0 FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Matemática BRUNA GARCIA MONTEIRO O USO DE MATERIAL CONCRETO PARA MELHOR VISUALIZAÇÃO DOS SÓLIDOS GEOMÉTRICOS Pará de Minas 2013 1 BRUNA GARCIA MONTEIRO O USO DE MATERIAL CONCRETO PARA MELHOR VISUALIZAÇÃO DOS SÓLIDOS GEOMÉTRICOS Monografia apresentada à Coordenação de Matemática da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Matemática. Orientador: Prof. Msc. Anderson Baptista Leite. Pará de Minas 2013 2 BRUNA GARCIA MONTEIRO O USO DE MATERIAL CONCRETO PARA MELHOR VISUALIZAÇÃO DOS SÓLIDOS GEOMÉTRICOS Monografia apresentada à Coordenação de Matemática da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Matemática. Aprovada em ______/______/_______ _____________________________________________ Orientador: Msc. Anderson Baptista Leite _____________________________________________ Examinadora: Andréia Fonseca Aguiar 3 Dedico este trabalho aos meus pais pelo esforço e amor incondicional, sempre me fazendo acreditar em meus sonhos; aos meus irmãos e a meu namorado pelo apoio; a todos os meus amigos pelo companheirismo e a todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para sua conclusão. 4 AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus por me dar forças para seguir em frente. Agradeço também aos meus pais pelo incentivo e por “correrem” comigo durante todo o curso, me apoiando e acreditando nos meus sonhos, fazendo o possível para realização de cada um deles. Aos meus irmãos e ao meu namorado pelo apoio e compreensão nas horas de estresse. Ao meu orientador Anderson Baptista Leite pelo incentivo e grande ajuda na realização deste trabalho. Agradeço a minha grande amiga Jeane que por muitas vezes me orientou, obrigada pelas suas dicas tão valiosas. Também aos meus colegas de classe pelo auxílio e amizade durante todo o curso, e a todos os professores pelos conselhos. Por fim, agradeço a todos meus familiares, amigos e àqueles que direta ou indiretamente me ajudaram durante a realização deste trabalho. 5 RESUMO Diante da defasagem ocorrida no ensino da geometria e consequentemente a dificuldade apresentada pelos alunos em aprender esta disciplina e passar do mundo bidimensional para o tridimensional, desenvolveu-se esta pesquisa com o objetivo de verificar se o uso de material concreto ajudaria os alunos no processo de uma melhor visualização dos sólidos geométricos. Conseguir visualizar uma figura tridimensional sem poder tocá-la dificulta a aprendizagem dos alunos, pois é através da visualização da figura pela lateral e por cima para identificar suas faces, vértices e arestas que os conceitos da geometria espacial são adquiridos. Para que os alunos consigam passar para a abstração e, além disso, ter uma aula mais dinâmica e divertida, aplicou-se uma atividade, na qual os próprios alunos construíram seu material e através dele identificaram suas propriedades. Com isso, os alunos puderam associar os sólidos geométricos a objetos de seu dia a dia e possibilitou a eles assimilarem que a geometria está presente em tudo à nossa volta. Para este trabalho, desenvolveu-se inicialmente uma pesquisa bibliográfica, contando um pouco da história da geometria. Utilizou-se também da pesquisa qualitativa com a realização de uma atividade com material concreto e aplicação de um questionário. Com a análise dos questionários e a observação feita durante a realização da atividade, construiu-se gráficos para verificar se o uso do material concreto favoreceu os alunos no processo de uma melhor visualização dos sólidos geométricos, possibilitando a eles uma melhor aprendizagem referente à geometria espacial. Com isso, verificou-se que além de ajudá-los neste processo de visualização, a aula prática tornou-se uma maneira prazerosa de se aprender e ensinar, pois os alunos aprendem brincando, se sentem mais motivados, buscando o conhecimento e consequentemente, o professor se sente entusiasmado ao ver que os alunos estão realmente aprendendo a disciplina. Palavras chave: Sólidos geométricos. Material concreto. Aluno. Visualização. Geometria espacial. 6 LISTA DE ABREVIATURAS a.C. – Antes de Cristo CBC – Currículo Básico Comum EJA – Educação de Jovens e Adultos FAPAM – Faculdade de Pará de Minas PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais 7 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Alguns objetos comparados aos sólidos................................................ 47 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – As sete pontes de Königsberg .................................................................18 Figura 2 – Grafo representado por Euler ...................................................................18 Figura 3 – Plano cartesiano .......................................................................................19 Figura 4 – Representação do Teorema de Tales ......................................................21 Figura 5 – Ângulo inscrito no semicírculo é reto .......................................................21 Figura 6 – Teorema de Pitágoras ..............................................................................22 Figura 7 – Reta, semirreta e segmento de reta .........................................................27 Figura 8 – Planos ......................................................................................................28 Figura 9 – Figuras planas ..........................................................................................28 Figura 10 – Figuras espaciais ...................................................................................29 Figura 11 – Infinitas retas ..........................................................................................29 Figura 12 – Dois pontos e uma única reta .................................................................30 Figura 13 – Três pontos determinam um plano .........................................................30 Figura 14 – Reta no plano .........................................................................................30 Figura 15 – Pontos dentro e fora do plano ................................................................31 Figura 16 – Interseção de dois planos ......................................................................31 Figura 17 – Retas concorrentes ................................................................................32 Figura 18 – Retas paralelas ......................................................................................32 Figura 19 – Retas reversas .......................................................................................32 Figura 20 – Retas coincidentes .................................................................................32 Figura 21 – Planos coincidentes ...............................................................................32 Figura 22 – Planos paralelos .....................................................................................32 Figura 23 – Planos secantes .....................................................................................33 Figura 24 – Elementos de um poliedro ......................................................................36 Figura 25 – Prisma triangular oblíquo e reto .............................................................36 Figura 26 – Prismas quadrangulares ........................................................................37 Figura 27 – Prisma pentagonal oblíquo e reto ..........................................................37 Figura 28 – O cubo e suas planificações ..................................................................38 Figura 29 – Pirâmides ...............................................................................................39 Figura 30 – Esfera .....................................................................................................40 Figura 31 – Cilindro oblíquo e cilindro reto ................................................................41 Figura 32 – Cones......................................................................................................42 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Foto 1 – Recortando as planificações........................................................................53 Foto 2 – Sólidos montados.........................................................................................54 Gráfico 1 – Dificuldade em aprender geometria.........................................................55 Foto 3 – Brincando com o material.............................................................................56 Gráfico 2 - Benefício da utilização do material concreto............................................57 Gráfico 3 - Benefício da aula prática para geometria espacial...................................58 Gráfico 4 - Comparando os sólidos com materiais do dia a dia.................................58 Gráfico 5 - Objetos do cotidiano e a visualização dos sólidos...................................59 Gráfico 6 - Chegando ao sólido imaginado................................................................59 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 2 GEOMETRIA.......................................................................................................... 15 2.1 A história da geometria..................................................................................... 15 2.2 Alguns grandes geômetras .............................................................................. 20 2.2.1 Tales de Mileto ................................................................................................. 20 2.2.2 Pitágoras de Samos ......................................................................................... 22 2.2.3 Euclides de Alexandria ..................................................................................... 23 2.3 O ensino da geometria no Brasil ..................................................................... 24 2.4 Geometria espacial de posição ........................................................................ 27 2.5 Geometria espacial ........................................................................................... 33 2.5.1 Alguns sólidos geométricos .............................................................................. 35 2.5.1.1 Prismas ......................................................................................................... 35 2.5.1.2 Cubo .............................................................................................................. 37 2.5.1.3 Pirâmides ...................................................................................................... 38 2.5.1.4 Esfera ............................................................................................................ 40 2.5.1.5 Cilindro .......................................................................................................... 40 2.5.1.6 Cone .............................................................................................................. 