29 de Novembro de 2012 ORÇAMENTO DE CIMA PARA BAIXO (TOP-DOWN BUDGETING) Carlos Alexandre Nascimento Agenda Definição e abordagem básica O modelo de Ferejohn and Krehbiel Dados comparativos Funciona? Definição e abordagem básica (I) • De acordo com Kim e Park (2006), a abordagem ‘bottom-up’ (‘de baixo para cima’) consiste em ministérios apresentando pedidos de orçamento, tipicamente descolados de expectativas realistas. • Seguem-se negociações entre o Autoridade Orçamentária Central (AOC) e ministérios, envolvendo discussões detalhadas sobre itens individuais de despesas. • Sob esta abordagem, a AOC tenta gerenciar a política fiscal por meio de um controle detalhado dos gastos. Exemplo: Orçamento ‘bottom-up’ na Estônia • A Estratégia do Orçamento do Estado 2005-2008 impôs limites firmes no início do processo, mas depois estes não se fizeram cumprir. • Como consequência, as propostas de orçamento rotineiramente continham itens não mencionados na estratégia e propostas de novos gastos, incluindo propostas rejeitadas anteriormente. • Perigo que os ministérios 'se acostumem com bons tempos’ e sempre esperem financiamento adicional. • Kraan et al (2008: 11) concluem: ‘Isto prejudicou ... a disciplina orçamentária durante o processo de preparação’. Definição e abordagem básica (II) A abordagem ‘bottom-up’ tem várias desvantagens (Blondal 2003: 14-15): 1. Toma muito tempo pois as propostas orçamentárias dos ministérios carecem de realismo e precisam ser renegociadas. 2. Há uma tendência inerente ao aumento de despesas e não facilita a realocação de recursos orçamentários. 3. Os valores agregados são incertos até ao final do processo. Definição e abordagem básica (III) • Em contraste, a abordagem 'top-down' começa com a Autoridade Orçamentária fixando um limite máximo agregado com base em pressupostos macro-econômicos e metas da política fiscal. • Este processo é normalmente complementado com tetos setoriais que são explicitamente baseados em prioridades políticas. • Como contrapartida, os ministérios têm mais autoridade para tomar decisões detalhadas de alocação dentro dos limites máximos aplicáveis. • No caso extremo, vale a filosofia de que ‘cada ministro é o seu próprio Ministro da Fazenda’. Definição e abordagem básica (IV) • O teto global de despesas pode variar em termos de abrangência, por exemplo, incluindo ou não benefícios sociais e pagamentos de juros. • Alguns países usam sub-tetos setoriais; outros diferenciam despesas correntes e de capital. • O número de sub-tetos varia muito (a Coréia do Sul possui mais do que 200; a Suécia apenas 27). • Propõe-se que não deva ser um número exagerado (algo em torno de 30). Definição e abordagem básica (V) • As abordagens ‘top-down’ e ‘bottom-up’ não são mutuamente excludentes. • Na prática, os sistemas orçamentários geralmente combinam elementos diferentes dos dois tipos de abordagens. • Em um sistema ‘top-down’, a Autoridade Orçamentária precisa manter a capacidade de fiscalizar os gastos setoriais, por exemplo, por meio de análises/revisões de programas e por executar uma função eficaz de ‘desafio’. Exemplo: a função de ‘desafio’ na Austrália • O Departamento de Finanças da Austrália é o responsável por coordenar a elaboração dos planos de gastos. • No final dos anos 90, responsabilidade substancial foi transferida para os ministérios setoriais e o DF dissolveu 9 de 13 braços analíticos do orçamento (ou seja, as equipes setoriais). • De acordo com Blondal et al (2008: 143), criou-se ‘um vácuo no centro ... tornou-se difícil para [o DF] exercer uma efetiva função de ‘desafio’ orçamentário frente aos ministérios e órgãos públicos’. Agenda Definição e abordagem básica O modelo de Ferejohn and Krehbiel Dados comparativos Funciona? O modelo de Ferejohn and Krehbiel (I) Gasto em Y x₂ Suponha (1) um orçamento com dois itens de despesa, (2) três atores com curvas de indiferença circulares e (3) tomada de decisão pela regra da maioria. x₁ x₃ O Gasto em X O modelo de Ferejohn and Krehbiel (II) Gasto em Y x₂ x₁ vence (eleitor médio) x₁ A (x₃ , x₁) x₃ O Abordagem ‘bottom-up’: no ‘processo de apropriações', cada dimensão é votada separadamente. O resultado final ‘A’ é a intersecção de medianas. x₃ vence (eleitor médio) Gasto em X O modelo de Ferejohn and Krehbiel (III) Gasto em Y x₂ x₁ A x₃ O Abordagem ‘top-down’: no ‘processo orçamentário’, os membros votam primeiro no tamanho do orçamento. Neste estágio, a mediana agregada determina a dotação global. mediana Gasto em X O modelo de Ferejohn and Krehbiel (IV) Gasto em Y x₂ A x₁ B Durante a segunda etapa deste processo, o resultado