AU TO RA L TO EI DI R AVM FACULDADE INTEGRADA EG ID O PE LA LE I DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA ALFABETIZAÇÃO INFANTIL DO CU M EN TO PR OT A INFLUÊNCIA DA CULTURA DA MÍDIA TELEVISIVA NA Por: Nely Monteiro dos Santos de Carvalho Orientador Prof. Ms. Maria Conceição Maggioni Poppe Rio de Janeiro 2012 2 AVM FACULDADE INTEGRADA LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A INFLUÊNCIA DA CULTURA DA MÍDIA TELEVISIVA NA ALFABETIZAÇÃO INFANTIL Apresentação de monografia a AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia. Por: Nely Monteiro dos Santos de Carvalho. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, à minha mãe, ao meu marido, à minha irmã, aos meus sobrinhos e a minha tia Lourdes, que muito me apoiaram nos três anos de formação e aos meus amigos que me motivaram a continuar e a buscar esse novo mundo do conhecimento. 4 DEDICATÓRIA Dedico esta obra à minha mãe, Oneida Monteiro dos Santos e ao meu marido Fábio Garcez de Carvalho. 5 RESUMO Iniciamos nossa pesquisa com o objetivo de demonstrar a pouca utilização da mídia televisiva em sala de aula para contribuição no processo de alfabetização e letramento mesmo após transformações no mundo com a Revolução Industrial e o surgimento de novas tecnologias. Temos como proposta Projetos Políticos Pedagógicos com foco na educação em parceria com a TV, por ser um veículo que disponível em grande parte das residências do país, e a busca por práticas de aprendizagem em conjunto com produções em maior escala para o público infantil. 6 METODOLOGIA A metodologia utilizada teve como proposta investigar a influência da cultura da mídia no processo de alfabetização infantil no que diz respeito ao uso de estratégias para a compreensão da leitura e o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. O objetivo foi trabalharmos a relação do processo de alfabetização com a mídia através da fala dos professores mediante a aplicação de questionário, cuja metodologia utilizada foi de base qualitativa. O questionário, nos anexos 1 e 2, foi um instrumento de coleta de dados, com questões a serem respondidas sem a interferência direta do pesquisador. Na primeira folha do questionário tem as informações a que se destina a natureza da pesquisa e qual importância das respostas do professor. Foram perguntas adequadas aos objetivos, sendo cuidadosamente planejadas, para que houvesse um conteúdo de acordo com a proposta de investigação. Trabalharemos com perguntas abertas, isto é, com menos limites ao sujeito para respondê-las. Incialmente pesquisamos a autora Silvia de Mattos Gaparian Colello (2010), que em sua obra aborda o processo de alfabetização escolar, com foco nas necessidades sociais e econômicas, em particular nas condições de produção e de mercado. Ela propõe uma ação alfabetizadora tendo como eixo o processo de formação da consciência crítica do sujeito. Para uma reflexão crítica do uso da mídia em sala de aula para a produção de novos conceitos, a escola deve contemplar uma nova maneira de perceber a relação entre televisão e sociedade. Na pesquisa bibliográfica que empreendi, foi possível identificar a preocupação dos autores em dirigir uma reflexão crítica focada na relação do imaginário infantil e os recursos midiáticos (GLÁUCIA GUIMARÃES, 2005; MARIA ISABEL OROFINO, 2005; MARISA VORRABER COSTA, 2009; ROSA MARIA BUENO FISCHER, 2006). 7 A contribuição teórica dos autores expostos acima foi de grande importância para o desenvolvimento nossa pesquisa. Guimarães (2005) nos chamou a atenção ao tecer considerações sobre os programas infantis e suas práticas de linguagem adequadas a esse público. Já Orofino (2005) lança reflexões a respeito da utilização de uma pedagogia dos meios respeitando o contexto local. As entrevistas de Costa (2009) em seu livro trazem à tona questões sobre a escola e a cultura contemporânea onde as programações televisivas não atendem as necessidades do universo infantil, distanciam a criança do lúdico e com conseqüências no desenvolvimento da infância. Fischer (2006) lança um olhar sobre a utilização de novas linguagens e as relações entre mídia, cultura e sociedade, no espaço escolar. Esperamos com essa metodologia termos atingido o objetivo de tecer uma reflexão acerca do processo de alfabetização infantil no ambiente escolar que é repleto de novas tecnologias sendo uma das predominantes a cultura televisiva. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I - REFLEXÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA CULTURA DA MÍDIA TELEVISIVA NA ALFABETIZAÇÃO INFANTIL 11 1.1 - Breve História da Comunicação 11 1.2 - Breve História da Educação 13 1.3 - Alguns Teóricos da Mídia do Século XX 15 1.4 - Novos Olhares Sobre o Processo de Leitura e Escrita 17 CAPÍTULO II - ALFABETIZAÇÃO, CULTURA DA MÍDIA E AS APLICAÇÕES NA ÁREA EDUCACIONAL 21 2.1 - Linguagem, Escrita e Alfabetização – Processos em Questão 21 2.2 - Alfabetização e Letramento – Algumas Considerações 25 2.3 - As Múltiplas Linguagens da Mídia Televisiva 29 CAPÍTULO III - METODOLOGIA DA PESQUISA 35 3.1 - Pesquisa Qualitativa 35 3.2 - Abordagem da Pesquisa 36 3.2.1 - Análise da Pesquisa Qualitativa 36 3.2.2 - Observações sobre o Questionário 36 3.2.3 - A Análise Documental 40 CONCLUSÃO 49 ANEXOS 51 9 ÍNDICE 55 FOLHA DE AVALIAÇÃO 57 10 INTRODUÇÃO Ler e escrever são processos importantes na construção e na inserção do sujeito na sociedade. Problematizar esse tema com questões que diferenciem comunicação e informação, se tornando importantes nas ações de os novos discursos sobre a produção televisiva que cada vez é mais eficaz no que tange as estratégias satisfação dos desejos. Inserir os sujeitos numa sociedade letrada que provoque discussões a respeito das mudanças no processo de leitura em conjunto de novas mídias e, contribuir na contextualização desse novo olhar na construção do conceito de leitura e escrita é o objeto de nossa pesquisa. Temos como proposta promover reflexões sobre os desafios que as escolas cada vez mais encontram em alfabetizar com as novas tecnologias e quais são os pressupostos de aprendizagem. A relação mídia-escola mais precisamente TV, contribui na constituição da identidade infantil, sendo um instrumento em sala de aula que contribui na prática docente. A mídia televisiva, por ser um poderoso meio de reprodução social, pode ser um instrumento de transmissão do saber, capaz de analisar as estratégias pedagógicas utilizadas no meio escolar promovendo uma ação transformadora que contemple o processo mídia-educação. No primeiro capítulo traçamos um breve olhar sobre a história da mídia de massa e os reflexos na sociedade e apresentamos conceitos de alguns autores sobre o processo de alfabetização e letramento. No segundo capítulo lançamos questões sobre o processo de produção da mídia televisiva e suas implicações na aplicação desses conteúdos em sala de aula. E no terceiro capítulo produzimos questionários e utilizamos documentação com foco no uso de linguagens televisivas em sala de aula e suas implicações nas práticas de aprendizagem. 11 CAPÍTULO I REFLEXÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA CULTURA DA MÍDIA TELEVISIVA NA ALFABETIZAÇÃO INFANTIL Ao observar o comportamento das crianças diante das mídias no mundo contemporâneo, nos propomos a pesquisar sobre os desafios que as escolas cada vez mais encontram em alfabetizar e quais são os pressupostos de aprendizagem relacionando mídia televisiva e escola, sendo a TV uma grande constituidora das identidades infantis. Desta forma, resolvemos investigar a utilização desse recurso em sala de aula, um poderoso meio de reprodução social, que pode ser ou não um instrumento de transmissão do saber, interagindo com o meio em que vive, relacionando o contexto à visão global de mundo e com o sujeito que tem grande interação com o objeto. “A educação escolar precisa de uma perspectiva crítica para o uso das mídias que avance para além da proposta de leitura crítica dos meios e que proponha a produção criativa no próprio espaço escolar como construção de respostas sociais aos meios de comunicação de massa e que propicie modos de construção de visibilidade para as culturas locais e para as diferentes identidades socioculturais.” (OROFINO, 2005, p. 117) 1.1 - Breve História da Comunicação No início da Europa moderna, o contexto da escrita era muito importante, pois nesse período ensinava-se leitura e escrita de forma dissociada, onde no mundo dos negócios, a demanda para esse ensinamento era grande, principalmente no âmbito religioso, de uma Europa protestante, onde aplicavam exames anuais em casas de luteranos para avaliar o processo de aquisição da leitura de cada membro da família e o desenvolvimento era acompanhado sistematicamente. O ensino foi extensivo a mulheres e crianças na área rural e o método era chamado de “letramento mediado”, destinado a beneficiar quem não era letrado. (BRIGGS & BURKE, 2006, p. 30 – 31) 12 A difusão do processo de letramento influenciou a vida dos sujeitos com o crescimento no número de pessoas que utilizavam a escrita, como contadores, escrivões, e carteiros, por exemplo. Com o advento da leitura e da escrita, surgia uma nova forma de pensar na sociedade, com acesso a informação que conseqüentemente contribuíram na formulação de novas regras que se estabeleciam na Europa moderna, beneficiando a distância e o controle das classes menos favorecidas. Muitas dessas pessoas comuns que passaram pelo processo de letramento, utilizaram-se da escrita, na promoção de queixas feitas por escrito. Uma sociedade voltada para a informação começa a se estabelecer. O contexto de comunicação visual iniciou com a linguagem de gestos ensinada nas escolas, onde a linguagem natural das mãos era um dos processos de aprendizagem utilizados no início da Europa moderna. Por sua vez, a era Renascentista contribuiu para difundir o processo da comunicação visual com a arte produzida no período, com as famosas pinturas, cujas imagens despertassem emoções. As imagens se tornaram cada vez mais presentes pelos séculos, e a xilogravura, que produzia imagens idênticas, foi uma das formas de arte mais utilizadas para expressar a devoção popular tanto para igreja católica como para a igreja de Lutero com imagens impressas. Entre os séculos XVII e XVIII, uma sociedade se constituía com um novo olhar sobre a política. Com a produção de impressos satíricos, uma consciência popular nasce com o advento das questões políticas. Com a Revolução Industrial, a máquina traz a possibilidade de múltiplas cópias. Surgem então a litogravura e a fotografia, dando início a uma nova forma de multiplicação das imagens com as novas tecnologias produzidas num mundo com um olhar para o Capitalismo. 