41 3 MATERIAIS CONCRETOS UTILIZADOS NO ENSINO DA GEOMETRIA............ 44 3.1 A importância da utilização de materiais concretos ...................................... 44 3.2 Alguns materiais utilizados para a melhor visualização dos sólidos geométrico ............................................................................................................... 46 3.3 Planificação e construção de sólidos através de dobraduras ...................... 49 3.4 Desenvolvendo a atividade com material concreto ....................................... 50 4 METODOLOGIA .................................................................................................... 51 5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ...................................................................... 53 CONSIDERAÇOES FINAIS ...................................................................................... 61 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 62 ANEXOS ................................................................................................................... 65 11 1 INTRODUÇÃO A história nos mostra que a matemática tem sua origem na antiga civilização grega, enquanto a geometria veio do Egito, surgida da necessidade que esses povos tiveram de medir as terras. Através de papiros deixados por estas e muitas outras civilizações, é que a geometria pôde ser estudada e transformada. Durante a Idade das Trevas (500d.C. – 1000d.C.), período de ausência de progresso, a geometria foi esquecida e só voltou a ser estudada na Idade Média (1000d.C. – 1500d.C.) com o período do Renascimento. A partir de então, começa sua evolução. Descobriram fórmulas para o cálculo de volume e área, desenvolveram o cálculo integral e diferencial, verificaram que muitos sólidos, ao serem observados de diferentes ângulos, podem demonstrar diferentes figuras, e muitas outras descobertas foram feitas. Mas, mesmo com toda a evolução ocorrida, a geometria era considerada muito complexa, e era ensinada somente à elite. Esta situação só muda com o chamado Movimento da Matemática Moderna, quando lançaram propostas para reformular o ensino de matemática. Mesmo com novas propostas de ensino, alguns professores, principalmente aqueles que não gostam ou não aprenderam, se negam a ensinar a geometria e isso reflete negativamente na construção do conhecimento matemático da maioria dos alunos. Esta situação pode ser vista até hoje em muitas escolas, principalmente no ensino da geometria espacial, acrescida ainda da dificuldade que os alunos têm em visualizar as figuras. Segundo Almouloud, Marinque e Silva (2004a), os professores indicam a geometria como item importante, mas quando selecionam as matérias a serem trabalhadas no decorrer do ano letivo, sempre a deixam para o final, e muitas vezes ela não é ensinada por falta de tempo. A dificuldade em visualizar as figuras geométricas leva o aluno a se sentir desmotivado. Buscar novos métodos para atrair a atenção do aluno é de grande importância dentro das salas de aula. Construir sólidos geométricos com materiais concretos atrai a atenção dos alunos, desenvolve o raciocínio, leva o aluno a ser criativo e devolve a ele a motivação. Durante as observações feitas nas salas de aula das escolas colaboradoras, no estágio supervisionado, durante o 7º período do curso de Matemática da 12 Faculdade de Pará de Minas (FAPAM), no ano de 2012, nas poucas aulas de geometria que houve, foi possível observar a grande dificuldade dos alunos em aprender esta disciplina, principalmente em visualizar os sólidos geométricos sem ter contato com eles. Esta situação despertou o interesse pelo assunto. Assim, busca-se verificar com este trabalho, como o uso do material concreto poderá ajudar a mudar este quadro, fazendo com que os alunos compreendam melhor a geometria e consigam visualizar os sólidos geométricos. Para que ele resolva o problema proposto é preciso que ele consiga visualizar a figura e suas características principais e conceituais em questão. Além disso, o aluno aprenderá de uma forma diferente, com uma aula mais interativa, despertando seu interesse. Podemos até fazer com que o próprio aluno construa seu material, e assim ele vai descobrindo suas regularidades e propriedades. O aprendizado se torna mais prazeroso, fazendo com que o aluno aprenda a gostar da geometria. Almouloud, Marinque E Silva (2004b, p. 99) nos relatam que “A resolução de problemas de geometria e a utilização do tipo de raciocínio que essa resolução exige dependem da distinção das formas de apreensão da figura.” A geometria pode ajudar em muitas outras áreas de conhecimento, e é muito importante para a vida do indivíduo. Por isso a importância em estudá-la, e que seja bem trabalhada. O ideal seria usar situações do dia a dia do aluno, para que ele se sinta mais a vontade com os problemas, partir do que o aluno já sabe para que ele possa associar as figuras ao que ele já conhece, facilitando o aprendizado e a exploração do conteúdo. Segundo ALMOULOUD, MARINQUE e SILVA (2004c) [...] a atividade proposta precisa estar coerente com as necessidades dos participantes e ser propícia para que o conteúdo possa ser explorado em suas diversas representações, gerando uma aprendizagem significativa. (ALMOULOUD, MARINQUE, SILVA, 2004, p. 102) Antes de utilizar o material dentro de sala, o professor precisa planejar bem a aula, refletir sobre o objetivo daquele material, como será manuseado, para que seja bem aproveitada dentro do conteúdo trabalhado e não se torne uma brincadeira sem sentido. Devemos refletir se este tipo de aula promoverá um aprendizado, e não fazer apenas com que o aluno decore fórmulas e resolva o problema mecanicamente, sem entender realmente o que está sendo feito, mas o leve a refletir e compreender a matéria. O professor deve avaliar qual o conhecimento 13 prévio dos alunos, para então planejar as atividades a serem trabalhadas. De acordo com FIORENTINI E MIORIN (1990): Ao aluno deve ser dado o direito de aprender. Não um ‘aprender’ mecânico, repetitivo, de fazer sem saber o que faz e por que faz. Muito menos um ‘aprender’ que ser esvazie em brincadeiras. Mas um aprender significativo do qual o aluno participe raciocinando, compreendendo, reelaborando o saber historicamente produzido e superando, assim, sua visão ingênua, fragmentada e parcial da realidade. (FIORENTINI, MIORIN, 1990, p. 5) Visa-se também com essa pesquisa, auxiliar o professor a trabalhar com os sólidos geométricos de uma forma mais prazerosa, usando o dia a dia do aluno e partindo do conhecimento implícito que este já tenha do assunto. Usar materiais que o aluno tenha contato, materiais de sua realidade, assim ele desenvolverá as figuras e encontrará a “resposta” por conta própria e não através de fórmulas préestabelecidas. Para direcionar nosso trabalho, levantamos alguns questionamentos: O uso do material concreto ajudará a efetivar a aprendizagem da geometria na visualização dos sólidos geométricos? Utilizando objetos do cotidiano do aluno como material concreto durante as aulas, poderia amenizar as dificuldades enfrentadas pelos mesmos? Acredita-se que esta pesquisa poderá contribuir para o ensino e aprendizagem da geometria, em especial a geometria espacial e ainda, contribuir para que os alunos consigam “enxergar” os sólidos geométricos e também proporcionar ao professor a possibilidade de lecionar a disciplina de forma mais prazerosa, dinâmica e que desperte o interesse do aluno em participar das atividades. Assim, os professores poderão buscar novos recursos para suas aulas, não somente de geometria, mas da matemática em geral, ajudando para uma melhor compreensão e assim melhorar a qualidade do ensino. Para alcançar o objetivo de verificar como a utilização do material concreto poderá ajudar o aluno na melhor visualização e compreensão dos sólidos geométricos, desenvolveu-se esta pesquisa que contém quatro capítulos. Neste primeiro capítulo, introduziu-se o presente trabalho, fazendo uma descrição de cada capítulo, além de levantar a problemática, a fim de se alcançar o objetivo proposto. 14 O capítulo dois mostra um pouco da história da geometria e algumas descobertas importantes para o seu desenvolvimento. Nele consta também um breve relato da história dos três principais geômetras. Relata-se sobre o ensino da geometria no Brasil e a defasagem ocorrida em relação a este ensino. Há também a descrição sobre a geometria espacial e alguns sólidos geométricos. No terceiro capítulo, relata-se sobre materiais pedagógicos utilizados no ensino da geometria, dando ênfase à importância da utilização destes materiais. Enfatiza alguns exemplos de materiais que podem ser utilizados no ensino da geometria espacial, relatando mais detalhadamente sobre como será realizada a atividade proposta na construção de sólidos através da planificação e de dobraduras que será o material utilizado nesta pesquisa. O capítulo quatro consta da metodologia, onde é relatado onde e como será aplicada a atividade proposta e o questionário. O capítulo cinco expõe como foi feita a coleta e análise dos dados, através da participação e observação dos alunos durante a realização da atividade e do questionário aplicado e finaliza com a montagem dos gráficos para uma melhor visualização dos resultados. E finalmente, nos anexos, há as planificações usadas para realizar a atividade, algumas questões que auxiliaram os alunos e o questionário aplicado durante a atividade. 