final ‘B’ é determinado pela mediana dos pontos ideais projetados na linha do orçamento. Aqui, B <A, ou seja, a abordagem ‘topdown’ proporciona um nível de gasto agregado menor do que o da abordagem ‘bottom-up’. x₃ O Gasto em X O modelo de Ferejohn and Krehbiel (V) • Ferejohn e Krehbiel (1987) demonstram que o mesmo processo também pode resultar em orçamentos relativamente maiores (A<B). • Em última análise, o resultado final dependerá da configuração das preferências dos legisladores (posicionamento dos pontos ideais). O modelo de Ferejohn and Krehbiel (VI) Gasto em Y A mudança na preferência dos legisladores gera um resultado no qual o valor total do orçamento sob a abordagem ‘top-down’ é maior do que sob a abordagem ‘bottom-up’ (A<B). x₂ B A x₃ x₁ O Gasto em X Agenda Definição e abordagem básica O modelo de Ferejohn and Krehbiel Dados comparativos Funciona? A Autoridade Orçamentária Central impõe limites (tetos) para o pedido inicial de despesas de cada ministério? Não, não há tais limites 5 Não, há apenas limites sugeridos/indicativos 3 Sim, mas apenas para alguns tipos de despesas (salários, por exemplo) 6 Sim, para todos os tipos de despesas 11 Outros 5 Fonte: Baseado nas respostas dos países da OCDE à questão 23 da Base de Dados da OCDE sobre Práticas e Procedimentos Orçamentários – 2007. Pesquisar: http://www.oecd.org/gov/budget/database. O Parlamento vota primeiramente sobre o valor total das despesas antes de votar sobre dotações específicas? (Países da OCDE) 25 20 20 15 10 10 5 0 SIM NÃO Fonte: Baseado nas respostas dos países da OCDE à questão 37 da Base de Dados da OCDE sobre Práticas e Procedimentos Orçamentários – 2007. Pesquisar: http://www.oecd.org/gov/budget/database. O seu órgão público/agência recebe apropriações como um valor total? Não, apropriação especifica gastos abaixo do nível de órgão público/agência 9 Sim, somente apropriação como um valor total para despesas operacionais, sem sub-limites 4 Sim, somente apropriação como um valor total para despesas operacionais, com sub-limite em salários 2 Sim, apropriação como um valor total cobrindo ambas despesas operacionais e de capital, sem sub-limites 1 Sim, apropriação como um valor total cobrindo ambas despesas operacionais e de capital, com sub-limite em salários 7 Outro 7 Fonte: Baseado nas respostas dos países da OCDE à questão 49 da Base de Dados da OCDE sobre Práticas e Procedimentos Orçamentários – 2007. Pesquisar: http://www.oecd.org/gov/budget/database. Agenda Definição e abordagem básica O modelo de Ferejohn and Krehbiel Dados comparativos Funciona? E aí, funciona? (I) • A Suécia implementou profundas reformas processuais em meados dos anos 90, redesenhando uma série de aspectos do processo orçamentário (Blondal 2001). • No processo legislativo, a Comissão de Finanças agora delibera sobre montantes agregados (Wehner 2007). • Sob o novo processo, alocações totais e setoriais amplas são fixadas antes das comissões setoriais deliberarem. Resultados orçamentários hipotéticos em uma votação item a item Governo Partido A Partido B Percentagem de Cadeiras no Parlamento 40% 35% 25% Aumento de despesas -1000 -1000 -500 -1000 Aumento de receitas 400 0 200 200 Poupança no item 1 300 300 300 300 Poupança no item 2 300 0 0 0 Poupança no item 3 0 700 0 0 Mudança líquida 0 0 0 -500 Fonte: Wehner (2007: Tabela 1) Resultado Estrutura das Comissões Fonte: Wehner (2007: Figura 1) Número de emendas parlamentares Fonte: Wehner (2007: Figura 3) Impacto líquido das emendas parlamentares Fonte: Wehner (2007: Figura 4) E aí, funciona? (II) • Von Hagen (1992) inicialmente argumentou que o voto global sobre o orçamento antes de tomar as decisões de alocação conteria as despesas totais. • Mais tarde, ele revisou sua opinião e argumentou que não é o sequenciamento em si que importa, mas sim a centralização da tomada de decisão sobre os agregados. • A evidência experimental em Ehrhart et al (2007) apóia as previsões teóricas feitas por Ferejohn e Krehbiel (1987). Conclusão COMENTÁRIOS FINAIS O Orçamento ‘Top-Down’ é um dos temas mais populares em reforma orçamentária nas últimas décadas. Envolve o sequenciamento das decisões orçamentárias de modo que as escolhas agregadas sejam feitas antes de se tomar decisões sobre alocações específicas. Esta abordagem também requer uma clara divisão de responsabilidades entre política fiscal e amplas alocações setoriais por uma lado, e alocações dentro dos setores, por outro. A evidência empírica geralmente é favorável à abordagem ‘top-down’ mas é difícil dizer que é um modelo infalível para conter a indisciplina fiscal. Q&A Q&A