13 “Parece que as formas de comunicação mais efetivas daquele período — assim como acontece hoje — eram as que apelavam simultaneamente para os olhos e os ouvidos, combinando mensagens verbais com nãoverbais, musicais e visuais, desde tambores e trombetas de paradas militares até os violinos que acompanhavam performances de salão. No início da era moderna na Europa, essas formas incluíam rituais, espetáculos, montagens de teatro amador, peças, balés e óperas. Os rituais eram mensagens, mas também um meio mais ou menos eficaz de comunicar informação.” (BRIGGS & BURKE, 2006, p. 47 – 48) Mesmo que nosso objeto de estudo seja a televisão, lembraremos algumas tecnologias no campo da comunicação, anteriores a ela e que contribuíram com um novo olhar sobre a difusão do conhecimento e se constituíram e se fortaleceram com o advento da Revolução Industrial. Foram as ferrovias; os navios a vapor, o correio; os telégrafos, considerado no período, primeiro grande avanço no campo da eletricidade; os telefones, como instrumento voltado para a comunicação pública e privada; a radiotelegrafia, que introduziu o sistema de rádio com transmissão para várias pessoas simultaneamente; e o cinema, cujo processo de captação de imagens contribuiu num determinado período, para a produção de filmes que expressassem a consciência social. Os documentaristas, estimulados com a crise de 1929, tanto na Europa como nos Estados Unidos, lançaram cinejornais com salas de exibição específicas localizadas próximas a estações de trem, introduzindo o cinema falado na década de 1930. Nesse mesmo período, o engenheiro escocês John Logie Baird produziu seu primeiro scanner mecânico, feito com caixa de chapéus, e com seus experimentos, conseguiu produzir imagens de seus dedos primeiramente e depois de seu contínuo, Nascia a era televisiva. 1.2. Breve História da Educação: O início da época contemporânea se dá em meados do século XVIII, com a Revolução Francesa, quando a sociedade européia entra numa era de transformação social, econômica e política, gerando um período de 14 inquietação, onde a sociedade busca por mudanças e marcada por pretensões revolucionárias, por uma visão de futuro e de valorização do interesse público que se sobrepõe ao privado, onde a sociedade cobra o rompimento com um passado de tradições em busca de uma sociedade mais justa (Cf. CAMBI, 1999: 377 - 379). Ocorrem então, grandes transformações que contribuem para uma nova concepção de democracia e um novo olhar sobre a educação e a Pedagogia. Após a Revolução Francesa, Napoleão Bonaparte, o Império e a Restauração aplicam os projetos de transformação da sociedade. Bonaparte trabalha com um projeto que forme uma nova sociedade através da reconstrução da burguesia francesa, cujo modelo de modernização se baseará no controle do Estado, que é burocrático, e sua função será conduzir e administrar a vida desta nação através de um racionalismo técnico. Por sua vez, a Revolução Industrial criou as bases para o surgimento da sociedade de massas ao concentrar as populações nos centros urbanos e racionalizar o mundo social. A comunicação entre os homens exigia novos instrumentos. As elites por terem se apropriado do poder, criaram mecanismos de controle sobre as massas, onde os meios de comunicação, incluindo a propaganda, tinham a dinâmica necessária para controlá-la, mesmo considerando um movimento legítimo, refletido a visão da modernidade. (Cf. CAMBI, 1999: 378 - 390) 15 “Tanto as tensões revolucionárias quanto as transformações radicais de industrialização, tanto os processos de “rebelião das massas” quanto as instâncias de democracia promovem uma centralização da educação e um crescimento paralelo da pedagogia, que se tornam cada vez mais o núcleo mediador da vida social, onde se ativam tanto integrações , quanto inovações, tanto processos de reequilíbrio social quanto processo de reconstrução mais avançada ou de ruptura. A educação/pedagogia – como bem viu Luhmann – veio ocupar um papel cada vez mais específico (de mediação e de reequilíbrio) no sistema social, articulando-se num sistema de igualmente plural e orgânico, disseminado no social, mas coordenado por uma reflexibilidade (por processos teóricos de interpretação e de projeção) que garante sua funcionalidade, agindo segundo modelos adequados a sua fase histórica de desenvolvimento.” (CAMBI, 1999: 381) Os movimentos oriundos das revoluções traçam um paralelo entre educação e pedagogia, como um caminho mediador no processo de construção da vida social e reconstrução do equilíbrio dessa sociedade em formação, espontânea, livre do ser autoritário, visando ideais democráticos, com um olhar contemporâneo para a educação. “O menino é o modelo deste homem livre e liberado, subtraído às manipulações da sociedade, restituído às suas verdadeiras necessidades e assumido em toda a gama das usas potencialidades (da fantasia ao riso, da aventura ao erotismo polimorfo).” (CAMBI, 1999, p.392) 1.3 - Alguns Teóricos e a Mídia no Século XX A sociedade brasileira como parte integrante da modernidade ocidental vem sofrendo crescente influência da mídia televisa. O seu impacto tem gerado o interesse de estudiosos da área da educação, em particular do letramento e da alfabetização. Nesta seção apresentaremos alguns teóricos brasileiros que tratam do tema. 16 Reportando as primeiras teorias da comunicação, vale citar Harold Innis e Marshall McLuhan como teóricos importantes para a reflexão sobre mídia de massa na era contemporânea. Innis, afirma que a organização de uma sociedade está intrinsecamente ligada a forma com que a mídia se comporta naquele grupo social, podendo contribuir com sua expansão ou não.(GIDDENS, 2005: p.374) McLuhan e Innis desenvolveram algumas teorias, em particular a relacionada à mídia das sociedades industrializadas modernas. Para ele, “o meio é a mensagem”. Desta forma, McLuhan, diz que a mídia usada em cada sociedade, pode influenciar mais do que o próprio conteúdo ou as mensagens que venha a transmitir. (GIDDENS, 2005: p.374) A televisão, que é um dos objetos de nosso estudo, é um exemplo do diferencial de um jornal impresso, pois ela é uma mídia eletrônica, onde o visual é importante e as imagens transmitidas, mudam a cada momento, sendo um meio dinâmico de produção de informações, e como nas palavras do autor, criou uma aldeia global, onde pessoas espalhadas pelo mundo inteiro podem ter acesso ao mesmo acontecimento, participando juntas dessas ações ocorridas. Outro teórico a ser citado aqui, foi o filósofo alemão e sociólogo Jürgen Habernas, ligado a Escola de Frankfurt, onde um grupo de autores realizou um estudo chamado “indústria da cultura” e afirmaram que produtos ligados a área do entretenimento, reduziam a capacidade do indivíduo desenvolver pensamento crítico e de forma imparcial. Jürgen Habermas aprofundou sua análise sobre a discussão dos rumos da mídia desde o século XVIII até a modernidade, traçando um histórico sobre a aparição e a queda da “esfera pública”, que era uma arena de debates públicos iniciados nos salões e cafés de Londres, Paris e outras cidades da Europa, onde se discutia assuntos do momento, muitas vezes escritos em folhetins que iniciaram sua aparição na mesma época e tinham o objetivo de promover um debate público em condições de igualdade dos participantes. Mas, o debate funcionava como um pano de fundo das discussões cujo foco 17 era manipular o controle dos interesses comerciais instauradas naquele momento com o advento da industrialização. (GIDDENS, 2005: p.374 – 375) Já o teórico francês Jean Baudrillard, cujo trabalho tem forte influência de Innis e McLuhan, considera a TV a mídia de massa que mais influencia no comportamento do sujeito, enquanto mídia eletrônica. Na acepção desse autor, a Televisão define nossa forma de viver com características globais, onde todos são atores e autores desse novo olhar sobre as “realidades” das imagens exibidas diariamente por todo o mundo. Esse é o processo da hiper-realidade que nos permite participar enquanto telespectador de novas realidades criadas pela TV e que acabam por fazer parte do nosso cotidiano. Desta forma, as imagens podem fazer parte do nosso cotidiano, manipular a realidade e construí-la algumas vezes com uma visão de mundo de forma equivocada produzidas por essas imagens. A transmissão das mensagens se caracteriza pela produção de imagens que contribuem para que o processo de comunicação ocorra. A comunicação se estabelece de diversas formas, mas nesse capítulo, trataremos da comunicação escrita e visual. 