Paulo Jorge Brandão Moreira Óptica Integrada em Tecnologia Sol-Gel Híbrido Tese submetida à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto para obtenção do grau de Doutor em Física Departamento de Física Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Dezembro / 2005 Tese realizada sob a supervisão do Doutor António Pereira Leite, Professor Associado do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Doutor Paulo Vicente da Silva Marques, Professor Auxiliar do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Aos meus Pais, Agradecimentos Ao meu orientador Prof. António Leite expresso o meu agradecimento pelos valiosos ensinamentos transmitidos ao longo destes últimos anos e pelo apoio constante que senti num dos momentos mais difíceis que atravessei. Para o meu co-orientador e amigo Paulo Marques não existem palavras, pelo menos em Português, para expressar o quanto eu agradeço o seu apoio neste trabalho e numa etapa particularmente difícil que atravessei. A transmissão dos seus conhecimentos práticos foi de um valor incalculável, conhecimentos sem os quais seria mais difícil a realização deste trabalho. Só espero ter correspondido à sua frase diversas vezes pronunciada no laboratório: “Sr Moreira, vais sair daqui um Homem”. Ao Olivier Soppera, je lui remercie d’être venu au Portugal pour travailler avec nous et pour m’aider a me souvenir de ma première langue. Sans les connaissances de chimie partagées avec nous, les aspects essentiels de ce travail n’auraient jamais été trouvés. À Luísa expresso o meu agradecimento pelo apoio técnico manifestado durante este período, em particular, por tratar a burocracia relacionada com as viagens para o estrangeiro. A todos os meus amigos inescianos, em particular aos meus camaradas Pedro Jorge e Luís Gomes (desculpa pelo “camarada”), agradeço a boa disposição que constantemente existiu entre nós e por me proporcionarem momentos hilariantes. Aos meus amigos, em geral, agradeço a compreensão demonstrada pelas minhas ausências. Ao INESC-Porto, agradeço por me ter concedido as condições necessárias para a realização deste trabalho e, em particular, ao responsável da unidade, Professor José Luís Santos, por saber sempre dar a palavra de incentivo nas horas certas. Um agradecimento muito especial à minha família, por sempre se preocupar com o meu bem estar e por me ter ajudado a enfrentar a difícil etapa que atravessei. Agradeço à FCT, por me ter concedido uma bolsa de Doutoramento no âmbito do POCTI, embora lamente a falta de apoio numa situação adversa de um bolseiro, como consequência de uma interpretação sem nexo da lei, e que me transformou o período de redacção da dissertação no período mais difícil deste trabalho. i Sumário Esta dissertação apresenta o trabalho realizado para o desenvolvimento da tecnologia sol-gel híbrido aplicada à fabricação de dispositivos ópticos integrados. Uma primeira parte aborda a optimização dos processos envolvidos na fabricação de guias de onda em canal, com base num material fotopolimerizável. A deposição de filmes de boa qualidade, com espessura controlada e reprodutível, e boa uniformidade, é considerada, assim como a calibração do índice de refracção do material de núcleo e a definição fotolitográfica adequada de canais. São apresentadas as características ópticas dos guias de onda em canal em termos da transmissão espectral. A influência de vários parâmetros de fabricação sobre a transmissão espectral dos guias de onda foi estudada, em particular na região espectral de 1.55 µm, zona de forte absorção nos materiais híbridos sintetizados. Os resultados da fabricação de guias de onda em substrato de silício são descritos, na sequência do desenvolvimento de um material híbrido com baixo índice de refracção e que permite a deposição de camadas espessas sem fracturas. O efeito do grupo orgânico metil na absorção do material a 1.55 µm é analisado. Dispositivos passivos, como redes de Bragg em guias em canal e um modulador baseado no interferómetro de Mach-Zehnder integrado e no efeito termo-óptico, são demonstrados. O resultado da escrita de uma rede de Bragg num guia em canal previamente fabricado é apresentado, e é descrita uma técnica, inovadora e simples, para a fabricação simultânea de guias de onda contendo redes de Bragg eficientes, sendo apresentados os resultados obtidos. O problema da absorção dos materiais híbridos sintetizados pelo processo sol-gel hidrolítico, na região espectral de 1.55 µm, é abordado na última parte desta dissertação. A origem da absorção é investigada e identificada, e novos procedimentos de síntese de soluções são estudados, incluindo o processo sol-gel não-hidrolítico. Uma técnica inovadora de eliminação dos grupos OH em soluções sintetizadas pelo processo sol-gel hidrolítico é apresentada. A dopagem com boro é analisada e utilizada na produção de um material potencialmente fotopolimerizável e com um índice de refracção relativamente baixo. Por último, são analisados vários precursores do ponto de vista do espectro de transmissão com o objectivo de estudar a contribuição de diferentes grupos orgânicos para a absorção intrínseca dos materiais híbridos. As conclusões mais importantes derivadas da investigação descritas são apresentadas, sendo sugeridas algumas linhas de trabalho futuro. iii Abstract This thesis presents the work realized for the development of the hybrid sol-gel technology applied to the fabrication of integrated optic devices. A first part reports the optimization of the fabrication processes of optical channel waveguides based on a photopolymerizable material. The deposition of high quality films with controlled and reproducible thickness, and of high uniformity, is considered. The refractive index calibration of the core material and the adequate geometry definition of the channels by photolithography are also considered. The channel waveguides were characterized in terms of spectral transmission and the influence of several process parameters on the spectral transmission was studied, in particular in the 1.55 µm spectral region, where the absortion of the hybrid material is strong. The results related to the fabrication of buried channel waveguides on silicon are presented as a consequence of the investigation of a hybrid material with low refractive index, which allows the deposition of thick films without cracks. The effect of the methyl group on the material absorption in the 1.55 µm spectral region is evaluated. Passive devices, such as channel waveguide Bragg gratings and an integrated modulator using the thermo-optic effect in an integrated Mach-Zehnder interferometer are demonstrated. The result of Bragg grating inscription in a previously fabricated channel waveguide is presented; a novel and simpler technique for fabrication of channel waveguide Bragg gratings in a single step is described and the results obtained are presented. The problem of the absorption at 1.55 µm of the hybrid materials synthesized by the hydrolytic sol-gel process is addressed in the last part of this dissertation. The origin of the absorption is investigated and identified. New procedures of solution synthesis, such as the nonhydrolytic process, are studied. A novel technique of OH group elimination, in solutions synthesized by the hydrolytic sol-gel process, is presented. Doping with boron is analised and used for the production of a potentially photopolimerizable material with a relatively low refractive index. Finally, several precursors are analysed, in terms of their transmission spectra, to study the potential effect of the different organic groups on the intrinsic absorption of the hybrid materials. The most important conclusions resulting from the research performed are described, and suggestions for further work are presented. v Résumé Cette thèse présente le travail réalisé pour le développement de la technologie sol-gel hybride appliquée à la fabrication des dispositifs optique integrés. La première partie est dédiée à l’optimisation des procédés de fabrication des guides d’ondes en relief formés dans un materiau photopolymérisable. Les conditions de formation de films uniformes par revêtement, d’une épaisseur contrôlée et reproductible, sont décrites. Les propriétés géometriques (dimensions des structures photoinduites) et optiques (indice de réfraction du coeur) des guides fabriqués par photolithographie ont été caractérisées. Les caractéristiques de la transmission spectrale des guides sont présentées. L’influence de plusieurs paramètres sur le spectre de transmission des guides est étudiée, en particulier dans la région de 1.55 µm, où l’absorption du matériau est forte. Les résultats de la fabrication de guides d’ondes sur substrats de silicium sont présentés, grâce au développement d’un matériau hybride avec un indice de réfraction proche de celui de la silice, et qui permet de former des couches épaisses et sans fractures. L’effect du groupe organique méthyle sur l’absorption du matériau a 1.55 µm est analysé. Des dispositifs passifs comme des réseaux de Bragg dans des guides d’ondes et un modulateur integré, basé sur l’effect thermo-optique et l’interféromètre de Mach-Zehnder, sont démontrés. Le résultat de l’écriture d’un réseau de Bragg dans un guide d’onde, fabriqué dans une première étape, est présenté. Une nouvelle technique plus simple, qui permet de fabriquer simultanément le réseau de Bragg et le guide d’onde, est analysée et les résultats obtenus sont présentés. Le problème de l’absorption, dans la région spectrale de 1.55 µm, des matériaux hybrides, synthétisés para la voie sol-gel hydrolytique, est abordé dans la dernière partie de cette thèse. L’origine de l’absorption a été identifiée. De nouveaux procédés de synthèse des solutions sont étudiés, comme la voie sol-gel non-hydrolytique. Une nouvelle technique pour l’élimination des groupes OH en solution, synthétisé par la voie sol-gel hydrolytique, est présentée. Le dopage avec des complexes de Bore est analysé et utilisé pour proposer d’un matériau potentiellement photopolymérisable, avec un indice de réfraction plus proche de la silice. Enfin, les spectres de transmission de plusieurs précurseurs sont analysés pour étudier la contribution des différents groupes organiques sur l’absorption intrinsèque des matériaux hybrides. Les conclusions plus importantes de cette recherche sont présentées et quelques orientations de travail futur sont proposées. vii Índice Agradecimentos................................................................................................................................ i Sumário ..........................................................................................................................................iii Abstract ........................................................................................................................................... v Résumé ..........................................................................................................................................vii Índice.............................................................................................................................................. ix Lista de abreviaturas....................................................................................................................xiii Capítulo 1 - Introdução .......................................................................................................... 1 Referências................................................................................................................................. 9 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada................................................................. 17 2.1 Introdução........................................................................................................................ 17 2.2 Guias de Onda Planares (2D) .......................................................................................... 18 2.2.1 Guia de onda planar uniforme (perfil de índice de refracção em degrau)................. 18 2.2.2 Guia de onda planar não-uniforme (perfil de índice de refracção gradual) .............. 26 2.3 Guias em Canal (3D) ....................................................................................................... 27 2.4 Estruturas variantes longitudinalmente ........................................................................... 30 2.5 Caracterização óptica de guias de onda........................................................................... 32 2.5.1 Determinação dos índices efectivos pelo método das “m-lines” .............................. 32 2.5.2 Cálculo do índice de refracção de materiais.............................................................. 34 2.5.3 Medição das perdas de inserção e de propagação ..................................................... 35 2.5.4 Medição da birrefringência ....................................................................................... 39 2.5.5 Medição da transmitância espectral de um guia de onda em canal........................... 39 Referências................................................................................................................................40 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido .................................................................. 43 3.1 Introdução........................................................................................................................ 43 3.2 A química do processo sol-gel hidrolítico....................................................................... 45 3.2.1 Os precursores ........................................................................................................... 45 3.2.2 Reacções químicas fundamentais.............................................................................. 46 3.2.3 Influência de alguns parâmetros químicos na cinética das reacções......................... 48 3.2.4 Gelificação ................................................................................................................ 53 3.3 Processo sol-gel não-hidrolítico ...................................................................................... 55 3.4 Deposição de filmes ........................................................................................................ 56 3.4.1 Deposição de filmes .................................................................................................. 56 3.4.2 Formação de filmes siliciosos ................................................................................... 59 3.5 Fotossensibilidade em materiais híbridos........................................................................ 61 ix 3.6 Fotolitografia................................................................................................................... 66 3.7 Aplicações em Óptica Integrada ..................................................................................... 67 Referências................................................................................................................................69 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de Guias de Onda Ópticos em Canal ..................................................... 75 4.1 Introdução........................................................................................................................ 75 4.2 Fabricação e caracterização de guias de onda do tipo “raised”....................................... 78 4.2.1 Preparação de substratos de vidro............................................................................. 79 4.2.2 Síntese da solução ..................................................................................................... 80 4.2.3 Deposição de filmes .................................................................................................. 84 4.2.4 Secagem do filme...................................................................................................... 87 4.2.5 Litografia UV............................................................................................................ 88 4.2.6 Tratamento térmico final........................................................................................... 95 4.2.7 Acoplamento com as fibras ópticas .......................................................................... 96 4.2.8 Caracterização óptica ................................................................................................ 97 4.2.9 Influência de alguns parâmetros na transmitância de um guia em canal. ............... 102 4.3 Deposição de camadas “buffer” .................................................................................... 111 4.3.1 Testes de deposição de filmes................................................................................. 113 4.3.2 Caracterização óptica .............................................................................................. 115 4.4 Guias em canal “buried” sobre silício ........................................................................... 118 4.4.1 Fabricação ............................................................................................................... 118 4.4.2 Caracterização......................................................................................................... 119 4.5 Conclusões .................................................................................................................... 121 Referências..............................................................................................................................122 Capítulo 5 – Dispositivos Ópticos Integrados ............................................................ 125 5.1 Introdução...................................................................................................................... 125 5.2 Redes de difracção de Bragg......................................................................................... 126 5.2.1 Transmissão e reflexão de uma rede uniforme ....................................................... 126 5.2.2 Tipos de redes de Bragg.......................................................................................... 131 5.2.3 Técnicas de fabricação ............................................................................................ 134 5.2.4 Aplicações............................................................................................................... 139 5.2.5 Redes de difracção em tecnologia sol-gel híbrido .................................................. 140 5.3 Fabricação e caracterização de redes de Bragg em guias em canal .............................. 141 5.3.1 Método de dupla exposição UV.............................................................................. 142 5.3.2 Método de exposição UV única .............................................................................. 144 5.4 Modulador de intensidade termo-óptico ....................................................................... 150 5.4.1 Introdução ............................................................................................................... 150 5.4.2 Efeito termo-óptico ................................................................................................. 152 5.5 Fabricação e teste de um modulador termo-óptico ....................................................... 155 5.6 Conclusão ...................................................................................................................... 160 Referências..............................................................................................................................161 x Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais Híbridos para Aplicações a 1.55 µm................................................................ 165 6.1 Introdução...................................................................................................................... 165 6.2 Estudo da influência de parâmetros do processo sol-gel hidrolítico sobre o espectro de transmissão (NIR) da solução................................................................................................. 167 6.2.1 Influência do grau de hidrólise (rw)........................................................................ 169 6.2.2 Influência da dopagem com propóxido de zircónio complexado ........................... 170 6.3 Processo sol-gel não-hidrolítico .................................................................................... 171 6.3.1 Sistema MAPTMS/DPhSdiol.................................................................................. 172 6.3.2 Sistema TMOS/DPhSdiol ....................................................................................... 173 6.3.3 Soluções com novos hidróxidos: ácido bórico e hidróxido de alumínio................. 174 6.3.4 Uso de precursores clorosilanos.............................................................................. 176 6.4 Desenvolvimento de novos materiais com baixa perda a 1.55 µm usando o processo solgel hidrolítico.......................................................................................................................... 176 6.4.1 Novos desenvolvimentos no processo de síntese.................................................... 177 6.4.2 Estudo de novos precursores ................................................................................... 183 6.5 Conclusão ...................................................................................................................... 189 Referências..............................................................................................................................190 Capítulo 7 - Conclusão ....................................................................................................... 193 Anexo A - Programa de cálculo do índice de refracção de filmes......................................... 199 Anexo B - Fabricação de máscaras de amplitude................................................................... 211 Anexo C - Espectro de transmissão de precursores organoalcoxisilanos ............................ 213 xi Lista de abreviaturas BPM – “Beam Propagation Method” CCD – “Charge-Couped Device” DBR – “Distributed Bragg Reflector” DFB – “Distributed Feedback” DMDMOS - Dimetildimetoxisilano DPhDMOS - Difenildimetoxisilano DPhSDiol - Difenildimetoxisilano ETMOS - Etiltrimetoxisilano EtOH - Etanol GPTMOS - Glicidoxipropiltrimetoxisilano ITO – “Indium Tin Oxide” LED – “Light Emiting Diode” MAA – Ácido metacrílico MAPTMS - Metacriloxipropiltrimetoxisilano MTMOS - Metiltrimetoxisilano NIR – Infravermelho próximo ORMOCER – Cerâmica organicamente modificada OSA – Analisador de espectros ópticos PECVD – “Plasma Enhanced Chemical Vapour Deposition” PhTMOS - Feniltrimetoxisilano PVDF – “Polyvinylidene fluoride” PZT – “Platinum Zirconium Titanium” TEOS - Tetrametoxisilano TMOS - Tetrametoxisilano TPZ – Tetrapropóxido de zircónio RIE – “Reactive Ion Etching” UV – Ultravioleta VTCS - Viniltriclorosilano VTMOS - Viniltrimetoxisilano WKB – Wentzel-Kramers-Brillouin xiii Capítulo 1 Introdução O CONCEITO de Óptica Integrada foi introduzido em 1969 por Miller [1], ao propor um receptor óptico em miniatura, fabricado por integração de guias de onda com um detector óptico, um amplificador e uma fonte óptica num único substrato. O desempenho de funções de processamento de sinais ópticos por componentes ópticos integrados oferece várias vantagens sobre o uso de componentes discretos convencionais, tais como potenciar um melhor desempenho, maior resistência e maneabilidade e, principalmente, menor custo através da produção em massa. À constante necessidade de aumentar a largura de banda das redes de comunicação por fibra óptica e à inevitável futura implementação do conceito “fibre-to-thehome” [2], estará associada uma forte procura de componentes ópticos integrados. Por outro lado, esta tecnologia pode ser aplicada em sensores ópticos [3,4] e em processamento de sinal [5]. Contrariamente ao que ocorreu na Microelectrónica, em que foi eleito, à partida, o silício como o material base e desenvolvida a tecnologia de microfabricação associada para produzir qualquer sistema electrónico integrado, no caso da Óptica Integrada ainda não foi identificado um material único que possibilite a integração monolítica das diversas funções ópticas possíveis. Assim, duas classes de dispositivos foram sendo propostas ao longo dos últimos anos: a dos que resultam da integração monolítica, fabricados a partir de um único material, e a dos dispositivos resultantes da integração híbrida, compostos por vários blocos funcionais, fabricados com diferentes materiais, agrupados numa plataforma comum [6]. Para a integração monolítica de sistemas ópticos, com funções passivas e activas, é fundamental dispor-se de um material que permita gerar e detectar luz (tipicamente, nos comprimentos de onda 1.3 µm e 1.5 µm, em que as fibras ópticas de sílica apresentam 1 Capítulo 1 - Introdução desempenho elevado), revele baixas perdas de propagação e permita bom interfaciamento a fibras ópticas, seja opticamente activo (fornecendo ganho para amplificação óptica), apresente coeficientes acusto-ópticos, electro-ópticos e outros relevantes para efeitos não-lineares, e por fim, se possível, seja compatível com o silício, permitindo a integração de funções ópticas e electrónicas numa única plataforma. É também importante que a tecnologia de processamento deste material, para a fabricação dos circuitos integrados optoelectrónicos, não seja excessivamente complexa e dispendiosa para ser industrialmente aplicável, produzindo dispositivos de baixo custo. Uma vez que esse material não é conhecido, vários materiais que satisfazem apenas parcialmente esses requisitos têm sido investigados, alguns dos quais foram já usados no desenvolvimento de produtos comerciais, tais como os semicondutores III-V, o próprio silício (“silicon-on-insulator”, ou simplesmente SOI), o niobato de lítio (LiNbO3), os polímeros e os vidros. Semicondutores Os semicondutores compostos III-V, baseados em GaAs, InP, AlGaAs e InGaAsP, permitem a integração monolítica de funções optoelectrónicas, electrónicas e ópticas. São principalmente usados na fabricação de fontes ópticas (díodos laser, LEDs) e detectores [7], mas moduladores de intensidade e de fase, assim como amplificadores ópticos, são igualmente relevantes [8]. Díodos laser, emitindo em vários comprimentos de onda, principalmente a 0.8 µm, 1.3 µm e 1.5 µm, são os dispositivos optoelectrónicos com mais sucesso, continuando a ser objecto de intensa investigação. Os grandes avanços resultam dos progressos das tecnologias de MBE (“Molecular Beam Epitaxy”) e MOCVD (“Metal-Organic Chemical Vapour Deposition”), capazes de produzir camadas epitaxiais de muita pequena espessura e grande qualidade destes materiais semicondutores. A respectiva tecnologia de processamento é complexa e de elevado custo. A existência da uma tecnologia de processamento avançado de silício (SOI) beneficia o uso deste material na integração de sistemas optoelectrónicos [9]. A possibilidade de realizar um elevado contraste de índice de refracção permite uma integração relativamente densa. Recentes desenvolvimentos demonstraram a possibilidade de utilizar este material para a geração de luz [10] e funções electro-ópticas activas, como a modulação rápida [11]. Os guias de onda fabricados com estes materiais apresentam perdas de propagação relevantes (1 a 5 dB/cm) [12] e o índice de refracção destes semicondutores é suficientemente grande 2 Capítulo 1 - Introdução (n~3.5) para introduzir perdas significativas de acoplamento às fibras ópticas (n~1.5). Estas desvantagens abrem portas à competitividade de outros materiais. Cristais ópticos Cristais ópticos (tais como o niobato de lítio (LiNbO3), o tantalato de lítio (LiTaO3) e o KTP (KTiOPO4), entre outros, são muito utilizados, devido às suas propriedades físicas e químicas, na realização de componentes acusto-ópticos, electro-ópticos e não-lineares [13]. No caso do LiNbO3, a tecnologia de microfabricação está bem desenvolvida, sendo possível obter guias com pequenas perdas de propagação (<0.5 dB/cm) sem degradar o coeficiente electro-óptico do substrato; assim, tornou-se possível a fabricação de moduladores eficientes [14], amplificadores e laser integrados [15]. O problema do LiNbO3 é ser incompatível com os semicondutores e, portanto, impossibilitar a integração híbrida de funções ópticas, optoelectrónicas e electrónicas. O índice de refracção é ainda elevado (n~2.2) quando comparado com o das fibras ópticas, o que dá origem a perdas significativas de acoplamento. Polímeros Os polímeros representam uma enorme classe de materiais orgânicos que tem vindo a merecer uma especial atenção dos investigadores, nos últimos anos, para aplicação em Óptica Integrada [16]. Materiais poliméricos baseados nos acrilatos proporcionam baixas perdas de propagação, com valores de 0.03, 0.2 e 0.5 dB/cm nos comprimentos de onda de 840, 1300, 1550 nm, respectivamente [17]. A absorção intrínseca presente neste tipo de polímeros deve-se principalmente às vibrações da ligação C-H. A modificação das moléculas, por substituição destas ligações por ligações C-F, permite reduzir as perdas por absorção para valores tão baixos como 0.05 e 0.07 dB/cm para comprimentos de onda de 1300 e 1550 nm, respectivamente [18]. Este tipo de materiais poliméricos exibe, também, propriedades adicionais importantes, tais como elevada estabilidade térmica e baixo nível de birrefringência [19]. Estes materiais possuem um índice de refracção muito inferior ao dos semicondutores e do LiNbO3 e, portanto, o acoplamento às fibras ópticas é efectuado com menores perdas. Materiais poliméricos electro-ópticos têm sido, também, bastante estudados com o objectivo de optimizar três propriedades essenciais, que são o efeito electro-óptico, a estabilidade térmica, e a transparência óptica, para a fabricação de moduladores rápidos electro-ópticos [20-23]. O desenvolvimento de materiais poliméricos baseados em cromoforos com elevada não-linearidade molecular tem merecido atenção nos últimos anos, apesar de a transparência óptica a 1550 nm sair prejudicada [24-29]. 3 Capítulo 1 - Introdução Os guias de onda em canal podem ser definidos utilizando várias técnicas já demonstradas: processo fotolitográfico UV convencional associado a ataque químico (“reactive ion etching”) [30], escrita directa [17,31], e moldagem [32]. Vidros Os vidros são materiais particularmente atractivos para a implementação de dispositivos passivos, activos e não-lineares de óptima qualidade, devido às suas propriedades ópticas (intrínsecas ou modificadas por dopagem). A sua elevada transparência permite fabricar guias de onda com perdas mínimas, recorrendo a diversas tecnologias de fabricação. O material pode ser dopado com espécies activas (lantanídeos, por exemplo), oferecendo ganho óptico; o efeito termo-óptico pode ser utilizado para implementar determinadas funções, e efeitos ópticos nãolineares podem ser introduzidos. Uma das grandes vantagens dos vidros, em particular da sílica/sílica dopada, é a compatibilidade com as fibras ópticas, permitindo acoplamento entre guia integrado e fibra com perdas muito reduzidas. No entanto, estes materiais apresentam coeficientes electro-ópticos muito pequenos, tornando-os inadequados para fabricar dispositivos com funcionamento baseado nesse efeito. Contudo, o efeito de “poling” por aplicação de campo eléctrico foi estudado [33]. Guias de onda em vidros podem ser fabricados por dois tipos básicos de tecnologia: difusão (permuta iónica [34], oxidação térmica [35]) e deposição (“sputtering” [36], “Chemical Vapour Deposition” (CVD) [37], “Plasma Enhanced Chemical Vapour Deposition” (PECVD) [38], “Flame Hydrolysis Deposition” (FHD) [39] e também, mais recentemente, pelo processo sol-gel [40], em que é utilizada a deposição por rotação (“spin-coating”) [41] ou por imersão (“dipcoating”) [42]. A permuta iónica é um método usado para definir guias de onda, por permuta localizada de uma espécie iónica por outra, em substratos de vidro, tendo como resultado um aumento local do índice de refracção [43,44]. A permuta iónica foi também usada na demonstação de acção laser por dopagem com iões lantanídeos [45]. A tecnologia de sílica-sobre-silício tem suscitado interesse crescente. O uso do silício como substrato oferece várias vantagens: devido ao estado avançado de desenvolvimento da tecnologia do silício (impulsionado pela indústria de Microelectrónica), os substratos de silício são fabricados com excelente qualidade cristalina a custo reduzido, fornecendo uma base mecânica robusta para a integração híbrida (de funções ópticas e electrónicas). Existe também a possibilidade de serem escavadas estruturas de precisão, denominadas “V-grooves”, que são usadas para o suporte e alinhamento das fibras ópticas com os guias de onda. Técnicas como 4 Capítulo 1 - Introdução CVD, FHD, e sol-gel são as mais relevantes para a deposição de sílica e sílica dopada sobre substratos de silício. A técnica CVD é um método utilizado na deposição de camadas finas de sílica/sílica dopada a partir de uma mistura de gases que contêm os elementos necessários para a formação do material. Os vapores dos reagentes são transportados por um fluxo de oxigénio para uma câmara onde as reacções e a deposição se concretizam num ambiente a alta temperatura, situada entre 900ºC a 1100ºC. Taxas de deposição de 0.1 a 2.5 µm/min foram demonstradas, e espessuras de filmes até 36 µm sem fracturas foram conseguidas [37]. O PECVD é uma modificação da técnica anterior, e permite a fabricação de filmes de sílica a uma temperatura mais baixa (800ºC) com uma taxa de deposição cerca de 40 nm/min. O material é, posteriormente, submetido a tratamento térmico à temperatura de 1000ºC. A fabricação de guias de onda, com perdas de propagação a 1.55 µm inferiores a 0.2 dB/cm, foi demonstrada [46]. Os guias em canal necessários à generalidade dos dispositivos são formados por “dryetching” [47,48]. A deposição por “Flame Hydrolysis” de camadas de sílica/sílica dopada é um processo em que são injectados precursores, na forma de mistura de tetracloreto de silício (SiCl4) e tetracloretos de metais (XCl4, em que X pode ser Ge, P, Ti ou B) num queimador. O SiCl4 é o precursor que dá origem à matriz de sílica e, portanto, é fornecido em maiores quantidades, enquanto que os restantes precursores são utilizados e fornecidos de modo a ajustar o índice de refracção desejado. Uma descrição detalhada de todo o processo de fabricação pode ser encontrada em [49]. A camada depositada consiste num material poroso que é, posteriormente, consolidado a elevadas temperaturas, não superiores a 1350ºC, num forno eléctrico, para produzir películas transparentes com espessuras que podem ir até 100 µm [50]. Os guias de onda em canal são fabricados por combinação de processos litográficos e “Reactive Ion Etching” (RIE). Esta tecnologia permitiu obter guias em canal, dopados com germânio, com perdas de propagação da ordem de 0.01 dB/cm [51]. O processo sol-gel [52] é um método químico de baixa temperatura utilizável para a deposição de películas de sílica/sílica dopada através da hidrólise e policondensação de precursores ou mistura de precursores alcóxidos em fase líquida. A solução obtida, ou sol, com viscosidade controlada, é depositada no substrato (vidro ou silício com a superfície oxidada) recorrendo, geralmente, à técnica convencional de “spin-coating”. À medida que as reacções de hidrólise e policondensação vão decorrendo, vai formar-se uma rede sólida contínua (gel) no meio líquido, num processo de transformação designado por gelificação. 5 Capítulo 1 - Introdução A sílica/sílica dopada é sintetizada a partir de tetralcóxidos de silício. Estes precursores têm uma composição molecular da forma Si(OR)4, em que R é um radical orgânico derivado de um álcool (metil, etil). O alcóxido tetraetoxisilano (TEOS) é o precursor mais utilizado para a síntese de filmes de sílica (por razões económicas). O principal problema do processo sol-gel é o facto de não permitir depositar, num único passo, películas de sílica, em particular sílica dopada com titânio, com espessura superior a 0.5 µm e sem fracturas [53]. A técnica desenvolvida para a deposição de filmes espessos (~10 µm) consiste num processo iterativo de deposição por rotação seguida de RTA (“Rapid Thermal Annealing”) a uma temperatura fixa entre 800-1200ºC [54]. A definição de guias de onda em canal é realizada por litografia UV e RIE. As perdas de propagação que foram conseguidas com dopagem de TiO2 foram da ordem de 2.4 dB/cm [41] e, posteriormente, 1.6 dB/cm com a optimização do processo de fabricação [55]. A dopagem com fósforo, P2O5, produz menores perdas, da ordem de 0.45 dB/cm; a redução das perdas de propagação para 0.2 dB/cm a 1.5 µm foi atingida com dopagem usando uma combinação de boro e fósforo [56,57], que permite reduzir a temperatura de consolidação. O uso de germânio como co-dopante foi também investigado e possibilitou a fabricação de guias em canal com elevado contraste de índice de refracção [58]. A dopagem com Ga foi igualmente testada [59]. A dopagem com iões lantanídeos, em particular com Er3+, tem sido intensivamente estudada nos últimos anos para produzir os materiais necessários para a fabricação de guias planares activos [60-67] e de dispositivos, como os lasers e amplificadores ópticos [68,69]. Outros dopantes, como Eu e corantes, foram também investigados [70,71]. Propriedades não-lineares foram conseguidas através de dopagem com nanopartículas semicondutoras, tipicamente CdS e PbS, embora ainda não tenha sido possível obter guias para aplicações na zona do infravermelho [72,73]. Materiais orgânicos/inorgânicos ou híbridos O processo sol-gel tem-se destacado, nos últimos anos, por possibilitar a síntese de um novo tipo de materiais designados por ORMOCERS (“Organically Modified Ceramics”), ou ORMOSILS (“Organically Modified Silicates”) para o caso da sílica organicamente modificada [74]. Os ormosils revelaram ter um enorme potencial em Óptica Integrada [75,76], combinando as propriedades atractivas dos polímeros orgânicos com as da sílica; esta classe de materiais permitiu ultrapassar as limitações dos materiais puramente inorgânicos. Assim, a possibilidade de obter filmes espessos (~10 µm) sem perigo de fractura é facilmente conseguida com apenas 6 Capítulo 1 - Introdução uma única deposição [77]. Por outro lado, a temperatura para o tratamento térmico destes materiais é drasticamente diminuída para evitar danificar a componente orgânica. Muitos novos materiais desta classe podem ser sintetizados pelo processo sol-gel, devido à diversidade de espécies orgânicas conhecidas que podem ligar-se molecularmente à matriz de sílica. Em particular, o material híbrido sintetizado a partir do precursor metacriloxitrimetoxisilano (MAPTMS) mereceu forte atenção devido à sua propriedade de fotopolimerização, que simplifica drasticamente o processo de fabricação de guias de onda em canal, uma vez que não recorre a RIE [78]. Os guias de onda apresentam uma perda de propagação aceitável a 1.3 µm (0.3 dB/cm), mas elevada a 1.55 µm (entre 4 a 5 dB/cm) [79], devido ao excesso de grupos OH. A redução da perda de propagação nessa zona espectral (para 0.6 dB/cm) foi demonstrada usando um processo sol-gel não-hidrolítico [80]. Os materiais híbridos fotopolimerizáveis são bastante atraentes e o seu processamento constitui o fundamento de uma tecnologia de custo reduzido, usando baixas temperaturas e compatível com a tecnologia microelectrónica, assim possibilitando a integração de funções ópticas (passivas e activas) com funções electrónicas num substrato único de silício. Dispositivos ópticos integrados Os dispositivos ópticos integrados podem ser classificados, do ponto de vista da sua funcionalidade, em dois grupos: dispositivos passivos e dispositivos activos. A classe dos dispositivos passivos pode ainda ser dividida em dispositivos passivos puros e dispositivos passivos com actuação externa. Os dispositivos passivos puros são aqueles cujo estrutura e funcionamento são prédeterminados no momento da fabricação, e portanto não são nominalmente modificados por factores externos. São exemplos de componentes passivos: divisores de potência 1×N, que podem ser implementados com estruturas tais como junções em Y [81], componentes baseados na interferência multimodal (MMI) [82] ou acopladores direccionais (3dB) [83], e as redes de difracção periódicas de Bragg [84]. A classe dos dispositivos passivos engloba, igualmente, os dispositivos de multiplexagem/desmultiplexagem em comprimento de onda (WDM/DWDM) [85], tais como filtros “add-drop” [86-88], que permitem a extracção/adição de um canal óptico, e os “arrayed-waveguide gratings” (AWG) [89,90] para a separação dos diferentes sinais de um canal óptico. Esta classe de dispositivos é preferencialmente implementada em sílica (sobre silício) devido às suas excelentes propriedades ópticas. Os dispositivos passivos com actuação externa (por exemplo, moduladores e comutadores baseados no interferómetro de Mach-Zehnder [11]) são aqueles cuja função de transferência 7 Capítulo 1 - Introdução pode ser alterada por acção externa, pela modificação local das condições de propagação óptica no material. O controlo externo pode ser proporcionado com a aplicação de campo eléctrico (efeito electro-óptico) [91], calor (efeito termo-óptico) [92-94], ou por propagação de ondas acústicas (efeito acusto-óptico) [95]. A escolha do mecanismo de actuação específico apropriado depende directamente das características do material que constitui o dispositivo, assim como da largura de banda do mecanismo de controlo requerida para uma determinada aplicação. Dispositivos com controlo termo-óptico não oferecem grandes larguras de banda de modulação, uma vez que a transferência de calor é um processo lento [96]. Os dispositivos que usam o efeito electro-óptico são, geralmente, mais rápidos, mas requerem materiais com grande coeficiente electro-óptico (como é o caso do LiNbO3). Uma pequena separação entre os eléctrodos pode proporcionar um campo eléctrico suficientemente elevado aplicando pequenas tensões. Os dispositivos activos [97] são aqueles que têm a capacidade de fornecer ganho óptico (lasers e amplificadores ópticos), e utilizar efeitos não-lineares (por exemplo, osciladores paramétricos). Os amplificadores e lasers integrados são, maioritariamente, fabricados em semicondutores compostos III-V, mas podem ser fabricados noutros materiais (como os vidros dopados com iões lantanídeos). Efeitos não-lineares podem ser utilizados em comutadores ópticos cujo funcionamento é dependente da densidade de potência guiada [98]. Em Óptica Integrada, e em guias monomodo, a densidade de potência da radiação pode ser muito grande, facilitando a realização de dispositivos recorrendo a estes efeitos. Os detectores são, também, incluídos na classe de dispositivos activos. Esta dissertação descreve o trabalho desenvolvido sobre a tecnologia sol-gel híbrido aplicada à fabricação de dispositivos ópticos integrados em substrato de silício, tendo como objectivo importante a redução das perdas de propagação óptica nas regiões espectrais de 1.3 µm e 1.55 µm. O capítulo 2 apresenta um revisão geral da Óptica Integrada, introduzindo a terminologia, os conceitos básicos e o tratamento teórico para a análise de guias de onda planares (2D) e em canal (3D); são descritas as técnicas de caracterização óptica de guias de onda utilizadas neste trabalho para determinar o índice de refracção de filmes, perdas de inserção, propagação e acoplamento, e a birrefringência. No capítulo 3 é apresentada uma revisão do estado-da-arte da tecnologia sol-gel híbrido, com a descrição sumária dos diferentes processos químicos envolvidos (processos sol-gel hidrolítico e 8 Capítulo 1 - Introdução não-hidrolítico), bem como dos aspectos que envolvem a fabricação de estruturas em materiais híbridos fotopolimerizáveis, incluindo técnicas de deposição e processo fotolitográfico. O capítulo 4 descreve o trabalho desenvolvido na fabricação de guias de onda em canal dopados com óxido de zircónio sem o recurso a fotoiniciadores. Um material baseado no grupo metil foi desenvolvido e caracterizado para a deposição de camadas de isolamento óptico (“buffer”) espessas e com baixo índice de refracção, o que permitiu a demonstração e caracterização de guias de onda em canal sobre silício. O capítulo 5 descreve a fabricação e caracterização de dispositivos ópticos integrados funcionais. A primeira parte aborda conceitos básicos sobre redes períodicas de Bragg e descreve duas técnicas para a fabricação de redes de Bragg em guias de onda em canal; uma técnica de exposição única, inovadora e simples, permitiu a demonstração de redes de Bragg eficientes. A segunda parte descreve a fabricação e caracterização de um modulador termo-óptico usando o interferómetro de Mach-Zehnder integrado. O capítulo 6 apresenta novos desenvolvimentos na síntese materiais híbridos com o objectivo de reduzir significativamente as perdas por absorção na região espectral de 1.55 µm. Um estudo comparativo de novos precursores é apresentado com a finalidade de identificar os mais adequados para a optimização das propriedades ópticas dos materiais híbridos. Por fim, no capítulo 7, são apresentadas as conclusões desta investigação, e avançadas sugestões para um trabalho futuro de optimização da tecnologia sol-gel híbrido aplicada à fabricação de dispositivos ópticos integrados sobre silício, com perdas reduzidas, simultaneamente, a 1.3 µm e a 1.55 µm. Referências [1] S. E. Miller, "Integrated Optics - an Introduction", Bell Syst. Tech. J., vol. 48, 7, pp. 2059, 1969. [2] A. J. Mayhew, S. J. Page, A. M. Walker and S. I. Fisher, "Fibre to the home - infrastructure deployment issues", BT Technology Journal, vol. 20, 4, pp. 91-103, 2002. [3] O. Parriaux, "Integrated optics sensors", em Advances in Integrated Optics, S. Martelluci, A. Chester and M. Bertolotti (Ed.), Plenum Press, New York, pp. 227, 1994. [4] M. Tabib-Azar, "Integrated optics, microstrutures, and sensors", Kluwer Academic Publishers, Boston, 1995. [5] N. Nishihara, M. Haruna and T. 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Fujiwara, "WDM Technologies: Active Optical Components", vol. pp. 2003. 14 Capítulo 1 - Introdução [98] J. S. Aitchison, "All-optical switching in AlGaAs semiconductor waveguide devices", em Advances in Integrated Optics, S. Martelluci, A. Chester and M. Bertolotti (Ed.), Plenum Press, New York, pp. 1994. 15 Capítulo 2 Conceitos de Óptica Integrada Equation Chapter 2 Section 2 2.1 Introdução O S guias de onda são os componentes mais elementares em Óptica Integrada, constituindo a base de dispositivos mais complexos. Permitem confinar e conduzir a radiação electromagnética de um ponto do circuito óptico para outro e, portanto, o material que os constitui deve permitir a propagação com um mínimo de perdas (por absorção e difusão). Os guias de onda são produzidos em múltiplas configurações, na maior parte dos casos como consequência do material e do método de fabricação seleccionado. Vários tipos de guias de onda, classificados em termos da geometria e da distribuição transversal (perfil) do índice de refracção, são apresentados resumidamente na tabela 2.1. Quanto ao perfil do índice de refracção, os guias de onda podem ser classificados como uniformes (perfil de índice em degrau) e não uniformes (perfil de índice gradual). Em ambos os casos, o índice de refracção da zona de guiagem (núcleo) é superior ao índice de refracção dos meios envolventes. Os guias podem, também, ser classificados quanto à sua geometria: a mais simples é a do guia planar, que confina a potência óptica apenas numa direcção perpendicular à direcção de propagação. Este tipo de guias é usado, em particular, para determinar o índice de refracção e a absorção dos materiais usados. Contudo, o guia em canal é o mais usado em dispositivos reais, e em diferentes configurações, por apresentar confinamento de potência óptica no plano perpendicular à direcção de propagação. Guias de onda com perfil de índice de refracção em degrau são produzidos pela técnica abordada neste trabalho, e serão analisados, portanto, com mais detalhe. 17 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada Perfil do índice de refracção Uniforme Em degrau (“step-index”) Não-uniforme Gradual (“graded-index”) Planar ns ng ns Simétrico na ng ns Assimétrico “Raised-strip” “Rigde-guide” ng ns ng na ns Geometria “Loaded” na n1 ng na ns Canal “Embedded” n1 ns ng “Buried” n1 ns ng n1 ns ng na na na “Buried” simétrico Tabela 2.1 - Classificação de guias de onda em termos de distribuição do índice de refracção e geometria. 