Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Curso de Fı́sica (Noturno) - Fı́sica Experimental A PRECISÃO DE MEDIDAS II 1 Objetivos de medidas, mais preciso será o valor médio, isto é, mais próximo do valor verdadeiro. Assim, temos: Determinar estatisticamente a incerteza de uma medida e aplicar a propagação de incertezas para medidas indiretas. 2 x1 + x2 + x3 + ... + xn n sinteticamente podemos escrever: x= Introdução n x= Ao efetuarmos uma medida, o instrumento utilizado introduz um erro no processo. Mas o erro instrumental não é o único que surge no processo de medição, existe também o erro do experimentador e do próprio procedimento experimental. Estas fontes de erros aleatórios podem ser tratadas por processos estatı́sticos. Muitas medidas também não podem ser realizadas diretamente e precisamos obtê-las através de outras medidas, isto produz um outro problema que é o de determinar como os erros das medidas intermediárias influenciam o resultado final. 3 3.2 1X xi n i=1 (2) Desvio padrão experimental A variância para um pequeno número de medidas pode ser definida como: n σ2 = 1 X (xi − x)2 n − 1 i=1 (3) e o desvio padrão é a raiz quadrada da variância, σ = √ σ 2 , logo: v u n u 1 X σ=t (4) (xi − x)2 n − 1 i=1 Valor médio e desvio padrão Para tentarmos reduzirmos os erros aleatórios, produzidos pelo experimentador e pelo procedimento experimental, empregamos o recurso de se efetuar a mesma medida diversas vezes. O objetivo deste procedimento é tratar a informação obtida estatisticamente e tentarmos com isto nos aproximarmos o mais possı́vel do valor verdadeiro da grandeza fı́sica medida. Uma quantidade que podemos obter a partir de uma série de medidas é o seu valor médio. A variabilidade de cada medida é dada pelo desvio padrão e a variabilidade da média será dada pelo desvio padrão da média. O problema é que para o valor mais provável a partir de médias, determinar desvio padrão e desvio padrão de médias exige que se façam infinitas medidas. Vamos, portanto, estimar o valor mais provável, o desvio padrão e o desvio padrão da média para um conjunto pequeno de medidas. 3.1 (1) O desvio padrão indicado em 4 é adotado para caracterizar a incerteza de cada uma das medidas. A incerteza associada ao valor médio das medidas (x) é o desvio padrão da média (σm ) ou incerteza da média e vale: σ σm = √ n (5) Isto nos proporciona uma probabilidade de ≈ 68% do valor procurado se encontrar no intervalo (x ± σm ). Exemplo 1. Deseja-se conhecer o comprimento de uma haste, efetuando-se para isto, dez medidas obtendo-se os seguintes valores: i xi (cm) i xi (cm) 1 15,01 6 15,07 2 15,08 7 15,02 3 15,06 8 14,98 4 15,09 9 15,00 5 15,00 10 15,00 O valor médio da haste é: Valor médio É a média aritmética de uma série de medidas realizadas nas mesmas condições. Quando as incertezas são devidas a erros aleatórios, quanto maior for o número n x= 1 1X 150, 31 = 15, 031cm xi = n i=1 10 Para cada medida o quadrado dos desvios é: 4.1 Operações aritméticas: i (xi − x)2 i (xi − x)2 incerteza limite 1 0,000441 6 0,001521 Muitas vezes necessitamos estimar a incerteza propa2 0,002401 7 0,000121 gada em operações aritméticas com valores de medi3 0,000841 8 0,002601 das buscando uma faixa de acerto de 100%. Isto pode 4 0,003481 9 0,000961 ocorrer pelo fato das incertezas associadas às medidas 5 0,000961 10 0,000961 representarem limites para o valor medido ou quando O desvio padrão é: não estamos preocupados com o resultado