EN DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 68 | Nº 10 | 10 de JULHO de 2015 | SEXTA-FEIRA PT EN CH EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE MACAU | PREÇO 12.00 Mop www.oclarim.com.mo PAPA PEDE AOS CRISTÃOS QUE NÃO SE DEIXEM VENCER PELA ARROGÂNCIA E MEDIOCRIDADE Livres da Corrupção DESTAQUE PÁG. 2 Padre Jojo Ancheril ajuda o Nepal ARCEBISPO D. SAVIO HON TAI-FAI Pequim cada vez mais tolerante LOCAL PÁG. 5 A Igreja Católica para lá da Cortina de Ferro ECLESIAL PÁG. 15 Palmyra: O rapto da Noiva do Deserto APONTAMENTO PÁG. 16 LOCAL PÁG. 4 D E S TAQ U E O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 2 PT PAPA PEDE AOS CRISTÃOS QUE NÃO SE DEIXEM VENCER PELA ARROGÂNCIA E MEDIOCRIDADE Livres da Corrupção JOSÉ MIGUEL ENCARNAÇÃO (*) [email protected] O Papa Francisco pediu aos cristãos para se livrarem da corrupção durante a festividade do Corpo de Cristo. Um problema que vem afectando o Vaticano e contra o qual o Santo Padre tem encetado esforços, com a substituição de altos responsáveis da Cúria Romana. Do outro lado do mundo, o mesmo discurso e as mesmas acções vêm sendo tomadas pelo Presidente chinês Xi Jinping. É a igualdade na diferença. Logo após ocupar a Cadeira de Pedro o Papa Francisco elegeu o combate à corrupção como uma das prioridades do seu pontificado. Disciplinador e rigoroso em todas as coisas, como é apanágio dos jesuítas, o Sumo Pontífice procedeu a uma profunda reforma na Cúria Romana e nas instituições mais carismáticas do Vaticano. A título de exemplo, a nomeação de Ernst von Freyberg para presidente do Instituto para as Obras de Religião – mais conhecido como Banco do Vaticano – foi o culminar de um processo doloroso para a Santa Sé, cujo resultado foi o afastamento de inúmeras personalidades de lugares-chaves da administração da cidade-Estado. No passado dia 4 de Junho, durante a homilia da festividade do Corpo de Cristo, o Papa lançou «uma severa admoestação contra a corrupção». Segundo o L’Osservatore Romano, Francisco afirmou: «Jesus derramou o seu Sangue como preço e lavacro, para que nós fôssemos purificados de todos os nossos pecados: para não nos aviltarmos, fixemos o nosso olhar nele, saciemo-nos na sua fonte, a fim de sermos preservados do risco da corrupção. E então experimentaremos a graça de uma transformação: seremos sempre pobres pecadores, mas o Sangue de Cristo libertar-nos-á dos nossos pecados, restituir-nos-á a nossa dignidade. Livrar-nos-á da corrupção. Sem o nosso mérito, com humildade sincera, conseguiremos levar aos irmãos o amor de nosso Senhor e Salvador». O Santo Padre aproveitou para explicar o conceito de “aviltar”: «Significa deixar-nos contaminar pelas idolatrias do nosso tempo: o aparecer, o consumir, o eu no centro de tudo; mas também o ser competitivo, a arrogância como atitude vencedora, o nunca termos que admitir que erramos, que temos necessidade. É tudo isto que nos avilta, que nos torna cristãos medíocres, tíbios, insípidos, pagãos». Para Francisco há o perigo de nos “desagregarmos”: «Nós desagregamo-nos quando não somos dóceis à Palavra do Senhor, quando não vivemos a fraternidade S E M A N Á R I O C C AT Ó L I C O D D E D M A C AU entre nós, quando competimos para ocupar os primeiros lugares — os arrivistas — quando não encontramos a coragem de dar testemunho da caridade, quando não somos capazes de oferecer esperança. É assim que nos desagregamos». Posto isto, qual a solução? O Papa dá a receita: «A Eucaristia impede que nos desagreguemos, porque é vínculo de comunhão, cumprimento da Aliança e sinal vivo do amor de Cristo, que se humilhou e se aniquilou para que nós permanecêssemos unidos. Participando na Eucaristia e alimentando-nos dela, somos inseridos num caminho que não admite divisões. Cristo presente no meio de nós, no sinal do pão e do vinho, exige que a força do amor ultrapasse todas as dilacerações e, ao mesmo tempo, que se torne comunhão inclusive com o mais pobre, sustentáculo para quem é frágil, atenção fraterna a quantos têm dificuldade de carregar o peso da vida quotidiana, e correm o perigo de perder a própria fé». Na mesma homilia, o Papa lembrou ainda os que sofrem pela fé: «sintamo-nos unidos em comunhão com muitos dos nossos irmãos e irmãs que não têm a liberdade de manifestar a sua fé no Senhor Jesus. Sintamo-nos unidos a eles: entoemos cânticos com eles, louvemos juntamente com eles, adoremos com eles. E veneremos no nosso coração aqueles irmãos e irmãs aos quais foi pedido o sacrifício da própria vida em fidelidade a Cristo: o seu sangue, unido ao Sangue do Senhor, seja penhor de paz e de reconciliação para o mundo inteiro». CHINA: DIFERENTE REALIDADE? Com as devidas ressalvas, o combate travado pelo Papa Francisco encontra semelhanças na luta anti-corrupção levada a cabo pelo Presidente chinês Xi Jinping. Embora seja difícil fazer coincidir o modus operandi dos dois líderes, os resultados estão à vista: moralização das instituições, redução do despesismo e julgamento dos prevaricadores, independentemente da sua posição hierárquica. Eleitos para as respectivas funções com um dia de diferença, Francisco e Xi Jinping herdaram dois Estados mergulhados na lama da corrupção, sendo que os seus antecessores muito fizeram para travar os infractores, independentemente dos cargos que ocupavam nos aparelhos de Estado e do grau de promiscuidade entre a política e os negócios. O tamanho exíguo do Vaticano e o número reduzido de funcionários que nele trabalham, incluindo leigos e sacerdotes, leva os menos familiarizados a pensarem que o Papa tem a tarefa mais facilitada, em comparação ao homólogo chinês. Esquecem, no entanto, que a Igreja Católica está espalhada pelos quatro cantos do mundo, sendo frequentes os escândalos de corrupção e de índole social. Recorde-se, por exemplo, os casos de pedofilia que abalaram a Igreja Católica nos Estados Unidos e resultaram no afastamento de altas figuras do Clero. Se anteriormente os tentáculos do Poder Central da RPC estendiam-se pelas províncias do País, concentrando em si as decisões políticas tomadas de Norte a Sul, e de Leste a Oeste, hoje as diferentes realidades administrativas criadas nas últimas décadas – entre as quais Hong Kong e Macau – levaram a um aumento da autonomia dos Governos locais, com consequências nefastas para a vida das populações, fruto da entrada de capitais em catadupa nos cofres dos municípios, sem a devida fiscalização por parte das autoridades nacionais. Em época de globalização, quando se vão intensificando os esforços a nível mundial para o combate à corrupção, à invasão fiscal e a outras formas de empobrecimento dos países, não deixa de ser curioso que Estados tão diferentes como são a China comunista e o Vaticano tenham encetado uma luta contra a corrupção capaz de auto-reformular a própria organização política. (*) com L’Osservatore Romano DIRECTOR: Pe. José Mario O. Mandía I ADMINISTRADOR: Alberto Santos | ASSISTENTE DA ADMINISTRAÇÃO: Wong Sao Ieng I EDITOR: José Miguel Encarnação I EDITOR-ADJUNTO:Benedict Keith Ip | REDACÇÃO: Pedro Daniel Oliveira, Joaquim Magalhães de Castro (Grande Repórter) I SECRETARIADO DA REDACÇÃO E FOTOGRAFIA: Ana Marques I TRADUÇÃO: May Shiu-Ling Ho | COLABORAÇÃO: João Santos Gomes, Pe. João Eleutério, Carlos Frota, Luís Barreira, José Pinto Coelho, Vítor Teixeira, Manuel dos Santos, Oswald Vas, Padres Claretianos I DIRECÇÃO GRÁFICA: Miguel Augusto I PAGINAÇÃO: Lei Sui Kiang I PROPRIEDADE: Diocese de Macau MORADA: Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, Macau I TELEFONE: 28573860 - FAX: 28307867 I URL: www.oclarim.com.mo I E-MAIL: [email protected] I IMPRESSÃO: Tipografia Welfare Ltd. D E S TAQ U E O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 3 PT A CAMINHO DA AMÉRICA LATINA Francisco deseja «bem-estar» a todos os portugueses O Papa Francisco enviou um telegrama ao Presidente da República, quando sobrevoava Portugal a caminho da América Latina, desejando a todos os portugueses «harmonia e bem-estar». «Ao sobrevoar Portugal numa visita pastoral que me leva ao Equador, Bolívia e Paraguai, tenho o prazer de saudar Vossa Excelência. Formulação cordiais votos para sua pessoa e inteira Nação sobre a qual invoco benevolência divina para que seja consolidada nela esperança e alegria de viver na harmonia e bem-estar de todos seus filhos», lê-se no telegrama do Papa a Cavaco Silva, divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Francisco iniciou no passado Domingo a nona viagem apostólica internacional, para visitar o Equador, a Bolívia e o (equivalente a mais de meia volta ao mundo) em sete voos que totalizam cerca de 33 horas. OBRA DE DEUS Paraguai. A viagem “maratona” do Papa, que decorre até 13 de Julho, leva o antigo cardeal de Buenos Aires, na Argentina, ao encontro de milhões de latino-americanos. Francisco visita, entre outros lugares, uma prisão de menores e um hospital, naquela que é a sua segunda visita à América Latina, com 22 discursos programados. No total, o Papa vai percorrer 24 mil 730 quilómetros O Papa Francisco agradeceu a Deus à chegada ao Equador, a primeira escala na visita pela América Latina. «Agradeço a Deus por me ter permitido voltar à América Latina e estar aqui hoje, convosco, nesta linda terra do Equador», disse o Papa argentino na cerimónia de boas-vindas, no aeroporto de Quito. «Sinto alegria, gratidão, ao ver as calorosas boas-vindas que me dão. É mais uma prova do carácter acolher que tão bem define as pessoas desta nobre nação», declarou o Sumo Pontífice, que foi recebido pelo Presidente equatoriano, Rafael Correa. No seu primeiro discurso, o Papa lembrou que a América Latina é uma região onde a fé do povo já deu muitos e bons frutos. Francisco acredita que será essa mesma fé a chave para ultrapassar os problemas sociais que subsistem na região. «Podemos encontrar no Evangelho as chaves que nos permitem enfrentar os desafios actuais, avaliando as diferenças, fomentando o diálogo e a participação sem exclusões, para que as realizações, o progresso e o desenvolvimento que se têm conseguido se consolidem e possam garantir um futuro melhor para todos, pondo uma especial atenção nos nossos irmãos mais frágeis e nas minorias mais vulneráveis, que são a dívida que toda a América Latina tem», disse o Papa. In Página 1 LOCAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 4 PT ARCEBISPO D. SAVIO HON TAI-FAI Pequim cada vez mais tolerante D. Savio Hon Tai-Fai, secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos, disse a’O CLARIM que a Religião Católica é bem aceite pela actual geração chinesa, o que não significa que a população frequente a Igreja. «Significa que não se opõe e concorda com alguns valores religiosos», explicou. Acerca da tradição cultural chinesa, sustentando que «não era tão aberta como agora», referiu que por vezes há «algum conservadorismo», mas «o problema não é grande, porque a cultura, principalmente a confucionista, coincide em muitos aspectos com os valores do Evangelho». A título de exemplo, lembrou as palavras de Confúcio: «“Não faças aos outros o que não gostarias que os outros te fizessem”», e também do Senhor: «“Faz aos outros o que gostarias que os outros te fizessem”» para concluir que «sendo assim estamos de acordo em muitos aspectos». D. Savio Hon Tai-Fai, ao olhar para o século XVI, também recordou as palavras do jesuíta Matteo Ricci: «Ele disse que “se São Paulo fosse para a China pregar o Evangelho, iria encontrar muitos pontos em comum entre a cultura chinesa e a fé [Católica]”». «No que diz respeito à cultura chinesa, há uma abertura de base, mas o que eu disse sobre a abertura do homem comum [na China] é algo notável», frisou. A abertura também aconteceu de forma gradual no seio do Poder Central: «Foi em 1957 que a Associação Patriótica Católica Chinesa foi estabelecida no continente chinês, sendo a primeira vez que surgiu o nome “Católica Chinesa”». «Para quem está de fora dizemos que somos uma religião, que acredita em Deus (天 主). Existem hoje cinco grandes religiões na China, incluindo uma que acredita em Deus. Mas olhando para dentro queremos