15 2 GEOMETRIA 2.1 A história da geometria Conta-se a história que a geometria teve suas origens no Egito com a necessidade que esse povo teve em medir e marcar as terras, por volta do ano 2000 antes de Cristo (a.C.). Durante os períodos de chuva, o rio Nilo, localizado no Egito, enchia e suas águas transbordavam inundando toda a área a sua volta. Ao passar as chuvas e as águas baixarem, aquelas terras se tornavam muito férteis, mas as águas haviam destruído as marcações de posses das terras, gerando assim os conflitos entre os habitantes da região. Os faraós, para cobrar devidamente os impostos dos donos das terras e evitar os conflitos, nomearam os agrimensores que ficariam por conta de remarcar as terras e calcular os prejuízos causados pelas enchentes. Esses agrimensores usavam cordas para fazer as marcações, por isso eram conhecidos também como esticadores de cordas. Aos poucos os terrenos foram sendo divididos em retângulos e triângulos, a fim de facilitar as marcações. Usavam as cordas também para medirem os terrenos e traçar as bases para a construção das pirâmides. Com isso os egípcios foram desenvolvendo algumas técnicas para fazer os cálculos necessários na época, desenvolvendo algumas provas de conceitos geométricos. Mas por não distinguirem claramente as relações exatas das aproximações, estes conceitos foram pouco desenvolvidos por eles. Segundo BOYER (1991a): (...) vemos o início de uma teoria de congruência e da idéia de prova em geometria, mas os egípcios não foram além. Uma deficiência séria em sua geometria era a falta de uma distinção claramente estabelecida entre relações que são exatas e as que são apenas aproximações. (BOYER,1991, p. 12) Todas as informações sobre a matemática e a geometria que os egípcios conheciam foram registradas em papiros mil anos antes do surgimento da matemática grega, e também através de desenhos e formas conforme a necessidade da época. Como enfatiza BARBOSA: 16 Pela necessidade do homem em compreender e descrever o seu meio ambiente (físico e mental), é que as imagens, representadas através de desenhos, foram lentamente conceitualizadas até adquirirem um significado matemático (...). (BARBOSA, p. 3) Na Mesopotâmia também foram encontrados registros sobre o desenvolvimento da matemática, quando os babilônios (povos que habitavam esta região) usaram símbolos e desenhos para representar letras e números. Muitos dos registros encontrados datam de 1800-1600 a.C. e haviam dados importantes sobre a geometria, embora que, para este povo, a geometria fosse apenas números ligados a figuras. O ponto central da geometria nesta região eram as medidas, mas assim como os egípcios, eles não diferenciavam medidas exatas de aproximações. O teorema de Tales já era usado pelos babilônios, apesar de Tales ter vivido mais de mil anos depois. Isto nos mostra a falta de detalhes nos registros, ou a falta de interesse deles em compreender melhor suas próprias descobertas. O desenvolvimento da matemática e consequentemente da geometria, passou da Mesopotâmia para a Grécia, mas a reconstrução delas pelos gregos foi um tanto trabalhosa, pois restaram poucos registros vindos dos babilônios. O nome geometria foi atribuído pelos gregos e significa geo = terra e metria = medidas, ou seja, medida da terra. Durante muitos anos não se teve registros sobre o desenvolvimento da Matemática, esta ficou em atraso se comparada à Literatura. Somente no século VI a. C., apareceram Tales e Pitágoras, dois grandes geômetras gregos que tiveram papel importante no desenvolvimento da Matemática e da Geometria. Não sobrou nenhuma obra dos dois, nem se pode afirmar se algum deles tenha escrito algo. Tudo que se sabe sobre as contribuições deles, tem base em tradições persistentes. A Matemática tomou novo impulso para se desenvolver por volta do ano 600 a. C.. Pitágoras e Tales viajavam para os grandes centros de conhecimento para coletar informações sobre astronomia e matemática. Os gregos sempre buscavam conhecimento em outras culturas, por isso se desenvolveram muito rápido. Tales e Pitágoras começaram a sistematizar a geometria conhecida até então e a desenvolveram usando o raciocínio dedutivo. Depois de Tales e Pitágoras apareceram várias outras pessoas que estudaram e desenvolveram a Geometria, mas o grande nome desta história é 17 atribuído a Euclides, que teve o papel de organizar a Matemática conhecida até então e foi o criador da conhecida geometria euclidiana. Ao organizar a Geometria, Euclides fez algumas demonstrações e aprimorou outras já existentes, criando assim os axiomas e postulados, escrevendo sua mais famosa obra conhecida como Os Elementos que continha 13 volumes. Como destaca Mlodinow (2010, p. 15) “A história de Euclides é uma história de revolução. É a história do axioma, do teorema, da demonstração, a história do nascimento da própria razão.” Dos 13 livros, os 6 primeiros tratam da geometria plana elementar, os 7º, 8º e 9º sobre teoria dos números, o 10º sobre incomensuráveis e os 3 últimos sobre a geometria no espaço. Estes livros deram início à chamada Geometria Euclidiana, que é caracterizada pelo espaço euclidiano, imutável, simétrico e geométrico. Esta geometria é a que ensinam hoje nas escolas, definindo pontos, retas, planos, ângulos e objetos em três dimensões: com comprimento, largura e altura. Durante muito tempo os povos mantiveram essas descobertas, usando delas para as atividades do dia a dia. Somente no século XVIII é que um homem chamado Leonhard Euler estudou e desenvolveu um pouco mais a geometria. Um grande problema que Euler resolveu, diz respeito aos poliedros. Ele concluiu que independente dos números de faces de uma figura, o número de vértices e arestas estão sempre relacionados. Daí temos que: aresta + 2 = vértices + faces. Euler desenvolveu também o estudo dos grafos ao resolver o problema das sete pontes de Königsberg. Este problema diz respeito ao rio Progólia, situado na cidade de Königsberg, onde havia duas ilhas em que na época continha sete pontes. Uma das ilhas tinha quatro pontes que a ligavam às margens opostas do rio, duas outras pontes ligavam a outra ilha às margens opostas do rio, e uma das pontes ligava as duas ilhas. Os habitantes da cidade discutiam sobre a possibilidade de atravessar todas as pontes sem repetir nenhuma delas. 18 Figura 1 – As sete ponte de Königsberg Fonte: http://users.prof2000.pt/agnelo/grafos/pontesh.htm Em 1736, Euler resolveu o problema afirmando que era impossível atravessar as sete pontes sem repetir alguma. Ele fez uma representação das ilhas e suas pontes como sendo retas e pontos, assim ele criou o primeiro grafo da história. Figura 2 – Grafo representado por Euler Fonte: http://www.planetseed.com/pt-br/mathsolution/solucao-enigma-matematico-de-maiode-2002-sete-pontes-de-konig Na figura, cada um dos pontos A, B, C e D é chamado de vértices, e as linhas a, b, c, d, e, f e g são chamadas arcos. O grau de cada vértice refere-se ao número de arcos que se encontra em cada um deles. Euler então mostrou que o passeio não poderia ser feito passando uma única vez por cada ponte, porque havia ali mais de dois vértices com grau ímpar. Assim ele demonstrou que para qualquer grafo, só é possível percorrê-lo sem passar duas vezes pelo mesmo ponto, se ele possuir todos os vértices pares, ou no máximo dois vértices ímpares. Se todos os vértices forem pares é possível percorrê-lo e voltar ao 19 mesmo ponto de partida. Se ele possuir um ou dois vértices ímpares ele pode ser percorrido, mas não é possível voltar ao ponto de partida. Em 1637, um matemático chamado René Descartes conseguiu unir a álgebra e a geometria, pois ele descobriu que para toda figura havia uma fórmula relacionada, com isso ele criou o plano cartesiano para representar graficamente as expressões algébricas. O plano cartesiano consiste em duas retas dispostas perpendicularmente uma a outra. A reta que fica na horizontal é chamada de eixo X ou eixo das abscissas, a reta disposta na vertical recebe o nome de eixo Y ou eixo das ordenadas. Os dois eixos possuem tamanho infinito e são representados pelo conjunto dos números reais. A parte do eixo X localizada à direita do eixo Y recebe sinal positivo para cada um de seus pontos e a parte localizada à esquerda recebe sinal negativo. Já para o eixo Y, a parte que fica acima do eixo X recebe sinal positivo para cada ponto e a parte que fica abaixo do X recebe sinal negativo. O ponto de encontro entre os dois eixos é chamado de origem. Os dois eixos do plano cartesiano o dividem em quatro partes para uma melhor orientação dos pontos. Cada parte deste plano tem um nome como mostra a figura: Figura 3 – Plano cartesiano Fonte: http://www.matematicadidatica.com.br/PlanoCartesiano.aspx Descartes criou o plano cartesiano com a intenção de localizar pontos num certo espaço. A representação dos pontos neste espaço é chamada de par ordenado e é representado como (X,Y), onde X é o número localizado no eixo das abscissas e Y o número localizado no eixo das ordenadas. Através da 20 representação dos pontos neste plano conseguimos construir retas, figuras e é também usado na construção de gráficos, em localizações geográficas, localização marítima, etc. Por volta de 1800, foi descoberta a geometria não euclidiana. Carl Friedrich Gauss, matemático alemão, estudando a geometria proposta por Euclides onde tinham o espaço em linha reta, descobriu que as linhas, assim como as figuras, poderiam ser curvas, e que o espaço poderia ter mais dimensões. Mais tarde, em 1910, o físico Albert Einstein, a partir das ideias de Gauss sobre as várias dimensões existentes e as figuras curvas, aprimorou a teoria da gravidade de Newton. Hoje em dia, podemos ver que este longo processo de desenvolvimento da matemática e da geometria foi e ainda é muito valioso para o desenvolvimento humano. A geometria e a matemática são essenciais em nossas vidas, pois estão presentes em tudo, desde circuitos elétricos, economia, elaboração de mapas, até computadores e suas redes. Muitos foram os geômetras que contribuíram para o desenvolvimento da geometria, não se tem muitos documentos sobre a história de suas vidas, apenas poucos relatos que nos permitem conhecer um pouco deles. 2.2 Alguns grandes geômetras 2.2.1 Tales de Mileto Tales de Mileto foi um grande geômetra nascido por volta do ano de 624 a.C., na cidade de Mileto e morreu no ano de 547 a. C. Tales foi considerado o primeiro matemático verdadeiro, e fez a organização dedutiva da geometria. Devido à falta de documentos datados da época, pouco se sabe sobre a vida de Tales, apenas algumas lendas que o relatam como mercador de sal e defensor do celibato. O mais famoso teorema de Tales nos fala que em um feixe de paralelas cortados por duas transversais, as medidas dos segmentos delimitados nas transversais são proporcionais. 21 Figura 4 – Representação do Teorema de Tales Fonte: http://www.alunosonline.com.br/matematica/teoremas-de-tales.html Temos também um teorema desenvolvido por Tales que diz que um ângulo inscrito num semicírculo é um ângulo reto. Figura 5 – Ângulo inscrito no semicírculo é reto Fonte: http://www.mat.ufmg.br/apefm/respostas/geo5/geo5.html Tales desenvolveu mais quatro teoremas e que BOYER (1991b) relata em seu livro A História da Matemática, como sendo: 1. Um círculo é bissectado por um diâmetro. 2. Os ângulos da base de um triângulo isósceles são iguais. 3. Os pares de ângulos opostos formados por duas retas que se cortam são iguais. 4. Se dois triângulos são tais que dois ângulos e um lado de um são iguais respectivamente a dois ângulos e um lado de outro, então os triângulos são congruentes. (BOYER 1991, p. 32) 22 Outro grande geômetra remanescente de Tales e que também contribuiu para o desenvolvimento da matemática, foi Pitágoras de Samos. 2.2.2 Pitágoras de Samos Pitágoras de Samos era um profeta e místico. Segundo alguns relatos, ele nasceu por volta de 580 a. C. e viveu por mais de 80 anos. Foi um grande matemático e astrônomo, além de conhecer bem sobre várias outras áreas de conhecimento. Por não ter deixado nenhuma obra escrita e muitos documentos de sua época terem sido perdidos, não se sabe realmente a data exata de seu nascimento, alguns autores afirmam que ele viveu na mesma época de Tales, tendo estudado com ele. Outros autores relatam que eles viveram em uma diferença de meio século. Há alguns indícios de que Pitágoras tenha fundado uma sociedade secreta que se parecia com um culto órfico (nome dado a um conjunto de crenças e práticas religiosas), mas com bases matemáticas e filosóficas. A esta sociedade deram o nome de Sociedade Pitagórica e os seus seguidores eram os pitagóricos. Pitágoras deu muita importância à prova na geometria para que pudessem se tornar válido qualquer teorema ou fórmula. O teorema mais famoso desenvolvido por Pitágoras levou o seu nome e nos diz que em qualquer triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa (maior lado) é igual à soma dos quadrados dos catetos (lados adjacentes ao ângulo reto). Figura 6 – Teorema de Pitágoras Fonte: http://infectadopelamatematica.blogspot.com.br/2010/10/representacao-grafica-do-teoremade.html 23 Apesar das muitas contribuições de Tales e Pitágoras para o desenvolvimento da geometria, o mais importante geômetra da história foi Euclides, que teve o papel de organizar a geometria até então conhecida. 