2.2 Guias de Onda Planares (2D) 2.2.1 Guia de onda planar uniforme (perfil de índice de refracção em degrau) Um guia de onda planar uniforme consiste numa camada dieléctrica de espessura d e índice de refracção ng, entre outras duas camadas de índices de refracção menores, na e ns (figura 2.1). Supõe-se, em geral, que os meios de índices na e ns são ilimitados (na prática, a sua espessura é, 18 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada tipicamente, muito superior ao comprimento de onda da radiação). As camadas com índices de refracção ns, ng, na têm a designação de substrato, núcleo e superestrato, respectivamente. Em geral, os índices de refracção do substrato e do superestrato (este pode ser o ar) são diferentes e, portanto, o guia é assimétrico; no caso de serem iguais, o guia planar é simétrico. x na ng d ns x +d/2 0 -d/2 na ns ng d n(x) z y (a) (b) Figura 2.1 – (a) Guia de onda planar uniforme; (b) distribuição transversal do índice de refracção para um guia planar assimétrico. As características de propagação da luz em guias de onda planares dieléctricos podem ser analisadas simplificadamente segundo os conceitos da Óptica Geométrica, ou rigorosamente através da aplicação da Teoria Electromagnética. Na aproximação da Óptica Geométrica, o percurso dos raios ópticos é determinado tendo em conta as leis da reflexão e da refracção de um raio de luz entre duas interfaces planas, enquanto que a aplicação da Teoria Electromagnética passa pela resolução das equações de Maxwell e condições de fronteira associadas tendo em conta as condições de propagação no guia de onda, tais como o seu perfil de índice e a frequência da radiação. Desta forma, chega-se a um número finito de soluções discretas (correspondentes aos modos guiados), assim como a um contínuo de soluções (modos de radiação), além de soluções ditas evanescentes (“leaky waves”). Tal permite afirmar que a luz, ao percorrer um guia de onda invariante longitudinalmente, se propaga numa sobreposição de configurações de campo bem definidas, os modos de propagação. Obviamente, são os modos guiados que apresentam interesse prático na comunicação óptica. A partir do estudo da propagação dos modos num guia de onda planar, é possível dimensionar a estrutura pretendida com base nos valores dos índices de refracção, espessura e comprimento de onda de funcionamento desejados. Para que um raio óptico (correspondente a um modo guiado) se propague num núcleo de espessura d segundo a direcção z, figura 2.2, terá de sofrer reflexão total em ambas as interfaces 19 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada que definem o núcleo do guia, ou seja, o ângulo de propagação (definido em relação à normal às interfaces) terá que ser superior a qualquer dos ângulos críticos definidos para a estrutura (um para cada interface, no caso de na ser diferente de ns): ⎛ ns ⎞ ⎟⎟ , para a interface núcleo-substrato. ⎝ ng ⎠ - θ > θ1c = arcsen ⎜⎜ ⎛ na ⎞ ⎟⎟ , para a interface núcleo-superestrato. ⎝ ng ⎠ - θ > θc2 = arcsen ⎜⎜ Sendo na<ns, verifica-se que θc2 < θ1c . na Superestrato x núcleo θ 2 c z θ1c Substrato ng d ns Figura 2.2 - Propagação de um raio óptico num guia de onda planar na condição de reflexão interna total nas duas interfaces (núcleo-substrato e núcleo-superestrato). Se alguma das condições anteriores não for satisfeita, o raio, além da reflexão, sofre também refracção e, consequentemente, a potência óptica perde-se para o exterior, ao longo da propagação. Assim, consoante o valor do ângulo de incidência θ , podem ocorrer três situações distintas relativamente à propagação dos modos: a) Se θ for superior a ambos os ângulos críticos θ1c e θc2 para a reflexão total, correspondentes a cada interface, então a luz propaga-se no guia, tratando-se assim de um modo guiado ou modo de propagação (figura 2.3 (a)). A aproximação simplificada da Óptica Geométrica não prevê a existência de soluções em número finito para os modos guiados, correspondentes a valores discretos para o ângulo de incidência nas interfaces (é necessário introduzir, para tal, uma condição de congruência de fase dos raios ópticos). O tratamento correcto do guia planar deverá ser feito através da Teoria Electromagnética, usando as equações de Maxwell e condições fronteira respectivas [1]. Nos casos em que θc2 < θ < θ1c e θ < θc2 , o raio óptico sofre refracção na(s) interface(s) e, por isso, está-se perante um modo de radiação. Na situação em que θc2 < θ < θ1c , o raio sofre refracção 20 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada apenas na interface núcleo-substrato e, por isso, o modo associado tem a designação de modo de radiação do substrato (figura 2.3 (b)). Na situação em que θ < θc2 , o raio óptico sofre refracção em ambas as interfaces (núcleo-substrato e núcleo-superestrato), correspondendo a um modo de radiação do substrato e superestrato (figura 2.3 (c)). na Superestrato núcleo ng substrato ns (a) na na Superestrato núcleo ng ng substrato ns (b) ns (c) Figura 2.3 - Modos de propagação da radiação num guia planar assimétrico: (a) modo guiado; (b) modo de radiação do substrato; (c) modo de radiação do substrato e superestrato [1]. Para um meio dieléctrico isotrópico e linear, homogéneo, sem perdas e não-magnético, as equações de Maxwell são dadas por ∇ × E = −µ 0 ∂H ∂t (2.1) ∇ × H = ε0 n2 ∂E ∂t (2.2) em que ε0 e µ0 são a permitividade eléctrica e a permeabilidade magnética no vácuo, respectivamente, e n é o índice de refracção do meio onde as equações são aplicadas. São admitidas soluções na forma de ondas harmónicas, propagando-se ao longo da orientação +z, com constante de propagação β e frequência ω , representadas por: ( ) ( ) E r , t = E ( x, y ) ⋅ exp ⎡⎣i ( ωt − β z ) ⎤⎦ e H r , t = H ( x, y ) ⋅ exp ⎡⎣i ( ωt − β z ) ⎤⎦ (2.3) Num guia planar, os campos são independentes de y (confinamento em x). Sabendo que ∂ ∂t = iω , ∂ ∂z = −iβ e ∂ ∂y = 0 , as equações de Maxwell dão origem a dois tipos de modos com componentes vectoriais diversas [1]. Os modos do tipo TE têm componentes não-nulas Ey, Hx e Hz; os modos TM possuem componentes Hy, Ex e Ez. Estas componentes são obtidas resolvendo os sistemas seguintes: 21 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada Modos TE ∂ 2 Ey ∂x 2 + ( k02 n 2 − β2 ) E y = 0 β ⎧ ⎪ H x = − ωµ E y ⎪ 0 ⎨ ⎪ H = − 1 ∂E y ⎪⎩ z iωµ 0 ∂x com k0 = 2π λ0 Modos TM ∂2H y (2.4) ∂x 2 + ( k02 n 2 − β2 ) H y = 0 β ⎧ ⎪ Ex = − ωε n 2 H y ⎪ 0 ⎨ ⎪ E = − 1 ∂H y z iωε0 n 2 ∂x ⎩⎪ (2.5) (2.6) (2.7) = ω ε 0µ 0 . Usando as soluções para os campos e aplicando as condições fronteira nas interfaces x = d 2 e x = −d 2 , determina-se a relação de dispersão e, assim, as características de propagação dos modos TE e TM. Soluções da forma ⎧ E y = Ea exp ⎡⎣ −γ a ( x − d 2 ) ⎤⎦ , ⎪⎪ ⎨ E y = Eg cos ( k x x + φ0 ) , ⎪ ⎩⎪ E y = Es exp ⎡⎣ γ s ( x + d 2 ) ⎤⎦ , x > 0 (superestrato) x ≤ d 2 (núcleo) (2.8) x < − d 2 (substrato) correspondem a modos guiados TE, em que: 2 2 2 γ a = k0 neff − na2 , k x = k0 ng2 − neff , γ s = k0 neff − ns2 e neff é o índice efectivo, definido por neff = β k0 (2.9) ; φ0 é uma constante ligada à assimetria da estrutura (num guia simétrico, φ0 = 0 ou π ). Aplicando a condição de continuidade às 2 componentes tangenciais de E ( E y ) e H ( H z ) nas interfaces x = ± d 2 , e eliminando os coeficientes arbitrários, resulta: TE 2k x d − φTE a − φ s = 2m π m = 0,1, 2… (2.10) em que 22 −1 ⎛ γ a ⎞ φTE ⎟ a = 2 tan ⎜ ⎝ kx ⎠ (2.11) −1 ⎛ γ s ⎞ φTE ⎟ s = 2 tan ⎜ ⎝ kx ⎠ (2.12) Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada A relação (2.10) é a equação característica ou de valores próprios, sendo o inteiro m a ordem do modo guiado. A solução pode ser obtida graficamente ou numericamente, expressando todas as quantidades (λ0, d, ns, ng, na) e, assim, o índice efectivo neff é extraído para cada modo possivelmente guiado. Atendendo às relações entre k x , γ a , γ s , β e ω , interpreta-se a equação característica como uma relação de dispersão β ( ω) , para cada modo m. Para obter o gráfico que representa a relação de dispersão para cada modo, a equação característica deve ser resolvida numericamente para um número apreciável de frequências. Para que o resultado do cálculo numérico seja aplicável a qualquer guia planar, é útil combinar os parâmetros do guia em parâmetros normalizados [1]. A frequência normalizada V, a constante de propagação normalizada bTE (relacionada com o índice efectivo neff), e o parâmetro de assimetria normalizado do guia aTE são definidos, respectivamente, por: V = k0 d ng2 − ns2 (2.13) 2 bTE = ( neff − ns2 ) ( ng2 − ns2 ) (2.14) aTE = ( ns2 − na2 ) ( ng2 − ns2 ) (2.15) e a relação de dispersão normalizada para modos guiados TE pode ser escrita da seguinte forma [1]: V 1 − b = m π + tan −1 bTE bTE + aTE −1 + tan 1 − bTE 1 − bTE (2.16) em que m é um número inteiro (ordem do modo, designado por TEm). Para uma estrutura particular (conhecidos os índices de refracção e a espessura do núcleo) e especificando a frequência óptica, os índices efectivos dos modos guiados podem ser calculados usando a relação de dispersão normalizada, obtendo-se um conjunto de valores discretos para neff no intervalo ns ≤ neff < ng . Na figura 2.4 estão representadas soluções numéricas para os três primeiros modos TE e para vários valores do parâmetro de assimetria. 23 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada m m m b V = k0 d ng2 − ns2 Figura 2.4 - Representação gráfica da constante de propagação normalizada b em função da frequência normalizada V; diagrama de dispersão normalizado para os três primeiros modos TE e para vários valores do parâmetro de assimetria [1]. Cada modo guiado TE atinge a situação de corte quando o índice efectivo correspondente se torna igual ao índice de refracção do substrato, neff = ns ( b = 0 ) . A partir da equação (2.16), pode-se determinar a frequência normalizada de corte, Vm, para o modo TEm, como sendo: Vm = V0 + mπ (2.17) V0 = tan −1 aTE (2.18) com em que V0 é a frequência normalizada de corte para o modo fundamental TE0. No caso particular de guias simétricos ( na = ns ), V0 = 0 ; isto implica que o modo fundamental é sempre guiado em guias simétricos, independentemente da espessura da zona de guiagem (núcleo). Uma análise semelhante pode ser feita para os modos TM, com a componente Hy dos modos guiados descrita por expressões análogas às que foram usadas para a componente Ey dos modos TE: ⎧ H y = H a exp ⎡⎣ −γ a ( x − d 2 ) ⎤⎦ , ⎪⎪ ⎨ H y = H g cos ( −γ a x + φ′0 ) , ⎪ ⎩⎪ H y = H s exp ⎡⎣ γ s ( x + d 2 ) ⎤⎦ , e 24 x > d 2 (superestrato) x ≤d 2 (núcleo) x < − d 2 (substrato) (2.19) Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada β ⎧ ⎪ Ex = ωε n 2 H y ⎪ 0 ⎨ ⎪ E = 1 ∂H y ⎪⎩ z iωε0 n 2 ∂x (2.20) A relação de dispersão para os modos TM toma uma forma semelhante à obtida para os modos TE: TM = 2mπ 2k x d − φTM a − φs (2.21) φTM = 2 tan −1 ( ng2 γ a na2 k x ) a (2.22) φTM = 2 tan −1 ( ng2 γ s ns2 k x ) s (2.23) em que Usando os parâmetros normalizados b TM 2 ⎛ neff − ns2 ⎞ ⎛ ng ⎞ =⎜ 2 ⎜ n − n 2 ⎟⎟ ⎜ n q ⎟ s ⎠⎝ s s ⎠ ⎝ g ⎛n qs = ⎜ eff ⎜n ⎝ g 2 2 (2.24) 2 ⎞ ⎛ neff ⎞ ⎟⎟ + ⎜ ⎟ −1 ⎠ ⎝ ns ⎠ (2.25) 4 a TM ⎛ ng ⎞ ⎛ n 2 − n 2 ⎞ = ⎜ ⎟ ⎜ s2 a2 ⎟ ⎜ ⎟ ⎝ na ⎠ ⎝ ng − ns ⎠ (2.26) a relação de dispersão normalizada toma a forma [2] bTM + aTM (1 − bTM ⋅ C ) ⎡ ⎛ ng ⎞ ⎤ bTM −1 −1 TM V ⎢ qs ⎜ ⎟ ⎥ ⋅ 1 − b = mπ + tan + tan 1 − bTM 1 − bTM ⎝ ns ⎠ ⎦ ⎣ (2.27) em que C é dado por ⎡ ⎛n = C ⎢1 − ⎜ s ⎢ ⎜⎝ ng ⎣ ⎞ ⎟⎟ ⎠ 2 ⎤⎡ ⎛ n ⎥ ⎢1 − ⎜ a ⎥ ⎢ ⎜⎝ ng ⎦⎣ ⎞ ⎟⎟ ⎠ 2 ⎤ ⎥ ⎥ ⎦ (2.28) 25 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada Em condições de “guiagem fraca”, isto é, para baixo contraste de índice de refracção, (( n g − ns ) ns ) 1 , bTM ≈ bTE porque ⎛n ⎞ qs ⎜ s ⎟ ≈ 1 e C ≈ 0 . Os diagramas de dispersão dos n g ⎠ ⎝ modos TE obtidos e representados na figura 2.4 podem, portanto, ser usados para os modos TM, substituindo o parâmetro aTE por aTM . 2.2.2 Guia de onda planar não-uniforme (perfil de índice de refracção gradual) Os guias de onda com distribuição de índice de refracção gradual são característicos de técnicas de fabricação por difusão. O núcleo destes guias apresenta, em geral, um índice de refracção que diminui gradualmente com a profundidade até atingir o valor do índice de refracção do substrato, como se pode observar na figura 2.5; noutros casos, como na fabricação por dupla difusão, o perfil n(x) pode apresentar o máximo para x<0. A análise deste tipo de guias é feita por técnicas numéricas, como os métodos de elementos finitos ou de diferenças finitas [3], ou por métodos aproximados, sendo o método WKB o mais habitual [4]. x x superestrato na ns superestrato ng n(x) na núcleo -d ns ng n(x) núcleo -d substrato substrato Figura 2.5 - Representações gráficas de perfis de índice de refracção graduais para guias não-uniformes. Neste trabalho, e tendo em conta a tecnologia de fabricação adoptada (sol-gel híbrido), o perfil de índice de refracção deverá ser muito aproximadamente em degrau. 26 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada 2.3 Guias em Canal (3D) Nesta secção, são analisados guias de onda em canal com perfil de índice de refracção em degrau. Na figura 2.6 está representado um guia tridimensional uniforme com superestrato, com secção transversal rectangular, do tipo de guias produzido e apresentado neste trabalho. superestrato substrato núcleo Figura 2.6 - Representação esquemática de um guia de onda em canal (3D) com superestrato. Para os guias de onda tridimensionais não há soluções analíticas exactas para os modos guiados. A sua análise recorre, geralmente, a técnicas analíticas aproximadas ou a técnicas numéricas, uma das quais é o método dos índices efectivos [1], descrito a seguir. O método dos índices efectivos permite determinar as constantes de propagação dos modos das estruturas tridimensionais, reduzindo-as a duas estruturas bidimensionais. No caso de guias rectangulares (figura 2.6), a determinação das constantes de propagação dos modos, a cada uma das quais corresponde um índice efectivo, é feita considerando estruturas planares “equivalentes”, que são descritas com o formalismo apresentado na secção anterior. O procedimento do método está esquematicamente descrito na figura 2.7 para um guia rectangular genérico. O guia em canal, exibido na figura 2.7 (a), é decomposto em guias planares, como mostram as figura 2.7 (b) e (c). O método é aplicado, num primeiro passo, considerando guias planares segundo três secções representativas segundo xx e os guias planares resultantes são analisados. Considerando, em geral, que n3 = n4 e próximos de n1 e n2 , resulta um conjunto discreto de índices efectivos n3′ , ( neff ) p , para os modos dessas estruturas planares. O mesmo procedimento é aplicado na direcção perpendicular (yy), assumindo que d é infinito, e atribuindo à distribuição de índice de refracção da estrutura planar os valores dos índices efectivos obtidos na análise da estrutura anterior. Tendo sido escolhida a orientação TE no primeiro passo, no segundo passo a análise será TM, e vice-versa; como atrás referido, contudo, sendo a “guiagem fraca”, as análises são aproximadamente independentes da polarização escolhida. 27 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada n2 W n3 d n2 n4 ng n1 d n2 n3 d n1 x ng n1 (a) (b) y W n3′ n3′ (neff)p (c) Figura 2.7 - Representação esquemática do método dos índices efectivos [5]. Sendo, no caso prático de guias de onda simétricos, n2 n3 n4 n1 , faz-se n3′ = n1 . Na análise das estruturas planares da figura 2.7 (b), é calculado o valor da frequência normalizada e o parâmetro normalizado de assimetria aTE (TM ) . Usando as curvas de dispersão (TM ) normalizadas dos modos TE(TM), obtém-se uma solução para o parâmetro normalizado bTE , p (TM ) para cada modo TEp(TMp). A cada valor de bTE corresponde um índice de refracção efectivo. p Na análise da estrutura da figura 2.7 (c), é efectuado um novo cálculo para a frequência normalizada de acordo com os novos parâmetros do guia. Enquanto que para a estrutura da figura 2.7 (b) foi usado o diagrama de dispersão para os modos TE(TM), para a estrutura da figura 2.7 (c) deve ser usado o diagrama de dispersão dos modos TM(TE) e, através do respectivo parâmetro de assimetria, determina-se o conjunto de valores correspondentes a b′pq ′ que está relacionado com ( neff ) pq Deste modo, resulta uma família de modos EH pq com campo eléctrico dominante na direcção de y, em que p e q designam as ordens dos modos para os guias planares das figura 2.7 (b) e (c), respectivamente. A família de modos HE pq pode ser encontrada de modo análogo, com o campo magnético dominante na direcção de y. No caso em que a diferença entre os índices de refracção do núcleo e dos meios que o envolvem é pequena, a relação de dispersão é a mesma para ambos os estados de polarização, resultando em duas famílias TE e TM representadas, respectivamente, 28 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada por E pq e H pq . A figura 2.9 ilustra esquematicamente o perfil da distribuição espacial de campo e de intensidade de alguns modos, para um determinado tipo de guia de onda tridimensional. Figura 2.8 - Perfis da distribuição espacial de campo e de intensidade para alguns modos de um guia em canal tipo “embedded” [1]. Em geral, existe uma diferença entre os índices de refracção efectivos dos modos TE e TM, principalmente nos guias em que há um contraste relevante de índices entre o núcleo do guia e o meio envolvente. Como se pode concluir da análise anterior, essa variação de índices efectivos resulta da diferença entre os diagramas de dispersão entre os modos TE e TM de guias planares e denomina-se birrefringência modal, sendo definida por ∂n = ( neff ) TM pq − ( neff ) TE pq . Tal resulta numa progressiva diferença de fase entre os modos excitados correspondentes aos dois estados de polarização ao longo da direcção de propagação zz. A birrefringência em guias de onda atenua-se 29 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada com a diminuição do contraste entre os índices de refracção das diversas camadas, e é desprezável, em princípio, para guias com baixo contraste de índice e geometria do núcleo simétrica. No entanto, a anisotropia óptica dos materiais do guia (resultante, em geral, de estado de tensão mecânica interna) introduz birrefringência modal, mesmo no caso de guias com “birrefringência geométrica” nula. Existem outros métodos de análise que podem ser implementados para obter soluções aproximadas, tais como o método de Marcatili [6], método das diferenças finitas [7], o método dos elementos finitos [8] e o método da decomposição de Fourier [9]. Soluções para as distribuições de amplitude dos campos modais, assim como para os correspondentes índices efectivos, podem ser obtidas com boa precisão mesmo no caso de grande contraste entre os índices de refracção do núcleo e do meio envolvente (aproximações vectoriais). Na generalidade dos dispositivos integrados ópticos funcionais, pretende-se obter comportamento monomodo na região espectral de interesse. Assim, é importante determinar o índice efectivo e perfil modal do modo guiado, assim como a frequência de corte do segundo modo. 2.4 Estruturas variantes longitudinalmente A maioria dos dispositivos ópticos integrados práticos são variantes na direcção de propagação e, portanto, requerem uma ferramente matemática apropriada para o estudo da evolução do campo electromagnético ao longo da estrutura. Um conjunto vasto de métodos numéricos [10,11] têm sido propostos para a simulação de estruturas particulares, tais como o “Beam Propagation Method” (BPM) [12], a teoria dos modos acoplados (CMT) [13], o método da transferência matricial (TMM) [14], e o método de diferenças finitas no domínio temporal (FDTDM) [15]. O BPM é o método numérico mais utilizado para a análise de problemas relacionados com a propagação de sinais ópticos em guias de onda. Basicamente, os diversos algoritmos BPM resolvem a equação de propagação (equação de Helmholtz) de diferentes formas. Inicialmente, recorreu-se a algoritmos de transformação de Fourier (FFT-BPM) [16] (aplicados a guias de baixo contraste de índice e com aproximação paraxial). Estudos posteriores demonstraram que os métodos numéricos baseados em diferenças finitas (FD-BPM) são mais eficientes [17]. Para além de consumirem menos tempo e memória computacional ao analisar estruturas complexas, permitem simular estruturas com contrastes de índice mais acentuados, não restringem os 30 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada problemas à aproximação paraxial [18-21], possibilitam a análise dos efeitos de polarização com a incorporação de algoritmos semi ou totalmente vectoriais [22-24], assim como recorrem a condições de fronteira transparentes [25]. Frequentemente, o método dos índices efectivos é usado num passo de cálculo prévio para simplificar o problema, reduzindo a estrutura 3D a uma outra 2D equivalente. Um programa computacional de BPM permite simular a propagação de ondas em estruturas mais complexas do que um simples guia de onda linear como, por exemplo, um guia em forma de “S-bend” (figura 2.9 (a)). Esta estrutura permite conectar dois guias de onda paralelos separados por uma distância Sb. Existem dois tipos básicos de guias em forma de “S-bend”: o primeiro é constituído por secções curvas com raio de curvatura constante enquanto que no segundo (com uma forma estrutural que pode ser definida por uma expressão do tipo y = az + bsen ( cz ) ), o raio de curvatura varia de forma contínua [26]. O BPM permite investigar a redução das perdas de propagação neste tipo de estruturas [27,28]. Uma junção em Y (figura 2.9 (b)) é uma outra estrutura funcional importante, formada a partir de guias de onda lineares e “S-bends”, que permite a extracção em cada porta de saída de, aproximadamente, metade da potência injectada [29]. A junção em Y desempenha uma função importante em componentes mais sofisticados, como o modulador de intensidade baseado no interferómetro de Mach-Zehnder [30]. Este dispositivo é estudado com mais detalhe no capítulo 5. Um programa que implementa um algoritmo BPM pode, igualmente, ser utilizado para determinar as soluções modais para guias invariantes, fornecendo com exactidão o campo e as constantes de propagação (ou índices efectivos) dos modos de propagação. R R Sb (b) (a) Figura 2.9 – (a) Guia de onda em forma de “S-bend”; (b) junção em Y. 31 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada 2.5 Caracterização óptica de guias de onda A caracterização óptica de guias de onda engloba, tipicamente, a determinação do índice de refracção do material a partir dos índices efectivos dos modos de propagação para efeitos de calibração de processos de dopagem e síntese, a medição das perdas de propagação, da distribuição do perfil modal, e da birrefringência modal, entre outros parâmetros. Em certos casos, essas determinações são efectuadas num certo intervalo espectral. São descritos os métodos geralmente adoptados para obter as características ópticas de um guia de onda, planar ou em canal. A extracção das caracterísitas específicas de dispositivos ópticos integrados funcionais depende da respectiva arquitectura, não sendo aqui abordada. 2.5.1 Determinação dos índices efectivos pelo método das “m-lines” O método das “m-lines” permite extrair os índices efectivos dos modos guiados por um guia de onda planar [31]. O acoplamento de um feixe óptico exterior a um modo do guia planar através de um prisma é governado pelo ângulo de incidência na base do prisma. Este ângulo θ determina a velocidade de fase da onda incidente na direcção de propagação ao longo do guia planar, vi = c n ⋅ sen θ . Existe acoplamento forte da onda exterior para o guia quando o ângulo θ p é tal que a velocidade de fase, vi, iguala a velocidade de fase, vm, de um dos modos suportados pela estrutura. Determinando o ângulo, para cada um dos modos, para o qual existe acoplamento forte, podemos determinar a respectiva constante de propagação. A verificação de uma situação de acoplamento forte pode ser feita, facilmente, com um segundo prisma, que promove o processo inverso de desacoplamento de um modo guiado para o exterior (no caso em que o superestrato é o ar). Para que exista boa eficiência de acoplamento, algumas condições devem ser verificadas. Em primeiro lugar, o espaçamento entre o prisma e o guia deve ser pequeno, pelo que o guia deve ser pressionado contra a base do prisma. Por outro lado, o comprimento de interacção deve ser bem ajustado, tendo em conta a eficiência de acoplamento. Este ajustamento é efectuado variando a posição do feixe incidente na base do prisma, junto à aresta. Por ajuste de um polarizador, é possível excitar modos guiados TE ou TM, ou ambos em simultâneo. A montagem experimental que permite determinar os ângulos de acoplamento está representada na figura 2.10. Todo o conjunto (prisma de acoplamento, prisma de desacoplamento e guia) é colocado numa plataforma de rotação (precisão de 0.001º). O guia a caracterizar é montado num suporte em forma de U e pressionado contra a base do prisma por intermédio de 32 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada um parafuso em teflon; este suporte encontra-se fixo na plataforma de rotação. Todo o conjunto deve ser ajustado de tal forma que o feixe de incidência se mantenha estacionário na base do prisma de acoplamento quando a plataforma é rodada. De forma a optimizar facilmente o acoplamento, é conveniente que todo o conjunto seja ainda dotado da possibilidade de efectuar movimentos micrométricos de translação, segundo três direcções ortogonais. É ainda conveniente colocar dois espelhos para conduzir o feixe laser ao prisma de acoplamento. laser guia planar waveguide desacoplamento output polarizador polariser prisma prism target alvo guia planar waveguide acoplamento input ple sam . ° Vista de lado Vista de cima Top view Side view Reset (b) (a) Figura 2.10 - (a) Esquema da montagem experimental de acoplamento com prisma; (b) detalhe do contacto do prisma com o guia [32]. O ponto de referência a partir do qual são feitas as medições angulares é aquele para o qual o feixe reflectido pelo prisma coincide com o feixe incidente. Quando um dos modos do guia é excitado, observa-se no alvo várias “m-lines” que correspondem aos vários modos do guia (no caso de este ser multimodo). Idealmente, só se deveria ver a “m-line” correspondente ao modo para o qual existe sincronismo; contudo, devido às imperfeições dos guias, existe acoplamento entre o modo excitado e os outros modos guiados, pelo que se vêem no alvo, simultaneamente, várias “m-lines”. Ao modo excitado corresponde, como é óbvio, a “m-line” mais intensa. As medições angulares podem ser efectuadas usando detecção síncrona, e de tal modo que a “m-line” mais intensa é colocada sobre um detector enquanto a plataforma é rodada até que o sinal no detector seja máximo. A constante de propagação, βe, da onda no prisma, segundo a direcção de propagação do guia, é dada por: βe = k0 n p senθ (2.29) 33 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada em que k0 = 2π λ é o número de onda no vácuo. Existe sincronismo quando as duas constantes 0 de propagação (do modo guiado e da onda evanescente no prisma) são iguais: βe = β = k0 n p senθ (2.30) A cada valor θ para o qual ocorre transferência de potência óptica do exterior para cada um dos modos corresponde um índice efectivo do modo respectivo, definido por: neff = β k0 = n p senθ (2.31) Usando a lei de Snell e a geometria do prisma (figura 2.11): ⎛ senθi θ = θ p + arcsen ⎜ ⎜ n ⎝ p ⎞ ⎟⎟ ⎠ (2.32) np θi θ θp núcleo substrato Figura 2.11 - Geometria do acoplamento óptico através de um prisma. Combinando as duas equações anteriores, resulta uma relação para o índice efectivo do modo guiado expresso em função dos parâmetros do prisma e do ângulo de incidência: ⎡ ⎛ sen θi neff = n p sen ⎢θ p + arcsen ⎜ ⎜ ⎢⎣ ⎝ np ⎞⎤ ⎟⎟ ⎥ ⎠ ⎥⎦ (2.33) 2.5.2 Cálculo do índice de refracção de materiais Conhecidos os índices efectivos dos modos guiados num guia planar (com perfil de índice em degrau), é possível extrair numericamente, a partir da equação de dispersão (2.16) (para o caso dos modos TE) ou da equação (2.27) (para o caso dos modos TM), o índice de refracção e a espessura da camada de guiagem [31]. No caso particular de um guia planar que suporta apenas um modo de propagação, é necessário introduzir o valor da espessura da camada de guiagem avaliado por outro método (perfilometria mecânica, em geral). No anexo A, encontra-se o programa desenvolvido (em Matlab) que prevê os casos de propagação de um, dois ou mais 34 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada modos. Os parâmetros de entrada são os ângulos de acoplamento para os modos guiados e os dados correspondentes ao prisma e ao substrato utilizados, assim como o comprimento de onda da radiação. O programa desenvolvido apenas contempla o tratamento dos modos TE. Os guias planares que suportam mais modos podem permitir uma avaliação da exactidão dos resultados. O índice de refracção e a espessura do filme obtidos pelo programa permitem simular um guia de onda planar e, assim, obter os correspondentes índices efectivos (teóricos). A comparação entre os índices efectivos teóricos e os obtidos experimentalmente (quer pelo cálculo do erro padrão ou por simples representação gráfica) fornece informação sobre a exactidão dos resultados. A montagem experimental disponível para a aquisição dos ângulos de acoplamento apenas usa a radiação de um laser de HeNe (λ=632.8 nm). A dispersão cromática do material pode ser determinada repetindo o procedimento do cálculo do índice de refracção para diferentes comprimentos de onda. A elipsometria constitui um outro método alternativo, ou complementar para a determinação do índice de refracção e espesuras de filmes finos (não necessariamente com função de guia planar) [33]. 2.5.3 Medição das perdas de inserção e de propagação As perdas de inserção total e as perdas de propagação são parâmetros essenciais para avaliar o desempenho de um dispositivo óptico integrado e, em particular, de um guia em canal. A perda de inserção é o somatório das perdas de propagação e das perdas de acoplamento/desacoplamento da radiação entre a fibra óptica e a entrada/saída de um dispositivo integrado ou, simplesmente, um guia em canal linear. A montagem ilustrada na figura 2.12 é utilizada para medir as perdas totais de inserção. laser Fibra11 SMF Fibra SMF 2 2 detector sample amostra Figura 2.12 – Montagem experimental para a medição da perda de inserção total [32]. 35 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada Em primeiro lugar, mede-se a potência recebida pelo detector à saída da fibra excitadora monomodo. De seguida, procede-se ao alinhamento da fibra 1 com uma extremidade do guia na amostra, e na outra extremidade, com a fibra 2 igualmente monomodo. A potência à saída da fibra 2 é então medida. A diferença de potências encontrada representa a perda total de inserção. A perda de propagação é causada pela absorção intrínseca do material e pelo espalhamento da radiação devido a não-homogeneidades do material e imperfeições da estrutura geométrica dos guias de onda (defeitos e rugosidades nas interfaces [34]). A medição da perda de propagação é realizada com um guia em canal linear de modo a eliminar as perdas resultantes de curvaturas. O uso de guias de onda monomodo é essencial para obter um resultado correcto, uma vez que, num guia multimodo, a excitação dos vários modos é sensível às condições de acoplamento e, portanto, pode conduzir a resultados divergentes. O método “cut-back” é frequentemente referido na determinação da perda de propagação [35-37]. O método consiste na medição da perda de inserção total para diferentes comprimentos do guia de onda. A diferença de potência entre sucessivas medidas corresponde à perda de propagação correspondente à diferença de comprimento, assumindo sempre uma eficiência de acoplamento/desacoplamento constante. Este método é, no entanto, difícil de implementar, uma vez que é necessário garantir a mesma eficiência de acoplamento/desacoplamento em todas as medições; no caso de dispositivos semicondutores, a clivagem assegura interfaces apropriadas com repetibilidade; noutros casos, usa-se a repetição do corte de pequenas secções e o polimento do topo do guia, que é uma tarefa árdua, morosa e, em certos casos, pouco provável de concretizar sem danificar a amostra. Assim, uma estimativa da perda de propagação pode ser obtida por aplicação de métodos indirectos, que consistem em medir a perda de acoplamento/desacoplamento (admite-se, à partida, que as eficiências de acoplamento e de desacoplamento são aproximadamente iguais). O resultado da subtracção com a perda de inserção total representa a perda de propagação correspondente ao comprimento do guia em canal. Os dois métodos aplicados neste trabalho variam entre si no modo como é estimada a perda de acoplamento. Método 1 As perdas de acoplamento/desacoplamento podem ser decompostas em perdas devidas à reflexão de Fresnel nas interfaces (≈4%, se não for adicionada uma gota de fluído apropriado para ajuste de índice de refracção entre a ponta da fibra e o topo do guia) e em perdas devidas à não sobreposição dos campos modais do guia e da fibra. Assim, a determinação das perdas de acoplamento por este método implica o conhecimento de ambas as distribuições modais, da fibra 36 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada e do guia (ambos monomodo). A figura 2.13 ilustra o arranjo experimental, que inclui uma câmara CCD para a aquisição do perfil modal da fibra e do guia. laser fibra SMF amostra sample objectiva lens Câmara CCD CCD camera TV monitor Computer computador Frame Grabler A/D converter Figura 2.13 – Esquema da montagem experimental para a aquisição da distribuição do perfil modal [32]. A eficiência de acoplamento é determinada pela seguinte expressão [38]: 2 ⎡ +∞ +∞ ⎤ ⎢ ∫ ∫ E f ( x, y ) ⋅ Eg ( x, y ) dxdy ⎥ ⎦ η = +∞ +∞⎣ −∞ −∞ +∞ +∞ ⎡ ⎤ ⎡ ⎤ 2 2 ⎢ ∫ ∫ E f ( x, y ) dxdy ⎥ ⎢ ∫ ∫ Eg ( x, y ) dxdy ⎥ ⎣ −∞ −∞ ⎦ ⎣ −∞ −∞ ⎦ (2.34) em que E f ( x, y ) e Eg ( x, y ) são os campos modais da fibra e do guia, respectivamente. Admitindo perfis modais com distribuição gaussiana, a eficiência de acoplamento pode ser calculada [39] por η= 4 ⎞ ⎛Wx ⎞⎛ ⎜⎜ + d ⎟⎟⎜⎜Wy + d ⎟⎟ ⎜⎝ d Wx ⎠⎟⎟⎜⎝⎜ d Wy ⎠⎟⎟ (2.35) em que Wx e Wy são as larguras das distribuições de intensidade (a 1/e do máximo) nas duas direcções ortogonais para o modo do guia, e d é a largura do perfil modal da fibra monomodo (definida do mesmo modo). 37 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada Método 2 O método recorre a uma objectiva para focar a potência de saída de um guia em canal no detector. A figura 2.14 ilustra, esquematicamente, o procedimento ordenado dos vários passos que levam ao cálculo da perda de propagação. As perdas de propagação e de acoplamento são calculadas a partir de P1 ,..., P4 pelas expressões (2.36) e (2.37), respectivamente: Pg = P4 + 2 × ( P2 − P3 ) − P1 (2.36) Pc = ( P1 + P3 ) − ( P2 + P4 ) (2.37) a) Medição da potência de excitação ( Pin ): P1 = Pin Detector Fibra monomodo Laser P1 b) Cálculo da potência óptica perdida na objectiva ( Pobj ): Pobj = Pin − P2 Objectiva Detector Laser Fibra monomodo P2 c) Cálculo da perda total de potência no acoplamento ( Pc ) e propagação no guia ( Pg ): Pc + Pg = P2 − P3 Guia em canal Laser Objectiva Detector Fibra monomodo P3 d) Cálculo da perda de inserção total: 2 Pc + Pg = Pin − P4 Guia em canal Laser Fibra monomodo Detector Fibra monomodo P4 Figura 2.14 – Procedimento ordenado para o cálculo das perdas de propagação e de acoplamento num guia em canal. 38 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada 2.5.4 Medição da birrefringência A birrefringência num guia planar pode ser medida recorrendo à montagem experimental de acoplamento com prisma esquematizada na figura 2.10. Com o ajuste do estado do polarizador de modo a excitar somente os modos TE ou os modos TM do guia planar, obtém-se os respectivos índices efectivos que, por sua vez, permitem calcular o índice de refracção nas diferentes polarizações. No entanto, a grandeza de maior interesse prático é a birrefringência modal num guia de onda em canal monomodo, que pode ser medida através de um método de compensação. O método permite medir a diferença de fase entre os dois modos, EH e HE, que se propagam ao longo do guia, utilizando um compensador de Babinet-Soleil [40]. No entanto, este método não foi implementado neste trabalho, tendo sido usado outro mais simples. Um método alternativo para a medição da birrefringência modal recorre a um guia em canal com uma rede de Bragg uniforme incorporada [41]. Excitando o guia de onda com uma fonte de espectro largo, que abrange o espectro de reflexão da rede de Bragg (ou pelo varrimento da zona espectral correspondente com uma fonte laser sintonizável) e ambos os estados de polarização, ao modo propagado irá corresponder uma banda estreita reflectida centrada no comprimento de onda dado por λB = 2neff Λ , em que λB é o comprimento de onda de Bragg, neff é o índice effectivo do modo e Λ é o período da rede. No caso de guias de onda birrefringentes, a cada estado de polarização irá corresponder um índice efectivo diferente e, consequentemente, um comprimento de onda de Bragg tanbém diferente. A birrefringência modal δ n é, então, calculada através da expressão δ n = neff (TE ) − neff (TM ) = λB (TE ) − λB (TM ) 2Λ (2.38) 2.5.5 Medição da transmitância espectral de um guia de onda em canal A obtenção da transmitância espectral de um guia em canal permite conhecer a absorção relativa do material em função do comprimento de onda e pode ser determinada através de uma montagem semelhante à representada na figura 2.12, mas com a substituição do laser por uma fonte de luz branca, das fibras monomodo por fibras multimodo e do detector por um analisador de espectros ópticos (OSA). Para introduzir um nível de potência óptica suficiente no sistema, é necessário recorrer a guias de onda altamente multimodo (com larguras superiores a 20 µm, os 39 Capítulo 2 – Conceitos de Óptica Integrada guias de onda suportam mais de 5 modos); além disso, os resultados não dependem substancialmente de efeitos de corte de modos (o que aconteceria num guia com poucos modos). A fonte de luz branca utilizada é uma lâmpada de halogéneo com uma potência de 250W. A figura 2.15 mostra o espectro de emissão da lâmpada. Uma das extremidades da fibra multimodo de excitação é colocada próxima do filamento, numa posição ajustada de modo a maximizar a potência óptica acoplada. A radiação desacoplada do guia de onda é analisada com um OSA (Ando, modelo AQ-6312B ou 6315B) de modo a registar a intensidade da radiação em função do comprimento de onda. A transmitância é obtida normalizando o espectro adquirido em função do espectro de emissão da lâmpada. -15 Intensidade (dB) -20 -25 -30 -35 -40 -45 450 600 750 900 1050 1200 1350 1500 1650 Comprimento de onda (nm) Figura 2.15 – Espectro de emissão da lâmpada de halogéneo utilizada como fonte de luz branca. Referências [1] D. L. Lee, "Electromagnetic principles of integrated optics", J. Wiley, 1986. [2] H. 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Um sol consiste numa dispersão coloidal de partículas, com dimensões compreendidas entre 1 e 200 nm, num líquido denominado solvente; no entanto, o termo solução é mais utilizado para um sol quando as partículas em suspensão têm pequenas dimensões. Um gel é, geralmente, uma substância composta por uma rede tridimensional, sólida e porosa, preenchida por um meio líquido. Se o gel é formado a partir de um sol, denomina-se gel coloidal, e se é formado a partir de uma solução, então denomina-se gel polimérico. A figura 3.1 ilustra, simplificadamente, os processos genéricos que podem ocorrer na técnica sol-gel. O processo sol-gel tem sido amplamente investigado para a síntese de materiais inorgânicos como o vidro (sílica) [3,4], materiais cerâmicos ferroeléctricos com propriedades piezoeléctricas (PZT e PLZT) [5-7], materiais condutores transparentes (ITO) [8,9], entre outros. Nos últimos anos, uma nova família de materiais tem despertado um grande interesse, a dos materiais orgânicos-inorgânicos, ou híbridos (ORMOCERs), que têm encontrado aplicações em vários sectores (Óptica, Biotecnologia, Microelectrónica) [10]. 43 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido PRECURSORES QUÍMICA SOLUÇÃO SOL macromoléculas poliméricas + líquido Partículas coloidais + líquido PONTO GEL GEL POLIMÉRICO GEL COLOIDAL SECAGEM Pó Fibras Revestimentos Monólitos Poros ordenados DENSIFICAÇÃO CERÂMICA Figura 3.1 – Esquema simplificado de processos em sol-gel (adaptado de [2]). Os ormosils (sílica organicamente modificada) revelaram ter um enorme potencial em Óptica Integrada, combinando as propriedades atractivas da sílica com as de materiais orgânicos, como os polímeros; esta classe de materiais permitiu ultrapassar algumas das limitações associadas à fabricação de vidros puramente inorgânicos. Muitos novos materiais desta classe podem ser sintetizados pelo processo sol-gel, devido à diversidade já existente de espécies orgânicas. Os ormosils podem ser classificados de acordo com o modo como a componente orgânica está ligada à parte inorgânica [11,12]. Nos de classe I, a coesão entre as componentes orgânica e inorgânica é obtida por interações fracas (pontes de hidrogénio, forças de Van der Waals ou iónicas). A componente orgânica pode ser embebida na matriz de sílica, ou nela implantada. No 44 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido primeiro caso, a componente orgânica é misturada ou diluída na solução ainda em estado líquido; depois da gelificação, a parte orgânica fica embebida num gel inorgânico. No segundo caso, é formado um gel poroso onde, posteriormente, é implantada a componente orgânica no interior dos poros. Nos ormosils de classe II, a parte orgânica é quimicamente conectada ao átomo de Si por ligações covalentes fortes do tipo Si-C. Os precursores de base são organoalcóxidos, sendo o metacriloxipropiltrimetoxisilano (MAPTMS) o mais popular em Óptica Integrada [13-15]. Este precursor dá origem a um material silicioso híbrido fotopolimerizável que permite definir microestruturas a partir da diferença na solubilidade do material criada pela exposição selectiva a radiação. Este capítulo pretende apresentar uma exposição básica da química do processo sol-gel hidrolítico, com ênfase na tecnologia híbrida e sua aplicação na deposição de filmes com interesse em Óptica Integrada. Essa introdução é completada por uma revisão do estado-da-arte sobre os desenvolvimentos resultantes do processo de fabricação de componentes ópticos integrados pela tecnologia sol-gel híbrido. 3.2 A química do processo sol-gel hidrolítico [1,2] 3.2.1 Os precursores A primeira etapa do processo sol-gel consiste em seleccionar os precursores do material pretendido, sendo um precursor um reagente químico que fornece o elemento presente no material final. No caso de o material ser composto por vários elementos, o processo sol-gel oferece a possibilidade de combinar homogeneamente diferentes precursores e de modificar o procedimento de síntese, dando origem a materiais com características diferentes. Uma vasta lista de precursores encontra-se disponível no mercado. Três grupos principais são os mais utilizados para a produção de materiais cerâmicos e vidros: os sais inorgânicos, os alcóxidos (para materiais inorgânicos) e os organoalcóxidos (para materiais orgânicos/inorgânicos, ou híbridos). A fórmula geral dos sais de metais é MmXn, em que M é um metal, X é um grupo aniónico, e m, n são coeficientes estequiométricos. Os nitratos (M(NOn)n) e os cloretos (MCln) são dois exemplos de sais inorgânicos utilizados. Os alcóxidos são compostos do tipo M(OR)n, em que M é um metal (Ti, Zr, Al, etc.) ou nãometal (Si, Ge, etc.), e R é um radical orgânico derivado de um álcool. O mais popular, para a 45 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido síntese de vidro por sol-gel, é o tetraetoxisilano (TEOS), cuja fórmula química é Si(C2H5)4. Os precursores desta família dão origem a materiais inorgânicos (sílica/sílica dopada, PZT, ITO, etc...). Mais recentemente, têm sido estudados os precursores do grupo dos organoalcóxidos. Estes compostos, derivados dos alcóxidos, são da forma R ′n M(OR)m-n, com n<m, em que R é um radical orgânico derivado dos álcoois (metil, etil, propil) e, portanto, hidrolisável. Por outro lado, o grupo R ′ é um radical orgânico não hidrolisável, que possui uma funcionalidade para determinadas características desejáveis. Este grupo está ligado ao elemento metálico ou nãometálico M por uma ligação covalente estável do tipo M−C. Os precursores do subgrupo dos organoalcóxidos para os quais o elemento M é o silício (Si) têm a designação particular de organoalcoxisilanos, e são a base para a síntese de grande parte dos ormosils. 3.2.2 Reacções químicas fundamentais O processo de transição de um estado de solução para um estado de gel (gelificação) deve-se às reacções de hidrólise e policondensação de um precursor puramente alcóxido, M(OR)n, ou organoalcóxido, R ′n M(OR)n-m, ou misturas entre eles, ao qual se junta água, um catalisador e um solvente. Um número considerável de factores influencia as reacções de hidrólise e policondensação no processo sol-gel, tais como a reactividade dos precursores, relacionada com a natureza de M e R, a razão molar água/precursores, o tipo e a quantidade do catalisador, ou seja, o pH da solução, e o efeito do solvente, entre outros. A determinação apropriada destes parâmetros permite criar diferentes mecanismos de crescimento das partículas em solução, conduzindo a efeitos determinantes das propriedades estruturais dos géis resultantes. Reacção de hidrólise A reacção de hidrólise consiste na substituição de um grupo alcóxido OR por um grupo hidróxido OH. Essa reacção ocorre quando o precursor reage com a água (adicionada ao precursor, ou simplesmente devido à humidade do ar), sendo um dos produtos da reacção o álcool correspondente. A figura 3.2 ilustra a reacção de hidrólise para um organoalcóxido. Todos os grupos alcóxidos de um precursor são hidrolisáveis. No caso dos precursores organoalcóxidos, a componente orgânica directamente ligada ao elemento M é estável e não sofre este tipo de reacção. 46 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido OR R′ M OR R′ OR + HOH OR Precursor Água M OH + ROH OR Precursor Álcool parcialmente hidrolisado R = CH3, C2H5, C3H7,... R ′ = componente orgânica Figura 3.2 - Esquema da reacção de hidrólise. Reacções de policondensação As reacções de policondensação consistem na formação de espécies do tipo M−O–M, e ocorrem por via de dois mecanismos em competição: (i) Condensação de dois grupos hidróxidos, com formação de água. (ii) Condensação de um grupo hidróxido com um grupo alcóxido, com formação de álcool. A figura 3.3 esquematiza os dois mecanismos para um organoalcóxido. Novamente, as componentes orgânicas R ′ não sofrem transformações. (i) OR R′ M OR OH + HO OR M OR R′ R′ OR M OR O OR M R′ + H2O R′ + ROH OR Condensação com formação de água (ii) OR OR R′ M OR OH + RO M OR OR R′ R′ M OR O OR M OR Condensação com formação de álcool Figura 3.3 – Esquema das reacções de policondensação, com (i) formação de água e (ii) com formação de álcool. 47 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido Se o elemento M for o Si, as reacções de hidrólise e policondensação formam as ligações características da matriz da sílica. Estas reacções (quer de hidrólise, quer de policondensação) são reversíveis e ocorrem simultaneamente em solução. As primeiras reacções de hidrólise e policondensação sobre as moléculas dos precursores dão origem a monómeros e dímeros e, à medida que prosseguem, dão origem a macromoléculas cada vez mais complexas, cuja estrutura e morfologia dependem da cinética das reacções envolvidas, influenciada por parâmetros químicos sumariamente descritos a seguir. 