dizer Igreja Católica. Antes do Partido Comunista criar uma nova China, “Católica” era o nome para referir a Igreja Católica, mas também um termo usado pela Igreja Oriental e pela Igreja Ortodoxa, embora sem estarem em plena comunhão com o Papa. Portanto, a fim de expressar que a Igreja Católica era a única que estava em comunhão com o Pontífice Romano, foi chamada Igreja Católica Romana», recordou. «Todo o mundo sabia que não era a Igreja Católica dos ortodoxos, mas sim a que estava em comunhão com o Papa. Quando o nome “Católica Chinesa” apareceu, do ponto de vista do regime chinês, a ligação [da Igreja Católica na China] ao Pontífice Romano foi cortada», porque «considerava o Vaticano imperialista, razão pela qual não podia deixar os seus cidadãos terem qualquer relação com [o Catolicismo Apostólico Romano]», explicou. VIRAGEM «Em 1982 Deng Xiao Ping quis a reforma e a abertura [da RPC]. Desde o seu tempo que a abertura do Partido à religião tem NOVO FERIADO PELA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Justiça ao papel da China A historiadora Tereza Sena disse a’O CLARIM que é legítimo estabelecer em Macau o feriado do “Dia Comemorativo do 70º Aniversário da Vitória do Povo Chinês na Guerra contra o Japão e da Vitória Mundial contra o Fascismo”. A proposta de lei para a comemoração se poder realizar no próximo dia 3 de Setembro foi ontem aprovada, por unanimidade, na Assembleia Legislativa. «Como cidadã só tenho que me congratular com qualquer invocação contra o fascismo e a guerra, por causa das situações de violência, de opressão e de desrespeito pelos Direitos Humanos», referiu a historiadora do Centro de Estudos das Culturas Sino-Ocidentais do Instituto Politécnico de Macau. «A China esteve muito tempo afastada do concerto das nações, ao nível da comunidade internacional, por isso tem todo o direito de fazer lembrar o seu papel na Segunda Guerra Mundial. Geralmente, conhece-se e invoca-se a intervenção dos Estados Unidos e dos Aliados, mas é justo haver uma vi- são descentralizada e equilibrada sobre o conflito», explicou. «É também uma boa oportunidade para Macau lembrar o seu papel, como porto seguro no acolhimento de muitos refugiados, não só da China continental, como também de Hong Kong. Houve miséria e mortes, como é sabido, mas Macau figura na História como uma boa lição de liberdade e humanismo, porque houve aqui um espaço para diálogo e para minorar o sofrimento de muitas pessoas», concluiu. P.D.O. crescido de forma notória», acentuou, vincando que «as pessoas têm uma espécie de espírito religioso». Nesse sentido, aludiu à importância do Documento nº 19, referente a todas as religiões, lançado pelo Governo Central: «A Revolução Cultural aconteceu de 1966 até à morte de Mao Tsé Tung [em 1976]. Toda a actividade religiosa cessou e ninguém se atrevia a falar de religião durante esse período. Era necessário este documento para as pessoas poderem falar novamente e voltar a participar nas actividades religiosas». No seu entender, «o Documento também abordou o problema católico, porque a Igreja Católica [Apostólica Romana] é certamente autónoma e tem a sua própria governação. Para ter a certeza, do ponto de vista do regime, a Igreja Católica chinesa também é auto-governada». Já nas sociedades chinesas de Taiwan, de Hong Kong e de Macau não é usada a designação “Católica Chinesa”. «Apenas dizemos “Católica”. O mesmo vale para as comunidades chinesas de outros lugares, como na Austrália e nos Estados Unidos. Apenas sob o regime político [em vigor na RPC] é usado o termo “Católica Chinesa”», aclarou. «É um termo oficial, mas as pessoas usam-no? Não necessariamente. Muitas pessoas também dizem: “Nós somos católicos, católicos tradicionais”. Significa isto que querem estar em comunhão com o Santo Padre», concluiu o secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. (*) com Benedict Keith Ip O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 5 PT DESTRUIÇÃO NO NEPAL “CHAMA” PADRE JOJO ANCHERIL Por uma boa causa O padre Jojo Ancheril, missionário claretiano, não ficou indiferente à devastação causada no Nepal pelo sismo ocorrido no passado dia 25 de Abril, tendo permanecido uma semana, em Junho, naquele país asiático para tentar minorar o sofrimento de uma povoação remota onde ainda não chegou a electricidade, os telemóveis e a Internet. «Tive conhecimento da tragédia e ficámos preocupados com o sucedido. Inicialmente mandámos algum dinheiro via Cáritas de Macau, mas como algumas pessoas me perguntavam como estava a situação no Nepal decidi gastar uma semana das minhas férias para ver o que se estava a passar», disse a’O CLARIM o pároco da igreja de São Lourenço. Tendo chegado a Katmandu com alguns claretianos da Índia, onde também esteve de férias, rumou depois ao distrito de Chitwan, a cerca de 230 quilómetros da capital nepalesa. «Tenho lá uma prima a trabalhar, das Missionárias da Caridade. Foi ela o meu contacto. Fiquei numa escola gerida por alguns padres da Congregação da Pequena Flor. Depois de alugar um “jeep” parti às seis horas da manhã e, antes de chegar ao meu destino, na remota aldeia de Wasbang, ainda tive que andar a pé cerca de três horas, demorando toda a viagem quase um dia», explicou o padre Jojo Ancheril. «Para nós, claretianos, também foi a primeira vez que visitámos esta área. Deparámo-nos com casas feitas de pedra e lama praticamente todas desabadas. A população sobrevivia do que cultivava, como por exemplo, do arroz. Havia abrigos temporários feitos de plástico, coisa horrível de ver. Em ter- mos de higiene, imagine-se o que é viver sem roupas apropriadas ou condições sanitárias básicas», descreveu. Apesar das dificuldades, «as pessoas eram alegres, porque tinham muita simplicidade. Não eram corruptas no pensamento. Embora passassem por momentos difíceis, perguntei-lhes o que poderíamos fazer para ajudá-las, mas mesmo assim não souberam responder», salientou, assegurando que em Wasbang nunca houve electricidade, telemóveis ou Internet. A destruição de uma escola, aliada ao número de crianças da aldeia, a rondar as oitenta, chamou a atenção do padre Jojo Ancheril, que se prontificou a fazer os possíveis por dar uma ajuda na reconstrução do estabelecimento de ensino. Para tal, contraiu em Chitwan, junto dos padres da Congregação da Pequena Flor, um empréstimo de 1,5 milhões de rúpias nepalesas [cerca de 118 mil patacas], apenas para revestir o tecto com telhas. «Prometi que iria ajudá-los. Vou também tentar obter apoios em Macau para minorar as dificuldades que estejam a passar», justificou, referindo-se aos habitantes da aldeia de Wasbang. Pedro Daniel Oliveira LOCAL INSTABILIDADE NO MERCADO DE CAPITAIS DA CHINA Economia real segura O jornal oficial chinês Diário de Xangai defendeu ontem que a volatilidade no mercado de capitais da China «não deverá desestabilizar a economia real, nem afastar os investidores estrangeiros», argumentado que «apenas 20% da riqueza da população está investida em acções». «Nenhuma queda nos ganhos afectará significativamente o consumo das famílias», disse um economista citado pela publicação, acrescentando que nos bancos, que dominam o sistema financeiro do País, «só 1% ou 2% dos seus activos estão expostos ao mercado de capitais». Em menos de um mês, desde meados de Junho, as cotações nas Bolsas de Xangai e Shenzhen caíram cerca de 30%, arrastando uma desvalorização para mais de três biliões de dólares. Foi a maior queda desde a crise financeira global de 2008, ocorrendo após um ano em que o valor das cerca de duas mil e 700 empresas chinesas cotadas na Bolsa mais do que duplicou, atraindo milhões de novos investidores. No total, cerca de 90 milhões de chineses “jogam” actualmente na Bolsa, mas segundo o Diário de Xangai, «o valor dos activos das correctoras e fundos de investimento expostos ao mercado de capitais representam apenas cerca de 5% de todos os activos do sistema financeiro». Pelas contas de Wang Tao, um economista da União de Bancos Suíços (UBS) citado pelo mesmo jornal, «a inactividade do mercado de capitais poderá reduzir em cerca de 0,5 pontos percentuais o contributo do sector financeiro para o crescimento do Produto Interno Bruto chinês». Contudo, segundo o mesmo economista, a previsão do UBS para o crescimento económico da China em 2015 «mantém-se nos 6,8% (0,2 pontos percentuais abaixo dos cerca de 7% apontados pelo Governo)». NÚCLEO CULTURAL DE GOA, DAMÃO E DIU À procura do melhor tecto O presidente da Associação Núcleo de Animação Cultural de Goa, Damão e Diu, Vicente Coutinho, disse a’O CLARIM que a entidade que dirige não perdeu a esperança de ter uma sede própria. O assunto foi abordado no passado dia 30 de Junho durante um encontro com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. «O sonho é termos um espaço físico digno da nossa associação. É uma grande preocupação, porque com esta situação resolvida podemos receber, além dos nossos sócios, os membros das representações oficiais, designadamente, o embaixador da Índia em Pequim e o cônsul-geral da Índia em Hong Kong, entre outros, evitando-se assim que tenhamos de alugar espaços nas unidades hoteleiras para efectuarmos as nossas recepções», disse Vicente Coutinho. «O doutor Alexis Tam prometeu falar com os seus colegas [do Executivo], sugerindo entretanto que lhe enviássemos uma proposta sobre as nossas actividades anuais, com os respectivos custos, para melhor avaliar o caso», explicou. Além de participar em vá- rios eventos de cariz local e de fomentar o convívios entre os seus membros, a Associação Núcleo de Animação Cultural de Goa, Damão e Diu também pretende estreitar relações com as associações de Goa e de Lisboa. No encontro com Alexis Tam estiveram presentes mais alguns membros e dirigentes do Núcleo, nomeadamente, Emalita Rocha, Sharoz Pernencar, Savita Pernencar, Elvis Simões, Quishor Sridora Lotlicar, Oswald Vas e Filomeno Vas. P.D.O. LOCAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 6 PT CONHECER AS LEIS DE MACAU Convenção Antenupcial e Convenção Pós-nupcial Os dois artigos anteriores da presente coluna introduziram os quatro regimes de bens do casamento previstos no Código Civil, a saber: o regime da separação, o regime da comunhão geral, o regime da comunhão de adquiridos e o regime da participação nos adquiridos. Poderá haver quem se interrogue: qual dos regimes é melhor? Na verdade, cada um desses regimes tem as suas próprias características, não havendo um melhor que o outro. Ao escolher um regime de bens, deve-se optar pelo mais adequado às suas próprias necessidades. Embora a lei estabeleça estes quatro regimes, isto não significa que apenas são admitidos estes regimes de bens no âmbito do Direito. Na verdade, os nubentes ou os cônjuges podem, dentro dos limites da lei, estabelecer por si um regime de bens adequado para a sua situação. CONVENÇÃO ANTENUPCIAL As pessoas que pretenderem contrair casamento devem celebrar uma convenção antenupcial, com vista a determinar o regime de bens escolhido. Em termos concretos, os interessados devem, antes de efectuarem o registo de casamento, CARTOON CONVENÇÃO PÓS-NUPCIAL celebrar a convenção antenupcial e afirmarem na declaração de casamento que já celebraram esta convenção, apresentando a respectiva certidão à Conservatória do Registo Civil, para efeitos de instrução do processo de casamento. Caso os nubentes não tenham escolhido um regime de bens, isto não significa que não venham a ter um regi- me de bens do casamento, visto que a lei prevê a aplicação de um regime de bens supletivo. Trata-se de um regime em que a lei presume que os nubentes escolheram o regime de bens supletivo legalmente fixado, no caso de não terem optado por nenhum. Actualmente, o regime de bens supletivo é o regime de participação nos adquiridos. A lei permite que os cônjuges alterem o regime de bens do casamento estabelecido na convenção antenupcial através da celebração de uma convenção pós-nupcial. Por exemplo, o Sr. Chan e a Sra. Chan, antes do casamento, celebraram uma convenção antenupcial na qual escolheram o regime da separação. Passados anos, através da celebração de uma convenção pós-nupcial, os dois alteraram o regime de bens, mudando do regime da separação para o regime da participação nos adquiridos. A convenção pós-nupcial pode também ser alterada por outra convenção pós-nupcial a celebrar pelos cônjuges, ou seja, estes podem, através de uma nova convenção pós-nupcial, mais uma vez mudar de regime de bens do casamento. Obs. Na elaboração do presente artigo teve-se como referência o disposto nos artigos 1567.