1.4 - Novos Olhares Sobre o Processo de Leitura e a Escrita A prática pedagógica do modelo tradicional de leitura e escrita utilizado nas escolas até a década de 1960, tinha como objetivo que o aluno tivesse o domínio do código escrito, evitando erros e a possibilidade de reprovação. E esse modelo visava a memorização através da utilização de cartilhas em sala de aula na 1ª série. Chegando a 2ª série, o aluno terá um ensino com foco na gramática normativa, utilizado no modelo tradicional, no qual se acreditava que a criança atingiria um estágio de maturação psiconeurológica, que seria o momento em que ocorreria o processo de alfabetização e a aprendizagem da leitura e da escrita. (LEITE & COLELLO, 2010: p. 19) 18 Esse modelo foi duramente criticado a partir da década de 1960. Essas que na sua maioria, não tinham foco na área pedagógica, mas ligadas às mudanças sociais e econômicas pelo novo olhar de uma sociedade capitalista naquele período. Os países que tinham uma economia mais avançada perceberam a necessidade de melhorar a capacidade da mão de obra em função das novas tecnologias que se instalavam, sendo necessário que as escolas apresentassem uma nova proposta pedagógica que levasse o sujeito a utilizar a escrita de forma adequada a sua função. “Surgiu nos países de primeiro mundo, o conceito de analfabeto funcional – aquele indivíduo que permanecesse durante anos na escola, aprende o código mas não as habilidades que lhe permitam envolver-se com as práticas sociais de leitura e escrita, durante ou após a escolarização.” (LEITE & COLELLO, 2010, p. 21) Conforme Sérgio Leite (2010), o processo de escrita tornou-se cada vez mais presente nas relações sociais, econômicas e culturais na segunda metade do século XX. Desta forma, a possibilidade de um indivíduo considerado analfabeto funcional transformar-se em sujeito crítico e participativo das ações de seu mundo e exercer a cidadania, eram mínimas. A partir da década de 1980, vários autores concordavam que a escrita ia além da representação da linguagem oral, cuja percepção focava num sistema funcional onde a construção se dava através da cultura, da natureza histórica e social de cada sujeito, entendendo que o processo da escrita era repleto de significados que os membros de uma sociedade compartilham. Essas idéias lançam um novo olhar sobre os referenciais teóricos e provocam mudanças rápidas e sensíveis no campo da alfabetização escolar e nas práticas pedagógicas em sala de aula, sendo que nesse último ponto, as mudanças ocorreram de forma gradual. 19 Ainda em meados dos anos 80, alguns autores teciam considerações a respeito do novo olhar sobre o processo de alfabetização. A leitura de Magda Soares sobre a alfabetização é de que o processo depende do conhecimento produzido por diversas áreas que apontem para a perspectiva psicolingüística, psicológica, sociolingüística e lingüística. Outros autores apontam para o desenvolvimento de propostas pedagógicas onde várias áreas do saber estarão interligadas sem delimitação a uma perspectiva específica. Sérgio Leite (2010) defende que as propostas pedagógicas trabalhadas com os alunos pelo educador sejam de natureza políticoideológica e que caracterizem a constituição de criticidade do sujeito e sua cidadania plena. O autor considera que o processo de alfabetização escolar, como toda prática pedagógica não sendo uma atividade ideologicamente neutra, pois uma visão ideológica deve estar pautada na reflexão das concepções s de homem e de mundo de acordo com os valores e representações de cada indivíduo. Entendemos que a concepção de alfabetização apresentada tem como proposta, a modernização do ensino com características ainda muito conservadoras, pois apresentam respostas às necessidades da produção capitalista e ao surgimento de novas tecnologias como o processo de construção da vida social apresentado na Revolução Industrial, com um olhar contemporâneo para a educação com foco na produção de mercado. Os setores, então, exigem um trabalhador que possua as qualificações necessárias e o domínio das funções de escrita. Desta forma, o processo de alfabetização continua adaptado a visão econômica e social para um mercado mais produtivo. Percebemos então a necessidade de questionarmos a realidade social que se apresenta, gerando uma reflexão crítica sobre o processo de leitura e escrita onde a troca de experiências entre professores e alunos será fundamental para a retomada do processo de alfabetização. 20 Nas questões aqui pautadas, pensamos ser objeto de discussão não só de órgãos públicos voltados para a área da educação, mas também pelo coletivo da escola, onde esse novo mundo que se apresenta, repleto mídias no processo de comunicação, estabeleça um diálogo, que demonstre a necessidade de aplicação das tecnologias e as aproxime do universo da sala de aula, sendo a nossa proposta da pesquisa sobre a mídia televisiva e a relação com o processo de alfabetização. Com um novo olhar sobre o processo de leitura e escrita, pensamos que o processo de produção da linguagem pode ser construído com uma nova abordagem da escola sobre os recursos da mídia televisiva apropriados pelos alunos onde travaremos um diálogo crítico entre o uso das mídias e as práticas educacionais com base no respeito à realidade social de cada aluno. A percepção das necessidades do sujeito e práticas escolares contribuirá para uma ação transformadora do indivíduo em cidadão crítico de si e do mundo que se apresenta. Sendo questionador, o sujeito será capaz de criar base de discussão sobre a TV de modo a se constituir em um cidadão crítico que não se restrinja a um mero consumidor passivo de produtos televisivos. 21 CAPÍTULO II ALFABETIZAÇÃO, CULTURA DA MÍDIA E AS APLICAÇÕES NA ÁREA EDUCACIONAL “...como se passa de um estado de menor conhecimento a um estado de maior conhecimento? Para responder a esta pergunta, em primeiro lugar é preciso procurar identificar os modos de organização relativamente estáveis que podem caracterizar os níveis sucessivos de conhecimento em um dado domínio; todavia, o problema central é compreender os processos de passagem de um modo de organização conceitual a outro, explicar a construção do conhecimento.” (FERREIRO, 2011, p. 9 – 10) Neste capítulo, nosso objetivo é relacionar TV as implicações da cultura do consumo e o uso das diferentes linguagens resultantes de produções midiáticas. 2.1 – Linguagem, Escrita e Alfabetização – Processos em Questão Na década de 1980, Emília Ferreiro e Ana Teberosky descreveram através dos resultados de uma pesquisa pioneira, a psicogênese da língua escrita, tendo como características sucessivas etapas cognitivas que contribuem na construção do conhecimento da leitura e da escrita, que mesmo aberta a uma interação com o meio social e a escola, também apresenta uma lógica individual. Nesse processo, a criança passará por etapas, nas quais poderá apresentar avanços ou não, já que o tempo de cada um dos sujeitos é variável no processo de aprendizagem, até se apropriar do código lingüístico. (Cf. LEITE & COLELLO, 2010, p. 23) 22 Sérgio Leite (2010) relata sobre pesquisa de Emília Ferreiro, na qual demonstra a construção do conhecimento na criança nasce de quatro hipóteses sucessivas: - A hipótese pré-silábica onde o sujeito ainda não consegue relacionar as letras com a língua oral; - A hipótese silábica onde a criança percebe inicialmente a relação entre a representação de escrita estabelecendo uma relação com o som das palavras, atribuindo o valor de sílaba a cada uma ainda a sua maneira; - A hipótese silábico-alfabética, onde a criança inicia o processo mental de compreensão das letras relacionando ao som, com a identificação de algumas sílabas; - A hipótese alfabética, na qual a criança percebe que a sílaba pode ser dividida em partes menores. Desta forma ela adquire o domínio das letras e das sílabas. O processo de produção do conhecimento ocorrerá de forma gradual no sujeito, conforme a teoria de Piaget, onde ele defende que todos nascemos com esquemas primitivos que nos garantem a sobrevivência. Esses esquemas podem ser alterados de acordo com os estímulos recebidos, até que haja a assimilação, que é o tempo de experimentação do sujeito. O tempo de assimilação dependerá do processo cognitivo de cada indivíduo. Ocorre então, uma reacomodação dos esquemas internos, para que o sujeito não só repita o que ouve, mas interprete o que recebeu como ensinamento. O tempo para o domínio lingüístico é variável de sujeito para sujeito, pois depende das informações recebidas no contexto social. De acordo com Ferreiro (2011), a construção do processo de leitura e escrita se dá em cada sujeito de forma individual, mesmo com a interação social ocorrendo dentro ou fora da escola. Então, a criança passará por etapas, até que se aproprie do código lingüístico e tenha o domínio, respeitando o tempo necessário para ultrapassá-las. 23 “O desenvolvimento ocorre sem dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais, assim como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças. Quando tentam compreender, elas necessariamente transformam o conteúdo recebido. Além do mais, a fim de registrarem a informação, elas a transformam. Este é o significado profundo da noção de assimilação que Piaget colocou no âmago da sua teoria.” (FERREIRO, 2011, p. 22 – 23) Partindo para um olhar sobre a alfabetização no Brasil, Leite & Colello (2010) tecem considerações à respeito dos desafios para ensinar crianças a ler e escrever a partir das novas linguagens do mundo contemporâneo, de questões políticas, sociais, econômicas e culturais. Para Colello (2010), o analfabetismo