3.2.3 Influência de alguns parâmetros químicos na cinética das reacções Vários parâmetros de natureza química influenciam as velocidades de hidrólise e policondensação envolvendo as diversas espécies moleculares existentes em solução. Quando estas estruturas atingem dimensões macroscópicas, podem gerar um gel com características próprias, ou então soluções coloidais ou precipitados. Estas formas reflectem processos diferentes de crescimento das partículas. O estudo e, consequentemente, o conhecimento dos efeitos destes parâmetros é essencial para produzir o material final com as propriedades desejadas. As diferentes reactividades dos precursores, relacionadas com a natureza do elemento M e do radical R, originam taxas de hidrólise variadas; portanto, é necessário ter em conta este facto quando os precursores são misturados em solução. A razão molar H2O/alcóxidos é um dos parâmetros mais importantes da química do processo sol-gel, na medida em que define a quantidade de água necessária para a hidrólise e condensação dos precursores, variando de aplicação para aplicação. Não menos importante é o efeito do pH da solução, estabelecido através da introdução de um catalisador (ácido ou básico), no crescimento das partículas, o que se reflectirá nas propriedades dos géis. É geralmente aceite que, para soluções catalisadas por ácidos, se obtém uma estrutura constituída por cadeias poliméricas lineares, e que para soluções catalisadas por bases se obtêm aglomerados de partículas coloidais densas [4]. Para além destes parâmetros, há a considerar o efeito do solvente, o tempo de envelhecimento e a temperatura do sol. Reactividade dos alcóxidos [12] A reactividade química dos alcóxidos metálicos e não-metálicos na hidrólise é determinada pela natureza do elemento metálico e pelo tipo de radical alcóxido. O parâmetro mais relevante parece ser o carácter electrofílico do átomo metálico M (medido pela electronegatividade, χ) e a 48 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido capacidade para aumentar o seu número de coordenação, N. O grau de coordenação não-saturado do átomo metálico é simplesmente calculado pela diferença N–Z, em que Z é o estado de oxidação do elemento M, e serve como critério para avaliar a reactividade dos alcóxidos. Quanto maior for a diferença N–Z, maior é a reactividade do respectivo alcóxido no processo de hidrólise. A tabela 3.1 apresenta alguns valores para alcóxidos de diferentes metais, mas todos com Z=4. χ N N-Z 1.74 4 0 Sn(OPr )4 1.89 6 2 Ti(OPri)4 Isopropóxidos Si(OPri)4 i 1.32 6 2 i 1.29 7 3 i 1.17 8 4 Zr(OPr )4 Ce(OPr )4 Tabela 3.1 - Propriedades de alguns alcóxidos de metais tetravalentes (Z=4) [12]. Pela análise da tabela, é possível ordenar os alcóxidos por ordem crescente de reactividade perante o processo de hidrólise: Si(OR)4 « Sn(OR)4 = Ti(OR)4 < Zr(OR)4 < Ce(OR)4 Os alcóxidos de silício não são muito reactivos e, portanto, levam algum tempo (várias semanas) a gelificar quando é adicionada água com pH neutro. No entanto, a hidrólise pode ser acelerada, usando catalisadores para o efeito. Além disso, a reactividade do precursor é ainda dependente do grupo alcóxido envolvido [2]. Assim, quanto maior for o radical alcóxido, mais forte se torna a ligação Si−OR, mais difícil se torna a substituição do radical alcóxido OR pelo grupo hidróxido OH, e por isso o alcoxisilano torna-se menos reactivo. Por exemplo, o precursor TMOS (grupo metóxido) é mais reactivo do que o precursor TEOS (grupo etóxido). As reacções de hidrólise e policondensação da maior parte dos alcóxidos de metais ocorrem durante um curto período de tempo, sem qualquer tipo de catálise, devido à sua elevada reactividade. Assim, quando se pretende a formação de um gel com uma estrutura polimérica linear, é importante que a taxa de hidrólise destes alcóxidos, à excepção dos alcoxisilanos, deva ser atenuada através de um modificador químico; quando a reactividade destes alcóxidos não é desacelerada, a reacção de hidrólise leva à formação de partículas densas, dando origem à precipitação. A reactividade dos precursores é um parâmetro essencial a ter em conta quanto se pretende obter um sistema com vários componentes (por exemplo, SiO2 dopada com ZrO2). A velocidade 49 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido de reacção numa mistura de precursores com reactividades diferentes é condicionada pelo precursor menos reactivo, sendo necessário saber como se pode estabilizar o precursor mais reactivo. Um dos processos para a estabilização é a sua modificação química, através de ácidos orgânicos; o ácido metacrílico, o ácido carboxílico, e a acetilacetona são exemplos de modificadores químicos estabilizadores [16-18]. O princípio da actuação dos modificadores químicos consiste na substituição parcial dos radicais OR por quelantes complexos, os quais são mais difíceis de hidrolisar. A equação que se segue representa a modificação química de um alcóxido M(OR)n pelo ácido carboxílico R ′COOH : M(OR)n + xR'COOH M(OR)n-x(OOCR')x + xROH O esquema seguinte ilustra uma reacção particular de modificação química de um alcóxido de zircónio com acetilacetona. CH 3 OR RO Zr OR OR + C CH 3COCH 2COCH 3 H2C C CH 3 O OR Zr OR O OR + ROH Como se pode observar, o efeito da molécula de acetilacetona sobre o alcóxido de zircónio consistiu em diminuir o número de coordenação N do zircónio e, consequentemente, o número de coordenação não saturado (N-4), o que o torna menos reactivo. No capítulo 4, é ilustrada de forma semelhante a complexagem do tetrapropóxido de zircónio com o ácido metacrílico. Outra forma de actuar sobre a velocidade da reacção de hidrólise global é, em termos experimentais, adicionar o precursor mais reactivo ao precursor menos reactivo já parcialmente hidrolisado. Este procedimento foi frequentemente utilizado na obtenção de géis no sistema SiO2/TiO2, em que após a hidrólise parcial de Si(OR)4, se junta Ti (OR ′)4 , com a possibilidade de condensação entre as espécies Ti e as espécies Si parcialmente hidrolisadas (heterocondensação), originando ligações do tipo Si–O–Ti. De facto, foi demonstrado que a adição de Ti (OR ′)4 a Si(OR)4 parcialmente hidrolisado resulta na obtenção de vidros homogéneos, porque a homocondensação (Si–O–Si) dos silicatos apresenta uma cinética mais lenta relativamente à reacção de heterocondensação (Si–O–Ti). Por vezes, no processo sol-gel, quando não é possível obter o precursor alcóxido metálico correspondente ao metal desejado, utilizam-se precursores não-alcóxidos, tais como sais inorgânicos de nitratos e cloretos (por exemplo, LiNO3, NaNO3, ErNO3, NdCl3, etc.), ou mesmo 50 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido óxidos (P2O5, Al2O3, etc.) [2]. No entanto, a utilização deste tipo de precursores traz alguns problemas adicionais, principalmente relacionados com diferenças de solubilidade e, consequentemente, alterações na cinética das reacções de hidrólise e condensação dos alcóxidos, que dificultam a obtenção de géis transparentes e homogéneos. Nestes casos, a ordem e os tempos de espera para a junção dos compostos, bem como o tipo de solvente utilizado, são parâmetros críticos. Razão molar H2O/alcóxido (rw) [1] A razão molar rw=H2O/alcóxido é um dos parâmetros mais importantes da química do processo sol-gel. Para uma hidrólise completa, seria necessário pelo menos uma molécula de água para cada grupo alcóxido. Em cada reacção de condensação (com formação de água), forma-se uma molécula de água que servirá para hidrolisar outro grupo alcóxido. Como as reacções de hidrólise e condensação ocorrem em conjunto, a quantidade efectiva de água necessária para completar a hidrólise e condensação do alcóxido é equivalente a metade do valor estequiométrico. Assim, para alcóxidos tetrafuncionais (Z=4), o valor de rw=2 é suficiente para atingir a gelificação. No caso dos híbridos que possuem três radicais alcóxidos, como, por exemplo, o metacriloxitrimetoxisilano (MAPTMS), o valor de rw=1.5 é suficiente. A influência do parâmetro rw na microestrutura do gel está fortemente relacionada com o carácter ácido ou básico da solução. Catalisador e pH [4] Os alcoxisilanos, assim como os organoalcoxisilanos, hidrolisam lentamente, tornando a catálise um factor importante de aceleração da reacção. A catálise é realizada através da adição de um ácido ou de uma base . Os catalisadores mais frequentemente utilizados no processo sol-gel têm sido HCl, HNO3, HF, CH3COOH e NH4OH, dos quais o ácido HCl e a base NH4OH são os mais estudados. Como já foi referido, a quantidade e o tipo de catalisador adicionado, que determinam o pH da solução, têm grande influência sobre a microestrutura final do gel. No caso da catálise ácida, a reacção de hidrólise é favorecida e completa-se praticamente antes da condensação: a taxa de hidrólise é governada pela concentração de H3O+. Nestes casos, os monómeros hidrolisados reagem entre si e agregam-se progressivamente para formar cadeias poliméricas. Em meio básico, a condensação é a reacção dominante e conduz à formação quer de partículas coloidais, quer de aglomerados densos. De forma análoga à catálise ácida, a taxa de hidrólise, na catálise básica, é uma função 51 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido da concentração de OH − . A figura 3.4 ilustra a influência do pH sobre a formação de partículas resultantes da competição entre as reacções de hidrólise e de condensação. Figura 3.4 – Esquema da formação progressiva das partículas sob o efeito do pH [19]. Solvente: tipo e quantidade O efeito da quantidade de solvente resulta de, em soluções muito diluídas, as espécies reactivas estarem mais afastadas umas das outras, diminuindo consideravelmente a probabilidade de colisão. A reacção de condensação torna-se, por consequência, mais lenta, e conduz a um aumento do tempo de gelificação. A experiência mostra que os alcóxidos de silício e a água não são inicialmente miscíveis. A adição de um solvente é uma boa opção para impedir a separação de fases líquidas durante os primeiros instantes da reacção de hidrólise. Contudo, o solvente não deve ser considerado apenas como um agente homogeneizador, dado que também é produzido e intervém nessas reacções de condensação (com formação de álcool). Os solventes podem ter um efeito redutor da actividade catalisadora, uma vez que as moléculas do solvente se podem ligar aos iões H3O+ ou OH − . Os solventes polares retardam a condensação em meio básico e promovem a condensação em meio ácido, enquanto os solventes não-polares apresentam o efeito contrário [1]. A tabela 3.2 lista alguns solventes polares e não-polares que têm sido utilizados em sol-gel. 52 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido SOLVENTE FÓRMULA TIPO Acetona C3H6O não-polar Ácido acético C2H4O2 polar Amoníaco NH3 polar Benzeno C6H6 não-polar Clorofórmio CHCl3 não-polar Dimetilsufóxido (CH3)2SO não-polar Dioxanos 1,4 C4H8O2 não-polar Água H2O polar Metanol C2H5OH polar Etanol C2H5OH polar Formamida CH3ON polar Dimetilformamida C3H7NO não-polar Nitrobenzeno C6H5NO2 não-polar Tabela 3.2 – Lista de alguns solventes polares e não-polares (adaptado de[2]). Temperatura A reacção de hidrólise intensifica-se com o aumento da temperatura. Para além de considerações relativas à cinética de reacção, a evaporação do solvente é acelerada e, consequentemente, as partículas aproximam-se mais rapidamente, fomentando as reacções de condensação. Assim, a viscosidade da solução aumenta mais rapidamente até ao estado de gel [20]. 3.2.4 Gelificação [20] À medida que as reacções de hidrólise e policondensação prosseguem, a viscosidade da solução aumenta até atingir um ponto de transição, denominado ponto de gelificação. Esta passagem é normalmente acompanhada por um aumento abrupto da viscosidade, resultado da formação de uma rede tridimensional embebida num meio líquido (solvente). O tempo que demora até ser atingido o ponto de gelificação é denominado tempo de gelificação, tg. Este parâmetro, assim como a evolução da viscosidade ao longo do tempo, depende dos factores mencionados na secção anterior. A viscosidade de uma solução é um parâmetro importante para o processo de deposição de filmes, e deve ser controlada. A preparação de materiais com a mesma composição mas com diferentes formas (monólitos, filmes, fibras, etc.) é possibilitada para diferentes condições da viscosidade. A figura 3.5 mostra 53 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido a evolução temporal da viscosidade e da constante elástica de corte no período pós-gelificação, destacando a transição sol-gel (ponto de gelificação). Figura 3.5 - Evolução da viscosidade na fase sol e da constante elástica de corte na fase gel [2]. Após atingir a gelificação, a fase líquida é removida do interior dos poros por evaporação, etapa denominada secagem, ocorrendo simultaneamente um aumento da interligação entre as cadeias por meio das reacções de condensação que, progressivamente, vão fortalecendo ainda mais a rede. Essa secagem pode ser acelerada através de temperatura controlada. Grandes tensões capilares ocorrem durante a secagem quando os poros são pequenos. Para os géis inorgânicos, essas tensões, que causam retracções diferenciais ao nível microscópico e macroscópico, têm consequências desastrosas, porque provocam fissuras e tornam a estrutura do gel muito frágil. Com efeito, este fenómeno torna problemática a produção de monólitos e, principalmente, a formação de camadas uniformes com espessura de alguns micrometros (filmes espessos). Este problema pode ser evitado por evaporação hiper-crítica, eliminando a interface sólido-líquido e, portanto, tensões capilares, ou então com a formação de géis com poros de maiores dimensões e dispersos, através do controlo da cinética da hidrólise e condensação [1,21]. No entanto, este problema é atenuado nos géis formados a partir dos organoalcoxisilanos, uma vez que cada molécula contém um grupo orgânico que não reage através dos processos de hidrólise e condensação, o que provoca uma diminuição significativa das tensões capilares. Com estes materiais, tornou-se possível a deposição, sem fracturas, de filmes com espessuras de alguns micrómetros. 54 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido 3.3 Processo sol-gel não-hidrolítico Um grande inconveniente encontrado nos materiais híbridos sintetizados pelo processo sol-gel hidrolítico para aplicações em Óptica Integrada é a presença dos grupos OH não-condensados, que prejudica a transparência na região espectral de 1550 nm [22,23]. No caso particular do sistema MAPTMS/ZrO2, estudos de espectroscopia [23] levaram os respectivos autores a concluir sobre um efeito catalisador do zircónio na condensação das espécies SiOH, sendo a absorção devida às espécies ZrOH que não condensam. Na tentativa de diminuir estas espécies, foram propostas algumas modificações na síntese da solução [24]. Com o objectivo de reduzir ou evitar a formação de grupos OH, foram desenvolvidas alternativas ao processo sol-gel hidrolítico, que consistem em processos não-hidrolíticos caracterizados pela não adição de água para a hidrólise. Um dos processos sol-gel não-hidrolítico mereceu importante destaque nos últimos anos, por possibilitar a síntese de materiais híbridos (ORMOCERs) com boa transparência, quer a 1310 nm, quer a 1550 nm [25]. Este processo não-hidrolítico baseia-se na reacção de um precursor particular, difenilsilanodiol (DPhSdiol), com precursores alcóxidos. O DPhSdiol possui dois grupos hidróxidos que reagem com relativa facilidade com os grupos alcóxidos de outros precursores, por meio de um catalisador e ajuste de temperatura (inferior a 100ºC). A combinação de DPhSdiol com o precursor alcóxido MAPTMS permitiu demonstrar a fabricação de guias de onda com perdas de propagação de 0.2 dB/cm e 0.5-0.6 dB/cm a 1310 nm e 1550 nm, respectivamente [26]. Uma descrição mais detalhada deste processo é apresentada no capítulo 6. Um outro processo igualmente não-hidrolítico foi apresentado, inicialmente, na preparação de óxidos inorgânicos [27] e, em particular, na síntese de sílica [28]; posteriormente, foi aplicado na síntese de materiais híbridos [29]. Este processo baseia-se na condensação de um precursor clorosilano (tretraclorosilano, organotriclorosilano, etc.), ou cloretos de metais, com precursores alcóxidos (ou organoalcóxidos). As possíveis reacções estão esquematizadas na figura 3.6. O processo não requer qualquer solvente e funciona bem quando cloretos de metais são adicionados como catalisadores. As reacções de condensação ocorrem num ambiente isolado de humidade e a temperatura que ronda os 100ºC. No entanto, no caso dos organosilanos, a presença dos cloretos de metais pode constituir uma desvantagem, uma vez que podem contribuir para uma clivagem de algumas das ligações Si-C, especialmente quando a componente orgânica é um grupo vinil ou fenil. 55 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido Si OR + Cl Si Si OR + Cl M {Si Cl + OR M M Cl + OR M catalisador 100ºC Si O Si + RCl Si O M + RCl Distribuições homogéneas M O M + RCl Catalisadores: FeCl3, AlCl3, TiCl4, ZrCl4, BCl3 Figura 3.6 – Reacções de condensação num processo sol-gel não-hidrolítico. 3.4 Deposição de filmes A deposição de filmes em sol-gel pode ser realizada recorrendo a diferentes técnicas, sendo a deposição por rotação (“spin-coating”) [30] e a deposição por imersão (“dip-coating”) [31] as mais utilizadas. Nesta secção, apenas é considerada a deposição por rotação, uma vez que é a técnica de deposição utilizada neste trabalho. Após a deposição, o filme é submetido a secagem, de modo a evaporar os solventes residuais e a torná-lo mecanicamente resistente para as etapas seguintes (litografia, caracterização, etc.). 3.4.1 Deposição de filmes A deposição por rotação foi inicialmente desenvolvida para a indústria de Microelectrónica para ser utilizada na deposição de “photoresist”, usado na definição dos padrões por litografia; posteriormente, tem vindo a ser aplicada na deposição de dieléctricos (“spin-on glasses”). Esta técnica foi aproveitada para o processo sol-gel, permitindo obter camadas com superfícies planas e regulares sobre substratos, preferencialmente com geometria circular. Na técnica de deposição por rotação, uma quantidade em excesso de solução é derramada sobre o substrato, de modo a permitir cobrir a totalidade da sua superfície. Preso por vácuo, o substrato é submetido ao mecanismo de rotação, com uma aceleração rápida até que a velocidade de rotação (geralmente expressa em rotações por minuto (rpm)) atinge o valor pretendido. A evaporação do(s) solvente(s) durante o processo de rotação contribui para um aumento significativo da viscosidade. A formação de um filme com espessura uniforme resulta do balanço entre duas forças principais: a força centrífuga, que conduz o líquido radialmente para a 56 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido periferia, e a força devida à viscosidade, que actua no sentido contrário. A figura 3.7 ilustra o processo de deposição por rotação, que pode ser dividido em quatro etapas [1]. Primeira etapa: deposição Terceira etapa: “spin-off” Segunda etapa: “spin-up” Quarta etapa: evaporação do solvente Figura 3.7 – Etapas do processo de deposição por rotação [1]. Primeira etapa - consiste no espalhamento automático ou manual da solução ao longo de toda a superfície do substrato, em estado estacionário ou em movimento lento. Este procedimento fornece um excesso substancial de material a depositar, comparando com o volume final da película. Para muitas soluções, é importante que a aplicação seja previamente acompanhada pela filtragem da solução para remover as partículas que possam vir a causar defeitos na película final. Outro aspecto importante é o facto da solução cobrir completamente, ou não, a superfície do substrato. No caso de não cobrir totalmente, o risco de não se obter uma película sobre toda a superfície do substrato é maior. Segunda etapa - o substrato é acelerado rapidamente (“spin-up”) até à velocidade de rotação desejada. Este processo é caracterizado pela expulsão agressiva do fluído devido à força centrífuga, contribuindo para a distribuição do próprio fluído em toda a superfície do substrato. 57 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido Devido à espessura considerável da solução no início da rotação, movimentos em espiral podem momentaneamente aparecer. Esses movimentos são causados pela inércia que o topo da camada de fluído exerce quando o substrato roda cada vez mais depressa, resultando num diferencial na velocidade de rotação ao longo da espessura. Com a diminuição da espessura, esse diferencial anula-se e o fluído passa a acompanhar a rotação do substrato. Terceira etapa - a velocidade de rotação é mantida constante (“spin-off”) e a viscosidade vai aumentando devido ao aumento da concentração das componentes não-voláteis, de tal modo que passa a controlar o comportamento da diminuição da espessura Quarta etapa - o substrato ainda é mantido a velocidade de rotação constante, mas agora é a evaporação do solvente que passa a dominar o comportamento da diminuição da espessura. A espessura do filme alcança um ponto em que os efeitos da viscosidade produzem somente um ligeiro fluxo de fluído. A transição para esta etapa depende da volatilidade do(s) solvente(s) contido(s) na película. Assim que a evaporação do solvente se torna o processo dominante, a viscosidade aumenta de tal forma que o fluído transita para o estado de gel. A terceira e quarta etapas descrevem dois processos que ocorrem simultaneamente durante o tempo de rotação. A influência da atmosfera no processo de deposição foi observada [32,33], mostrando-se que a viscosidade evolui de forma diferente em ambiente aberto ou saturado de solvente. Em ambiente saturado de solvente, a taxa de evaporação é obviamente inferior à que ocorreria em ambiente aberto; consequentemente, a viscosidade aumenta mais lentamente, o que leva à formação de um filme com menor espessura. Em geral, é desejável que exista controlo da humidade e da temperatura do ambiente onde é realizada a deposição, uma vez que alguns dos parâmetros citados, como a viscosidade e a taxa de evaporação, vão depender dessas condições ambientais. O processo físico de deposição por rotação tem vindo a ser estudado e modelizado com a finalidade de conhecer o comportamento da espessura dos filmes em função dos diferentes parâmetros envolvidos, como a viscosidade da solução, a taxa de evaporação do solvente e a velocidade de rotação [34-37]. A espessura final do filme pode ser estimada ao considerar-se, numa aproximação razoável, que a evaporação ocorre a taxa constante durante a terceira etapa; a taxa de diminuição da espessura passa a ser descrita pela equação diferencial [37] 58 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido dh = −2 K h3 − e dt (3.1) com K= ρω 2 3η (3.2) em que h é a espessura do filme (variável com dependência temporal), ρ é a densidade do material, η é a viscosidade, ω é a velocidade de rotação, e e é a taxa de evaporação. É de realçar que, para o processo sol-gel, a viscosidade e a densidade variam ao longo do tempo, aumentando à medida que a evaporação prossegue. Considerando o regime Newtoniano, e de acordo com o modelo desenvolvido por Meyerhofer, que separa a terceira e quarta etapas [35], a espessura final do filme pode ser estimada por 1 ⎛ ⎞3 e h f = c0 ⎜⎜ ⎟⎟ ⎝ 2 (1 − c0 ) K ⎠ (3.3) em que c0 é a concentração inicial do material na solução. A taxa de evaporação e pode ser obtida através da representação gráfica de dh dt em função de 2h3 , cujos valores podem ser obtidos experimentalmente durante o tempo de rotação por técnicas interferométricas [32]. Esta análise é apenas válida para soluções denominadas “bem comportadas”, cujo solvente ou solventes possuem o mesmo grau de volatilidade. Geralmente, a expressão que relaciona a espessura final do filme com a velocidade de rotação é determinada empiricamente, e é do tipo h = A ⋅ω −B (3.4) Assim, se o modelo referido descreve adequadamente o processo, então a determinação experimental de B deve resultar num valor próximo de 2 3 . 3.4.2 Formação de filmes siliciosos No caso particular da deposição de materiais baseados em sílica, vários tipos de substratos de vidro podem ser usados, tais como substratos de vidro (“soda-lime”, borosilicato, sílica) e 59 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido substratos de silício (com uma camada nativa muito fina de óxido). Estes substratos oferecem condições de adesão adequadas, devido à existência de grupos hidróxido à superfície que estabelecem, inicialmente, ligações com o material da solução depositada através de pontes de hidrogénio. Estas ligações são consolidadas com o processo de secagem e, posteriormente, com tratamento térmico, transformando-se em ligações covalentes pelas reacções de policondensação [38]. A figura 3.8 exemplifica, esquematicamente, o processo químico da deposição de uma solução de organotrimetoxisilano. RSi(OMe)3 Hidrólise RSi(OH)3 Condensação Substrato Ligações de Hidrogénio Substrato Formação das ligações Substrato Figura 3.8 - Processo químico da deposição de organotrimetoxisilano (adaptado de [38]). Como pré-requisitos gerais para obter um filme com um número mínimo de defeitos, é conveniente executar a deposição em ambiente controlado de sala limpa para evitar qualquer 60 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido contaminação por partículas, quer da solução, quer do substrato. Além disso, a solução deve ser filtrada, e a superfície do substrato limpa de impurezas. A figura 3.9 mostra um resultado experimental da deposição de filmes de sílica dopada com TiO2 por rotação [39]. A espessura foi determinada em função da velocidade de rotação para diferentes valores da viscosidade (relacionada com o grau de diluição em etanol). Espessura (µm) Diluição Diluição Velocidade de rotação (rpm) Figura 3.9 - Espessura de filmes de SiO2:TiO2 a 6.25 mol% em função da velocidade de rotação, para soluções com diferentes viscosidades [39]. 3.5 Fotossensibilidade em materiais híbridos Um material fotossensível sofre modificações das suas propriedades (índice de refracção, solubilidade, etc.) quando exposto à radiação. Nos materiais híbridos siliciosos, a fotossensibilidade deriva das propriedades particulares da componente orgânica. O precursor MAPTMS é o mais utilizado para a síntese de materiais fotossensíveis; a componente orgânica (metacrilato) possui uma dupla ligação C=C (figura 3.10) que, ao tornar-se reactiva, estabelece uma ligação polimérica com a componente orgânica de outra molécula. H H H H O H C C CH3 C O OCH3 C C C Si OCH3 H H H OCH3 Figura 3.10 - Fórmula química da molécula de MAPTMS. A síntese de materiais baseados neste precursor baseia-se em dois tipos de reacções. Primeiro, uma rede inorgânica é criada a partir da hidrólise e policondensação dos grupos alcóxidos. Em seguida, as reacções entre os radicais orgânicos conduzem à chamada polimerização orgânica. O 61 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido caso particular em que a polimerização é accionada através da radiação é designado por fotopolimerização. A figura 3.11 ilustra a sequência, na síntese de materiais híbridos fotopolimerizáveis. catalisador (HCl ou NaOH ou NH4F) hν ou calor fotoiniciador Figura 3.11 – Síntese de materiais híbridos fotopolimerizáveis. Geralmente, a fotopolimerização é activada recorrendo a fotoiniciadores. A função de um fotoiniciador é converter a energia captada da radiação em energia química, produzindo espécies (radicais livres ou iões) iniciadoras da polimerização. O processo da fotopolimerização tem sido estudado, do ponto de vista químico, envolvendo vários fotoiniciadores [40-43]. Para obter uma fotopolimerização eficiente, é conveniente que a banda de absorção do próprio fotoiniciador se sobreponha ao espectro de emissão da fonte de radiação disponível. Em geral, a exposição UV com uma lâmpada de mercúrio tem sido o sistema de cura dominante [44]. No entanto, foi demonstrado que a fotopolimerização pode ocorrer eficientemente sem o recurso a fotoiniciadores, utilizando a radiação UV de um laser de excímeros (248 nm) [45]. A utilização de um comprimento de onda inferior para a litografia permite melhor resolução na definição de microestruturas. Por outro lado, o facto de não usar fotoiniciadores pode constituir uma vantagem adicional, uma vez que a sua natureza orgânica (presença de ligações C-H) pode afectar a transparência na região espectral importante de 1550 nm. A utilização de um feixe de electrões suficientemente energéticos possibilita, igualmente, a polimerização, mas o uso de um fotoiniciador aumenta a sensibilidade do material [46]. Existem vários parâmetros, directa e indirectamente relacionados com a fotopolimerização, que afectam o índice de refracção do material (parâmetro importante em Óptica Integrada), tais como a espessura do filme depositado, a densidade de potência da radiação UV, o tempo de exposição à radiação UV, e o tipo de fotoiniciador. É facilmente compreensível que, quanto maior for a densidade de potência da radiação UV utilizada, menor deverá ser o tempo de exposição para uma polimerização completa. Para além 62 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido disso, para uma determinada densidade de potência, o tempo de exposição será tanto maior quanto maior for a espessura do filme depositado para dar origem ao guia de onda. O tempo de exposição à radiação UV altera o índice de refracção do material a polimerizar, aumentando-o até atingir um ponto de saturação. A figura 3.12 mostra a dependência do índice de refracção do material (MAPTMS com 40% de ZrO2 e o fotoiniciador Irgacure 184) com o Incremento no índice de refracção (∆n) tempo de exposição, na fabricação de um guia planar e de um guia em canal [44]. Guia planar Guia em canal Tempo de exposição UV (min) Figura 3.12 – Variação do índice de refracção em função do tempo de exposição UV, na fabricação de guias planares e em canal [44]. A escolha adequada do fotoiniciador pode permitir maximizar a eficiência da fotopolimerização e, desejavelmente, reduzir o tempo de exposição UV. Uma polimerização mais rápida traduz-se numa saturação também mais rápida do índice de refracção do material. A figura 3.13 mostra a dependência da variação do índice de refracção com o tempo de exposição UV (usando uma lâmpada de mercúrio de 200 W, com várias riscas de emissão entre 250 nm e 365 nm), para diferentes fotoiniciadores [47]. Pela figura, o fotoiniciador Irgacure 1800 atinge o ponto de saturação mais rapidamente, provocando também o maior aumento do índice (∆n=0.013). O uso do fotoiniciador hidroximetilpropiofenona (Darocur) resultou numa fotopolimerização mais selectiva, uma vez que possibilita uma menor difusão da radiação no material quando comparado com os Irgacure 184 ou 819 [48]. Este aspecto constitui uma vantagem acrescida na fabricação de guias em canal por fotolitografia. 63 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido ∆n Tempo de exposição UV (min) Figura 3.13 - Variação do índice de refracção com o tempo de exposição UV para diferentes fotoiniciadores [47]. Em [49], foi demonstrado que a exposição UV em atmosfera inerte (nitrogénio) permite reduzir ainda mais o tempo necessário para atingir a saturação do índice de refracção. O fenómeno da polimerização pode ocorrer também por efeito térmico. Nos materiais híbridos, a temperatura de tratamento térmico não pode ultrapassar temperaturas próximas de 200ºC, temperatura a partir da qual a parte orgânica do material é danificada. As polimerizações por radiação e por efeito térmico foram comparadas, e tal permitiu concluir que o processo de cura por efeito térmico é mais eficiente [50]. Este aspecto pode ser ilustrado com os resultados das figurasfigura 3.14 e Figura 3.15. Na figura 3.14 está representada a variação de índice ∆n de filmes previamente tratados termicamente (para diferentes condições) em função do tempo de exposição UV. A variação de ∆n com o tempo de exposição UV continua a ter o comportamento exibido na figura 3.13, para os diferentes valores da temperatura e do tempo de cura. Assim que o tempo do tratamento térmico (a 150ºC) é progressivamente aumentado de 1 hora para 5 horas, o aumento do índice de refracção com a exposição UV é menor e anula-se praticamente para o tempo de 10 horas. Ou seja, na condição limite do tratamento térmico, a polimerização ocorre totalmente, de forma que o efeito da exposição UV não se faz sentir. Por outro lado, na figura 3.15, está representada a variação de índice em função da temperatura do tratamento térmico, para filmes previamente expostos ao UV com tempos de exposição diferentes. Qualquer que seja o tempo de exposição, o tratamento térmico adicional, acima de uma determinada temperatura, contribui para um aumento acentuado do índice de refracção. 64 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido Tempo de exposição (min) Figura 3.14 - Variação de índice ∆n com a exposição UV, para filmes previamente tratados termicamente em diferentes condições [51]. V corresponde à velocidade de “dip-coating”. Tempo de exposição UV ∆n Temperatura de "post bake" (ºC) Figura 3.15 - Dependência de ∆n com a temperatura de tratamento, em filmes previamente expostos ao UV com tempos diferentes [44]. Os materiais fotopolimerizáveis baseados em MAPTMS têm tido um papel predominante em Óptica Integrada porque apresentam solubilidade diferente, em determinados solventes, quando são fotopolimerizados e quando não o são. Em geral, materiais fotopolimerizados não são solúveis em álcoois (etanol, propanol) e apresentam uma rigidez estrutural reforçada quando comparados com materiais não fotopolimerizados. Estes, porventura, são completamente dissolvidos em álcool. Esta propriedade permite definir microestruturas como, por exemplo, guias em canal, através de processos fotolitográficos. O precursor 3-glicidoxipropiltrimetoxisilano (GPTMOS ou GLYMO) tem sido utilizado na síntese de materiais híbridos polimerizáveis [52]. A sua componente orgânica polimeriza pela abertura do anel epoxi por acção térmica ou radiativa [53]. Apesar de os materiais baseados neste 65 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido precursor terem sido aplicados na fabricação de guias de onda [54], nunca foi claramente demonstrada a funcionalidade fotopolimerização/dissolução que permite a definição simples de microestruturas. 3.6 Fotolitografia Microestruturas em materiais híbridos fotopolimerizáveis podem ser fabricadas recorrendo a um processo fotolitográfico convencional [55]. Os materiais baseados no precursor MAPTMS apresentam um comportamento similar a um “photoresist” do tipo negativo (as zonas expostas ao UV tornam-se insolúveis em determinados solventes). Neste caso, o padrão pretendido é transcrito para o filme através de uma máscara do tipo “dark-field” (o padrão corresponde à zona transparente da máscara) previamente fabricada. As máscaras podem agrupar-se em dois tipos: “dark-field” e “light-field”. Nas primeiras, as zonas que definem as estruturas a fabricar são transparentes à radiação UV. As segundas, são negativos das primeiras, ou seja, as zonas que definem as estruturas são opacas à radiação, como mostra a figura 3.16. (a) (b) Figura 3.16 - Tipos de máscaras utilizadas em processos fotolitográficos: (a) máscara “light field”; (b) máscara “dark-field”; as zonas escuras indicam regiões opacas à radiação UV, enquanto que as zonas claras indicam zonas de transparência. A máscara é constituída por um substrato, essencialmente transparente à radiação UV que o atravessa, sobre o qual é transcrito o padrão que se quer replicar no material a polimerizar. Geralmente, a sílica pura é o material de base para o substrato, uma vez que é mais transparente, para comprimentos de onda mais curtos da zona UV, do que qualquer outro material vítreo existente. O padrão é definido sobre um filme de um material opaco à radiação, depositado sobre o substrato, o que resulta numa máscara de amplitude. O filme pode ser obtido a partir de 66 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido materiais tais como o óxido de ferro e o crómio (transparente e opaco no visível, respectivamente). A escolha da fonte UV é orientada pelo espectro de absorção do material a polimerizar; idealmente, a fonte deve emitir a maior parte da sua potência no comprimento de onda para o qual o material desencadeia o seu processo de polimerização eficientemente. Em geral, a exposição UV é realizada num alinhador de máscaras, instrumento que permite alinhar e colocar em contacto a máscara com o filme (litografia de contacto). A radiação incidente é colimada de modo a minimizar os efeitos resultantes da difracção pelo contorno do padrão definido pela máscara. Estes efeitos são também atenuados com o uso de fontes UV com comprimentos de onda curtos. Em aplicações industriais, é utilizada a litografia de projecção, vocacionada para a produção em massa. 3.7 Aplicações em Óptica Integrada Os materiais híbridos fotopolimerizáveis baseados no precursor MAPTMS têm sido predominantemente utilizados na fabricação de componentes ópticos integrados pelo processo sol-gel híbrido. O primeiro trabalho foi publicado em 1995, ao reportar a demonstração de um acoplador direccional [13]. A deposição de filmes por imersão (“dip-coating”) foi a técnica inicialmente adoptada. Os guias de onda foram definidos por exposição UV, sem revelação, e apresentaram uma perda de propagação de 0.5 dB/cm (a 632.8 nm). Em [56], foi reportado um processo simplificado de fabricação de guias de onda com camada “buffer” numa única deposição (sobre silício) e através do controlo da profundidade da fotopolimerização. A técnica foi aplicada na fabricação de um divisor de potência 1×8, tendo sido indicada uma perda de propagação de 0.1 dB/cm a 1.55 µm. Trabalhos adicionais de desenvolvimento foram sendo publicados [44,47,57,58]. Posteriormente, foi introduzido o processo de revelação para a fabricação de guias de onda do tipo “raised” [59], que foi aplicado na fabricação de um divisor de potência 1×2 usando como dopante o óxido de alumínio [48]. A dopagem combinada com óxido de alumínio e fósforo foi também estudada em [60]. Um estudo mais exaustivo é apresentado em [51], mostrando a dependência do índice de refracção em função de alguns parâmetros de fabricação, como o tempo de exposição UV e o tratamento térmico. Os guias de onda em canal foram fabricados em silício com uma camada “buffer” de silício termicamente oxidado. Em [61], foi demonstrada a fabricação de guias de onda do tipo “buried” sobre silício, utilizando o processo sol-gel híbrido para depositar as camadas “buffer”, núcleo e superestrato. 67 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido Este último foi composto por um material não fotopolimerizável a partir do precursor metiltrimetoxisilano (MTMOS). Foram avaliadas perdas de propagação e de acoplamento a 1.55 µm em 0.1 dB/cm e 0.5 dB/cm, respectivamente. Como se tem vindo a demonstrar posteriormente [25,45], as perdas de propagação a 1.55 µm foram mal avaliadas, uma vez que os materiais híbridos sintetizados pelo processo sol-gel hidrolítico revelam a presença de grupos OH altamente absorventes nessa região espectral. Um conjunto alargado de trabalhos foram publicados sobre a aplicação dos materiais híbridos fotopolimerizáveis na fabricação de redes periódicas ou elementos de difracção utilizando várias técnicas de exposição [46,49,62-69]. Em particular, redes de Bragg em guias de onda em canal foram demonstrados [70,71]. A fabricação é composta por duas etapas: a primeira consiste na fabricação do guia de onda em canal do tipo “raised”, e a segunda consiste na escrita da rede de Bragg por exposição do guia com o feixe de um laser de excímeros (ArF, 193 nm) através de uma máscara de fase. Este tema será apresentado com mais detalhe no capítulo 5. Um caso particular de um deflector de Bragg inscrito directamente num guia de onda foi demonstrado em [72]. Estruturas micro-ópticas como, por exemplo, micro-lentes, também podem ser fabricadas com estes materiais híbridos fotopolimerizáveis [73-75]. Componentes baseados na interferência multimodal (MMI) foram implementados, e tal possibilitou a demonstração de um divisor de potência 1×32 [14,76] e de um acoplador 4×4 [77], que, por sua vez, foi utilizado na demonstração de um dispositivo de desmultiplexagem em comprimento de onda (WDM) [78]. Os materiais híbridos fotopolimerizáveis sintetizados pelo processo sol-gel não-hidrolítico permitem a fabricação de guias de onda com melhor desempenho óptico a 1.55 µm (0.6 dB/cm). A tecnologia desenvolvida foi aplicada na demonstração de um interruptor óptico digital baseado na junção Y, com um tempo de comutação de 3.5 ms [25]. Em [79], foi reportada a realização de um esquema de integração óptica a 2.5 D, que consiste na fabricação de estruturas de guias de onda em multicamadas. Guias de onda do tipo “ridge” podem ser também definidos por processos como a moldagem ou a estampagem [80]. Cristais fotónicos também podem ser criados por acção laser com impulsos femtosegundo nos materiais híbridos fotopolimerizáveis sintetizados pelo processo hidrolítico [81] ou nãohidrolítico [82]. A dopagem dos materiais híbridos fotopolimerizáveis permite funcionalidades adicionais: a dopagem com iões Er3+ foi testada [83,84] para a fabricação de guias de onda activos usados em amplificação óptica a 1.55 µm. 68 Capítulo 3 – A Tecnologia Sol-Gel Híbrido Guias de onda dopados com cromoforos adquirem propriedades electro-ópticas importantes para a fabricação de moduladores electro-ópticos [85]. Alguns trabalhos de investigação têm sido publicados no sentido de optimizar a estabilidade térmica e temporal dos cromoforos em guias de onda [86-88]. Os materiais híbridos fotopolimerizáveis foram também aplicados na fabricação de sensores ópticos químicos integrados, quando dopados com complexos centrados no ruténio [89]. Os materiais híbridos não-fotopolimerizáveis baseados em polidimetilsiloxanos (PDMS) são muito utilizados na réplica de micromoldes para a fabricação de elementos ópticos difractivos, como as microlentes, em materiais híbridos fotopolimerizáveis recorrendo às técnicas de micromoldagem [75,90]. Referência [1] C. J. Brinker and G. W. Scherer, "Sol-Gel Science, The Physics and Chemistry of Sol-gel processing", Academic Press, 1989. [2] A. C. Pierre, "Introduction to Sol-Gel Processing", Kluwer Academic, 1998. [3] K. C. Chen, T. Tsuchiya and J. D. Mackenzie, "Sol-Gel Processing of Silica.1. The Role of the Starting Compounds", Journal of Non-Crystalline Solids, vol. 81, 1-2, pp. 227-237, 1986. [4] E. J. A. Pope and J. D. Mackenzie, "Sol-Gel Processing of Silica.2. The Role of the Catalyst", Journal of NonCrystalline Solids, vol. 87, 1-2, pp. 185-198, 1986. [5] B. Piekarski, M. Dubey, E. Zakar, R. Polcawich, D. DeVoe and D. 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O interesse pelo substrato de silício é justificado, por um lado, por ser um material de baixo custo relativo, uma vez que é amplamente utilizado pela indústria microelectrónica e, por outro lado, por potenciar a possibilidade de integração de funções electrónicas e ópticas na mesma plataforma, dando origem a uma nova geração de microdispositivos. Uma vez que o índice de refracção do silício é elevado (~3.5) quando comparado com o de materiais vítreos, a condição de guiagem óptica é satisfeita quando guias em canal sobre silício apresentarem uma estrutura semelhante à ilustrada na figura 4.1. A separar o canal (núcleo do guia) do substrato de silício está uma camada de barreira, ou “buffer”, cujo índice de refracção é necessariamente inferior ao do material do núcleo. Esta camada deve ser relativamente espessa (na ordem de uma dezena de micrometros) por forma a evitar o acoplamento da luz guiada para o substrato (efeito “leakage”). 75 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Superestrato Núcleo ~4 a 5 µm “Buffer” ~10 µm Substrato de silício Figura 4.1– Esquema da estrutura transversal de um guia de onda em canal do tipo “buried” sobre silício. A sílica é o material ideal para fabricar esta camada porque apresenta excelentes propriedades ópticas [1]. Um método de obter uma camada de sílica sobre silício consiste em oxidar o silício a temperaturas elevadas (da ordem de 1000ºC) [2]. Este processo é, no entanto, dispendioso em termos de consumíveis (energia eléctrica e oxigénio) e excessivamente moroso quando se pretende uma camada da ordem de 5 a 10 µm de espessura. Uma alternativa é utilizar o processo sol-gel para a deposição da camada “buffer”, sendo este um processo de baixa temperatura. O problema que se levanta é o facto de a deposição de uma camada de sílica, sem fracturas, ficar restringida a uma espessura limitada de algumas centenas de nanometros; para atingir a espessura desejável, seria necessário um grande número de deposições sucessivas, tornando o processo complexo e mais sujeito a defeitos. Para além disso, a densificação da camada depositada pelo método sol-gel convencional não evita o recurso a altas temperaturas [3]. Para contornar o problema, a adopção de materiais híbridos, como a sílica organicamente modificada, permite obter camadas com espessuras da ordem dos micrometros numa única deposição, uma vez que a presença da componente orgânica proporciona maior flexibilidade à rede estrutural do material, tornando-a menos sujeita a fracturas. Para além disso, a temperatura de processamento do material híbrido é forçosamente inferior, devido à presença da componente orgânica [4]. Este problema será tratado na secção 4.3. A figura 4.2 ilustra os principais passos do processo de fabricação de um guia de onda em canal do tipo “buried” sobre silício. A fabricação do núcleo em forma de canal constitui a parte central de todo o processo, uma vez que o funcionamento e o desempenho do guia dependerão muito da qualidade desta estrutura. O controlo de algumas características físicas na fabricação é essencial, destacando-se: o controlo do índice de refracção através da concentração de dopante; o controlo e a reprodutibilidade da espessura do filme a partir do qual são definidos, por litografia, os canais; a definição adequada do perfil geométrico dos núcleos, sendo de realçar a reprodução efectiva da largura dos canais imposta pela máscara litográfica, assegurando a verticalidade e minimizando a rugosidade das 76 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos faces laterais. A caracterização destas estruturas em termos de perdas de propagação e microscopia (óptica e electrónica) permitirá avaliar a sua qualidade. Grande parte deste capítulo será dedicado a este tema. Substrato de silício Deposição da camada “buffer” Deposição da camada do núcleo Deposição do superestrato Exposição UV e revelação Figura 4.2 - Processo de fabricação de guias de onda em canal do tipo “buried” sobre silício. Clivagem A cobertura dos guias em canal (superestrato) é essencial, não só para os proteger do meio ambiente, mas também para estabelecer um perfil de índice de refracção desejável. Torna-se possível, em particular, a fabricação de guias de onda em canal com um perfil de índice de refracção simétrico ou quase-simétrico, bastando para tal utilizar um material (igual ou semelhante ao do “buffer”) com um índice de refracção igual ou próximo do índice da camada de “buffer”. É essencial, naturalmente, que o material do superestrato resista ao tratamento térmico final sem fracturar e revele baixa absorção nos comprimentos de onda de interesse. Em conformidade com o exposto anteriormente, a atenção será focalizada nos materais híbridos e a descrição do trabalho desenvolvido encontra-se na secção 4.4. Finalmente, será apresentado um comentário crítico sobre o trabalho apresentado neste capítulo. 77 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos 4.2 Fabricação e caracterização de guias de onda do tipo “raised” Esta secção apresenta o procedimento completo para a fabricação adequada de núcleos em forma de canal e apresenta alguns estudos que visam a optimização e reprodutibilidade dos resultados. A figura 4.3 mostra a sequência das etapas intervenientes no processo de fabricação. Síntese da solução Deposição por “spin-coating” Secagem UV máscara Revelação por dissolução com solvente Zonas expostas polimerizadas Exposição à radiação UV Figura 4.3 – Processo de fabricação detalhado de núcleos em forma de canal. Este processo começa com a síntese de uma solução (ou sol) que é utilizada para a deposição de um filme. Após um tratamento térmico suave para secar o filme e torná-lo suficientemente resistente para permitir o contacto com uma máscara litográfica sem danificar ou riscar o próprio filme, este é exposto selectivamente à radiação UV. Esta etapa torna as zonas expostas insolúveis a determinados solventes. Assim, as zonas não expostas podem ser simplesmente removidas por dissolução. Após uma lavagem com água, segue-se um tratamento térmico final opcional de consolidação. Para finalizar, as duas extremidades da amostra são cuidadosamente clivadas de modo a permitir um acoplamento adequado às fibras ópticas. A optimização do processo de fabricação conduz ao planeamento de um conjunto de estudos que, habitualmente, envolve um elevado número de amostras. É, portanto, conveniente que os testes sejam realizados directamente num substrato que seja de baixo custo e com um índice de refracção inferior ao do material do núcleo. A facilidade na aquisição de lâminas de vidro “sodalime” em grandes quantidades e a baixo preço torna a escolha óbvia; são substratos com um 78 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos índice de refracção 1.513 a 632.8 nm e são fornecidos com as dimensões 76×26×1 mm3. Dada a inutilidade de um comprimento tão elevado para fabricar guias de onda, estas lâminas foram rentabilizadas com o corte em duas partes iguais. 