º, 1578.º e 1582.º do Código Civil. Texto fornecido pela Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 7 PT O L H A N D O E M OPINIÃO R E D O R Contra a nossa extinção PEDRO DANIEL OLIVEIRA [email protected] « A lgumas formas de poluição são parte da experiência diária das pessoas. A exposição a poluentes atmosféricos produz um variado espectro de perigos para a saúde, especialmente para os pobres, causando milhões de mortes prematuras. As pessoas ficam doentes, por exemplo, por respirar grandes quantidades de fumos dos combustíveis usados para cozinhar ou aquecer [alimentos]», refere o Papa Francisco, na encíclica “Laudato Si”. «Há também a poluição que afecta todos, causada pelos transportes, fumos industriais, substâncias que contribuem para a acidificação do solo e da água, fertilizantes, insecticidas, fungicidas, herbicidas e agrotóxicos em geral», acrescenta o Sumo Pontífice. «A tecnologia, que, ligada a interesses comerciais, apresenta-se como a única forma de resolver esses problemas, na verdade tem provado ser incapaz de ver a misteriosa rede das relações entre as coisas, resolvendo por vezes um problema só para criar outros», salienta ainda. Não é por acaso que o Papa Francisco dedicou a sua mais recente encíclica ao Meio Ambiente e à forma como tratamos o planeta Terra. De acordo com um estudo realizado por especialistas das universidades norteamericanas de Stanford, de Princeton e da Califórnia (em Berkeley), o mundo está a sofrer a sexta extinção em massa da sua História. Sublinhando que a espécie humana provavelmente ficará extinta em breve, acrescenta que, desde o fim da era dos dinossauros, há 66 milhões de anos, o planeta não perdia espécies a uma taxa tão elevada como agora (100 vezes superior). As conclusões do estudo não me surpreendem porque o ser humano nada mais tem feito do que tentar impor as suas próprias leis e interesses sobre uma realidade onde é actor privilegiado, inclusivamente no Meio Ambiente. Assim tem acontecido na Amazónia, no ecossistema dos oceanos e nas savanas de África, onde estão em risco milhares de espécies animais e vegetais, porque há que alimentar, por exemplo, as indústrias do papel, dos artigos de luxo, do contrabando de animais ou, até mesmo, o ego pessoal de alguns indivíduos. Embora estejam muitas espécies em risco, deparome com o contra-senso de se querer clonar o mamute, animal extinto há milhões de ano, facto que não se deve à acção do Homem. Mas como podemos pensar em “ressuscitar” algum animal, se não temos capacidade de proteger os que ainda existem? A mentalidade cada vez mais capitalista e consumista das pessoas está a destruir o planeta. O Homem, cego pela ambição, pelo poder, pelo protagonismo e pelo egoísmo inveterado, está a cavar a sua própria sepultura. Mas tal não significa que sejamos todos cúmplices deste holocausto. PARADIGMAS A poluição atmosférica é um sério problema que tem vindo a afectar muitas metrópoles mundiais, com irremediáveis danos para a saúde dos respectivos cidadãos. Embora Macau ainda não tenha conquistado por direito próprio a designação de “metrópole mundial”, constato que muito pouco tem sido feito para combater o flagelo da poluição que se torna cada vez mais séria na sua Península. Em termos comparativos, embora haja maior número de veículos automóveis a circular na capital tailandesa, que também tem uma área territorial bastante maior, assim como muitos mais habitantes, é ponto assente que sofro menos com a poluição atmosférica nesta cidade do que, por exemplo, quando caminho na Avenida Horta e Costa, na Rua do Campo ou na Avenida Almeida Ribeiro. Por que será? Encontro três explicações: 1 – Em termos do rácio da área territorial urbana e de zonas verdes, há mais jardins e árvores em Banguecoque. 2 – É também menor a densidade de arranha-céus por quilómetro quadrado e as ruas são mais largas do que em Macau, o que permite uma melhor circulação do ar. 3 – Muitos veículos automóveis na capital tailandesa são movidos a gás de petróleo liquefeito (GPL), solução que contribui para diminuir a emissão de monóxido de carbono na atmosfera. FUMO NEGRO O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, faz bem em manter-se firme quanto à proibição total do tabagismo nos casinos, caso contrário estaria a ser cúmplice da morte (lenta) de seres humanos. Se até há duas ou três décadas eram praticamente desconhecidos os malefícios do tabagismo, sendo até chique fumar – que o digam Humphrey Bogart, Gary Cooper, Robert Taylor, Cantiflas, Steve McQueen, etc. – a ciência mostra-nos agora o quanto perniciosa tem sido a poderosa indústria tabaqueira, não sendo por isso descabido se houver jurisdições a adoptar medidas ainda mais severas no futuro. Cingindo-me a Macau, espero, por agora, que vários deputados da Assembleia Legislativa sejam pessoas de bem e deixem de lado os interesses corporativos de maneira a votarem favoravelmente a intenção legislativa do Governo sobre a proibição total do tabagismo nos casinos. Por outro lado, também espero que o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, encontre boas soluções para implementar (e massificar) o uso de veículos mais amigos do ambiente, não só no seio da Administração, como nos particulares e nas empresas privadas. OPINIÃO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 8 PT A tragédia grega – acto 3 LUIS BARREIRA E o povo grego disse NÃO! Por uma maioria expressiva de 61,3%, contra 38,7% dos que votaram no “sim”, os gregos rejeitaram as imposições dos seus credores, que visavam prolongar a sua agonia social até à asfixia total da sua economia. Mas o seu “não” disse mais do que uma simples resposta a um plano económico e financeiro que lhes queriam impor. Esta decisão popular, que resultou do referendo do último Domingo, elevou a coragem de um povo a opor-se a uma Europa decadente dos seus princípios, assumindo uma posição cujas consequências, à hora a que escrevo estas linhas, são imprevisíveis. A resposta destemida dos gregos neste acto democrático (que alguns tentaram e tentam desvalorizar), mesmo assustados com o fecho compulsivo dos seus bancos e com as ameaças dos dirigentes europeus (donde proliferam os tradicionais conservadores e socialistas), foi a demonstração clara de que não querem deixar-se vergar a exigências estranhas às necessidades do seu país. O “não” dos gregos fez passar um assunto que os “magos” europeus e do FMI queriam “aparentemente” situar no campo da economia e das finanças para o campo da política, onde sempre deveria ter estado. O Syriza, o “inimigo público” a abater pelos dirigentes europeus, acabou por sair internamente reforçado neste referendo, obtendo um apoio popular superior àquele que o elegeu. Os povos europeus, que passaram e passam momentos dolorosos com as “ajudas internacionais”, vendo a pobreza associada a um endividamento cada vez maior em consequência destes “auxílios”, viram um povo resistir até ao seu limite, perdendo o medo de dizer “não” à destruição completa do seu país. Situação que pode gerar algumas “ondas de choque” nos países europeus sujeitos a esta “ditadura” europeia e que causa muita apreensão aos seus actuais dirigentes políticos, nomeadamente àqueles que se vão brevemente sujeitar a eleições. Face ao resultado do referendo, a “raiva” incontida de alguns dirigentes das instituições europeias a de alguns Governos europeus não se fez esperar. É o caos para a Grécia, dizem alguns. Tudo o que se estava a negociar volta à “estaca 0” e a Troika vai ser mais exigente, dizem outros. A Grécia sai do Euro e da União Europeia e cai na bancarrota, dizem ainda. Uma coisa podem desde já ter como certa: já não poderão dizer que os dirigentes do Syriza andavam a “gozar” com os credores, porque agora, após o resultado do referendo, estariam a acusar o povo de o estar a fazer e isso é politicamente incorrecto. A democracia, que tanto apregoam nos seus ocos discursos, pregou-lhes uma partida. Mas os dirigentes gregos, agora mais legitimados, embora críticos às regras que são impostas à moeda única e à forma como está a ser dirigida a UE, não param de reafirmar que querem continuar no Euro e na UE, assumindo atitudes consensuais que poucos esperariam de quem saiu vencedor deste escrutínio popular. Porque o ministro das Finanças grego era considerado demasiado “arrogante” e “impreparado” pelos seus interlocutores credores, Yanis Varoufakis, economista e professor universitário, demitiuse, para não “estorvar” as futuras negociações. Para que o mundo e em particular as instituições europeias não pensem que o Governo grego é um “bando de radicais de esquerda”, intolerantes e irresponsáveis, o Primeiro-Ministro grego, Alexis Tsipras, conseguiu o apoio dos três mais representativos partidos da oposição, entre os quais o partido conservador Nova Democracia para, através de uma declaração conjunta, se apresentarem unidos nas negociações com os credores. Os gregos não disseram “não” ao Euro nem à União Europeia. Disseram “não” à sua destruição enquanto país e à miséria de um povo que aspira a uma vida digna. Os gregos não disseram “não” à austeridade essencial à superação dos seus problemas económicos, nem rejeitaram pagar as suas dívidas. Disseram “não” a um “esquema económico e financeiro” que faz da austeridade um prolongamento da sua crise e que os impede de algum dia poderem vir a pagar o que lhes emprestam e sentiremse livres dos “garrotes” dos credores. Reconhecendo que a solidariedade está há muito afastada da sensibilidade dos dirigentes europeus, esperemos que, se não passarem as suas “birras” em dificultar qualquer acordo com o Governo grego, o medo das consequências para toda a Europa de uma saída do Euro, por parte da Grécia, os faça corrigir as intenções. Se tal não acontecer, esta Europa terá mais um sério problema. E não será apenas com os gregos... OPINIÃO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 9 PT Democráticas e republicanas… dinastias JOSÉ PINTO COELHO O homem inteligente é o que tira conclusões daquilo que vê, ouve, ou lê», disse Fernando Pessoa. O recente falecimento de António Marques Mendes vem colocar o enfoque numa questão que começa a ser altamente preocupante: as novas linhagens partidárias. Fundador do PSD, era pai de Luís Marques Mendes, antigo ministro, e de Clara Marques Mendes, a irmã mais nova do agora comentador político e deputada do mesmo partido. Neste Governo vejamos alguns exemplos: os secretários de Estado João Filipe Rodrigues Queiró (Ensino Superior), Isabel Santos Silva (Ensino Básico) e Luís Filipe Morais Sarmento (Orçamento) são familiares de anteriores governantes. Isabel Pires de Lima, ex-ministra da Cultura do PS, é prima de António Pires de Lima, o actual ministro da Economia do CDS-PP. António Almeida Santos, fundador do PS, é pai de Antónia Almeida Santos, deputada do mesmo PS. A predominância de certos clãs estende-se pela política, negócios, media, magistratura, ou diplomacia, imiscuindose em todos os sectores da sociedade. Em muitas autarquias estes procedimentos são uma prática corrente. Alguns escondem mesmo os apelidos tentando dissimular as ligações familiares com outros governantes. Luís Meneses, deputado do PSD, é filho de Luís Filipe Meneses, ex-autarca do PSD. Os casos são mais que muitos, sobretudo nos partidos do arco da bancarrota (PS, PSD, CDS-PP). É porém a ligação familiar, por casamento dos respectivos filhos, que une Dias Loureiro do PSD e Jorge Coelho do PS a que melhor exemplifica o carácter de quase exclusividade no « acesso ao Poder. Tais processos dinásticos de perpetuação do poder em certas famílias ou