estatı́stico v u do erro previsto. Para estes casos empregaremos as ren u 1 X gras simples de propagação de incertezas elencadas na σ = t (xi − x)2 n − 1 i=1 tabela 1, para as quatro operações aritméticas. r 0.01429 σ = 9 Tabela 1: Resumo das incertezas absolutas e relativas p para as quatro operações aritméticas 0, 001588 σ = Operação Incerteza Incerteza −2 σ = 3, 99 · 10 cm Absoluta Relativa O desvio padrão do valor médio é: σm σm σm σ √ n 3, 99 · 10−2 √ = 10 = 1, 24 · 10−2 cm δA = δa + δb δA A = δa+δb a+b S =a−b δS = δa + δb δS S = δa+δb a−b M =axb δM = bδa + aδb δM M = δa δb a + b δD D = δa a = O resultado final é: x x A=a+b D= a b δD = δa b + aδb 2 b + δb b = x ± σm = (15, 03 ± 0, 01)cm Quando na multiplicação temos mais de dois fatores, podemos calcular a incerteza relativa através da soma 3.3 Incerteza instrumental versus indas incertezas relativas de cada fator e depois podemos certeza da média obter a incerteza absoluta. A aplicação das regras indicadas na tabela 1 só é O resultado desta seção permite a determinação da incerteza do valor médio de um conjunto de medidas. aceitável quando as incertezas de cada grandeza são Deste modo agora temos duas incertezas no processo estimadas subjetivamente, não dispondo, assim, de um de medida, a incerteza instrumental e a incerteza da significado estatı́stico, e se deseja apenas fazer um média. Para decidirmos qual incerteza utilizar pode- cáculo rápido, para avaliar a incerteza propagada. Ou, mos observar o seguinte: se a resolução no processo de então, quando se deseja realmente conhecer o maior medida é dada por δ, e a largura de uma distribuição erro possı́vel para se ter uma certeza prósima de 100%. de medida, ou seja, o desvio padrão é caracterizado por σ, tem-se: 4.2 Método geral: incerteza média Quando temos ao menos uma estimativa grosseira do desvio padrão, é preferı́vel estimar a repetibilidade do δ > σ → incerteza da média = δ resultado pela incerteza média propagadada que pela incerteza limite. O problema pode ser posto da seguinte maneira: 4 Cálculo da propagação de in- dada uma função w = w(x, y, z) onde x, y, z são grandezas experimentais com incertezas dadas por x, y, z certezas e independentes entre si, quanto vale w ? A indeMuitas vezes usaremos o valor do mensurando numa pendência entre x, y, z é necessária para a validade das equação para determinar uma outra grandeza qual- fórmulas a seguir, mas não será discutida aqui. Para simplificar suponha w apenas função de x. No quer. O que fazer com a incerteza associada? Para o mensurando temos a incerteza do processo de medida, gráfico abaixo está representando w(x). enquanto que para grandezas determinadas através de A incerteza de w, no gráfico 1, pode ser obtida pela fórmulas temos a incerteza propagada. simples projeção da incerteza de x. Para pequenos inδ < σ → incerteza da média = σm 2 Figura 3: Subtração de dois segmentos Logo: L = (20, 0 ± 2, 1)cm Exemplo 2 Considere a subtração de dois segmentos indicados na figura 3 idênticos aos que foram somados na figura 2. O resultado do desvio absoluto seria o mesmo pois aplicamos a equação 7 exatamente da mesma forma. O que você pode afirmar a respeito do desvio relativo? Figura 1: Gráfico indicando que a incerteza em w é simplesmente a projeção da incerteza em x Exemplo 3 Cálculo do volume do cilindro. tervalos no eixo x, temos em primeira ordem, a derivada parcial de w em relação a x: ¯ ¯ ¯ ∂w ¯ ¯σx σw = ¯¯ (6) ∂x ¯ Para mais de uma variável