e o baixo letramento são problemas que nascem por falta de políticas públicas que promovam a melhoria da qualidade de vida dos sujeitos, nas quais se incluem questões econômicas, sociais e culturais, onde a valorização do ensino será um objeto de grande importância na busca de novos olhares sobre o processo de ensinoaprendizagem da leitura e da escrita e suas práticas pedagógicas. A autora afirma que o uso das tecnologias de comunicação de massa interfere no uso da escrita que tem diferentes modos de ser entendida. Ou a língua se apresenta como simples código, cujo entendimento se dá pelas letras e sons ou aparece com um vínculo muito próximo as práticas sociais. Nesse caso, usamos como exemplo o exercício da comunicação entre interlocutores, de contextos específicos, e funções bastante definidas, dando sentido à natureza lingüística, onde a aprendizagem ocorre de forma espontânea e motivada. (LEITE & COLLELLO, 2010, p.78 –79) 24 “(...) é claro que estar “alfabetizado para continuar no circuito escolar” não garante estar alfabetizado para a vida cidadã. As melhores pesquisas européias distinguem cuidadosamente parâmetros como: alfabetizado para a rua, alfabetizado para o jornal, alfabetizado para os livros informativos, alfabetizado para a literatura (clássica e contemporânea) etc. A essa lista temos de agregar agora: alfabetizado para o computador e para internet. Isso implica reconhecer que a alfabetização escolar, por um lado, e a alfabetização necessária para a vida cidadã, para o trabalho progressivamente automatizado e para o uso do tempo livre, por outro, são coisas independentes.” (FERREIRO, 2002, p. 17, apud COLELLO, 2010, p.79) Na perspectiva da escola tradicional, o ensino tem como prioridade tornar compreensível o código, onde utiliza fórmulas de aprendizagem, tornando o ensino da língua algo artificial. Esse método utiliza práticas de soletração e silabação com palavras que são escolhidas estrategicamente, como “papá”, “babá”, ou através de frases construídas com fins didáticos, sem relacionar a um contexto e criar um significado. De acordo com Colello (2010) essa prática de aprendizagem ocorre ainda nos dias de hoje nas escolas, e funciona como a estrutura de um ensino mecânico, artificial, que contribui para que o sujeito adie a aprendizagem em produzir seu próprio texto, contribuindo para aumentar a realidade do fracasso escolar em nosso país. De acordo com a autora, Paulo Freire foi o primeiro a tecer críticas a escola tradicional demonstrado na década de 1960. A essas práticas ele chamou de “educação bancária”, onde os professores depositavam seus conhecimentos nos alunos, ou os alunos os sacavam dos professores. Então ele inaugurou uma concepção de aprendizagem libertadora, cujo foco é na aprendizagem pela reflexão e a possibilidade de uma ação transformadora. Na década de 1980, o Brasil se vê obrigado a admitir a realidade do processo de exclusão que se configurava no país daqueles que supostamente aprenderam a ler e escrever de forma artificial, já que o baixo letramento e o analfabetismo eram entendidos no mundo moderno como um vilão. Como para 25 o mundo capitalista essa realidade era desinteressante, houve uma necessidade em lançar um novo olhar sobre o processo de alfabetização através da cultura, da economia e da política, como ocorreu em vários outros países. (LEITE & COLELLO, 2010) 2.2 - Alfabetização e Letramento – Algumas Considerações O surgimento do termo letramento traz um novo olhar para a compreensão de alfabetização, mas que não era um consenso entre os estudiosos. Colello (2010) apresenta conceitos de alguns teóricos sobre alfabetização e letramento. São eles: - Mary Kato, que utilizou o termo letramento pela primeira vez se referindo às metas cognitivas e sociais do trabalho escolar; - Tfouni, onde para ele “alfabetização” está relacionada à aquisição da escrita, por uma ou mais pessoas e “letramento” relacionado à questões sócio-históricas dessa aquisição em uma sociedade; - Kleiman, que ao apoiar os estudos de Scribner e Cole, destaca a influência social da escrita, diferente do olhar sobre a alfabetização no próprio sentido da palavra. Ele define letramento como o conjunto de práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico enquanto tecnologia em contextos específicos. E a alfabetização na prática escolar, é um dos referenciais mais valorizados. Magda Soares (2003, 1998) define alfabetização como um processo que se adquire o domínio do código e das habilidades em utilizá-lo e letramento o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, e entende essas ações como interdependentes e que não se dissociam uma da outra. Já Colello (2010) defende que os processo de alfabetização e letramento tem naturezas diferentes, pois se opõe na concepção de conhecer o código e a capacidade de utilizá-lo, pois esse processo de entendimento do 26 código e utilizá-lo dentro do contexto social, diferencia um sujeito do outro, garantindo um certo status ao indivíduo. A partir deste conceito, sinalizaremos algumas variações possíveis da relação entre alfabetização e letramento: “1) o alfabetizado letrado como aquele que conhece o sistema, e é capaz de usá-lo como competência; 2) o analfabeto pouco letrado, que se vê limitado em ambos os quesitos; 3) o analfabeto letrado, que embora incapaz de ler e escrever, tem razoável compreensão da língua escrita (por exemplo, reconhecendo a sua forma mais típica em oposição à oralidade ou ainda lidando com suas funções e suportes, como é o caso de um analfabeto que dita uma carta ou sabe em qual caderno do jornal vai encontrar as informações sobre esporte); 4) o alfabetizado pouco letrado, condição típica do sujeito que, mesmo conhecendo o código da escrita, mostra-se inábil no manejo de suas práticas.” (LEITE & COLELLO, 2010 p. 87 - 88) Ferreiro (2011) reage contra a distinção entre alfabetização e letramento e defende o conceito de “alfabetização” como um processo longo e complexo que não pode ser dividido. Longo porque cada vez mais deve estar alinhado aos propósitos sociais e a compreensão dos gêneros lingüísticos, onde as habilidades de leitura e escrita dependem dos processos cognitivos e criativos que se constroem de forma gradual e constante diante do sujeito. A criança convive com o cotidiano da leitura e da escrita desde cedo, muito antes da vivência escolar, e nesse cotidiano que ela se apropria do objeto dentro do contexto social vivente. A aprendizagem da escrita se torna complexa, por depender do processo cognitivo de cada sujeito, sendo uma ação individual com caminhos diversos a serem seguidos, pois o sujeito pode questionar, indagar, problematizar ou inquietar, já que são processos singulares. Também é indivisível, pois o momento de aprender e de utilizar a linguagem não pode ser separado do ensino. Para Colello (2010) quando se compreende a língua escrita como um objeto que se articula de um lado com o desenvolvimento lingüístico do sujeito 27 e as possibilidades de comunicação em determinado contexto sócio-cultural e do outro, a necessidade de reflexão sobre as formas de linguagem e a relação aos processos comunicativos, fica difícil determinar um período exato para se alfabetizar o sujeito. Dialogamos com a teoria de Vygotsky (2003), ao entender que o desenvolvimento humano se estabelece pelas relações sociais que o sujeito faz no decorrer da vida, entendendo que o processo de ensino-aprendizagem acontece em diferentes contextos sociais. Ao contrário de Piaget, Vygotsky defende que a idade da criança não é determinante para o discurso egocêntrico. Esse processo evolui no cruzamento do período pré-lingüístico do pensamento a um período pré-intelectual da fala, sendo fases distintas no desenvolvimento infantil. Então entendemos que a palavra nasce de um falar significativo, através de um sistema lingüístico, que se indicia através do arquivo de palavras que o sujeito possui, gerando significados. Como a criança tem a capacidade de organizar mentalmente a palavra, antes do falar, esse processo na construção da sonoridade interna do sujeito para que possa articulá-la. Nessa associação entre pensamento e palavra, a criança inicia um processo de organização sintática das palavras, ainda que artificial, e passa a obedecer uma gramática que não é a construída pelo sujeito individual, mas para a compreensão social. Desta forma, a criança organizou um esquema e o adaptou a um formato socializado de linguagem verbal que pode contemplar tanto a fala como a escrita. Em um texto escrito no papel, não se tem idéia que essa conquista é fruto de um longo processo onde o sujeito, ao externar determinado contexto motivador, o organiza mentalmente. Essa é a passagem do pensamento seguindo etapas sucessivas de discurso interno, significação das palavras e finalmente o registro ao redigi-las de forma convencional. Percebemos então que as idéias de Colello se aproximam da teoria de Vygotsky, onde a relação de pensamento/linguagem deve ser entendida como um processo de grande importância para a constituição do sujeito, pois no caso da criança, que é nosso objeto de estudo, a construção do discurso 28 nasce de diversos contextos sociais estabelecidos desde a sua pequena infância, onde a fala, a escrita e o pensamento se relacionariam aos significados estabelecidos pelo sistema lingüístico. (COLELLO, 2004, p. 60) Embora os debates da autora não sejam sobre a mídia, os temas que ela apresenta tem potencial de maior fôlego ao descrever a capacidade da criança organizar mentalmente as palavras e construir um sistema que leve ao processo de leitura e escrita. Nos parece que Colello abre