2.2.3 Euclides de Alexandria Não há registros sobre o local e data de nascimento de Euclides, mas rumores nos fazem acreditar que ele tenha vivido entre 360 e 295 a. C. Conhecido pelo nome de Euclides de Alexandria, por ter sido convidado a ser professor de matemática em uma escola recém fundada na cidade, Euclides desenvolveu a geometria a tal ponto de fazer com que a cidade se tornasse o centro mundial da geometria. Euclides não fez nenhuma descoberta nova, mas é conhecido por organizar a geometria já conhecida pelos seus antecessores, e fazer demonstrações e aperfeiçoamentos nas já existentes, dando a ela uma ordem lógica. A partir de então ele passou a estudá-la e tomou gosto pelas propriedades das figuras geométricas, suas áreas e volumes. E toda esta organização da geometria ele relatou em sua obra Os Elementos. Infelizmente nenhum volume desta obra sobreviveu. Conforme explica EVES (2002): (...) é provável que os Elementos de Euclides sejam, na sua maior parte, uma compilação altamente bem sucedida e um arranjo sistemático de trabalhos anteriores. Não há duvida de que Euclides teve de dar muitas demonstrações e aperfeiçoar outras tantas, mas o grande mérito de seu trabalho reside na seleção feliz de proposições e no seu arranjo numa sequência lógica, presumivelmente a partir de umas poucas suposições iniciais. (EVES 2002, p. 168-169) Esta sua obra se tornou famosa porque além de reunir todo o conhecimento já existente, ele tinha um método lógico inovador, tornou explícitos os conceitos apresentando de forma demonstrações. clara os axiomas e postulados e fez algumas 24 2.3 O ensino da geometria no Brasil A geometria no Brasil era muito pouco ensinada, e este pouco que se aprendia era nas aulas de artes, ensinadas pelos Jesuítas. Mas em 1759 eles foram expulsos do país e com isso o ensino passou por um período muito difícil. O ensino da matemática então ficou centrado apenas nas pessoas ricas, que tinham condições de pagar caro os professores. Esses professores tinham o papel de passar para o aluno o conteúdo de forma pronta e acabada para que ele apenas memorizasse e depois reproduzisse. Somente no governo de Vargas (1930-1945) é que a situação em relação ao ensino da matemática mudou, e todos passaram a aprendê-la. Com isso surgiu o Movimento da Matemática Moderna, com o propósito de aperfeiçoar os cursos para professores nesta área. Foram criados grupos de professores em vários estados brasileiros, onde eles se reuniam para renovar a matemática, e suas propostas de renovação eram publicadas aos alunos. A cada dia surgiam novos livros didáticos, possibilitando aos alunos adquirir novos conhecimentos nesta área. Mas diante de tantas reformas, a geometria era ensinada apenas como introdução do raciocínio lógico, familiarizando o aluno com as figuras geométricas e suas noções básicas. Nos cursos para os professores, a geometria era trabalhada com muita ênfase nas estruturas e axiomatizações. Os professores tiveram então muita dificuldade relacionada a este conteúdo, estavam mal preparados e tinham medo de trabalhar com tal disciplina, e como nesta época eles tinham a liberdade de escolher quando trabalhar determinada matéria, sempre deixavam a geometria para o final do ano. O que na maioria das vezes acontecia era que o tempo não era suficiente e a geometria não era ensinada. Até os livros da época traziam a geometria no final. Segundo FERREIRA trata em sua obra: A ênfase, nas estruturas e axiomatizações, (...), fez com que muitos professores sentissem grande dificuldade de ensinar os conteúdos geométricos, deixando-os para o final do ano letivo, acabando muitas vezes por não ensiná-los. (FERREIRA, p. 99) 25 Esta situação começa a mudar nos anos 70, quando iniciaram o resgate do ensino da geometria. Este resgate visava ensinar ao aluno aspectos espaciais, desenvolvendo sua intuição e assim ele melhor se adaptava ao meio. Mas este resgate não teve muito sucesso, pois ainda hoje vemos a geometria abandonada para o fim do ano. A geometria está presente em tudo e precisamos enxergá-la, em outras disciplinas, nas atividades do dia a dia, nas brincadeiras, nas tecnologias. Através dela o aluno faz associações, interage com o mundo e seus objetos, interpreta conceitos e imagens. É de grande importância na construção da cidadania. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) (1997a): O pensamento geométrico desenvolve-se inicialmente pela visualização: as crianças conhecem o espaço como algo que existe ao redor delas. As figuras geométricas são reconhecidas por suas formas, por sua aparência física, em sua totalidade, e não por suas partes ou propriedades. (PCN, 1997, p. 82) Com o desprezo no ensino de tal disciplina, o aluno passou a apresentar grandes dificuldades. Sem a geometria eles não conseguem desenvolver o raciocínio visual e dedutivo, e assim não conseguem resolver problemas do dia a dia que necessita do entendimento de tal disciplina. Sem a geometria a visão da matemática fica distorcida. Outra causa atribuída ao abandono da geometria é a importância dada aos livros didáticos, que além de trazer este conteúdo somente no final, trata dela apenas como um conjunto de definições, propriedades, regras e fórmulas, desligada de qualquer aplicação do dia a dia, do mundo externo. O professor fica muito “preso” ao livro, ou por não ter uma boa formação e achar mais fácil seguir o livro não inovando a metodologia de ensino, ou mesmo por ter uma grande carga horária e não ter tempo de elaborar uma aula mais bem estruturada. Como afirma os PCN´s (1997b): Decorrente dos problemas da formação de professores, as práticas na sala de aula tomam por base os livros didáticos, que, infelizmente, são muitas vezes de qualidade insatisfatórias. A implantação de propostas inovadoras, por sua vez, esbarra na falta de uma formação profissional qualificada, na existência de concepções pedagógicas inadequadas e, ainda, nas restrições ligadas às condições de trabalho. (PCN, 1997, p. 22) 26 A grande miscigenação de raças no Brasil faz com que tenhamos uma cultura diferenciada de região em região. Até no modo de contar, calcular e representar as figuras a nossa volta muda conforme nossa cultura. O professor tem então um grande desafio, o de ensinar valorizando as diferenças, mas também ensinar para que o aluno possa ir além do que ele vivencia, pois com as novas tecnologias, o meio de produção muda constantemente e as pessoas precisam se adaptar ao novo. Por isso a importância de o professor conhecer cada aluno e suas histórias de vida. O professor de matemática tem papel importante neste processo, trabalhando para que o aluno elabore novas estratégias na resolução de problemas, elabore novos argumentos, use a criatividade e valorize o trabalho em grupo. Assim o aluno cria autonomia e confiança para resolver seus problemas diários. E a geometria também tem papel fundamental nesta construção da cidadania, ela ajuda o aluno a interpretar, além de conceitos matemáticos, os de outras disciplinas. Como na interpretação de gráficos na geografia, focando a interdisciplinaridade, tão trabalhada nos dias de hoje. O aluno tem melhor absorção do conteúdo quando consegue relacionar a geometria a outras disciplinas de seu maior gosto, ou às situações vividas por ele em seu dia a dia. Ensinar um conteúdo isoladamente pode ser cansativo, mas ao relacioná-lo ao que o aluno gosta é uma forma prazerosa de ensinar e de aprender. Com isso o professor começa a contextualizar suas atividades para que ele possa pensar e trabalhar seu raciocínio, que leve o aluno a querer aprender, saindo um pouco daquelas onde o aluno apenas reproduz a matéria ensinada pelo professor. Hoje em dia vemos um grande avanço quanto ao ensino da geometria, mais ainda é preciso uma reforma. É preciso reformar os currículos, investir em cursos para melhoria do professor, reformar os livros, tanto para alunos quanto para professores. Devido a esta falta da geometria, os alunos têm grandes dificuldades mais tarde. E quando se refere à geometria espacial, a situação é ainda pior. Vivemos em um mundo tridimensional, mas nas escolas os alunos trabalham muito com figuras bidimensionais, e isso leva a grande dificuldade que eles têm em representar figuras reais. Quando se fala em espaço as relações estabelecidas por eles ficam muito complexas. Por isso a importância de o professor trabalhar bem a geometria espacial. 27 2.4 Geometria espacial de posição A geometria de posição estuda pontos, retas, planos e outros entes geométricos sem se preocupar com suas medidas, apenas com suas posições, como o próprio nome nos indica. Para compreender melhor esta geometria, é preciso que destaquemos alguns conceitos importantes, necessários na compreensão da realidade, embora não seja diretamente aplicado a ela. O ponto: não tem massa, volume ou dimensão. É indicado por letras maiúsculas do alfabeto latino. A A reta: não possui espessura e é infinita, não tendo inicio ou fim. Sobre ela podemos definir semirretas e segmentos de reta limitados por pontos. É representada por letras minúsculas do alfabeto latino. Figura 7 – Reta, semirreta e segmento de reta. Fonte: Geogebra 4.0.24.011 O plano: não possui nem espessura e nem fronteira. É representado por letras minúsculas do alfabeto grego. 28 Figura 8 – Planos Fonte: Geogebra 4.0.24.011 A partir dos três conceitos de ponto, reta e plano conseguimos classificar as figuras planas, contidas em um único plano, das figuras não planas ou espaciais, que são figuras contidas em mais de um plano. Figura 9 – Figuras planas Fonte: http://dc190.4shared.com/doc/jWFDLxF2/preview.html 29 Figura 10 – Figuras espaciais Fonte: http://aleajuda.blogspot.com.br/2012/03/entraremos-pra-facilitar-imagine-assim.html Com estes conceitos podemos também definir os axiomas ou postulados, que são proposições aceitas sem demonstrações: Destacaremos aqui alguns postulados: Por um único ponto passam infinitas retas. Figura 11 – Infinitas retas Fonte: Geogebra 4.0.24.011 30 Por dois pontos distintos passam uma única reta. Figura 12 – Dois pontos e uma única reta Fonte: Geogebra 4.0.24.011 Com pelo menos três pontos distintos e não colineares podemos determinar um plano. Figura 13 – Três pontos determinam um plano Fonte: Geogebra 4.0.24.011 Se dois pontos distintos pertencentes a uma reta pertencerem a um plano, então todos os pontos desta reta pertencem ao plano. Figura 14 – Reta no plano Fonte: Geogebra 4.0.24.011 Dentro e fora de um plano existem infinitos pontos. 