4.2.1 Preparação de substratos de vidro A preparação de substratos (que inclui o corte de lâminas de vidro em duas partes iguais e sua respectiva limpeza) em grandes quantidades necessita de um procedimento de corte produtivo. Neste sentido, houve necessidade de projectar um dispositivo que permite imobilizar um número razoável de lâminas, sendo estas separadas entre si por um papel macio e absorvente à água para evitar o contacto directo e, assim, o perigo de se riscarem. A maior simplicidade com que os substratos resultantes são limpos é outra vantagem desta técnica; após o corte, a lavagem com água e detergente, com a posterior passagem por ar comprimido para secagem é suficiente para remover os resíduos mais visíveis. Os substratos devem, preferencialmente, ser sujeitos a uma limpeza mais rigorosa. Existe um procedimento padrão de limpeza indicado para substratos de vidro: • Os substratos são sucessivamente colocados em banho ultrasónico de tricloroetileno, acetona e etanol durante 10 a 15 min para cada banho; são, posteriormente, enxaguados com água desionizada e secos com ar comprimido filtrado. Na prática, este procedimento pode consumir muito tempo quando aplicado a um número elevado de substratos e pode ser simplificado, obtendo-se aparentemente um grau de limpeza semelhante por um banho ultrasónico único de etanol seguido de um enxaguamento com água desionizada; esta via é perfeitamente aceitável quando se trata de substratos para testes iniciais. No entanto, o procedimento anterior nem sempre é eficaz e podem permanecer algumas impurezas orgânicas na superfície do substrato; nesses casos, e sempre que é exigido um elevado grau de limpeza, o substrato pode ser tratado por uma solução denominada “piranha” [5]. Apesar de existirem várias versões sobre a composição desta solução, aquela que foi utilizada e se revelou eficaz conduziu ao seguinte procedimento: • A solução é composta por 3 partes, em volume, de ácido sulfúrico e 1 parte de peróxido de hidrogénio. Num frasco, adiciona-se, primeiro, o ácido sulfúrico e vai-se adicionando lentamente o peróxido de hidrogénio, uma vez que a reacção entre os dois compostos é altamente exotérmica. Coloca-se nessa solução o(s) substrato(s) durante uns 15 a 20 minutos, mantendo a temperatura a rondar os 100ºC. Após um enxaguamento com água desionizada, segue-se a secagem com ar comprimido filtrado. É de realçar que a solução 79 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos não é reutilizável; a solução usada deve ser armazenada num frasco para, posteriormente, ser convenientemente tratada (por razões de segurança, é extremamente importante que a solução arrefeça para a temperatura ambiente antes de ser armazenada). 4.2.2 Síntese da solução [6,7] As características do material final dependem da natureza dos precursores e do processo de síntese (receita) da solução. A síntese da solução baseia-se no processo sol-gel hidrolítico e envolve precursores que podem ser adquiridos em empresas comerciais, como ABCR e Aldrich. 4.2.2.1 Os precursores • MAPTMS (metacriloxipropiltrimetoxisilano) H H H H O H C C C O CH3 OCH3 C C C Si OCH3 H H H OCH3 Figura 4.4 - Formula química da molécula de MAPTMS. O precursor MAPTMS é o composto central que fornece os elementos Si-O para a formação da matriz de sílica e a componente orgânica que confere ao material a propriedade fundamental de fotopolimerização. A sua molécula contém três radicais metóxido e uma ligação Si-C com uma componente orgânica não hidrolisável pertencente à família dos metacrilatos (figura 4.4). Esta componente possui uma dupla ligação não saturada C=C que é quebrada através de radiação UV suficientemente energética, dando origem a um radical livre e sendo, portanto, responsável pelo mecanismo da fotopolimerização. • TPZ (tetrapropóxido de zircónio) H7C3O OC3H7 Zr H7C3O OC3H7 Figura 4.5- Formula química da molécula de TPZ. 80 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Este precursor é utilizado para aumentar e controlar o índice de refracção do material. É altamente reactivo à humidade e, por isso, tem tendência a precipitar. O seu manuseamente exige um ambiente seco, que pode ser proporcionado por uma caixa de luvas com atmosfera de azoto, ou por uma atmosfera com humidade controlada de uma sala limpa. • MAA (ácido metacrílico) O HO C H C CH3 C H Figura 4.6 - Formula química da molécula de MAA. O MAA é um modificador químico utilizado para estabilizar o TPZ, impedindo-o de precipitar prematuramente. A sua estrutura química (figura 4.6) é semelhante à da componente orgânica do MAPTMS; possui uma dupla ligação C=C e, através dela, pode-se combinar com a molécula de MAPTMS através do processo de fotopolimerização. • Catalisador O catalisador é utilizado para acelerar o processo de hidrólise de precursores menos reactivos, como é o caso do MAPTMS. O ácido clorídrico (HCl) é normalmente empregue para catálise ácida. Para a catálise básica, é utilizada a base hidróxido de amónio (NH4OH). Os catalisadores são adicionados sob a forma de solução aquosa com uma concentração pré-estabelecida. • Solvente O solvente é adicionado para estabelecer a viscosidade que se pretende para a solução e, geralmente, é um álcool como o metanol (MeOH), o etanol (EtOH) ou o propanol (PrOH). No entanto, e para o efeito, o uso do etanol revela-se mais vantajoso uma vez que é menos nocivo do que o metanol e evapora mais rapidamente do que o propanol. 4.2.2.2 Formulação da solução A figura 4.7 esquematiza o procedimento na preparação da solução. 81 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Estabilização de TPZ: Pré-hidrólise de MAPTMS: EtOH + TPZ + MAA EtOH + MAPTMS + Água (0.1 M HCl) (a) (b) 1 h de agitação 20 min de agitação Dopagem de MAPTMS: Junção de (a) em (b) (c) 20 min de agitação Hidrólise completa: (c) + Água (0.1 M HCl) (d) 30 min de agitação Filtragem e Deposição Figura 4.7 – Esquema geral do procedimento de preparação da solução. A preparação da solução comporta três etapas: (a) modificação química do precursor TPZ e (b) pré-hidrólise do precursor MAPTMS; (c) mistura de TPZ com MAPTMS; (d) hidrólise completa (ou segunda hidrólise). O precursor MAPTMS é consideravelmente menos reactivo do que o TPZ e, por isso, a hidrólise de ambos misturados conduz à precipitação indesejada do TPZ (solução com aspecto esbranquiçado). Para evitar esse resultado, realiza-se, por um lado, uma modificação química do TPZ de modo a diminuir a sua reactividade e, por outro lado, antecipase a hidrólise através de uma pré-hidrólise do MAPTMS, utilizando uma parte do volume total 82 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos de água necessário para a hidrólise e condensação completa de todos os grupos alcóxidos. Este volume é calculado através da razão molar água/precursor (rw(precursor)) que, teoricamente, corresponde a metade do número de grupos alcóxidos hidrolisáveis existentes na molécula do precursor. Como exemplo, o MAPTMS possui 3 grupos metóxidos hidrolisáveis e, portanto, o valor atribuído a rw é de 1.5. (a) A quantidade pretendida de TPZ é estabilizada com MAA e diluída com EtOH numa proporção molar relativa de 1:1:3, respectivamente. A mistura é realizada por junção sucessiva de EtOH, TPZ e MAA sob agitação magnética e permanece, sob agitação e em recipiente fechado, durante 1 hora. A reacção da molécula de MAA com a molécula de TPZ, ilustrada na figura 4.8, provoca uma diminuição do número de coordenação desta, tornando-a menos reactiva com a humidade. Zr H7C3O O OC3H7 H7C3O + OC3H7 (TPZ) H O C C CH3 (MAA) H H7C3O H H7C3O C OC3H7 Zr O O H C C CH3 + C3H7OH C H Figura 4.8 - Esquema da reacção de estabilização de TPZ com MAA. (b) O precursor MAPTMS é pré-hidrolisado utilizando metade do volume total de água, ou seja, um volume correspondente a rw(MAPTMS)=0.75. A água é, na verdade, uma solução aquosa de HCl com uma concentração de 0.1 M (significa 0.1 mol de HCl diluído em 1 litro de água desionizada), previamente preparada. A mistura de MAPTMS com a água resulta, inicialmente, numa solução heterogénea que, sob forte agitação, transita para uma solução turva e, posteriormente, para uma solução homogénea e translúcida. O conjunto dessas transições ocorre num período entre 2 a 3 minutos, dependendo do grau de agitação da solução. O estado turvo da solução resulta da desfragmentação das bolhas de água inicialmente formadas, uma vez que o MAPTMS e a água não são miscíveis. A transição para o estado translúcido é repentina mas perceptível a olho nú, e indicia a hidrólise do precursor MAPTMS. No entanto, é conveniente evitar qualquer estado heterogéneo para a solução; a adição inicial de solvente (EtOH) permite a diluição simultânea do precursor MAPTMS e da água, garantindo a permanente homogeneidade da solução. A pré-hidrólise de MAPTMS é realizada pela junção sucessiva das quantidades correspondentes de EtOH, MAPTMS e água (0.1 M HCl), sendo deixada a preparação em agitação moderada (e em recipiente fechado) durante 20 minutos. A quantidade de EtOH que se adiciona determinará a viscosidade da solução final. Nesta 83 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos formulação, o volume de EtOH é estabelecido como sendo metade do volume correspondente ao precursor MAPTMS. (c) A dopagem de MAPTMS com óxido de zircónio é efectuada com a rápida adição do TPZ estabilizado ao MAPTMS pré-hidrolisado e contido num recipiente. A junção é acompanhada de forte agitação para uma diluição mais rápida, resultando, possivelmente, numa distribuição mais homogénea do elemento dopante. A solução resultante é deixada sob agitação (em recipiente fechado) durante 20 minutos. (d) Lentamente, é adicionada a restante quantidade de água acidificada (0.1 M HCl) até completar o volume correspondente a rw(MAPTMS)=1.5. É de salientar que não é necessário contabilizar o volume de água correspondente à hidrólise de TPZ, uma vez que este reage facilmente com a humidade existente na atmosfera. A solução é mantida, em recipiente fechado, sob agitação moderada durante 30 minutos, antes de ser utilizada para a deposição. Nenhum fotoiniciador é adicionado à solução. Devido às diferentes características evidenciadas pelos materiais com diversas concentrações de dopante, todos os estudos apresentados neste capítulo foram efectuados a partir de uma solução dopada com uma concentração molar relativa MAPTMS:TPZ de 10:4. 4.2.3 Deposição de filmes A deposição de filmes é, provavelmente, a etapa mais complexa de todo o processo de fabricação e, simultaneamente, a mais importante, uma vez que condiciona os resultados em todas as etapas posteriores. Um processo de deposição adequado deve satisfazer os seguintes requisitos: • Garantir a formação de um filme de boa qualidade: a qualidade de um filme é avaliada em termos de defeitos e uniformidade do filme; essa avaliação é feita por inspecção à vista desarmada. Geralmente, os defeitos nos filmes têm a sua origem na própria solução (eventuais partículas contaminantes e formação indesejada de aglomerados de grandes dimensões) e podem ser eliminados por um processo de filtragem (utilizando filtros com porosidade 0.2 µm e membrana em PVDF). A uniformidade do filme depende, fundamentalmente, da eficácia da técnica de deposição. • Permitir o controlo rigoroso da espessura do filme: o controlo da espessura passa por um processo de calibração em que a espessura de um filme é feita depender unicamente de um parâmetro associado ao tipo de deposição. Se a deposição for realizada por rotação (“spin-coating”), o parâmetro usado na determinação da 84 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos espessura é a velocidade de rotação; se for realizada por imersão (“dip-coating”), o parâmetro é a velocidade de translação. • Garantir a reprodutibilidade: a reprodutibilidade da técnica de deposição é testada através da produção de um número razoável de amostras nas mesmas condições nominais de deposição. O processo de “spin-coating” foi reconhecido como o mais vantajoso por diversas razões: é uma tecnologia suficientemente desenvolvida e largamente utilizada pela indústria dos semicondutores na deposição de “photoresist”; a deposição de um filme numa única face do substrato é mais apropriada ao restante processamento do que o revestimento em ambas as faces (como acontece no “dip-coating”), e resulta na cobertura de toda a área da superfície do substrato; torna-se mais económico no que respeita ao consumo de solução, uma vez que não necessita de uma grande quantidade de solução para a formação de um filme, como aconteceria numa deposição por imersão do substrato. Numerosos testes de deposição permitiram concluir que o comportamento da solução difere daquele que se conhece sobre os “photoresists”: a simples aplicação da solução sobre o substrato e a consequente rotação em alta velocidade não é suficiente para a obtenção de um filme de boa qualidade e com espessura controlada. O estabelecimento de uma técnica eficaz de deposição força à identificação de alguns parâmetros que, eventualmente, possam influenciar a qualidade e a espessura final do filme, sendo estes: • A viscosidade inicial da solução (que depende da relação volumétrica precursores/solvente e do tempo de agitação ou envelhecimento). • A quantidade de material aplicado no substrato. • O tempo de estabilização da solução, contado imediatamente após a aplicação (esse tempo deverá ter influência na viscosidade da solução depositada, devido à evaporação do solvente). • O processo de baixa rotação para homogeneizar a solução (processo introduzido por contribuir para uma melhoria significativa da qualidade final do filme). • Condições ambientais proporcionadas (existem duas possibilidades: processo nãoisolado, ou seja, em condições atmosféricas do laboratório; processo isolado, usando uma tampa de vidro sobre o “spinner”; no segundo caso, é possível, ainda, proporcionar uma atmosfera saturada de solvente) • condições da alta rotação (velocidade e tempo de rotação). 85 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Como foi anteriormente referido, a viscosidade da solução é controlada pelo uso do solvente, e deve permanecer invariável no tempo de vida útil. A viscosidade da solução com 40% de ZrO2 foi medida 30 minutos após a sua síntese e ao longo de 7 horas, utilizando um viscosímetro de rotação (Antoon Paar DV-1P) com o respectivo acessório para pequenos volumes. A invariância temporal da viscosidade verificada permite o uso da solução sem a dependência deste parâmetro. A viscosidade da solução a partir da qual são depositadas as camadas de núcleo é, portanto, um parâmetro controlável e tem o valor 6.4 cP. Um aspecto negativo da solução sintetizada é o facto de não ser reutilizável nos dias seguintes à sua síntese devido ao défice de homogeneidade da solução no momento da deposição, dando origem a filmes extremamente rugosos. Vários testes efectuados indicaram que a quantidade de solução aplicada na deposição de um filme é um parâmetro importante; foi determinado como sendo o volume mínimo de solução suficiente para uma total cobertura da superfície do substrato. Este parâmetro é dependente da viscosidade (a cobertura de uma superfíce com uma solução mais viscosa requer um maior volume de solução). Para a área correspondente aos substratos utilizados, foi determinado um volume de 200 µl, o que corresponde a um volume por unidade de área de 0.21 µl/mm2, aproximadamente. Uma técnica de deposição adequada será aquela que apresentar o menor grau de personalização, isto é, não depender do método e da sensibilidade do experimentalista para a deposição e dela resultar a espessura desejada de um modo reprodutível. Naturalmente, um processo automático de deposição é sempre considerado uma vantagem acrescida. A experiência mostrou que, após a aplicação da solução no substrato, é necessário um período de estabilização antes de o substrato ser submetido a alta rotação. É nesse período que a evaporação do solvente contido na solução tem lugar, dando origem ao aumento da viscosidade. O simples isolamento do “spinner” com uma tampa de vidro permite obter uma atmosfera suficientemente controlada para evitar uma rápida evaporação do solvente. O equilíbrio encontrado no período de estabilização da solução é perceptível à vista desarmada e tem como resultado uma solução homogénea com a interface solução/ar muito regular. A técnica de deposição estabelecida é composta por uma sequência de três movimentos de curta duração (1s) a baixa rotação (500 rpm) seguidos de um período de repouso. O primeiro movimento de baixa rotação (com a duração de 1 s) é aplicado 30 s após a aplicação da solução sobre o substrato. Após este movimento, a solução manifesta ainda um aspecto irregular, que vai desaparecendo após um período de repouso de 29 s. Um segundo movimento de baixa rotação de 1 s é novamente aplicado, seguido de um tempo de repouso de 29 s. Nesta etapa, a solução começa a manifestar uma maior estabilidade perante o movimento de rotação. Um terceiro movimento, ainda de baixa rotação, é aplicado durante um 86 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos intervalo de tempo de X segundos, que determina a gama de espessuras pretendida para os filmes. Nesta fase, o filme já se encontra estável e regular e apresenta um bordo relativamente espesso nos limites do substrato. Após um período de repouso de 30 s, é aplicado o movimento de alta rotação. A velocidade da última rotação é o parâmetro que determina a espessura final do filme, cuja dependência está representada pelas curvas de calibração da figura 4.9. A atribuição de um tempo de 3 s para o parâmetro X estabelece um intervalo entre 2 a 4 µm para velocidades de rotação entre 850 a 3000 rpm. Para X=15 s, a gama de espessuras é deslocada para um intervalo de maior interesse para a fabricação de dispositivos (4 a 6 µm). 6,0 5,5 X=15s Espessura (µm) 5,0 4,5 4,0 3,5 X=3s 3,0 2,5 2,0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Velocidade de rotação (rpm) Figura 4.9 – Curvas de calibração da espessura de filmes em função da velocidade da alta rotação (durante 60 s), obtidas com dois tempos diferentes de baixa rotação. O parâmetro B da expressão 3.4 (capítulo 3) pode ser determinado a partir dos gráficos anteriores em escala logarítmica. Foram obtidos os valores de 0.31±0.03, para a curva correspondente a X=15s, e 0.39±0.03 para a curva correspondente a X=3s, valores que diferem por um factor de 2 do valor esperado de acordo com o modelo de deposição apresentado no capítulo 3. Este resultado não é, no entanto, nada surpreendente, uma vez que a técnica utilizada não comporta as mesmas etapas consideradas no modelo. 4.2.4 Secagem do filme A secagem do filme pode ser realizada num forno convencional, no ar. A temperatura e tempo de secagem são os dois parâmetros relevantes e são determinados de modo a maximizar a temperatura e, consequentemente, diminuir o tempo de secagem até que o filme se apresente completamente seco e sem aderência (quando em contacto com uma máscara), mas mantendo a 87 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos boa capacidade de se dissolver por um solvente (etanol, por exemplo). As amostras para os testes foram preparadas de acordo com a tabela 4.1. Amostras S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 Processo de secagem Temperatura (ºC) Tempo (min) 65 60 100 60 100 45 100 30 100 15 100 10 100 5 Tabela 4.1 - Amostras preparadas para optimizar o processo de secagem. Verificou-se que, para uma secagem efectuada a 65ºC, o filme ainda apresentava alguma aderência à máscara, o que não é conveniente. A temperatura de 100ºC revelou-se apropriada, uma vez que, para os tempos de 30, 45 e 60 minutos, os filmes se encontravam completamente secos e sem aderência. Para identificar o tempo adequado, as amostras foram parcialmente mergulhadas em etanol e verificou-se que, para tempos superiores a 30 minutos, a dissolução ocorria mais lentamente e era incompleta; por outro lado, para tempos inferiores a 30 minutos (5, 10 e 15 min), os filmes ainda apresentavam aderência. Assim, deste estudo resultou um processo de secagem optimizado, realizado a uma temperatura de 100ºC durante 30 minutos. Temperaturas superiores a 100ºC tendem a polimerizar termicamente o filme, o que o torna, posteriormente, de difícil dissolução. 4.2.5 Litografia UV A fotopolimerização confere ao material híbrido a propriedade de insolubilidade (funcionamento semelhante ao de um “photoresist” negativo) face a solventes de que são exemplos os alcoóis em geral (metanol, etanol, propanol, etc.), a acetona e o tetracloreto de carbono. A inscrição de microestruturas, como guias de onda em canal, requer uma máscara litográfica (fabricação apresentada no anexo C) do tipo “darkfield” (o padrão a transferir corresponde à zona transparente). As zonas do material não expostas são simplesmente dissolvidas quando a amostra é submersa em etanol durante 1 minuto, aproximadamente. O processo de exposição UV está condicionado por vários factores: o comprimento de onda da radiação da fonte UV, o grau de colimação do feixe, a energia fornecida pela radiação incidente, e o contacto entre o filme e a máscara. 88 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos 1,75 1,50 Absorção (u. a.) 1,25 1,00 0,75 0,50 0,25 0,00 225 250 275 300 325 350 375 400 Comprimento de onda (nm) Figura 4.10 - Espectro de absorção do precursor MAPTMS na região UV. O material híbrido é apenas fotopolimerizável quando é exposto a radiação UV cujo comprimento de onda seja inferior a 300 nm. Esta propriedade é confirmada pelo espectro de absorção do precursor MAPTMS na zona do UV, adquirido com um espectrofotómetro (Hitachi, modelo U2010) utilizando uma cuvette de sílica fundida com o precursor MAPTMS fortemente diluído em etanol (solvente tranparente no intervalo espectral entre 225 nm e 400 nm). O espectro resultante da figura 4.10 foi compensado da absorção conjunta da cuvette e do etanol. A radiação absorvida é, essencialmente, utilizada na quebra das ligações duplas C=C, com a consequente polimerização orgânica. Os alinhadores de máscaras convencionais vêm munidos de uma lâmpada de mercúrio (Hg) com risca de emissão a 365 nm. Este comprimento de onda corresponde a uma energia dos fotões insuficiente para desencadear o processo de polimerização, daí a necessidade de adicionar à solução um fotoiniciador apropriado. Contudo, existem lâmpadas de Hg de menor potência óptica, com uma das riscas de emissão centrada em 255 nm (figura 4.11), como é o caso das lâmpadas Philips TUV 15W/G15 T8, que podem ser utilizadas quando a colimação da radiação não é exigida, como é o caso da formação de guias planares. Um conjunto de 6 lâmpadas tem a possibilidade de polimerizar vários filmes, simultaneamente, num intervalo de uma hora. O recurso a um laser de excímeros (KrF) pulsado, emitindo a 248 nm, oferece algumas vantagens: um comprimento de onda mais curto possibilita maior resolução na definição de microestruturas; a radiação é suficientemente energética para desencadear a fotopolimerização sem a necessidade de adicionar fotoiniciadores; o feixe de saída já apresenta um forte grau de colimação; a potência óptica emitida é largamente suficiente e possibilita um tempo de exposição relativamente curto; apesar das dimensões do feixe incidente serem muito limitadas (2.5 × 1 cm2, 89 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos aproximadamente), existe a possiblidade de serem alargadas com recurso a sistemas de ampliação, colimação e alinhamento já desenvolvidos (pela indústria dos semicondutores) e disponíveis comercialmente (litografia UV de projecção [8]). A única desvantagem aparente está associada ao aumento dos custos relativamente à aquisição de um laser de excímeros (fonte UV relativamente dispendiosa) e à obrigatoriedade em usar máscaras produzidas em sílica fundida (material transparente a 248 nm), mas torna-se pouco importante quando a finalidade é a produção em massa. Figura 4.11 - Espectro de emissão das lâmpadas de Hg utilizadas (TUV 15W/G15 T8). A colimação do feixe incidente é uma característica indispensável para a definição de um guia de onda, como mostra a figura 4.12, ao comparar um guia definido através do feixe colimado de um laser de excímeros com um guia definido pela radiação não colimada de uma lâmpada de mercúrio. (a) (b) Figura 4.12 - Comparação entre um guia de onda em canal definido com radiação colimada e não colimada; (a) Guia definido com radiação colimada do laser de excímeros; (b) Guia definido com radiação não colimada de uma lâmpada de mercúrio. Não menos importante é o modo como o contacto entre o filme e a máscara é realizado. O simples contacto estabelecido unicamente com o peso da máscara resulta em guias de onda cujo perfil apresenta uma forma trapezoidal (figura 4.12 (a) e figura 4.13 (a)). No entanto, 90 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos pressionando ligeiramente a máscara sobre o filme, durante o tempo de exposição, a verticalidade das faces laterais do guia é bastante melhorada, como mostra o exemplo da figura 4.13 (b). 5 µm (a) 5 µm (b) Figura 4.13 - (a) Guia de onda em canal apresentando secção trapezoidal; (b) guia em canal com a verticalidade das faces laterais melhorada. Uma ánalise mais detalhada ao microscópio electrónico (figura 4.14) de um exemplo de uma estrutura MMI em guias de onda lineares permite avaliar a rugosidade superficial das suas faces: a rugosidade da superfície paralela ao substrato depende da qualidade da deposição do filme e é inferior a 5 nm; por outro lado, como resultado do ataque químico pelo solvente na interface criada entre o material fotopolimerizado e o não-polimerizado, a rugosidade encontrada nas faces laterais é comparativamente mais acentuada, embora inferior a 50 nm. Face superior do guia Face lateral do guia 0.25 µm (a) (b) Figura 4.14 - (a) Imagem obtida com microscópio electrónico de uma estrutura MMI com guias de onda em canal; (b) detalhe das faces. Por fim, a energia da radiação incidente e emitida pelo laser de excímeros pulsado depende de três parâmetros: fluência, frequência dos impulsos, e tempo de exposição. A energia e a 91 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos frequência dos impulsos laser são determinados de modo a não danificar a máscara. A exposição com uma fluência elevada provoca a danificação do filme de NiCr, destruindo o padrão nele produzido; por outro lado, o uso de impulsos com energias próximas do limite mínimo permitido para o funcionamento do laser origina uma distribuição de intensidade do feixe pouco uniforme. A solução consistiu em usar energias mais elevadas e colocar no caminho óptico um divisor de potência em vez de um espelho. Usualmente, a energia e a frequência dos impulsos foram fixadas em 300 mJ e 10 Hz, respectivamente. A energia dos impulsos incidentes não deve ultrapassar o valor de 100 mJ sob risco de danificar a máscara. A fluência efectiva de incidência é de cerca de 40 mJ/cm2. A figura 4.15 ilustra a montagem experimental utilizada para a exposição UV optimizada. UV Pressão Pressão máscara amostra Plataforma (b) (a) Figura 4.15 - Montagem experimental utilizada para a exposição UV optimizada. Fixadas a fluência e a frequência dos impulsos, a energia total incidente passa a ser determinada pelo tempo de exposição; o valor óptimo para o tempo de exposição é aquele que estabelece uma sintonia entre a largura do guia fabricado e a largura da linha correspondente da máscara. A máscara primária para a definição de guias de onda lineares, utilizada neste trabalho, contém 10 grupos de 10 linhas com larguras de 4, 6, 8, ..., 20 e 24 µm. A figura 4.16 compara a largura de guias de onda, definidos com tempos diferentes de exposição UV, com a largura das respectivas linhas da máscara utilizada (réplica da máscara primária). As linhas da máscara fabricada resultaram mais largas em 1 µm comparativamente às linhas da máscara primária. Apesar de a diferença não ser significativa, verifica-se que, para uma exposição de 15s, a largura dos guias é ligeiramente inferior à largura das respectivas linhas da máscara. Por outro lado, para uma exposição de 45s, ocorre o oposto: a largura dos guias em canal começa a ultrapassar a 92 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos largura das linhas da máscara. A correspondência adequada é encontrada para um tempo de exposição de 30s. 5 µm 15s 30s 45s Figura 4.16 – Comparação da largura de guias de onda em canal fabricados com tempos diferentes de exposição UV com a largura das respectivas linhas na máscara (bandas escuras). Uma exposição UV excessiva resulta em guias de onda em canal evidenciando uma rugosidade acentuada das faces laterais do guia, facilmente distinguível da originada pelas imperfeições de uma máscara, como ilustra a figura 4.17. Irregularidades causadas pelas imperfeições de uma máscara. (a) (b) Figura 4.17 - Microfotografias de: (a) Guias com irregularidades causadas por exposição excessiva (90s de exposição); (b) Guia em canal que apresenta irregularidades nas paredes provocadas pelas imperfeições da máscara. Este processo, baseado na fotopolimerização, não se restringe apenas à fabricação de guias de onda lineares, antes pode ser aplicado na fabricação de outras estruturas como, por exemplo, junções em Y, bastando, simplesmente, alterar o padrão inscrito na máscara litográfica. As junções em Y são normalmente aplicadas em divisores de potência óptica, cujo desempenho depende criticamente da qualidade da geometria produzida. A figura 4.18 mostra duas junções em Y de um divisor de potência 1×4, observadas ao microscópio óptico. 93 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos 150 µm Figura 4.18 - Microfotografias de junções em Y de um divisor de potência 1×4. Uma boa qualidade da zona das junções é crucial para conseguir minimizar as perdas de propagação ao longo do dispositivo. À medida que os detalhes das microestruturas se tornam mais complexos, a exigência sobre o processo de fabricação vai aumentando. Como exemplo ilustrativo, a figura 4.19(a) mostra o caso de uma junção de baixa qualidade que resultou, eventualmente, de um ligeiro excesso de exposição UV; por outro lado, a junção (b) apresenta excelente qualidade. 50 µm (a) 50 µm (b) Figura 4.19 - Microfotografias de: (a) Junção de baixa qualidade; (b) Junção de boa qualidade. Uma outra configuração interessante resulta quando é utilizada uma máscara do tipo “lightfield”. Este tipo de máscara permite obstruir a incidência da radiação UV apenas nas zonas do filme correspondentes aos canais. O resultado consiste em canais produzidos no filme fotopolimerizado, como mostra a figura 4.20 (canais vistos de topo). Existe, claramente, uma boa definição do perfil dos canais, cuja profundidade corresponde precisamente à espessura do filme depositado. 94 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos (a) (b) Figura 4.20 - (a) Conjunto de canais abertos vistos de topo; (b) Canal aberto ampliado. Este género de estruturas pode ser muito útil quando os canais são preenchidos com materiais não fotopolimerizáveis, mas que apresentam outras funcionalidades. 4.2.6 Tratamento térmico final Pretende-se, neste processo, a estabilização estrutural e a densificação do material, na tentativa de reduzir as perdas de propagação. O estudo do tratamento térmico foi aplicado inicialmente aos filmes planares (MAPTMS com 40% ZrO2). A temperatura adequada é imposta pela resposta dos filmes ao tratamento térmico. Alguns valores da temperatura foram testados (130, 150 e 180ºC) utilizando, para cada um deles, tempos diferentes (6, 12 e 24h). Um problema geralmente encontrado quando se efectua este tipo de processamento é a fractura dos filmes. Os filmes resistiram às fracturas somente quando foi aplicada a temperatura de 130ºC; para as restantes temperaturas, os filmes tendiam a fracturar parcialmente (150ºC) ou completamente (180ºC). No tratamento a 150ºC, a ocorrência de fracturas depende, fundamentalmente, da espessura do filme: filmes mais espessos (à volta de 10 µm) tendem a fracturar numa área mais alargada; por outro lado, a aplicação de tempos mais longos altera a transparência, resultando numa cor amarelada, o que poderá indiciar o início da degradação da componente orgânica. De resultados publicados [7] e mencionados no capítulo 3, foi demonstrado que o tratamento térmico provoca um aumento do índice de refracção do material até à saturação; um tratamento a 150ºC, durante 10 horas, de um filme não polimerizado (por não ter sido exposto ao UV) é suficiente para polimerizar totalmente o material e saturar o índice de refracção. A questão que permanece é se o tratamento térmico contribui para a diminuição das perdas de propagação; esta questão será respondida na secção que aborda a caracterização dos guias em canal. 95 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos 4.2.7 Acoplamento com as fibras ópticas A última etapa na fabricação de um componente óptico consiste no tratamento dos topos dos guias de onda, na entrada e na saída da amostra, de modo a optimizar o acoplamento de luz à fibra óptica. Este tratamento consiste em produzir-se um topo do guia plano e perpendicular ao eixo de propagação, e pode ser realizado de duas formas: por um corte e polimento, ou por clivagem dos topos da amostra. Ambos apresentam vantagens e desvantagens: o polimento permite maior probabilidade de êxito, mas é , no entanto, extremamente moroso; por outro lado, a clivagem é um processo mais simples e bastante mais rápido, mas o risco de insucesso é superior ao do método anterior. Corte e polimento O corte é realizado com uma serra de precisão em ambas as extremidades da amostra, na direcção perpendicular aos eixos dos guias de onda (processo semelhante ao corte dos substratos). A amostra é, então, fixada com cera numa base de vidro especialmente preparada para o processo de polimento. Este suporte deve ser previamente rectificado por polimento, garantindo o paralelismo de dois lados opostos. Deve-se ter especial cuidado para evitar a formação de bolhas de ar na camada de cera que separa a amostra da base, com o objectivo de reduzir o risco de fracturas, quer na amostra, quer na base de vidro. Por outro lado, a amostra necessita de ser alinhada relativamente à base de vidro; alinhamentos imperfeitos podem conduzir a duas situações não desejáveis: se um dos cantos da amostra ficar fora da base, o contacto do conjunto com o prato de polimento não será uniforme, e portanto será susceptível a que ocorra a fractura da amostra. Por outro lado, se a aresta da amostra não atinge o extremo da aresta da placa de suporte, é necessário um longo tempo de desbaste até que a amostra propriamente dita entre em contacto com o prato de polimento. Este tipo de defeito de alinhamento está ligado a longos tempos de polimento e a arestas finais não paralelas ao corte inicial da amostra. Ambos os topos da amostra são submetidos ao processo de polimento, realizado em três etapas diferentes, utilizando um “jig” de precisão para o suporte da amostra e uma máquina especializada para o polimento (Logitech, modelo PM2) com pratos de polimento diferentes para cada etapa. Na primeira etapa utiliza-se um prato de ferro com ranhuras radiais e uma mistura abrasiva de arrefecimento (carborundum 600/água); no final deste passo, as fracturas superficiais resultantes do corte são eliminadas. Após adequada limpeza do suporte, passa-se a um prato de latão e a um polimento com alumina/água, até se obter uma superfície sem rugosidade 96 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos macroscópica. Finalmente, usa-se um prato de alumínio com superfície recoberta a poliuretano expandido e o abrasivo Syton (suspensão coloidal de partículas de sílica). Clivagem A clivagem foi o processo mais utilizado neste trabalho, uma vez que permite tratar uma quantidade maior de amostras num tempo relativamente curto. A técnica utilizada depende fundamentalmente do tipo de substrato utilizado. Para substratos de vidro (“soda-lime”, borosilicato ou sílica), a técnica consiste na realização, por meio de uma serra de precisão, de um corte em profundidade, no lado oposto à superfície onde se encontram os canais, até atingir aproximadamente uma profundidade de 3/4 da espessura do substrato; a espessura restante é fracturada manualmente por um batimento brusco. Para substratos de silício (com espessura de 500 µm), a técnica torna-se ainda mais simples, uma vez que beneficia da sua estrutura cristalina. Assim, com uma ponta de diamante, risca-se numa das extremidades da linha de corte, e aplicase um batimento brusco. A fractura ocorre, normalmente, segundo o plano cristalino. 4.2.8 Caracterização óptica Índice de refracção O índice de refracção do material do núcleo é estabelecido pela percentagem de dopante (óxido de zircónio) adicionado na solução e pode ser determinado com o recurso a técnicas como o método das “m-lines” e/ou a elipsometria. Neste trabalho, a determinação do índice de refracção pelo método das “m-lines” ficou condicionada ao comprimento de onda do laser de He-Ne emitindo no vermelho (λ=632.8 nm). A aplicação deste método requer a fabricação de guias planares, através da deposição de um filme do material híbrido em substrato com índice de refracção inferior (garantindo, assim, guiagem óptica). Nos casos particulares de dopagens com 30% e 40% (razões molares MAPTMS:TPZ de 10:3 e 10:4, respectivamente), os substratos de vidro “soda-lime” (n(632.8 nm)=1.513) podem ser utilizados por satisfazerem a condição de guiagem; para dopagens inferiores, nomeadamente 20%, 10% e 5%, devem ser utilizados substratos de sílica (n(632.8 nm)=1.4575) ou, por razões económicas, substratos de borosilicato (n(632.8 nm)=1.470). Os guias planares que apresentam mais de três modos TE permitem determinar, com maior fiabilidade, o índice de refracção, com recurso ao programa computacional (anexo A). Este permite calcular simultaneamente o índice de refracção e a espessura do filme que melhor se 97 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos ajustam aos dados experimentais. A espessura obtida pelo cálculo é comparada com a medição directa por perfilometria (mecânica, agulha de diamante). A tabela 4.2 mostra os índices de refracção do material correspondentes às diferentes dopagens. Concentração de dopante (%) (λ=632.8 nm) 1.4928 1.5041 1.5127 1.5185 1.5230 - 5 10 20 30 40 Vidro soda-lime Borosilicato Sílica Índice de refracção 632.8nm* 1302nm* 1.5026 1.4920 1.5039 1.4928 1.5116 1.4998 1.5211 1.5096 1.5246 1.5127 1.5110 1.5001 1.4697 1.4590 1.4572 1.4470 1553nm* 1.4901 1.4908 1.4976 1.5076 1.5107 1.4972 1.4562 1.4440 Tabela 4.2 - Índice de refracção do material do núcleo em função de diferentes dopagens e dos substratos de vidro de “soda-lime”, borosilicato e sílica.* Valores determinados com o sistema da Metricon. A figura 4.21 apresenta graficamente o comportamento do índice de refracção em função das dopagens adoptadas. 1,525 λ=632.8 nm λ=1302 nm λ=1553 nm 1,520 1,515 Índice de refracção Índice de refracção 1,520 1,510 1,505 1,500 1,495 1,515 1,510 1,505 1,500 1,495 1,490 1,490 0 5 10 15 20 25 30 35 Dopagem com ZrO2 (%) 40 45 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Dopagem com ZrO2 (%) (a) (b) Figura 4.21 - Representação gráfica da evolução do índice de refracção com a dopagem. (a)Valores obtidos experimentalmente; (b) valores obtidos com o sistema da Metricon. Birrefringência A birrefringência modal foi avaliada a partir de um espectro de reflexão de uma rede de Bragg, fabricada num guia de onda em canal segundo o método de exposição UV única, apresentado no capítulo 5 (secção 5.3.2). O núcleo tem uma secção transversal de 7×5 µm2 e é dopado com 40% de ZrO2. O guia em canal é coberto com um superestrato dopado com 20% de ZrO2. A figura 4.22 mostra o espectro de reflexão da rede de Bragg obtido com a montagem experimental apresentada na figura 5.15 (capítulo 5). As condições de acoplamento permitiram 98 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos evidenciar as reflexões de Bragg correspondentes aos modos TE e TM do segundo modo excitado. -10 Reflexão (dBm) -15 λB(TM) λB(TE) -20 -25 -30 -35 1580 1582 1584 1586 1588 1590 1592 1594 1596 1598 1600 Comprimento de onda (nm) Figura 4.22 – Espectro de reflexão de uma rede de Bragg em guia em canal com secção recta de 7×5 µm2. Pela expressão (2.38), com Λ=527.5 nm, λB(TM)=1588.8 nm e λB(TE)=1588.44 nm, a birrefringência modal δn calculada é 6×10-4. Este valor está de acordo com os valores reportados na literatura para o mesmo material [9]. Espectro de transmissão A aquisição do espectro de transmissão de um guia em canal permite obter informação sobre a absorção espectral relativa do material que o constitui, e permite a identificação da sua composição através das suas bandas de absorção. O intervalo espectral estudado, entre 400 nm e 1800 nm, decorre do espectro de emissão da lâmpada de halogéneo utilizada, com uma potência de 250W. O método de aquisição da transmitância de um guia em canal foi abordado na secção 2.5.5 (capítulo 2). Os guias de onda mais largos são os escolhidos para esta tarefa. A figura 4.23 mostra o espectro de transmissão normalizado (levando em conta as características espectrais da fonte, bem como a transmissão espectral das fibras ópticas) de um guia de onda do tipo “raised” com 25 µm de largura e 21 mm de comprimento. 99 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos 2 0 -2 Transmitância (dB) -4 -6 1 -8 -10 -12 -14 3 -16 -18 2 -20 -22 600 750 900 1050 1200 1350 1500 1650 Comprimento de onda (nm) Figura 4.23 - Espectro de transmissão de um guia com 25 µm de largura e 21 mm de comprimento. O espectro de transmissão revela várias bandas de absorção: a banda de absorção 1, centrada em 1180 nm, é devida à presença dos grupos CH associados à componente orgânica do material; a forte banda de absorção 2, centrada em 1420 nm, é essencialmente atribuida à substancial presença do grupo OH no material; a banda 3, centrada em 1620 nm, é devida à dupla ligação C=C não totalmente consumida na fotopolimerização. De salientar, no entanto, uma perda relativa mais reduzida a 850 nm e a 1300 nm. Por outro lado, a região centrada em 1550 nm (de grande interesse para a comunicação óptica) revela uma absorção bem superior à que seria desejável. A tabela 4.3 atribui a origem das bandas de absorção contidas no espectro da figura 4.23. Região Comprimento de onda (nm) Atribuição 1146 1193 1320-1480 1480-1600 1622 2ν CH [CH3] 3ν CH [CH2] Zr-OH+Si-OH livre Zr-OH+Si-OH ligado CH=CH 1670-1730 CH [CH3 ou CH2 (saturado)] 1 2 3 Tabela 4.3 – Correspondência das bandas de absorção observadas na região do infravermelho próximo [10]. Perdas de propagação As medições de perdas foram realizadas a 1300 nm, de acordo com a metodologia apresentada na secção 2.5.3. A perda de inserção de um guia em canal monomodo resultou num valor de aproximadamente 3 dB fibra-a-fibra (ou seja, incluindo perdas de acoplamento, 100 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos desacoplamento e perdas devidas a reflexões de Fresnel) num guia com 18 mm de comprimento. Foi calculada a eficiência de acoplamento/desacoplamento (segundo o método 1), obtendo-se o valor 0.8, a que corresponde uma perda total (acoplamento+desacoplamento) de 1.9 dB. Estimase, assim, uma perda de propagação no guia da ordem de 0.4 dB/cm. As figura 4.24 (a) e (b) mostram a distribuição modal de intensidade do guia monomodo e da fibra monomodo de acoplamento, respectivamente, obtidas com a montagem apresentada na figura 2.13. O facto de o padrão não ser circular deve-se ao facto de as escalas dos eixos coordenados perpendiculares não serem idênticas. As figura 4.24 (c) e (d) mostram, respectivamente, o perfil modal do modo fundamental e do segundo modo excitado de um guia multimodo. (a) (b) (c) (d) Figura 4.24 - Distribuição modal de intensidade de: (a) Modo fundamental de guia com 4µm de largura; (b) Modo da fibra monomodo de acoplamento; (c) Modo fundamental de um guia com 6 µm de largura; (d) Segundo modo de um guia com 6 µm de largura. Pela figura 4.23, deduz-se que as perdas de propagação a 632.8 nm, 800 nm, 1310 nm deverão ser da mesma ordem de grandeza; por outro lado, a perda a 1550 nm é consideravelmente superior e atinge um valor entre 4 a 5 dB/cm. Dada a importância relativa dessa região espectral na comunicação óptica, este nível de perda torna inadequada a aplicabilidade deste material na produção dos circuitos ópticos integrados para telecomunicações nessa banda. Na tentativa de detectar a origem dessa perda e, possivelmente, reduzi-la, foi 101 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos estudada a influência de alguns parâmetros do processo de fabricação no espectro de transmissão de um guia de onda, como apresentado na secção seguinte. 4.2.9 Influência de alguns parâmetros na transmitância de um guia em canal. Influência do tratamento térmico Amostras com guias em canal do tipo “raised” foram analisadas antes e depois de submetidas a um tratamento térmico durante 24h (130ºC). Foram adquiridos os espectros de transmissão, antes e depois da aplicação do tratamento térmico, de guias de onda mais largos (18 a 24 µm). A figura 4.25 compara os resultados obtidos. 0 Transmitância (dB) -5 -10 -15 -20 Antes do tratamento térmico Depois do tratamento térmico -25 -30 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Comprimento de onda (nm) Figura 4.25 - Comparação dos espectros de transmissão de guias em canal (com larguras entre 18 e 24 µm), adquiridos antes e depois do tratamento térmico (130ºC, 24h). Como se pode observar, o tratamento térmico não proporciona nenhuma vantagem na redução das perdas por absorção do material, principalmente a 1550 nm; pelo contrário, aparenta aumentar as perdas, nomeadamente nos comprimentos de onda entre 400 e 600 nm. No entanto, a banda centrada em 1620 nm, que corresponde à presença residual das ligações C=C, diminuiu de intensidade com o tratamento térmico, o que significa que ocorre alguma quebra, por via térmica, das ligações duplas C=C. Influência da dosagem UV O efeito da dosagem UV sobre a transmitância de um guia em canal foi estudado, usando um método de dupla exposição. Numa primeira etapa, foram fabricadas amostras com um guia em 102 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos canal do tipo “raised”, utilizando um tempo de exposição mínimo (com a mesma fluência e frequência referidos anteriormente, 40 mJ/cm2 e 10 Hz); o tempo encontrado foi de 15 s. Posteriormente, esses guias foram novamente expostos ao UV (com o laser de KrF) à medida que os espectros de absorção foram sendo adquiridos. A figura 4.26 compara o espectro de transmissão de um guia (guia largo) obtido com 15 s de exposição UV com os espectros resultantes de exposições adicionais. 0 Transmitância (dB) -5 Impulsos UV extra 0 impulsos 150 impulsos 4000 impulsos -10 -15 -20 -25 aumentando o número de impulsos -30 -35 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Comprimento de onda (nm) Figura 4.26 - Evolução do espectro de transmissão em função da dosagem UV numa segunda exposição. Comparando estes resultados com os da figura 4.25, pode-se concluir que o efeito da exposição UV na absorção do material é, em alguns aspectos, semelhante ao do tratamento térmico: as perdas na banda entre 400 e 600 nm acentuam-se e a intensidade da banda centrada em 1620 nm diminui, o que era previsível; confirma-se que, num guia fabricado com um mínimo de exposição, a banda situada em 1620 nm aparece mais intensa. No entanto, pela figura verifica-se que a absorção na região de 1550 nm acentua-se ligeiramente com a exposição UV. A adopção de um menor tempo de exposição compatível com a definição de guias em canal é, assim, a escolha mais adequada. Influência da temperatura em tempo real e da humidade atmosférica A principal causa responsável pela forte absorção na região espectral entre 1320-1600 nm está relacionada com a presença dos grupos OH ou água. Nesta secção, é demonstrado o papel contributivo da humidade atmosférica para a absorção do material. O estudo consistiu em observar o comportamento do espectro de transmissão de guias de onda em canal do tipo “raised” (cerca de 1 cm de comprimento) em função da temperatura, variada por aquecimento 103 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos externo e em diferentes condições atmosféricas. A experiência foi realizada dentro de uma caixa de luvas, uma vez que tal permite criar uma atmosfera com humidade controlada. O aquecimento do guia de onda foi efectuado por irradiação com uma lâmpada de halogéneo. Apenas a plataforma que permite o alinhamento do guia com as fibras foi colocada dentro da caixa de luvas. As fibras ópticas estabelecem a ligação para o exterior da caixa através de um orifício (posteriormente bloqueado) e são conectadas à respectiva fonte de luz branca e ao analisador de espectros. Esta montagem permite, assim, obter momentaneamente o espectro de transmissão. A temperatura do guia foi medida com um termómetro em contacto com a amostra. A figura 4.27 mostra a evolução do espectro de transmissão quando o guia é aquecido de 20ºC para 150ºC em condições ambientais normais de sala limpa (humidade relativa de 40%). A absorção na região espectral de 1550 nm é fortemente reduzida a 150ºC. Acima dessa temperatura, os guias de onda tendem a fracturar. 