A COMUNIDADE VAI À UNIVERSIDADE: REFLEXÃO SOBRE O PERTENCIMENTO E INTEGRAÇÃO DOS ALUNOS DE ORIGEM POPULAR NO ESPAÇO ACADÊMICO Luiz José de Sousa, Nathália Costa Gonçalves, Jéssica Guimarães Barbosa, Geane Leite de Brito (Pet-Conexões de Saberes- Identidades UFRJ) Warley da Costa (Professora UFRJ) Introdução O texto que se segue propõe-se a apresentar o projeto PET/Conexão de Saberes - Identidades no contexto da política de extensão adotada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Assim, serão elencadas as atividades e a dimensão social das ações desenvolvidas pelo grupo com vistas a uma reflexão sobre a universidade pública brasileira contemporânea a nível institucional e sua posição diante das demandas sociopolíticas que enfrentamos e que incidem no próprio processo de produção do saber. Articulando estudantes de origem popular dos principais cursos de licenciatura da UFRJ – Letras, História, Filosofia, Geografia e Ciências Sociais – o projeto pretende provocar o desenvolvimento das ideias de “identidade” e “integração” dos universitários de origem popular com seu novo “mundo” acadêmico culminando, consequentemente, no sentimento de pertencimento a este ambiente, legitimando-se enquanto sujeito, objeto de estudo e também como produtor de saber. Nesse sentido, procura-se desenvolver estratégias que visem à permanência de qualidade desse estudante bem como contribuir para seu processo de integração acadêmica. Adiante veremos também a relevância das atividades de extensão universitária, associada com ensino e pesquisa, e sua importância para o diálogo crítico entre a universidade e a sociedade. Objetivos Apresentar as ações do PET-Conexões de Saberes/ Identidades, são elas: Oficinas realizadas em escolas Públicas situadas nas comunidades do Rio de Janeiro e a elaboração de atividades dentro da própria universidade promovendo a permanência do estudante no ambiente acadêmico, buscando despertar no aluno de origem popular o sentimento de pertencimento à universidade. E por fim discutir o funcionamento de tais atividades como políticas inclusivas, apresentando novas possibilidades de pensar esse novo ambiente em estágio atual de transformação. Esse movimento permite-nos analisar a relação entre o ambiente social formador dos EUOP (estudante universitário de origem popular) 0e sua participação na extensão universitária buscando sua correspondência tanto quanto suas consequências. Metodologia Para o presente texto, utilizou-se vasto material bibliográfico especializado, além de consultas ao material disponível como o documento de apresentação do projeto, planejamento anual, o material produzido para as oficinas e para as demais atividades propostas ao meio acadêmico. Pautamos-nos também no desempenho e na experiência do grupo a partir das oficinas e atividades desenvolvidas pelos conexistas na própria universidade. Dessa forma torna-se possível dialogar com autores de variadas perspectivas que trabalham a temática, a fim de utilizar suas ideias para o desenvolvimento de nossas atividades inclusivas. Resultados e discussão O PET- Conexões de Saberes/ Identidades, tem como objetivo a realização de atividades que visam a extensão das relações entre Universidade e comunidade. Elaborando tanto atividades inclusivas dentro da propria universidade, quanto outras a fim de aproximar o estudante de origem popular ao ambiente acadêmico. “buscar estratégias políticas, epistemológicas e pedagógicas que permitam que esses novos atores sociais sejam também protagonistas, produtores de saberes socialmente legitimados, leitores e escritores de suas próprias práticas sociais.” (GABRIEL E MOEHLECKE, 2006). Uma das principais atividades são as oficinas realizadas dentro das comunidades do Rio de Janeiro, tais oficinas são fundamentais para o fortalecimento do diálogo entre universidade e a sociedade, a fim de absorver tais demandas tanto populares, quanto acadêmicas. A oficina constitui-se a partir do dialogo e colocação de informaçoes, com o intuito de apresentar novas possibilidades. O foco principal das oficinas é dialogar sobre as novas políticas educacionais que vem sendo adotadas a fim de diminuir o abismo entre comunidade e universidade. Na última década foram elaboradas diversas medidas com o intuito de incluir e acolher os EUOP na universidade pública Brasileira. A elaboração das oficinas é feita primeiramente como atividade interna dos