grupos, para além de gerarem estagnação, abuso e desresponsabilização, não deixam de ser a negação dos próprios princípios republicanos, que o sistema tanto alardeia. A política portuguesa caiu assim nas teias de um pequeno grupo populacional, de certas famílias sanguíneas e políticas que se confundem com ministérios, de Governos que se confundem com o Estado, de clãs que se confundem com autarquias. São facções que assumiram demasiada relevância na vida nacional. Somos confrontados assim por uma minoria de influentes, caciques, barões e “notáveis” que vão trocando o poder entre si, mantendo o status quo. São, claramente, pequenos Estados dentro do Estado e que devoram este último, sobretudo as grandes firmas jurídicas com ligações ao poder político, onde se engendraram todos estes contratos desastrosos para Portugal. A grande maioria dos elementos desta nomenclatura está tecnica- mente muito mal preparada e tem uma visão completamente ultrapassada do que é governar. Na verdade, governam à parte da nação e contra a nação. O País encontrase pois dividido, entre uma enorme maioria, a sociedade, e uma minoria residual composta por uma classe que se pôs à parte, o “jet-set” político e económico do regime, defensores de uma ordem imposta do exterior. Assim, a substituição do tipo de governante é um ponto capital para o futuro de Portugal. CORRUPÇÃO E IMORALIDADE O Primeiro-Ministro, Passos Coelho, convidou Miguel Relvas para o Conselho Nacional do PSD e, segundo tudo indica, este será incluído na lista da coligação PSD/CDS por Santarém nas próximas Eleições Legislativas. Depois de ter estado na origem de situações vexatórias da dignidade das funções públicas, feito um período de nojo que durou apenas alguns meses, o falso doutor prepara-se, com todo o descaramento, para o seu regresso. Trata-se de uma humilhação ao povo português, que demonstrou já não anuir com a presença de tais figurantes na governação. Esta classe de políticos perdeu a noção e o sentido da decência, sendo certo que estas atitudes de desrespeito começam a ser insuportáveis. Em simultâneo, Marco António Costa, ex-secretário de Estado, está a ser investigado pelo DCIAP. Temos assim o antigo nº 1 do PS, preso, e o actual nº 2 do PSD suspeito de gestão danosa e tráfico de influências, num caso relacionado com a Câmara Municipal de Gaia. A DOENÇA DA SAÚDE O Governo, através do ministro da Saúde, Paulo Macedo, ameaça com o aumento de custos do Serviço Nacional de Saúde, o que pode implicar nova tributação para os contribuintes. Não esquecemos que Paulo Macedo, antigo director-geral dos Impostos de Teixeira dos Santos, num Governo PS, se viu envolto em polémica pelo elevadíssimo salário que auferia: 23 mil 480 euros mensais. O assunto é doloroso, mas não se pode evitar falar dele para podermos actuar com eficácia. A universalidade do acesso aos cuidados de saúde é posta em causa quotidianamente, com portugueses a terem de optar por medicamentação ou alimentação, com listas de espera e casos inenarráveis de negligência, com menos profissionais de saúde e redução de serviços e valências. Há ainda centros de saúde encerrados, cuidados reduzidos e racionamento de meios e recursos. Os relatos que ouvimos são o melhor testemunho do estado precário para utentes, profissional médico e de enfermagem, administrativo e auxiliar que grassa no SNS, cuja capacidade se tem degradado em benefício de entidades privadas. Enquanto isso, as administrações hospitalares ficam famosas pelos rios de dinheiro que estouram em benefício próprio. E ninguém vai preso! Acresce que muitos portugueses estão privados do acesso aos cuidados de saúde graças a este modelo discriminatório. A sociedade é minada por doenças que se tornaram em verdadeiras pragas sociais e que têm de ser erradicadas, merecendo intervenção imediata. A Saúde é uma matéria inegociável, é um investimento na qualidade de vida, por isso é essencial, desde logo, a introdução de novas terapias já testadas com sucesso. As equipas de medicina no domicílio continuam subaproveitadas apesar de custarem um terço do internamento em hospital. É forçoso investir na prevenção da doença e nos cuidados de saúde primários, com introdução de tecnologias de informação e comunicação, o que pode gerar grandes poupanças e comodidade para todas as pessoas envolvidas. C U LT U R A O CLARIM | Semanário Católico de Mac 10 PT MEMÓRIAS E FORTALEZAS NO LESTE DE ÁF Uma ilha com nom JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO [email protected] De manhã cedo, sentado de novo na esplanada da pensão Tropical, aguardo a chegada do “chapa” do Francisco que aparece por volta das sete, como previsto. Ao acomodar-me como posso naquele emaranhado de gente e sacos, noto a presença de um rosto ocidental e de um outro asiático, ambos arrumados no banco de trás. O rosto oriental lembra-me uma das norte-coreanas do aeroporto de Maputo, se bem que a possibilidade seja altamente improvável. Não é necessário passar muito tempo na cidade para perceber que Nampula conheceu já melhores dias. Deparar aqui com uma mesquita não surpreende, o mesmo não se poderá dizer de uma inesperada igreja ortodoxa, essa sim, aparente carta fora do baralho. Durante a viagem atravessamos diversas aldeias de cabanas de terra batida e tecto de colmo e muitos embondeiros. Primeiro Ancilo e depois Nacavala e Carapira, no distrito de Meconta, onde há mulheres polícias especadas junto à estrada. As pequenas lojas de comércio ostentam nomes do género “Vodacom Tudo Bem”, “Sporting Porfírio” ou então “Cantina D’Heroína”, onde o viandante pode adquirir molhos de camarão por dez meticais apenas. Informam os panfletos turísticos que existem na região – em Macua, para sermos exactos – diversas pinturas rupestres de inegável valor artístico e patrimonial. Marcam a paisagem admiráveis elevações rochosas a fazer lembrar as montanhas pão-de-açúcar tão características da região do Rio de Janeiro e da província de Vitória, no Brasil, só que aqui encontram-se inseridas num contexto geográfico bastante mais agreste e inteiramente rural. A presença do capim invade a estrada não deixando grande espaço para os inúmeros peões que percorrem o asfalto, quilómetro após quilómetro, em fila indiana, sempre com pesados sacos nas mãos ou na cabeça. Sempre que fazemos uma paragem, por mais breve que seja, somos abordados por aldeões munidos com recipientes de metal e plástico repletos de bananas, feijão verde, quiabos, tomates, amendoins, maçarocas de milho, ovos, abóboras, goiabas, camarão frito, enfim, repletos com tudo aquilo que se produz localmente e está disponível, embora em pequenas quantidades. Haja ou não vontade de comprar, da parte do vendedor ambulante o sorriso mantém-se. Sincero e contagiante. Junto às palhotas, em bancas improvisadas, cuidadosamente acondicionados em pequenos cestos feitos de folhas de bananeira – verdadeiras obras de arte! – exibem-se belos papos-secos (iguais aos que diariamente saem das padarias portuguesas), doces de banana e caranguejos de carapaça cinzenta atados com fios de capim verde. Monapo é o nome da última povoação antes de chegarmos à Ilha de Moçambique, ligada ao continente por uma longa e estreita ponte que mais parece um istmo de asfalto e ferro ferrugento. Não sei se são em maior quantidade todos esses pescadores de cana em riste perigosamente debruçados no parapeito da ponte, ou aqueloutros dentro de pequenos batéis recolhendo com expectável lentidão as redes artesanais. Francisco Chapa – que até aí não proferira uma única palavra – diz-me que durante a preia-mar a travessia do canal pode ser feita a vau. PENSÃO CASA BRANCA Entramos pela parte muçulmana da Ilha, prosseguindo ao longo de um estradão animado com muita gente e que acaba por desembocar junto a um enorme edifício onde, apesar do depauperado aspecto, funciona um hospital. Aqui se apeiam a desconhecida com rosto ocidental e a grande maioria dos passageiros, também eles anónimos. As ruas encontram-se praticamente desertas e as moradias, de clara traça colonial, parecem-me abandonadas, com a honrosa excepção da Casa Branca, uma das pensões mais acolhedoras e mais bem situadas da Ilha de Moçambique. Esse é o local que escolho para alojamento. O mesmo se passa, pelos vistos, com a desconhecida de aspecto oriental. Chama-se Suka, é japonesa e trabalha numa organização não-governamental no vizinho Malawi. Por sugestão sua partilhamos um quarto, «pois assim fica mais em conta». Não me surpreende minimamente esta sua atitude. Por norma, e contra o que se possa pensar, os japoneses, a par com os israelitas, são os viajantes mais bem informados e os mais cuidadosos quando se trata de abrir os cordões à bolsa. Para encontrar locais bons e baratos para pernoitar ou para comer basta perguntar-lhes, ou então seguir-lhes os passos. Esta ilha que deu nome ao País – não é caso único mas é caso singular – situa-se à entrada de uma bela baía a três quilómetros da massa continental. Mede dois quilómetros e meio de comprimento e, na sua máxima extensão, quilómetro e meio de largura. Pode perfeitamente ser percorrida de lés a lés numa hora apenas. Porém, caso o visitante decida assumir as rédeas do tempo, facilmente aqui estabelecerá um baluarte de sábia resistência à vida de correria e folguedos tolos, já que não é nada difícil ficar rendido aos múltiplos encantos deste pedacinho de paraíso. Uma clara linha divisória separa a cidade cristã – a cidade de pedra, a norte – da cidade indígena – a cidade de macuti, a sul – constituída pelas palhotas tradicionais africanas, adaptadas ao clima. Amenizando com agradáveis manchas verdes o contrastante espaço C U LT U R A cau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 11 PT FRICA – PARTE 4 me de país FOTOS | Joaquim Magalhães de Castro arquitectónico, destacam-se nesta micro paisagem urbana os coqueiros, as figueiras-da-Índia e as acácias vermelhas trazidas do Madagáscar. MEMÓRIA DE CAMÕES A frota de Vasco da Gama fez aguada neste local em 1498, mas a ocupação portuguesa só viria a acontecer oito anos depois. Perpetuar-se-ia a memória desse navegador numa estátua erguida em frente ao Colégio dos Jesuítas onde funciona hoje um museu, contíguo à Igreja da Misericórdia, excelente local para apreciar o espólio resgatado ao processo de delapidação do património que sucessivos anos de caos proporcionaram. «– Os anos que se seguiriam à independência foram os únicos que passei fora da Ilha», recorda Flora Pinto de Magalhães, a proprietária da Casa Branca. A partir de então – condicionalismos da guerra o determinaram – as coisas que funcionavam deixaram de funcionar. As vistosas moradias, orgulho da colónia, entraram num processo de degradação que o tempo depressa confirmaria. «– Mas isto agora até está melhor», co- menta a distante representante do clã de um conhecido banqueiro português com múltiplos e solidificados interesses no Moçambique ultramarino de outrora. Verdadeiro travão ao confrangedor processo de erosão de uma glória passada, é visível algum investimento da parte de instituições públicas e sobretudo da iniciativa privada – são muitos os estrangeiros que habitam a Ilha já com casa comprada, para residência ou futuras pensões e restaurantes. No caso de Flora, tudo não passa de uma questão de fidelidade à terra que a viu nascer. «– Estive apenas uma vez em Lisboa. Fui e vim no mesmo avião», confessa. A voz desta moçambicana, com óbvias feições indianas, mistura-se com o rumor das ondas do Índico, em fase de maré cheia. Elas insistem em bater, a intervalos regulares, no molhe recentemente restaurado, chapinhando-o com água. Em frente à Casa Branca está uma estátua de Luís Vaz de Camões, sem qualquer placa que a identifique, embora o vate tenha sido um dos mais ilustres residentes deste local. «– Está de pedra e cal, não há tempestade que a derrube. E olhe que eu já as vi bastan- te bravas», garante a senhora Flora. Ao longe, avista-se a minúscula Ilha das Cobras e a ainda mais pequena Ilha de Goa, de onde se destaca uma praia de areia branca e um farol que à noite raramente se ilumina. «– Apenas