0 Transmitância (dB/cm) 150ºC 130ºC 70ºC -5 -10 1000 20ºC 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 4.27 – Comportamento do espectro de transmissão de um guia de onda quando é aquecido de 20ºC para 150ºC, em condições atmosféricas normais. Este efeito é atribuído à eliminação da água contida no material do guia. Na figura 4.28, é comparada a diferença dos espectros de transmissão a 20ºC e 150ºC com o espectro de transmissão da água pura. Ambos os espectros exibem a mesma forma, o que demonstra que o aquecimento provoca uma diminuição da concentração de água no material. O aparecimento da banda de absorção a 1620 nm deve-se à polimerização adicional que ocorreu, entretanto, pelo processo térmico. Quando o guia é deixado a arrefecer para a temperatura ambiente (20ºC), o espectro de transmissão volta a recuperar o seu estado inicial, aumentando novamente a absorção na região 104 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos espectral de 1550 nm. Este resultado está em plena conformidade com o apresentado na figura 4.25 e confirma o facto de o tratamento térmico, em condições ambientais, não constituir uma solução para a diminuição das perdas por absorção a 1550 nm. Transmitância (dB) 0 -2 Espectro da água Diferença entre 20ºC e 150ºC -4 -6 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 4.28 –Influência da água na absorção do material. A mesma experiência foi repetida numa atmosfera de nitrogénio; nessas condições, a taxa de humidade diminuiu de 40-45% para 18-20% e o espectro de transmissão à temperatura ambiente (20ºC) mantém-se inalterado em relação ao espectro obtido em ar. O comportamento do espectro de transmissão do guia, durante o aquecimento, é semelhante ao da figura 4.27. No entanto, quando o guia é arrefecido, a absorção do material a 1550 nm mantém-se a um nível inferior (por um factor de 2) do que quando é utilizado o ar. Este resultado demonstra, claramente, o papel da humidade atmosférica na absorção do material. A figura 4.29 mostra o comportamento do espectro de transmissão quando a temperatura do guia diminui de 150ºC para 20ºC e compara-o com o espectro de transmissão inicial do guia a 20ºC em ar. A redução da humidade da atmosfera não é suficiente para remover a água do material à temperatura ambiente, uma vez que a água está ligada ao material por ligações de hidrogénio, suficientemente resistentes. O aquecimento do guia de onda numa atmosfera de nitrogénio resulta na diminuição da absorção para um nível próximo ao da absorção intrínseca do material (resultante da presença de C-H). O uso de temperaturas superiores a 150ºC não só não melhora a transparência como provoca a destruição do guia. Como a humidade relativa em atmosfera de nitrogénio é de 20% e não 0%, então é compreensível o ligeiro aumento da absorção verificado quando o aquecimento foi interrompido. 105 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Transmitância (dB/cm) 0 -5 Em ar (20ºC) -10 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 4.29 – Comportamento do espectro de transmissão do guia em canal no processo de arrefecimento, em ambiente de nitrogénio. O espectro inicial do guia (em ar) está representado para comparação. A absorção relativa a 1550 nm estabiliza em 2.5 dB/cm, sendo claramente inferior ao nível inicial de 4.8 dB/cm, e inferior ao nível obtido na mesma experiência com ar. Quando a caixa de luvas é aberta, a atmosfera volta a ter a humidade relativa do ar da sala limpa e o espectro de transmissão do guia regressa aos valores iniciais. A figura 4.30 ilustra a evolução das perdas relativas por absorção durante os processos de aquecimento e arrefecimento sob atmosfera de nitrogénio. Heating Aquecimento Arrefecimento Cooling 0 -0,5 -1 -1,5 -2 -2,5 -3 -3,5 -4 -4,5 -55 ar - 20 ºC N2 - 21 ºC - 2 h N2 - 23 ºC - 1 h N2 - 27 ºC - 25 min N2 - 30 ºC - 15 min N2 - 40 ºC - 10 min N2 - 50 ºC - 5 min N2 - 100 ºC - 0 min N2 - 150 ºC - 30 min N2 - 140 ºC N2 - 130 ºC N2 - 120 ºC N2 - 70 ºC N2 - 60 ºC N2 - 20ºC ar - 20 C - 0 Figura 4.30 – Evolução da absorção relativa a 1550 nm durante o ciclo de aquecimento-arrefecimento do guia de onda em atmosfera de nitrogénio. No final, a humidade relativa volta ao valor correspondente ao ar de sala limpa, após a abertura da caixa de luvas. 106 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos A figura 4.31 ilustra a influência da atmosfera (mais concretamente, da humidade relativa) na absorção relativa a 1550 nm. À temperatura de 150ºC, o valor da absorção não é dependente da humidade relativa, ao contrário do que acontece à temperatura ambiente. 20ºC 150ºC 20ºC após 2 h 0 Absorção @ 1550nm (dB/cm) -0,5 -1 -1,5 -2 -2,5 -3 -3,5 -4 -4,5 Ar (RH=45%) -5 N2 (RH=20%) Figura 4.31 – Influência da atmosfera na absorção relativa a 1550 nm. Influências do solvente e da clivagem A finalidade deste estudo consiste em investigar se o solvente (etanol) utilizado na revelação, assim como a água utilizada na etapa do corte final dos extremos do guia para a clivagem, constituem uma possível causa para a perda a 1550 nm. Como se pode observar pela figura 4.32, a absorção quer do etanol, quer da água, na zona espectral de 1550 nm é considerável. 0 Transmitância (dB/cm) -5 -10 -15 Água Etanol Tetracloreto de carbono -20 -25 -30 -35 -40 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 4.32 - Espectros de transmissão da água, etanol e tetracloreto de carbono (CCl4). 107 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Assim, com a substituição do etanol pelo tetracloreto de carbono (CCl4) (solvente transparente no infravermelho) na revelação, elimina-se uma das potenciais fontes de perdas; por outro lado, o contacto com a água pode ser evitado com a realização do corte na preparação do substrato (antes do processo de fabricação dos guias). Deste modo, foram realizados quatro testes: 1º - revelação com EtOH seguida do corte do substrato em água para clivagem. 2º - revelação com EtOH seguida de clivagem (corte efectuado antes da fabricação dos guias). 3º - revelação com CCl4 seguida do corte do substrato em água para clivagem. 4º - revelação com CCl4 seguida de clivagem. Todas as amostras foram cortadas com o mesmo comprimento. Foram utilizados os guias mais largos para adquirir os espectros de transmissão Os resultados obtidos estão apresentados na figura 4.33. 0 Transmitância (dB) -5 -10 EtOH c/ corte EtOH s/ corte CCl4 c/ corte -15 CCl4 s/ corte -20 -25 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Comprimento de onda (nm) Figura 4.33 - Comparação dos espectros de transmissão de guias de onda fabricados em diferentes condições na revelação e na clivagem. Se o solvente utilizado na revelação ou a água usada para o corte das amostras fossem as causas da forte absorção na região espectral entre 1400-1600 nm, então seria de esperar uma diferença assinalável entre os espectros resultantes dos diferentes testes. Assim, o quarto teste (uso de CCl4 na revelação e clivagem sem uso de água) resultaria numa diminuição considerável da absorção nessa região espectral. Como se pode observar, os diferentes testes não alteraram de forma assinalável os níveis de absorção relativa. As diferenças registadas na região de 1550 nm não resultam, porventura, dos factores em estudo, mas são apenas consequência da escolha da referência dos espectros. Neste caso, a referência escolhida baseou-se na sobreposição das 108 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos bandas a 1190 nm, uma vez que guias de onda com o mesmo comprimento implicam o mesmo nível de absorção devida às ligações C-H. Este estudo permite concluir que a absorção elevada a 1550 nm não provém, fundamentalmente, do uso quer do etanol na revelação, quer do contacto com a água no corte, mas sim das etapas anteriores à revelação. Influência da catálise utilizada na síntese da solução Sabendo que a catálise utilizada na síntese da solução tem um papel determinante na formação do tipo de estrutura do material, foi investigada a sua influência nas perdas por absorção, principalmente a 1550 nm. A catálise é efectuada com a adição de água cujo pH é determinado pela quantidade e tipo de catalisador utilizado para acelerar o processo de hidrólise e condensação. Assim, foram preparadas amostras com soluções diferindo entre elas no pH da água: foram usadas concentrações de 0.5 M HCl para catálise ácida e concentrações de 0.1 M e 0.5 M NH4OH para catálise básica. A figura 4.34 compara os espectros de transmissão de diferentes guias em canal com o mesmo comprimento (25 mm). Em primeira observação, verifica-se que a catálise tem influência na absorção do material: guias de onda fabricados com catálise básica evidenciam uma absorção relativa menos intensa no intervalo espectral entre 1400 e 1680 nm. No caso particular da catálise básica a 0.5 M NH4OH, foi estimada uma perda por absorção de 3 dB/cm a 1550 nm. 0 Transmitância (dB) -5 -10 0.5M HCl 0.1M NH4OH -15 0.5M NH4OH -20 -25 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Comprimentos de onda (nm) Figura 4.34 - Comparação entre os espectros de transmissão de guias em canal fabricados sob diferentes condições de catálise. 109 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Embora não sendo uma redução significativa, este resultado não deixa de ser interessante, pois indicia que a formação de um determinado tipo de estrutura do material, como consequência da catálise básica, resulta numa diminuição relativa da concentração dos grupos OH no material. No entanto, seria necessário realizar um estudo mais aprofundado para determinar se a razão dessa diminuição da absorção se deve a uma condensação mais eficiente ou é uma consequência do efeito da porosidade do material. Influência da concentração de dopante (óxido de zircónio) De acordo com um estudo de caracterização química descrito em [10], foi concluído que a adição do zircónio tem um efeito catalisador das reacções de condensação dos grupos silanóis (Si-OH), e que os grupos OH não condensados ficam maioritariamente ligados aos átomos de Zr. Assim, seria de prever que a variação da concentração de óxido de zircónio implicaria uma variação da concentração dos grupos OH na mesma proporcionalidade; ou seja, verificar-se-ia uma diminuição da perda a 1550 nm, como consequência da redução da concentração dos grupos OH, para dopagens (com ZrO2) cada vez menores. Foram, então, fabricados guias de onda em canal com diferentes dopagens (5, 10, 20, 30 e 40% de ZrO2), que foram caracterizados em termos do espectro de transmissão. Todos os guias foram fabricados com o mesmo comprimento de 22 mm. A figura 4.35 mostra os resultados obtidos. 2 0 -2 Transmitância (dB) -4 -6 -8 -10 -12 40% de ZrO2 -14 30% de ZrO2 -16 20% de ZrO2 -18 10% de ZrO2 -20 5% de ZrO2 -22 -24 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Figura 4.35 – Comparação dos espectros de transmissão de guias de onda em canal fabricados com diferentes concentrações de ZrO2. Pela comparação dos vários espectros, verifica-se que ocorre uma diminuição das perdas na região espectral de 1550 nm à medida que a dopagem diminui; esta região, onde a diferença é 110 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos mais notória, corresponde à zona de absorção da água (ou grupos OH). Em particular, a 1550 nm, o valor relativo da absorção de um guia com 5% de ZrO2 é aproximadamente metade da absorção verificada num guia com 40% de ZrO2. Estes resultados tendem a confirmar o estudo referido em [10]. A dependência do valor da absorção relativa a 1550 nm em função do nível de dopagem de um guia em canal é representada na figura 4.36. Para confirmar o resultado do estudo mencionado, seria importante obter informação adicional sobre a absorção relativa a 1550 nm em guias de onda dopados com concentrações inferiores a 5% de ZrO2. No entanto, esta tarefa tornou-se impraticável uma vez que, para estes níveis de dopagem, os filmes depositados sofrem retracção, que impossibilita a fabricação de guias de onda. Se tal não acontecesse, a extrapolação do comportamento do ajuste dos pontos da absorção para esses níveis de dopagem permitiria concluir se os grupos OH estão apenas ligados aos átomos de Zr, ou se ainda persistem grupos silanóis. Sabendo que o precursor MAPTMS apresenta uma absorção relativa intrínseca (sem a contribuição de grupos OH) de aproximadamente 0.5 dB/cm (ver o espectro de transmissão no anexo C), a curva de ajuste deveria convergir para o valor Absorção relativa a 1550 nm (dB/cm) 0.5 dB/cm. 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Concentração de ZrO2 (%) Figura 4.36 - Perda de propagação relativa de um guia de onda em função da dopagem. 4.3 Deposição de camadas “buffer” O material ideal para a camada “buffer”, produzido pelo processo sol-gel híbrido, deve satisfazer os seguintes requisitos: 1) ter baixo índice de refracção (o mais próximo possível do da 111 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos sílica); 2) permitir, numa única deposição, camadas espessas (~10 µm) sem fracturas; 3) possuir baixas perdas ópticas por absorção; 4) ser de baixo custo de produção. O último requisito é satisfeito pela selecção de precursores com baixo custo relativo; os materiais baseados em precursores cuja molécula contém uma componente orgânica composta por ligações do tipo C-F (em vez de C-H) são vantajosos, por propiciarem simultaneamente a redução do índice de refracção [11] e contribuirem com uma absorção menor [12], mas o elevado preço destes precursores aumenta substancialmente o custo de produção. A solução para produzir filmes sem fracturas consiste em diminuir a parte inorgânica do material em favor da componente orgânica. O uso do precursor MAPTMS para a deposição de camadas com baixo índice de refracção já foi abordado em [13]; numa primeira tentativa de manter a propriedade da fotopolimerização, a hidrólise e condensação do MAPTMS isolado (sem o uso de dopagem) permitiria a redução do índice de refracção quando comparado com o do material do núcleo. Em resultado da elevada dimensão da componente orgânica do MAPTMS, a deposição de filmes não se torna possível devido à falta de conectividade da rede do material. Para contornar este problema, foi proposta uma combinação de MAPTMS e tetrametoxisilano (TMOS) (precursor que dá origem à sílica inorgânica), numa proporção molar relativa de 10:4, respectivamente (proporção entre o MAPTMS e o ZrO2 anteriormente utilizada para o material do núcleo). Um dos problemas deste material é que tem a tendência a retrair, principalmente nos bordos do substrato. Apesar de ser possível a deposição de filmes espessos, estes tendem a fracturar com o tempo, mesmo quando não é aplicado um tratamento térmico. Este fenómeno deve-se ao excesso da componente inorgânica (sílica). Para além disso, seria de prever que as perdas por absorção espectral induzidas por este material sejam semelhantes às do material do núcleo, uma vez que o procedimento de síntese foi idêntico. Assim, do ponto de vista da aplicação como “buffer”, este material não constitui a melhor opção. Em geral, o índice de refracção dos polímeros é superior ao da sílica. É de esperar que o índice de refracção de um material híbrido esteja associado à dimensão da sua componente orgânica; materiais com grandes grupos orgânicos (como é o caso do grupo fenil [11]) têm um índice de refracção relativamente elevado. Assim, torna-se óbvia a escolha de precursores híbridos com uma componente orgânica curta, como é o caso mais simples do grupo metil (CH3). Foi experimentado o precursor metiltrimetoxisilano (MTMOS), que dá origem a um material silicioso híbrido sem fotosensibilidade. Dada a facilidade de preparação e deposição oferecida por este material (sem o uso de solvente), foi testado um conjunto de filmes com diferentes 112 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos espessuras, depositados em vidro “soda-lime”, com tratamento térmico a 150ºC durante 24h. Neste estudo foi verificado que este material só permite produzir filmes com espessuras inferiores a 3.5 µm sem fracturar e, portanto, para obter espessuras superiores de camadas “buffer”, seria necessário realizar deposições sucessivas, o que não é boa solução. A figura 4.37 mostra dois tipos de fracturas (observados ao microscópio óptico) correspondentes a filmes com diferentes espessuras, quando submetidos a tratamento térmico a 150ºC. (a) (b) Figura 4.37 - Tipos de fracturas em filmes de MTMOS, originadas no tratamento térmico: (a) filme com 11 µm de espessura; (b) filme com 5 µm de espessura. Sendo assim, do ponto de vista de aplicabilidade como “buffer”, este material também não é a solução ideal. O aparecimento de fracturas indica que a parte inorgânica é ainda excessiva, levando o material a um estado de tensão suficiente para fracturar com o aumento da espessura. Assim, procurou-se aumentar a componente orgânica do material, dando origem a uma matriz menos ligada, com a consequente diminuição do estado de tensão. Os precursores dimetildimetoxisilano (DMDMOS) ou o dimetildietoxisilano (DMDEOS) são monómeros bi-funcionais com dois grupos metil não hidrolisáveis e que não formam ligações covalentes com outras moléculas. O primeiro foi o escolhido, uma vez que os grupos hidrolisáveis metóxido são mais reactivos, o que permite acelerar o processo de preparação da solução. O segundo tem a vantagem de ser mais barato. 4.3.1 Testes de deposição de filmes Foi realizado um vasto conjunto de testes, com vários precursores e combinações entre eles, no sentido de depositar filmes de boa qualidade (em termos de uniformidade superficial) e suficiente espessura (superior a 10 µm). Os testes foram efectuados em substratos de vidro “soda-lime”. A hidrólise foi iniciada com água acidificada a 0.1 M HCl. A quantidade total de 113 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos água adicionada, em cada caso, depende quer das razões molares entre os precursores combinados, quer das respectivas razões molares água:alcóxido. Para o precursor TMOS, a razão molar é de 2:1; para o MTMOS é de 1.5:1; para o DMDMOS é de 1:1. As soluções foram agitadas em recipiente fechado durante algumas horas, até atingirem a viscosidade necessária para obter filmes espessos por “spin-coating”. A rotação utilizada foi, aproximadamente, de 800 rpm. Os filmes resultantes foram sujeitos a tratamento térmico a temperaturas entre 130ºC e 150ºC, durante 1 hora, para testar a sua resistência às fracturas. A realização de filmes com DMDMOS não foi conseguida, uma vez que retraíam por completo na secagem (situação semelhante ao MAPTMS). A explicação pode ser derivada da falta de conectividade da rede, por ter uma concentração excessiva de grupos orgânicos não hidrolisáveis, ou da falta de adesão ao substrato, dada à natureza hidrofóbica destes grupos. A solução para uma diminuição média da componente orgânica consiste numa combinação adequada entre TMOS/DMDMOS, ou MTMOS/DMDMOS. Vários testes foram efectuados utilizando diferentes razões molares entre os precursores, para ambos os sistemas, com a finalidade de investigar o efeito do número médio de grupos metil por átomo de silício sobre a resistência do material às fracturas. Os testes efectuados estão resumidos nas tabelas 4.4 e 4.5. Razão molar TMOS:DMDMOS Resultados da análise em termos de retracção/fracturas do filme 1:1 0.5:1 0.7:1 a 0.9:1 Fractura do filme (<10 µm) Retracção do filme Formação do filme sem retracção ou fracturas (5 a 20 µm) Tabela 4.4 - Testes efectuados com o sistema TMOS/DMDMOS: deposição de filmes e tratamento térmico (130ºC, 1h). Razão molar MTMOS:DMDMOS Resultados da análise em termos de retracção/fracturas do filme 1:1 a 1:0.8 1:0.7 a 1:0.5 Retracção do filme depois da deposição Os filmes são formados no centro do substrato; retraem nos bordos 1:0.4 a 1:0.3 Formação do filme sem retracção ou fracturas 1:0.2 Os filmes fracturam para espessuras acima de 10 µm 1:0.1 Os filmes fracturam para espessuras acima de 7 µm Tabela 4.5 - Testes efectuados com o sistema MTMOS/DMDMOS: deposição de filmes e tratamento térmico (130ºC, 1h). 114 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos O sistema TMOS/DMDMOS revelou melhor comportamento, quanto à facilidade de deposição do filme e à sua uniformidade, do que o sistema MTMOS/DMDMOS e, portanto, foi o sistema eleito para o material da camada “buffer”. Os filmes obtidos com a razão molar 0.8:1 (tabela 4.4) apresentaram melhor uniformidade que os restantes, pelo que foi com essa composição que se prosseguiu com o trabalho. A etapa seguinte consistiu em usar este material para depositar uma camada de “buffer” em substrato de silício, testando assim a sua adesão. Não se verificou qualquer diferença entre o uso de substrato de silício, e substrato de vidro “soda-lime”. Após a deposição da camada “buffer”, o filme é seco à temperatura de 85ºC durante 24h. 4.3.2 Caracterização óptica 4.3.2.1 Determinação do índice de refracção da camada “buffer” Uma vez que se esperava um índice de refracção relativamente baixo, foi depositado um filme em substrato de sílica fundida. No entanto, sem que fosse conhecida a causa, não foi possível obter guiagem por acoplamento com prisma (tal facto poderia indicar que o índice de refracção da camada “buffer” era inferior ao da sílica, o que seria surpreendente). Numa tentativa de contornar o problema, foi depositado, sobre uma camada “buffer”, um filme de MAPTMS com 40% de ZrO2, cujo índice era já conhecido, a fim de realizar um guia planar. O acoplamento por prisma da radiação (λ0= 632.8 nm) foi conseguido, dando origem a 7 modos TE guiados. Os ângulos de acoplamento medidos foram introduzidos no programa computacional que permite estimar o índice de refracção da camada de guiagem e a sua espessura quando são introduzidos os seguintes parâmetros: o índice de refracção do substrato e os ângulos de acoplamento (ou índices efectivos), e o comprimento de onda da radiação utilizada na medição. Para determinar o índice de refracção da camada “buffer”, foram atribuídos valores para o índice de refracção do substrato (a camada “buffer” pode ser encarada como sendo o substrato) de modo que a execução do programa forneça, relativamente à camada de guiagem, os valores do índice de refracção (já conhecido) e da espessura (medida por perfilometria) esperados. Assim, para valores do índice da camada “buffer” pertencentes ao intervalo [1.468, 1.475], o programa fornece os mesmos resultados (ng=1.523 e d=5.7 µm) mas o erro estimado é inferior quando o valor do índice de refracção da camada “buffer” é 1.468 (0.0004 para ng e 0.03 µm para d). Para valores inferiores a 1.468, o programa prevê um número de modos superior àquele que foi obtido na medição. Como se pode observar na figura 4.31, os pontos correspondentes aos índices 115 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos efectivos medidos coincidem perfeitamente com os pontos correspondentes aos índices efectivos calculados considerando um guia planar com índice de refracção e espessura obtidos pelo programa (ng=1.523 e d=5.7 µm) e um substrato com um índice de refracção 1.468. Este valor é uma boa estimativa do índice de refracção da camada “buffer” e aproxima-se muito do da sílica. neff modo m Figura 4.38 - ( ) índices efectivos dos 7 modos medidos experimentalmente; (×) pontos correspondentes aos índices efectivos calculados, assumindo um guia planar com os seguintes parâmetros: n(substrato)=1.468, n(núcleo)=1.523, d=5.7 µm. 4.3.2.2 Espectro de transmissão do material A pesquisa de material para “buffer” estaria fundamentalmente concluída se se conhecesse as perdas por absorção em função do comprimento de onda (sendo mais relevantes os valores nas regiões espectrais centradas em 1310 nm e 1550 nm) e tais perdas fossem baixas. Como o material não é fotopolimerizável, não é possível fabricar guias de onda em canal que permitam o acoplamento de luz branca e a consequente aquisição do espectro de transmissão. No entanto, foi possível medir o espectro de transmissão do sistema TMOS/DMDMOS, com a razão adoptada para o material da camada “buffer”, enquanto precursor sem qualquer hidrólise. Esta medição é importante pois permite avaliar as perdas intrínsecas do próprio material, e não a consequência do processamento (hidrólise e condensação). A medição foi realizada utilizando uma cuvete de sílica, a fonte de luz branca (com lâmpada de halogéneo) e o OSA. A figura 4.39 mostra o espectro de transmissão obtido: a perda na região de 1310 nm é baixa (~0.3 dB/cm) mas, por outro lado, a perda a 1550 nm já é significativa (>1 dB/cm) e tenderá a aumentar com a hidrólise. 116 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos 1 100 nm 100 nm Transmitância (dB/cm) 0 Região dos 1310nm -1 Região dos 1550nm -2 -3 -4 -5 -6 -7 450 600 750 900 1050 1200 1350 1500 1650 1800 Comprimento de onda (nm) Figura 4.39 - Espectro de transmissão do sistema TMOS/DMDMOS enquanto precursor. A análise de um conjunto de precursores permite obter informações sobre a influência dos grupos orgânicos, neste caso particular do grupo metil, no espectro de absorção do material. Foram medidos e comparados os espectros de absorção de diferentes precursores que diferem entre si apenas no número de grupos metil, não hidrolizáveis, ligados a cada molécula. Os precursores tetrametoxisilano (TMOS), metiltrimetoxisilano (MTMOS), dimetildimetoxisilano (DMDMOS), trimetiletoxisilano (TMEOS) contêm, respectivamente, 0, 1, 2, 3 grupos metil em cada molécula. A molécula de polidimetilsiloxano (PDMS) contém uma cadeia de Si-O-Si-O-Si ligada somente por grupos metil. A figura 4.40 apresenta as respectivas fórmulas químicas. OCH3 OCH3 OCH3 H3C Si CH3 OCH3 H3CO Si CH3 OCH3 H3CO Si OCH3 OCH3 TMOS MTMOS DMDMOS TetraMetOxiSilano MetilTriMetOxiSilano DiMetilDiMetOxiSilano OC2H5 H3C Si CH3 CH3 CH3 H3C Si O CH3 CH3 Si O CH3 Si CH3 CH3 m CH3 TMEOS PDMS TriMetilEtOxiSilano PoliDiMetilSiloxano, Figura 4.40 - Fórmulas químicas de precursores baseados em grupos metil. 117 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Na figura 4.41 compara-se os espectros de transmissão destes precursores. Uma análise atenta permite concluir que, à medida que o número de grupos metil, por cada molécula, aumenta, aumenta também a perda a 1550 nm, o que não é animador. Assim, a escolha de precursores baseados em grupos metil não é adequada quando se pretende trabalhar na zona espectral de 1550 nm. Logo, o material estudado para a camada “buffer” não é o ideal quando se pretende fabricar dispositivos funcionais para a terceira janela adoptada na comunicação óptica. 1 0,0 0 -0,5 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) -1 -2 -3 -4 -5 -6 TMOS MTMOS DMDMOS TMEOS PDMS -7 -8 -9 -10 800 900 1000 1100 -1,0 -1,5 -2,0 TMOS MTMOS DMDMOS TMEOS PDMS -2,5 -3,0 -3,5 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 -4,0 1500 1520 Comprimento de onda (nm) (a) 1540 1560 1580 1600 1620 1640 Comprimento de onda (nm) (b) Figura 4.41– (a) Comparação dos espectros de absorção dos diferentes precursores contendo números diferentes de grupos metil: TMOS, MTMOS, DMDMOS, TMEOS, PDMS; (b) ampliação da figura (a) na região de 1550 nm. Para resolver este problema, deverão ser investigados materiais baseados noutros grupos orgânicos não hidrolisáveis como, por exemplo, o grupo etil. Este trabalho é completado com a fabricação de guias em canal com as dimensões adequadas, com “buffer” e superestrato, sobre substrato de silício, sendo a avaliação das perdas realizada a 1300 nm, como se descreve na secção seguinte. 4.4 Guias em canal “buried” sobre silício 4.4.1 Fabricação Os guias de onda em canal do tipo “buried” foram fabricados sobre pequenas secções de silício (com 2 cm a 3 cm de lado), previamente clivadas a partir de uma “wafer” de silício virgem (sem oxidação). A fabricação de guias de onda “buried” sobre silício comporta três fases: 1) deposição da camada “buffer” sobre um substrato de silício não-oxidado; 2) deposição de um 118 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos filme do material de núcleo e definição dos guias em canal por exposição UV e revelação; 3) cobertura dos guias em canal com a deposição da camada de superestrato. Após a limpeza habitual do substrato, é depositada a camada “buffer” usando a formulação da solução e o procedimento descritos numa secção anterior. Antes da deposição da camada de núcleo, o efeito de bordo formado na camada “buffer” foi eliminado por raspagem com uma lâmina. Este efeito é acentuado num filme com espessura da ordem de uma dezena de micrómetros e pode afectar negativamente as etapas de fabricação posteriores, como a da litografia. Se não for adequadamente eliminado, o efeito de bordo é transferido para a camada de núcleo e, no caso em que a dimensão da máscara ultrapasse a dimensão das amostras (o que geralmente acontece), prejudica o bom contacto necessário entre a zona do filme a expor e a máscara litográfica. No caso em que a dimensão da máscara é inferior ao da amostra, este problema não se coloca desde que a zona do filme que estabelece contacto com a máscara seja uniforme. O material utilizado para a fabricação dos núcleos em canal foi, naturalmente, o mais estudado: MAPTMS dopado com 40% de ZrO2. Na maioria dos casos, a aderência da solução na camada inferior é suficiente para a formação dos filmes. No entanto, em algumas amostras, foi observada a retracção de algumas zonas do filme após o processo de deposição. Este efeito não é muito surpreendente dada a natureza hidrofóbica do material, resultante da presença dos grupos metil. O que não se compreende é o carácter aleatório com que este efeito surge. O processo de fabricação dos guias em canal é o descrito anteriormente. A máscara utilizada contém linhas com larguras entre 5 a 25 µm. Os canais são, posteriormente, cobertos com o superestrato, utilizando o mesmo material da camada “buffer”. A deposição do superestrato é realizada a uma velocidade de rotação relativamente baixa (inferior a 800 rpm) sem utilizar técnicas de deposição específicas. O controlo da espessura do superestrato não foi um objectivo. Após a secagem do superestrato (85ºC, 2h), os topos dos guias são simplesmente clivados, sem necessidade do uso da serra de corte. 4.4.2 Caracterização A figura 4.42 (a) mostra a secção transversal de um conjunto de guias, com diferentes larguras, envolvidos pelas camadas de “buffer” e de superestrato. A região a preto corresponde ao substrato de silício. A figura 4.42 (b) mostra um guia de onda, com faces laterais bem definidas e verticais, envolvido pelo material silicioso com grupos metil. O contraste de cor entre o material do núcleo e o material envolvente é uma indicação do contraste de índice de refracção. O índice de refracção do material do núcleo é de 1.523 e o do material envolvente é de 1.468 a 119 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos 632.8 nm; o contraste de índice de refracção é de 3.7%. Este valor é muito elevado para obter propagação monomodo em todas as regiões espectrais de interesse (632.8 nm, 1310 nm e 1550 nm), tendo em consideração as dimensões dos núcleos. Superestrato Substrato de silício 10 µm “Buffer” 5 µm (b) (a) Figura 4.42 – (a) Secção transversal de guias de onda em canal “buried” fabricados sobre silício; (b) Guia em canal de secção 5×5 µm2 com boa verticalidade das faces laterais. Utilizando um guia de onda com menor largura (5 µm) e comprimento de 0.8 cm, foi avaliada, a 1300 nm, a perda de propagação por aplicação do método 2, descrito no capítulo 2. Foram avaliadas a perda total de inserção em ∼ 4.3 dB, a perda de acoplamento por ponto em ∼ 1.45 dB e a perda de propagação em ∼ 0.3 dB/cm. O espectro de transmissão de um guia de onda em canal “buried” sobre silício (figura 4.43(a)) é muito semelhante, na região espectral entre 450 nm e 1650 nm, ao de um guia em canal “raised” fabricado num substrato de vidro “soda-lime” (figura 4.43(b)). 0 Espectro de transmissão (dB) Espectro de transmissão (dB) 0 -2 -4 -6 -8 -10 -5 -10 -15 -20 -12 -14 450 600 750 900 1050 1200 λ (nm) (a) 1350 1500 1650 -25 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 λ (nm) (b) Figura 4.43 – Espectro de transmissão: a) de um guia em canal “buried” com 0.8 cm de comprimento fabricado sobre silício; (b) de um guia em canal “raised” com 2.3 cm de comprimento fabricado num substrato de vidro “soda-lime”. 120 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Em comprimentos de onda superiores a 1650 nm, o espectro da figura 4.43(a) possui uma banda de absorção mais intensa cuja origem não foi determinada. A redução do contraste do índice para 1.7%, utilizando para material do núcleo MAPTMS dopado com 5% de ZrO2 (n=1.493), não seria suficiente para obter propagação monomodo. Por outro lado, a deposição sobre a camada “buffer” de filmes dopados com concentrações de zircónio inferiores a 40% não foi possível por falta de adesão, levando os filmes a retrair. Portanto, apesar do material da camada “buffer” permitir a deposição de camadas espessas e ter uma transparência aceitável na região espectral de 1300 nm, o facto é que não é compatível com o material do núcleo para obter um contraste de índice suficientemente baixo de modo a obter-se propagação monomodo (para as dimensões habituais dos núcleos). A propagação monomodo em guias de onda com constraste de índice de 3.7% pode ser atingida pela redução das dimensões dos núcleos. Esta solução permite diminuir o raio de curvatura de guias de onda em “S-bend” e, consequentemente, diminuir o tamanho dos dispositivos. O resultado seria um aumento da capacidade de integração. Em resumo, o material da camada “buffer” desenvolvido não constitui uma boa solução para o desenvolvimento de dispositivos ópticos integrados. O capítulo 6 apresenta uma nova solução possível nesta matéria. 4.5 Conclusões Neste capítulo, foi descrito o trabalho realizado para a fabricação de guias de onda em canal utilizando a tecnologia sol-gel híbrido. Uma primeira parte consistiu em estudar o material do núcleo e em optimizar o processo de fabricação de canais. Foi demonstrada a definição de guias em canal sem o recurso a fotoiniciadores, utilizando um laser de excímeros a 248 nm. Foram estimadas perdas de propagação de 0.4 dB/cm a 1.3 µm e 4-5 dB/cm a 1.55 µm em guias de onda do tipo “raised” dopados com 40% de ZrO2 e fabricados sobre substrato de vidro “sodalime”. O tempo de vida da solução é curto, uma vez que é apenas utilizável na deposição controlada de filmes algumas horas após a sua síntese. A elevada absorção verificada a 1.55 µm é devida, fundamentalmente, à presença de grupos OH. A influência de alguns parâmetros de fabricação sobre a transmitância de guias foi estudada com o objectivo de reduzir essa absorção; foi verificado que o tratamento térmico não permite a diminuição da absorção. 121 Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos Tendo como objectivo a fabricação de guias em canal do tipo “buried” sobre silício, foi desenvolvido um material com baixo índice de refracção (1.468 a 632.8 nm), baseado no grupo metil, que permite a deposição de camadas “buffer” espessas numa única etapa. A análise da transmitância de precursores da família dos metilsilanos permitiu verificar que o grupo metil contribui para a absorção intrínseca do material. Por outro lado, a propriedade hidrofóbica deste material não oferece boas condições de adesão para a deposição de filmes de núcleo dopados com concentrações de ZrO2 inferiores a 40%. A fabricação de guias de onda do tipo “buried” sobre silício foi demonstrada utilizando, para as camadas “buffer” e superestrato, o material desenvolvido baseado no grupo metil e, para o núcleo, o material dopado com 40% de ZrO2. O contraste de índice de refracção dos guias é de 3.7%, demasiado elevado para obter propagação monomodo nos comprimentos de onda de interesse. A perda de propagação foi estimada em 0.3 dB/cm a 1.3 µm. A fabricação de guias de onda sobre silício com elevado desempenho óptico requer mais desenvolvimentos sobre materiais para a resolução dos problemas levantados neste capítulo. Referências [1] N. Takato, M. Yasu and M. Kawachi, "Low-Loss High-Silica Single-Mode Channel Wave-Guides", Electronics Letters, vol. 22, 6, pp. 321-322, 1986. [2] D. E. Zelmon, H. E. Jackson, J. T. Boyd, A. Naumaan and D. B. Anderson, "A Low-Scattering Graded-Index SiO2 Planar Optical-Waveguide Thermally Grown on Silicon", Applied Physics Letters, vol. 42, 7, pp. 565-566, 1983. [3] A. S. Holmes, R. R. A. Syms, M. Li and M. Green, "Fabrication of Buried-Channel Wave-Guides on Silicon Substrates Using Spin-on Glass", Applied Optics, vol. 32, 25, pp. 4916-4921, 1993. [4] P. Etienne, P. Coudray, Y. Moreau and J. Porque, "Photocurable sol-gel coatings: Channel waveguides for use at 1.55 µm", Journal of Sol-Gel Science and Technology, vol. 13, 1-3, pp. 523-527, 1998. [5] P. Rai-Choudhury, "Handbook of Microlithography, Micromachining, and Microfabrication. Volume 2: Micromachining and Microfabrication ", SPIE Press Monograph Vol. PM40, 1997. [6] M. A. Fardad, S. I. Najafi and P. M. Andrews, "Solvent-assisted lithographic process using photosensitive solgel derived glass for depositing ridge waveguides on silicon", patente nº. US6054253, 1997. [7] S. I. Najafi, T. Touam, R. Sara, M. P. Andrews and M. A. Fardad, "Sol-gel glass waveguide and grating on silicon", Journal of Lightwave Technology, vol. 16, 9, pp. 1640-1646, 1998. [8] 122 P. Rai-Choudhury, "Handbook of Microlithography, Micromachining, and Microfabrication. Volume 1: Microlithography", SPIE Press Monograph Vol. PM39, 1997. Capítulo 4 – Fabricação e Caracterização de guias de onda Ópticos [9] A. Moujoud, Z. Saddiki, T. Touam and S. I. Najafi, "Measurement of the refractive-index variations with temperature of hybrid sol-gel glasses", Thin Solid Films, vol. 422, 1-2, pp. 161-165, 2002. [10] M. Oubaha, M. Smaihi, P. Etienne, P. Coudray and Y. Moreau, "Spectroscopic characterization of intrinsic losses in an organic-inorganic hybrid waveguide synthesized by the sol-gel process", Journal of NonCrystalline Solids, vol. 318, 3, pp. 305-313, 2003. [11] R. Buestrich, F. Kahlenberg, M. Popall, P. Dannberg, R. Muller-Fiedler and O. Rosch, "ORMOCER(R)s for optical interconnection technology", Journal of Sol-Gel Science and Technology, vol. 20, 2, pp. 181-186, 2001. [12] A. Yeniay, R. Y. Gao, K. Takayama, R. F. Gao and A. F. Garito, "Ultra-low-loss polymer waveguides", Journal of Lightwave Technology, vol. 22, 1, pp. 154-158, 2004. [13] P. J. Moreira, "Guias de Onda Ópticos em Tecnologia Sol-Gel Híbrido", Tese de Mestrado, Universidade do Porto, 2001. 123 Capítulo 5 Dispositivos Ópticos Integrados Equation Chapter 5 Section 1 5.1 Introdução O S dispositivos ópticos integrados, em termos genéricos, resultam de configurações diversas de guias de onda (geralmente em canal e monomodo, mas também com secções multimodo transversal ou com microestruturas incorporadas) fabricadas sobre um substrato. A propagação monomodo, num dado intervalo espectral óptico, é assegurada por um perfil transversal de índice de refracção adequado. No caso de guias de onda em tecnologia de sílica, a secção ideal dos núcleos é tipicamente quadrada e com índice de refracção constante. Os guias em canal, particularmente nas portas de entrada/saída, são projectados tendo em conta um acoplamento eficiente da radiação entre o guia de onda e a fibra óptica monomodo. No capítulo 4, foi demonstrada a fabricação de guias de onda em canal sobre silício com recurso apenas a materiais sol-gel híbridos. Contudo, o contraste de índice de refracção resultante é consideravelmente elevado, quer a 1300 nm, quer a 1550 nm e, portanto, a propagação da radiação ocorre no regime multimodo para as dimensões do núcleo pretendidas (4 a 5 µm de lado). A diminuição do índice de refracção do material do núcleo, obtida através da dopagem com menores concentrações de óxido de zircónio, permitiria reduzir o contraste do índice relativamente ao material da camada “buffer”. No entanto, foi verificada a falta de adesão dos filmes de núcleo sobre a camada “buffer”, o que impossibilitou a fabricação de guias de onda em canal monomodo. Uma vez que o material de núcleo dopado com 40% de ZrO2 foi intensivamente estudado no capítulo anterior, a solução passou por se utilizar o substrato de vidro de “soda-lime”, cujo índice de refracção (n=1.513 a 632.8 nm) é mais elevado do que o do material “buffer” e, portanto, mais próximo do índice do material de núcleo. 125 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos A propagação monomodo passa a ser garantida através do controlo das dimensões transversais dos guias em canal (estabelecida pela espessura do filme e pela largura da linha da máscara). A cobertura dos guias em canal por uma camada de material com índice de refracção o mais próximo possível do índice do substrato é necessária para a obtenção de um perfil modal simétrico. A consulta da curva de calibração do índice de refracção do material de núcleo em função da dopagem (figura 4.21) permite identificar a concentração de ZrO2 necessária para obter o índice de refracção pretendido. A dopagem do material de núcleo com 20% de ZrO2 permite estabelecer um índice de refracção bem próximo do índice do substrato de “soda-lime” e, portanto, é adequada para o material do superestrato. Em resumo, os dispositivos ópticos integrados passivos, apresentados neste capítulo, foram fabricados sobre subtratos de vidro de “soda-lime” utilizando, para o material do núcleo e do superestrato, a solução de MAPTMS dopada com 40% e 20 % de ZrO2, respectivamente. O superestrato possui a propriedade da fotopolimerização selectiva e permite, por isso, a exploração de novas ideias de fabricação com vista a novas aplicações, nomeadamente, em sensores ópticos. Por princípio, a demonstração de dispositivos ópticos integrados é mais apropriada na região espectral de 1300 nm, uma vez que a atenuação nesta zona é relativamente baixa (ver secção 4.2.8). A forte absorção verificada nos materiais utilizados na região espectral de 1550 nm é um entrave para as aplicações dos dispositivos nesta gama espectral, uma vez que resulta em perdas globais extremamente elevadas; contudo, uma simples demonstração do funcionamento de dispositivos pode ser realizada a 1.55 µm. Neste capítulo, é descrita a fabricação de dois componentes ópticos, usando a metodologia referida: uma rede de difracção de Bragg em guia em canal, e um modulador de intensidade termo-óptico baseado no interferómetro de Mach-Zehnder. 5.2 Redes de difracção de Bragg 5.2.1 Transmissão e reflexão de uma rede uniforme Na sua forma mais simples, uma rede de difracção de Bragg incorporada num guia de onda em canal induz uma modulação periódica do índice de refracção efectivo do modo guiado. Esta modulação pode ser devida a uma variação periódica do índice de refracção do núcleo ao longo do eixo longitudinal do guia de onda e/ou a uma perturbação periódica na geometria da secção recta do guia. 126 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos O efeito resultante de uma rede de Bragg, caso se verifique a condição de Bragg, é o acoplamento de um modo guiado para outros modos (guiados ou não-guiados), determinado pelas características da rede. A condição de Bragg resulta, simplesmente, da condição de conservação da energia (a frequência da radiação incidente e da radiação difractada é a mesma) e da conservação do momento, traduzida pela equação ki + K = k f (5.1) em que ki, kf são os vectores de onda da onda incidente e da onda difractada, respectivamente, e K é o vector da rede, que tem a direcção normal aos planos da rede e magnitude 2π Λ , sendo Λ o período da rede. No caso particular em que o sentido de propagação da onda difractada é contrário ao da onda incidente (a onda incidente é reflectida), a condição da conservação do momento resulta em λ B = 2neff Λ N (5.2) em que N é um número inteiro que corresponde ao harmónico do perfil da modulação do índice efectivo responsável pelo acoplamento. No caso particular da modulação ser sinusoidal, então N=1 e a condição de Bragg é λ B = 2 neff Λ (5.3) O comprimento de onda de Bragg, λB, é o comprimento de onda da radiação incidente que pode ser reflectida totalmente pela rede de Bragg, e neff é o índice efectivo do modo guiado. A figura 5.1 ilustra o efeito de uma rede Bragg uniforme num guia de onda em canal. Algumas propriedades, tais como a reflectividade e a largura da banda espectral de uma rede de Bragg uniforme, podem ser obtidas analiticamente de uma forma suficientemente aproximada, em muitos casos de interesse, através da teoria de acoplamento de modos [1-4]. Assim, uma rede de Bragg uniforme, com uma modulação de índice de refracção efectivo ⎛ 2π z ⎞ representada pela expressão neff ( z ) = neff0 + ∆nrB cos ⎜ ⎟ , em que neff0 é o índice de refracção ⎝ Λ ⎠ médio, ∆nrB é a amplitude de modulação, e com um período Λ, terá uma reflectividade dada pela seguinte expressão [5]: 127 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos R ( L, λ ) = κ 2senh 2 ( SL ) (5.4) ∆β 2senh 2 ( SL ) + S 2 cosh 2 ( SL ) sendo: L : Comprimento da rede κ : Coeficiente de acoplamento β= 2π neff0 λ : Constante de propagação do modo ∆β = β − (π Λ ) : Parâmetro de não-sincronismo de fase S = ( κ 2 − ∆β 2 ) 1 2 It λΒ Ir λ Ii λΒ λ λ Figura 5.1 – Esquema da resposta de uma rede de Bragg uniforme num guia de onda em canal. O coeficiente de acoplamento é dependente da amplitude de modulação do índice (suposta no núcleo, apenas) e é dado aproximadamente por [5] κ= π ∆nrB η λ (5.5) em que η é uma função da frequência normalizada V que representa a fracção da intensidade total do modo contida no núcleo, e que pode ser aproximada por η ≈ 1 − V −2 . Basicamente, κ expressa o grau de perturbação sobre o modo guiado devida à modulação do índice de refracção; 128 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos para uma guiagem mais fraca, o modo é menos confinado dentro das fronteiras do núcleo e, consequentemente, o coeficiente de acoplamente é menor. No comprimento de onda de Bragg, a sintonia no vector de onda é perfeita ( ∆β = 0 ) e, portanto, a expressão para a reflectividade torna-se R ( L, λB ) = tanh 2 (κ ⋅ L ) (5.6) verificando-se que a reflectividade aumenta com a amplitude de modulação do índice de refracção ( ∆nrB ) e com o comprimento (L) da rede de Bragg. A largura espectral a meia altura da banda de reflexão de uma rede de Bragg uniforme pode ser dada aproximadamente pela expressão [6] ⎛ ∆n ∆λ = λB α ⎜ rB ⎜ 2neff 0 ⎝ 2 ⎞ ⎛ Λ ⎞2 ⎟⎟ + ⎜ ⎟ ⎠ ⎝L⎠ (5.7) em que α ~1 para redes fortes e ~0.5 para redes mais fracas. Geralmente, o espectro de reflexão de uma rede não-uniforme (amplitude de modulação de índice ou período) pode ser simulado combinando os resultados obtidos com a teoria do acoplamento de modos e o formalismo matricial [7]. Neste caso, a rede é dividida em pequenas secções, assumindo-se que cada secção é descrita por uma rede uniforme. A figura 5.2 ilustra a técnica matricial aplicada a uma rede de Bragg uniforme com período Λ , comprimento L e amplitude de modulação de índice ∆nrB . Λ A(0) A(L) B(0) B(L) ⎡ A(0) ⎤ ⎡ A( L) ⎤ ⎢ B(0) ⎥ = T ⎢ B( L) ⎥ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦ L Figura 5.2 – Ilustração da análise de uma rede de Bragg uniforme pelo método das matrizes. Para esta análise, são consideradas duas ondas que se propagam em sentidos contrários, cujas amplitudes são representadas por A(z) e B(z). As relações entre as amplitudes na entrada (z=0) e na saída (z=L) da rede de Bragg são obtidas por 129 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos ⎡ A ( 0 ) ⎤ ⎛ T11 T12 ⎞ ⎡ A ( L ) ⎤ ⎢ ⎥=⎜ ⎥ ⎟⎢ ⎣⎢ B ( 0 ) ⎦⎥ ⎝ T21 T22 ⎠ ⎢⎣ B ( L ) ⎥⎦ (5.8) Os elementos da matriz T são dados por [7] i ∆β L ⋅senh ( SL ) ⎤ ⎡ T11 = T22* = exp ( i β 0 L ) ⎢cosh ( SL ) + ⎥ SL ⎣ ⎦ κ L ⋅ senh ( SL ) T12 = T21* = − ⋅ exp ⎡⎣i ( β 0 L ) ⎤⎦ SL β0 = (5.9) π Λ Assumindo incidência apenas num dos extremos da rede de Bragg, A(L)=0, os coeficientes de transmissão e de reflexão de intensidade são obtidos, respectivamente, por 2 2 2 2 B ( L) 1 T (λ ) = = B ( 0) T11 R (λ ) = A ( 0) T = 12 B ( 0) T11 (5.10) 1,0 -3 ∆n(rB)=4x10 -3 ∆n(rB)=1x10 0,8 -4 Reflectividade ∆n(rB)=1x10 0,6 0,4 0,2 0,0 1590 1592 1594 1596 1598 Comprimento de onda (nm) Figura 5.3 – Respostas espectrais de redes de Bragg uniformes com 10 mm de comprimento e período de 527.5 nm, com amplitudes de modulação de índice diferentes. A figura 5.3 mostra as características espectrais de uma rede de Bragg uniforme com 10 mm de comprimento e um período de modulação de índice de 527.5 nm; o comprimento de onda de 130 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Bragg é de 1594.42 nm, a que corresponde um índice efectivo de 1.5113. O valor de η é de 0.80, considerando um bom confinamento ( V ≥ 2.4 ) do modo de propagação. Estes valores correspondem aos de uma rede de Bragg realizada experimentalmente e referida adiante. Quanto mais forte for o acoplamento da rede de Bragg, ou seja, quanto mais elevada for a amplitude de modulação do índice, maior é a largura da resposta espectral da rede de Bragg. 