essas possibilidades dentro do uso da mídia ao tecer críticas sobre como se constitui o processo de alfabetização infantil, cujo foco se mantém nas necessidades econômicas e sociais impostas pela produção de mercado, interferindo na construção da leitura e da escrita em geral dos menos favorecidos. Propomos em nossa pesquisa uma reflexão sobre o uso da mídia televisiva em sala de aula como prática escolar, com ações focadas para a compreensão do processo de leitura e escrita, utilizando as imagens como aliadas no processo de ensino-aprendizagem. Desta forma, as práticas escolares com foco na TV ajudarão a compreender a relação de pensamento/linguagem do sujeito, que ocorre de forma individual e onde cada um terá os eu tempo para a construção do sistema cognitivo. A partir de contextos sociais, propomos que na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, haja uma pauta, cujo foco seja trabalhar o objeto televisivo de forma interdisciplinar e não só em sala de aula, para levar a escolar a transformar o olhar sobre o que é TV e o que ela produz, saindo do olhar de produtora de consumo, e de informações muito superficiais e levar o aluno a ser o sujeito da ação transformadora sobre o que assiste ou deseja assistir. O indivíduo terá possibilidades de transformar sua leitura de mundo, através de novos contextos motivadores no processo de alfabetização. Um contexto motivador ajuda o sujeito a organizar-se mentalmente seguindo as etapas do discurso, que já tem significado, onde o aluno acompanhará o processo de leitura e aprendizagem construindo um olhar crítico do mundo que o cerca. 29 2.3 – As Múltiplas Linguagens da Mídia Televisiva Relacionar a mídia televisiva à educação não é um tema novo, mas lançar questões sobre a influência da linguagem televisiva no processo de ensino aprendizagem, se torna relevante para o desenvolvimento de nossa pesquisa. Fisher (2006) tece considerações sobre o que se torna visível pela TV, como se constrói a linguagem dos artefatos midiáticos no imaginário dos sujeitos e qual a importância dessa instância cultural para grande parte da sociedade. A autora discute a criação de produtos televisivos com poder de consumo, que por ser um meio de comunicação de massa oferece possibilidades que podem alterar modos de aprender e de ensinar geradas pelas mudanças culturais, econômicas e sociais ocorridas ao longo do tempo, contribuindo para a produção de novas tecnologias. Por ser a TV, o nosso objeto de pesquisa, remetemo-nos as mudanças sociais relacionadas a sua existência, em função da dinâmica que essa mídia traz para o cotidiano dos sujeitos. A evolução dos meios tecnológicos de produção, de circulação e de troca cultural teve início na Revolução Industrial, e se mantém em desenvolvimento até os dias de hoje. As novas tecnologias se interligam no mundo contemporâneo, sendo difícil dividir qual seria a de origem econômica e a de origem cultural. Percebemos então, que em nossos dias a significação das coisas ganha cada vez mais espaço onde a valorização da imagem e de cultiva-la por si, por um produto ou idéia, representa um modo de produção. Relacionamos a capacidade de uma imagem vender produtos, idéias e até intenções, ao que chamamos de publicidade. Fischer (2006: 27 – 29) nos leva a pensar nessa capacidade que a imagem tem de interferir no cotidiano do sujeito e suas dimensões. 30 “Quando acabamos por assumir um tal produto ou a repetir uma informação ou opinião (a partir de uma conversa rotineira da literatura de um livro ou de algo visto na TV), possivelmente de alguma forma fomos convencidos de algo, porque as imagens ou as coisas ditas, naquele lugar e através daqueles recursos de linguagem, fizeram sentido para nós, tocaram-nos em nossos desejos, sonhos, convicções políticas ou religiosas, faltas ou aspirações.” (FiSCHER, 2006 : 28 – 29) Para a autora, diferentes mídias em conjunto com a publicidade manipulam o processo de produção cultural e social. Ela defende a necessidade de uma espécie de revolução cultural, onde os olhares se lançarão o questionamento sobre a produção de informação, conhecimento, e a circulação política, econômica e financeira através de diferentes mídias. Ao expor esse novo olhar sobre a cultura da sociedade e as relações da mídia televisiva em sala de aula, a autora questiona a forma com que a sociedade moderna se constitui e como relacionar os conteúdos televisivos às práticas pedagógicas, trabalhados de forma séria e criativa, criando significados tanto para o professor como para o aluno, e eles façam uma leitura crítica sobre o que é produzido e veiculado. Dessa forma, se faz necessário que a escola abra espaço para debates sobre a forma de controle do que é produzido e veiculado na televisão e de como nós educadores direcionaremos nossas aulas e nosso currículos. Para Orofino (2005) a escola enquanto instituição que contribui no processo de socialização do aluno tem como concorrente a TV que está em grande parte das casas no Brasil. Por sermos um país em desenvolvimento, parte da população somente tem acesso à educação por meio televisivo. Então, Orofino (2005) lança a seguinte questão: “Mas o que fazem os telespectadores com os produtos das mídias?” A autora afirma que a Televisão trabalha com vários gêneros, que não tem necessariamente foco na linguagem televisual, mas a utilização de 31 propostas ligadas a herança cultural e com a identificação da população antes do advento TV na maioria dos lares. Percebemos então que a escola tem o papel de mediadora do conhecimento, onde a troca de saberes se intensifica em vários espaços da escola e entre pares, onde em suas conversas diárias, a criança dá continuidade ao seu papel de telespectador, interpretando e ressignificando os produtos midiáticos consumidos diariamente pelos sujeitos. Para trabalharmos o conceito de mediador escolar será necessário, enquanto educadores críticos, assumirmos a responsabilidade em intensificar nos diálogos produzidos pelos sujeitos oriundos de várias culturas com novas possibilidades em debatermos e ressignificarmos o que os alunos recebem da mídia diariamente. Dessa forma, ao ter como proposta variadas respostas,assumimos também o papel de produtores do conhecimento. Então os processos de mediação escolar iniciam a partir da mediação individual, que se efetiva nas trocas entre pares, dentro do espaço escolar onde todos os atores debatem sobre as produções midiáticas. (OROFINO, 2005: 65-66) Esse é um processo no qual um ambiente com várias culturas, onde a abordagem que cada sujeito traz de sua história pessoal para o ambiente escolar, pode contribuir na construção de novas linguagens, apresentadas por várias culturas ali presentes, além de trazer o debate sobre as mídias para o espaço escolar. Assim, buscamos conhecer o universo de cada aluno e a interação dos sujeitos com a cultura midiática. Traçando um olhar sobre a relação da tecnologia televisiva e a linguagem, a autora tece considerações a respeito da TV enquanto sistema tecnológico e suas transformações ao longo do tempo. O processo da televisão em difundir sua programação na produção de linguagens modificou, ao deixar de utilizar o sistema eletrônico/analógico, tecnologia dominante durante décadas e assumir o sistema digital que modifica a estrutura de produção e recepção de imagens audiovisuais, mas não 32 interfere na forma da população assistir TV, que ainda se assemelha as produções radiofônicas, mas com a imagem inserida. A autora sugere uma nova forma de produzir que atenda as novas linguagens, diferente da proposta dominante de determinados grupos econômicos que ainda tem o olhar para discursos conservadores. Por exemplo, no gênero narrativo como os ficcionais, ainda se usa o apelo melodramático para determinadas produções, onde muitas pessoas se vêem e se identificam com o discurso que atende propostas com um olhar que atenda a demanda do mercado, produzindo na maioria das vezes, alienador. Então a autora afirma; “a TV possibilita uma mediação do fato ocorrido em tempo real”. Desta forma devemos problematizar as ideologias e as relações de dominação, pois as produções televisivas ainda nos dias de hoje, lançam um olhar excludente, opressivo, onde os preconceitos de raça, etnia e religião predominarão ao serem propagadas de acordo com a proposta ou do olhar produzido pela mídia televisiva. (OROFINO, 2005, p. 93) São necessárias ações que contemplem a construção da identidade do sujeito. Então, se faz necessário relacionar a mídia televisiva e a construção das identidades individual e coletiva para construção da memória social. O processo é um grande desafio, pois será necessário para as escolas, lançarem novas perspectivas relacionadas as práticas escolares, onde será necessário problematizar a dicotomia que a mídia televisiva traz para a vida do sujeito. Com relação a forma com que as produções midiáticas invadem o universo infantil, Orofino (2005) sugere uma ação conjunta entre pais e professores na seleção de qual programação as crianças devam assistir. Com os filhos ainda bebês, os pais acabam por contribuir positiva ou negativamente no processo de produção de desejo e necessidade do sujeito, constituído o pensar da criança e a construção de sua linguagem. Entendemos então que quando a criança chegar a idade escolar, o professor terá como tarefa interpretar essa linguagem, trocar com aluno e contribuir na construção da identidade do sujeito, promovendo parcerias com os pais e a troca de conhecimento entre os pares. 