vive aí o faroleiro com a família, e nem sempre há combustível para alimentar o gerador que fornece a energia», informa. E há necessidade de um farol? Pelos vistos, sim. A moçambicana lembra-me que recentemente um cruzeiro com turistas idosos fez aqui uma paragem, coisa com algum aparato pois justificou a presença da polícia e dos funcionários alfandegários. A breve conversa com Flora é suficiente para me espevitar a curiosidade. Estou ansioso por explorar as ruas sinuosas, aproveitando o dia que está azul e ignorando o pico de calor, que noutras circunstâncias poderia ser um elemento desmotivador. A Ilha de Moçambique percorre-se num dia, mas digere-se mal se não permanecermos por aqui, no mínimo, uma semana, tal é o número de surpresas que nos reserva. Pelo menos é o que tenho ouvido dizer acerca dela. OPINIÃO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 12 PT A redacção da vaca a bombar JOSÉ PACHECO PEREIRA A vaca, perdão Portugal, é um bonito país. Tem Sol e mar, areias, velhos monumentos, bons costumes, eucaliptos, pastéis de Belém, e tuk-tuks. Em Portugal, as plantas crescem para cima, mas se for preciso, com a força de vontade dos portugueses, também crescem para baixo. Nós podemos sempre fazer o que queremos, diz o ministro do “bombar”. É só força de vontade, que para os portugueses não há dificuldades. Não somos gregos. Mas eu queria isto… Não pode ser, temos de ser prudentes. Sábio Governo. Mas eu tenho direito a isto… Não pode ser. Isso dos direitos já não se usa. Tinha, mas já não tem. Isto é que é um Governo moderno despachado, desenvolto, atirado para a frente, que deu bom nome à lei da selva. Obrigado, vaca, digo, Governo. Para o Sol chegar a mais lados deixou de haver árvores a não ser eucaliptos, que cheiram bem. Na parte de trás do País, aquilo que se chama interior, há uma doença, a interioridade, mas não afecta as costas, por isso podem ir à praia à vontade. Também não vive lá muita gente. A sábia política do nosso Governo tem sido despovoá-lo, acabando com a política retrógrada dos arcaicos e velhos Reis portugueses. Antes ser “povoador” era uma honra, hoje é ser “despovoador”. A vaca, digo, o Governo, tem feito uma política muito competente para despovoar. Acabaram as estações dos correios e o correio só aparece uma ou duas vezes por semana. Acabaram os postos de saúde. Acabaram os tribunais. Acabaram muitos serviços públicos, existem umas lojas de cidadãos a 30, 50, 100 quilómetros. Reanimouse a oferta de táxis para estas deslocações, e, além disso, vir de Guadramil para Bragança dá muito cosmopolitismo, os velhos sempre saem de casa para ver o mundo. Isto é que são preocupações sociais. Nenhum louco abre uma empresa nestes sítios. Não há problemas pode vir para um “ninho de empresas” num centro comercial em Lisboa, recebe uns subsídios do Impulso Jovem e, depois, é só mostrar o seu “empreendedorismo” e inventar o moto-contínuo. As leis da Física dizem que é impossível, mas desde quando é que a entropia foi um problema para os portugueses? Depois, é um gosto passear pelas cidades de Portugal, a começar por Lisboa. Tantos cartazes de “vendido” na Assembleia, nas paragens de autocarro, nas estações de Metro, nas caixas da EDP! Isto é que é reanimação da economia para acabar com as profecias dos Velhos do Restelo. Tudo se vende e é bom seguir o exemplo da “Remax”. Sempre podiam colocar a fotografia do vendedor, que tanto prédio, com- boio, autocarro, linha eléctrica, barragem, aeroporto, porto, vende! Lá teríamos de novo a vaca, corrijo, os senhores ministros a sorrir babados de sucesso. Essa banda de maus portugueses, a chamada “oposição”, anda para aí a distribuir fotografias caluniosas da vaca, em que apenas um mamilo de uma teta escorre para o balde colectivo do povo e o resto vai em tubinhos da ordenhadora não se sabe bem para onde. Eles dizem que sabem, mas é calúnia de certeza. A vaca é boa, a vaca é úbere, a vaca tem as cores nacionais na lapela, a vaca ri, como diz o nosso Presidente da República, e uma marca francesa de queijos, de tanta felicidade. Ser portuguesa! Mas está tudo tão bem que até dói. Pleno emprego em 2300, não está mau. IRS a 4%, em 2500, e só não se acaba com ele por prudência. Sábio Governo, de novo, que não quer prescindir de nenhum “instrumento” para poder continuar a fazer da nossa vida “um exercício”. Bebés já há muitos desde que o nosso preclaro Governo, seguindo as mais modernas tendências do “admirável mundo novo”, cultiva embriões in vitro e faz nascer as crianças numa proveta com líquido amniótico. As quotas são correctas: em cada dez, seis são brancas, três pretas, meia criança amarela e outra meia para o resto das raças. Os ciganos protestam porque só há 1% de criança cigana, ou seja não nasce nenhuma, mas isso é povo do Rendimento Social de Inserção, não deviam ter direito à palavra. A vaca é que sabe. São excelentes notícias para a emancipação feminina, acabamos com a maldição de Eva. Depois de saírem da proveta as crianças vão ser educadas por hipnopedia, para não terem trabalho a estudar e poderem ser “jotas” mais cedo sem terem a preocupação de disfarçarem uns diplomas manhosos. Agora o diploma tira-se a dormir em 60 noites e não há mais “casos” nem Sócrates, nem Relvas. Os velhos vão ser reeducados para morrer mais cedo e não pesarem nas gerações futuras. Na Europa já se diz que o século XXI é o “século português” tão admirada é a vaca, digo, o nosso belo país. Os turistas chegam cá e gritam de excitação “what a beautiful cow, I’m sorry, what a beautiful country”. Os mais letrados acrescentam “Is this Utopia?” Não tenham dúvidas. A água é sempre cristalina. O céu sem nuvens. As ruas limpas. A segurança alimentar impecável, ou seja, não lhe vão dar a comer um qualquer ciclóstomo pré-histórico. Os animais são respeitados religiosamente, com excepção dos gatos pretos que representam o demónio e os demónios, como se sabe, governam a Grécia. Pode andar nas ruas sossegado às três da manhã que a nossa vaca, mais um engano, as nossas autoridades colocam um batalhão de comandos à volta. E só não há trabalho porque não é preciso trabalhar para nos dedicarmos à cultura gastronómica muito em moda nestes dias. Ou ser costureiros, o que dá uma comenda rapidamente. Tudo é bom, tudo é deles e nada é nosso. É uma forma de comunismo dos cidadãos esclarecidos que acreditam nas virtudes purgantes da pobreza. Razão tinha esse percursor do nosso futuro, António de Oliveira Salazar. Pobres mas honrados. E muito limpinhos, na casa dos pobres. Sem bens somos mais felizes, desprovidos das tentações do mundo, vemos a vaca como ela deve ser vista, radiosa, cheia, opulenta, pujante, brilhando no escuro de tanta felicidade que dela emana, sempre a bombar. Vejam lá se eu não sou capaz de dizer bem da vaca. Vá lá convidem-me para o Governo, bem mereço. !"#$%&#$'()*&+,-./0#$12 ENTREGUE ESTE CUPÃO NAS BILHETEIRAS DO CINETEATRO DE MACAU #$34567893 DATA DO SORTEIO: 16 DE JULHO DE 2015 In Abrupto LITURGIA O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 13 PT 15° DOMINGO COMUM – Ano B – 12 de Julho É preciso levar avante a causa de Jesus INTRODUÇÃO ÀS LEITURAS A atitude de Jesus, ao enviar os Seus apóstolos em missão, está relacionada com o que refere o profeta Amós sobre a Sua vocação, ao dizer-nos que o Senhor escolhe como Seu mensageiro quem Ele quer e quando quer (PRIMEIRA LEITURA: Am., 7, 12-15). Na carta aos Efésios (SEGUNDA LEITURA: Ef., 1, 3-14) S. Paulo fala-nos do plano de Deus, que nos escolheu, desde toda a eternidade, convertendo-nos em filhos Seus por Jesus Cristo, para louvor da Sua glória. Enviou-os a pregar dois a dois r Tal DPNP BPT EP[F BQÓTUPMPT UBNCÊN BPT NJMI×FT EF DSJTUÈPT DBTBEPT %FVT FOWJPV B QSFHBSjdois a dois». SFTVMUBUBNCÊNBEPVUSJOB EB*HSFKB$BUÓMJDBTPCSFP EJWÓSDJPmRVFWBJDPOUSBB àEFMJEBEFEPBNPSmFTPCSFBBOUJDPODFQÉÈPmRVF WBJ DPOUSB B GFDVOEJEBEF EPBNPS r"PTEP[FFOWJPVPTBQSFHBSPBSSFQFOEJNFOUP r .BT BPT DBTBEPT OÈP PT FOWJPV BQFOBT B QSFHBS EPJT B EPJT P BNPS NBT UBNCÊN UBM DPNP FOTJOPV BPT EP[F OP EJB FN RVF TVCJV BP DÊV B FOTJOBS PT QSÓQSJPT àMIPT DPN P FYFNQMP jtudo aquilo que Eu vos ensineiv r "PT DBTBEPT FOWJBPT EFTEFPEJBEPTFVNBUSJNÓOJPBQSFHBSPBNPS r & JTUP QPSRVF DPNP TF MË OVN EPT QSFGÃDJPT EB NJTTB EP DBTBNFOUP jna união do homem e da mulher quiseste deixar-nos a imagem verdadeira do amorv r & UBNCÊN EPJT B EPJT %FVTFOWJPVUPEPTPTOPJWPT DSJTUÈPT B QSFHBS B UPEPTBRVFMFTRVFPTWËFNF PTDPOIFDFNRVFOPOPJWBEPÊQPTTÎWFMPSFTQFJUP FBQVSF[B r %BÎ SFTVMUB QBSB PT DBTBEPT P EFWFS EF QSFHBS DPNPTFVBNPSPBNPS EF %FVT RVF Ê FTFODJBMNFOUFàFMFGFDVOEP%BÎ HORÁRIO DAS MISSAS (DOMINGOS E DIAS SANTOS) 7:00 horas 7:30 horas 7:30 horas 8:15 horas 8:30 horas 9:00 horas 9:30 horas — — — — — — — — — 10:00 horas — — — 10:30 horas — 11:00 horas — 11:00 horas — — 11:00 horas — 11:15 horas — 12:00 horas — 16:30 horas — 17:30 horas — 18:00 horas — 20:30 horas — Fátima (C). Sé, S. Lourenço e St.º António (C). S. Lázaro (C). S. Francisco Xavier Mong-Há (C). St.º António. Sé, S. Lourenço, N.ª Sr.ª do Carmo Taipa (C); Fátima (C). S. Lázaro, S. Francisco Xavier (Mong-Há), S. José Operário (C). St.º António (P); S. Francisco Xavier Coloane (I, C); N.ª Srª do Carmo Taipa (I). Sto. Agostinho (Tagalog). Sé (P), Hospital de S. Januário (P); N.ª Srª do Carmo Taipa (P). S. Lázaro (I). Instituto Salesiano (I). Fátima (I). S. Agostinho (I); Fátima (vietnamita) S. José Operário (I). Sé (I); S. Fr. Xavier Mong-Há (C). S. Lázaro (P). S. José Operário (M). MISSAS ANTECIPADAS 17:00 horas 17:30 horas 18:00 horas 18:30 horas — — — — — 19:00 horas — 20:00 horas — S. Domingos (P). S. Fr. Xavier Mong-Há (I). Sé (P). N.ª S.ª do Carmo Taipa (I). S. Lázaro (C). Fátima (C). ABREVIATURAS C - Em Cantonense I - Em Inglês M - Em Mandarim P - Em Português PADRE VÍTOR FEYTOR PINTO Maria Barroso era uma cristã «absolutamente invulgar» 0padre7ÎUPS'FZUPS1JOUPSFTQPOTÃWFM EB QBSÓRVJB EP $BNQP(SBOEFFN-JTCPBBàSNPV RVF .BSJB #BSSPTP FSB VNB NVMIFSEFjcultura vastíssimavF VNB DSJTUÈ jabsolutamente invulgarvRVFQBSUJDJQBWBOBWJEBQBSPRVJBMDPNBUJUVEFEFTFSWJÉPF EJTQPOJCJMJEBEFBUPEPT jPara a nossa comunidade paroquial é uma grande perda indiscutivelmente pelo exemplo de vida que nos dava. Para a sociedade perdemos uma mulher de cultura vastíssima, de intervenção política nos quadros da justiça e dos valores humanos e ganhamos uma mulher cristã no céu que vai participar de certeza da alegria de Deus e interceder por nósv DPNFOUPV Æ "HËODJB&$$-&4*" .BSJB #BSSPTP NPSSFV OB NBESVHBEB EB QBTTBEB UFSÉBGFJSBBPTBOPTOP)PTQJUBM EB $SV[ 7FSNFMIB FN -JTCPB POEFFTUBWBJOUFSOBEBEFTEF EF+VOIP 0TBDFSEPUFEFTUBDPVEF.BSJB #BSSPTP B jcultura vastíssimavRVFBQBSÓRVJBEP$BNQP (SBOEF CFOFàDJPV BUSBWÊT EF EJWFSTBT GPSNBT EF EJTQPOJCJMJEBEFFTFSWJÉPRVBOEPEVSBOUF B TFNBOB jajudava crianças que precisavam de apoio no estudo de Português e outrosvFOTJOBWBUBN- CÊNPTMFJUPSFTBjpronunciarem jTinha uma nota muito intebem as palavras quando falassem ressante. Aos Domingos quando viao microfonevFUBNCÊNBTBCFS nha para a missa sentava-se no bar jlidarvDPNPNJDSPGPOF durante uma hora e ia acolhendo e recebendo as pessoas que queriam falar com ela. É fantástico, estava numa simplicidade e proximidade absurdamente extraordináriav BDSFTDFOUPV P QÃSPDP TPCSF RVFN jacompanhava constantementevBTBDUJWJEBEFQBSPRVJBJT 0 QBESF 7ÎUPS 'FZUPS 1JOUP GPJ P SFTQPOTÃWFM EB $PNJTTÈP /BDJPOBMEB1BTUPSBMEB4BÙEF EVSBOUF BOPT F SFDPSEPV RVF .BSJB #BSSPTP BDPNQBOIPVP jquase vinte vezesv BP 7BUJDBOP QBSB QBSUJDJQBS FN FODPOUSPTJOUFSOBDJPOBJTjonde teve oportunidade de conversar com os três Papas<4ÈP+PÈP1BVMP** #FOUP97*F'SBODJTDP>v ECLESIAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 14 PT 1440 OPORTUNIDADES O Minuto Heróico PE. JOSÉ MARIO MANDÍA Alguma vez ouviram falar do “minuto heróico”? Era um termo usado por São Josemaría, e essa frase simples poderá explicar uma grande parte dos seus ensinamentos. Mas primeiro deixem-nos dar uma vista de olhos às origens desta expressão. «O minuto heróico. É o tempo fixado para nos levantarmos da cama. Sem hesitações: uma reflexão sobrenatural e... já está! O minuto heróico: temos