5.2.2 Tipos de redes de Bragg As redes de Bragg podem ser classificadas de acordo com as características de crescimento: Redes do tipo I – são redes formadas por uma modulação do índice de refracção relativamente baixa. Dentro desta categoria encontram-se todas as apresentadas na tabela 5.1. Redes do tipo II – são redes caracterizadas por uma forte modulação do índice de refracção; são obtidas por exposição a um impulso UV intenso [8], resultando numa danificação periódica permanente da interface núcleo/baínha. Uma das suas características é a de evidenciar reflectividade e largura de banda elevadas; transmitem os comprimentos de onda superiores ao comprimento de onda de Bragg, mas apresentam uma forte perda nos comprimentos de onda inferiores ao comprimento de onda de Bragg. Este tipo de redes é também caracterizado por uma estabilidade superior face à temperatura. Redes do tipo IIa – são redes cuja reflectividade cresce inicialmente como a das redes do tipo I, mas, ao atingir-se a saturação com o tempo de exposição UV, ela anula-se parcial ou totalmente, surgindo uma nova rede. Esta nova rede é caracterizada por evidenciar um desvio negativo no comprimento de onda de Bragg relativamente à rede inicialmente formada, indicando uma variação negativa do índice de refracção [9]. As redes de Bragg do tipo I podem ser classificadas de acordo com o perfil da modulação de índice induzida: (a) redes uniformes, (b) redes apodizadas, (c) redes DC-apodizadas, (d) redes do tipo “chirped”, (e) redes com desvio de fase, (f) redes do tipo “slanted” ou “blazed”, (g) redes de período longo, h) redes amostradas. Rede uniforme – caracterizada por amplitude de modulação e período constantes; o espectro de reflexão já foi analisado anteriormente e caracteriza-se por evidenciar lobos laterais. Neste 131 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos trabalho, pretende-se fabricar este tipo de redes em guias em canal nos materiais híbridos apresentados. Rede apodizada – a amplitude de modulação varia ao longo do guia de onda, obedecendo a uma função de apodização [7] (como, por exemplo, uma função gaussiana). A apodização DC é um caso particular em que o índice médio é constante ao longo da rede. O espectro de reflexão resultante é semelhante ao de uma rede uniforme, mas sem os lobos laterais. Rede do tipo “chirped” – o comprimento de onda ressonante é variável ao longo da rede, resultando num espectro de reflexão caracterizado por uma banda larga [10]; pode ser obtida variando monotonicamente o período da rede e/ou o índice médio da modulação. Rede com desvio de fase – um desvio de fase é introduzido numa posição longitudinal particular da modulação do índice de refracção. O desvio de fase divide a rede em duas partes, que se comportam como uma cavidade ressonante. O efeito produzido é a transmissão de uma banda muito estreita num comprimento de onda dentro do intervalo correspondente à largura da banda de reflexão [10]. Rede do tipo “slanted” ou “blazed” – a normal aos planos da modulação do índice forma um ângulo com o eixo longitudinal do núcleo. O efeito resultante é o acoplamento dos modos guiados para os modos de radiação. Ondas com diferentes comprimentos de onda, assim como diversos modos com o mesmo comprimento de onda, emergem em ângulos diferentes devido às diferenças entre as constantes de propagação. Esta rede pode funcionar, por exemplo, como um discriminador modal e espectral [11,12]. Rede de período longo – o período de modulação é relativamente longo em comparação com o comprimento de onda. O funcionamento deste tipo de redes resulta no acoplamento codireccional entre modos guiados e modos de radiação. Este tipo de rede é utilizado para equalizar o ganho espectral de amplificadores ópticos [13]. Rede amostrada – existe modulação da amplitude da rede uniforme por uma função da amostragem (função tipo “pente”). Cada componente espacial de Fourier da modulação irá contribuir com um pico no espectro de reflexão; a separação entre estes picos é dependente do período da amostragem [7]. 132 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Perfil do índice de refracção ao longo da rede Reflexão (u.a.) Resposta espectral da rede de Bragg Uniforme Reflexão (u.a.) Comprimento de onda (nm) Apodizada Reflexão (u.a.) Comprimento de onda (nm) Com apodização DC Reflexão (u.a.) Comprimento de onda (nm) “Chirped” Reflexão (u.a.) Comprimento de onda (nm) Com desvio de fase Reflexão (u.a.) Comprimento de onda (nm) Amostrada Comprimento de onda (nm) Tabela 5.1 –Perfil de índice longitudinal e respectiva resposta espectral de redes de Bragg do tipo I [14]. 133 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos 5.2.3 Técnicas de fabricação A inscrição de redes periódicas de Bragg é corrente em fibras ópticas, por indução de uma modulação do índice de refracção no núcleo da fibra, através da incidência de um padrão obtido por interferência de radiação ultravioleta (UV). Existem várias técnicas que permitem criar esse padrão de interferência e que, da mesma forma, podem ser aplicadas na fabricação de redes de Bragg em guias de onda em canal. As técnicas classificam-se em interferométricas, de máscara de fase, e de escrita ponto-aponto. Técnicas interferométricas Nestes casos, o padrão é criado por interferência de dois feixes UV mutuamente coerentes (coerência espacial e temporal), que podem ser obtidos pela divisão de amplitude ou pela divisão de frente de onda de um feixe laser UV. A grandeza sub-micrométrica do período das franjas de interferência requer uma grande estabilidade no funcionamento do interferómetro. (i) Interferómetro de divisão de amplitude Neste interferómetro (figura 5.4), o feixe UV origina dois feixes de igual intensidade por utilização de um divisor de feixe. As ondas são posteriormente recombinadas, formando um ângulo 2θ entre si na zona de exposição pretendida (da fibra óptica ou do guia de onda em canal) [15]. O período da rede de Bragg, que é idêntico ao período das franjas de interferência, depende do comprimento de onda (λUV) da radiação UV no meio em causa, e do ângulo θ , através da equação Λ= λUV 2 ⋅ sen θ (5.11) A escolha de λUV está limitada pela fotossensibilidade do material cujo índice se pretende modificar. A grande vantagem desta técnica está na capacidade de permitir escrever redes de Bragg com o comprimento desejado e para qualquer comprimento de onda de Bragg (superior a λUV). A principal desvantagem deste método é a sua grande sensibilidade perante vibrações mecânicas no sistema óptico; pequenos deslocamentos dos componentes ópticos, na escala de sub-micrometro, assim como flutuações de índice de refracção do ar no caminho óptico, podem afectar a estabilidade da formação das 134 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos franjas de interferência. A fabricação de redes de Bragg de boa qualidade com este sistema requer uma fonte laser com uma potência de emissão estável e com suficiente coerência espacial e temporal. Feixe laser UV LC E E DF E θ LC – lente cilíndrica DF – divisor de feixe E - espelho Amostra Figura 5.4 – Representação esquemática de um interferómetro de divisão de amplitude para a produção de redes de Bragg. (ii) Interferómetros de divisão de frente de onda Nestes interferómetros, a frente de onda é dividida em duas secções, que podem ser recombinadas utilizando, para o efeito, um prisma (interferómetro com prisma [16]) ou um espelho (interferómetro de Lloyd [17]). A figura 5.5 mostra os esquemas dos respectivos interferómetros. No primeiro caso, o feixe expandido incide num dos lados do prisma, sendo reflectida a secção da frente de onda que incide na face lateral (por reflexão total interna), sobrepondo-se assim à secção complementar para a formação do padrão de interferência. O prisma é de sílica fundida, de modo a ser transparente no comprimento de onda UV utilizado para a escrita da rede de Bragg. O princípio de funcionamento do interferómetro de Lloyd é idêntico ao do prisma, com a excepção de que uma secção do feixe é reflectida por um espelho dieléctrico posicionado perpendicularmente ao guia de onda. A vantagem dos interferómetros de divisão da frente de onda sobre o interferómetro de divisão de amplitude é a utilização de um único componente óptico, o que permite reduzir 135 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos consideravelmente a sensibilidade face às vibrações mecânicas. A distância reduzida entre as frentes de onda permite minimizar possíveis distorções dos caminhos ópticos entre os feixes, induzidas por correntes de ar ou diferenças de temperatura. A principal desvantagem encontra-se na limitação do comprimento da rede de Bragg (restrita à metade da dimensão da frente de onda) e na estreita gama de comprimentos de onda de Bragg (condicionada pelo sistema físico). Feixe laser UV Lente Feixe laser Espelho Lente Prisma Amostra (a) Amostra (b) Figura 5.5 – Representação esquemática dos interferómetros de divisão de frente de onda: (a) interferómetro de prisma; (b) interferómetro de Lloyd. Técnica da máscara de fase Este método é o mais utilizado para a fabricação de redes de Bragg [18,19], e utiliza um elemento óptico difractivo (máscara de fase) para criar o padrão de interferência, como mostra a figura 5.6. A máscara de fase consiste num substrato de sílica fundida (transparente no comprimento de onda do feixe UV incidente) em que, numa das faces, é fabricada uma rede de difracção de relevo, periódica e unidimensional. A profundidade do perfil da estrutura é escolhida de tal forma que, para incidência normal de uma onda com comprimento de onda bem definido, é maximizada a potência óptica das ondas difractadas de primeira ordem (m=±1), ao ponto de conterem cada uma mais de 35% da potência óptica transmitida através da máscara de fase, e minimizada a potência da onda de ordem zero (tipicamente para menos de 5%). A interferência das ondas de primeira ordem origina o padrão de franjas cujo período está relacionado com o período da rede de difracção da máscara de fase como sendo 136 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Λrede de Bragg = Λmáscara de fase 2 . O guia de onda no qual se pretende transcrever a rede de Bragg é colocado em contacto (ou na proximidade) com a máscara de fase. Feixe laser UV Máscara de fase Amostra m = −1 m = +1 Núcleo com rede de Bragg Figura 5.6 – Esquema que ilustra a inscrição de uma rede de Bragg num guia de onda pela técnica da máscara de fase. Esta técnica simplifica amplamente o sistema de fabricação de redes de Bragg, uma vez que utiliza apenas um elemento óptico, melhorando a robustez e a estabilidade do método e, assim, possibilitando uma maior reprodutibilidade nos resultados. A coerência temporal da fonte UV deixa de ser um parâmetro crítico (ao contrário das técnicas interferométricas) uma vez que a igualdade dos caminhos ópticos é garantida pela geometria da montagem. Esta técnica tem a desvantagem de não permitir fabricar redes com diferentes comprimentos de onda Bragg utilizando apenas uma máscara de fase, uma vez que o comprimento de onda Bragg é directamente imposto pela máscara. As máscaras de fase são normalmente fabricadas utilizando métodos holográficos [20] ou por litografia por feixe focalizado de electrões [21], processos necessários para produzir o padrão numa camada fina de “photoresist”. Após a revelação, a estrutura da rede é definida, em ambos os casos, por ataque químico com iões direccionados (RIE). O método holográfico é, em princípio, superior ao método do feixe de electrões. Contudo, torna-se difícil a sua aplicação para a fabricação de redes longas devido a problemas relacionados com a uniformidade da iluminação e a necessidade de espelhos de grande dimensão. A escrita por feixe de electrões é feita por pequenas áreas; um problema típico desta técnica é o aparecimento de erros de “stitching” 137 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos devidos a ligeiras imprecisões no alinhamento entre estas áreas. Algumas técnicas foram desenvolvidas para minimizar estes erros [21,22]. A fonte UV geralmente utilizada para escrever redes de Bragg com a máscara de fase é o laser de excímeros de KrF (248 nm) pulsado, embora o laser de excímeros de ArF (193 nm) tenha sido também usado [23]. Ambos os lasers de excímeros produzem radiação com baixa coerência temporal e espacial. A baixa coerência espacial faz da separação entre o guia de onda e a máscara de fase um parâmetro crítico para a boa definição da rede de Bragg. Quanto mais afastado ficar o guia de onda da máscara de fase, mais fraca será a visibilidade das franjas de interferência e, portanto, a modulação de índice induzida será menor, obtendo-se em consequência uma rede de Bragg com menor reflectividade. Contudo, a colocação do guia de onda em contacto com a máscara de fase pode resultar na danificação da mesma. A importância do aumento da coerência espacial da fonte UV foi evidenciada em [24,25]; não só tal permite aumentar a qualidade da escrita de redes de Bragg, como atenua a necessidade de ter o guia de onda em contacto com a máscara de fase. Umas das vantagens resultantes é a possibilidade de escrever redes de Bragg cujo momento K forma um ângulo com a direcção longitudinal do guia de onda. Assim, colocando um dos lados da zona a expor contra a máscara de fase e o outro lado a uma distância da máscara, é possível escrever redes com um comprimento de onda de Bragg ligeiramente diferente do imposto pela máscara de fase em condições normais de exposição (plano da máscara de fase paralelo ao guia de onda) [5]. A escrita com laser de Ar (244 nm) contínuo foi também experimentada [26]. Uma variação da técnica habitual da máscara de fase em proximidade com o guia de onda foi proposta [27], utilizando entre a máscara de fase e o guia um prisma rectangular em sílica. As primeiras ordens difractadas pela máscara de fase são reflectidas nas faces laterais internas do prisma, e emergem para interferir entre si no guia de onda. Esta técnica de não-contacto é mais flexível e permite uma rápida variação do comprimento de onda de Bragg inscrito, o que torna interessante a sua aplicação para a escrita de redes de Bragg do tipo “chirped”. Método ponto-a-ponto Este método consiste na variação pontual do índice de refracção por meio de um impulso focalizado proveniente de um laser de excímeros [28]. A modulação do índice é induzida pela translação do guia de onda relativamente à posição do foco do feixe UV. Esta técnica requer, à partida, um sistema de translação preciso (à escala de sub-micrometro) e muito estável. As redes produzidas por esta técnica funcionam para ordens superiores à fundamental, dada a dificuldade em obter um foco com dimensões sub-micrométricas. A principal vantagem deste método 138 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos encontra-se na flexibilidade em controlar os diversos parâmetros de fabricação das redes de Bragg, tais como o comprimento, o período e o perfil da amplitude de modulação. Em contrapartida, dada a natureza desta técnica, o processo de escrita consome, relativamente, muito tempo. O aparecimento de eventuais erros no espaçamento entre pontos da rede, devido a efeitos térmicos, limita o comprimento da rede de Bragg. 5.2.4 Aplicações As redes de Bragg têm muito interesse para o funcionamento de alguns componentes ópticos integrados, tais como lasers [29], multiplexadores/desmultiplexadores em comprimento de onda (“add-drop”) [30] e compensadores de dispersão [17]. Lasers integrados Nestes dispositivos, as redes de Bragg funcionam como reflectores selectivos em comprimento de onda, utilizados para formar a cavidade laser. O controlo adequado dos parâmetros de fabricação das redes de Bragg permite implementar as características desejadas em termos da reflectividade de cada um dos reflectores. As redes de Bragg têm sido aplicadas na fabricação de lasers de semicondutores III-V (DFB, DBR) e, posteriormente, em lasers cujo meio activo resulta da dopagem de uma matriz vítrea ou cristalina com iões lantanídeos, com principal relevância para o érbio [31,32]. Nestes trabalhos, a cavidade é formada por duas redes de Bragg com reflectividade de 97%. A banda da fluorescência característica do érbio, na região de 1550 nm, permite, por exemplo, a fabricação de um laser sintonizável com uma risca de emissão muita estreita. Esta ideia foi demonstrada em fibra [33], em que um dos reflectores evidenciava uma reflectividade de ∼100% numa banda relativamente larga, o que foi obtido a partir de um conjunto de cinco redes de Bragg com picos de reflexão separados de 0.5 nm, aproximadamente. O outro reflector foi formado por uma rede de Bragg com reflectividade de 80% e largura da banda de 0.12 nm. O controlo dos parâmetros de fabricação de redes de Bragg em guias de onda em canal revela-se de extrema importância para a implementação deste tipo de dispositivos activos. Filtros ópticos Do ponto de vista das suas características de transmissão óptica, as redes de Bragg, por si só, funcionam como filtros de banda-stop. No entanto, os dispositivos com maior relevância nas aplicações em telecomunicações são os filtros passa-banda, uma vez que permitem a selecção de 139 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos canais a partir de um espectro largo de frequências e não a rejeição, como seria o caso das redes de Bragg. Com este objectivo, um vasto conjunto de soluções foi idealizado e demonstrado, utilizando as redes de Bragg. Em [7] são apresentados, em detalhe, muitos exemplos destes filtros. Apesar de muitas das configurações propostas terem sido demonstradas em fibra óptica, a sua potencial implementação em dispositivos planares permanece válida. Em [34] é demonstrado um multiplexador/desmultiplexador utilizando a configuração do interferómetro de MachZehnder com dois acopladores direccionais, e em que é escrita, em cada um dos braços, a mesma rede de Bragg. Compensadores de dispersão Um dos principais problemas da propagação ao longo da fibra óptica de sinais ópticos de taxa temporal muito elevada é a dispersão cromática, que causa o alargamento temporal dos impulsos ópticos e, consequentemente, aumenta a taxa de erro na tranferência da informação. Uma rede de Bragg do tipo “chirped” constitui uma solução para compensar a dispersão cromática, através da compressão do impulso [17]. 5.2.5 Redes de difracção em tecnologia sol-gel híbrido Redes de Bragg em guias de onda em canal foram produzidas (por processo sol-gel) com materiais híbridos fotopolimerizáveis, pela primeira vez, utilizando um processo de dupla exposição: a primeira exposição UV (com uma lâmpada de mercúrio) teve como finalidade a definição dos guias em canal; a segunda exposição foi realizada com um laser de excímeros, a 193 nm, para escrever a rede no guia através da técnica da máscara de fase [35-37]. Foi reportado um máximo de reflectividade próximo de 100% para uma rede de Bragg com 1.5 mm de comprimento. Uma variação da técnica de dupla exposição foi utilizada na fabricação de redes de Bragg do tipo “slanted” em guias em canal, para a demonstração de deflectores de Bragg distribuídos [38]. Foi utilizado o mesmo feixe laser a 266 nm nas duas exposições, sendo cada exposição realizada por contacto com máscaras diferentes (máscara de amplitude para a definição dos guias e máscara de fase para a rede, posicionada com um ângulo de 45º em relação ao eixo longitudinal do guia). Uma técnica de escrita directa foi aplicada na fabricação de redes de Bragg em guias em canal, numa única etapa, utilizando somente uma máscara de fase [39]. Um feixe de um laser de He-Cd, focado sobre um filme fotopolimerizável em contacto com uma máscara de fase, permite definir apenas o guia de onda fora da zona da rede de difracção da máscara, e definir simultaneamente a rede de Bragg e o guia na zona da rede de difracção da 140 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos máscara de fase. Em [40,41], foi proposta a fabricação de redes da Bragg em relevo numa camada planar de sílica sobre silício sobre a qual é fabricado, por sol-gel, o guia de onda em canal. Este tipo de estruturas foi utilizado em reflectores de Bragg (DBR). Nos últimos anos, um conjunto alargado de trabalhos tem vindo a ser publicado sobre a fabricação de redes de difracção de relevo (e com modulação de índice) e, sobretudo, elementos difractivos definidos em camadas de materiais híbridos fotossensíveis, recorrendo a numerosas técnicas. Foram aplicadas técnicas como a holografia, utilizando o interferómetro de Lloyd e um laser de árgon (363.8 nm), para escrever uma rede de difracção planar com modulação de índice [42], ou um laser de He-Cd para definir redes de difracção em relevo com perfis variáveis na superfície [43,44] e elementos difractivos ópticos [45]. A interferência por divisão de amplitude de um feixe de um laser de He-Cd foi também aplicada na fabricação de redes de difracção unidimensional [46] e bidimensional [47]. Diferentes tipos de máscaras foram utilizados para a demonstração de redes de difracção de relevo, como a máscara de amplitude [48], a máscara de fase [49], e a máscara em escala cinzenta aplicada na fabricação de estruturas em relevo com amplitudes variáveis [50-52]. A escrita directa com feixe laser foi também aplicada na definição de elementos ópticos difractivos [53], assim como a escrita directa com feixe de electrões [54,55]. 5.3 Fabricação e caracterização de redes de Bragg em guias em canal Na sequência do desenvolvimento da tecnologia de microfabricação descrita no capítulo 4, foi demonstrada a sua aplicação na fabricação de redes de Bragg uniformes em guias de onda em canal utilizando os materiais híbridos produzidos com o processo sol-gel. O método de fabricação explorado foi baseado na utilização da máscara de fase. A fotossensibilidade necessária para a escrita da rede de Bragg está associada ao material através da componente orgânica do precursor MAPTMS (ligações duplas C=C). O processo de fabricação de uma rede de Bragg em guias em canal pode variar, uma vez que se trata de produzir dois componentes integrados: o guia de onda em canal e a rede de Bragg. Neste trabalho, foram explorados dois processos de fabricação, sendo o primeiro baseado num método de dupla exposição (uma exposição para a definição do guia de onda e outra para a escrita da rede de Bragg), e o segundo num método utilizando uma única exposição (fabricação simultânea no guia de onda e da rede de Bragg). 141 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos 5.3.1 Método de dupla exposição UV O método consiste em fabricar, numa primeira fase, um guia de onda do tipo “ridge”, de acordo com o procedimento habitual (MAPTMS com 40% de ZrO2) apresentado no capítulo 4, utilizando, para o efeito, a mínima dose possível de radiação UV. De acordo com a secção 4.2.9, a banda de absorção centrada em 1620 nm serve de indicador da fotossensibilidade do material híbrido. A exposição UV, com radiação a 248 nm (laser de KrF), de um guia em canal formado com um tempo mínimo de exposição (15s, para uma fluência aproximada de 60 mJ/cm2 e frequência de repetição dos impulsos de 10 Hz) causa a diminuição progressiva da fotossensibilidade do material até esta se anular (estado correspondente ao desaparecimento efectivo das ligações C=C, evidenciado pela diminuição da intensidade da banda de absorção correspondente). Esta característica é aproveitada para escrever, numa segunda fase, a rede de Bragg no guia em canal. Nesta etapa, a máscara de fase é apoiada sobre os guias em canal e alinhada com as linhas da rede da máscara perpendiculares aos guias de onda. Uma vez que a dimensão da máscara de fase utilizada era inferior às dimensões das amostras produzidas, houve a possibilidade de observar o crescimento da rede de Bragg em tempo real. Para tal, foi acoplada luz branca (fonte de espectro largo), através de uma fibra óptica multimodo, num guia largo (à partida também multimodo). A luz que se propaga no guia de onda é captada (com outra fibra multimodo) e caracterizada por meio de um analisador de espectros ópticos. A amostra foi exposta somente na região limitada pela zona da rede de difracção da máscara de fase. A figura 5.7 ilustra o processo de fabricação por dupla exposição UV. 1ª etapa 2ª etapa UV Máscara de amplitude UV Abertura Máscara de fase Guias de onda em canal do tipo “ridge” após revelação Definição da rede de Bragg Figura 5.7 – Esquema do método de dupla exposição utilizado para fabricar uma rede de Bragg num guia em canal. 142 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos A máscara de fase utilizada tem um período de 726 nm e um comprimento de 8 mm. Na escrita da rede de Bragg, a exposição UV permanece até se verificar, no espectro de transmissão, o fim do crescimento da banda espectral atribuída à reflexão da rede de Bragg. O resultado encontra-se na figura 5.8. Figura 5.8 - Espectro na saída de um guia em canal multimodo, evidenciando a existência de uma rede de Bragg. Os vários picos que se observam são associados aos vários modos de propagação. A banda no espectro de transmissão correspondente à rede de Bragg possui vários picos, atribuídos aos vários modos de propagação. O comprimento de onda de Bragg do modo fundamental encontra-se aproximadamente a 1097 nm. O índice efectivo do modo fundamental foi calculado de acordo com a expressão (5.3), sendo 1.511. A eficiência da rede de Bragg foi estimada em 44%. Uma das grandes dificuldades encontradas neste método foi a sua reprodutibilidade; o resultado anterior foi, de facto, o único conseguido. O alinhamento da máscara de fase com os guias de onda foi realizado com o recurso a um microscópio com baixo poder de ampliação e, portanto, não constitui um método de alinhamento rigoroso. A demonstração da fabricação de redes de Bragg em guias monomodo não foi possível por restrições de potência óptica na sua caracterização. Na região espectral considerada, estava disponível apenas uma fonte de luz branca e o acoplamento de potência óptica suficiente para analisar um espectro de transmissão de um guia de onda só se torna possível com o recurso a fibras e guias em canal multimodo. 143 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Foi igualmente testada a escrita de uma rede de Bragg em guias em canal cobertos por um superestrato, fabricado com material baseado no precursor (não fotossensível) MTMOS. Por este processo, não foi demonstrada a escrita de uma rede de Bragg através do superestrato. 5.3.2 Método de exposição UV única Este método foi implementado para fabricar, simultaneamente, o guia de onda em canal e a rede de Bragg utilizando uma única exposição UV e, portanto, uma única máscara fotolitográfica. Esta máscara é fabricada a partir de uma máscara de fase sobre a qual é depositado um filme de NiCr usado para definir as aberturas correspondentes aos guias de onda, como mostra a figura 5.9. O resultado é uma combinação de uma máscara de fase com uma máscara de amplitude. Com este método, não há a permanente necessidade de alinhamento entre a máscara de fase e os guias de onda, como acontece no processo anteriormente descrito. O alinhamento entre a rede de Bragg e os guias de onda fica garantido pela máscara produzida; o único processo de alinhamento ocorre na etapa de fabricação da máscara, e pode realizar-se com algum rigor recorrendo a um alinhador de máscaras. A rede de difracção da máscara de fase, inicialmente utilizada num primeiro teste, comporta um período e um comprimento de 726 nm e 8 mm, respectivamente. O padrão correspondente aos guias de onda contém um conjunto de linhas com larguras entre 4 e 24 µm, com passo de 2 µm. Os guias de onda foram fabricados em substrato de vidro “soda-lime”, utilizando o material sintetizado por MAPTMS com 40% de ZrO2, de acordo com o procedimento habitual. Com um tempo de exposição de 25 s (fluência e frequência do laser a 50 mJ/cm2 e 10 Hz, respectivamente), foram obtidos guias de onda em canal contendo redes de Bragg, como mostra a figura 5.10. Pode observar-se alguma rugosidade nas faces laterais dos canais, em sincronia com as linhas da rede de difracção da máscara. Uma análise atenta da figura 5.10(b) permite identificar, na fronteira da rede Bragg, zonas com diferentes larguras. A figura 5.11 ilustra uma possível interpretação para este resultado. A zona A corresponde à normal interferência entre as ordens de difracção. Uma parte da zona B não é irradiada por uma das ordens e, portanto, a energia incidente (e, consequentemente, a polimerização) é menor, tendo como resultado uma diminuição relativa da largura do guia (uma diminuição de exposição UV tende a reduzir a largura dos guias). A zona C é correspondente à interferência de uma das ordens de difracção com a ordem 0. 144 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos (a) (b) Figura 5.9 - (a) Aberturas definidas no filme de NiCr sobre a região da rede na máscara de fase; (b) fronteira entre as zonas com e sem rede da máscara de fase. C B A (a) (b) Figura 5.10 - (a) Rede de Bragg num guia de onda em canal com 5 µm de largura; (b) fronteira de uma rede de Bragg num guia em canal com 10 µm de largura. Uma amostra com 20 mm de comprimento foi caracterizada, com o objectivo de adquirir o espectro de transmissão de um guia de onda em canal contendo uma rede de Bragg. Como a máscara de fase é a mesma que foi utilizada no método anterior, é de esperar um comprimento de onda de Bragg na mesma posição espectral, exibida na figura 5.8. O processo de caracterização da rede de Bragg (análise da resposta espectral em transmissão) requereu o uso da fonte de luz branca e, para permitir a propagação de potência óptica suficiente, é analisada uma rede de Bragg num guia em canal multimodo. A figura 5.12 mostra o caso de um guia com 10 µm de largura e 3.5 µm de espessura, em que a propagação de mais do que um modo guiado causa várias oscilações na resposta, sendo a do modo fundamental a mais intensa (as oscilações nessa banda devem-se ao ruído do analisador, que aparece sempre que detecta um nível de potência óptica muito baixo); verificou-se, por cálculo, que a eventual existência de um segundo modo situar-se-ia fora da banda da rede de Bragg. Comparando com o método anterior de dupla exposição, esta técnica (em que a rede de Bragg e o guia de onda são simultaneamente definidos) demonstra ser mais eficiente quanto ao desempenho da rede de Bragg. 145 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Camada do núcleo C B B C A Zona com menor exposição Substrato Figura 5.11 – Esquema de interpretação da forma geométrica da zona de fronteira da rede de Bragg observada na figura 5.10(b). -70 Transmissão (dB) -75 -80 -85 -90 -95 1072 1080 1088 1096 1104 1112 1120 Comprimento de onda (nm) Figura 5.12 - Espectro de transmissão de uma rede de Bragg num guia de onda em canal (10x3.5 µm2) multimodo do tipo “raised”. A aquisição do espectro de reflexão não foi possível, por insuficiência de potência óptica no sistema. O ideal seria demonstrar uma rede de Bragg num guia em canal com a reflectividade na região de 1300 nm, uma vez que, nessa região espectral, se dispõe de uma fonte (LED) com potência de emissão suficiente e a absorção do material é mínima. No entanto, a falta de disponibilidade de uma máscara de fase com um período adequado não possibilitou esta tarefa. A alternativa consistiu na demonstração de uma rede de Bragg na região de 1550 nm. A máscara de fase utilizada tem um período de 1055.0 nm e um comprimento de 10 mm. As aberturas correspondentes aos guias de onda foram definidas da forma descrita anteriormente. Os guias de onda com rede de Bragg foram definidos no material dopado com 40% de ZrO2, e foi utilizado um tempo de exposição UV de 30 s (50 mJ/cm2, 10 Hz). A figura 5.13 mostra 146 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos imagens de redes de Bragg em guias em canal obtidas com um microscópio electrónico. As paredes laterais dos guias com redes de Bragg possuem as mesmas perturbações periódicas identificadas na figura 5.10. A figura 5.13 (b) mostra a zona fronteira de redes de Bragg em guias em canal. Uma análise atenta da figura permite a observação do mesmo padrão evidenciado na figura 5.10 (b). C (a) B A (b) Figura 5.13 – Imagens de microscopia electrónica de: (a) redes de Bragg em guias de onda em canal; (b) zona de fronteira de redes de Bragg. As linhas verticais mais salientes que se observa nas paredes laterais da rede de Bragg têm um período correspondente ao da máscara de fase, enquanto que na face superior do guia não se observa qualquer tipo de estrutura. A figura 5.14 (a) mostra uma imagem de microscopia electrónica de uma rede de Bragg em guia em canal com maior ampliação, e permite observar, nas paredes laterais, linhas mais internas igualmente periódicas; o resultado é uma estrutura com a periodicidade esperada para a rede de Bragg. As secções rectas do guia, localizadas por cada uma dessas linhas, correspondem a zonas onde a incidência de radiação UV foi superior e que, por isso, resultaram em secções mais largas. Sendo assim, o índice de refracção nestas secções é mais elevado e, no seu conjunto, resulta numa distribuição periódica de índice que caracteriza a rede de Bragg (período igual a metade do período da máscara de fase). O aparecimento de uma estrutura mais externa pode ser interpretado como o resultado adicional da incidência residual da ordem 0, que contribui com uma distribuição de intensidade UV com um período igual ao da máscara de fase. A figura 5.14 (b) reforça esta tese com a imagem topográfica da face superior do guia, obtida por microscopia de força atómica (AFM) em “tapping-mode”. A imagem mostra uma topografia com uma amplitude de 30 nm e uma periodicidade aproximada de 1 µm (período da máscara de fase). 147 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos estrutura mais externa estrutura mais interna (a) (b) Figura 5.14 – (a) Imagem de microscopia electrónica de uma rede de Bragg em guia em canal com maior ampliação; (b) Topografia da face superior de um guia de onda contendo uma rede de Bragg, obtida por AFM. A caracterização espectral de redes de Bragg foi realizada em guias de onda cobertos com um superestrato do mesmo material híbrido do núcleo, mas com uma dopagem inferior (20% de ZrO2). Esta estrutura permite obter um perfil de índice mais simétrico e atenuar o efeito da perturbação geométrica nas paredes laterais dos guias com redes de Bragg. A figura 5.15 apresenta o esquema da montagem experimental utilizada para adquirir os espectros de transmissão e de reflexão de uma rede de Bragg. Fonte de espectro largo a 1550 nm Circulador λB OSA “index-matching” Espectro de transmissão OSA Espectro de reflexão Figura 5.15 – Montagem experimental utilizada para a caracterização espectral de redes de Bragg. A aquisição adequada do espectro de reflexão requer o preenchimento do espaço entre a fibra (monomodo) excitadora e o guia de onda que contém a rede de Bragg com uma gota de líquido 148 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos de adaptação de índice, para minimizar a reflexão de Fresnel que se sobrepõe à resposta espectral da rede de Bragg. Foram analisadas amostras que contêm guias em canal com espessuras de 6 e 7 µm, e larguras entre 6 e 18 µm. A espessura do superestrato situa-se entre 13 e 15 µm. Todos os guias de onda apresentam propagação multimodo e, portanto, a resposta espectral da rede (em transmissão e em reflexão) depende das condições de excitação dos modos guiados. A figura 5.16 estabelece a comparação entre espectros de transmissão normalizados de redes de Bragg em guias em canal com larguras de 6, 8 e 10 µm. Verificou-se, por simulação aproximada, que a separação entre os picos observados corresponde a cada um dos modos guiados. À medida que a largura do guia aumenta, aumentam os índices efectivos dos modos e o nível de excitação dos modos superiores. A forma curva dos gráficos na zona espectral de 1620 nm deve-se à absorção do material; nesta zona encontra-se a banda de absorção correspondente às duplas ligações C=C residuais. -5 2 guia de onda com secção 6x10µm -10 Transmissão (dBm) -15 -5 -10 2 guia de onda com secção 6x8µm -15 -20 -25 -5 -10 2 guia de onda com secção 6x6µm -15 -20 -25 1520 1530 1540 1550 1560 1570 1580 1590 1600 1610 1620 Comprimento de onda (nm) Figura 5.16 – Comparação entre os espectros de transmissão de redes de Bragg em guias em canal com diferentes larguras. Na prática, é possível ajustar as condições de acoplamento da radiação entre a fibra excitadora e o guia de onda de forma a maximizar a excitação do modo fundamental. A figura 5.17 mostra a resposta espectral normalizada em transmissão e em reflexão de uma rede de Bragg num guia em canal, com secção transversal de 7×10 µm2. 149 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos -30 -15 -35 Reflexão (dBm) Transmissão (dBm) -20 -25 -30 -40 -45 -50 -55 -35 -60 -40 1575 1580 1585 1590 1595 1600 1605 1610 1615 -65 1575 Comprimento de onda (nm) (a) 1580 1585 1590 1595 1600 1605 1610 1615 Comprimento de onda (nm) (b) Figura 5.17 – Resposta espectral de uma rede de Bragg num guia em canal com secção recta de 7×10 µm2: (a) Espectro de transmissão; (b) Espectro de reflexão. O comprimento de onda de Bragg correspondente ao modo fundamental é de 1593.48 nm. O respectivo índice efectivo é de 1.5104. A largura a meia altura foi avaliada em 2.8 nm. Pela expressão (5.7) e classificando a rede de Bragg como forte (α=1), é possível estimar a amplitude de modulação ∆nrB em 4×10-3. 5.4 Modulador de intensidade termo-óptico 5.4.1 Introdução Os moduladores ópticos desempenham um papel extremamente importante na comunicação óptica, uma vez que têm como função principal gerar um sinal óptico (Iout) modulado temporalmente a partir de um sinal óptico contínuo (Iin). O circuito óptico mais comum de um modulador consiste na combinação de um interferómetro de Mach-Zehnder (figura 5.18) com um actuador, aplicado num ou em ambos os braços do interferómetro, e que permite gerar uma diferença de fase entre os caminhos ópticos [56-59]. O interferómetro é constituído por três blocos: um divisor de amplitude 1×2, dois guias de onda paralelos e isolados, e um combinador 2×1. O divisor de amplitude é uma estrutura simétrica que divide a potência do sinal óptico de entrada em duas partes iguais, gerando ondas de igual amplitude propagando-se nos dois braços do interferómetro. O combinador sobrepõe as ondas, após a propagação nos braços do interferómetro, que excitam ou não o modo guiado no guia de onda de saída conforme a diferença de fase entre as duas ondas. O divisor e o combinador podem ser realizados com junções em Y [58] ou com MMI [60], sendo geralmente ligados aos braços do interferómetro por 150 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos guias de onda com curvatura em S. O interferómetro de Mach-Zehnder pode ser implementado na configuração 2×2 em que o divisor e o combinador de potência são, geralmente, acopladores direccionais 3 dB [61]. Esta configuração é mais utilizada para aplicações em comutadores e não será, portanto, abordada. divisor combinador divisor Junção em Y combinador Braços do interferómetro Braços do interferómetro Junção em Y MMI (a) MMI (b) Figura 5.18 – Interferómetros de Mach-Zehnder: (a) com junções em Y; (b) com MMI’s. No caso de serem idênticos os comprimentos ópticos dos braços do interferómetro, a diferença de fase ∆φ entre as ondas no combinador é nula e, nesse caso, as ondas excitam o modo guiado na porta de saída (Iout=Iin, estado “ON” do modulador, ignorando perdas). No entanto, se for induzida uma diferença de fase não-nula, por actuação externa num ou em ambos os braços do interferómetro, então a potência do sinal óptico à saída do interferómetro é dada pela seguinte expressão I out = I in ⎡1 + cos ( ∆φ + ϕ ) ⎤⎦ 2 ⎣ (5.12) em que ϕ é um termo de fase introduzido para representar o efeito resultante de eventuais assimetrias originadas pelas imperfeições da fabricação; em condições ideais de fabricação, ϕ = 0 . A potência de saída é nula quando ∆φ = ( 2n + 1) π , n = 0,1,... (estado “OFF” do modulador). A figura 5.19 ilustra o princípio de funcionamento de um modulador de MachZehnder. A diferença de fase pode ser induzida através do efeito termo-óptico do material, que consiste na modificação do índice de refracção do material com a variação de temperatura. Ao contrário de outros efeitos, como os efeitos electro-óptico ou magneto-óptico, que dependem da natureza do material, o efeito termo-óptico existe praticamente em todos os materiais [62]. 151 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos ∆φ=0 ON ∆φ=π OFF SON modo em corte SOFF Figura 5.19 – Princípio de funcionamento de um modulador baseado no interferómetro de Mach-Zehnder. 5.4.2 Efeito termo-óptico O controlo da temperatura na região do guia em canal de um braço do interferómetro de Mach-Zehnder pode ser efectuado com um eléctrodo metálico resistivo de comprimento L, depositado na zona do guia de onda onde se pretende actuar. A aplicação de uma tensão eléctrica gera calor (por efeito Joule) que é difundido através do material, modificando o seu índice de refracção. Nesta zona, a constante de propagação β do modo (ou o índice efectivo neff ) é modificada. A variação de fase é, então, dada pela expressão ∆φ = ∆β ⋅ L = 2π λ0 ⋅ ∆neff ⋅ L (5.13) em que λ0 é o comprimento de onda da radiação. A variação do índice efectivo do guia pode ser determinada pela variação do índice de refracção dos materiais que formam a estrutura do guia, assumindo que a geometria não sofre deformação. A expansão térmica ∆L conduz a um efeito sobre ∆φ muito menor e, portanto, desprezável. A variação mínima do índice efectivo do guia que deve ser induzida para que o modulador transite de um estado para outro ( ∆φ = π ) é dada pela expressão ∆neff = λ0 2L (5.14) O índice efectivo é afectado pelo variação conjunta dos índices de refracção dos materiais (do núcleo, do superestrato e da camada “buffer”). Dentro de um intervalo de temperaturas próximas da temperatura ambiente (entre 0 e 150ºC), o índice de refracção de alguns materiais, como a sílica, varia linearmente com a temperatura [61]: 152 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos ⎛ dn ⎞ ∆n = ⎜ ⎟ ⋅ ∆T ⎝ dT ⎠ (5.15) A constante de proporcionalidade ( dn dT ) é o coeficiente termo-óptico. Conhecido o coeficiente termo-óptico do material, torna-se possível determinar a variação de temperatura que é necessário provocar para que ocorra uma transição de estado. A modificação do índice de refracção do material com a temperatura é essencialmente devida à modificação da densidade do material, ρ, e da polarizabilidade electrónica. Assim, o coeficiente termo-óptico do material pode ser escrito como dn ⎛ δ n ⎞ ⎛ δρ =⎜ ⎟ ⎜ dT ⎝ δρ ⎠T ⎝ δ T ⎞ ⎛ δn ⎞ ⎟+⎜ ⎟ ⎠ ⎝ δ T ⎠ρ (5.16) ou ⎛ ρδn ⎞ dn ⎛ δn ⎞ = −⎜ ⎟ = f ( n )( −γ + ϕ ) ⎟ γ +⎜ dT ⎝ δ T ⎠ρ ⎝ δρ ⎠T (5.17) em que ϕ é o coeficiente térmico da polarizabilidade electrónica do material, γ é o coeficiente de expansão térmica, e f ( n ) é definido por [63] f (n) = (n 2 − 1)( n 2 + 2 ) 6n (5.18) Os polímeros ( n ∼ 1.5 ) possuem um coeficiente de expansão térmica relativamente elevado ( γ ∼ 2 × 10−4 /ºC ) [64]; consequentemente, o primeiro termo da equação (5.17) é da ordem de −10−4 . Por outro lado, a modificação da polarizabilidade electrónica com a temperatura (segundo termo) é muito inferior, da ordem de 10−6 /ºC . Portanto, o coeficiente termo-óptico dos polímeros tem valor negativo, da ordem de −10−4 /ºC , sendo a variação da densidade do material (devido à expansão térmica) a causa predominante. Assim, um aumento da temperatura provoca uma diminuição do índice de refracção destes materiais. No caso da sílica fundida, o coeficiente de expansão térmica é baixo ( ∼ 10−6 /ºC ) [64], logo o primeiro termo da equação (5.17) é da ordem de −10−6 /ºC . O coeficiente termo-óptico da sílica é, então, determinado pela variação térmica da polarizabilidade, que é da ordem de 10−5 /ºC . Comparando com os polímeros, o coeficente termo-óptico da sílica é, em valor absoluto, uma ordem de grandeza inferior ao dos polímeros. O sinal positivo indica que o índice de refracção da sílica aumenta com a temperatura. 153 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos A determinação do coeficiente termo-óptico em materiais híbridos foi apenas recentemente investigada [63]. Os materiais híbridos estudados foram baseados na combinação dos precursores MAPTMS e TMOS, em diferentes proporções, e evidenciam um coeficiente termoóptico negativo e com um valor absoluto comparável ao dos polímeros ( 1.13 ×10−4 /ºC ). O aumento da temperatura provoca uma diminuição do índice de refracção, atribuída à expansão térmica do material híbrido. A variação de temperatura pode ser causada por aplicação de uma tensão nos extremos de um eléctrodo resistivo depositado na superfície do superestrato, como ilustra a figura 5.20. Eléctrodo F0 ∆T ( x , y , z , t ) ∆T ( x , t ) Superestrato Segundo guia Guia que sofre uma variação de temperatura ∆T “Buffer” x Figura 5.20 – Esquema que ilustra a difusão do calor através da estrutura do modulador. Se um fluxo de calor F0 for gerado na superfície x=0, é criado um gradiente de temperatura e o transporte de calor ocorre por condução através do material no sentido do substrato. Considerando a largura do eléctrodo substancialmente superior à do guia, a análise da estrutura pode ser simplificada para um problema unidimensional na região de interesse (núcleo). A distribuição de temperatura ∆T(x) pode ser determinada considerando a estrutura como um sólido semi-infinito [65]. Deste modo, assumindo que as propriedades térmicas do material do superestrato e do núcleo sejam semelhantes, ∆T(x) pode ser determinado por [66] ⎛ ∆T ( x, t ) = T ( x, t ) − T0 = ∆T0 ⎜1 − erf ⎝ ⎛ x ⎞⎞ ⎜ ⎟⎟ ⎝ 2 κt ⎠ ⎠ (5.19) em que x é a distância a partir da interface eléctrodo/superestrato, t é o tempo, κ é a difusividade (dada por κ = K ρ C p , sendo K , ρ , e C p , respectivamente, a condutividade térmica, a densidade e a calor específico do material); ∆T0 = Teléctrodo − T0 é a variação de temperatura em x = 0 (no eléctrodo) e T0 é a temperatura inicial de toda a estrutura (temperatura ambiente) e que se mantém em x → ∞ . Conhecendo a variação de temperatura ∆T para que ∆φ = π , torna-se possível estimar a variação de temperatura que é necessário provocar em x = 0 (ou seja, no eléctrodo). 154 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Assumindo que a resistência do eléctrodo varia linearmente com a temperatura [67], ∆T0 pode ser determinada a partir da expressão R = α (Teléctrodo − T0 ) + R0 (5.20) em que R0 é a resistência à temperatura T0 , e α é o coeficiente de temperatura, que pode ser determinado experimentalmente. A análise térmica de estruturas, como a representada na figura 5.20, pode ser realizada com mais rigor pela aplicação do método dos elementos finitos, utilizando programas computacionais específicos [68]. Em regra, a difusão de calor em materiais é um fenómeno lento quando comparado com a resposta de materiais com propriedades electro-ópticas a sinais eléctricos. Assim, os moduladores termo-ópticos apresentam um desempenho muito inferior ao dos moduladores electro-ópticos no que diz respeito à largura de banda. 