33 Dessa forma, o professor lança um novo olhar sobre o aluno, onde na construção do senso crítico se constitui a leitura de mundo e o desenvolvimento do processo de cognição presente na criança dede suas primeiras relações com o meio em conjunto co as novas descobertas nas trocas ocorridas no espaço escolar, que não necessariamente ocorrerá dentro sala de aula. Mas, para que essas relações se estabeleçam, é necessário que a escola tenha como proposta, um Projeto Político Pedagógico que contemple a produção dos saberes dentro de um mundo globalizado, onde novas linguagens surgem dentro e fora do espaço escolar, sendo o cerne para problematizar o contexto local e o mundo que se lança a ele. Por isso a necessidade de uma ação conjunta desde as primeiras percepções de linguagem, pois, é desta forma que se constrói um sujeito crítico, criativo do mundo que o cerca, criando significados para o processo de leitura e escrita no processo de ensino-aprendizagem. 34 CAPÍTULO III METODOLOGIA DE PESQUISA Neste capítulo apresentamos a pesquisa, cuja metodologia se baseou tanto em questionários, conforme anexos 1 e 2, como análise documental fundamentando a pesquisa em metodologias diferenciadas. As questões propostas apresentam um olhar sobre o processo de alfabetização e letramento em parceria com a produção das mídias televisivas e a influência na formação da identidade social dos sujeitos confirmadas no documento, em formato de cartilha, do Portal da ANDI. 35 3.1 – Pesquisa Qualitativa Segundo Severino (2008: 124 -125)): “DOCUMENTAÇÃO É toda forma de registro e sistematização de dados, informações, colocando-os em condições de análise por parte do pesquisador. Pode ser tomada em três sentidos fundamentais: como técnica de coleta, de organização e conservação de documentos; como ciência que elabora critérios para a coleta, organização, sistematização, conservação, difusão dos documentos; no contexto da realização de uma pesquisa , é a técnica de identificação, levantamento, exploração de documentos fontes do objeto pesquisado e registro das informações retiradas nessas fontes e que serão utilizadas no desenvolvimento do trabalho”. “QUESTIONÁRIO Conjunto de questões sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, co vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo. As questões devem ser pertinentes ao objeto e claramente formuladas, de modo a serem compreendidas pelos sujeitos. As questões devem ser objetivas, de modo a suscitar respostas igualmente objetivas, evitando provocar dúvidas objetivas, evitando provocar dúvidas, ambigüidades e respostas lacônicas.” Percebemos então, que para conseguirmos um resultado satisfatório, é importante a busca por um processo investigativo crítico e coerente com a análise dos sujeitos aí pesquisados. Desta forma, a pesquisa qualitativa e a análise documental são fontes, cujo papel é de grande importância por estarem intimamente ligados ao objeto de estudo que é apresentar propostas de estudo que contemplem a relação mídia e escola a todos os sujeitos envolvidos no processo de alfabetização, como professor, aluno e a comunidade escolar. 36 3.2 – Abordagem da Pesquisa 3.2.1 – Análise da Pesquisa Qualitativa O processo tem como objetivo fundamentar da resposta a um questionário desenvolvido em dez perguntas, a análise das práticas pedagógicas em sala de aula com a inclusão ou não da mídia televisiva na alfabetização e seu desempenho em sala de aula com as possibilidades de intervenção na cultura e na linguagem dos sujeitos expostos a essa tecnologia e se são apropriados como programação e na educação infantil. 3.2.2 – Observações sobre o Questionário Aplicamos o questionário em duas professoras da Escola Municipal Ruy Barbosa, localizada no município de Nova Iguaçu, composto de dez perguntas, cujo foco é a análise da relação dos professores da Educação Infantil com suas propostas de alfabetização e letramento em parceria com a produção das mídias televisivas e a influência na formação da identidade social dos sujeitos. Obtivemos os seguintes resultados: a) Professora Maria Regina – Observamos que a docente não tem como hábito assistir programas televisivos por muitas horas, mas tem a preocupação sobre a influência da mídia de massa no cotidiano dos alunos e as implicações no processo de alfabetização.O olhar da criança sobre programações ou desenhos que reproduzem situações de violência ou destruição chamou a atenção da professora e através dessa observação ela consegue construir atividades em sala de aula que contemplem o conteúdo programático. 37 “Se respondeu sim a pergunta 3, qual programação em geral eles costumam assistir? Desenhos com super heróis que lutam, matam e destroem.”(professora Maria Regina) Com relação a as produções televisivas, o olhar da criança é global, portanto para a professora Maria Regina, trabalhar filmes e desenhos em sala de aula, conhecido por todos, pode trazer bons resultados no processo de ensino-aprendizagem. “Em sua opinião a TV influencia no processo de aprendizagem e de que forma? Quando é uma progrmação saudável, tipo a que vemos na TV Cultura, TVE, Futura é positivo, pois enriquece a vida, o cotidiano, a mente de cada aluno e do outro também”(professora Maria Regina) Na pergunta sete, onde perguntamos sobre se há ou não influência da TV no processo de aprendizagem, a professora sinalizou que se buscarmos programações cujo foco seja a criança, trabalhando o cotidiano e respeito a cultura, consegue-se desenvolver um trabalho positivo em parceria coma as práticas pedagógicas. “Se respondeu sim a pergunta 8, exemplifique duas ações dos alunos que demonstrem seus desejos de consumo através do conteúdo televisivo. Querer o Relógio do bem 10, o carro do “Mequisteil” o lápis, a mochila etc, etc, etc... e a Barbie.”(professora Maria Regina) Com relação aos desejos de consumo das crianças relacionados aos conteúdos televisivos, Maria Regina demonstra preocupação sobre a veiculação de programações disponíveis as crianças e aos apelos que a mídia traz para acesso a determinado produto ou serviço e de que forma pode ser positivo ou não nas práticas de aprendizagem. 38 b) Professora Cristina – As Observações da professora Cristina diferem em vários pontos da professora Maria Regina. No primeiro ponto a educadora tem por hábito assistir mais hora de TV, mas também percebe a influência da mídia de massa no cotidiano dos alunos através de sua linguagem. “Se respondeu sim a pergunta 3, qual programação em geral eles costumam assistir? Desenhos”(Professora Cristina) A professora Cristina percebe que a programação assistida pelos alunos é desenho, mas sem especificar gênero, conforme a professora Maria Regina o fez. “Se respondeu sim a pergunta 5, você desenvolve que tipo de atividades com os alunos relacionando aos conteúdos televisivos? Não.”(Professora Cristina) A docente não costuma desenvolver atividades com os alunos que tenham relação com os conteúdos televisivos, mas percebe que o comportamento da criança em sala de aula sofre influência das produções televisivas, em função do processo de globalização do conteúdo midiático, interfere na construção da cultura do sujeito. 39 “Os alunos demonstram seus desejos de consumo relacionando aos conteúdos televisivos? ( ) Sim (X) Não”(professora Cristina) “Na sua opinião há a necessidade de relacionar os conteúdos televisivos às práticas de aprendizagem? Por quê? Sim. Porque a partir dos assunto que os alunos assistem podem relaciona-los ao conteúdo a ser estudado.”(professora Cristina) Ao mesmo tempo em que a educadora diz as crianças não demonstram seus desejos de consumo através do conteúdo televisivo, ela lança uma reflexão sobre a possibilidade em relacionar as práticas em sala de aula, pois considera que a partir da TV poderá trabalhar conteúdos pedagógicos com as crianças. Lançamos então duas questões: 1ª) De que forma as programações influenciam ou podem influenciar no comportamento do sujeito e suas relações com o mundo globalizado? 2ª) Será que a escola tem um Projeto Político Pedagógico (PPP) cujo foco seja o desenvolvimento de um trabalho em conjunto, no qual a mídia televisiva tenha um papel importante na construção das práticas pedagógicas a serem utilizadas em sala de aula ? “As crianças de hoje são, antes de tudo subjetividades forjadas em uma cultura regida pelos apelos do mercado(...). Hoje podemos observar também nas escolas a circulação de crianças e jovens ostentando os ícones de sua inserção neste supermercado global em que tudo está se transformando em mercadoria. A posse de tais mercadorias(imagens, símbolos, condutas, objetos,..., com grande visibilidade e atualidade na mídia, produz um sentimento de pertencer que converte em membro de uma comunidade de significados compartilhados de uma cultura comum altamente desejável.”(COSTA(org.), 2009, p.66) 40 Partimos então para um olhar no qual a criança tenha acesso ao consumo de linguagens, imagens, símbolos e condutas que produzam significados relacionados a as vivências na infância produzidas para e por elas, a partir de seus desejos compartilhados entre pares surgidas de questões do próprio universo infantil. 3.2.3 – A Análise Documental A análise documental contribui para a identificação das questões possibilitando fundamentar a pesquisa através de documentação, fazendo uma abordagem qualitativa. “É através dos documentos que lançamos uma olhar crítico para que o uso da mídia televisiva avance para a produção criativa do espaço da escola, na busca de respostas sociais aos meios de comunicação de massa na busca de construção de visibilidade e respeito as culturas locais e da cidadania.”