aqui uma mortificação que fortalece o vosso querer e não faz mal ao corpo» (“Caminho”, nº 206). E porquê heróico? Porque a Igreja, quando investiga a vida de uma pessoa para verificar se ela, ou ele, viveram uma vida de santidade, pergunta duas coisas: (1) Esta pessoa esforçou-se para viver as virtudes de forma heróica? (2) Existe alguma prova de que favores divinos (ex: milagres) foram concedidos por intercepção desse pessoa? Uma vida é constituída por anos, os anos são feitos de meses, os meses de dias, os dias de horas e as horas de minutos. Se quisermos destinar a nossa vida à santidade, deve- mos começar por um minuto. Qual minuto? São Josemaría gostava de repetir “Hodie et nunc”, “hoje e agora”. Se eu quero atingir a santidade, tenho que valorizar cada minuto da minha vida, e tenho que começar no momento presente, agora. «Faz o que tens que fazer “agora” sem olhares para trás, para o “ontem”, que já passou, ou preo- cupares-te com o “amanhã”, que podes muito bem não ter» (“Caminho”, nº 253). Um grande número de cristãos sabem que têm de ser santos, mas estão à espera daquele momento especial, a oportunidade dourada, em que poderão mostrar o seu amor por Deus. Estão a sonhar acordados. Um minuto parece ser muito pouco, mas São Josemaría escreveu: «Já perceberam como aquele grandioso edifício foi construído? Um tijolo de cada vez. Milhares. Mas um a um. E sacos de cimento, um a um. E os blocos de pedra, cada um deles, por si só, insignificante, quando comparado com o resultado maciço. E varas de aço. E homens a trabalhar, as mesmas horas, dia após dia... Já perceberam como aquele grandioso edifício foi construído?... Pela junção de pequenas coisas!» (“Caminho”, nº 823). O minuto heróico não se aplica apenas ao momento em que lutamos para nos levantarmos da cama, mas a cada um dos minutos do nosso dia. Cada dia da nossa vida está recheada com 1440 minutos...1440 oportunidades para a santidade. E como posso santificar esses minutos? Fazendo bem tudo o que tenho que fazer, a cada momento, enfrentando o desafio de cada minuto, e oferecendo-o a Deus. O que importa, na realidade, é a quantidade e intensidade do amor a Deus que pomos nos nossos actos. «Fazei tudo por Amor – assim não há coisas pequenas: tudo é grande. A perseverança nas pequenas coisas, por Amor, é heroísmo» (“Caminho”, nº 813). Deixem-me acabar com mais duas frases de São Josemaría: «As almas grandes têm muito em conta as coisas pequenas» (“Caminho”, nº 818) e «Porque foste “in pauca fidelis” – fiel no pouco – entra no gozo do teu Senhor. São palavras de Cristo – “In pauca fidelis”. Desdenharás agora as pequenas coisas, se se promete o Céu a quem as cumpre?» (“Caminho”, nº 819). Um testemunho real SUSANA MEXIA (*) A família nasce do amor que une uma mulher e um homem, e esta força e unidade é geradora de vida e também de mais amor. “Como ser feliz com 1, 2, 3... filhos?” fala de temas simples e complexos, comuns a todas as famílias com crianças, como a hora da refeição, a escolha da escola, as discussões com o marido, premiar e castigar, conciliar estudo e lazer, gerir o orçamento, amor e sexo, desporto, religião, morte, férias e logística. Rosa Pich, mãe de 18 filhos e trabalhadora a tempo parcial, revela neste testemunho real a sua feliz e extraordinária aventura no seio da maior família com crianças e adolescentes escolarizados de Espanha e, possivelmente, da Europa. Um livro recheado de histórias verdadeiras e divertidas, com o marido e os filhos, os amigos e as inevitáveis peripécias inerentes ao quotidiano social e escolar. O casal Aguilera Roca, também originário de famílias numerosas – Rosa Pich com 16 irmãos e o marido com 14 – ignorou o conselho dado pelo médicos quando viram morrer o segundo e terceiro filhos, e tendo a criança sobrevivente reduzidas possibilidades de ultrapassar os três anos de vida. «Às vezes a ciência não acerta nas suas previsões, porque decidimos seguir em frente com os nossos planos para constituirmos uma família numerosa. Na cama de um casal ninguém se deve meter. [...] Hoje temos 15 filhos que vivem». «Fazem-nos sempre a mesma per- gunta: Como é que fazem?». Este livro editado pela Paulinas Editora pretende responder à pergunta que dezenas de pessoas e jornalistas têm feito a Rose Pich nos diversos países onde tem passado para proferir conferências e dar testemunho. E qual será o segredo de Rose? Pois caro leitos valerá a pena procurá-lo neste interessante livro. Tudo começou quando a BBC entrou em contacto com eles para gravar o programa “The Biggest Family of the World”. (*) Professora ECLESIAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 PT 15 EUROPA DE LESTE A Igreja Católica para lá da Cortina de Ferro VÍTOR TEIXEIRA (*) [email protected] Muitas vezes se tem falado na Europa do Pós-Guerra ou seja, após 1945. Da divisão da Europa, em blocos, antagónicos. Palcos da Guerra fria, como se existisse uma muralha a separar o Ocidente do Oriente, ou Leste. A Cortina de Ferro, como se lhe chamava. Uma Europa como palco de guerra entre 1939 e 1945, como antes já fora tantas vezes, prolongava-se numa guerra surda e invisível entre superpotências. A velha Europa, histórica, artística, religiosa, científica e culturalmente da vanguarda, tornava-se cada vez mais dividida e esquecida do passado. Mergulhara-se nas trevas nas Grandes Guerras. Depois, caíra-se na divisão, no braço de ferro, na guerra psicológica. No abismo sempre a um passo. As referências eram outras. O material sobrepunha-se ao imaterial. Onde ficou a Igreja neste tempo, depois de lambidas as feridas da guerra e sacudidos os fantasmas, substituídos por novos, que reaparecem ciclicamente... Na boa e velha Europa... onde ficou a Igreja? Ou... onde está? A Ocidente, lá continua, com outros valores e estatísticas. A Leste? Vamos então tentar fazer um diagnóstico. De forma global, genérica, nunca desapareceu o sentimento religioso na Europa comunista, no Bloco de Leste, na órbita soviética, como lhe quiserem chamar. Nunca desapareceu a Igreja. A Católica. Como as Ortodoxas. Os credos protestantes também não, mas quase desapareceram. Mas as cifras mudaram. Pujança, força, luta, resistência, identidade reforçada: falamos da Polónia. Ou da Lituânia também, em menor escala. Um pouco menos a Eslováquia (até 1992 na Checoslováquia, com a República Checa), como a Hungria. Se resumíssemos já as nações bal- cânicas, da antiga Jugoslávia, apenas a Croácia se afirmara sempre como nação católica, até hoje, como a Eslovénia, ou em menor grau a Bósnia-Herzegovina (população croata) ou o Montenegro, muito menos a Sérvia e a Macedónia, os católicos são ainda hoje minorias estáveis e consistentes. Mas minorias. Como na Bulgária, na Roménia ou nas nações europeias desmembradas da antiga União Soviética, a começar pela Rússia (pouco mais de 500 mil subsistem mas crescendo diga-se...), a Bielorrússia, a Letónia e a Estónia (estas mais luteranas, na esfera cristã, ou ortodoxas minoritariamente, mas acima da população católica), como as repúblicas caucasianas da Geórgia e Arménia, já que os católicos romanos no Azerbaijão ainda são mais residuais que naqueles. As minorias russófonas ou ucranianas sempre levaram consigo os seus ritos ortodoxos, como os alemães, húngaros, croatas e checos nos outros países contribuíram sempre para a força da Igreja Católica na antiga Europa comunista. Mas desde a Grande Guerra (1939-45) ou depois na década de 90, com a expatriação dessas minorias para as “suas nações históricas”, com as redefinições da geopolítica e dos mapas da Europa, a força da Igreja Católica diminuiu em países como a Roménia ou a República Checa, por exemplo, a par da secularização e laicização, ateização dir-se-ia, que os regimes marxistas-leninistas impuseram para lá da Cortina de Ferro. A proibição, a intolerância, a perseguição, a tortura, os assassinatos e até dizimação pontual, marcaram o cenário difícil da sobrevivência da Igreja Católica no Leste da Europa. A erosão que a política impôs é a grande causa do abaixamentos dos números de católicos no Leste da Europa. Mas não apenas. Mas também funcionou ao contrário. Ou seja, como estímulo. Falamos claro da Polónia, da Lituânia. Em boa parte da Hungria ou da República Checa, mais da Croácia e da Eslovénia. Não esqueçamos que em vários países a dominância do Cristianismo Ortodoxo imperava. Sobreviveu, lutou e foi mártir também. Mas a Igreja Católica conheceu tempos piores. Ser católico era uma conotação com o Ocidente, com um poder externo (Roma), poder ser acusado de espionagem ou subversão. Ser católico significava apego e ligação aos antigos imperialismos alemão ou austríaco, de tempos que se queriam esquecer, por causa da Guerra e não só. Os sudetas alemães eram católicos, a diáspora alemã em todo o Leste, como a Húngara eram-no também. Vejam-se por aí os estigmas... Ser católico passou a ser um acto de coragem. De clandestinidade, de regresso a tempos de perseguição, de migração forçada. Muitos foram embora. Na Polónia ficaram, a população católica sempre foi e é avassaladoramente dominante (mais de 90%), com forte e assumida participação comunitária e litúrgica, missionaria e um alfobre de vocações, que reforçam igrejas católicas em dificuldades no Leste ou em expansão na Escandinávia. Mais de 200 sacerdotes polacos trabalham na República Checa, por exemplo, onde são 18% dos efectivos de presbíteros. Para se avaliar a importância da Igreja na Polónia basta recordar o saudoso padre Ka- rol Józef Wojtyła (1920-2005), mais conhecido como João Paulo II (Papa, 1978-2005), provavelmente o mais importante e influente pontífice da história moderna da Igreja Católica Apostólica Romana. Mesmo oriundo da catolicíssima Polónia, conheceu as agruras da história do seu país, a fome, a guerra, o Holocausto, o cumprir de uma vocação na clandestinidade, todo o processo de formação envolto em dificuldades. Mas como a Igreja Católica na Polónia, a perseverança, a resiliência e a abnegação crística foram as palavras de ordem e o seu ideário de vida. Ser católico foi uma forma de resistência na Polónia, como em partes e épocas da história da Checoslováquia, ou da Hungria. Foi a força e o tónico para a resistência, para a afirmação. Foi a voz da solidariedade e da coragem, num mundo de aço e betão fio e inerte, esmagador. De formação de sacerdotes e vocações religiosas femininas, sempre numerosos estes indicadores, com grande afã missionário. Na Eslováquia, na Lituânia e na Croácia os católicos continuam fortemente maioritários também, como na Polónia, enquanto que na República Checa enfrentam dificuldades (10% da população, que é de dez milhões de habitantes). Na antiga Alemanha Democrática (RDA), hoje unificada na Alemanha, eram minoritários, como hoje, onde a tradição luterana sempre tivera mais força. Por toda a Europa de Leste, onde antes se estava atrás da Cortina de Ferro, a Igreja Católica subsiste, com ou maiores dificuldades, mas em sintonia com a Europa e com o mundo católico, de que faz parte de forma efectiva e plena, visando o rumo de um futuro que parece poder ser animador. Com o exemplo da chama terna e afável, determinada, que foi João Paulo II, o maior símbolo da Igreja a Leste... e não só! (*) Universidade Católica Portuguesa A P O N TA M E N TO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 16 PT PALMYRA O rapto da Noiva do Deserto JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO [email protected] Os inclassificáveis mercenários do Estado Islâmico ocupam há mais de um mês a milenar Palmyra, cidade semita com raízes no Neolítico onde medraram, entre outras, as civilizações selêucida e romana. Como consequência dessa agressão, parte substancial do seu riquíssimo património foi danificado ou irremediavelmente destruído. Doravante, e tendo em conta o tenebroso historial do ocupante, teme-se o pior. Visitei Palmyra em 1998, no âmbito de uma reportagem sobre a Síria para uma conhecida revista de viagens de Portugal. Na altura, pese a dificuldade em obter visto, o país de Hafez el-Assad era um destino bastante apetecível. Hordas de