5.5 Fabricação e teste de um modulador termo-óptico Um modulador termo-óptico, baseado num interferómetro de Mach-Zehnder, é descrito nesta secção, numa implementação com base nos materiais híbridos apresentados no capítulo 4. Como explicado na secção 5.1, a solução mais simples consistiu na fabricação do modulador em substrato de “soda-lime”, uma vez que o uso do substrato de silício implica a deposição da camada “buffer”. Como o material desenvolvido para esse fim não possibilitou a fabricação de guias monomodo, a alternativa consistiu em fabricar a estrutura de guias do modulador directamente sobre o substrato de “soda-lime”, coberta por um superestrato com um índice de refracção muito próximo do índice do vidro de “soda-lime”, para assim se aproximar da configuração de simetria modal. A figura 5.21 esquematiza a estrutura do modulador termoóptico fabricado. Assim, os materiais do núcleo e do superestrato foram compostos por MAPTMS dopado com 40% e 20% de ZrO2, respectivamente. Os respectivos índices de refracção são 1.520 e 1.513 (a 632.8 nm), o que corresponde a um contraste de índice de 0.46%. Para dimensões típicas da secção do núcleo entre 4 e 6 µm de lado, a propagação é monomodo apenas no comprimento de onda de 1550 nm. Estes materiais são muito absorventes nessa zona espectral e, portanto, o uso deste comprimento de onda resulta em perdas totais de inserção acentuadas, mas não impede a demonstração do funcionamento do modulador. A baixa absorção verificada a 1300 nm favorece 155 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos a aplicação destes materiais para a fabricação de dispositivos com funcionamento nessa zona espectral. Para tal, o contraste de índice deve ser reduzido para valores inferiores a 0.26%, garantindo propagação monomodo em guias de onda com as secções típicas mencionadas anteriormente. Este requisito ficaria satisfeito usando dopagens com concentrações de ZrO2 inferiores a 30% e exigiria uma nova adaptação de todo o processo de fabricação, à semelhança do exposto no capítulo 4 para o caso particular da dopagem com 40% de ZrO2. eléctrodo Tensão aplicada V Superestrato n=1.513 Guia de onda n=1.520 Substrato de vidro n=1.513 Figura 5.21 – Esquema do modulador termo-óptico fabricado. Para a definição das estruturas pelo processo fotolitográfico, foi adquirida uma máscara primária cujo padrão foi projectado recorrendo a um programa que implementa a técnica BPM. A figura 5.22 apresenta a geometria do interferómetro de Mach-Zehnder fabricado e testado. D=250 µm L=2500 µm Guia de onda 2500 µm Figura 5.22 – Geometria do interferómetro de Mach-Zehnder projectado. As dimensões L e D foram determinadas de modo a que, em simulação BPM, o guia de onda com curvatura em S isolado apresente uma perda de potência inferior a 2% nos comprimentos de 156 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos onda de 1.55 µm, 1.3 µm e 0.6328 µm. A largura das linhas na máscara primária é de 5 µm (apesar de ter sido projectada com 4 µm). Como a exposição UV a 248 nm requer uma máscara em substrato de sílica, foi necessário fabricar uma réplica da máscara primária, de acordo com o procedimento descrito no Anexo B. Devido à dificuldade do processo de reprodução, a máscara que foi utilizada na exposição UV continha linhas com uma largura de 7 µm. Todos os parâmetros de fabricação são os descritos no capítulo 4 para a fabricação de guias em canal. A deposição do superestrato foi realizada a uma velocidade de rotação reduzida (800 rpm). Sobre o superestrato foram depositados eléctrodos de alumínio, alinhados com os respectivos guias. Para tal, um filme de alumínio com 170 nm de espessura foi depositado num evaporador térmico; posteriormente, foi depositado um filme de “photoresist” em que foi definido o padrão correspondente aos eléctrodos. A exposição UV da camada de “photoresist” é realizada num alinhador de máscaras de forma a possibilitar o alinhamento do padrão da máscara (“lightfield”) com a amostra. Após a revelação do “photoresist”, as zonas de alumínio desprotegidas são removidas por ataque químico numa solução composta por ácido fosfórico (80 ml), ácido nítrico (5 ml), ácido acético (5 ml) e água desionizada (10 ml). A figura 5.23 mostra a estrutura do eléctrodo fabricado sobre um dos braços do interferómetro de Mach-Zehnder testado. 20 µm 200 µm 500 µm 200 µm Figura 5.23 – Estrutura do eléctrodo de alumínio. A figura 5.24 mostra a seccção recta de umas das extremidades do modulator testado. O guia de onda tem uma largura de 7 µm e uma altura de 4.5 µm; o superestrato tem 10 µm de espessura e o eléctrodo tem 500 µm de comprimento. 157 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Superestrato 10 µm 4.5 µm Substrato de vidro Figura 5.24 – Secção de uma extremidade do modulador testado. A radiação a 1.55 µm de um laser sintonizável foi injectada com uma fibra monomodo e, na saída do modulador, foi colectada para um detector através de uma objectiva, como mostra a figura 5.25. Duas agulhas de prova foram cuidadosamente colocadas em contacto com os extremos do eléctrodo do modulador para a aplicação do sinal de tensão. (a) (b) Figura 5.25 – (a) Mesa de caracterização óptica de dispositivos integrados; (b) teste de um modulador termoóptico. Um sinal de tensão periódico quadrado foi aplicado nas extremidades do eléctrodo, e a resposta do modulador foi registada num osciloscópio; a figura 5.26 mostra o resultado obtido. Uma amplitude de 1.8 V foi suficiente para observar a transição entre os estados ON e OFF. Foi medida uma extinção superior a 95%. 158 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Resposta do modulador ON Tensão aplicada OFF Figura 5.26 - Resposta do modulador termo-óptico quando é aplicado um sinal de tensão periódico quadrado. Um parâmetro importante que permite avaliar a qualidade de um modulador é o tempo de comutação (ou transição) entre os dois estados, definido como o tempo que o modulador dispende para atingir o nível de potência óptica correspondente ao estado para o qual transita. A figura 5.27 (a) mostra a transição do estado OFF para o estado ON em 5.4 ms e a figura 5.27 (b) mostra a transição do estado ON para o estado OFF em 6 ms. A razão da diferença entre ambos os tempos pode ser encontrada no tipo de substrato utilizado; o substrato de vidro tem uma condutividade térmica muito baixa e, por isso, condiciona a dissipação do calor, que se faz mais lentamente do que ocorreria se fosse utilizado um substrato com elevada condutividade térmica, como é o caso do silício. (a) (b) Figura 5.27 – (a) Transição do estado OFF para o estado ON; (b) Transição do estado ON para o estado OFF. A determinação da perda total de inserção é completamente irrelevante, uma vez que o modulador foi testado num comprimento de onda em que a absorção do material é considerável. 159 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos A optimização do modulador termo-óptico consiste em diminuir o tempo de comutação, que é principalmente determinado pela espessura do superestrato e pela posição do núcleo do guia. O tempo de comutação pode diminuir com a redução da espessura do superestrato. A fabricação do modulador num substrato de silício permitiria aumentar a sua eficiência. A comparação dos resultados experimentais com as previsões dos modelos teóricos requer a determinação de algumas propriedades dos materiais híbridos utilizados, tais como o coeficiente termo-óptico, o calor específico, a densidade e a condutividade térmica. Dada a novidade destes materiais, estas propriedades não foram ainda suficientemente exploradas. 5.6 Conclusão Neste capítulo, foi demonstrada a fabricação de redes de Bragg em guia em canal e um modulador de intensidade termo-óptico baseado no interferómetro de Mach-Zehnder. Foram fabricadas redes de Bragg usando um método de dupla exposição e um método de exposição única. A rede de Bragg, produzida pelo método de dupla exposição, apresentou uma eficiência estimada em 44%. Este método mostrou-se de difícil execução e nem sempre reprodutível, para além de utilizar duas máscaras (uma, de amplitude, para a definição dos guias em canal e outra, de fase, para a escrita da rede de Bragg). O método de exposição única utiliza apenas uma máscara, que combina a função de máscara de amplitude e de fase. Os guias em canal, fabricados por este método, apresentam, na zona da rede de Bragg, uma estrutura periódica em relevo nas suas faces laterais. O efeito desta estrutura no aumento das perdas ópticas é atenuado com a deposição do superestrato. A largura da resposta espectral em reflexão de uma rede de Bragg, fabricada com um tempo de exposição UV (248 nm) de 30s (50 mJ/cm2, 10 Hz), foi avaliada em 2.8 nm e a amplitude de modulação de índice foi estimada em 4×10-3. O princípio de funcionamento do modulador termo-óptico, com base em materiais híbridos (mas em substrato de vidro de “soda-lime”), foi demonstrado a 1.55 µm. A variação de tensão que foi necessário aplicar, num eléctrodo de alumínio com 500 µm de comprimento, para ocorrer a transição de estado, foi de 1.8V. O tempo de comutação entre estados ON e OFF rondou os 6 ms. Para uma melhor eficiência do modulador, a sua fabricação num substrato de silício é preferível e pretendida em futuros desenvolvimentos. 160 Capítulo 5 – Dispositivos Passivos Referências [1] A. Yariv, "Coupled-Mode Theory for Guided-Wave Optics", IEEE Journal of Quantum Electronics, vol. QE 9, 9, pp. 919-933, 1973. [2] A. Yariv and M. Nakamura, "Periodic Structures for Integrated-Optics", IEEE Journal of Quantum Electronics, vol. QE 13, 4, pp. 233-253, 1977. [3] A. Yariv, "Quantum Electronics", John Wiley & Sons, New York, 1989. [4] D. Marcuse, "Theory of Dielectric Optical Waveguides", Academic Press, 1991. [5] A. Othonos, "Fiber Bragg gratings", Review of Scientific Instruments, vol. 68, 12, pp. 4309-4341, 1997. [6] P. S. J. Russell, J. L. Archambault and L. 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Apesar das dificuldades encontradas no estabelecimento de um baixo contraste entre o índice de refracção do material do núcleo e o índice do material das camadas “buffer”/superestrato, com o intuito de fabricar guias monomodo, o maior inconveniente encontra-se no fraco desempenho dos guias de onda na região espectral de 1.55 µm, ao exibirem elevadas perdas de propagação devido à forte absorção dos materiais desenvolvidos; essa absorção deve-se, essencialmente, à presença dos grupos OH não condensados ou livres. Sem a redução da absorção destes materiais a 1.55 µm, a aplicabilidade desta tecnologia para a fabricação de componentes destinados ao domínio das telecomunicações fica seriamente comprometida. Por outro lado, a dopagem destes materiais híbridos com iões de terras-raras requer uma absorção mínima possível por parte do material hospedeiro; em particular, a dopagem com érbio só fará sentido quando a absorção do material hospedeiro atingir valores mínimos aceitáveis (< 1 dB/cm) na região espectral de 1.55 µm [1,2]. A presença dos grupos OH nestes materiais, para além de aumentar significativamente a absorção nessa região espectral, provoca uma forte inibição da fotoluminescência (“quenching”) do ião érbio [3,4], tornando inútil o uso destes materiais na fabricação de amplificadores ópticos e lasers integrados com emissão na região espectral de 1.55 µm. 165 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm De acordo com os estudos efectuados e apresentados no capítulo 4, foi concluído que as etapas da revelação e clivagem (onde são utilizados o EtOH e a água, respectivamente) não são responsáveis pelos níveis de absorção registados a 1.55 µm, e ainda que o tratamento térmico final não constitui uma solução útil para a eliminação dos grupos OH. Por isso, torna-se necessário realizar uma análise mais detalhada do processo de síntese sol-gel hidrolítico com o objectivo de compreender a origem dos grupos OH no material. O problema foi, então, abordado através de um estudo sistemático desde o início do processo de síntese da solução. A medição da absorção de materiais em estado líquido na região espectral do infravermelho próximo (NIR) foi efectuada com um sistema de espectroscopia NIR relativamente simples, descrito no capítulo 4. Com a ajuda desta ferramenta, foi possível estudar a influência de alguns parâmetros do processo químico sol-gel hidrolítico sobre a transparência da solução na região NIR, entre os quais a razão molar água/MAPTMS (rw), utilizada para a hidrólise, assume um papel importante. Este estudo é apresentado na secção 6.2 e permite apenas identificar a principal causa da absorção do material híbrido na região de 1.55 µm. Uma redução aceitável da absorção nessa região espectral, utilizando o processo sol-gel hidrolítico para a síntese da solução, não foi ainda demonstrada. Apenas o desenvolvimento de um processo sol-gel alternativo, não-hidrolítico, permitiu melhorar significativamente a transparência do material e possibilitou a fabricação de guias em canal com o valor mínimo de 0.5-0.6 dB/cm para a perda de propagação a 1.55 µm [5,6]. O facto de não utilizar a água para a reacção de hidrólise permite evitar a formação incontrolada dos grupos OH. O precursor difenilsilanodiol (DPhSdiol) desempenha um papel fundamental neste processo não-hidrolítico, embora resulte numa elevação substancial do índice de refracção do material devido à presença do grupo orgânico fenil. O aumento do índice de refracção pode ser contrariado através do uso de precursores baseados em flúor, mas o seu custo é, comparativamente, bastante mais elevado. Este processo é apresentado mais em detalhe na secção 6.3. Por fim, a secção 6.4 apresenta novos procedimentos de síntese, sempre baseados no processo sol-gel hidrolítico, para a eliminação eficaz dos grupos OH, e identifica eventuais vantagens no uso de novos precursores. Uma conclusão importante, apresentada no capítulo 4, indica que o uso de precursores híbridos baseados no grupo metil (que contêm ligações covalentes Si-CH3) introduz uma perda intrínseca ao precursor, não desprezável na região de 1.55 µm, que se reflectiria no material final. Estes precursores não são, portanto, adequados. Num trabalho desta natureza, e pretendendo-se atingir objectivos bem definidos, é importante identificar as propriedades que a solução final deverá manifestar, de modo a permitir uma 166 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm escolha adequada quer de precursores, quer do método de síntese. Algumas dessas características são: i. Índice de refracção do material final o mais próximo possível do índice da sílica ii. Potencial de variar e controlar o índice de refracção. iii. Baixa absorção a 800, 1310 e 1550 nm. iv. Deposição fácil de filmes com boa uniformidade superficial. v. Proporção relativa adequada entre componente orgânica e inorgânica (para que o material não sofra retracção no momento da deposição ou depois da formação do filme, nem fracture quando o filme for sujeito ao tratamento térmico). vi. Material fotopolimerizável por UV. vii. Solução com um tempo de vida longo. viii. Precursores de baixo custo As propriedades ii) e vi) são particularmente dirigidas para a formação do material do núcleo e, naturalmente, são opcionais quando se trata do desenvolvimento de materais alternativos ao já desenvolvido para as camadas “buffer” e superestrato. 6.2 Estudo da influência de parâmetros do processo sol-gel hidrolítico sobre o espectro de transmissão (NIR) da solução A formulação apresentada no capítulo 4 para a síntese da solução destinada à formação do material do núcleo de guias de onda é analisada, passo a passo, do ponto de vista do espectro de transmissão. A informação adquirida pode ajudar a compreender melhor a evolução do processo químico de síntese, assim como a identificar a etapa onde eventualmente predominam os grupos OH. No entanto, deverá notar-se que os álcoois, sendo um dos produtos resultantes das reacções de hidrólise e condensação no processo sol-gel, além de serem também utilizados como solventes, absorvem fortemente na região espectral NIR e, portanto, devem ser sempre removidos antes de aquirir o espectro de transmissão de uma solução. A remoção é realizada por evaporação, submetendo a solução à temperatura de 80ºC durante 2 horas. Relembrando sucintamente as etapas de preparação da solução (com 40% de ZrO2): Pré-hidrólise de MAPTMS (com rw=0.75). Adição de TPZ+MAA. Junção da restante quantidade de água (w) até completar rw=1.5. 167 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm A figura 6.1 apresenta os espectros de transmissão obtidos após cada uma destas etapas. 0 -2 Transmitância dB/cm Transmitância (dB/cm) 0 -2 -4 -6 MAPTMS MAPTMS+w (rw=0.75) Anterior+TPZ(40%) Anterior+w (rw=1.5) Transmitância de um guia de onda -8 -10 -4 -6 -8 -10 -14 -16 1300 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 Comprimento de onda (nm) Espectro da solução Espectro do guia de onda -12 1600 1700 1350 1400 1450 1500 1550 1600 1650 1700 1750 Comprimento de onda (nm) (b) (a) Figura 6.1 – (a) Evolução da transmitância nas diversas etapas de preparação da solução, e comparação com a transmitância de um guia de onda com 1 cm de comprimento; (b) Transmitância da solução e do guia de onda em canal na região espectral de 1.55 µm (escala ampliada). Como primeira observação, a junção de água é sempre prejudicial, uma vez que contribui sempre com aumento da absorção (quer na pré-hidrólise, quer na segunda hidrólise). Como segunda observação, a adição do propóxido de zircónio, estabilizado com ácido metacrílico, contribui para um aumento do nível das perdas. Este resultado não pode ser justificado com a concentração de grupos silanóis que derivaram da pré-hidrólise. Uma explicação plausível pode ser fundamentada na formação de ligações Zr-OH devido à humidade do meio ambiente. Deste modo, a absorção na região de 1.55 µm deve ser tanto maior quanto maior for a concentração do óxido de zircónio. A segunda hidrólise é claramente a responsável pelo nível elevado da absorção a 1.55 µm. O espectro correspondente foi obtido após a secagem da solução antecipadamente contida na cuvette utilizada no processo da aquisição do espectro. Na segunda hidrólise, a evaporação dos solventes resulta na gelificação da solução. A comparação do espectro de transmissão da solução final com o espectro de transmissão normalizado de um guia de onda em canal, mostrado na figura 6.1(b) com maior ampliação na região espectral de interesse, permite concluir que a elevada absorção verificada num guia de onda na região de 1.55 µm tem origem exclusivamente na solução. A absorção ligeiramente mais acentuada verificada no espectro da solução pode ser explicada pelo facto de esta não ter sido sujeita aos processos de deposição e fotopolimerização que acompanham a produção de guias em canal; estes processos podem, eventualmente, reforçar a condensação de mais grupos OH. A banda de 168 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm absorção característica das duplas ligações C=C é mais intensa na solução, como seria de esperar, uma vez que a polimerização da componente orgânica não foi iniciada. Assim, identificada a origem da absorção (que é a própria solução), torna-se óbvio o interesse do estudo da influência de alguns parâmetros do processo de síntese sobre o espectro de transmissão da solução. O objectivo é, agora, reduzir para um nível mínimo possível a absorção da solução antes de ser utilizada para as etapas seguintes de fabricação de guias de onda. 6.2.1 Influência do grau de hidrólise (rw) A influência do grau de hidrólise no espectro de transmissão do precursor MAPTMS foi estudada com a junção de diferentes quantidades de água acidificada (0.1M HCl), correspondentes às razões molares água/MAPTMS (rw) de 0.50, 0.75, 1.0 e 1.5. As soluções foram agitadas durante 1 hora, para as reacções de hidrólise e de condensação ocorrerem, e em seguida foram colocadas na estufa durante 2 horas à temperatura de 80ºC, para evaporar os solventes [7]. Os resultados obtidos encontram-se na figura 6.2. 2,2 Absorção (dB/cm) @ 1550 nm Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 MAPTMS rw=0.5 rw=0.75 rw=1.0 rw=1.5 -3 -4 -5 -6 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 Comprimento de onda (nm) (a) 1600 1700 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 rw 1,0 1,2 1,4 1,6 (b) Figura 6.2 – (a) Espectros de transmissão do precursor MAPTMS hidrolisado, para diferentes razões molares água/MAPTMS (rw); (b) Absorção medida a 1550 nm em função de rw. Um efeito macroscópico que se verifica com o aumento do valor de rw é o aumento da viscosidade da solução; para rw superior a 1.5, ocorre a gelificação da solução que, portanto, não pode ser utilizada para medição. Na região espectral de 1.3 µm, o nível de perda é independente do grau de hidrólise; na região espectral de 1.55 µm, a perda aumenta linearmente com a razão molar água/MAPTMS. Com a mesma quantidade de água utilizada na preparação da solução já 169 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm estabelecida no capítulo 4, obtém-se uma perda superior a 2 dB/cm (o que constitui cerca de metade da perda encontrada nos guias de onda). 6.2.2 Influência da dopagem com propóxido de zircónio complexado Tal como foi concluído no capítulo 4, a adição de alcóxidos de metais permite modificar as propriedades ópticas e mecânicas dos materiais híbridos. No caso particular da dopagem com óxido de zircónio, à medida que a concentração de dopante aumenta, o material híbrido torna-se mais rígido e os filmes menos susceptíveis a retracções na etapa da secagem, à custa de um aumento do índice de refracção. A adição de quantidade adequada de TPZ torna possível, à partida, estabelecer e calibrar o índice de refracção pretendido para o material. Apesar de não haver um completo esclarecimento sobre a acção dos alcóxidos de metais no processo químico de síntese, estudos publicados levaram a concluir que desempenham um papel de catalisador das reacções de condensação da matriz siliciosa [8]. Logo, parece importante estudar a influência destes compostos (utilizando o TPZ complexado com MAA) no espectro de transmissão de uma solução na região espectral NIR e, em particular, a 1.55 µm. Foram sintetizadas quatro soluções com MAPTMS pré-hidrolisado (rw=0.75) e com diferentes quantidades de TPZ (5, 10, 30 e 40%), sem realizar a segunda hidrólise. As soluções foram colocadas na estufa a 80ºC durante 2 horas para evaporar os solventes. A figura 6.3 mostra os respectivos espectros de transmissão. Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 40% ZrO2 -3 30% ZrO2 -4 10% ZrO2 5% ZrO2 -5 -6 -7 450 600 750 900 1050 1200 1350 1500 1650 Comprimento de onda (nm) Figura 6.3 – Espectro de transmissão de soluções com diferentes concentrações de TPZ e sem a segunda hidrólise. Estes resultados mostram que a concentração de dopagem tem influência clara na absorção a 1.55 µm. A dopagem com 5% e 10% resulta numa absorção inferior à encontrada na pré- 170 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm hidrólise (ver figura 6.1 ou 6.2) e reforça o argumento de que a adição do alcóxido de metal (como o TPZ) catalisa as reacções de condensação dos grupos silanóis. No caso particular da dopagem com 5% de TPZ, o nível da absorção na região de 1.55 µm é coincidente com o nível de absorção intrínseca do precursor MAPTMS, o que significa que os grupos OH condensaram por completo. No entanto, à medida que a concentração de TPZ aumenta, aumenta também o nível da absorção. A absorção obtida nas soluções com 30% e 40% de dopagem é superior à do MAPTMS pré-hidrolisado e indicia a formação excedente de grupos ZrOH por hidrólise do TPZ (precursor muito reactivo) através da humidade do meio ambiente. Seria de prever, então, um aumento progressivo da absorção com o aumento da dopagem. Mas a desprezável diferença encontrada entre os níveis de absorção (a 1.55 µm) correspondentes a 30% e 40% não apoia integralmente essa previsão. De acordo com [7], a complexagem do TPZ com MAA numa razão molar de 1:2, respectivamente, resulta numa absorção inferior para dopagem elevada, como a de 40%, justificada pela melhor protecção das moléculas de TPZ por parte do MAA face à humidade. Destes resultados, fica realçado que a adição de TPZ permite a redução da absorção apenas quando é realizada em pequenas concentrações. 6.3 Processo sol-gel não-hidrolítico O processo sol-gel não-hidrolítico, tal como o nome indica, não necessita de adição de água para desencadear as reacções de condensação. Estas podem igualmente ocorrer quando um alcóxido reage com um precursor hidróxido (este apresenta-se, geralmente, na forma de pó branco). Assim, a geração de uma matriz siliciosa torna-se possível quando um alcóxido de silício, como o MAPTMS, reage com um hidróxido de silício, como o DPhSdiol. O DPhSdiol tem uma estrutura molecular bi-funcional, isto é, apresenta dois grupos fenil não-hidrolizáveis, e possui dois grupos hidróxidos que reagem com os grupos metóxidos da molécula de MAPTMS (figura 6.4). A reacção é activada por intermédio de calor (temperatura inferior a 100ºC) e de um catalisador (HCl, por exemplo), formando-se uma solução viscosa e translúcida com baixa absorção na região espectral de 1.55 µm. 171 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm OCH3 O H2C C CH3 C .... C Si OCH3 + HO H2C Si OH OCH3 O calor, catalisador C C .... C CH3 OCH3 Si O Si OH + CH3OH OCH3 Metanol DPhSdiol MAPTMS Figura 6.4 – Reacção de condensação entre MAPTMS e DPhSdiol, num processo sol-gel não-hidrolítico. 6.3.1 Sistema MAPTMS/DPhSdiol O sistema MAPTMS/DPhSdiol foi testado para diferentes concentrações molares relativas. As reacções são provocadas sobre um agitador magnético, usando uma temperatura entre 60 e 75ºC, e catalisadas por uma pequena quantidade de HCl (0.5% em volume de MAPTMS). A solução é levada à estufa a 85ºC, para evaporar os solventes residuais, e é analisada em termos do espectro de transmissão. A figura 6.5 compara os espectros de transmissão para as diferentes concentrações molares relativas MAPTMS:DPhSdiol adoptadas: 1:0, 1:0.3, 1:0.5, 1:1. Transmitância dB/cm 0 -1 -2 -3 -4 -5 MAPTMS:DPhSdiol 1:0 1:0.3 1:0.5 1:1 -6 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.5 – Espectro de transmissão do sistema MAPTMS:DPhSdiol para diferentes razões molares relativas. Verifica-se que, à medida que a quantidade relativa de DPhSdiol aumenta, a viscosidade da solução aumenta; a banda de absorção característica dos grupos metóxidos (OCH3) diminui de intensidade, o que demonstra que os grupos OH do precursor DPhSdiol consumiram os grupos metóxidos do MAPTMS para formar as ligações Si-O-Si (daí o consequente aumento da viscosidade). O nível de absorção na região de 1.55 µm é relativamente baixo em todas as concentrações de DPhSdiol e está muito perto do nível da absorção intrínseca ao precursor MAPTMS, o que confirma a reacção total dos grupos OH. 172 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm As soluções resultantes de concentrações mais elevadas de DPhSdiol foram testadas na deposição de filmes em substratos de vidro “soda-lime”, mas os filmes produzidos acabam por retrair, principalmente aquando da secagem. Este comportamento não é surpreendente, uma vez que o material resulta da combinação de um precursor que não permite isoladamente a formação de filmes (por hidrólise e condensação de MAPTMS), com outro precursor bi-funcional e que, por isso, não possibilita a formação de uma rede suficientemente fechada para evitar a retracção. Por outro lado, o uso de elevadas concentrações de DPhSdiol resulta em materais com um índice de refracção relativamente elevado (~1.56), o que não permite satisfazer a condição (i) apresentada como uma propriedade pretendida. 6.3.2 Sistema TMOS/DPhSdiol Com o objectivo de produzir filmes com um material baseado no DPhSdiol, foi considerado o sistema TMOS/DPhSdiol, dada a analogia que tem com o sistema TMOS/DMDMOS proposto para o material da camada “buffer” (ver capítulo 4). Neste caso, os grupos metil são substituídos pelos grupos fenil. A proporção molar relativa utilizada foi, portanto, a mesma, isto é, de 0.8:1 (TMOS:DPhSdiol). A síntese foi realizada nas mesmas condições descritas anteriormente para o sistema MAPTMS/DPhSdiol. A figura 6.6 apresenta o espectro de transmissão da solução e revela uma boa transparência na região NIR, com uma absorção relativa de apenas 0.4 dB/cm a 1.55 µm. A deposição resulta em filmes uniformes, embora ainda se verifique uma ligeira retracção, principalmente nos bordos do substrato (vidro “soda-lime”). Foi também observada uma transição de fase a baixa temperatura muito interessante: à temperatura ambiente, o filme é rígido, mas quando aquecido à temperatura de 100ºC, torna-se num material de alta viscosidade. Um material com esta propriedade pode ser útil, pois pode ser aplicado na formação de microestruturas, e até nanoestruturas, por micromoldagem, utilizando o factor temperatura para a transição de fase. Contudo, esta característica não favorece a aplicação em dispositivos ópticos integrados. 173 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm 1 0 Transmitância (dB/cm) -1 -2 -3 -4 0.4 dB/cm -5 -6 -7 -8 -9 -10 -11 -12 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Figura 6.6 – Espectro de transmissão da solução TMOS/DPhSdiol com uma razão molar relativa de 0.8:1. No entanto, este material, por não ser fotopolimerizável, impossibilita a fabricação de guias de onda em canal por fotolitografia. Pode, porventura, ser utilizado no preenchimento de canais abertos num material de índice de refracção inferior, como está exemplificado na figura 4.20 do capítulo 4. Devido à elevada concentração relativa de DPhSdiol, é expectável um índice de refracção elevado (acima de 1.52); portanto, o material também não satisfaz a condição (i). 6.3.3 Soluções com novos hidróxidos: ácido bórico e hidróxido de alumínio Na pesquisa de novos precursores baseados em silanol (SiOH), foram encontrados dois precursores com características semelhantes ao precursor DPhSdiol e com custo comercial relativamente baixo: o ácido bórico (B) e o hidróxido de alumínio. As estruturas moleculares correspondentes estão representadas na figura 6.7. HO OH HO OH B Al OH OH Ácido Bórico Hidróxido de Alumínio Figura 6.7 - Estruturas moleculares do ácido bórico e do hidróxido de alumínio. Estes precursores foram testados com MAPTMS nas mesmas condições com que foi testado o precursor DPhSdiol, isto é, com temperaturas de cerca de 70ºC e adição do catalisador HCl. O ácido bórico reage exactamente da mesma forma como reage o precursor DPhSdiol: o mesmo 174 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm não acontece com o precursor hidróxido de alumínio, que não evidenciou qualquer tipo de reacção. Este último foi, portanto, abandonado. O ácido bórico tem excelentes potencialidades para vir a constituir a solução ideal. De facto, trata-se de um precursor inorgânico e, por isso, a sua combinação com outro precursor híbrido pode garantir um maior equilíbrio entre as componentes orgânica e inorgânica, de modo a produzir filmes sem retracção nem fracturas. Além disso, a dopagem com boro não contribui para um aumento do índice de refracção, o que é uma grande vantagem em comparação com a dopagem com o grupo orgânico fenil do DPhSdiol, ou com metais como o zircónio ou o titânio. O único problema é que a combinação do ácido bórico com um precursor silicioso como, por exemplo, o MAPTMS, não contribui para a formação da matriz siliciosa, sendo apenas formadas ligações do tipo Si-O-B. A figura 6.8 apresenta os espectros de transmissão do sistema MAPTMS/ácido bórico para diferentes proporções molares relativas (0%, 10% e 40%). A diminuição da intensidade das bandas de absorção localizadas a 1180 nm e 1400 nm revela uma diminuição das ligações C-H presentes no material. Estas ligações C-H constituem os grupos metóxido do precursor MAPTMS que, por sua vez, condensam com os grupos OH da molécula do ácido bórico, gerando o metanol (que é removido por secagem). A fraca diferença verificada na intensidade da banda de absorção a 1400 nm entre as soluções dopadas com 10% e 40% de boro não era de esperar se todos os grupos OH do ácido bórico reagissem com os grupos metóxido do MAPTMS. Uma vez que o nível da absorção a 1.55 µm se mantém baixo e ao nível intrínseco ao precursor MAPTMS, tal indicia que, para dopagens superiores a 10% (mol), haverá condições para a formação de aglomerados de óxido de boro (B-O-B), o que não é pretendido. 0 0 -1 -4 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) -2 -6 -8 MAPTMS + 0% Boro MAPTMS + 10% Boro MAPTMS + 40% Boro -10 -12 -2 -3 -4 -5 -14 -16 800 -6 1300 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 Comprimento de onda (nm) 1600 1700 1350 1400 1450 1500 1550 1600 1650 Comprimento de onda (nm) (b) (a) Figura 6.8 – (a) Espectros de transmissão do sistema MAPTMS/ácido bórico para diferentes proporções molares relativas: 0%, 10% e 40%; (b) Região espectral de 1.55 µm (escala ampliada). 175 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm 6.3.4 Uso de precursores clorosilanos Um outro tipo de processo sol-gel não hidrolítico foi estudado [9], embora não tenha sido ainda aplicado na fabricação de guias em canal. Este processo baseia-se em reacções de precursores clorosilanos (com ligações Si-Cl), estando as principais esquematizadas na figura 6.9. M-O-M Si-OR + Cl-M Si-Cl + RO-M Si-O-Si + RCl 100ºC M-O-Si Figura 6.9 - Esquema das reacções químicas num processo não-hidrolítico, utilizando precursores baseados em clorosilanos, em que M é um metal. Este processo foi testado através do sistema TMOS/DEDCS (DiEtilDiCloroSilano) com a razão molar de 0.8:1. No entanto, não foi verificada qualquer reacção e o espectro de transmissão permaneceu inalterável durante dias. Este processo não foi testado com temperatura, uma vez que precursores baseados em clorosilanos volatilizam facilmente e, por isso, este tipo de processo exige equipamento que garanta as devidas condições de isolamento. 6.4 Desenvolvimento de novos materiais com baixa perda a 1.55 µm usando o processo sol-gel hidrolítico Dos estudos efectuados anteriormente, é possível afirmar que existem duas ordens de causas que podem estar associadas à absorção verificada nos materiais híbridos na região espectral de 1.55 µm: a primeira está relacionada com o processo de síntese, particularmente quando é utilizado o processo sol-gel hidrolítico; a segunda deve-se à absorção intrínseca que determinados precursores exibem e está relacionada com o tipo de grupo orgânico que possuem. O processo sol-gel não-hidrolítico é uma excelente alternativa ao processo hidrolítico, uma vez que, à partida, a solução fica livre dos grupos OH; mas tem o inconveniente de não possibilitar a formação de materiais com um índice de refracção próximo do índice da sílica. Por outro lado, a utilização de precursores baseados no grupo metil é totalmente desaconselhável, uma vez que este grupo orgânico contribui para a absorção a 1.55 µm (ver capítulo 4). Devido à presença 176 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm deste grupo na componente orgânica do MAPTMS, é de prever que este não seja o precursor ideal para a optimização da transparência do material híbrido. Assim, será útil estudar novos precursores, em termos do espectro de transmissão e das propriedades ópticas e mecânicas, para, no final, estabelecer a combinação mais adequada de acordo com os requisitos inicialmente propostos. 6.4.1 Novos desenvolvimentos no processo de síntese A única possibilidade que se conhece para formar ligações siloxano (Si-O-Si), sem utilizar o precursor DPhSdiol, é pelo processo sol-gel hidrolítico. De acordo com resultados anteriores, as perdas na região espectral de 1.55 µm aumentam linearmente com a quantidade de água que se adiciona para a hidrólise, devido à permanência de grupos OH que não condensam. Seria conveniente investigar, portanto, um método que permita eliminar eficazmente esses grupos OH. Sabendo que os precursores baseados em clorosilano são extremamente reactivos com a humidade, em comparação com os precursores alcoxisilanos, é de prever que a adição de um destes precursores produza uma reacção com os grupos OH, eliminando-os. A reacção hipotética está esquematizada na figura 6.10. -Si-O-Si- + HCl -Si-Cl + HO-Si- Figura 6.10 - Esquema da reacção que elimina um grupo OH por meio de um precursor clorosilano. O precursor híbrido clorosilano mais adequado seria aquele cuja componente orgânica não contribuísse para perdas a 1.55 µm, apresentando custo baixo. O precursor viniltriclorosilano (VTCS) é um óptimo exemplo (figura 6.11): a componente orgânica vinil é de pequena dimensão e, por isso, não contribui para aumentar o índice de refracção do material final, nem contribui para a absorção na região de 1.55 µm (ver adiante em 6.4.2), e permite, eventualmente, entrar no processo da fotopolimerização com a componente orgânica do MAPTMS. Cl H2C=CH Si Cl Cl Figura 6.11 – Estrutura molecular do precursor viniltriclorosilano (VTCS). 177 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm Ao desconhecer a quantidade adequada de VTCS a adicionar após a hidrólise, foi assumido inicialmente que 15% dos grupos alcóxidos hidrolisados (considerando rw=1.5) não condensam, permitindo, assim, o cálculo do respectivo volume. Baseado nessa hipótese, o cálculo é efectuado considerando a necessidade de adicionar uma ligação Si-Cl para cada grupo OH não condensado. Uma vez que a absorção a 1.55 µm aumenta linearmente com o grau de hidrólise e depende fundamentalmente da concentração dos grupos OH, então é de prever que a concentração dos grupos OH não condensados aumente linearmente com o grau de hidrólise. Assim, a quantidade de VTCS a adicionar deverá ser directamente proporcional ao grau de hidrólise. Os testes foram efectuados com o precursor MAPTMS. Diferentes razões molares água/MAPTMS (rw) foram utilizadas: rw=0.75, 1.0 e 1.5. Em todas as adições de VTCS, foi considerado o mesmo volume. As figura 6.12, figura 6.13 e figura 6.14 mostram os resultados. Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 -3 (a) (b) (c) -4 -5 -6 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.12 - Espectro de transmissão de: (a) precursor MAPTMS; (b) MAPTMS hidrolisado com rw=0.75; (c) após adição de VTCS. 178 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 -3 (a) (b) (c) -4 -5 -6 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.13 - Espectro de transmissão de: (a) precursor MAPTMS; (b) MAPTMS hidrolisado com rw=1.0; (c) após adição de VTCS. Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 (a) (b) (c) (d) -3 -4 -5 -6 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.14 - Espectro de transmissão de: (a) precursor MAPTMS; (b) MAPTMS hidrolisado com rw=1.5; (c) após a adição de VTCS; (d) após uma nova adição de VTCS em igual quantidade. Dos resultados apresentados conclui-se que o precursor VTCS desempenha um papel crucial na eliminação dos grupos OH, tendo funcionado para todas as razões rw apresentadas. O nível de perdas a 1.55 µm diminuiu em todos os casos para o nível intrínseco ao precursor MAPTMS. No caso particular de rw=1.5, razão molar teórica que permite uma condensação completa do material, verifica-se que é necessário adicionar o dobro da quantidade de VTCS daquela inicialmente assumida (considerando que 15% dos grupos OH não condensam) para que a 179 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm absorção a 1.55 µm atinja o nível do precursor. Sendo necessário o dobro da quantidade, tal significa que a percentagem dos grupos OH não condensados deve rondar os 30%. Estes resultados são de extrema relevância e nunca foram reportados na literatura. A comparação directa dos espectros de transmissão de soluções com diferentes valores de rw e após a reacção com VTCS é apresentada na figura 6.15. A absorção na zona de 1.55 µm para soluções com rw=0.75 e 1.00 é idêntica, o que indica que todos os grupos OH foram consumidos. No entanto, para a solução com rw=1.5, a absorção a 1.55 µm é ligeiramente superior do nível da absorção do precursor. Este resultado aparenta indicar que a quantidade de VTCS não foi suficiente para reagir com todos os grupos OH; mas, mesmo com uma terceira adição de VTCS, o nível de absorção permanece inalterável, o que pode resultar do facto de alguns grupos estarem já protegidos pela rede entretanto formada e ficarem, assim, inacessíveis para a reacção com as moléculas de VTCS. A banda centrada em 1400 nm, característica dos grupos metóxido, vai decrescendo de intensidade à medida que rw aumenta, o que era de esperar, uma vez que estes grupos vão desaparecendo nas reacções de hidrólise. Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 -3 rw=0.00 rw=0.75 rw=1.00 rw=1.50 -4 -5 -6 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.15 – Comparação dos espectros de transmissão de soluções com diferentes rw, após reacção com VTCS. A adição de VTCS não pode ser realizada, no entanto, em qualquer condição: o procedimento mais apropriado é com aquecimento (a 70ºC, aproximadamente, utilizando o aquecedor do agitador magnético), como demonstra a figura 6.16. 180 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 (a) (b) (c) (d) -3 -4 -5 -6 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.16 - Espectro de transmissão de: (a) MAPTMS hidrolisado com rw=0.75; (b) depois da adição de VTCS sem aquecimento; (c) depois de adição de VTCS com aquecimento; (d) precursor MAPTMS. É sabido que uma solução com apenas MAPTMS hidrolisado não é suficiente para a deposição de filmes, uma vez que estes sofrem retracção; é necessário adicionar uma componente inorgânica. A dopagem com boro, nesta fase, é oportuna. A quantidade de ácido bórico a adicionar tem um limite, em princípio, uma vez que a concentração de grupos metóxido é menor depois da hidrólise de MAPTMS. Assim, foi testada inicialmente a dopagem com 10% (mol) de boro relativamente ao MAPTMS. A síntese da solução segue os seguintes passos: hidrólise de MAPTMS com rw=0.75, adição de 10% de ácido bórico segundo o procedimento anteriormente descrito, eliminação final de OH com VTCS. A figura 6.17 mostra a influência da adição de 10% de boro. O espectro (a) corresponde ao espectro de transmissão de uma solução obtida por hidrólise de MAPTMS com adição de VTCS para eliminação dos grupos OH; o espectro (b) foi obtido após a adição de 10% de ácido bórico. A única e principal diferença encontra-se na intensidade da banda de absorção centrada em 1400 nm, atribuída aos grupos metóxido. A ligeira diminuição da intensidade desta banda de absorção, depois da adição de boro, era esperada, uma vez que o ácido bórico consome alguns grupos metóxido. 181 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm 0,5 0,0 Transmitância (dB/cm) -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0 (a) (b) -3,5 -4,0 -4,5 -5,0 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.17 - Espectro de transmissão de: (a) MAPTMS hidrolisado com rw=0.75 e com adição de VTCS; (b) solução correspondente a (a) depois da adição de 10% de ácido bórico. A figura 6.18 compara os espectros de transmissão de soluções preparadas de modo diferente: na solução com o espectro (c), é adicionado VTCS somente no fim da preparação (hidrólise de MAPTMS e adição de ácido bórico); na solução com o espectro (b), VTCS é adicionado após a hidrólise de MAPTMS e antes da dopagem com boro. Verifica-se que, no primeiro caso, o resultado é ligeiramente mais satisfatório. Em ambos os casos, a absorção a 1.55 µm é inferior, quando comparados os espectros com o espectro (a) de uma solução com apenas MAPTMS hidrolisado. 0,5 0,0 Transmitância (dB/cm) -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 (a) (b) (c) -3,0 -3,5 -4,0 -4,5 -5,0 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.18 - Espectro de transmissão de: (a) solução de MAPTMS hidrolisado com rw=0.75; (b) solução de MAPTMS hidrolisado+VTCS+10% boro; (c) solução de MAPTMS hidrolisado+10% boro+VTCS. As soluções preparadas resultam habitualmente viscosas; por isso, para realizar a deposição, é necessário diluir com um solvente (como etanol). A deposição de filmes uniformes a partir da 182 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm solução composta por MAPTMS hidrolisado+10% de boro+ VTCS foi possível sem utilizar técnicas de deposição complexas, mas apenas quando a solução apresentava um tempo de vida superior a 4-5 dias. Outro resultado novo e importante é o facto de ser possível utilizar a solução com um tempo de vida mais prolongado. Num substrato de sílica (n(633 nm)=1.458), foi depositado um filme com 7.1±0.2 µm de espessura e foi medido, pelo método das “m-lines”, um índice de refracção n(TE)= 1.4899 ± 3 × 10-4 . Para o material de núcleo, este índice de refracção é o menor de todos os que já foram medidos em materiais anteriormente utilizados, nomeadamente MAPTMS dopado com ZrO2. Um dos problemas verificados com este material é a falta de reprodutibilidade do comportamento da solução na etapa da deposição. Por vezes, a solução toma um aspecto esbranquiçado quando é aplicada no substrato. Esta alteração é anulada quando é submetida à temperatura (70ºC) durante alguns segundos (mesmo antes de aplicar a rotação). Este comportamento não está ainda compreendido, nem o carácter aleatório da sua ocorrência. Acredita-se, no entanto, que possa estar relacionado com uma eventual precipitação do óxido de boro. Nos casos em que os filmes resultam uniformes, homogéneos e devidamente polimerizados, verificou-se que, passados uns dias, aparecem partículas (não resultantes de contaminação) na superfície do filme. Estas partículas são facilmente removidas com a limpeza do filme em etanol. O aparecimento deste tipo de partículas nunca foi verificado com as formulações anteriores e, portanto, vem reforçar a suspeição sobre uma provável concentração elevada de boro. Os mecanismos subjacentes à reacção do ácido bórico com o precursor MAPTMS necessitam de ser compreendidos antes de optimizar o processo de fabricação de guias de onda em canal a partir desta formulação. 6.4.2 Estudo de novos precursores Para além da absorção originada pelo processo de síntese da solução, a qual pode ser minimizada com a eliminação eficaz dos grupos OH, existe ainda uma contribuição para a absorção, denominada intrínseca, devida à própria natureza do precursor. No capítulo 4, foi demonstrado que os precursores híbridos com componentes orgânicas baseadas no grupo metil (como o MTMOS e o DMDMOS) contribuem para o aumento da absorção na região de 1.55 µm e, portanto, não são as escolhas ideais para a síntese de materiais ópticos. O precursor MAPTMS, quando usado solitariamente, oferece muitas dificuldades na formação de um filme, porque este tem a tendência a retrair, em consequência da elevada 183 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm dimensão da componente orgânica. Geralmente, os precursores híbridos com componentes orgânicas mais curtas permitem a formação de filmes sem retracção (desde que os parâmetros da síntese da solução estejam optimizados). Assim, a formação de filmes pode ser aperfeiçoada através da combinação do precursor MAPTMS com outros precursores siliciosos que satisfazem os requisitos já mencionados. Destas combinações podem resultar, por exemplo, a diminuição do índice de refracção do material, aproximando-o do índice da sílica, e da absorção intrínseca na região espectral de 1.55 µm, sem perder a propriedade da fotopolimerização. Um conjunto de precursores de baixo custo foi adquirido e analisado em termos do espectro de transmissão (anexo C). Em primeira observação, verifica-se que os precursores híbridos com componentes orgânicas que incluem grupos amina (N-H) e metil (CH3) não são suficientemente transparentes na região espectral de 1.55 µm. O nível de transparência na zona de 1.55 µm dos precursores TMOS e TEOS constitui o nível de referência a partir do qual são avaliados os restantes, uma vez que estes precursores formam a sílica pura (material altamente transparente a 1.55 µm). A figura 6.19 compara os espectros de transmissão destes dois precursores. 1 Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 -3 -4 TMOS TEOS -5 -6 -7 -8 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.19 – Comparação entre os espectros de transmissão dos precursores TMOS e TEOS. A maior diferença observada entre ambos os espectros encontra-se na forma da banda de absorção posicionada a 1400 nm, que caracteriza a natureza do grupo alcóxido: a forma com mínimos relativos triplos observada no espectro de TMOS está associada à presença dos grupos metóxido (OCH3), enquanto que a forma da banda de absorção no espectro de TEOS é característica dos grupos etóxido (-OC2H5). Na região espectral de 1.55 µm, o nível de transparência é coincidente. 184 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm Do conjunto de precursores analisados, foram identificados aqueles que apresentam um nível de absorção a 1.55 µm o mais próximo possível do referente ao precursor TMOS (ou TEOS), e que são: feniltrimetoxisilano (PhTMOS), difenildimetoxisilano (DPhDMOS), viniltrimetoxisilano (VTMOS), glicidoxipropiltrimetoxisilano (GPTMOS) e etiltrimetoxisilano (ETMOS). A figura 6.20 compara os espectros de transmissão de PhTMOS e DPhDMOS com os de TMOS e de MAPTMS. 