.Firmeza 4.Solidos solúveis 65 100 90 25 Lesões cm 0 1,3 P e n . 5,5 Bot. 3,3 5,5 1,3 0,9 (01/08/2001). Com aparelho Sem aparelho D i f e r e n ç a nos Inicial Final Inicial Final tratamentos (%) Com Sem 13 4 20 2 <70 < 90 667 14,9 14 613 15,5 14 685 14,4 12 657 14,0 12,4 < 6,6 > 4,0 0 < 4,1 < 2,8 >3,3 6 Tabela 3.Incidência de diferentes podridões de maçãs nas câmaras com e sem equipamentos Agrocare.Vacaria, RS, 2001. Tratamentos Cryptosporiopsis Penicillium N° N° Alternaria Botrytis N° N° Colletotrichum spp N° Testemunha( 78.3 a 36.2 a 38.2 a 104.5 a 2.2 a C25) Agrocare(5) 10.0 b 27.2 a 24.1 a 23.3 b 1.7 a Redução de 87.2 24.9 38.9 77.7 22.7 podridões (%) 1. Média de 10 repetições cada uma constituída por um bin com ± 350kg de fruta. Podridão carpelar N° 13.0 a 2.9 b 77.6 Dados seguidos de letras iguais na coluna não diferem entre si. (Duncan , 0,05) Tabela 4. Efeito do equipamento ‘Agrocare’ na perda total de fruta nas câmaras com Atmosfera controlada Cãmaras P e r d a t o t a l Perda total (Kg/bin) (Frutos/bin) Perda total Redução total ( % / bin) das podridões (Kg) Testemunha(25) 47.8 a 1 325 13.7 0,0 Agrocare (5) 19,9 b 105 5.7 58,4 1. Média de 10 repetições cada uma constituída por um bin com ± 350kg de fruta Dados seguidos de letras iguais não diferem entre si. (Duncan , p. 0,05) Tabela 5. Características fisiológicas de maçãs Fuji armazenadas com e sem o sistema ‘Agrocare’ e contaminação ambiental por Penicillium nas câmaras monitoradas. Tratamento Firmeza Sólidos solúveis Contaminação ambiental Nº/placa Testemunha (C25) 14.5 a 1 13.7 a 365.9 a Agrocare (C 5 ) 13.5 a 11.5 b 10.6 b Redução (%) 6.8 35.0 93.6 1. Média de 10 repetições cada uma constituída por um bin com ± 350kg de fruta . Dados seguidos de letras iguais não diferem entre si. (Duncan , p. 0,05). 7 Figura 1. Contaminação ambiental com Penicillium da câmara de AC (Fila inferior) e da câmara com AC e equipamento Agrocare (Fila inferior). Anexo Figura 2. Quantidade de maçãs ‘Fuji’ com podridões retiradas de dez bins da câmara de AC(Esquerda) e da câmara de AC com o equipamento ‘Agrocare’ (Direita). Anexo Figura 3. Redução de perdas por podridões de maçãs Fuji em câmaras com AC e o sistema ‘Agrocare’ Anexo BIBLIOGRAFIA CITADA VALDEBENITO SANHUEZA, R.M. Desinfecção de água e das câmaras frigorificas para diminuição do inóculo de Penicillium expansum, Boletim de Pesquisa 21. EMBRAPACNPFT, Pelotas, RS, 1991. 8 VALDEBENITO SANHUEZA,R.M. Podridões de maçás frigorificadas: guia para diagnóstico.Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria, Centro Nacional de Uva e Vinho, Brasilia: EMBRAPA-SPI, 1993.20p. VALDEBENITO SANHUEZA, R.M. Recomendações para o controle pós-colheita das podridões de maçãs. EMBRAPA-CNPUV, 1996. 4p. (Comunicado Técnico, 21). VALDEBENITO SANHUEZA, R.M. Uso de UV-C 9