turistas, maioritariamente dos países árabes, com particular destaque para a Arábia Saudita, percorriam os riquíssimos espaços arqueológicos daquela que era considerada a jóia do turismo sírio, afamado entreposto de caravanas, digna do epitáfio “Noiva do Deserto”. A uns quilómetros de Palmyra, em pleno deserto ainda, avistavam-se já, ao longe, as colunas do templo de Baal – um dos mais importantes edifícios religiosos do Médio Oriente – sobressaindo por entre as copas das palmeiras que dariam nome à cidade. Depois, de um lado e do outro da estrada, iam surgindo marcos distintivos da presença imperial romana. Ao apear-me do autocarro vindo de Homs, logo me percebi que a coisa pública da parte moderna da urbe estava inteiramente direccionada para o turista. Os proprietários dos hotéis, “welcomes” e “as you like” a torto e direito, tentavam impingir aos recém-chegados os quartos mais caros. O dono do Omayad Palace, por exemplo, começou por concordar com os 150 rials da tabela, para logo depois tentar transferir-me para um cubículo húmido e mal cheiroso. Isto, porque entretanto tinham chegado três outros estrangeiros com ar de quem podia pagar mais e que aparentavam estar juntos. Afinal, não estavam. Nem quiseram ficar no hotel. Perante isto, o homem transfigurou-se num instante, assegurando-me que o que mais desejava era ver-me feliz. Para o comprovar ofereceu-me chá, não quis que lhe pagasse a sopa de grão-de-bico entretanto consumida, bateu com a cabeça no meu ombro (dizendo repetidamente que eu era um bom homem), e, pedindo-me mil desculpas, Joaquim Magalhães de Castro ofereceu-me dois postais do espaço arqueológico para eu enviar à família. A rua principal de Palmyra era um vespeiro de ofertas não solicitadas e perguntas inconvenientes. Escutei mais “welcomes” e “come ins” num par de horas que durante o resto da estada no país. As crianças mostravam-se particularmente irritantes e os adultos, ociosos, pareciam nada ter para fazer senão olhar a rua principal. Expecta- velmente, a minha primeira impressão de Palmyra não foi a melhor. Recordo, no entanto, com imenso prazer as solitárias caminhadas até ao castelo medieval de Fakhr-al-Din al-Ma’ani, construído pelos mamelucos. Daí pude apreciar, em toda a sua extensão e dimensão, os diferentes conjuntos de ruínas representativas das civilizações que ali deixaram marcas, embora nuvens de areia tapassem ocasionalmente a árida paisagem. Depressa se esfumaria o devaneio. Precisamente um quarto de hora antes do pôr do Sol, sete autocarros despejaram junto ao dito castelo roqueiro dezenas de turistas espanhóis. Tagarelando ruidosamente, fotografaram e aplaudiram, uivando quais lobos afaimados à medida que o Sol se escondia por detrás das montanhas. Difícil imaginar cena mais caricata. Além dos “invasores” espanhóis (esse dia eram espanhóis, no dia seguinte seriam, quiçá, alemães) por lá andavam outros visitantes ocidentais e um outro japonês. Chegavam a pé, em táxis, nas traseiras de pequenos tractores, em tuk-tuks, nas caixas de carrinha ou até em motorizadas. Distribuído por sete ou oito salas, num rés-do-chão de um edifício público, o espólio do museu de Palmyra reflectia uma variedade de artefactos resgatados das ruínas que nos falavam de um tempo em que os habitantes do oásis adoravam divindades astrais. Samash, o deus solar; Aglibol, o deus lunar; Beelsahmene, o deus supremo. Aposto que os norte-americanos foram buscar inspiração à áurea da divindade Malakbel – evocativa dos raios solares – quando idealizaram a sua estátua da Liberdade. Blocos de pedra com altos e baixos-relevos contendo trechos do alfabeto de Palmyra (dialecto aramaico ocidental), uma imensa variedade de jóias em ouro e prata, peças de cerâmica e estátuas arquétipos da beleza local – com aquele típico nariz aquilino das mulheres sírias – juntavam-se a diversas cabeças e torsos de mármore presos às paredes verdes das salas. As escassas informações, em papel dactilografado ou simplesmente rascunhado, estavam em Árabe, Francês e Inglês. As designadas “múmias de Palmyra” – acompanhadas por fragmentos de tecido (com motivos decorativos inspiradores dos panos de hoje), sandálias de couro e um fémur de um anónimo – tinham direito a sala própria. Soube recentemente pelas notícias que muitas dessas relíquias teriam sido transferidas para museus em Damasco antes da chegada dos salafrários. Infelizmente, devido à sua dimensão, nem tudo chegou a ser retirado, sendo certo que muitas das peças entraram já no rendoso circuito internacional de tráfico de antiguidades. Para inflamar os espíritos mais fundamentalistas, e iludir as aparências, foi sacrificado, à marretada e a golpes de picareta, a imponente e bela estátua do Leão de Al-lat, com dois mil anos e três metros de altura, símbolo maior do culto ao astro-rei. O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 PT 17 R OTA D O S 5 0 0 A N O S Dias de piscina e pouco Sol JOÃO SANTOS GOMES [email protected] E sta semana foi preenchida com muita chuva, vento e também algum bom tempo que possibilitou uma visita de carro a metade da ilha de Grenada e muitas idas à piscina da marina. Aproveitámos o facto do nosso casal amigo brasileiro ter alugado um carro para irmos visitar a parte central da ilha. Foi uma viagem que durou grande parte da manhã e algumas horas depois de almoço, que nos permitiu ficar a conhecer outra face deste país. Até houve tempo para dar um mergulho numa queda de água. Grenada, que foi outrora uma colónia britânica, foi invadida nos anos oitenta pelas forças armadas americanas, numa tentativa de evitar que se transformasse numa nova Cuba, de acordo com a justificação dos americanos na época. Washington olhava para Grenada e para o seu Governo como uma ameaça comunista, pelo que decidiu invadir a ilha para que essa ideologia política não tivesse oportunidade de se estabelecer nesta zona das Caraíbas. Ainda hoje os grenadinos não vêem com bons olhos os americanos, apesar de dependerem deles em termos económicos. O turismo e as trocas comercias estão muito dependentes do mercado norte-americano. Por outro lado, como que em contrabalanço, um pouco por toda a ilha se pode ver a influência da Venezuela e do seu, até há pouco tempo, poderio financeiro. Obras com apoio da Venezuela abundam na ilha, desde infra-estruturas a projectos sociais e de cariz religioso. A própria embaixada e departamentos consulares de Caracas em St. George são exemplos da opulência e da ostentação que caracterizava o regime de Hugo Chávez. Uma face que tão pouco era conhecida fora da sua esfera de influência e que fazia a população venezuelana opor-se ao Governo de Chávez. Hoje em dia os locais desdenham da decadência da economia venezuelana, mas reconhecem que, em tempos de fartura, o dinheiro vindo de Caracas era um balão de oxigénio que ia mantendo a ilha a flutuar perante a crise que vem afectando o turismo, principalmente depois da crise económica ter atingido os Estados Unidos e ter causado um corte drástico no número de turistas que visitam a ilha anualmente. Até muito recentemente, cerca de 80 por cento dos turistas que visitavam Grenada eram provenientes da América do Norte. A nossa visita à ilha terminou na baía de Prickly Bay, onde está ancorado o catamaran da família portuguesa que viveu em Macau e o outro veleiro brasileiro. Não nos foi possível estar com eles mas conseguimos falar via rádio com o capitão português. Ficou combinado um encontro em St. George ainda esta semana. Mesmo estando apenas separados por meia dúzia de quilómetros, os dois locais são pouco acessíveis porque o sistema de transportes públicos não é muito eficiente. Para quem – como nós – vive com um orçamento reduzido, alu- ESCOLHA SARDINHAS PORTUGUESAS gar carro está fora de questão. O custo diário ronda os 60 dólares americanos, sem contar com os custos de combustível, comida e outros. Como tem chovido e feito muito vento não tem sido possível nadar na praia. Em contrapartida, temos frequentado de forma assídua a piscina na marina onde a tripulação brasileira do Gentileza tem o veleiro. Visto sermos seus convidados podemos usufruir da piscina sem quaisquer entraves. A Maria tem andado no paraíso indo para a piscina diariamente ao fim do dia. Ali brinca e nada com a nova amiga brasileira. É com prazer que ficamos na sombra a vê-las saltar para a água – até nos esquecemos que a Maria tem apenas dois anos e meio (a amiga tem quatro). Até há pouco tempo a nossa bebé tinha medo de saltar para a água e só nadava com o pai ou com a mãe. Agora, se não temos cui- ESCOLHA PORTHOS dado, salta sozinha para a água sem braçadeiras. Entretanto, a bordo, como relatava na semana passada, metemos mãos aos trabalhos de substituição dos cabos eléctricos. Depois de um dia enrolado em cabos de várias cores e espessuras confirmámos que havia problemas com os cabos antigos. Depois de substituir grande parte dos fios e das ligações o aproveitamento da energia produzida subiu substancialmente. No entanto, não fomos capazes de instalar o novo controlador do alternador, que esperávamos vir a contribuir também para uma melhoria geral. Temos de voltar a tentar quando instalarmos o separador de baterias que ainda está dentro da caixa. A nível mecânico continuamos a deparar-nos com um problema que nos tem dado dores de cabeça. A transmissão do motor, quando temos o motor a funcionar ao final do dia para carregar as baterias, tem tendência a engatar passado algum tempo em alta rotação. Como podem imaginar tal não é muito confortável porque, se não estivermos com atenção, pode fazer o veleiro sair da posição e arrancar a âncora. Já experimentámos substituir o cabo que liga a transmissão ao manípulo no poço do veleiro; já tentámos mudar a afinação do cabo na caixa de transmissão e na sua ligação no poço; já tentámos bloquear o manípulo no poço com uma pequena corda, mas nada resolve o problema! Todas as intervenções que fizemos deram resultados durante meia dúzia de dias mas depois o problema regressa. Aceitamos sugestões dos nossos leitores experientes em motores a gasóleo. CADERNO DIÁRIO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 18 Segunda 6 Terça 7 Armadilha Magna Carta Uma das maiores armadilhas desta chamada democracia é que as pessoas se habituaram a esperar tudo dos Governos e dos partidos e pouco ou nada de si mesmas. A democracia representativa infantiliza e desresponsabiliza os eleitores, que reduzem a sua responsabilidade a delegarem periodicamente responsabilidades noutros que pertencem a corporações de interesses e sobre os quais não têm o mínimo co- nhecimento nem poder. A democracia representativa é a forma moderna da alienação, do controle e da opressão social. Precisamos de outra coisa. Não de outros Governos ou partidos, mas de outro estilo de vida, que passe também por formas de democracia directa e por comunidades locais autogeridas. Precisamos de um movimento apartidário que desperte a sociedade nesse sentido. Quarta 8 Doutoramento Decorreram a 1 de Julho, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, as provas de defesa da tese de doutoramento do investigador Hugo Xavier, com orientação científica de Raquel Henriques da Silva. Neste trabalho, Hugo Xavier estuda a acção de Sousa Holstein (1838-1878) como vice-inspector (entre 1862 e 1878) da Academia Real de Belas Artes (fundada em 1836 por decreto de Passos Manuel), desenvolvendo uma galeria de pintura que será uma espécie de embrião do futuro Museu Nacional de Leia O CLARIM na net Arte Antiga (na foto), hoje um dos mais prestigiados de Portugal. A Fundação D. Luís I organiza um ciclo de palestras e debates intitulado “Da Magna Carta à II Guerra Mundial - Para uma cultura de Humanidade”, a decorrer em Cascais até ao final do ano. A 10 de Julho, o tema em debate será “Do Renascimento”, por Ana Paula Menino e Vítor Serrão. A Magna Carta, que sintetiza um título bem mais longo – “Grande Carta das liberdades e da concórdia entre o rei João e os barões ingleses para outorga das liberdades da Igreja e do rei inglês” – é um valiosíssimo documento datado de 1215 que vem limitar o poder