conexistas onde são definidos os eixos de abordagens e a preparação de material a ser utilizado durante as apresentações. Sob orientação da tutora do projeto, os bolsistas realizam uma pesquisa com diversas fontes para arrticular de forma pedagógica o conteúdo referente às formas de acesso e permanência dos EUOP nas universidades do estado do Rio de Janeiro. A coleta de dados é feita durante as reuniões semanais e/ou durante os plantões dos alunos conexistas, onde ocorre a discussão da relevência dos assuntos a serem abordados bem como a questão operacional da atividade, como por exemplo a elaboração de questionários e avaliações além da preparação de panfletos e demais ferramentas para tornar as oficinas mais dinâmicas. Dessa forma busca-se informações atualizadas sobre a política educacional adotada pelo Estado brasileiro, no que se refere às formas de acesso à universidade, como o ENEM, o SiSu e outras formas de ingresso, incluindo as políticas de ações afirmativas e medidas para a permanência dos EUOP. Além de demonstrar os mecanismos atuais de acesso à universidade pública, apresenta-se individualmente cada uma dessas universidades do Rio de Janeiro, a localização de seus campi e programas de permanência. Dentre os objetivos chaves da elaboração das oficinas, busca-se estabeler um relacionamento ao qual possamos manter contato direto com os alunos, a fim de elucidar suas dúvidas e os principais obstáculos expostos por eles. Utiliza-se como corpus para a produção de novos materiais os questionários e as avaliações individuais distribuidas dentro das escolas nas quais realizamos as oficinas. Utilizamos esse material como forma de estabelecer parâmetros socioeconômicos quanto à origem desses alunos, e a partir destes buscamos novas formas de dialogar com eles. Em síntese, buscando as respostas a partir dos questionamentos dos próprios alunos. Outra atividade realizada no interior do ambiente acadêmico é a apresentação de filmes temáticos como o Cineclube, além das Terças de Diálogos. Nestes eventos ocorrem debates inseridos num contexto sociopolítico que possibilitam uma reflexão através dessas variadas linguagens, tratando frequentemente de assuntos caros ao projeto como, por exemplo, as desigualdades sócio-raciais. As realizações de tais atividades vêm apresentando resultados significativos dentro do que é proposto, como por exemplo, a participação de alunos dos vários cursos da UFRJ proporcionando maior integração entre os EUOP, bem como tem despertado interesse nos alunos onde são ministradas as oficinas. Conclusão Muito longe de desgastar a temática do processo de integração, identificação e pertencimento do aluno de origem popular em ambiente universitário e a relevância de projetos de extensão universitária como o Pet-Conexões de Saberes/ Identidades, o debate ora iniciado insere-se num estágio atual de transformações sociais que nos permite analisar a relação entre o ambiente social formador dos EUOP e sua participação na extensão universitária buscando sua correspondência tanto quanto suas consequências. “Assim, a universidade não é vista apenas como um lugar de produção e transmissão do conhecimento científico, mas também como escritório e campo de pesquisa/intervenção.” (GABRIEL E MOEHLECKE, 2006) Ou seja, dispõem-se tais alunos atualmente numa relação sujeito-objeto do conhecimento adquirido através do qual o mesmo torna-se o estudante e o objeto estudado, possuindo como consequência natural o reconhecimento do aluno (EUOP) como um modelo universitário legítimo. Referências BOURDIEU, P. Escritos de Educação. Org. NOGUEIRA, M. A. e CATANI, A. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 1989. GABRIEL, C. T.; FERREIRA, M. S.; MONTEIRO, A. M. Democratização da Universidade Pública no Brasil: Circularidades e subversões na política de currículo. in: LOPES, A., LEITE, C., MACEDO, E. F. e TURA, M. L. (orgs.) Políticas Educativas e Dinâmicas Curriculares no Brasil e em Portugal. Rio de Janeiro: DP et Alii, 2008. GABRIEL, Carmen Teresa; MOEHLECKE, Sabrina. Conjuntura educacional. Revista contemporânea de educação. Rio de Janeiro, V.1 N° 2 ,2006. http://www.revistacontemporanea.fe.ufrj.br/index.php/contemporanea/issue/view/4 Acessado em: 10 de Abril de 2014. SILVA, Jailson de Souza e. Por que uns e não outros? Caminhada de Jovens Pobres para a Universidade. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Sete Letras, 2011