(OROFINO, 2005, p.117) Então, percebemos a necessidade em utilizar também a observação como um dos métodos de objeto de estudo nos proporcionando a investigação. Utilizamos como documento uma cartilha formulada pela ANDI(Agência de Notícias dos Direitos da Infância) e a Rede ANDI Brasil, nascida da promoção de debates em torno das prioridades para o Brasil sobre o tema mídia e infância e a produção de uma mídia que promova ampla reflexão sobre o desenvolvimento de crianças e adolescentes de forma integral.O foco é a criação de uma instância reguladora que tenha relação da mídia e a infância, podendo ter vínculo com um órgão ligado a área de comunicações de forma independente e que abranja o país, onde a sociedade civil, academia, governo e empresas que se destinam e proteção dos direitos das crianças em busca da implementação de políticas públicas com foco na produção de uma mídia de qualidade . 41 A ANDI e a Rede ANDI tiveram o apoio da CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) para a produção da cartilha. “A televisão e a internet, dentre outros, são meios de comunicação incorporados à vida milhões de meninos e meninas no Brasil e em muitas partes do planeta. Vários estudos demonstram que crianças e adolescentes passam boa parte de seu tempo assistindo programas (nem sempre de boa qualidade ou adequados à sua faixa etária), conversando em salas de bate-papo na internet, visitando as mais diversas páginas ou baixando música ou filmes da rede – muitas vezes, sem o acompanhamento de pais ou responsáveis.”(Portal ANDIl) Os debates sobre o tema, vem ao encontro com nosso objeto de pesquisa, pois este documento trata da necessidade de compartilhar o que as crianças costumam assistir pela TV e a qualidade da programação oferecida. Face ao exposto, a cartilha aprofunda o debate sobre o direito da criança e do adolescente e nós, ressaltamos pontos cujo foco é a criança por ser nosso objeto de estudo. “No Brasil, várias organizações não governamentais, universidades, empresas jornalísticas e de comunicação, além de diversos níveis de governo, desenvolvem ações de educação para mídia. Um passo importante para a difusão destas estratégias, contudo, é o estabelecimento de uma política integrada nacionalmente, que coloque este tipo de conteúdo como parte dos parâmetros curriculares nacionais e dos sistemas públicos de educação básica. Para tanto, não basta a inclusão de linhas detrabalho ou disciplinas, mas também é preciso um amplo processo de capacitação e investimento em nfraestrutura.”(Portal ANDI) 42 O primeiro ponto da cartilha que ressaltamos é sobre “Educação para a Mídia” cujo foco é a criação de uma proposta pedagógica capaz de levar o indivíduo a ser capaz de avaliar de forma crítica os conteúdos produzidos pela mídia promovendo uma ação transformadora no sujeito. As propostas para esse tema vão desde a criação de disciplinas com foco no conteúdo midiático destinados ao Ensino Fundamental e Médio, onde o olhar crítico sobre o jornalismo e a publicidade seja incorporado desde a infância; e a implantação de um programa nacional de formação de professores direcionado a educação para a mídia. Desta forma, o professor se qualificará para utilizar as ferramentas pedagógicas adequado-as as práticas de aprendizagem utilizadas dentro e fora de sala de aula. Em conjunto a essas ações, será necessário que as escolas públicas estejam equipadas e ofereçam uma disciplina com foco para a mídia, como laboratório, equipamentos e acesso as mídias. Lembramos que por ser nosso objeto de pesquisa a mídia televisivas escolas onde as turmas de Educação Infantil teriam salas disponíveis para práticas diárias de aprendizagem. O documento também incentiva a utilização de projetos com foco no marketing para a educação e a cidadania promovendo parceria com escolas integrando propostas e desenvolvimento de atividades com a educação formal. 43 “No Brasil, por exemplo, o amplo debate em torno da política de Classificação Indicativa para a tevê aberta indicou alguns parâmetros quanto aos conteúdos recomendáveis. São eles: comportamentos cooperativos e/ou solidários que denotam responsabilidade, valorizam a honestidade, o respeito e a capacidade de resolução de conflitos. Também são considerados benéficos os conteúdos que valorizam as habilidades cognitivas, o conhecimento, os cuidados com o corpo, as habilidades manuais, o respeito à diversidade, o incentivo à cultura de paz, as habilidades sociais e emocionais, os direitos humanos e que trazem opiniões/ informações divergentes e plurais.”(Portal ANDI) O segundo ponto que trabalhamos relativo à cartilha também de interesse a nossa pesquisa é “O Estímulo à Produção de Conteúdo de Qualidade”. O termo qualidade na mídia ainda é visto pela mídia televisiva numa perspectiva que depende de qual observador ela deseja atingir e assim definirá os padrões de qualidade para determinado grupo ou região, sem respeito à diversidade de um povo, os direitos humanos e quais são os seus reais desejos da população. Desta forma, a cartilha lança como proposta para esse tema a produção de programação infantil, além de contribuir no incentivo às produções independentes que tenham como tema a diversidade no âmbito regional, étnico, de gênero e de pessoas com deficiência, envolvendo crianças na elaboração do conteúdo. Além desse ponto, a cartilha propõe estabelecer uma taxa na aquisição por parte das mídias brasileiras de produtos audiovisuais estrangeiros, onde parte desses recursos servirá para custear a produção de programas regionais e locais de animação e entretenimento cujo foco são crianças e adolescentes. 44 “A pesquisa Produção Regional na TV Aberta Brasileira, realizada em 2009 pelo Observatório do Direito à Comunicação, a partir da análise de 58 emissoras em 11 capitais das cinco regiões brasileiras, chegou a um dado preocupante: apenas 10,83% do tempo veiculado é ocupado com conteúdos de origem local.” (Portal ANDI) O terceiro ponto que trabalhamos tem relação com o segundo, pois trata da “Programação Regional e Nacional”. Por vivermos num país de diversidades culturais, sociais e de etnias, a televisão, a TV por ser um dos veículos de comunicação deveria seguir os princípios de “promoção da cultura nacional e regional”. Como ainda não temos uma regulamentação que leve em consideração as diferentes culturas se faz necessário que a escola crie um estímulo que contribua na promoção da troca de olhares entre pares para interagirem entre si e se reconhecendo em sociedade.As produções nacionais são importantes para que crianças e adolescentes tenham um olhar global do mundo que o cerca e se reconheçam de forma heterogênea. Uma proposta na cartilha para este tema é de haja a implementação de políticas públicas aprovadas através de legislação que tanto emissoras de canal aberto como canais de TV por assinatura tenham como determinação um percentual mínimo para veicular desenho animado e outros programas destinados ao público infantil, nosso objeto de estudo, produzidos no Brasil. Outra proposta citada na cartilha, é no sentido de regulamentar o Artigo 221 existente na Constituição Federal, que garanta a o percentual mínimo de exibição de programas regionais e locais, estabelecendo cotas de exibição para o público infantil. 45 “A participação de crianças e adolescentes nos diversos aspectos da vida em sociedade não só é desejável, mas é um direito garantido pela Convenção dos Direitos da Criança da ONU. Envolvê-los no processo produtivo dos conteúdos midiáticos se constitui como um importante instrumento para estimular uma leitura crítica dos meios de comunicação e estimular uma participação cidadã – o que não se confunde, como veremos a seguir, com trabalho infantil nos meios de comunicação.” (Portal ANDI) O quarto e último ponto que trabalhamos aprofunda a discussão sobre “Crianças e Adolescentes Participando da Produção de Conteúdos”. Com esse tema, a cartilha traz à tona a necessidade em compartilhar com crianças e adolescentes o processo de produção dos conteúdos de mídia, que no caso de nossa pesquisa privilegiamos a TV, por ser nosso objeto de estudo e o conteúdo relatado tem como tema o desenvolvimento de diversos projetos no país produzidos por organizações da sociedade civil e universidades. Na verdade o que se percebe é que as organizações têm em sua maioria projetos, mas com poucas ações efetivas ligadas ao tema mídia e educação re que se construa práticas de aprendizagem oriundas de políticas públicas que incentivem a produção de conteúdos coma a participação de crianças e adolescentes, já que a proposta é a busca de programas de qualidade direcionados a esse público. A proposta desse tema é a criação de centros públicos de produção de mídia vinculados a escolas e universidades. Os quatro temas reforçam que a cultura veicula seus conteúdos sem a preocupação com a interferência no olhar da criança sobre o que é veiculado, tendo acesso ao consumo de linguagens, imagens, símbolos e condutas e sem respeito à diversidade cultural e aos direitos humanos exercendo seu poder sobre o público muitas vezes sem escrúpulo algum. 