dos monarcas ingleses impedindo, assim, o exercício do poder absoluto e tão frequente- PT mente tirânico. Ou seja: o rei reconhece que a sua vontade está sujeita à Lei, pelo que a Magna Carta é universalmente considerada o primeiro passo do longo e custoso processo que conduziria ao Constitucionalismo. O tempo do Renascimento é analisado à luz das suas pluralidades culturais, artísticas, políticas e mentais e à luz do Humanismo como herdeiro de valias antropocêntricas que radicam, de certo modo, na Magna Carta. marca nessa terra, paredes meias com a Serra do Gerês e Espanha. O seu meio de transporte, um cavalo (atendendo a que não havia estradas dignas desse nome), servia-lhe para ir às paróquias celebrar missa. Em Tourém criou uma escola, iniciou cursos agrícolas, cursos de bordadura, requisitou leite, farinha, manteiga e óleo à Cáritas, começou por dar as refeições confeccionadas na Casa Paroquial, onde vivia com uma irmã, já que se des- se os alimentos alguns vendiam-nos. Mais tarde, sempre a cavalo, passou a celebrar missa em Pitões das Júnias e em Covelães. Ao fim de dois anos o transporte muar seria substituído por uma motorizada. O padre Fontes deixou Tourém em 1971 e rumou a Vilar de Perdizes, já lá vão 32 anos, onde todos os dias celebra missa às oito e meia da manhã. Para além dessa paróquia têm a seu cargo Mexide e Soutelinho da Raia. Quinta 9 Congresso Em Vilar de Perdizes (Montalegre) realiza-se, todos os anos, o Congresso de Medicina Popular que reúne curandeiros, ervanários, médiuns, bruxos e curiosos. Fomenta-se os poderes das medicinas populares, os cházinhos, as pomadas, as mezinhas, as mistelas agridoces, “não queremos semáforos nas encruzilhadas”, os gatos pretos à meia-noite, os dedos viajantes que massajam o corpo todo, etc. Este acontecimento, que anualmente junta milhares de pessoas, é uma iniciativa do padre António Fontes, nascido em 1940 e licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi ordenado em 1963 e colocado em Tourém. Aí esteve oito anos, deixando a sua www.oclarim.com.mo ENTRETENIMENTO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 10 de Julho de 2015 19 PT TDM Canal 1 13:00 13:30 14:30 18:20 19:10 19:40 20:30 21:20 22:00 22:10 23:00 23:30 01:00 01:50 Sexta-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: O Astro (Repetição) TDM Talkshow (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal Vingança Teledisco Telenovela: O Astro TDM News Cinema: Crónica dos Bons Malandros Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 10:45 11:35 12:00 13:00 13:30 14:30 18:10 19:00 20:00 20:30 21:10 22:10 23:00 23:30 00:20 00:55 Sábado Os Ursos Boonie Boarding Madeira Mesa Brasileira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) Telenovela: Paixões Proibidas (Compacto) Mais Saúde Quem Quer Ser Milionário Palcos Agora Telejornal Conta-me Como foi Um Lugar Para Viver TDM News Pop Lusa Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) Domingo 10:50 Jardim da Celeste 23:00 23:30 00:05 00:40 Decisão Final Bem-Vindos a Beirais Telejornal Contraponto Operação Laboratório nas Nuvens: Segredos dos Céus TDM News Construtores de Impérios Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 13:00 13:30 14:30 17:50 18:40 19:40 20:30 21:00 22:10 23:00 23:30 00:05 00:40 Segunda-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: O Astro (Repetição) Contraponto (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal TDM Desporto Telenovela: O Astro TDM News O Extraordinário Mundo das Fibras Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 13:00 13:30 14:30 17:50 18:40 19:45 20:30 21:00 21:40 Terça-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: O Astro (Repetição) TDM Desporto (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal TDM Entrevista Viver é Fácil (Fim) 18:45 19:40 20:30 21:00 22:00 Cinema: Crónica dos Bons Malandros. Hoje, às 23:30 horas. 11:10 12:00 12:30 13:00 13:30 14:30 16:20 17:15 17:45 18:10 Lugares de Verão A Hora de Baco Especial Saúde TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) Zig Zag Super Miúdos Photo Madeira Pela Sua Saúde Portugal Seis Estrelas A PARTIR DE 10/7/2015 A 22:10 23:00 23:30 00:30 01:00 Telenovela: O Astro TDM News Portugal Aqui Tão Perto Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 13:00 13:30 14:30 18:20 19:10 19:40 20:30 21:00 21:40 22:10 23:00 23:30 00:05 00:35 Quarta-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: O Astro (Repetição) TDM Entrevista (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal Montra do Lilau Escrito na Pedra Telenovela: O Astro TDM News Com Ciência Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 13:00 13:30 14:30 18:20 19:10 19:40 20:30 21:00 21:30 22:10 23:00 23:30 00:05 00:35 Quinta-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: O Astro (Repetição) Montra do Lilau (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal TDM Talk Show Endereço Desconhecido Telenovela: O Astro TDM News A História com Fernando Rosas Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) A PARTIR DE 10/7/2015 SALA 1 SALA 1 MINIONS ted2 14:15 | 16:00 | 21:30 17:45 (3D) 19:30 16:00 (Sala 2) Um filme de: Seth MacFarlane Com: Mark Wahlberg, Amanda Seyfried, Morgan Freeman Um filme de: Pierre Coffin, Kyle Balda Língua: Falado em Cantonês A PARTIR DE 10/7/2015 SALA 2 POLTERGEIST 14:15 | 18:00 | 21:30 19:45 (3D) Um filme de: Gil Kenan Com: Sam Rockwell, Rosemarie DeWitt C C A PARTIR DE 10/7/2015 SALA 3 TERMINATOR GENISYS 14:30 | 16:45 | 21:30 19:15 (3D) Um filme de: Alan Taylor Com: Arnold Schwarzenegger, Jason Clarke, Emilia Clarke C TEMPO www.smg.gov.mo AGUACEIROS 24º Min. - 28º Máx. 20 | ÚLTIMA | SEXTA - FEIRA | 10 - 07 - 2015 Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, MACAU TEL. 28573860 FAX. 28307867 | www.oclarim.com.mo Céu muito nublado. Aguaceiros. Vento na escala Beaufort 5 a 7 de Oeste a Noroeste, tornando-se de Sudoeste com rajadas. Humidade relativa entre 75% e 98%. O índice UV máximo previsto é de 5, classificado de Moderado. TAXAS DE CÂMBIO http://https://www.bcm.com.mo MOP USD EUR 1 1 GBP JPY AUD NZD RMB HKD 1 100 1 1 100 1 7.9750 8.7887 12.2634 6.56 6.2663 5.9368 78.55 103.00 COSTA DA MEMÓRIA Os cativos do Magrebe JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO [email protected] Chefchouen foi fundada, alegadamente, por gente mourisca expulsa do sul de Espanha, no século XVI, que ali deparou com solos férteis e abundância de água, de tal reputação que muito recentemente os espanhóis chegaram a pensar em comercializá-la. Isabel não estava nada convencida, por isso precavera-se com vários garrafões de cinco litros, contendo o precioso líquido, recolhido directamente da Fonte da Moura, «onde brota a melhor água do mundo». «– Não gosto da água de cá. É demasiado pesada», justificava. Não deixava de ser curioso. Trazer para terras magrebinas água de uma fonte atribuída aos “mouros”, vocábulo, em Portugal, associado a tudo o que é antigo, tal como em Marrocos tudo o que é antigo é “português”, mesmo em locais onde os portugueses nunca tenham estado. Não é o caso de Xexuão, uma das povoações onde foram parar cativos portugueses no rescaldo das muitas pelejas outrora travadas, mormente a batalha de Alcácer Quibir, conhecida entre os marroquinos como a batalha dos Três Reis. Só aí foram feitos mais de nove mil prisioneiros. O que lhes terá acontecido? Muitos, certamente, acabariam os seus dias em masmorras como as do interior do casbá da almedina de Xexuão. A crueldade dos alcaides locais, sobretudo o de Alcácer Quibir, está bem expressa numa ilustração francesa do século XVI, retratando as diversas formas de tortura aplicadas aos esclaves chretiens: empalados, espancados nas plantas dos pés, enterrados, degolados, queimados e serrados… vivos! É provável que muitos desses detidos, por uma mera questão de sobrevivência, tivessem renunciado à sua fé, islamizando-se e até constituindo família com mulheres locais. Abundam por ali feições e olhos esverdeados como os nossos. Mas também é verdade que essas terras, tradicionalmente habitadas, desde a Idade do Ferro, por tribos berberes originárias da Ásia Menor, viram passar cartagineses, fenícios, vândalos, romanos e gregos, todos eles antes da chegada do invasor árabe, que ainda hoje olha com despeito o berbere das montanhas, resultado destes e de outros caldos étnicos. «– O rei não gosta dos berberes porque sempre foram rebeldes e resistentes», diria Hassan, no decorrer da nossa viagem. Pergunto-me: quanto de berbere há em Joaquim Magalhães de Castro nós e quanto de português há neles? Num grupo de miúdos que jogavam à bola vi, por exemplo, um Cristiano Ronaldo (curiosamente envergava a camisa 7 do Manchester e até tinha bastante jeito para a coisa), noutro vi um Quaresma. Mas também vi o meu primo Fábio, quando era criança, ou uma desconhecida com quem me habituei a cruzar em Macau todos os dias sem nunca saber como se chamava. Ou ainda, rostos, dir-se-ia, de verdadeiros mongóis, mas que não gostavam que lhes mencionasses a analogia, como foi o caso de um professor primário, de feições claramente asiáticas, que no decorrer da nossa conversa não se cansou de afirmar a sua origem árabe e bem árabe, pois «descendia da família do próprio profeta». Onde é que já ouvira isso? Faz parte dos rituais de passagem pela cidade de Chefchouen cumprir uma caminhada até à nascente do rio local, presenciando uma série de moinhos de água, fora de serviço, é certo, mas devidamente restaurados graças a um programa de reabilitação do património local, a cargo da Junta Autónoma da Andaluzia. Além dos moinhos, este organismo estava a recuperar as muralhas da almedina e os diferen- tes portões de entrada com o objectivo de candidatar a cidade ao título de Património da Humanidade. Seria esta, porventura, uma das formas de Espanha se redimir da “ocupação” que leva a cabo em Ceuta e Melilla? Muito provavelmente. A recente visita a Ceuta do rei castelhano, sobejamente divulgada na Imprensa local, originara várias manifestações de protesto, na fronteira e em diversos pontos do País. Junto a um desses moinhos, onde funcionava um forno de pão tradicional, deparei com a designada Ponte dos Portugueses – muito parecida com as pontes romanas – construída pelos cativos atrás mencionados. Foram também eles que ergueram o casbá, e havia até quem não hesitasse em afirmar que o castelo pertencia aos portugueses, que teriam ocupado Xexuão. Falava-se de um túnel, ligando a almedina a uma colina próxima, “utilizado pelas tropas invasoras para entrar na cidade”. Tive a oportunidade de constatar a existência do dito túnel, embora a construção de um hotel de luxo tenha selado para sempre uma das entradas. Quanto à presença histórica de portugueses em Chefchouen – “que dali comunicavam com Targa, junto à costa, onde existe outro castelo português” – é comprovada por diversos documentos coevos. «– E foi esta uma cidade santa. Quem diria!». O desabafo veio de alguém que não se apresentou como guia, mas mais tarde ou mais cedo iria revelar essa faceta, pois, em Marrocos, abordagem não solicitada, por mais desinteressada que possa parecer, traz, por norma, água no bico. «– Agora é uma pouca-vergonha. Consulte a Internet e logo verá o que se passa», acrescentou o homem, que se dizia chamar Abij. O que se passava afinal? Aparentemente, os estrangeiros, «sobretudo nos últimos seis anos», tinham vindo a comprar casas em Chefchouen, inicialmente ao preço da uva-mijona, inflacionando, entretanto, os valores a um nível nunca visto. Era a síndrome do Algarve aplicado ao norte de África. Abij, envolvido num diferendo com as duas irmãs – dispostas a vender a casa paterna, «o único património da família», a uns estrangeiros – afirmava que muitos negócios obscuros se passavam no interior dessas habitações, entretanto luxuosamente renovadas pelos recém-chegados. Alegava que se praticava aí a «prostituição e a homossexualidade». E a pedofilia? Abij franziu o sobrolho, como quem diz: “quem sabe?”. E repetiu: «– Dê uma vista de olhos na Internet. Pode lá encomendar o serviço que pretender».