31 Figura 15 – Pontos dentro e fora do plano Fonte: Geogebra 4.0.24.011 A interseção de dois planos é uma reta. Figura 16 – Interseção de dois planos Fonte: http://educacao.uol.com.br/matematica/retas-e-planos-posicoes-relativas-e-determinacao.jhtm A partir destes postulados, podemos destacar a posição relativa entre duas retas e a posição relativa entre dois planos. Duas retas distintas tem no máximo um ponto em comum. Se duas retas possuem um único ponto em comum elas são chamadas de retas concorrentes ou secantes. Estas retas são coplanares. Se duas retas não possuem nenhum ponto em comum e são coplanares elas são chamadas de retas paralelas. Se duas retas não possuem pontos em comum e não pertencem ao mesmo plano elas são chamadas de retas reversas. Se duas retas possuem mais de dois pontos em comum elas são chamadas de retas coincidentes, ou seja, uma está sobre a outra. 32 Figura 17 – Retas concorrentes Figura 18 – Retas paralelas Fonte: Geogebra 4.0.24.011 Fonte: Geogebra 4.0.24.011 Figura 19 – Retas reversas. Figura 20 – Retas coincidentes Fonte: Geogebra 4.0.24.011 Fonte: Geogebra 4.0.24.011 Dois planos distintos podem possuir muitos pontos em comum ou nenhum ponto em comum. Se dois planos possuem todos os pontos em comum eles são chamados de planos coincidentes. Se dois planos não possuem nenhum ponto em comum eles são chamados de planos paralelos. Se dois planos tem uma reta em comum eles são chamados de planos secantes. Figura 21 – Planos coincidentes Figura 22 – Planos paralelos Fonte: Geogebra 4.0.24.011 Fonte: Geogebra 4.0.24.011 33 Figura 23 – Planos secantes Fonte: http://educacao.uol.com.br/matematica/retas-e-planos-posicoes-relativas-e-determinacao.jhtm A partir desta geometria de posição partimos para a geometria espacial, que estuda os sólidos geométricos, figuras contidas em mais de um plano. 2.5 Geometria espacial A geometria espacial estuda as figuras chamadas de sólidos geométricos, que são figuras representadas em três dimensões, tem porção finita e são limitados por superfícies planas e curvas. Esta geometria estuda também seus volumes, estruturas, propriedades e relações. Estes sólidos podem ser classificados em duas categorias, sendo uma delas chamadas de poliedros, onde as figuras são delimitadas por superfícies planas poligonais. E a outra classe é a dos chamados corpos redondos em que algumas das superfícies delimitadoras das figuras não são planas como o cone, o cilindro e a esfera. No caso dos poliedros temos aqueles que são regulares, onde as faces são polígonos regulares iguais e elas são encontradas em mesmo número em cada vértice. Exemplos de poliedros regulares são: tetraedro, hexaedro, octaedro, dodecaedro, icosaedro, etc. Caso os poliedros não possuam estas características eles são chamados de não regulares. Cada sólido geométrico pode ser comparado a um objeto do nosso dia a dia. O prisma, cubo e paralelepípedo podem ser comparados a uma caixa de sapatos. O cone pode ser visualizado em uma casquinha de sorvete. O cilindro pode ser visto em um canudo usado para beber líquidos. A esfera pode ser analisada em uma simples bola de futebol. Com isso percebemos a importância em conhecer bem esta 34 área da geometria, para que consigamos fazer associações em nosso dia a dia, interpretar conceitos e imagens e interagir com o mundo em que vivemos. No que diz respeito ao cálculo de volume e área, vemos uma grande aplicação em nossa vida diária, nas previsões de tempo, pressão atmosférica, temperatura, umidade do ar, e em várias outras coisas. Por isso a importância em conhecer cada figura, suas propriedades e saber calcular sua área e volume. A área é o cálculo do tamanho da superfície da figura em questão. Em muitas figuras, ao calcularmos sua área é preciso planificá-la e às vezes desmembrá-la em várias outras figuras e calcular a área de cada uma separadamente e depois somálas. Com isso devemos desenvolver no aluno a capacidade de reconhecer cada figura através de sua planificação, pois assim ele perceberá melhor algumas características destes sólidos compreendendo melhor os cálculos. Segundo o Currículo Básico Comum (CBC) ( 2007a), os alunos devem saber: Reconhecer a planificação de figuras tridimensionais – cubo, bloco retangular, cilindro, cone e pirâmide. Construir figuras tridimensionais a partir de planificações. Calcular a área lateral ou total de uma figura tridimensional a partir de sua planificação. (CBC, 2007, p. 29) Já o volume é o cálculo da quantidade de espaço que cada figura ocupa, ou a quantidade que caberá dentro desta figura. Neste caso o aluno deve ser capaz de resolver problemas que envolvam o cálculo de volume e saber utilizar as medidas adequadas, no caso o metro cúbico, seus múltiplos e submúltiplos. O CBC (2007b) nos mostra que em relação ao volume o aluno deve estar apto a: Resolver problemas que envolvam cálculo de volume ou capacidade de blocos retangulares, expressos em unidade de medida de volume ou em unidade de medida de capacidade: litros ou mililitros. (CBC, 2007, p. 28) A partir destes conceitos é necessário que o aluno saiba reconhecer cada figura e suas fórmulas de cálculo de área e volume. Para isso descreveremos algumas delas com suas fórmulas para cálculo de área e volume. 35 2.5.1 Alguns sólidos geométricos 2.5.1.1 Prismas Prisma é todo poliedro onde a superfície plana superior e inferior, chamadas de faces, são paralelas. Essas faces ficam ligadas uma a outra através das arestas, que são as “quinas” das figuras. As faces laterais de um prisma são quadriláteros ou paralelogramos. Um prisma pode ser reto se suas arestas laterais são perpendiculares à base, ou podem ser oblíquo se essas arestas forem obliquas à base, ou não perpendiculares a elas. Existem vários tipos de prismas, e eles são classificados conforme o formato de suas bases. Para calcular a área de um prisma devemos calcular a área da base e somar ao cálculo da área lateral. Esta área lateral vai depender da figura representada na lateral do prisma em questão, devemos calcular a área de cada polígono representado e somá-los. A área da base depende do polígono que compõe a base. Para calcularmos o volume dos prismas, dependemos também da área da base e da altura. A altura é a menor distância entre as duas bases. área lateral área total área da base perímetro altura volume Destacaremos aqui alguns tipos de prismas, e para isso vamos determinar alguns pontos importantes: Faces: cada uma das partes planas da superfície de um poliedro. Bases: são as duas partes superior e inferior da figura. Arestas: são as linhas que delimitam as faces. Vértices: são os pontos de encontro entre as arestas. 36 Figura 24 – Elementos de um poliedro Fonte: http://www.obichinhodosaber.com/2010/03/11/matematica-5%C2%BA-i-solidos-geometricos-2poliedros-e-nao-poliedros/ Prisma triangular reto tem como base triângulos e as arestas são perpendiculares à base. E o prisma triangular oblíquo, também tem triângulos como bases, portanto as arestas são oblíquas às bases. Eles possuem 6 vértices, 9 arestas, 5 faces e 2 bases: Figura 25 – Prisma triangular oblíquo e reto Fonte: http://tudo-matematica.blogspot.com.br/2011/07/prisma.html Prisma quadrangular reto ou paralelepípedo reto tem como base quadrados e as arestas são perpendiculares à base. O prisma quadrangular oblíquo, também chamado de paralelepípedo oblíquo, também tem quadrados como bases, mas as arestas não são perpendiculares à base. Temos também o paralelepípedo reto-retângulo que além das características de um paralelepípedo reto, todas as suas faces são retângulos. O cubo também é 37 um prisma, onde todos os ângulos são retos e todas as faces são quadrados. Eles têm 8 vértices, 12 arestas, 6 faces e 2 bases: Figura 26 – Prismas quadrangulares Fonte: Matemática volume único, 2002, p. 483. Prisma pentagonal reto tem como base pentágonos e as arestas são perpendiculares à base. O prisma pentagonal oblíquo, também tem pentágonos como bases, portanto as arestas são oblíquas às bases. Eles possuem 10 vértices, 15 arestas, 7 faces e 2 bases: Figura 27 – Prisma pentagonal oblíquo e reto Fonte: http://matematicaja2009.blogspot.com.br/2009_06_01_archive.html 2.5.1.2 Cubo O cubo é um prisma que possui todas as 12 arestas congruentes entre si e pode ser chamado também de hexaedro regular. Ele possui muitas planificações: 38 Figura 28 – O cubo e suas planificações Fonte: http://escolovar.org/mat_geometri_solidos_11planificacoes.do.cubo.png Para calcular a área, o volume e a diagonal de um cubo devemos usar as seguintes fórmulas: Onde: diagonal da face diagonal do cubo área total área lateral volume 2.5.1.3 Pirâmides As pirâmides são poliedros em que a base inferior está ligada a um vértice superior que une todas as faces laterais através das arestas. Essas faces laterais das pirâmides são regiões triangulares e o vértice que as une é chamado de vértice da pirâmide. O polígono da base define quantas arestas laterais a pirâmide tem. 39 Quando todas as arestas de uma pirâmide são congruentes, dizemos que esta é uma pirâmide reta, quando o centro da base está alinhado com o vértice superior da pirâmide, caso contrário ela será oblíqua. As pirâmides podem ser classificadas de acordo com suas bases e as principais pirâmides são as de base triangular, onde a base é composta por um triângulo, as de base quadrangular, em que a base é constituída por um quadrado, e a pirâmide pentagonal, onde temos como base um pentágono. Figura 29 – Pirâmides Fonte: http://www.brasilescola.com/matematica/piramides.htm Quando temos uma pirâmide regular em que sua base é formada por um polígono regular, podemos verificar alguns conceitos: Raio: é uma reta que vai do centro do polígono da base até um dos vértices deste polígono. Aresta da base: é cada um dos lados do polígono que compõe a base. Apótema da base: é uma reta que vai do centro do polígono da base até o ponto médio de uma das arestas deste polígono. Altura da pirâmide: é uma reta que sai do centro do polígono da base e vai até o vértice superior. Aresta lateral: é a aresta que fica na face lateral triangular da pirâmide. Apótema lateral: é a reta que divide as faces laterais da pirâmide ao meio, formando dois triângulos retângulos. Esta reta parte do vértice e corta a face lateral até chegar à aresta da base. Podemos nos recorrer a algumas fórmulas para realizar alguns cálculos em relação às pirâmides: 40 Onde: área da base área lateral área total volume altura 2.5.1.4 Esfera A esfera é um corpo redondo por ser limitado por uma superfície curva. Devido ao formato ela não possui arestas, faces ou vértices. Para calcular a área e o volume de uma esfera temos: e Onde: área, raio e volume. Figura 30 – Esfera. Fonte: http://aartepelomundo.blogspot.com.br/2009/11/esfera.html 2.5.1.5 Cilindro O cilindro também é um corpo redondo, ele é delimitado por uma superfície curva e possui duas bases, sendo elas em formato de circunferência. Em um cilindro podemos visualizar alguns elementos importantes: 41 Base: são as duas superfícies planas, as duas circunferências superiores e inferiores do cilindro. Raio: é o segmento que sai do centro da base e vai até um ponto situado na extremidade da circunferência. Centro: são os dois pontos centrais das duas bases. Geratrizes: são segmentos que ligam as duas bases pela lateral do cilindro. Eixo: é uma reta que liga os dois centros. Altura: é a distância entre as duas bases. Caso a geratriz do cilindro esteja obliqua à base, ele é chamado de cilindro oblíquo, caso a geratriz esteja perpendicular à base ele é chamado de cilindro reto. Para calcular o volume e a área desta superfície temos: volume área da base área lateral área total raio =altura Figura 31 – Cilindro oblíquo e cilindro reto Fonte: http://jennyethalyta.blogspot.com.br/2009/11/matematica.html 2.5.1.6 Cone O cone possui uma base em forma de circunferência e um vértice ligado a esta base por uma superfície curva, ele também é um corpo redondo. No cone, assim como no cilindro, também podemos destacar alguns elementos importantes: O cone possui apenas um vértice. 