0,5 0,0 -0,5 Transmitância (dB/cm) -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0 -3,5 -4,0 PhTMOS DPhDMOS TMOS MAPTMS -4,5 -5,0 -5,5 -6,0 -6,5 -7,0 -7,5 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.20 – Comparação entre os espectros de transmissão de PhTMOS, DPhDMOS, TMOS e MAPTMS. A presença do grupo fenil é detectável pela banda de absorção posicionada a 1144 nm; a banda correspondente ao DPhDMOS é mais intensa do que a do PhTMOS, uma vez que aquele composto possui dois grupos fenil por cada molécula enquanto que o PhTMOS apenas contém um grupo fenil. O nível de transparência na região de 1.55 µm de ambos os precursores é idêntico ao do TMOS, e superior ao do MAPTMS. O grupo fenil é, assim, apropriado como componente orgânica de um material híbrido, sem prejudicar a transparência a 1.55 µm. No entanto, o seu efeito de elevar o índice de refracção limita a sua utilização em grandes proporções relativas quando combinado com outro precursor como o MAPTMS. Estes precursores têm, portanto, todas as condições para poderem ser utilizados para o controlo do índice de refracção, substituindo os alcóxidos de metais como o zircónio. Em particular, o uso de PhTMOS pode ter mais vantagens sobre o DPhDMOS uma vez que, por ser um trialcóxido, permite contribuir para um material com uma matriz mais fechada e com menor tendência para a 185 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm retracção na formação dum filme; por outro lado, permite um aumento mais suave do índice de refracção em função da quantidade utilizada. A figura 6.21 compara o espectro de transmissão do VTMOS com os do TMOS e MAPTMS. O nível de transparência na região de 1.55 µm é idêntico ao do precursor TMOS, portanto superior ao do precursor MAPTMS. No entanto, apresenta uma ligeira banda de absorção a 1305 nm. Esta banda aparece também no espectro de transmissão do precursor MAPTMS, embora ligeiramente deslocada para 1281 nm. O ponto comum destes dois precursores é a dupla ligação C=C existente nas respectivas componentes orgânicas e, por isso, esta pequena banda de absorção pode estar relacionada com esta estrutura molecular. Por ter uma dupla ligação C=C, o VTMOS tem potencial para participar no processso de fotopolimerização; tendo uma componente orgânica de pequena dimensão, contribui para um índice de refracção mais próximo do índice da sílica quando comparado com o do MAPTMS. Por todas estas razões, este é um precursor que merece todo o interesse em ser explorado para a síntese de materiais ópticos híbridos. 0 Transmitância (dB/cm) -1 -2 -3 -4 VTMOS TMOS MAPTMS -5 -6 -7 -8 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.21 – Comparação entre os espectros de transmissão de VTMOS, TMOS e MAPTMS. A figura 6.22 compara o espectro de transmissão do precursor GPTMOS com os do TMOS e MAPTMS. O interesse deste precursor é justificado por ser igualmente fotopolimerizável, podendo constituir uma alternativa ao precursor MAPTMS para a formação do material do núcleo de um guia de onda em canal, se apresentar as devidas vantagens. Em termos de transparência, revela-se mais eficiente do que o MAPTMS, tanto na região espectral de 1.55 µm 186 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm como na de 1.3 µm, embora ligeiramente menos do que o TMOS. Em termos do índice de refracção, não é de esperar uma diferença significativa quando comparado com o MAPTMS, uma vez que as componentes orgânicas de ambos são aproximadamente da mesma dimensão. Em termos de precursores, o MAPTMS tem um índice de refracção 1.431 e o do GPTMOS é 1.429 (na risca D de emissão do sódio). Uma primeira avaliação sobre a eficiência deste precursor para a definição de microestruturas por microlitografia pode ser efectuada pela análise do espectro de absorção na zona do UV, e sua comparação com o respectivo espectro de absorção correspondente ao MAPTMS. 0 Transmitância (dB/cm) -1 -2 -3 -4 GPTMOS TMOS MAPTMS -5 -6 -7 -8 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.22 - Comparação entre os espectros de transmissão de GPTMOS, TMOS e MAPTMS. A figura 6.23 compara o espectro de absorção de diferentes precursores potencialmente fotossensíveis: MAPTMS, VTMOS, GPTMOS e 2-(3.4-epoxiciclohexil)etiltrimetoxisilano (EPOXYTMOS). O comprimento de onda de emissão (248 nm) do laser de excímeros de KrF utilizado na exposição litográfica fica próximo do máximo da absorção para o precursor MAPTMS, mas próximo do mínimo da absorção em todos os outros precursores considerados. Este resultado permite prever que a eficiência obtida na fotopolimerização do material sintetizado a partir de MAPTMS nunca será atingida em materiais baseados nos outros precursores. Embora possa ocorrer a fotopolimerização, a energia de exposição necessária será consideravelmente superior. A absorção destes precursores aumenta consideravelmente nos comprimentos de onda inferiores a 210 nm e, portanto, o uso destes precursores na síntese de materais fotopolimerizáveis pode ser 187 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm mais vantajoso (principalmente no caso do GPTMOS) quando a fonte UV utilizada for um laser de ArF emitindo a 193 nm. Com este laser, a eficiência da exposição UV aumenta consideravelmente, tendo a vantagem acrescida do aumento da resolução na definição de microestruturas. O precursor EPOXYTMOS, sendo da mesma família do GPTMOS por conter o anel epoxy (sensível ao UV), possui, no entanto, uma componente orgânica mais longa quando comparado com o MAPTMS e, por isso, contribui para um índice de refracção superior e para um ligeiro acréscimo da absorção intrínseca na zona espectral de 1.55 µm. Deste modo, não demonstra grande vantagem na sua utilização. Risca de emissão do laser de excímeros a 248nm abs (u.a) MAPTMS VTMOS GPTMOS EPOXYTMOS 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400 Comprimento de onda (nm) Figura 6.23 - Espectros de absorção na região UV de alguns precursores potencialmente fotossensíveis. As escalas verticais são arbitrárias e não comparáveis entre si. O precursor ETMOS foi analisado para investigar o impacto do grupo etil na absorção espectral a 1.55 µm. O grupo etil é a componente orgânica mais curta a seguir ao grupo metil (que se mostrou ser inadequado para entrar na composição de materiais transparentes a 1.55 µm) e contribui, assim, para um índice de refracção relativamente baixo do material óptico. A figura 6.24 compara o espectro de transmissão do precursor ETMOS com o do MTMOS (metiltrimetoxisilano). Na região espectral entre 1500 nm e 1550 nm (região mais problemática para o grupo metil), o precursor ETMOS é claramente mais transparente do que o MTMOS. Com este dado novo, e atendendo à existência de precursores bi-funcionais (como o dietildiclorosilano e dietildietoxisilano) relativamente acessíveis em termos de custo, torna-se evidente a possibilidade do grupo etil entrar na composição de novos materiais híbridos destinados à deposição de camadas espessas para desempenhar as funções de “buffer” e 188 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm superestrato. Estes novos materais podem e devem ser sintetizados de acordo com o processo de eliminação dos grupos OH desenvolvido e descrito neste capítulo, de modo a exibir apenas a absorção intrínseca aos precursores. 0 Transmitância (dB/cm) -1 -2 -3 -4 ETMOS MTMOS -5 -6 -7 -8 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 Comprimento de onda (nm) Figura 6.24 – Comparação do espectro de transmissão do precursor ETMOS com o do MTMOS. 6.5 Conclusão Neste capítulo, foram apresentados outros procedimentos de síntese de soluções com baixa absorção na região espectral de 1.55 µm. Ao verificar a correlação entre os espectros de transmissão de um guia de onda (fabricado de acordo com descrição do capítulo) com a da respectiva solução, foi demonstrada que a absorção é originada, em grande parte, pela segunda hidrólise, devido à presença dos grupos OH. A adição de baixas concentrações (<10%) de um alcóxido de metal (zircónio) actua como um catalisador das reacções de condensação dos grupos silanóis, resultando na dimuição da absorção para o nível intrínseco ao material. Para concentrações superiores, a absorção aumenta, o que indicia a formação de grupos ZrOH com a humidade da atmosfera. O processo sol-gel não-hidrolítico foi experimentado na síntese de um material híbrido composto pelo sistema TMOS/DPhSdiol. Este material apresentou um propriedade muito interessante para aplicações na micromoldagem, para além de apresentar uma absorção consideravelmente reduzida (0.4 dB/cm). 189 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm Foi desenvolvido um método inovador para a eliminação dos grupos OH em soluções sintetizadas pelo processo sol-gel hidrolítico. A vantagem deste método é de permitir a síntese de novos materiais híbridos com composições flexíveis, isto é, não fica dependente do uso do precursor DPhSdiol. Foi produzido um filme fotopolimerizável (MAPTMS dopado com 10% de boro), com um índice de refracção relativamente baixo (1.4899 a 632.8 nm), a partir de uma solução com um tempo de conservação bem superior ao verificado no capítulo 4. O estudo espectroscópico de vários precursores, em especial na região de 1.55 µm, permitiu a identificação de potenciais alternativas para a síntese de materiais com uma absorção intrínseca potencialmente mais reduzida. Como exemplo, materiais baseado no grupo etil podem constituir uma melhor opção para a camada “buffer” do que materiais baseados no grupo metil. Se a propriedade da fotopolimerização, em materiais sintetizados com GPTMOS, se verificar, então estes podem constituir uma melhor opção para o material do núcleo, relativamente aos sintetizados com MAPTMS, uma vez que o precursor GPTMOS apresenta bons indícios para a redução da absorção intrínseca. Os desenvolvimentos apresentados neste capítulo constituem uma base de trabalho futuro no sentido de aumentar a qualidade óptica dos materiais híbridos. Referências [1] J. Xu, S. Aubonnet, H. F. Barry and B. D. MacCraith, "Preparation and characterization of erbium-doped ormosil planar waveguides", Materials Letters, vol. 57, 26-27, pp. 4276-4281, 2003. [2] P. Etienne, P. Coudray, J. Porque and Y. Moreau, "Active erbium-doped organic-inorganic waveguide", Optics Communications, vol. 174, 5-6, pp. 413-418, 2000. [3] A. Polman, "Erbium implanted thin film photonic materials", Journal of Applied Physics, vol. 82, 1, pp. 1-39, 1997. [4] E. M. Yeatman, M. M. Ahmad, O. McCarthy, A. Martucci and M. Guglielmi, "Sol-gel fabrication of rare-earth doped photonic components", Journal of Sol-Gel Science and Technology, vol. 19, 1-3, pp. 231-236, 2000. [5] R. Buestrich, F. Kahlenberg, M. Popall, P. Dannberg, R. Muller-Fiedler and O. Rosch, "ORMOCER(R)s for optical interconnection technology", Journal of Sol-Gel Science and Technology, vol. 20, 2, pp. 181-186, 2001. [6] R. Houbertz, G. Domann, C. Cronauer, A. Schmitt, H. Martin, J. U. Park, L. Frohlich, R. Buestrich, M. Popall, U. Streppel, P. Dannberg, C. Wachter and A. Brauer, "Inorganic-organic hybrid materials for application in optical devices", Thin Solid Films, vol. 442, 1-2, pp. 194-200, 2003. [7] O. Soppera, P. J. Moreira, A. P. Leite and P. V. S. Marques, "Low-loss photopatternable hybrid sol-gel materials", Journal of Sol-Gel Science and Technology, vol. 35, 1, pp. 27-39, 2005. 190 Capítulo 6 – Desenvolvimento de Materiais para Aplicações a 1.55 µm [8] M. Oubaha, M. Smaihi, P. Etienne, P. Coudray and Y. Moreau, "Spectroscopic characterization of intrinsic losses in an organic-inorganic hybrid waveguide synthesized by the sol-gel process", Journal of NonCrystalline Solids, vol. 318, 3, pp. 305-313, 2003. [9] L. Bourget, D. Leclercq and A. Vioux, "Catalyzed nonhydrolytic sol-gel route to organosilsesquioxane gels", Journal of Sol-Gel Science and Technology, vol. 14, 2, pp. 137-147, 1999. 191 Capítulo 7 Conclusão N ESTE trabalho, foi desenvolvida a tecnologia, baseada no processo sol-gel híbrido, para a fabricação de dispositivos ópticos integrados. Os materiais híbridos siliciosos oferecem a expectativa de combinar as boas propriedades ópticas da sílica com as propriedades de processamento dos polímeros. As vantagens desta classe de materiais são já evidentes: o processo de síntese é relativamente simples; o processamento é realizado a baixas temperaturas; permitem, numa única etapa, a deposição de filmes espessos sem fracturas; e, quando fotopolimerizáveis, simplificam drasticamente o processo de fabricação de microestruturas. Por consequência, os custos de produção de dispositivos ópticos integrados através desta tecnologia são bem menores quando comparados com outras alternativas. Adicionalmente, os materiais híbridos são compatíveis com a tecnologia microelectrónica e, por isso, tornam possível a integração de funções ópticas e electrónicas numa única plataforma. No capítulo 4, foi apresentado, com detalhe, o processo de fabricação de guias de onda em canal. A definição dos núcleos por fotopolimerização do material híbrido foi realizada com um feixe óptico a 248 nm, emitido por um laser de excímeros. Foi verificado que, nesse comprimento de onda, o material não necessita de fotoiniciadores para ser fotopolimerizado. A dispensa de um fotoiniciador pode constituir uma vantagem acrescida, uma vez que, sendo um composto orgânico, as moléculas do fotoiniciador podem contribuir para um aumento da absorção na região espectral de 1.55 µm. Apesar do uso de um laser de excímeros ser mais dispendioso do que o de uma lâmpada de mercúrio, a redução do comprimento de onda do feixe é compensada pelo aumento da resolução, que é crítico, por exemplo, na definição de microestruturas encontradas em elementos como as junções em Y. Na montagem utilizada para a exposição UV, não foi necessário recorrer a um sistema de colimação do feixe laser para definir 193 Capítulo 7 - Conclusão guias de onda em canal com faces laterais verticais (com uma rugosidade inferior a 50 nm). Este sistema de colimação é indispensável quando é utilizada a lâmpada de mercúrio; neste caso, é habitual o recurso a um alinhador de máscaras. Para a solução sintetizada a partir de MAPTMS com 40% de ZrO2, foi desenvolvida uma técnica de deposição de filmes (por “spin-coating”) que demonstrou ser reprodutível e possibilita o controlo da espessura em função da velocidade de rotação. A deposição de filmes pode ser realizada de forma automática com recurso a um “spin-coater” programável. Um dos problemas encontrados está na limitação do tempo de vida da solução. A solução sintetizada só possibilita a deposição de filmes uniformes no próprio dia da sua síntese; após este período, a técnica de deposição deixa de ser eficaz na produção de filmes uniformes. O problema da falta de conservação da solução foi ultrapassado após o desenvolvimento de novos materiais e utilizando diferentes procedimentos de síntese (capítulo 6); foi possível a deposição de filmes de boa qualidade a partir de uma solução com 4 dias de conservação e com o procedimento de deposição bastante simplificado. A análise da transmitância de um guia de onda em canal permitiu detectar uma absorção acentuada na região espectral de 1.55 µm, devida à presença de grupos OH. A presença dos grupos OH afecta bastante o interesse do material por diferentes razões: por implicar um mau desempenho (com altas perdas de inserção) dos dispositivos projectados para as aplicações na comunicação óptica (o desempenho aceitável é limitado às regiões de 1.3 µm e 0.8 µm); e pela impossibilidade de obter um material activo, com ganho óptico aceitável, por dopagem com érbio. Uma parte significativa do trabalho desenvolvido centrou-se, precisamente, na resolução deste problema. Dos vários estudos efectuados, foi identificada uma correlação entre a absorção espectral de um guia em canal e a da solução sintetizada, em particular na região de 1.55 µm. A variação de alguns parâmetros de síntese, como a concentração de dopante e a catálise, apenas permite atenuar essa absorção: a dopagem com baixas concentrações de óxido de zircónio (<10%) e o uso de catálise básica resultaram na diminuição da absorção. A transmitância a 1.55 µm de um guia de onda é dependente da sua temperatura. O aumento da temperatura provoca a difusão de grupos OH para a atmosfera, voltando a ser reabsorvidos pelo material com o arrefecimento. Num meio ambiente com uma humidade relativa reduzida (por exemplo, uma atmosfera de azoto), é possível atenuar a reabsorção dos grupos OH protegendo o guia com um superestrato impermeável. Um tratamento térmico aplicado a um guia de onda não reduz a absorção a 194 Capítulo 7 - Conclusão 1.55 µm e permite apenas saturar o índice de refracção. O mesmo efeito é obtido por exposição UV. Até ao presente, a síntese de materiais híbridos com melhor transparência a 1.55 µm foi realizada com recurso a um processo não-hidrolítico. A absorção, nesta região espectral, é atribuída, principalmente, à componente orgânica (absorção intrínseca do material híbrido). O processo sol-gel não-hidrolítico fica, no entanto, limitado ao uso do precursor DPhSdiol. Este precursor contribui para a formação de materiais com um índice de refracção elevado (devido ao grupo fenil) comparado com índice de materiais, produzidos pelo processo sol-gel hidrolítico. Neste trabalho, foi desenvolvido um método original para a eliminação eficaz dos grupos OH, aplicado na etapa de síntese da solução, utilizando o processo sol-gel hidrolítico. A grande vantagem deste método é de permitir uma maior flexibilização da composição dos materiais híbridos, sem ficar dependente do precursor DPhSdiol. Por consequência, foi possível produzir um material que reúne os requisitos de baixo índice de refracção (a partir do MAPTMS) e baixa absorção na região de 1.55 µm, mantendo a propriedade da fotopolimerização. Por outro lado, com este método de eliminação dos grupos OH, foram criadas as condições essenciais para a investigação de materiais híbridos activos dopados com érbio. A absorção na região de 1.55 µm dos novos materiais híbridos fica reduzida à absorção intrínseca, dominada essencialmente pela parte orgânica dos materiais. Foram investigados numerosos precursores organoalcoxisilanos em termos do espectro de transmitância. Um estudo comparativo destes espectros permitiu concluir que determinados grupos orgânicos absorvem mais do que outros, independentemente do número de ligações CH existentes nas suas moléculas. Por exemplo, o grupo metil (grupo orgânico relativamente pequeno) contribui mais acentuadamente para a absorção a 1.55 µm do que o grupo fenil e o grupo etil. Este conhecimento permite uma maior selectividade na escolha de precursores. O espectro de transmissão do precursor MAPTMS, na região de 1.55 µm, revela uma absorção intrínseca ligeiramente superior do que o precursor, também polimerizável, GPTMOS (GLYMO). No entanto, será necessário realizar algum trabalho de investigação para demonstrar que o GPTMOS pode, ou não, constituir uma melhor alternativa do que o precursor MAPTMS, salvaguardando a simplicidade de fabricação de guias de onda em canal. A fabricação de guias de onda do tipo “buried” sobre silício foi demonstrada, após o desenvolvimento de um material híbrido, baseado no grupo metil, que permitiu depositar, numa única etapa, camadas “buffer” espessas (sem fracturas) e com um índice de refracção próximo do índice da sílica. O uso de precursores híbridos bi-funcionais reduz a conectividade da rede e, 195 Capítulo 7 - Conclusão consequentemente, as tensões internas do material. A escolha do grupo orgânico metil não foi a mais adequada, uma vez que a camada “buffer” com este material oferece pouca adesão (devido ao carácter hidrofóbico do grupo metil) a filmes depositados sobre ela. A fabricação de guias de onda em canal sobre silício com baixa absorção, quer a 1.3 µm quer a 1.55 µm, e com um contraste de índice suficientemente baixo para permitir propagação monomodo, requer mais desenvolvimento em termos de materiais. Apesar da redução da absorção a 1.55 µm para um nível satisfatório, verificada em solução, o material deve, também, apresentar outras propriedades, não menos importantes, que permitam satisfazer o protocolo de microfabricação, sem prejudicar a transparência. Propriedades relacionadas com a capacidade da solução permitir um procedimento de deposição mais simplificado e a possibilidade de formação de filmes com boa adesão e sem fracturas são essenciais. Em termos de dispositivos passivos, foi investigada a fabricação de redes de Bragg em guias em canal e, para isso, foram explorados dois métodos de fabricação. A aplicação do método de dupla exposição UV resultou na produção de uma rede de Bragg de baixa eficiência e de difícil reprodução. Um método inovador, que permite a fabricação simultânea do guia de onda com a rede de Bragg, utilizando uma única máscara e um único passo de exposição UV, foi proposto. Este método produz redes de Bragg com forte amplitude de modulação de índice mas com uma perturbação periódica (em relevo) nas faces laterais do guia. A resposta espectral em reflexão corresponde a uma banda com uma largura considerável. Novas soluções, baseadas neste método, deverão ser pensadas de modo a aniquilar as perturbações em relevo e reduzir a amplitude de modulação de índice, com o objectivo de produzir redes de Bragg com as características requeridas em dispositivos de desmultiplexagem em comprimento de onda. O modulador termo-óptico produzido, como primeiro demonstrador, revelou uma largura de banda bastante limitada. No entanto, a proximidade do coeficiente termo-óptico dos materiais híbridos utilizados com o dos polímeros permite concluir que existe uma margem de progressão para o desempenho do modulador termo-óptico. O primeiro passo para a optimização consiste na fabricação do dispositivo em substrato de silício. O controlo da espessura do superestrato é também essencial. Do ponto de vista das aplicações, o efeito termo-óptico é mais apropriado para dispositivos em que a largura de banda não é a grande exigência. O desenvolvimento de moduladores rápidos, em tecnologia sol-gel híbrido, pode ser enfrentado utilizando outros princípios de actuação, como o efeito electro-óptico. Uma possibilidade em dotar o material com propriedade electro-óptica é considerar a dopagem do material com cromoforos. Outra solução a considerar é a utilização de actuadores piezoeléctricos, como filmes ferroeléctricos de PZT, mas 196 Capítulo 7 - Conclusão a largura de banda dos moduladores fica, potencialmente, limitada à largura de banda do actuador, que não ultrapassa a centena de MHz. Os resultados apresentados nesta dissertação formam uma base interessante para um trabalho de continuidade que visaria os seguintes tópicos: - O objectivo mais imediato consiste na fabricação de guias de onda do tipo “buried” sobre silício, com melhor desempenho a 1.55 µm, com base nos resultados apresentados no capítulo 6, pretendendo atingir-se o limite da absorção intrínseca dos materiais híbridos. - Após a conclusão do tópico anterior, um conjunto de dispositivos integrados podem ser projectados e demonstrados, tais como dispositivos MMIs, acopladores direccionais, comutadores, e outros mencionados no capítulo 1. Um desafio interessante e possível seria a integração de um dispositivo óptico com funções electrónicas de controlo, numa mesma plataforma. - A transparência dos materiais híbridos, em particular a 1.55 µm, pode ser optimizada por uma investigação de combinações adequadas de novos precursores, resultando na diminuição da absorção intrínseca dos materiais. Os materiais híbridos podem oferecer um conjunto alargado de aplicações em Óptica Integrada, considerando a potencialidade de dopagem com variados elementos: - A dopagem com érbio pode ser agora explorada, em consequência dos resultados apresentados sobre a eliminação dos grupos OH, tendo como objectivo a demonstração de amplificadores e lasers a 1.55 µm. Dopagem com outros iões lantanídeos poderá ser igualmente interessante e estudada. - A dopagem com cromoforos pode constituir uma solução viável para obter materiais híbridos com boa propriedade electro-óptica, o que possibilita a demonstração de moduladores de elevada largura de banda. - A dopagem com nanopartículas pode tornar sensível o material híbrido a determinados factores externos, donde o interesse pela sua aplicação em sensores ópticos integrados. - Os materiais híbridos, sendo processados a baixas temperaturas, têm fortes probabilidades de ser compatíveis com moléculas bio-orgânicas. O desenvolvimento de bio-materiais híbridos constitui uma área de investigação interessante para aplicações em sensores biológicos. 197 Anexo A Programa de cálculo do índice de refracção de filmes O programa foi elaborado em Matlab e calcula o índice de refracção, a espessura da camada de núcleo de um guia planar (considerando apenas os modos TE) e compara graficamente os índices efectivos obtidos experimentalmente com os índices efectivos teóricos de um guia planar considerando o índice e espessura resultantes do modelo. A construção do programa foi baseada no artigo: R. Ulrich and R. Torge, "Measurement of Thin-Film Parameters with a Prism Coupler", Applied Optics, vol. 12, 12, pp. 2901-2908, 1973. Programa Principal: %Este programa tem por finalidade determinar os indices efectivos, o indice do % nucleo e a espessura do filme a partir dos angulos de acoplamento. %------------------ limpeza do ecra ----------------------------------------clear % limpa o workspace clc %limpa o command window %---------------------------------------------------------------------------- %------------------ declaraçao de variaveis --------------------------------global lb k Np teta_p Ns Nc M Neff_exp vn h_n h_d m_i %---------------------------------------------------------------------------- %------------------ comprimento de onda da radiaçao utilizada---------------lb= 0.6328; % comprimento de onda do laser He-Ne k=2.*pi./lb; 199 Anexo A %---------------------------------------------------------------------------- %------------------ dados do prisma ----------------------------------------Np=1.79876; % indice do prisma teta_p=45.03; % angulo do prisma %---------------------------------------------------------------------------- %------------------ definiçao dos indices ----------------------------------Ns= 1.471; % indice do substrato Nc=1.; % indice do cladding vn(1)=Ns; vn(3)=Nc; %---------------------------------------------------------------------------- %------------------ definiçao dos angulos de acoplamento -------------------teta_i=[]; teta_i(1)= ; % m=0 teta_i(2)= ; % m=1 teta_i(3)= ; % m=2 teta_i(4)= ; % m=3 teta_i(5)= ; % m=4 teta_i(6)= ; % m=5 % %---------------------------------------------------------------------------- %------------------ calculo do numero de modos -----------------------------M=length(teta_i); %---------------------------------------------------------------------------- %------------------ calculo dos indices efectivos --------------------------Neff_exp=[]; for t=1:M Neff_exp(t) = Neff(teta_i(t)); end %---------------------------------------------------------------------------- %-------------- caso em que o guia suporta 1 modo --------------------------if M==1 m=0; %ordem do unico modo d= input ('\n Qual a espessura do filme (em micron)?: '); %entrada do valor da espessura result1 = unimodal(m,d,Neff_exp); fprintf('\n O indice de refracçao do filme e´ %1.5f \n\n', result1) ; %---------------------------------------------------------------------------- %-------------- caso em que o guia suporta 2 modos -------------------------elseif M==2 200 Anexo A fprintf ('\n Wait a moment...,please\n\n') ordem_Neff=[0 1]; % vector com as ordens dos respectivos modos Neff=[Neff_exp(1) Neff_exp(2)]; % vector com os respectivos indices efectivos result2=bimodal(ordem_Neff, Neff); %------------------ saida dos resultados -----------------------------------clc fprintf('\n O indice de refracçao do filme e´ %1.5f \n\n',result2(1)); fprintf('\n A espessura do filme e´(em microns): %1.1f \n\n',result2(2)); %---------------------------------------------------------------------------- %--------------- caso em que o guia suporta tres ou mais modos -------------else fprintf ('\n calculo Wait a moment..., please\n\n') % saida durante o tempo de %--------- IMPORTANTE!!! -- definicao de parametros que podem variar ------- m_i=0; % ordem do 1º indice efectivo Neff_exp_i=[1 4]; % posiçao dos 2 indices efectivos para o calculo bimodal inicial h_n=0.00001; % passo do metodo numerico relativamente a n h_d=0.01; % passo do metodo numerico relativamente a d %---------------------------------------------------------------------------result3=multimodal(Neff_exp_i,Neff_exp); Neff_teo=calNeff_teo(result3); %calculo dos indices efectivos teóricos com o índice de refracção e a espessura obtidos. %------------------- analise estatistica -----------------------------------% para que o vector Neff_teo tenho mesmo tamamnho que Neff_exp (no caso de m_i diferente de 0) for i=1:M Neff_teo_partido(i)=Neff_teo(m_i+i); end %---------- obtencao de delta_n -------DQ=result3+[h_n 0]; Neff_teo_DQ=calNeff_teo(DQ); for i=1:M 201 Anexo A Neff_teo_partido_DQ(i)=Neff_teo(m_i+i); end N_m=result3(1) + 2.*h_n.*( Neff_exp Neff_teo_partido)./Neff_teo_partido_DQ; delta_n=sqrt((sum((N_m-result3(1)).^2)./((M-1).*(M-2)))); delta_n_2=sqrt(sum((Neff_teo_partido-Neff_exp).^2)) %---------- obtencao de delta_d -------for i=1:M d_m(i)=Psi(m_i+i-1,result3(1),Neff_exp(i))./(k.*sqrt(result3(1).^2Neff_exp(i).^2)); end delta_d=sqrt(sum((d_m-result3(2)).^2)./((M-1).*(M-2))); %---------------------------------------------------------------------------%---------------- preparaçao dos eixos dos graficos m/Neff -----------------%-------para o grafico Neff_exp------------abcissa_m_Neff_exp=[]; for i=1:M abcissa_m_Neff_exp(i)=m_i+i-1; end %------------------------------------------%-------para o grafico Neff_teo------------abcissa_m_Neff_teo=[]; for i=1:length(Neff_teo) abcissa_m_Neff_teo(i)=i-1; end %------------------------------------------%---------------------------------------------------------------------------- %-------------------- saida dos resultados finais --------------------------%clc fprintf('\n O indice de refracçao do filme e´ %1.5f +%1.1e\n\n',result3(1), delta_n_2); fprintf('\n A espessura do filme e´(em microns): %1.1f +%1.2f\n\n',result3(2), delta_d); plot(abcissa_m_Neff_teo,Neff_teo,'-+k', abcissa_m_Neff_exp,Neff_exp,'sb') %---------------------------------------------------------------------------end %---------------------------------------------------------------------------- 202 Anexo A Subrotinas ou funções: 1) Função “calNeff” function out=Neff(teta) % Esta funcao permite calcular os indices efectivos a partir dos angulos de % acoplamento. %--------------variaveis necessarias----------------------------------------global Np teta_p %---------------------------------------------------------------------------- %--------------Aplicaçao directa da respectiva formula ---------------------out=Np.*sin((teta_p.*pi./180)+asin(sin(teta.*pi./180)./Np)); %---------------------------------------------------------------------------- 2) Função “unimodal” function out=unimodal(m,d,Neff) % Esta subrotina calcula o indice de um filme com apenas 1 modo (Neff) dada % a espessura. %-------------- declaraçao das variaveis necessarias -----------------------global lb k Np teta_p vn %---------------------------------------------------------------------------- %---- determinacao do indice do nucleo pelo metodo das bissecçoes sucessivas a1=Neff+0.0000001; %sabendo que Ng esta entre [Neff Np] b1=Np-0.0000001; erro=abs(a1-b1); Ng=(a1+b1)./2; if Neff > vn(1) status=funct(m,d,a1,Neff).*funct(m,d,b1,Neff); %variavel de controlo if status < 0 while erro>=0.000001 if funct(m,d,a1,Neff).*funct(m,d,Ng,Neff)<0; b1=Ng; else a1=Ng; 203 Anexo A end erro=abs(a1-b1); Ng=(a1+b1)./2; end else fprintf ('\n soluçao impossivel \n') break end else fprintf ('\n Erro!!!\n\n Indice effectivo inferior ao indice do substrato \n\n\n') break end %------------------------- saida do resultado ------------------------------out= Ng; %---------------------------------------------------------------------------- 3) Função “bimodal” function out=bimodal(ordem_Neff,Neff) % Esta funçao permite calcular o indice de refracçao e a espessura de um filme % que possui 2 modos guiados. %-------------- declaraçao das variaveis necessarias -----------------------global lb k Np teta_p vn %---------------------------------------------------------------------------- %-------------- aplicaçao do metodo iterativo ------------------------------erro=1; Ng0=1.01.*(Neff(1).^2); %valor inicial da serie float=1; %variavel de controlo que permite parar o programa caso nao haja convergencia while erro>=0.000001 float=float+1; Ng1=F(ordem_Neff,Neff, Ng0); erro=abs(Ng0-Ng1); Ng0=Ng1; if float==30 fprintf('\n a soluçao nao esta´ a convergir \n') break end end %---------------------------------------------------------------------------- %------------------------ Calculo do indice do nucleo ----------------------Ng=sqrt(Ng0); %---------------------------------------------------------------------------- 204 Anexo A %------------------------ Calculo da espessura -----------------------------d1=Psi(ordem_Neff(1),Ng,Neff(1))./(k.*sqrt(Ng0-Neff(1).^2)); d2=Psi(ordem_Neff(2),Ng,Neff(2))./(k.*sqrt(Ng0-Neff(2).^2)); if abs(d1-d2)>0.1 fprintf(' \n Erro bimodal.m: as espessuras nao coincidem!!') end %---------------------------------------------------------------------------- %----------------- definiçao do segundo elemento do vector indices ---------vn(2)= Ng; %---------------------------------------------------------------------------%----------------- saida do resultado --------------------------------------out=[Ng d1]; %em vez de d1 poderia ser tambem d2 uma vez que sao iguais. %---------------------------------------------------------------------------- 4) Função “multimodal” function out=multimodal(Neff_exp_i,Neff) %Esta funçao calcula o indice de refracçao e a espessura de um filme que % suporta 3 ou mais modos. %------------------ declaraçao de variaveis --------------------------------global lb k Np teta_p Ns Nc M Neff_exp vn m_i %---------------------------------------------------------------------------- %------------------ calculo do indice e da espessura a partir de 2 modos ---ordem_Neff_i=Neff_exp_i+m_i-1; Neff0_exp=[Neff_exp(Neff_exp_i(1)) Neff_exp(Neff_exp_i(2))]; P(1,:)=bimodal(ordem_Neff_i, Neff0_exp); %---------------------------------------------------------------------------Q=P(1,:); %variavel flutuante desvio_padrao_1=sigma(Q); t=0; control=1; while control > 0.00001 t=t+1; 205 Anexo A if t==200 clc fprintf('\n break end Nao esta a convergir \n') desvio_padrao_0=desvio_padrao_1; inc_P=incremento(Q); P(t+1,:)=P(t,:)+inc_P; %DP=P(t+1,:)-P(t,:); Q=P(t+1,:); desvio_padrao_1=sigma(Q); delta_desvio_padrao=abs(desvio_padrao_0-desvio_padrao_1); control=sqrt(delta_desvio_padrao) end %-------------------- saida do resultado -------------------------------out=Q; %Q e´ da forma [indice espessura] %------------------------------------------------------------------------ 5) Função “calNeff_teo” function out=calNeff_teo(Q) %---------------------------------------------------------------------------% Esta funcao calcula os indices efectivos apartir do vestor Q=[n,d]. %---------------------------------------------------------------------------- %----------------------- declaraçao de variaveis ---------------------------global lb k Np teta_p global Ns Nc global M %---------------------------------------------------------------------------Ng=Q(1); d=Q(2); Neff=[]; u=1; while u~=0 m=u-1; a1=Ns+5.*0.000001; b1=Ng-5.*0.000001; erro=abs(a1-b1); Neff(u)=(a1+b1)./2; status=funct(m,d,Ng,a1).*funct(m,d,Ng,b1); if status<0 while erro>=0.000001 if funct(m,d,Ng,a1).*funct(m,d,Ng,Neff(u))<0 b1=Neff(u); else a1=Neff(u); end 206 Anexo A erro=abs(a1-b1); Neff(u)=(a1+b1)./2; end u=u+1; else u=0; end end %--------------- saida dos resultados --------------------------------------if m==0 out=0; else for j=1:m out(j)=Neff(j); end end %---------------------------------------------------------------------------- 6) Função “F” function out=F(ordem_Neff,Neff,n) % Esta funçao calcula o valor de F para o metodo iteravo do subprograma bimodal ng=sqrt(n); % a variavel de entrada e´ o Ng^2 %--------------- calculo do numerador --------------------------------------Psi(ordem_Neff(2),ng,Neff(2)); Psi(ordem_Neff(1),ng,Neff(1)); num=(Neff(1).^2).*(Psi(ordem_Neff(2),ng,Neff(2)).^2)(Neff(2).^2).*(Psi(ordem_Neff(1),ng,Neff(1)).^2); %---------------------------------------------------------------------------- %--------------- calculo do denominador ------------------------------------den=(Psi(ordem_Neff(2),ng,Neff(2)).^2)-(Psi(ordem_Neff(1),ng,Neff(1)).^2); %---------------------------------------------------------------------------- %--------------- calculo da fracçao e saida do resultado -------------------out=num./den; %---------------------------------------------------------------------------- 7) Função “Fi” function out=Fi(nc,n,Neff) % Esta funcao permite calcula o termo repetido no segundo membro 207 Anexo A % da equacao de dispersao. %-------------- saida do resultado -----------------------------out = atan(sqrt((Neff.^2-nc.^2)./(n.^2-Neff.^2))); %---------------------------------------------------------------- 8) Função “funct” function out=funct(m,d,n,Neff) % Esta funçao e´ a funçao base para aplicar o metodo das bissecçoes sucessivas a equaçao Funct=0. %--------------- declaraçao das variaveis ----------------------------------global k %---------------------------------------------------------------------------- %--------------- calculo do valor da funçao pretendida ---------------------out=k.*d.*sqrt(n.^2-Neff.^2)-Psi(m,n,Neff); %---------------------------------------------------------------------------- 9) Função “Psi” function out=Psi(m,n,Neff) % Esta funcao calcula o segundo menbro da equacao de dispersao %-------------- declaracao das variaveis --------------------global Ns Nc %------------------------------------------------------------- %--------- saida do resultado -------------------------------out=m.*pi + Fi(Ns,n,Neff) + Fi(Nc,n,Neff); %------------------------------------------------------------- 10) Função “sig” function out=sig(Q,r,s) % Esta funçao permite calcular o vector Q modificado 208 Anexo A %--------------- declaraçao das variaveis ----------------------------------global h_n h_d %---------------------------------------------------------------------------ng_i=Q(1)+r.*h_n; d_i=Q(2)+s.*h_d; Q_i=[ng_i d_i]; %--------------- saida do resultado --------------------------------------out=sigma(Q_i); %---------------------------------------------------------------------------- 11) Função “sigma” function out=sigma(Q) %---------------------------------------------------------------------------%Esta funcao calcula o desvio padrao dos indices efectivos obtidos teoricamente a partir de Q=[n,d] e os indices efectivos experimentais. %---------------------------------------------------------------------------- %----------------------- declaracao de variaveis ---------------------------global lb k Np teta_p Ns Nc M Neff_exp m_i %---------------------------------------------------------------------------- Neff_teo_gerado = calNeff_teo(Q); n_modos=length(Neff_teo_gerado); %---------- controlo do comprimento do Neff_teo_gerado com Neff_exp --------if n_modos==m_i+M for i=M:-1:1 Neff_teo(i)=Neff_teo_gerado(i+m_i); end else if n_modos > m_i+M for i=1:M Neff_teo(i)=Neff_teo_gerado(m_i+i); end else for i=1:(n_modos-m_i) Neff_teo(i)=Neff_teo_gerado(m_i+i); end for i=(n_modos-m_i+1):M Neff_teo(i)=0; end end end %---------------------------------------------------------------------------- A=Neff_exp-Neff_teo; 209 Anexo A B=A.^2; %--------------- saida do resultado ----------------------------------------out = sum(B); %---------------------------------------------------------------------------- 12) Função “incremento” function out=incremento(Q) % Esta funcao permite calcular os incrementos para o indice e a % espessura nas diversas iteraçoes da funcao multimodal. %-------------------- declaraçao das variaveis ----------------------------global h_n h_d %--------------------------------------------------------------------------- s00 = sig(Q,0,0); s10 = sig(Q,1,0); s_10 = sig(Q,-1,0); s01 = sig(Q,0,1); s0_1 = sig(Q,0,-1); s11 = sig(Q,1,1); s_11 = sig(Q,-1,1); s1_1 = sig(Q,1,-1); s_1_1= sig(Q,-1,-1); %----------- calculo das primeiras derivadas ----------------------dsig_dn=(s10-s_10)./(2.*h_n); dsig_dd=(s01-s0_1)./(2.*h_d); %------------------------------------------------------------------- %----------- calculo das segundas derivadas -----------------------d2sig_dn2=(s10 - 2.*s00 + s_10)./(h_n.^2); d2sig_dd2=(s01 - 2.*s00 + s0_1)./(h_d.^2); d2sig_dnd=(s11 - s_11 - s1_1 + s_1_1)./(4.*h_n.*h_d); %------------------------------------------------------------------det=d2sig_dn2.*d2sig_dd2-d2sig_dnd.^2; %----------------- saida dos resultados ------------------------------------out(1)=(dsig_dd.*d2sig_dnd-dsig_dn.*d2sig_dd2)./det; out(2)=(dsig_dn.*d2sig_dnd-dsig_dd.*d2sig_dn2)./det; %---------------------------------------------------------------------------- 210 Anexo B Fabricação de máscaras de amplitude Este anexo descreve a fabricação de máscaras de amplitude em substrato de sílica, como réplicas de máscaras primárias. A base da máscara, o substrato de sílica, deve ser submetida a um tratamento de limpeza num banho de solução “piranha", seguida do procedimento padrão de limpeza de substratos de vidro. Esta etapa é de extrema importância para as etapas seguintes. Um filme de NiCr (80/20) entre 50 e 70 nm é depositado no evaporador térmico a uma taxa de 0.5 nm/s. Após esta operação, as amostras são deixadas arrefecer durante pelo menos uma hora antes de saírem do evaporador. Um filme de “photoresist” positivo (Shipley S1818) é depositado, por “spin-coating”, a uma velocidade de 3000 ou 4000 rpm. Para ambas as velocidades de rotação, a espessura do filme é praticamente a mesma (1.8 µm). No entanto, a probabilidade de aparecerem defeitos no filme é muito superior quando é utilizada a velocidade de 4000 rpm. Por isso, é aconselhável a velocidade de 3000 rpm. O filme é submetido a um processo de secagem a 90ºC durante 30 minutos. O padrão da máscara primária é transcrito para o filme de “photoresist” por um processo fotolitográfico. Um alinhador de máscaras, com uma lâmpada de mercúrio (365 nm), é utilizado nesta etapa. Com o alinhador de máscaras em boas condições de operacionalidade, a exposição UV é realizada durante 27 s (a fluência incidente não é conhecida). O filme é, seguidamente, submetido a um processo de revelação, utilizando uma solução aquosa do revelador Microposit 351 (2 partes de água desionizada com uma parte de Microposit 351 em volume) e é enxaguado com água desionizada. As zonas expostas do filme de “photoresist” foram removidas, deixando desprotegida a parte correspondente do filme de NiCr. Após a revelação, o filme de “photoresist” é submetido a um tratamento térmico a 120ºC durante 15 minutos. 211 Anexo B Antes de prosseguir com o ataque químico das zonas desprotegidas do filme de NiCr, é conveniente uma inspecção ao microscópio óptico do padrão revelado. No caso de a transferência do padrão não ser bem sucedida, o filme de “photoresist” pode ser removido com acetona e um novo filme de “photoresist” pode ser depositado, repetindo as etapas posteriores. Se o padrão for bem transferido, as zonas do filme de NiCr desprotegidas são removidas, por ataque químico, com uma solução de ácido clorídrico (4 partes de HCl com 1 parte de água desionizada, em volume). Uma solução alternativa, com ataque químico mais eficiente, pode ser sintetizada com 200 g de nitrato de amónio “ceric”, 35 ml de ácido acético glacial e 1 litro de água desionizada. Esta etapa é de extrema importância e requer um controlo muito cuidadoso do processo, uma vez que um excesso do tempo de ataque químico provoca o efeito de “undercut”, resultando no alargamento indesejável das dimensões das linhas. A última etapa consiste na remoção do filme de “photoresist” com acetona, seguida da lavagem da máscara com água desionizada e a secagem com ar comprimido. 212 Anexo C Espectro de transmissão de precursores organoalcoxisilanos 1) Alcoxisilanos Tetramethoxysilane (TMOS) Tetraethoxysilane (TEOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 -2 -3 -4 -5 -6 -7 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 Comprimento de onda (nm) 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) 2) Organoalcoxisilanos Acetoxypropyltrimethoxysilane (AOPTMOS) Acetoxymethyltriethoxysilane (AOMTEOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 -2 -7 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) 213 Anexo C 3-aminopropyltrimethoxysilane (APTMOS) 3-aminopropyltriethoxysilane (APTEOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) 3-Chloropropyltrimethoxysilane (CPPTMOS) 2-Cyanoethyltriethoxysilane (CETEOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 -2 -3 -4 -5 -6 -7 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Ethyltrimethoxysilane (ETMOS) Ethyltriethoxysilane (ETEOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 -2 -3 -4 -5 -6 -7 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) 214 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Anexo C 2-(3,4-Epoxycyclohexyl)ethyltrimethoxysilane Fluorotriethoxysilane (FTEOS) 1 1 0 Espectro de absorção (dB/cm) 0 Transmitância (dB/cm) -1 -2 -3 -4 -5 -6 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 -1 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 3-Glycidoxypropyltrimethoxysilane (GPTMOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Hexadecyltrimethoxysilane (HDTMOS) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 Isobutyltrimethoxysilane (IBTMOS) Isobutyltriethoxysilane (IBTEOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Transmitância (dB/cm) 800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) 215 Anexo C 3-Isocyanatopropyltriethoxysilane (ICPTEOS) 3-Mercaptopropyltrimethoxysilane (MCPTMOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 Comprimento de onda (nm) Methacryloxypropyltrimethoxysilane (MAPTMS) Comprimento de onda (nm) Methylaminopropyltrimethoxysilane (MATMOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 Comprimento de onda (nm) Methyltriethoxysilane (MTEOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Methyltrimethoxysilane (MTMOS) -2 -3 -4 -5 -6 -7 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) 216 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Anexo C n-Octadecyltrimethoxysilane (ODTMOS) n-Octyltrimethoxysilane (OTMOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -2 -3 -4 -5 -6 -6 -7 -7 -8 600 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Phenyltrimethoxysilane (PTMOS) Phenyltriethoxysilane (PTEOS) 1 1 0 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 0 -2 -3 -4 -5 -6 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 -1 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) n-Propyltrimethoxysilane (PPTMOS) Vinyltrimethoxysilane (VTMOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 -2 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) 217 Anexo C 3) Organoalcoxisilanos bi-funcionais Dimethyldimethoxysilane (DMDMOS) Dimethyldiethoxysilane (DMDEOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 -2 -3 -4 -5 -6 -7 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Methyldiethoxysilane (MDEOS) Diphenyldimethoxysilane (DPDMOS) 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) 1 -2 -3 -4 -5 -6 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 -8 600 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) 4) Precursor organoalcoxisilano tri-funcional Trimethylethoxysilane (TMEOS) 1 Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) 218 Anexo C 5) Precursores organoclorosilanos n- Octadecyltrichlorosilane (ODTCS) 1 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) Diethyldichlorosilane (DEDCS) -2 -3 -4 -5 -6 -7 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Vinylmethyldichlorosilane (VMDCS) 1 1 0 0 -1 -1 Transmitância (dB/cm) Transmitância (dB/cm) Phenylmethyldichlorosilane (PMDCS) -2 -3 -4 -5 -6 -3 -4 -5 -6 -7 -7 -8 600 -2 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) 6) Precursores não-reactivos Polydimethylsiloxane, trimethyl terminated (PDMS) 1 Transmitância (dB/cm) 0 -1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 Comprimento de onda (nm) 219