46 O canais de TV aberta, em sua maioria, não tem uma programação que satisfaça os padrões que possa promover uma parceria com as escolas. Com o surgimento das novas tecnologias muitas crianças tem excesso de informação, mas pouca relação com a leitura e a escrita, principalmente com foco no universo infantil. A escola não é só um importante instrumento no processo de alfabetização infantil, mas também por ser um local que tem como proposta promover ações transformadoras no sujeito. Desta forma se faz necessário políticas públicas e delas nasçam PPPs que relacionem a importância da construção do universo infantil em parcerias com produções televisivas que avancem para a construção do cognitivo. Nessa perspectiva, a implementação de políticas públicas reforça as práticas em sala de aula que implementem propostas com foco na mídia e educação. Sendo nosso objeto de pesquisa a Educação Infantil, devemos lembrar que não existem propostas de mudanças na área educacional sem que haja respeito aos direitos básicos das crianças, sem a diversidade e a liberdade de expressão desde sua tenra infância e não a pressão imposta por grandes grupos econômicos com relação ao que devemos assistir. O poder de transformar nasce da possibilidade de troca de conhecimento entre pares e assim ampliar o olhar sobre o mundo multiplicando o conhecimento. Essa é a construção do verdadeiro ser social. Anísio Teixeira(2006) em seus estudos produzidos entre 1953 e 1964 surpreende com a atualidade de seus escritos frente as questões educacionais de nossos dias. O texto “Mestres do amanhã” vai ao encontro de nosso objeto de pesquisa ao trabalhar o tema sobre a utilização dos meios de comunicação de massa e as conseqüências na área educacional. O autor demonstra através de sues estudos que os meios de comunicação à época com a imprensa, rádio e televisão tornaram a relação do homem com o meio vivente mais impessoal, já que as mídias de massa possibilitavam o conhecimento de novos espaços, com novos significados sobre o mundo que se apresentava. 47 Anísio Teixeira (2006) lança questões sobre qual será a formação do novo docente, que deverá se preparar para lidar com um universo midiático fazendo contraponto com a formação tradicional, concebida para a leitura da história humana através da cultura escrita. Para o autor o professor então que era o responsável pela transmissão da cultura do conhecimento, ao ampliar o uso dos meios de comunicação, perde o poder enquanto transmissor do conhecimento e passa a ser aquele que “contribuirá na formação do aluno”. Na percepção de Anísio Teixeira(2006), o processo de formação do professor afeta mais a educação básica, pois os professores tem uma preparação com foco numa cultura mais simples. Já nas universidades a formação manteve um certo controle sobre a cultura e as questões filosóficas apresentadas pelos professores aos estudantes. A escrita de Anísio Teixeira(2006) após 50 anos mantém o vigor contemporâneo ao lançar o olhar sobre a cultura , com a análise sobre as complexidades humanas como os recursos da TV tecendo considerações sobre a condução das práticas de aprendizagem em sala de aula. Ele assim relata: “Os meios modernos de comunicação fizeram do nosso planeta um pequenino planeta e dos seus habitantes vizinhos uns dos outros. Por outro lado, as forças do desenvolvimento também nos aproximaram e criaram problemas comuns para o homem contemporâneo: Se a isso juntarmos a explosão e as mudanças que os novos conhecimentos, com suas conseqüências tecnológicas, estão a trazer, podemos imaginar até que ponto as forças do costume, dos hábitos e das velas crenças e preconceitos vão ser destruídas e quanto vai o homem depender de sua cultura formal e consciente de seu conhecimento intelectual, simbólico e indireto, para se conduzir dentro da nova e desmesurada amplitude de sua vida pessoal.”(TEIXEIRA, 2006, p. 193) Então, o maior então desafio continua sendo implantar o pensamento científico nas escolas, e preparar os alunos ao entendimento da complexidade humana. 48 E para atingir uma educação de qualidade, se faz necessário contribuir numa conduta onde o sujeito, através das relações coma mídia, seja capaz de questionar e construir a identidade social e cultural onde a TV pode ser uma grande impulsionadora na Educação Infantil em parceria com políticas públicas que constituam uma educação de qualidade para todos. Desta forma procuramos problematizar a TV como suporte tecnológico como produtor de linguagem no processo de aprendizagem. Propomos a discussão sobre qual linguagem e de que forma podemos transformá-la em práticas pedagógicas utilizando o poder da produção audiovisual nos sujeitos. 49 CONCLUSÃO Em nossa pesquisa, buscamos conhecer o universo dos alunos e a interação dos sujeitos com a cultura midiática. Procuramos problematizar as ideologias e as relações de dominação, pois ao longo do tempo as mídias televisivas produzem um olhar excludente e opressivo, onde os preconceitos de raça, etnia, religião e de cultura predominam. Ao observar o comportamento das crianças diante das mídias no mundo contemporâneo, nos propomos a pesquisar sobre os desafios que as escolas cada vez mais encontram em alfabetizar e quais são os pressupostos de aprendizagem relacionando mídia televisiva e escola, por ser a TV uma grande constituidora de identidades infantis. São necessárias ações que contemplem a construção da identidade do sujeito e se faz necessário relacionar a mídia televisiva e a construção das identidades individual e coletiva para construção da memória social. A criança convive com o cotidiano da leitura e da escrita desde cedo, muito antes da vivência escolar, e nesse cotidiano que ela se apropria do objeto dentro do contexto social vivente. A aprendizagem da escrita se torna complexa, por depender do processo cognitivo de cada sujeito, sendo uma ação individual com caminhos diversos a serem seguidos, pois o sujeito pode questionar, indagar, problematizar ou inquietar, já que são processos singulares. A partir de contextos sociais, propomos que na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, haja uma pauta, cujo foco seja trabalhar o objeto televisivo de forma interdisciplinar e não só em sala de aula, para levar a escolar a transformar o olhar sobre o que é TV e o que ela produz, saindo do olhar de produtora de consumo, e de informações muito superficiais e levar o aluno a ser o sujeito da ação transformadora sobre o que assiste ou deseja assistir. 50 Entendemos então que quando a criança chegar à idade escolar, o professor terá como tarefa interpretar essa linguagem, trocar com aluno e contribuir na construção da identidade do sujeito, promovendo parcerias com os pais e a troca de conhecimento entre os pares. Dessa forma, o professor lança um novo olhar sobre o aluno, sobre a construção do senso crítico, para assim se constituir a leitura de mundo e o desenvolvimento do processo de cognição presente na criança dede suas primeiras relações com o meio em conjunto co as novas descobertas que se apresentam no desenvolvimento infantil. O indivíduo terá possibilidades de transformar sua leitura de mundo, através de novos contextos motivadores no processo de alfabetização. Um contexto motivador ajuda o sujeito a organizar-se mentalmente seguindo as etapas do discurso, que já tem significado, onde o aluno acompanhará o processo de leitura e aprendizagem no qual o lúdico contribuirá na construção do olhar crítico do mundo que o cerca. 51 ANEXOS Índice de Anexos Anexo 1 >> Questionário respondido pela professora Cristina; Anexo 2 >> Questionário respondido pela professora Maria Regina. 52 ANEXO 1 53 54 ANEXO 2 55 56 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BRIGGS, Asa & BURKE, Peter, Uma história social da mídia – de Gutemberg à Internet, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. CAMBI, Franco, História da Pedagogia, São Paulo: Fundação Editora UNESP, 1999. COSTA, Marisa Vorraber, A educação na cultura da mídia e do consumo, Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. COLELLO, Silvia Mattos Gasparian, Alfabetização em questão, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004. FERREIRO, Emília, Alfabetização em processo, São Paulo: Cortez, 2011. FISCHER, Rosa Maria Bueno, Televisão & Educação: fruir e pensar a TV, Belo Horizonte: Autêntica, 2006. GIDDENS, Anthony, Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005. GUIMARÃES, Gláucia, TV e escola: discursos em confronto, São Paulo: Cortez, 2001. LEITE, Sérgio Antônio da Silva & COLELLO, Silvia M. Gasparian, Alfabetização e letramento: pontos e contrapontos, São Paulo: Summus, 2010. MELO, José Marques de & TOSTA, Sandra Pereira, Mídia & Educação, Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. 57 MOROZ, Melania & GIAFALDONI, Monia HelenaTieppo Alves, O processo de pesquisa: iniciação, Brasília: Plano Editora, 2002. OROFINO, Maria Isabel, Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, participação e visibilidade, São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2005. SEVERINO, Antônio Joaquim, Metodologia do trabalho científico, São Paulo: Cortez, 2007. TEIXEIRA, Anísio Spínola, Educação e o mundo moderno, Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006. www.andi.org.br acessado em 31/01/2012. 58 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 8 INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I REFLEXÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA CULTURA DA MÍDIA TELEVISIVA NA ALFABETIZAÇÃO INFANTIL 11 1.1 - Breve História da Comunicação 11 1.2 - Breve História da Educação 13 1.3 - Alguns Teóricos da Mídia do Século XX 15 1.4 - Novos Olhares sobre o Processo de Leitura e Escrita 17 CAPÍTULO II ALFABETIZAÇÃO, CULTURA DA MÍDIA E AS APLICAÇÕES NA ÁREA EDUCACIONAL 21 2.1 - Linguagem, Escrita e Alfabetização – Processos em Questão 21 2.2 - Alfabetização e Letramento - Algumas Considerações 25 2.3 - As Múltiplas Linguagens da Mídia Televisiva 29 CAPÍTULO III METODOLOGIA DA PESQUISA 34 3.1 - Pesquisa Qualitativa 35 59 3.2 - Abordagem da Pesquisa 36 3.2.1 – Análise da Pesquisa Qualitativa 36 3.2.2 – Observações sobre o Questionário 36 3.2.3 – A Análise Documental 40 CONCLUSÃO 49 ANEXOS 51 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 56 ÍNDICE 58