42 Possui somente uma base e nela encontramos o raio. Geratriz são segmentos que estão situados na superfície curva, ligando a base ao vértice. A altura é a distância entre o vértice e a base. O cilindro pode ser classificado em reto ou oblíquo de acordo com a inclinação de sua geratriz em relação à base. Para calcular a área e o volume temos: Onde: volume área total área da base raio área lateral geratriz Figura 32 - Cones Fonte: http://soumaisenem.com.br/matematica/conhecimentos-geometricos/cones Para realizar os cálculos de área e volume dos sólidos geométricos é necessário que o aluno tenha um bom conhecimento das figuras, tenha uma boa base a respeito delas. Os materiais auxiliares podem ser grandes “amigos” dos professores nesta fase de iniciação da geometria espacial, familiarizando o aluno com objetos encontrados no seu dia a dia, recortando figuras, planificando sólidos, e muitos outros métodos que podem ser utilizados a fim de ensinar o aluno de uma forma 43 prazerosa, para que ele consiga absorver o máximo de conhecimento possível a respeito da geometria espacial. 44 3 MATERIAIS CONCRETOS UTILIZADOS NO ENSINO DA GEOMETRIA 3.1 A importância da utilização de materiais concretos O abandono da geometria se tornou um fator preocupante, pois estamos cercados por ela. Em muitas atividades exercidas em nosso cotidiano nos deparamos com situações em que precisamos entender de paralelismo, congruência, semelhança, simetria, distância, área, volume; situações em que o entendimento sobre geometria se torna indispensável. A falta de interesse do aluno é outro fator que merece atenção, pois no que diz respeito à matemática a maioria têm dificuldades em aprendê-la e a consideram de difícil entendimento. Grande parte deste desinteresse do aluno está ligado ao ambiente de ensino. As aulas se tornaram cansativas e monótonas, o professor expõe a matéria pronta e acabada e o aluno apenas reproduz as fórmulas para o desenvolvimento das atividades. A metodologia de ensino adotada pela maior parte dos professores não possibilita ao aluno participar da aula e se envolver com a matéria. Ao iniciar o estudo da geometria espacial é fundamental que o professor trabalhe com aspectos que ajudarão o aluno na compreensão do espaço, de suas dimensões e formas. Desenvolver bem os conceitos geométricos é importante, pois são através deles que os alunos desenvolvem o pensamento permitindo que compreendam, descrevam e representem o mundo onde vivem. O uso do material concreto é valioso nesta fase de iniciação da geometria espacial, pois além de estimular o aluno a observar, perceber as semelhanças e diferenças, as propriedades das figuras é também uma maneira de sair da rotina das aulas expositivas, motivando o aluno a ser mais participativo, transformando-se em uma forma divertida de ensinar e aprender. Trabalhar com a geometria espacial é fazer o aluno compreender o ambiente em que vive para uma melhor convivência em sociedade e é através dessa convivência que ele constrói as noções matemáticas. A partir dessas noções matemáticas, o pensamento vai sendo estruturado e o aluno se torna hábil na resolução de problemas. Diante disso, cabe ao professor repensar suas metodologias de ensino, elaborar aulas onde os alunos possam participar, dar 45 opiniões, fazer descobertas e chegarem as suas próprias conclusões, utilizando nas aulas, situações do dia a dia para compreender melhor a matéria. Conseguir fazer com que o aluno saia do mundo bidimensional e passe para o tridimensional é um desafio para os professores. Ao trabalharem em cima dos conteúdos dos livros didáticos, onde as figuras estão desenhadas em um plano (a folha), dificulta a visualização dos alunos em relação às figuras espaciais. Para introduzir os conceitos da geometria espacial é necessário levar para o aluno materiais onde ele consiga visualizar os sólidos geométricos, onde ele possa tocálos e assim assimilar as figuras ao conteúdo abordado. O uso de materiais concretos em sala de aula favorece a aprendizagem, levando o aluno à abstração para que ele identifique as propriedades, desenvolva o raciocínio e consiga assimilar as formas e associa-las aos objetos do dia a dia. Além de favorecer o aluno no processo de uma melhor visualização, as aulas se tornam mais dinâmicas e divertidas, levando o aluno a se sentir mais satisfeito e desinibido para expor e argumentar suas ideias. O aluno precisa de alguém que o auxilie neste processo de aprendizagem, e prender a sua atenção na sala de aula se tornou um desafio muito grande. O professor como mediador do conhecimento, precisa transformar as aulas em atividades prazerosas, trabalhar a autoestima dos alunos, aplicar tarefas em que o próprio aluno crie condições para desenvolver as propriedades das figuras geométricas. O material a ser manipulado em sala de aula deve ser trabalhado juntamente com atividades que façam com que o aluno interaja e participe das aulas desenvolvendo sua percepção e clareando o raciocínio em relação aos sólidos geométricos. O ideal é levar para os alunos materiais em que eles mesmos montem seus sólidos e o professor seja apenas um orientador para que a aula não saia de seu objetivo. Estes materiais devem possibilitar o desenvolvimento de habilidades mentais interligadas às construções geométricas, além de facilitar a interação do aluno com o professor e contribuir para uma aprendizagem significativa. O material concreto, além de facilitar a aprendizagem, torna as aulas mais significativas e prazerosas, estimula o raciocínio dos alunos, desenvolve suas habilidades e a capacidade em compreender conteúdos geométricos. Com as aulas mais divertidas, o aluno fica mais centrado em observar, relacionar e comparar 46 conceitos geométricos desenvolvendo suas ideias para solucionar problemas, chegando ao resultado sem uma fórmula pronta e acabada. Além disso, essas aulas oferecem uma aprendizagem com diversão, em que o aluno se interessa e se envolve com a matéria, se sentindo motivado e disposto a aprender, desenvolve o seu pensamento reflexivo, lógico-dedutivo e estimula a sua atenção; desenvolve a noção espacial, a capacidade de visualização e interpretação das propriedades de cada figura, usando a comparação entre as figuras e os objetos de seu cotidiano para introdução das noções de figuras espaciais. Ao escolher o material, o professor deve levar em conta o grau de conhecimento do aluno a respeito da matéria e deve sempre orientá-lo para que o objetivo seja alcançado e não se torne uma brincadeira fora da realidade do conteúdo. Hoje nos deparamos com inúmeros materiais que podem auxiliar no ensino da geometria e que facilitam muito para que o aluno consiga visualizar os sólidos geométricos. 3.2 Alguns materiais utilizados para a melhor visualização dos sólidos geométricos Manipular objetos é um bom auxílio na introdução de conceitos da geometria espacial. Usar objetos de conhecimento do aluno, montar e desmontar caixas para melhor visualização das figuras e suas planificações, jogos relacionados ao conteúdo, as novas tecnologias, são alguns dos inúmeros materiais que podem favorecer bastante no processo de ensino e aprendizagem. Estes materiais auxiliam também o professor a trabalhar com uma aula mais dinâmica, motivando o aluno a aprender de uma forma divertida e prazerosa. Objetos do dia a dia do aluno podem ser usados para identificação das propriedades. Por exemplo, desmontar e montar caixas de papelão de maneiras diferentes para que assim consigam visualizar suas várias maneiras de planificações, suas propriedades, identifiquem seus vértices, arestas e faces. O ideal é mostrar a turma várias imagens de sólidos e pedir para que os próprios alunos identifiquem objetos do seu dia a dia que se assemelham aos sólidos e levem para a sala. Dentro da sala, o professor deverá auxilia-los na identificação dos objetos e no 47 trabalho com suas planificações e propriedades. O professor deverá orientar seus alunos a não levarem objetos perigosos para a sala. Quadro 1 – Alguns objetos comparados aos sólidos Alguns objetos que podem ser comparados aos sólidos geométricos Cubo Paralelepípedo Prisma de Base Triangular Pirâmide de Base Quadrangular Pirâmide de Base Triangular Cilindro Cone Caixa de presentes Dado Embalagens diversas Caixa de bombom Edifícios Embalagens diversas Tijolo CPU de computador Móveis Embalagem de creme dental Enfeites de casa Calendário de mesa Telhado de casas Enfeites Pirâmides do Egito Barraca Enfeites Tambor Vela Copo Cano de PVC Canudo Latas de Leite Condensado Lápis Rolo de papel higiênico Chapéu de festa de criança Cones usados em autoescola Casquinha de sorvete Árvore de natal Fonte: Elaborado pela autora. Outra forma de se trabalhar com material didático, é a aplicação de jogos, tanto antes quanto depois da explicação da matéria. O professor pode optar em aplicar um jogo com regras pré-determinadas que indiquem o que os alunos podem ou não fazer, para que eles assimilem estas regras às propriedades das figuras e 48 somente depois do jogo, o professor entra com a explicação da matéria para que a turma, com o seu auxílio, possa chegar às próprias conclusões. Ou então o professor pode optar em explicar a matéria e logo após aplicar um jogo onde os alunos montem as regras, aplicando e verificando as propriedades das figuras. DIENES (1975) nos relata que: Qualquer pessoa que esteja familiarizada com uma estrutura matemática pode inventar um jogo cujas regras seguem as regras dessa estrutura considerada. Essas podem ser explicadas às crianças como as regras de qualquer outro jogo, e então o jogo pode ser jogado. Este princípio de dar regras já prontas, ao invés de permitir que elas sejam descobertas, inicia a aprendizagem numa situação um tanto quanto fechada. Contudo, ela não precisa permanecer assim. As crianças podem ser encorajadas a inventar jogos com as mesmas regras ou com outras ligeiramente alteradas. (DIENES, 1975, p. 65). Além de regras, os jogos também propiciam a convivência em grupo e a