OS SACRAMENTOS COMO SINAIS E SELOS BERKOUWER, G. C. Os Sacramentos como Sinais e Selos. In: MCKIM. Donald K. Grandes Temas da Tradição Reformada. São Paulo: Associação Evangélica Literária Pendão Real, 1998. OS SACRAMENTOS COMO SINAIS E SELOS Para a teologia reformada os sacramentos como instituição divina tem a finalidade de orientar a fé daqueles que participam deles, “são garantias de benevolência e graça de Deus para conosco” 1. Com base naquilo que está registrado pelo Catecismo de Heidelberg, os sacramentos são como sinais e selos. De acordo com o texto, para Calvino a função dos sacramentos é confirmar e selar a promessa de Deus em nós para nos fortalecer a fé. Nas Institutas vemos que a administração dos sacramentos não cumpre sua função com respeito à nossa salvação a menos que o Espírito, como mestre, envie seu poder, o Espírito cujo poder somente nossos corações são penetrados, nossas afeições mudadas e nossas almas abertas para que os sacramentos entrem. Ao definirem o significado e a função dos sacramentos alguns ressaltam o simples simbolismo que representam. Ratificando tal interpretação, o autor do texto lembra que é possível que muitos incrédulos recebam o sinal externo sem desejar profundamente receberem a verdade do sacramento, Cristo. Nesse sentido, através de Calvino, o Berkouwer explica que o sinal e o selo realmente não podem existir por si mesmos, mas “na relação viva e dinâmica com os atos de Deus, os quais evolvem fé a garantem os dons da salvação no verdadeiro usus sacramenti” 2. Enquanto para M. K. Bolkestein a definição de sacramento como sinal e selo parece algo meramente simbólico, para Calvino pertence à essência do sacramento que os sinais sejam interpretados instrumentalmente, e não de forma abstrata, à luz da correlação entre fé e sacramento. 1 2 BERKOUWER, G. C. Os Sacramentos como Sinais e Selos. p.179 Idem, op. Cit., p. 181 O conceito de “selo” ou “selar” pela Bíblia tem sentido amplo e geral, podendo significar reconhecimento, garantia, confirmação, prova. De maneira que cada fragmento de texto bíblico referente a sacramento permite muitas interpretações. Sobre a relação batismo e selo, pela doutrina católica romana “o batismo assinala que o recebe com um sinal espiritual, diferente da graça, por meio de uma marca espiritual impressa na alma” 3. Teólogos da Idade Média como Alexandre de Hales, Boaventura e A. de Grote chegaram a pensar que essa marca era a própria graça e que por meio delas os fiéis eram diferenciados dos infiéis. Em contraposição da doutrina católica romana, o autor do texto explicou que tal marca tem sido interpretada como sendo o Espírito Santo, por exemplo, por Farine, cujo argumento parte do texto de 2Co 1 para dizer que o Espírito é o selo impresso e divino, com penhor e selo nos garante o resgate completo. Neste texto, Berkouwer explicou que os sacramentos são instituídos por Deus e destinados ao fortalecimento da fé dos crentes, porém acabam sendo administrados na igreja para aqueles que não crêem. Assim, continua o autor: “pode-se dizer que, embora os descrentes recebam o sacramento, eles não recebem sua verdade, mas não pode ser dito que os descrentes não recebem o sinal, mas não o selo, pois os descrentes não tem o direito de prejudicar o poder e a integridade do sacramento como selo e sinal” 4. Partindo do pressuposto que sinal e selo não podem ser separados, alguns fazem uma distinção entre um selo objetivo, o sacramento em si, e um selo subjetivo, o Espírito Santo. Desta forma, a promessa e o batismo passam a ter o seu suporte na fé. Berkouwer explica que a fé não é oposta a objetividade do sacramento, na verdade ela é uma compreensão do crente a respeito do significado da palavra de Deus no sacramento, o descrente não pode entender tal sentido. De acordo com o texto, para Calvino mesmo que 3 4 Idem, op. Cit., p. 184 Idem, op. Cit., p. 184 todo o mundo seja descrente, o batismo continua sendo a água da regeneração e a ceia o corpo de Cristo. Encontramos em Bavinck e em Greijdanus interpretações muito próximas. Enquanto para o primeiro alguém só é verdadeiramente batizado quando somente Cristo realiza o batismo, para Greijdanus o batismo real é aquele em que há a comunhão com Jesus, este batismo é selado com o batismo com água. Na interpretação de Woelderink, no momento do batismo a promessa de Deus é selada. Para ele o batismo não nos sela como pessoas regeneradas, mas sela em nós a promessa de Deus. Assim, para Oorthuys, quando a fé a conversão de crente são evidentes significa que o mesmo foi selado. Para concluir o seu texto, o autor afirma que “o propósito do sacramento é a segurança da salvação, a estabilidade no lugar da instabilidade, a prova contra a dúvida” 5. Para o autor, tanto no batismo quanto na santa ceia existe o sinal da promessa, os crentes são verdadeiramente selados no sacramento. Por meio do batismo o crente é distinguido do incrédulo, assim, o batismo é um sinal e um selo da misericórdia de Deus. 5 Idem, op. Cit., p. 192