independentes entre si, podemos escrever uma fórmula geral (visualize uma soma de catetos em n dimensões): µ 2 σw = ∂w ∂x ¶2 µ σx2 + ∂w ∂y ¶2 µ σy2 + ∂w ∂z ¶2 σz2 ... (7) Exemplo 1. Considere a soma de dois segmentos conforme mostrado na figura 2. Figura 4: Cilindro do qual foram medidos o raio (R) e a altura (L) Propaguemos a incerteza em todos os termos do produto: R, π, L Figura 2: Soma de dois segmentos µ σV2 A incerteza no segmento soma pode ser calculada aplicando a equação 7: µ 2 σL = ∂L ∂a ¶2 µ σa2 + ∂L ∂b = ∂ ∂π ¶2 µ σπ2 + ∂V ∂R ¶2 µ 2 σR + ∂V ∂L ¶2 2 σL 2 2 σV2 = (R2 L)2 σπ2 + (2πRL)2 σR + (πR2 )2 σL ¶2 Dividindo-se todos os termos por V 2 , temos: σb2 2 σL = (1)2 σa2 + (1)2 σb2 2 σL = (1)2 22 + (1)2 0, 52 2 σL = 4 + 0, 25 2 σL = 4, 25 p σL = 4, 25 σL = 2, 06cm σV2 V2 3 µ 2 ¶2 µ ¶2 µ 2 ¶2 R L 2πRL πR σV2 2 2 2 = σ + σ + σL π R V2 V V V µ 2 ¶2 µ ¶2 µ ¶2 R L πRL πR2 2 2 2 = σπ + 2 σR + σL πRL2 πRL2 πRL2 µ ¶2 µ ¶2 µ ¶2 σV2 σπ 2σR σL = + + 2 V π R L Substituindo-se pelos valores medidos, temos, para o desvio relativo: σV2 = V2 4. As medidas das dimensões de um cilindro reto são: raio R = (1, 72 ± 0, 02)cm e altura h = (2, 55 ± 0, 05)cm. O volume do cilindro é dado por V = πR2 h e a área das paredes do cilindro é A = 2πRh + 2πR2 . µ ¶2 µ ¶2 µ ¶2 0 2 · 0, 5 0, 5 + + π 2, 0 10, 0 σV2 = 0 + 0, 25 + 0, 0025 V2 σV2 = 0, 2525 V2 p σV = 0, 2525 V σV = 0, 5025 V (a) Calcule o volume V e a área A com os respectivos erros propagados limites. Expresse esses erros na forma relativa. (b) Se fosse necessário melhorar a incerteza, na medida do volume, refazendo-se apenas uma das duas medidas, qual é a que deveria ser refeita com uma incerteza menor? E no caso da área? Logo o desvio absoluto será dado por: 5. O perı́odo de um pêndulo simples é dado por T = q 2π Lg . Mostre que a incerteza média relativa do perı́odo é σV = 0, 5025V σV = 0, 5025 · 125, 6 σV = 63, 114cm3 1 δT = 2 Assim a o volume do cilindro ficará: V = (126 ± 63)cm3 ou ainda 5 6 V = (13 ± 6) · 10cm3 δL L ¶2 µ + δg g ¶2 Bibliografia 1. VUOLO, J.H., Fundamentos da Teoria de Erros, 2 edição, São Paulo, Editora Edgar Blucher Ltda., 1996. Questionário 2. BARTHEM, B. R., Tratamento e Análise de Dados em Fı́sica Experimental, Rio de Janeiro, Editora da UFRJ. 1. Um aluno quis determinar a altura média dos alunos em uma determinada escola. Como o número total de alunos da escola era muito grande (≈ 2000) ele escolheu cinquenta (n = 50) que se encontravam casualmente no pátio e anotou a altura de cada um. O resultado obtido foi o seguinte: Alt. (m) n alunos sµ 3. Roteiros: Laboratório de Mecânica e Termodinâmica - UFMS, 1995. 4. CEPA.Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada, USP.Algarismos significativos e desvios. Disponı́vel em: http://www.cepa.if.usp.br/efisica/mecanica/universitario/cap01/. Acesso em: 16/03/2003. 1,65 1,70 1,75 1,80 1,85 1,90 1,95 2 8 11 15 9 4 1 (a) Estime a altura média hm dos alunos da escola. (b) Qual é o desvio padrão da distribuição de alturas na escola? 2. Os comprimentos de duas tábuas de madeira, bem cortadas, foram medidos com uma incerteza δL = ±0, 1cm. Os valores obtidos foram L1 = 50, 0cm e L2 = 10, 0cm. (a) Qual é a incerteza limite da quantidade (L1 + L2 )? E de (L1 − L2 )? (b) Qual é a incerteza relativa limite de (L1 + L2 )? E de (L1 − L2 ) 3. O diâmetro Φ de uma mesa redonda foi medido com uma incerteza relativa de 1%. Qual é a incerteza limite relativa da área da mesa deduzida a partir dessa medida? 4