valorização da opinião do colega, já que nos jogos cada aluno tem que pensar na jogada de seu adversário para então fazer a sua. Assim como nos jogos, na matemática também tudo depende de uma “jogada” anterior, é preciso aprender a matéria estudada para conseguir compreender as próximas. Através dos jogos, os alunos aprendem regras que serão usadas também no estudo do conteúdo a ser abordado pelo professor. Além de ser uma maneira prazerosa em se aprender, os jogos também desenvolvem o raciocínio lógico do aluno. De acordo com os PCNs (1997c), com os jogos os alunos: (...) passam a compreender e a utilizar convenções e regras que serão empregadas no processo de ensino e aprendizagem. (...). Em estágio mais avançado, as crianças aprendem a lidar com situações mais complexas (jogos com regras) e passam a compreender que as regras podem ser combinações arbitrárias que os jogadores definem; percebe também que só podem jogar em função da jogada do outro (ou da jogada anterior, se o jogo for solitário). Os jogos com regras têm um aspecto importante, pois neles o fazer e o compreender constituem faces de uma mesma moeda. (PCN, 1997, p. 35-36) Ao fazer uso do material concreto o professor pode utilizar também da tecnologia, que vem ganhando grande espaço na vida das pessoas nos dias atuais. Utilizar softwares para fazer demonstrações dos sólidos, suas propriedades e regularidades; deixar os alunos usarem os softwares e descobrirem suas funções para desenvolverem atividades. Com o avanço da tecnologia, o uso dos computadores, internet e seus recursos, além de auxiliarem o professor, prende a 49 atenção do aluno por serem recursos dos quais estão familiarizados. Mas o professor deve sempre estar atento para que as aulas não saiam do seu objetivo. Outro método em que podemos fazer uso do material didático para auxiliar na introdução dos conceitos geométricos e prender a atenção do aluno de forma divertida são as dobraduras. Usar folhas coloridas e pedir para que os alunos recortem figuras geométricas ou montem sólidos, depois usarem destas figuras para desenvolver atividades onde eles possam verificar as propriedades de cada uma delas. Nesse momento ganha-se um grande volume de observações consistentes, que norteiam os trabalhos para a pesquisa proposta. Para dar ênfase a esta pesquisa e confirmar a problemática apresentada, serão utilizadas a planificação e construção de sólidos geométricos através das dobraduras para verificar como este material poderá ajudar os alunos a visualizarem melhor os sólidos geométricos. 3.3 Planificação e construção de sólidos através de dobraduras Em todos os lugares onde passamos encontramos objetos que se assemelham aos sólidos geométricos, desde uma caixa de sapatos, uma bola de futebol, até uma casquinha de sorvete. Mas a grande dificuldade encontrada hoje nas escolas é conseguir que os alunos passem da representação concreta para a representação mental, por isso a importância em utilizar esses materiais concretos levando os alunos à abstração. Diante da contribuição que o material didático proporciona ao aprendizado do aluno, aumentando sua motivação em aprender e desenvolvendo seu raciocínio lógico-dedutivo, optou-se em usar as planificações e através delas confeccionar dobraduras para construção de sólidos para que se chegue ao objetivo proposto, que é o de verificar como este material poderá auxiliar os alunos em uma melhor visualização dos sólidos geométricos. Os sólidos são formados por figuras planas, por isso a importância do trabalho com as planificações, para que os alunos identifiquem as figuras e conheçam quais delas dão origem a determinado sólido, conheçam também as diferentes formas em que um mesmo sólido pode ser planificado. Através da planificação, os alunos têm um contato direto com o que está sendo ensinado. 50 Com as dobraduras, os alunos podem identificar o que são as bases, as faces, os vértices e as arestas, obtendo um melhor conhecimento de cada uma das propriedades, identificando-as e visualizando suas proporcionalidades. Com isso, o aluno desenvolve além de coordenação motora e concentração, o raciocínio e a capacidade de identificação e abstração. O uso das planificações é uma forma prática de se ensinar e desperta nos alunos o gosto pela geometria, tornando-se uma aula prazerosa e divertida. 3.4 Desenvolvendo a atividade com material concreto Ao optar por usar as planificações e construções de sólidos, desenvolveu-se uma atividade com aplicação de questionário. Com observação feita durante a realização da atividade e no questionário pretende-se analisar os dados e verificar se foi possível chegar ao objetivo proposta nesta pesquisa. A atividade consiste em passar para os alunos planificações de sólidos geométricos em papel colorido de maior gramatura. Logo após, entrega-se uma folha com algumas orientações, na qual eles devem escrever a identificação de todas as figuras planas que conseguem visualizar nestas planificações, e qual seria o sólido geométrico gerado por cada planificação. Mostra-se para os alunos alguns sólidos já montados e, a partir daí, deixar que os próprios alunos manipulem as planificações e montem os sólidos. Montados os sólidos, é preciso que se verifique se realmente os alunos chegaram à figura da qual pensaram ser no início da atividade, e que façam associações delas com objetos do seu dia a dia. Após todo este processo, finaliza-se com a aplicação de um questionário para os alunos responderem, buscando comprovar a eficácia dos materiais concretos utilizados. As planificações utilizadas para construção dos sólidos, a folha que os auxilia durante a aplicação de tal atividade e o questionário encontram-se nos anexos. A partir da análise dos questionários aplicados aos alunos, pode-se verificar se o material usado realmente os auxiliam na melhor visualização dos sólidos. 51 4 METODOLOGIA Este projeto é embasado em uma pesquisa qualitativa, através de uma coleta de dados inserida em uma atividade proposta e a respectiva compilação das informações, advinda de um questionário. Será feita uma interpretação dessas informações para verificar se tal atividade será eficiente no processo de aprendizagem da geometria espacial. Quanto à pesquisa qualitativa, NEVES (1996) afirma: Dela faz parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas, é frequente que o pesquisador procure entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada e, a partir, daí situe sua interação dos fenômenos estudados. (NEVES, 1996, p. 1) Esta pesquisa qualitativa será aplicada aos alunos do 6º ano da Escola Estadual Professor Francisco Tibúrcio, situada no Centro da cidade de Maravilhas – MG e consiste em levar para sala de aula, encartes com planificações de figuras geométricas para que os alunos recortem e montem os sólidos a fim de diagnosticar o seu efetivo conhecimento acerca da geometria espacial, visualizando suas dificuldades e potenciais em compor e relacionar os conceitos geométricos intrínsecos na atividade. Durante a realização de tal atividade, será feita uma observação para a obtenção de informações sobre as dificuldades que os alunos apresentam e como a atividade poderá ajudá-los. Com esta observação, buscar-se-á responder à problemática: O uso do material concreto ajudará a efetivar a aprendizagem da geometria na visualização dos sólidos geométricos? A utilização de objetos do cotidiano do aluno como material concreto durante as aulas, poderia amenizar as dificuldades enfrentadas pelos mesmos? A respeito da observação, MARCONI e LAKATOS (2011) afirmam: (...) observação – utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar. (MARCONI, LAKATOS, 2011, p. 111) 52 Durante a aplicação da atividade, será entregue aos alunos uma folha que irá auxiliá-los neste processo e contará também com um questionário, que consiste em algumas perguntas que devem ser respondidas por todos os participantes para que se verifique como o uso do material concreto pôde ajudá-los na visualização e entendimento dos sólidos geométricos. O questionário será entregue aos alunos e será estipulada uma data para que eles o devolvam preenchido, pois o questionário não precisa ser respondido na presença do pesquisador. Segundo MARCONI e LAKATOS (2002): Questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao informante, (...); depois de preenchido, o pesquisado devolve-o (...). (MARCONI, LAKATOS, 2002, p. 98) Este questionário será constituído de questões fechadas, as quais deverão ser respondidas segundo o conhecimento do aluno a respeito da matéria e a experiência vivida durante a atividade aplicada. Com isso, será obtida uma abordagem quantitativa, pois busca-se tabular os dados e enumerar determinado número de respostas para cada questão abordada. Com a atividade aplicada e o questionário respondido, será feita uma interpretação dos dados para verificar quais as maiores dificuldades destes alunos em relação aos sólidos geométricos, a eficácia do uso do material concreto para uma melhor visualização e entendimento das propriedades destes sólidos, e também se contribuiu no processo de aprendizagem. 53 5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS Esta pesquisa foi realizada na Escola Estadual Professor Francisco Tibúrcio, localizada na cidade de Maravilhas, no intuito de verificar como o material didático auxiliaria os alunos em uma melhor visualização dos sólidos geométricos, aumentando o raciocínio geométrico através da indução e dedução dos conceitos desta disciplina. A instituição atende crianças desde o Ciclo Inicial de Alfabetização - 1º ano, com 6 anos de idade, até o Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para aplicação da atividade contou-se com a contribuição da turma do 6º ano, com 34 alunos, auxiliados pela professora de Matemática e a professora auxiliar de um dos alunos com necessidades especiais. Foi entregue a cada aluno um encarte contendo uma planificação e cada uma enumerada para uma melhor análise dos dados. Junto com a planificação, cada aluno recebeu também uma folha que os auxiliaria na realização da atividade e um questionário para que eles respondessem após a atividade. Para responder o questionário, os alunos o levaram para casa, responderam e depois entregaram à professora. Foto 1 – Recortando as planificações 54 Ao observar os alunos durante a realização das atividades, percebeu-se que ao receberem as planificações, eles tiveram facilidade em reconhecer as figuras planas contidas em cada uma delas. Ao serem questionados sobre qual sólido geométrico cada uma das planificações formariam, eles apresentaram dificuldades e a todo o momento chamavam pela professora para saber qual era o sólido. Faziam perguntas do tipo: “Dona, o que é sólido geométrico?” “Dona, qual sólido minha figura forma?” Diante de tais questionamentos, a professora da turma sempre dava aos alunos a resposta certa dos sólidos que seriam formados, e ao fazer a análise do questionário, percebeu-se que quase todos haviam dado a resposta certa, apesar de nenhum deles demonstrarem reconhecer a figura a partir da planificação. Dos 34 questionários entregues aos alunos, apenas 29 foram devolvidos. Após recortarem e montarem os sólidos, foi mostrado aos alunos alguns sólidos já montados para eles reconhecerem as figuras que estavam montando. Mas devido ao fato de todos terem sido induzidos à resposta certa anteriormente, eles chegaram à mesma figura da qual haviam respondido no questionário antes da montagem. Foto 2 – Sólidos montados 55 Foi pedido aos alunos que comparassem os sólidos por eles montados com objetos do seu dia a dia, houve várias respostas diferentes, mas mesmo assim alguns não conseguiram identificar nenhum objeto. Ao aplicar o questionário, percebeu-se que a grande maioria dos alunos consideraram a geometria espacial e a visualização dos sólidos geométricos como a parte de mais difícil compreensão dentro da matemática. Gráfico 1 – Dificuldade em aprender geometria Avaliação do nível de dificuldade verificada em relação à visualização tridimensional, pelos alunos do 6º ano. Escola Estadual Professor Francisco Tibúrcio - 2013. 21% Sim Não 79% Fonte: Dados de pesquisa, 2013. Elaborado pela autora. Diante desta grande dificuldade encontrada pelos alunos, é importante que o professor busque uma aula diferenciada que chame a atenção dos alunos e faça com que eles se interessem pelo conteúdo estudado, desenvolvendo o lúdico, a criatividade e o conhecimento. O interessante é fazer da aula um ambiente divertido, onde os alunos possam aprender brincando e interagindo com a matéria e com os colegas. Esta aula dinâmica, com uso de materiais concretos, desenvolve no aluno o gosto pelo conhecimento, e ele mesmo buscará compreender e desenvolver as propriedades da matéria em questão, levando-o à socialização e a um desenvolvimento significativo. Segundo CARVALHO (2011): O lúdico possibilita o estudo da relação da criança com o mundo externo, integrando estudos específicos sobre a sua importância na formação da personalidade. Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra 56 percepções, faz estimativas compatíveis com o crescimento físico e desenvolvimento e, o que é mais importante, vai se socializando. A convivência de forma lúdica e prazerosa com a aprendizagem levará a criança a estabelecer relações cognitivas ligadas às experiências vivenciadas, bem como relacioná-las às demais produções culturais e simbólicas conforme procedimentos metodológicos compatíveis com a prática. (CARVALHO, 2011, p. 13) Ao usarem o material para a montagem de seus próprios sólidos, observou-se o grande entusiasmo dos alunos em participar das atividades. Muitos alunos chamavam e diziam: “Nossa dona! Eu adorei a aula, aprendi brincando! Muito legal!” Foto 3 – Brincando com o material. 57 Verificou-se também que o uso do material pode auxiliar os alunos em uma melhor visualização dos sólidos geométricos. Gráfico 2 – Benefício da utilização do material concreto Percentual de alunos do 6º ano entrevistados sobre o uso de material concreto e sua respectiva facilitação na visualização dos sólidos geométricos. Escola Estadual Professor Francisco Tibúrcio - 2013. 10% Sim Não 90% Fonte: Dados de pesquisa, 2013. Elaborado pela autora. A aula pode se tornar mais divertida quando se utiliza o material concreto. Os alunos se envolvem com as atividades, se interessam pela matéria e conseguem sozinhos reconhecer e assimilar as propriedades das figuras estudadas. Os alunos fizeram vários questionamentos sobre a matéria, como um deles ao se referir às arestas: “Dona, como se chama essas linhas?” E outro aluno se referindo aos vértices: “Dona, eu posso dizer que cada quina é um vértice?” Através da análise dos questionários percebeu-se que quase todos os alunos consideraram a aula prática importante e valiosa para adquirirem conhecimento referente à Geometria Espacial. 58 Gráfico 3 – Benefício da aula prática para geometria espacial Alunos do 6º ano entrevistados em relação à Geometria Espacial ser melhor assimilada com a aula prática. Escola Estadual Professor Francisco Tibúrcio - 2013. 7% Sim Não 93% Fonte: Dados de pesquisa, 2013. Elaborado pela autora. Identificar objetos do dia a dia do aluno que se assemelham com os sólidos estudados também pode auxiliá-los na identificação das figuras espaciais. Ao se aplicar a atividade com o material concreto, percebeu-se que ao manipular os sólidos, tendo contato direto com eles, os alunos conseguem associá-los com objetos do seu cotidiano. Gráfico 4 – Comparando os sólidos com materiais do dia a dia Percentual de alunos do 6º ano entrevistados quanto ao benefício da aula prática para melhor relacionar figuras planas e espaciais com objetos do dia a dia. Escola Estadual Professor Francisco Tibúrcio - 2013. 3% Sim Não 97% Fonte: Dados de pesquisa, 2013. Elaborado pela autora. 59 A partir da associação destas figuras com objetos de seu dia a dia, percebeuse como esta aula prática contribuiu positivamente para o aluno, tanto no que diz respeito a uma melhor visualização dos sólidos, como na identificação de suas propriedades, faces, arestas e vértices. Gráfico 5 – Objetos do cotidiano e a visualização dos sólidos Alunos do 6º ano entrevistados quanto a associação de objetos do cotidiano para facilitar a visualização e compreensão referente à Geometria Espacial. Escola Estadual Professor Francisco Tibúrcio - 2013. 10% Sim Não 90% Fonte: Dados de pesquisa, 2013. Elaborado pela autora. No início da atividade, quando os sólidos ainda estavam planificados, pelo fato de os alunos terem sido induzidos a dar a resposta certa ao serem questionados sobre qual sólido cada planificação iria gerar, percebeu-se que quase a totalidade dos alunos chegou à figura da qual imaginaram ou foram induzidos a imaginar que seria, mesmo apresentando dificuldades em reconhecê-las. Gráfico 6 – Chegando ao sólido imaginado Percentual de alunos do 6º ano que após realização da atividade chegaram ao sólido imaginado anteriormente. Escola Estadual Professor Francisco Tibúrcio - 2013. 3% Sim Não 97% Fonte: Dados de pesquisa, 2013. Elaborado pela autora. 60 Após aplicação da atividade e com análise dos questionários, percebeu-se que os alunos tiveram um grande ganho na construção do processo de aprendizagem do conteúdo, tendo maior facilidade em absorver a matéria. Deste modo, fica evidente que a utilização de material concreto é muito eficiente para melhor visualização dos sólidos geométricos, suas arestas, vértices e faces, além de ser uma maneira eficaz de fazer com que os alunos participem da aula e aprendam brincando. Fazer uso de objetos do cotidiano do aluno comparando-os aos sólidos, também é uma maneira de amenizar as dificuldades enfrentadas, pois usando objetos com os quais eles já estejam familiarizados, contribui para que eles assimilem bem, façam associações e encontrem semelhanças entre suas propriedades, compreendendo a matéria. 61 CONSIDERAÇOES FINAIS Após observação realizada durante a atividade desenvolvida com o uso do material concreto, percebeu-se a satisfação dos alunos em participar de uma aula prática onde, como eles mesmos relataram, é possível aprender brincando. Para o aluno, passar do concreto para o abstrato é confuso e ao iniciar o trabalho com a geometria espacial, o professor enfrenta dificuldades em fazer com que os alunos compreendam tal disciplina. Encontrar meios alternativos é a melhor solução. Com isso, desenvolvemos uma aula para que o aluno pudesse ter contato direto com os sólidos geométricos e assim construir seus conceitos e descobrir suas propriedades. Após cada aluno construir seu sólido e responder ao questionário, conseguimos verificar que o uso do material concreto foi valioso para os alunos terem uma melhor visualização dos sólidos geométricos, identificando seus vértices, faces e arestas. A maioria dos alunos considera a aula prática efetiva para o conhecimento da geometria espacial. Isso nos leva a repensar a metodologia adotada nas escolas, onde as aulas são quase totalmente expositivas. Devemos elaborar aulas que chamem a atenção do aluno e o faça querer aprender e buscar o conhecimento, aulas onde os alunos participem e se sintam motivados, se sintam à vontade em expor e argumentar suas ideias. Percebeu-se também que ao ter contato com os sólidos, os alunos conseguiram fazer associação deles com objetos do seu dia a dia. Com isso, eles perceberam a importância da geometria em nossa vida, pois ela está presente em tudo, e perceberam também que precisarão desta disciplina em situações de seu cotidiano e por isso precisam aprendê-la. Os objetivos foram alcançados e espera-se que esta pesquisa possa ajudar a outros professores em suas práticas pedagógicas, mas é importante ressaltar que a referente pesquisa foi realizada em apenas uma escola, podendo obter resultados diferentes em outras instituições e aqui fica então a dica para outras pessoas realizarem tal tarefa. 62 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMOULOUD, S. A.; MARINQUE, A. L.; SILVA, M. J. F.; CAMPOS, T. M. M. A geometria no ensino fundamental: reflexões sobre uma experiência de formação envolvendo professores e alunos. Revista Brasileira de Educação, nº 27, 2004 Set./Out./Nov./Dez. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbedu/n27/n27a06.pdf>. Acesso em: 21 mar. 2013 às 16h00min. BARBOSA, Paula Marcia. O Estudo da Geometria. 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Questionário para os alunos: Prezado aluno, Sou aluna do 8º período de Matemática da FAPAM, onde desenvolvo uma pesquisa científica com o tema: O uso de material concreto para melhor visualização dos sólidos geométricos, e buscando enriquecer meu trabalho, gostaria de ter sua colaboração em participar e desenvolver algumas atividades. Conto com a colaboração de todos vocês, uma vez que, a análise desses resultados será de fundamental importância na conclusão de minha pesquisa. Bruna Garcia Monteiro Atividades: Analise as planificações que você recebeu e escreva: 1- Quantas e quais figuras geométricas podem ser visualizadas em cada desenho. 2- Quais sólidos geométricos você imagina estar representado em cada uma das planificações. 3- Recorte e monte as superfícies. Escreva o nome de cada superfície e faça associações delas com objetos que você utiliza em seu dia a dia. 73 Após ter montado os sólidos responda: 1- Dentro da Matemática, a geometria é vista por todos como a matéria mais difícil. Você concorda que a visualização tridimensional dos sólidos geométricos é a parte de maior dificuldade? Sim Não 2- O uso do material concreto te auxiliou na visualização dos sólidos geométricos? Sim Não 3- O conhecimento referente à Geometria Espacial é melhor assimilado com a aula prática? Sim Não 4- Você consegue, a partir da aula prática, identificar e relacionar figuras planas e espaciais com objetos do seu dia a dia? Sim Não 5- Trabalhar com os sólidos geométricos de forma prática, fazendo associação deles com objetos do seu cotidiano, facilita a visualização e compreensão da Geometria Espacial? Sim Não 6- Depois de montado o sólido você chegou à figura da qual havia imaginado anteriormente? Sim Não